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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 2
1 O QUE CARACTERIZA UMA FÉ REFORMADA? ............................................................ 3
1.1 A GRANDEZA DE DEUS E DE SUA GLÓRIA ............................................................ 3
1.2 A AUTORIDADE DAS ESCRITURAS .......................................................................... 4
1.3 A PEQUENEZ E A DEPRAVAÇÃO DO HOMEM ....................................................... 4
1.4 A GRAÇA DA OBRA REDENTORA DE CRISTO ....................................................... 5
1.5 UMA VISÃO OTIMISTA DO FUTURO ........................................................................ 5
2 REFORMADORES E AVIVALISTAS .................................................................................. 6
2.1 JOHN WYCLIFFE (1329-1384) ...................................................................................... 6
2.2 JOHN HUS (1370-1415) ...................................................................................................... 7
2.3 MARTINHO LUTERO (1483-1546) ............................................................................... 9
2.4 WILLIAM TYNDALE (1494-1536) .............................................................................. 11
2.5 JOÃO CALVINO (1509–1564)...................................................................................... 13
2.6 JONATHAN EDWARDS (1703–1758) ......................................................................... 15
2.7 JOHN WESLEY (1703–1791) ....................................................................................... 17
2.8 CHARLES HADDON SPURGEON (1834–1892) ........................................................ 20
2.9 DWIGHT LYMAN MOODY (1837-1899) ................................................................... 23
3 TEOLOGIA DOGMÁTICA.................................................................................................. 24
3.1 CALVINISMO ............................................................................................................... 24
3.1.1 Os Cinco Pontos do Calvinismo............................................................................... 25
3.2 ARMINIANISMO .......................................................................................................... 27
3.2.1 Diferentes correntes.................................................................................................. 27
3.2.2 Os cinco pontos do Arminianismo ........................................................................... 27
3.3 ARMINIANISMO X CALVINISMO ............................................................................ 29
4 REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 32
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INTRODUÇÃO

Em toda Idade Média, o grau de intervenção da Igreja era de grande abrangência. O


grande número de terras em posse da Igreja concedia uma forte influência sobre as questões
políticas e econômicas das monarquias e reinos da época. Além disso, as novas atividades
vinculadas à burguesia, principalmente no que se refere à prática da usura (cobrança de juros
sobre empréstimo), eram consideradas de natureza pecaminosa.
Sob outro aspecto, a grande prosperidade material da Igreja veio acompanhada de uma
verdadeira crise de valores e princípios. O comércio de relíquias sagradas, a venda de títulos
eclesiásticos e indulgências eram algumas das negociatas praticadas pelos representantes do
clero. Além disso, várias denúncias sobre a quebra do celibato e a existência de prostíbulos
para clérigos questionavam a hegemonia da Igreja.
No Renascimento, as críticas à Igreja se manifestavam em diversos meios. As obras de
Erasmo de Roterdã, John Wycliffe, John Huss, Jerônimo Savonarola, conhecidos como pré-
reformistas, continham severas críticas aos problemas apresentados pela igreja.
Na data de 31 de outubro de 1517, Martinho Lutero, diante da venda das indulgências
por João Tetzel, afixou à porta da Igreja do Castelo em Wittenberg, as suas 95 teses, o teor
das quais é que Cristo requer o arrependimento e a tristeza pelo pecado e não a penitência.
Esta data ficou marcada como a oficial do movimento reformista.
Através de Lutero e vários outros, a Reforma tomou grandes proporções, inspirando
pensadores e movimentos, como o Grande Avivamento, avivamento religioso americano.

Ramos do protestantismo
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1 O QUE CARACTERIZA UMA FÉ REFORMADA?

Por "fé," referimo-nos ao corpo da verdade que emerge da própria Escritura. Falamos
da fé "reformada", não como se fosse uma espécie de substituto para a fé escritural. Há afinal,
somente um objetivo conjunto de verdades que é apresentado na Escritura. Por "reformada‖, a
diferenciação daqueles, que duma ou outra forma se desviam da "fé" estabelecida na Palavra
de Deus. Esta ficou assim definida, pois em certo momento da igreja a fé genuína havia sido
distorcida, e uma gama de teólogos, os reformadores, recorrendo às Escrituras recuperaram
seu verdadeiro sentido e a defenderam plenamente durante o período que ficou conhecido
como Reforma.
Podemos caracterizar a Fé Reformada através de suas ideias fundamentais, todas
trazidas pelo retorno às escrituras, creditada como fonte de autoridade.

1.1 A GRANDEZA DE DEUS E DE SUA GLÓRIA

O Deus da Igreja Reformada é, de fato, um Deus Grande. Se fosse para alguém isolar
uma característica distintiva da Fé Reformada, todo mundo haveria de concordar que esta
seria a grandeza soberana de Deus.
O que se encontra no pensamento reformado é o desejo e a vontade de deixar que
Deus seja Deus. Entre os reformados se encontra uma disposição de deixar que Deus fale por
Ele mesmo na Sua Palavra e crer no que Ele diz, não importa quão difícil seja de entender, ou,
quando entendido, quão desconfortável faz com que eles se sintam. ―Considerai, pois, a
bondade e a severidade de Deus,‖ diz o apóstolo (Romanos 11:22). ―Quem és tu, ó homem,
para discutires com Deus?‖ (Romanos 9:20). Este é o Deus que fez todas as coisas, que
planeja todas as coisas, até ―o que quer que venha a acontecer‖, como ensina a nossa
Confissão de Fé, quem governa, sustenta e preserva todas as coisas.
Este é o princípio fundamental da Fé Reformada. Ele dá vida a tudo que fazemos. Nós
nos reunimos para adorar não para agradar a nós mesmos, ou como é muito frequente, para
nos entreter ou para ―tirarmos algum proveito da coisa‖, como frequentemente ouvimos dizer;
mas, sim, para glorificar e exultar no Senhor nosso Deus. A vida é um render-se contínuo de
nós mesmos como sacrifícios vivos, para o louvor do grande e glorioso Deus a quem servimos
(Rm 12: 1,2).
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1.2 A AUTORIDADE DAS ESCRITURAS

A fé reformada é centrada na autoridade das Escrituras. A convição de que Deus tem


se revelado nas Escrituras e que tal revelação é a autoridade máxima para a igreja em matéria
de doutrina, governo e vida é geralmente conhecida como o ―princípio formal‖ da Reforma
Protestante, pois, segundo o mesmo, as Escrituras determinam o conteúdo de todas as
doutrinas.Elas são a fonte última do conhecimento sobre Deus e sobre a sua criação. Embora
defendido por todos os protestantes, esse preceito é especialmente enfatizado pelos
reformados.
A fé reformada é especialmente comprometida com as Escrituras, enfatizando a sua
inspiração, autoridade e suficiência. Uma vez que a Bíblia é a Palavra de Deus, ela possui a
própria autoridade divina. Esta convicção sobre a autoridade das Escrituras não depende da
argumentação humana, mas da operação interna do Espírito Santo que testifica sobre a
veracidade da Palavra no coração do crente.
A autoridade das Escrituras implica na suficiência da mesma. Logo, o povo de Deus
não precisa de revelação complementar nem circunstancial, pois a Palavra de Deus é sempre
relevante e apta para instruir e habilitar o crente para toda boa obra (2Tm 3.15). Além do
mais, a tradição reformada defende a doutrina da clareza das Escrituras, ou seja, que ainda
que na Escritura não sejam todas as coisas igualmente claras em si, nem do mesmo modo
evidentes a todos, contudo, as coisas que precisam ser obedecidas, cridas e observadas para a
salvação, em uma ou outra passagem da Escritura, são tão claramente expostas e aplicadas
que não só os doutos, mas ainda os indoutos, no devido uso dos meios ordinários, podem
alcançar uma suficiente compreensão delas.

1.3 A PEQUENEZ E A DEPRAVAÇÃO DO HOMEM

A quê nos leva esta visão da grandeza e da glória de Deus? Leva-nos a um


entendimento profundo da pequenez do homem. ―Que é o homem, que dele te lembres?‖,
pergunta o salmista no Salmo 8. Quando alguém vê a Deus em Sua glória, ele fica consciente
da sua própria insignificância — apenas ―somos pó‖ (Sl 103:14).
Apercebemo-nos de que não somos o centro do universo, mas Deus o é; e, em relação a Ele,
somos apenas grãos de pó na balança (Is 40:15).
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A Fé Reformada coloca as pretensões humanas no seu devido lugar. Mas, além disso,
a Fé Reformada, como nenhuma outra, entende a pecaminosidade do homem. Como foi que o
pecado nos afetou? Quando outros falam do pecado como uma influência,nós falamos dele
como escravidão. Quando outros dizem que o pecado distorce a perspectiva do homem, nós
dizemos que ele cega-lhe os olhos e fecha-lhe os ouvidos. O homem não está simplesmente
doente: ele está morto em delitos e pecados (Efésios 2:1). A Fé Reformada diz que o homem
é, ―totalmente vil em todas as suas faculdades e em todas as partes da alma e do corpo... e
totalmente indisposto, sem condições, e oposto a todo bem, e inclina-se totalmente ao mal‖
(Confissão de Fé de Westminster, VI. 2,4)?

1.4 A GRAÇA DA OBRA REDENTORA DE CRISTO

Enquanto alguns atribuem uma parte ao homem e uma parte a Deus, para conquistar a
salvação, a Fé Reformada se posiciona sozinha e afirma, junto com Jonas, as totais
implicações da palavra: ―a salvação pertence ao Senhor‖. Nenhuma outra visão exalta tanto a
obra de Cristo na cruz. O que foi que Ele fez para assegurar a nossa salvação? Tudo. Ele
morreu pelos nossos pecados. “Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não
vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie.‖ (Efésios 2:8-9).
Por meio dessa fé somos justificados, adotados, santificados, preservados e seremos
glorificados. Se somos salvos, não podemos ter mérito em nada.

1.5 UMA VISÃO OTIMISTA DO FUTURO

Em Cristo o homem é restaurado ao seu exaltado papel original na criação. Em Cristo


somos refeitos (Hebreus 2.7,8; cf Salmo 8). Feitos à imagem de Deus e restaurados a Deus em
Cristo, temos dignidade e possibilidades que jamais seriam alcançáveis sob a tirania do
pecado. Jesus Cristo derrotou o diabo, e triunfou sobre os principados e potestades (Col.
2.15). Ele está assentado no Seu trono nos céus como possuidor ―de todos os poderes nos céus
e na terra‖, e Ele nos envia como ―mais que vencedores‖, e por isso ―nosso trabalho no
Senhor não é vão‖ (I Co. 15.58).
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2 REFORMADORES E AVIVALISTAS

2.1 JOHN WYCLIFFE (1329-1384)

Um século e meio antes que a Europa entrasse na Reforma Protestante, um estudioso


de Oxford estava plantando as sementes. Ele liderou a primeira tradução da bíblia do latim
para o inglês. Nascido em Yorkshire, Wycliffe estudou na Universidade de Oxford aonde
recebeu um doutorado em teologia em 1372. Ele logo se tornou o teólogo mais eminente de
seu tempo e usou isso para criticar o que ele via como excessos na igreja.
Wycliffe tem sido chamado de "Estrela da Manhã do Reformismo" porque ele
audaciosamente questionou a autoridade papal, criticando a venda de indulgências (que
supostamente livrava a pessoa do castigo no purgatório), renegava a existência da doutrina
aonde se diz que o pão e o vinho se transformam no corpo e sangue de Jesus em si durante a
comunhão e falava contra as hierarquias dentro da igreja. O papa reprovou Wycliffe pelos
seus ensinamentos, considerados pelo papa, heréticos e pediu que a Universidade de Oxford o
demitisse. No entanto, tanto a universidade quanto muitos líderes do governo ficaram do lado
de Wycliffe, e assim, ele conseguiu sobreviver aos ataques do papa. Wycliffe acreditava que o
único jeito de sua luta prevalecer à autoridade abusiva da igreja seria disponibilizar bíblias ao
povo em seus idiomas. Assim, eles poderiam ler por eles mesmos como cada um poderia ter
um relacionamento pessoal com Deus através de Jesus Cristo - à parte da autoridade
eclesiástica. Wycliffe e seus colegas terminaram o Novo Testamento por volta de 1380 e o
Velho Testamento em 1382. Ele concentrou seus esforços no Novo testamento enquanto
Nicholas de Hereford, um colega, fez grande parte do Velho Testamento. Wycliffe e seus
funcionários, não tendo familiaridade com o grego, traduziram o texto do latim para o inglês.
Wycliffe defendia a pobreza dos padres e os organizou em grupos para divulgar os
ensinos de Cristo. Estes padres (mais tarde chamados de "lollardos") não faziam votos nem
recebiam consagração formal, mas dedicavam sua vida a ensinar o Evangelho ao povo. Estes
pregadores itinerantes espalharam os ensinos de Wycliffe pelo interior da Inglaterra,
agrupados dois a dois, de pés descalços, usando longas túnicas e carregando cajados nas
mãos.
Em meados de 1381 uma insurreição social amedrontou os grandes proprietários
ingleses e o rei Ricardo II foi levado a crer que os lollardos haviam contribuído com ela. Ele
ordenou à Universidade de Oxford (que havia sido reduto de líderes insurretos) que
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expulsasse Wycliffe e seus seguidores, apesar destes não haverem apoiado qualquer
movimento rebelde. O rei proibiu a citação dos ensinos de Wycliffe em sermões e mesmo em
discussões acadêmicas, sob pena de prisão para os infratores. Wycliffe era amado e odiado ao
mesmo tempo. Seus inimigos eclesiásticos não esqueceram sua oposição ao poder deles e seu
esforço bem sucedido de tornar as escrituras disponíveis a todos. Várias décadas depois de sua
morte, eles o condenaram de heresia, desenterraram seus restos mortais, queimaram e jogaram
suas cinzas no Rio Swift. Um dos colegas mais íntimos de Wycliffe, John Purvey (1353-
1428), continuou o seu trabalho produzindo uma revisão de sua tradução em 1388. Purvey era
um excelente aluno e seu trabalho foi muito bem recebido tanto pela sua geração como pelas
que vieram depois. Dentro de menos de um século, a revisão de Purvey havia substituído a
Bíblia Wycliffe original.

2.2 JOHN HUS (1370-1415)

John Hus nasceu por volta do ano 1370, de uma família camponesa que vivia na
pequena aldeia de Hussinek,na Boêmia,e ingressou na universidade de Praga quando tinha
uns dezessete anos. Em 1400, foi ordenado sacerdote e, desde o início de seu ministério,
quando assumiu o púlpito da Capela de Belém, em Praga, tornou-se um estorvo, um
incômodo para alguns de seus colegas. Pregava insistentemente contra os privilégios do clero,
e defendia a necessidade urgente de uma reforma religiosa. A eloquência de suas pregações
fez com que, rapidamente, boa parte da população o seguisse.
Embora a terra de Wycliffe ficasse longe da Boêmia, sua influência se espalhou depois
que o rei Ricardo II da Inglaterra casou-se com Ana, irmã do rei da Boêmia. Ana abriu
caminho para que os habitantes da Boêmia fossem estudar na Inglaterra. Assim, os escritos
reformistas de Wycliffe começaram, lentamente, a se espalhar pela Boêmia.
Nas paredes da Capela de Belém, as pinturas contrastavam o comportamento dos
papas e de Cristo. O papa caminhava montado em um cavalo, mas Cristo andava a pé; Jesus
lavava os pés dos discípulos, e o papa permitia que as pessoas beijassem seus pés. O
mundanismo do clero ofendia Hus, que pregava e ensinava contra isso, ao enfatizar a piedade
pessoal e a pureza de vida. Quando enfatizou o papel da Bíblia na autoridade da igreja, ele
elevou a pregação bíblica a um importante lugar no culto.
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Os ensinamentos de Hus se tornaram populares entre as massas e algumas pessoas da


aristocracia, incluindo-se a rainha. Conforme sua influência na universidade crescia de forma
notável, a popularidade dos textos de Wycliffe também aumentava.
O arcebispo de Praga se opunha aos ensinamentos de Hus. Ele instruiu Hus a parar de
pregar e pediu que a universidade queimasse os textos de Wycliffe. Quando Hus se recusou a
cooperar, o arcebispo o condenou. O papa João XXIII (um dos três papas do Grande Cisma,
também conhecido por "antipapa") colocou Praga sobre interdito — ato que efetivamente
excomungava toda a cidade, porque ninguém ali poderia receber os sacramentos da igreja.
Hus concordou em sair de Praga para ajudar a cidade, mas continuou a atrair multidões
enquanto pregava nas igrejas e organizava reuniões ao ar livre.
Hus suscitou a oposição do clero não apenas por denunciar o estilo de vida imoral e
extravagante do clero — incluindo o papa —, mas ao afirmar que somente Cristo é o cabeça
da igreja. Em seu livro Sobre a igreja, defende a autoridade do clero, mas afirma que somente
Deus pode perdoar os pecados. Hus disse também que nenhum papa ou bispo poderia
estabelecer doutrinas contrárias à Bíblia, assim como nenhum cristão verdadeiro poderia
obedecer às ordens de um clérigo se elas estivessem claramente equivocadas.
Em 1414, Hus foi convocado ao Concilio de Constança para defender seus
ensinamentos. Sigismundo, imperador do Sacro Império Romano, prometeu-lhe salvo-
conduto. O concilio já tinha uma opinião formada sobre Huss. Ele foi preso imediatamente
após sua chegada. O concilio condenou tanto os ensinamentos de Wycliffe quanto os de Huss,
que defendia as ideias de Wycliffe.
Sob ataque, Hus se recusou a negar que afirmara que quando um papa ou um bispo
estivesse em pecado mortal, ele deixava de ser papa ou bispo. Em sua defesa oral,
complementou suas declarações dizendo que o rei também deveria fazer parte dessa lista.
Sigismundo convocara o concilio para corrigir o Grande Cisma o que foi realmente
alcançado. Contudo, é natural que nenhum concílio que restaurasse a autoridade do papa
recebesse de bom grado um rebelde, que questionava seu direito de fazer isso.
Abatido por sua longa prisão, pela doença e pela falta de sono, Hus ainda alegou
inocência e se recusou a renunciar a seus "erros". Ele fez a seguinte declaração ao concilio:
"Eu não renunciaria à verdade nem mesmo por uma capela repleta de ouro".
Por fim, no dia 6 de julho, ele foi levado para a catedral de Constança. Ali, depois de
um sermão sobre a teimosia dos hereges, ele foi vestido de sacerdote e recebeu o cálice,
somente para logo em seguida lhe arrebatarem ambos, em sinal de que estava perdendo suas
ordens sacerdotais. Depois lhe cortaram o cabelo para estragar a tonsura, fazendo-lhe uma
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cruz na cabeça. Por último lhe colocaram na cabeça uma coroa de papel decorada com
diabinhos, e o enviaram para a fogueira. A caminho do suplício, ele teve de passar por uma
pira onde ardiam seus livros.
Mais uma vez lhe pediram que se retratasse, e mais uma vez ele negou com firmeza.
Por fim orou, dizendo: "Senhor Jesus, por Ti sofro com paciência esta morte cruel. Rogo-Te
que tenhas misericórdia dos meus inimigos".
Antes de ser queimado, Hus disse as seguintes palavras ao carrasco: "Vocês hoje estão
queimando um ganso (Hus significa "ganso" na língua boêmia), mas dentro de um século,
encontrar-se-ão com um cisne. E este cisne vocês não poderão queimar." Costuma-se
identificar Martinho Lutero com esta profecia (que 102 anos depois pregou suas 95 teses em
Wittenberg), e costumeiramente se costuma identificá-lo com um cisne.

2.3 MARTINHO LUTERO (1483-1546)

Martinho Lutero nasceu em 10 de novembro de 1483, em Eisleben, filho de um


minerador de prata de classe média.
Ele entrou para um mosteiro agostiniano em 1505, tornando-se sacerdote em 1507.
Reconhecendo suas habilidades acadêmicas, seus superiores o enviaram para a
Universidade de Wittenberg a fim de que obtivesse o diploma em Teologia. A inquietação
espiritual que atormentava outros grandes cristãos, ao longo de todas as eras, também
influenciou Lutero. Ele estava profundamente consciente do próprio pecado, da santidade de
Deus e de sua total incapacidade de obter o favor divino. Em 1510, Lutero viajou para Roma e
ficou desiludido com o tipo de fé mecânica que encontrou ali.
Poucos anos depois, voltou para Wittenberg como doutor em Teologia, para ensinar
disciplinas relacionadas à Bíblia. Em 1515, começou a lecionar sobre a epístola de Paulo aos
Romanos. As palavras de Paulo consumiram a alma de Lutero. "Minha situação era que,
apesar de ser um monge impecável, eu me punha diante de Deus como um pecador
perturbado por minha consciência e não tinha confiança de que meus méritos poderiam
satisfazê-lo", escreveu Lutero. "Noite e dia eu ponderava, até que vi a conexão entre a justiça
de Deus e a afirmação de que Ό justo viverá pela fé'. Então, entendi que a justiça de Deus é a
retidão pela qual a graça e a absoluta misericórdia de Deus nos justificam pela fé. Em razão
dessa descoberta, senti que renascera e entrara pelas portas abertas do paraíso. Toda a
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Escritura passou a ter um novo significado [...] esta passagem de Paulo tornou-se, para mim, o
portão para o céu".
A corrupção reinava na igreja. Os cargos eclesiásticos eram comprados por nobres
ricos e usados para alcançar mais riqueza e mais poder. Um desses nobres foi Alberto de
Brandemburgo, que pedira dinheiro emprestado para se tornar arcebispo de Mainz e que
precisava encontrar um modo de pagar seu empréstimo. O papa autorizou a venda de
indulgencias na região de Alberto, contanto que metade do dinheiro coletado fosse usada para
a construção da Basílica de São Pedro em Roma. O restante do valor levantado iria para
Alberto. Todos estavam felizes, a não ser certo número de alemães devotos, dentre os quais
estava Martinho Lutero.
Tetzel, monge dominicano e pregador bastante popular, tornou-se o comissário das
indulgências. Ele viajava de cidade em cidade, proclamando seus benefícios: "Ouça a voz de
seus entes queridos e amigos que já morreram, suplicando-lhes e dizendo: 'Tenha pena de nós,
tenha pena de nós. Estamos passando por tormentos horríveis dos quais você pode nos
redimir, contribuindo com uma pequena esmola'. Vocês não desejam fazer isso?".
Lutero, sacerdote e professor de Wittenberg, opunha-se totalmente à venda das indulgências.
Quando Tetzel chegou àquela localidade, Lutero redigiu, em 31 de outubro de 1517, uma lista
de 95 queixas e a afixou na porta da igreja, que também servia como quadro de avisos da
comunidade. O perdão divino certamente não poderia ser comprado e vendido, dizia Lutero,
uma vez que Deus o oferece gratuitamente.
As indulgências, porém, eram apenas a ponta do iceberg. Lutero se rebelava contra
toda a corrupção da igreja e pressionava para que uma nova compreensão da autoridade do
papa e das Escrituras fosse adotada.
Lutero queria um debate, e ele realmente conseguiu um debate, primeiramente com
Tetzel e, mais tarde, com o renomado estudioso João Eck, que acusou Lutero de heresia. No
primeiro momento, parecia que Lutero esperava que o papa concordasse com ele sobre o
abuso na questão das indulgências. Conforme a controvérsia continuou, Lutero, porém,
solidificou sua oposição ao papado. Em 1520, o papa emitiu uma bula (decreto) condenando
as ideias do monge alemão, e Lutero a queimou. Em 1521, a Dieta (concilio) de Worms
ordenou que Lutero se retratasse. Ali, segundo a lenda, Lutero afirmou: "Não posso fazer
outra coisa. Aqui estou. Deus me ajude. Amém". Depois disso, Lutero foi excomungado, e
seus escritos foram banidos. Para sua proteção, foi levado à força por seu patrono Frederico, o
Sábio, e ficou escondido no castelo de Wartburg. Ali, ele trabalhou em outros escritos
teológicos e na tradução do Novo Testamento para o alemão popular.
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Contudo, a batalha apenas começava. Quando ousou fazer oposição ao papa, Lutero
despertou os sentimentos de independência tanto nos nobres alemães quanto no povo em
geral. A Alemanha se tornou uma colcha de retalhos, à medida que alguns nobres apoiaram
Lutero e outros permaneceram leais a Roma. A Reforma já estava em preparação também na
Suíça, liderada por Ulrico Zuínglio. A igreja e o Sacro Império Romano voltaram sua atenção
para as batalhas políticas que se estenderam por toda a década de 1520. Quando decidiram
agir de forma enérgica contra os reformadores, já era tarde demais.
Uma reunião realizada na cidade de Augsburgo, em 1530, chegou perto de fazer com que a
causa luterana voltasse a ficar sob a tutela romana. Filipe Melâncton, amigo de Lutero,
preparou uma afirmação conciliatória das idéias de Lutero, apresentando seu ponto de vista
como um posicionamento fiel ao catolicismo histórico. Porém, o concilio católico exigiu
concessões que Lutero não faria, e a ruptura se tornou definitiva.
Em retrospecto, parece que os acontecimentos da Reforma devem muito à
personalidade única de Lutero. Se não fosse sua dúvida profunda, talvez jamais tivesse
garimpado as verdades das Escrituras como fez. Sem seu zelo pela justiça, talvez nunca
afixasse seu protesto na porta da catedral. Sem sua impetuosidade, talvez jamais atraísse um
número significativo de seguidores. Ele viveu em um tempo propício às mudanças e era o
homem indicado para fazer com que acontecessem.

2.4 WILLIAM TYNDALE (1494-1536)

William Tyndale nasceu por volta de 1494, em Gloucestershire e fora educado em


Oxford e na Universidade de Cambridge, onde se tornou um forte defensor da reforma da
igreja. Era um linguista talentoso e dominava pelo menos sete línguas, incluindo as línguas
bíblicas antigas. Ele fora ordenado sacerdote em torno de 1521 e voltou a Gloucestershire
para servir como capelão de um membro da pequena nobreza local, e logo começou a falar de
seu desejo, que eventualmente se tornou a obsessão de sua vida, traduzir as Escrituras para o
Inglês, a fim de que todo o povo, desde o camponês até a corte real, pudesse ler e
compreender as Escrituras em sua própria língua. Ele escreveu eloquentemente a favor da
visão de que a salvação é um dom de Deus, concedido livremente, e não uma resposta a
qualquer boa ação por parte do receptor.
Em 1522, quando tinha 28 anos, ele servia como tutor na casa de John Walsh, na
Inglaterra, dedicando a maior parte do seu tempo ao estudo do Novo Testamento grego de
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Erasmo, impresso apenas seis anos antes, em 1516. Quanto mais ele estudava esse tesouro
recém-descoberto, mais acentuada se tornava a sua preocupação no sentido de que os seus
companheiros ingleses dele compartilhassem. Foi durante esse período de formação que
aconteceu a clássica discussão de Tyndale com um exasperado estudioso católico.
Antagonizado pela sua incapacidade de refutar a racionalização Bíblica de Tyndale, o
exasperado sacerdote gritou: "seria melhor que ficássemos sem as leis de Deus do que sem as
leis do papa", ao que Tyndale retorquiu indignado: ―Desafio o papa e todas as suas leis. [...]
Se Deus poupar minha vida por muitos anos, farei com que o rapaz que guia o arado a
conheça mais das Escrituras do que você a conhece‖.
Em 1523, ele foi a Londres e pediu permissão do Bispo Cuthbert Tusntall para iniciar
o trabalho de tradução. Essa atitude revela astúcia, porque o Bispo era um intelectual e um
amigo de Erasmo, o teólogo holandês que havia publicado a primeira edição grega do Novo
Testamento e que escreveu no prefácio que desejava que a Bíblia fosse traduzida para todas as
línguas. Tunstall,entretando, rejeitou o pedido de Tyndale , aparentemente temendo que uma
Bíblia que o povo comum pudesse entender encorajaria o movimento da Reforma iniciado por
Martinho Lutero, que havia sido excomungado dois anos antes. Essa rejeição levou Tyndale a
concluir que ―não somente não havia lugar na soberania do palácio de Londres para traduzir o
Novo Testamento, mas também não havia lugar para fazê-lo em toda Inglaterra‖.
Com o patrocínio financeiro de um rico vendedor de tecidos, Tyndale saiu da
Inglaterra no ano seguinte para encontrar um lugar seguro para trabalhar. Ele nunca mais
voltaria à Inglaterra. Ele mudou-se para Hamburgo, na Alemanha, e, em agosto de 1525,
havia concluído a tradução do Novo Testamento grego de Erasmo para o inglês. Tyndale
conseguiu um impressor em Colônia, mas o trabalho de impressão foi interrompido quando
oponentes do movimento protestante atacaram a tipografia. Tyndale, entretanto, soube dos
planos deles, salvou as páginas que já haviam sido impressas e escapou. Um impressor na
cidade de Worms, onde havia uma mentalidade mais favorável à Reforma, completou o
trabalho, e as 6000 cópias foram contrabandeadas para a Inglaterra em barris de farinha e em
fardos de roupa.
O Bispo Tunstall ficou horrorizado quando descobriu a respeito das Bíblias. Ele
ordenou que todas as cópias na sua Diocese fossem queimadas. Então, secretamente, planejou
comprar todo o resto da produção de Tyndale. ―Os livros são errôneos e maldosos‖, ele disse
a um vendedor que ele acreditava estar envolvido com Tyndale, ―e eu tenho certamente a
intnção de destruir todos eles‖. O vendedor estava sim envolvido, mas era um amigo do
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tradutor. Tyndale concordou em vender as Bíblias e usar o dinheiro para pagar por edições
melhores.
Em 1534, Tyndale publicou um novo testamento revisado, depois de ter aprendido
hebraico, provavelmente na Alemanha. Estando Tyndale ―sempre insistindo na mesma tecla‖,
esse foi o ponto alto de sua vida: o refinado Novo Testamento em inglês estava terminado. A
Bíblia e os escritos de Tyndale foram os gravetos que acenderam a Reforma na Inglaterra.
Por essa época, Tyndale estava bem encaminhado com uma tradução do Antigo
Testamento. Ele completou a Torá, bem como Jonas e os livros de Josué a 2Crônicas. Mas ele
não viveu para vê-los impressos.
Tyndale passou a mudar-se constantemente para livrar-se de agentes ingleses e da
Igreja enviados para prendê-lo. Enquanto vivia em Antuérpia, Tyndale foi enganado por um
agente inglês que afirmava ser a favor do movimento protestante que começava a tomar
forma, foi capturado e preso em uma prisão próxima de Bruxelas.
Tyndale foi julgado não somente por publicar o Novo Testamento em inglês, mas
também por ter um pensamento semelhante ao de Lutero. Introduções e notas nas margens da
Bíblia revelavam a sua teologia. Ele acreditava que na salvação através da fé, não através da
Igreja. Ele negava a existência do purgatório. Ele argumentava que a virgem Maria e os santos
não intercediam por nós e que não deveríamos orar para eles.
Em agosto de 1536, Tyndale foi condenado como culpado de heresia. Dois meses
depois, ele foi estrangulado e queimado. Suas palavras finais foram: ―Senhor, abra os olhos do
rei da Inglaterra‖, e enquanto ele falava, o clima estava mudando na Inglaterra. O rei
Henrique VIII, que havia sido incapaz de assegurar a aprovação do Papa para divorcia-se de
Catarina de Aragão, estava se afastando da igreja católica.
Um ano depois da morte de Tyndale, Bíblias que revelavam forte influência do
trabalho dele começaram a ser distribuídas na Inglaterra, com a aprovação do rei.

2.5 JOÃO CALVINO (1509–1564)

João Calvino nasceu em 1509 no norte da França. Quando era um menino de 14 anos,
ele mudou-se para Paris a fim de estudar latim e artes, obtendo os graus de bacharel e de
mestre com cerca de 17 anos. Nesses anos em Paris, ele sofreu a influência do movimento
reformista do final da Idade Média conhecido como humanismo cristão, um programa de
reforma educacional, cultural e eclesiástica baseado no estudo de textos clássicos e cristãos
14

antigos. Inicialmente o pai de Calvino havia pretendido que o filho realizasse estudos
avançados de teologia e se tornasse um homem da igreja; todavia, devido a seus problemas
recentes com a Igreja Católica, ele acabou direcionando o jovem Calvino para o estudo do
direito civil. Nos cinco anos seguintes Calvino estudou com vistas ao grau de direito nas
universidades de Orléans e Bourges, e paralelamente começou a estudar grego. Durante esses
anos na escola de direito ele também se comprometeu com a fé protestante e começou a
pregar ocasionalmente.
Após a sua formatura em direito, Calvino continuou a estudar grego (e talvez
hebraico) e iniciou o que parece ter sido uma carreira acadêmica como um erudito humanista
protestante – ensinando e escrevendo nas áreas de direito e teologia. Todavia, sendo um
protestante em um país católico, ele foi obrigado a mudar-se com frequência e eventualmente
teve de fugir da própria França. No verão de 1536, Calvino se deteve para pernoitar em
Genebra, Suíça, a caminho de Estrasburgo, Alemanha. Foi convencido por Guilherme Farel,
um dos líderes protestantes de Genebra, a permanecer ali e auxiliá-lo na reforma da cidade.
Calvino concordou com relutância e iniciou o seu trabalho como pastor e preletor de Bíblia.
Todavia, as elevadas expectativas morais de Calvino e Farel com relação aos habitantes de
Genebra, que havia abraçado o protestantismo recentemente, causaram a expulsão desses
homens dois anos mais tarde, e Calvino finalmente se fixou em Estrasburgo. Ali ele trabalhou
como professor universitário e pastor de uma igreja de refugiados franceses, sob a orientação
de Martin Bucer, o grande reformador de Estrasburgo. Durante sua estadia de três anos nessa
cidade, Calvino também publicou o primeiro de seus muitos comentários da Bíblia e se casou
com a viúva de um ex-anabatista.
Em 1541 Calvino foi convidado a voltar para Genebra e ali permaneceu até a sua
morte 23 anos mais tarde. Ele não ficou sem inimigos, mas grande parte da oposição política
às suas reformas desapareceu em meados da década de 1550, e os últimos dez anos da sua
vida foram pacíficos e produtivos. Além de pregar e ensinar, Calvino continuou a oferecer
conselhos políticos aos órgãos dirigentes de Genebra, embora nunca tenha ocupado nenhum
cargo público e não tenha se tornado um cidadão oficial de Genebra até 1559. Ele também
persuadiu as autoridades políticas a construírem uma academia teológica em Genebra, que
logo se tornou o seminário reformado mais importante da Europa. Nos últimos anos de sua
vida, ele concluiu a quinta e última edição das Institutas da Religião Cristã, um sumário de
teologia que havia atingido 1500 páginas. A academia de Calvino, seus escritos teológicos e
suas milhares de cartas a igrejas e indivíduos fora de Genebra ampliaram a sua influência em
toda a Europa, e por ocasião da sua morte em 1564 ele já era conhecido como um reformador
15

internacional. Em 1556 Calvino e seus colegas até mesmo enviaram a uma pequena colônia
francesa no Brasil vários jovens de Genebra, dois dos quais se tornaram os primeiros pastores
protestantes a atravessarem o Oceano Atlântico. Hoje a influência de Calvino ainda é sentida
ao redor do mundo nos lugares em que se difundiu o cristianismo reformado e presbiteriano.
Uma das perspectivas teológicas de Calvino mais discutidas é a predestinação. Ele
usou a palavra ―predestinação‖ pela primeira vez na edição de 1539 das Institutas. A sua
doutrina nessa área não tem nada de original: nos pontos essenciais ele não difere de Lutero,
Zuínglio ou Bucer, os quais recorreram todos a Agostinho. A inovação de Calvino consistiu
no lugar em que colocou a doutrina em seu sistema teológico, não em conexão com a doutrina
da providência (Livro I), mas no final do Livro III, que trata da aplicação da obra da redenção.
Calvino não começou com a predestinação e depois foi para a expiação, regeneração,
justificação e outras doutrinas. Ele a introduziu como um problema resultante da pregação do
evangelho.
A doutrina de Calvino sobre a predestinação pode ser resumida em três termos: (a)
absoluta: não é condicionada por quaisquer circunstâncias finitas, mas repousa
exclusivamente na vontade imutável de Deus; (b) particular: aplica-se a indivíduos e não a
grupos de pessoas; Cristo não morreu por todos indiscriminadamente, mas somente pelos
eleitos; (c) dupla: Deus em sua misericórdia ordenou alguns indivíduos para a vida eterna e
em sua justiça ordenou outros para a condenação eterna.
Calvino cria que essa doutrina era claramente encontrada nas Escrituras e não queria
dizer nada sobre a predestinação que não pudesse ser tomado da Bíblia. Ele também não
permitiu que a doutrina fosse usada como desculpa para não proclamar o evangelho a todos.
De fato, na história da igreja, alguns dos maiores evangelistas e missionários foram firmes
defensores dessa doutrina (George Whitefield, Jonathan Edwards).

2.6 JONATHAN EDWARDS (1703–1758)

Jonathan Edwards nasceu em East Windsor, Connecticut, Estados Unidos, sendo seu
pai pastor de uma só igreja durante um período de sessenta e quatro anos. Sua mãe era filha de
um pregador que pastoreou uma igreja durante mais de cinquenta anos. "Muitas foram as
orações que os pais ofereceram a Deus, para que o único e amado filho fosse cheio do Espírito
Santo, e que se tornasse grande perante o Senhor.
16

Ele começou a estudar o latim aos seis anos de idade e aos treze já era fluente também
em grego e hebraico. Com dez anos escreveu um ensaio sobre a imortalidade da alma.Em
1716, quando tinha apenas treze anos, ingressou na Universidade de Yale,de fundação dos
Puritanos em New Haven, e em 1720 obteve o bacharelado, iniciando em seguida os seus
estudos teológicos nesta mesma instituição, obtendo o mestrado em 1722. Em seguida,
assumiu uma cadeira de professor assistente em Yale, cargo que ocupou por dois anos e foi
então separado para o ministério.
Acerca da sua consagração, com idade de vinte anos, Edwards escreveu: "Dediquei-
me solenemente a Deus e o fiz por escrito, entregando a mim mesmo e tudo que me pertencia
ao Senhor, para não ser mais meu em qualquer sentido, para não me comportar como quem
tivesse direitos de forma alguma... travando, assim, uma batalha com o mundo, a carne e
Satanás até o fim da vida".
Em 1722, pastoreou uma Igreja Presbiteriana em Nova York (por um período de oito
meses), em 1726, então aos 23 anos, assumiu o posto de segundo pastor na Igreja
Congregacional de Northampton, Massachussetts; igreja esta que era pastoreada por seu avô
Solomon Stoddard e a segunda maior da região, com mais de seiscentos membros, o que era
praticamente toda a população adulta daquela localidade.
Em julho de 1727 casou-se com Sarah Pierrepont, filha de James Pierrepont, pastor da
Igreja de New Haven, com quem teve 11 filhos.
A doutrina, à qual deu mais ênfase, foi a do novo nascimento, como sendo uma
experiência certa e definida, em contraste com a ideia da Igreja Romana e de várias
denominações.
O evento que marcou o começo do Grande Despertamento foi uma série de sermões
feitos por Edwards sobre a doutrina da justificação pela fé, que fez os ouvintes sentirem a
verdade das Escrituras, de que toda a boca ficará fechada no dia de juízo, e que "não há coisa
alguma que, por um momento, evite que o pecador caia no Inferno, senão o bel prazer de
Deus".
É impossível avaliar o grau do poder de Deus, derramado para despertar milhares de
almas, para a salvação, sem primeiro nos lembrarmos das condições das igrejas da Nova
Inglaterra, e do mundo inteiro, nessa época. Após os puritanos terem colonizado as florestas
da Nova Inglaterra com grande glória, essa passara e a igreja, indiferente e cheia de pecado, se
encontrava face com o maior desastre. No mesmo grau que havia coragem e ardor entre os
pioneiros, houve entre seus filhos, perplexidade e confusão. Se não pudessem alcançar, de
novo, a espiritualidade, só lhes restava esperar o juízo dos céus. O famoso sermão de
17

Edwards, ―Pecadores nas mãos de um Deus irado‖, foi como se Deus arrancasse um véu dos
olhos da multidão para contemplar a realidade e o horror da posição em que estavam.
Houve tentativas de anular a obra do Espírito Santo no "Grande Despertamento",
atribuindo tudo ao fanatismo. Em sua defesa Edwards escreveu: "Deus, conforme as
Escrituras fazem coisas extraordinárias. Há motivos para crer, pelas profecias da Bíblia, que
sua obra mais maravilhosa seria feita nas últimas épocas do mundo. Nada se pode opor às
manifestações físicas, como as lágrimas, gemidos, gritos, convulsões, falta de forças... De
fato, é natural esperar, ao lembrarmo-nos da relação entre o corpo e o espírito, que tais coisas
aconteçam. Assim falam as Escrituras: do carcereiro que caiu perante Paulo e Silas,
angustiado e tremendo; do Salmista que exclamou, sob a convicção do pecado: 'Envelheceram
os meus ossos pelo meu bramido durante o dia todo' (Salmo 32.3); dos discípulos, que, na
tempestade do lago, clama¬ram de medo; da Noiva, do Cântico dos Cânticos, que ficou
vencida, pelo amor de Cristo, até desfalecer...‖.
Certo é que na Nova Inglaterra começou, em 1740, um dos maiores avivamentos dos
tempos modernos. É igualmente certo que este movimento se iniciou, não com os sermões
célebres de Edwards, mas com a firme convicção deste, de que há uma "obra direta que o
Espírito divino faz na alma humana". Não foram seus sermões monótonos, nem a eloquência
extraordinária de alguns, como Jorge Whitefield, mas, sim, a obra do Espírito Santo no
coração dos mortos espiritualmente, que, "começando em Northampton, espalhou-se por toda
a Nova Inglaterra e pelas colônias da América do Norte, chegando até a Escócia e a
Inglaterra". De uma época de maior decadência, a Igreja de Cristo, entre a população escassa
da Nova Inglaterra, despertou e foram convertidas de trinta a cinquenta mil almas.
Em 1758, apareceu a varíola em Princeton e um hábil médico foi chamado de
Filadélfia para inocular os estudantes. Edwards e duas de suas filhas foram também
vacinados. Na febre que resultou, suas as forças diminuíram gradualmente até que, um mês
depois, faleceu.

2.7 JOHN WESLEY (1703–1791)

John Wesley nasceu em 1703 e sua infância foi fortemente influenciada por sua mãe.
Ele teria morrido em um incêndio em Epworth Rectory se não tivesse sido arrancado das
chamas por um vizinho. Na época tinha sete anos e depois disso sua mãe o lembrou várias
vezes que ele era ―um tição colhido do fogo‖. Mais tarde ele teve a certeza de que tinha sido
18

poupado por um propósito, servir a Deus. Samuel, o pai de John, era um erudito, que por
muitos anos trabalhou em uma obra monumental sobre o livro de Jó. Com seu pai e sua mãe,
John Wesley desenvolveu excelentes hábitos de estudo e também se acostumou com o
sofrimento físico.
John Wesley foi para Charterhouse School em 1714, para Christ Church College, em
1720, e em 1726 foi eleito membro na Lincoln College em Oxford. Depois de ser pastor
auxiliar em Wroote, Lincolnshire, de 1727 a 1729, ele voltou à Oxford não apenas para
continuar seus estudos, mas também para começar a viver uma vida mais devota e santa.
Muitos outros jovens brilhantes tinham um curriculum como o de Wesley, mas poucos
tinham a sua dedicação. Ele dominava pelo menos sete idiomas e desenvolveu uma visão
verdadeiramente abrangente em todas as áreas da investigação. Quando ele voltou de Wroote
para Oxford, ele assumiu a liderança de um grupo chamado Holy Club (Clube Santo),
iniciado por seu irmão Charles. Lá era onde eles reforçavam a fé através do estudo das
Escrituras e buscavam a santidade na vida de cada membro. O Clube Santo fazia muito mais
do que refletir e orar. Eles iam às prisões levar a palavra de salvação aos prisioneiros. Embora
eles fossem ridicularizados por seus companheiros de Oxford, de seu grupo de uma classe
social mais baixa saíram homens que se tornaram importantes para aquele tempo,
particularmente os irmãos Wesley, além de George Whitefield.
Um dos episódios que marcou o início do metodismo foi a viagem missionária de Jonh
Wesley aos EUA – Virgínia para ―evangelizar os índios‖ sendo praticamente fracassado. Em
sua viagem de retorno Jonh Wesley expressa sua frustração ―fui à América evangelizar os
índios, mas quem me converterá?‖. Durante uma tempestade na travessia do Oceano
Atlântico, Wesley ficou profundamente impressionado com um grupo de morávios (grupo de
cristãos pietistas que buscavam a conversão pessoal mediante o Espírito Santo) a bordo do
navio que, durante uma grande tempestade, as crianças e os adultos morávios cantavam e
louvavam ao nome do Deus e Wesley vendo a fé que tinham diante do risco da morte (o medo
de morrer acompanhava Wesley por ele achar que, Deus não poderia o justifica-lo mediante
seus pecados e por isso constantemente temia a morte desde sua juventude) predispôs à seguir
a fé evangélica dos morávios. Retornou à Inglaterra em 1738.
Após 2 anos, John Wesley volta desiludido com o trabalho realizado na Virgínia.
Encontra-se, então, com Pedro Böhler, em Londres. Böhler era pastor moraviano (da Morávia,
Alemanha) e com ele John Wesley se convence de que a fé é uma experiência total da vida
humana. Procurou, então, libertar-se da religião formalista e fria para viver, na prática, os
ensinos de Jesus. No dia 24 de maio de 1738, numa pequena reunião, ouvindo a leitura de um
19

antigo comentário escrito por Martinho Lutero, pai da Reforma Protestante, sobre a carta aos
Romanos, John sente seu coração se aquecer. Experimenta grande confiança em Cristo e
recebe a segurança de que Deus havia perdoado seus pecados.
John Wesley tinha 37 anos de idade quando começou a viajar e pregar. Ele pregava
três vezes por dia, começando às 5 da manhã, uma vez que os trabalhadores poderiam parar
para ouvi-lo enquanto andavam para o trabalho. Algumas vezes ele andava 60 milhas (mais de
90 quilômetros) por dia a cavalo. As condições do tempo não importavam; ele fazia seu
programa e o cumpria, não importavam as dificuldades. Ele fugia de uma multidão zangada
pulando num lago gelado, nadava para fora dele e continuava a pregar novamente. E tinha
certa habilidade de trazer as pessoas hostis para o seu lado.
Em 1741 foi para Gales do Sul, para o norte da Inglaterra em 1742, Irlanda em 1747, e
Escócia em 1751. Houve ocasiões em que ele retornava anos depois de sua última visita e
registrava que a pequena sociedade que ele ajudara ainda estava intacta e fiel.
Sua teologia é semelhante a da Reforma. Algumas ênfases que se encontram em seus
sermões são: (1) Soberania de Deus em inverter nossa natureza pecaminosa; (2) Espírito
Santo; (3) Pecado Original; (4) A liberdade que o Espírito Santo garante aos santos para a
santidade; (5) Perfeição cristã: a palavra de ordem para o reavivamento ficou sendo: ―avance
para a perfeição; senão, não poderá conservar aquilo que já tem‖; (6) Ênfase ética-moral
rigorosa.
Wesley ensinava que a conversão a Jesus é comprovada pela prática (testemunho), e
não pelas emoções do momento. Pregava a valorização dos pregadores leigos que
participavam lado a lado com os clérigos da Missão de evangelização, assistência e
capacitação de outras pessoas. Sempre afirmou que o centro da vida cristã está na relação
pessoal com Jesus Cristo. É Jesus quem nos salva, nos perdoa, nos transforma e nos oferece a
vida abundante de comunhão com Deus. Valoriza e recupera em sua prática a ênfase na ação e
na doutrina do Espírito Santo como poder vital para a Igreja. Reconhece a necessidade de se
viver o Evangelho comunitariamente. John Wesley afirmou que "tornar o Evangelho em
religião solitária é, na verdade, destruí-lo". Preocupa-se com o ser humano total. Não é só
com o bem-estar espiritual, mas também com o bem-estar físico, emocional, material. Por isso
devemos cuidar do nosso próximo integralmente, principalmente dos necessitados e
marginalizados sociais.
A teologia de Wesley dava ênfase especial na pregação e na evangelização com zelo
apaixonado. Há uma frase bem conhecida de seus biógrafos de que enquanto ele ouvia o
sermão de um de seus alunos (que estava bem fraco), ele provavelmente teria dito a ele:
20

―Ponha fogo no seu sermão ou ponha o seu sermão no fogo‖. Outra frase muito conhecida de
Wesley é a frase: ―o mundo é minha paróquia‖. Na verdade, essa frase é uma crítica dele à
Igreja da Inglaterra, pois Wesley tinha decidido pregar ao ar livre e não dentro dos templos,
―eu prego onde eu for, onde Deus mandar, e onde existir pessoas, o mundo é minha igreja‖. O
costume deles era pregar em paróquias de outros ministros e isto provocou grandes protestos.
Por esse motivo foram excluídos das igrejas e sofreram amarga oposição de muitos clérigos
da igreja oficial.
Além de milhares de convertidos e encaminhados para a santificação cristã, houve
também obras sociais dignas de destaque, como estas: ―Dinheiro aos pobres‖. ―Compêndio de
medicina‖ (Wesley escreveu e foi largamente difundido). Apoio na reforma educacional.
Apoio na reforma das prisões. Apoio na abolição da escravatura.
Atualmente, o total de membros da comunidade metodista no mundo está estimado em
cerca de 75 milhões de pessoas. O maior grupo concentra-se nos Estados Unidos: a Igreja
Metodista Unida neste país é a segunda maior denominação protestante. John Wesley foi o
homem que Deus levantou para sacudir a vida religiosa da Inglaterra e trazer ao mundo o
impulso religioso mais forte que ocorreu depois do tempo da Reforma. Os resultados do
avivamento foram a formação dos metodistas, que Wesley não desejava, além do forte
entusiasmo que se apoderou da vida religiosa da Inglaterra, afugentando a indiferença e o
desinteresse característicos do século18.
John Wesley morreu em 2 de março de 1791.

2.8 CHARLES HADDON SPURGEON (1834–1892)

No século XV, o imperador espanhol Carlos V queimou na fogueira um grande


número de cristãos apelidados de ―protestantes‖. O seu filho e sucessor Filipe II, alegrava-se
por ter conseguido acabar com boa parte desses grupos, os quais viviam nos países baixos da
Europa. Dentre as muitas famílias que fugiram dessa perseguição, indo para a Inglaterra, em
meio a uma delas encontrava-se a família Spurgeon, onde mais tarde nasceria Charles Haddon
Spurgeon.
Spurgeon nasceu no dia 19 de junho de 1834, na cidade de Kelvedon, Condado de
Essex, localizado ao sul da Inglaterra.
Desde cedo Spurgeon foi ávido na leitura. Enquanto as outras crianças brincavam,
Spurgeon podia ser sempre encontrado debruçado nos livros. Aos dez anos já tinha bom
21

conhecimento do latim, algum conhecimento do grego e de filosofia, e estava bem


familiarizado com a teologia puritana.
Quando criança, ele recebeu permissão para compartilhar das discussões teológicas
com alguns outros ministros, inclusive seu pai e seu avô. Certa vez, em um período de férias,
na casa do seu avô, ainda com dez anos Spurgeon foi objeto de uma extraordinária profecia,
proferida por um missionário da Sociedade Missionária de Londres, que visitava a cidade na
época, que dizia que Spurgeon seria um grande pregador do Evangelho.
Em 1850, no ano em que se converteu o jovem pregador foi estudar em uma escola
perto de Cambridge. Mesmo sendo criado como congregacional, ele acabou por ser batizado
em uma Igreja Batista em Isleham Village.
Desde o início do ministério, seu talento para a exposição dos textos bíblicos foi
considerado extraordinário. E sua excelência na pregação das Escrituras Bíblicas lhe deu o
título de O Príncipe dos Pregadores e O Último dos Puritanos.
Logo após, sua conversão, Spurgeon já ensinava na Escola Bíblica Dominical. Depois,
começou a fazer parte da associação de Pastores Leigos. Sendo assim, o seu primeiro sermão
foi pregado em uma casa de campo em Teversham.
Pouco tempo depois, ele recebeu um convite para pastorear uma pequena Igreja
Batista em Waterbeach. Nos dois anos seguintes do seu ministério, naquela pequena vila,
houve uma grande transformação moral na vida daquelas pessoas, a qual ele acreditava
firmemente num derramamento do Espírito sobre o lugar. E quando ele deixou aquela
comunidade para assumir o pastorado da igreja de New Park, cerca de quatrocentas pessoas
frequentavam-na sendo que boa parte delas, amontoavam-se fora do templo.
Após um próspero ministério como pastor de uma igreja rural, Spurgeon aceitou o
convite para pastorear a capela Batista em New Park Street, em Southwark, na cidade de
Londres em Abril de 1854. Ali, deu início a um proveitoso ministério que perdurou por trinta
e oito anos.
No começo de seu ministério, Spurgeon, um ardoroso calvinista desde o inicio de sua
conversão, teve que se defender da acusação de ser mais pendente ao arminianismo do que os
demais batistas particulares (deve-se notar que um dos predecessores de Spurgeon no
pastorado de New Park Street foi o pastor e teólogo John Gill, que em muitas ocasiões era um
ferrenho hipercalvinistas). Em diversas ocasiões Spurgeon pregou sermões que provavam que
seus acusadores estavam equivocados. Apesar dessas dificuldades por causa das críticas, seu
ministério em Londres foi extraordinariamente profícuo. Sua fama aumentou rapidamente, e a
oposição da imprensa só estimulou a curiosidade das pessoas. Já no ano subsequente o templo
22

não conseguia mais acomodar a multidão que ouvia Spurgeon aos domingos. Foi preciso
alugar o Exeter Hall, um conhecido teatro de música de Londres para colocar as pessoas,
enquanto o templo passava por uma reforma com objetivo de ampliá-lo. E nos principais
jornais de Londres dizia-se que ―desde os tempos de Wesley e Whitefield não havia existido
um interesse tão forte pelo cristianismo‖
Muitos sermões de Spurgeon eram enviados via telegrafo aos Estados Unidos e
republicados lá: depois de 1865, muitos deles foram censurados, pelo fato de Spurgeon ser
totalmente contra a escravidão dos negros africanos.
Spurgeon, desde o início de seu pastorado, começou a treinar alguns jovens que ele
cria terem o chamado para obra evangelística e pastorado. Seu primeiro aluno foi Thomas
Medhurst, em 1856. Com o tempo, muitos jovens começaram a requerer de Spurgeon
instrução, e ele, junto com o congregacional George Rogers abriu, em 1856 o "Colégio do
Pastor", e Rogers foi colocado como diretor.
Depois da morte de Spurgeon, em sua homenagem, o Colégio foi renomeado de
Spurgeon College, e construído em outro prédio; hoje, é uma instituição não vinculada com o
ministério do Tabernáculo (que tem um seminário próprio) perdendo assim vários aspectos
ligados à fé reformada e ao ministério calvinista de Spurgeon. Todavia continua sendo uma
instituição de preparação de pastores ao ministério.
Spurgeon enfrentou muita oposição no fim de seu ministério. Em 1887, ele foi
envolvido na que se chamou "A controvérsia do Declínio": em Março e Abril de 1887, Robert
Schilinder escreveu dois artigos para a revista de Spurgeon, "A Espada e a Colher" (com
anuência e influência de Spurgeon) descrevendo o declínio teológico das igrejas batistas
inglesas, associando esse declínio ao abandono do calvinismo e a incredulidade de muitos
quanto a infalibilidade e inspiração da Bíblia, por conta do racionalismo alemão que
contaminava várias igrejas; Spurgeon, vendo que as acusações eram verdadeiras e reagindo as
críticas dos artigos de Schilinder em outros 3 artigos, apoiou isso, e ainda afirmou que a
União Batista não estava repelindo isso, mas antes abrigando isso em seu meio, por conta de
não ter uma confissão de fé mais elaborada, e por aceitar pastores claramente antitrinitarianos
em suas convenções, e ainda criticou aqueles que, por aceitarem o criticismo contra a
inspiração bíblica, apoiavam entretenimento nas igrejas. Spurgeon foi duramente criticado,
sendo acusado de criar intriga onde não existia, e acusado de estar sendo influenciado por
suas doenças, acusações infundadas, pois o próprio secretário geral da União havia informado
a Spurgeon extraoficialmente que havia casos de pastores criticarem partes da Palavra de
Deus e frequentarem teatros e aceitavam pastores socianos em seus púlpitos. Porem, logo
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após a controvérsia, o secretário e outros quiseram inquirir Spurgeon sobre suas críticas; em
outubro, Spurgeon pediu sua saída da União em 28 de Outubro de 1887, por acreditar que a
mesma estava contrária a princípios da Palavra, e em janeiro, a União aprovou sua saída e
ainda aprovou uma moção de censura contra Spurgeon. Em abril, a União aprovou uma
confissão de fé mínima, mas ela mesma aprovou que não podia impô-la para nenhum membro
e igreja.
Até o último ano de pastorado, 14.692 pessoas foram batizadas sob seu pastorado.
Nesse meio tempo, Spurgeon teve sua saúde grandemente debilitada. Spurgeon desenvolveu,
por volta dos 25 anos, Gota e Reumatismo, e grandes ataques de depressão, principalmente
depois de 1857, quando um culto realizado em Surrey Garden foi organizado para cerca de
10.000, e devido a um tumulto provocado por um falso alarme de incêndio, levou a morte seis
pessoas.

2.9 DWIGHT LYMAN MOODY (1837-1899)

Influente evangelista do século XIX, D. L. Moody nasceu aos 05 de fevereiro de 1837


e faleceu aos 22 de dezembro de 1899.
Lyman Moody é conhecido como um dos mais influentes evangelistas do século XIX,
fundador do Instituto Bíblico Moody e da Moody Press. Quando seu pai faleceu, aos 41 anos,
Moody tinha somente quatro anos. Jovem, mudou-se para Boston, indo trabalhar com seu tio
em uma sapataria. Uma das exigências de seu tio era que Moody frequentasse uma igreja. Fez
isso, mas sem uma decisão real para Jesus. No dia 21 de abril de 1855, Kimball, seu professor
de Escola Dominical, achou que era hora de pedir que Moody assumisse um compromisso
real com Cristo. Ele foi até a loja onde trabalhava, encontrou Moody empacotando sapatos e
colocando-os nas prateleiras. O jovem já estava pronto para ouvir. Naquele dia, Moody
tornou-se cristão. A partir dessa decisão, Moody inicia seu ministério como evangelista. Sua
escola dominical, em Chicago, chegou a ser a maior da época,alcançando a média de 650
pessoas, tendo cerca de 60 professores. A escola chegou a ser tão conhecida que o recém-
eleito presidente Lincoln visitou e falou em uma reunião da escola em 25 de novembro de
1860.
Preocupado com a evangelização de crianças, estabeleceu escola dominical para
crianças nas zonas mais pobres da cidade. Em pouco tempo havia mais de mil crianças, além
de seus pais, frequentando semanalmente. O trabalho cresceu, transformando-se numa Igreja.
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Foi após sua viagem à Inglaterra que Moody se tornou mais conhecido como evangelista.
Nesse país, suas reuniões pareciam verdadeiras tempestades. Sua pregação teve um impacto
tão grande como as de George Whitefield e John Wesley. Em varias ocasiões encheu estádios
com capacidade entre 2 a 4 mil pessoas. Em uma reunião no Botanic Gardens Palace se
juntaram entre 15.000 e 30.000 ouvintes e sempre aumentando nas reuniões seguintes.
O mundo vivia o começo da industrialização, com todos os seus problemas. Moody
contextualizou sua mensagem e trouxe o evangelismo para seus dias. Pregava um evangelho
simples. Ele insistia em que os homens colocassem suas riquezas em boas causas,como cuidar
dos pobres em áreas urbanas. Aplicou técnicas de negócio no planejamento evangelístico.
Música, aconselhamento e acompanhamento faziam parte de uma abordagem organizada para
atingir o coração das pessoas.
Quando retornou aos Estados Unidos, era comum pregar para 12.000 a 20.000
pessoas, nas mais diferentes cidades. Seu último sermão fora pregado em 16 de novembro de
1899. Não queria competir com os seminários tradicionais, mas o isolamento dessas escolas
com relação às pessoas comuns o perturbava. Por isso,em 1879, Moody fundou escolas que
viriam a ser, mais tarde, o Instituto Moody. Seu objetivo era treinar comunicadores que
pudessem levar a verdade simples de Deus às massas que precisavam dela. Sua preocupação
com o social inspirou profundo compromisso ministerial. R.A. Torrey foi o sucessor de
Moody como presidente do Moody Bible Institute. E a Igreja que fundara passou a chamar-se
Igreja Moody em sua homenagem.

3 TEOLOGIA DOGMÁTICA

3.1 CALVINISMO

Historicamente, o nome Calvinismo indica o canal pelo qual a Reforma se moveu, até
onde ela não foi nem Luterana, nem Anabatista, nem Sociniana. No sentido filosófico,
entendemos por Calvinismo aquele sistema de concepções que, sob a influência da mente
mestre de Calvino, levantou-se para dominar nas diversas esferas da vida
O Calvinismo tem um ponto próprio de partida claramente definido para as três
relações fundamentais de toda existência humana: a saber, nossa relação com Deus, com o
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homem e com o mundo. Para nossa relação com Deus: uma comunhão imediata do homem
com o Eterno, independentemente do sacerdote ou igreja. Para a relação do homem com o
homem: o reconhecimento do valor humano em cada pessoa, que é seu em virtude de sua
criação conforme a semelhança de Deus, e, portanto da igualdade de todos os homens diante
de Deus e de seu magistrado. E para nossa relação com o mundo: o reconhecimento que no
mundo inteiro a maldição é restringida pela graça, que a vida do mundo deve ser honrada em
sua independência, e que devemos, em cada campo, descobrir os tesouros e desenvolver as
potências ocultas por Deus na natureza e na vida humana.

3.1.1 Os Cinco Pontos do Calvinismo

Os Cinco Pontos do Calvinismo são uma síntese dos cânones teológicos definidos no
Sínodo de Dordrecht. Eles refletem a soteriologia típica do movimento calvinista,
interpretando a natureza da graça de Deus na salvação da criatura humana. Seu eixo é a
afirmação de que Deus é perfeitamente capaz de salvar cada pessoa que Ele tenha a intenção
de tornar objeto de sua graça salvadora e que seu trabalho não pode ser frustrado por algo ou
alguém que fique no caminho, na tentativa de impedir sua conclusão.

3.1.1.1 Depravação total do homem


Também chamada de "depravação radical", "corrupção total" e "incapacidade total".
Indica que toda criatura humana, em sua condição atual, ou seja, após a queda, é caracterizada
pelo pecado, que a corrompe e contamina, incluindo a mente. Por isso, afirma-se que ninguém
é capaz de realizar o que é verdadeiramente bom aos olhos de Deus. Em contrapartida, o ser
humano é escravo do pecado, por natureza hostil e rebelde para com Deus, espiritualmente
cego para a verdade, incapaz de salvar a si mesmo ou até mesmo de se preparar para a
salvação. Só a intervenção direta de Deus pode mudar esta situação.

3.1.1.2 Eleição incondicional


Eleição significa "escolha". É a escolha feita por Deus desde toda a eternidade,
daqueles a quem Ele concedeu a graça da salvação. Esta escolha não se baseia no simples
mérito, ou na fé das pessoas que ele escolhe, mas se baseia em sua decisão soberana e
incondicional, irrevogável e insondável. Isso não significa que a mesma salvação final é
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incondicional, mas que a condição em que assenta (fé) é concedida também pela graça de
Deus, como seu presente para aqueles a quem Ele escolheu incondicionalmente.

3.1.1.3 Expiação limitada


Também chamada de "redenção particular" ou "redenção definida", significa a
doutrina segundo a qual a obra redentora de Cristo foi apenas visando a salvação daqueles que
têm sido alvo da graça da salvação. A eficácia salvífica do Cristo redentor, então, não é
"universal" ou "potencialmente eficaz" para quem iria recebê-lo, mas especificamente
designada para tornar possível a salvação daqueles a quem Deus Pai escolheu desde antes da
fundação do mundo. Os calvinistas não acreditam que a expiação é limitada em seu valor ou
poder (se Deus o Pai quisesse, teria salvado todos os seres humanos sem exceção), mas sim
que a expiação é limitada na medida em que foi destinada para alguns e não para todos.

3.1.1.4 Vocação eficaz (ou Graça Irresistível)


Também conhecida como "graça eficaz", esta doutrina ensina que a influência
salvífica do Espírito Santo de Deus é irresistível, superando toda e qualquer resistência.
Quando então, Deus soberanamente visa salvar alguém, o indivíduo não tem como resistir à
essa graça da vida eterna com o próprio Deus.

3.1.1.5 Perseverança dos santos


Também conhecida como "preservação dos santos" ou "segurança eterna", este quinto
ponto sugere que aqueles a quem Deus chamou para a salvação, e depois, à comunhão eterna
com ele (―santos‖, segundo a Bíblia) não podem cair em desgraça e perder sua salvação.
Mesmo que, em suas vidas, o pecado os leve a renunciar à sua profissão de fé, eles (se eles
são autênticos eleitos), mais cedo ou mais tarde, retornarão à comunhão com Deus Essa
doutrina é baseada na suposição de que a salvação é obra de Deus do começo ao fim, que
Deus é fiel às Suas promessas, e que nada nem ninguém pode impedir Seus propósitos
soberanos. Este conceito é ligeiramente diferente do conceito usado em algumas igrejas
evangélicas, de "uma vez salvos - salvos para sempre", apesar da apostasia, a falta de
arrependimento ou a permanência no pecado, desde que eles tiverem realmente aceito a Cristo
no passado. No ensino tradicional calvinista, se uma pessoa cai em apostasia ou não mostra
mais sinais de arrependimento genuíno, pode ser prova de que ele nunca foi realmente salvo,
e, em seguida, que não fazia parte do número dos eleitos.
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3.2 ARMINIANISMO

O Arminianismo é uma escola de pensamento soteriológica de dentro do cristianismo


protestante, baseada sobre ideias do teólogo reformado holandês Jacobus Arminius (1560 -
1609) e seus seguidores históricos, os Remonstrantes.
Embora tenha sido discípulo do notável calvinista Teodoro de Beza, Armínio defendeu
uma forma evangélica de sinergismo (crença que a salvação do homem depende da
cooperação entre Deus e o homem), que é contrário ao monergismo, do qual faz parte o
Calvinismo (crença de que a salvação é inteiramente determinada por Deus, sem nenhuma
participação livre do homem).

3.2.1 Diferentes correntes

A exemplo do que ocorre com outras correntes teológicas, tais como o Calvinismo, as
crenças arminianas não são homogêneas. As ideias originalmente desenvolvidas por Armínio
foram sistematizadas e desenvolvidas por inúmeros sucessores e profundamente alteradas por
outros. Embora todos eles sejam considerados arminianos, divergem em alguns pontos
cruciais. O teólogo reformado Allan Sell introduziu a distinção entre os ―arminianos do
coração‖ _são classificados como tal os teólogos que continuaram a trilhar os mesmos passos
de Armínio, ou seja, sua teologia é perfeitamente compatível com as ideias por ele
defendidas_ e os ―arminianos da cabeça‖ _ são considerados como tal os que abandonaram
alguns a crença no pecado original e na depravação total, aproximando-se até Pelagianismo,
negando a salvação pela graça, pilar da reforma protestante.

3.2.2 Os cinco pontos do Arminianismo

No Sínodo de Dort, os Remonstrantes apresentaram a doutrina arminiana clássica na


forma dos cinco pontos seguintes:
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3.2.2.1 Vontade Livre

O primeiro ponto do arminianismo sustenta que o homem é dotado de vontade livre.


Arminius acreditava que a queda do homem não foi total, e sustentou que, no homem, restou
bem suficientemente capaz de habilitá-lo a querer aceitar Cristo como Salvador.

3.2.2.2 Eleição Condicional

Arminius ensinava também que a eleição estava baseada no pré-conhecimento de


Deus em relação àquele que deve crer. Em outras palavras, o ato de fé, por parte do homem, é
a condição para ele ser eleito para a vida eterna, uma vez que Deus previu que ele exerceria
livremente sua vontade, num ato de volição positiva para com Cristo.

3.2.2.3 Expiação Universal

Conquanto a convicção posterior de Arminius fosse à de que Deus ama a todos, de que
Cristo morreu por todos e de que o Pai não quer que ninguém se perca, ele e seus seguidores
sustentam que a redenção (usada casualmente como sinônimo de expiação) é geral. Em outras
palavras: A morte de Cristo oferece a Deus base para salvar a todos os homens, contudo, cada
homem deve exercer sua livre vontade para aceitar a Cristo.

3.2.2.4 A graça pode ser impedida

O arminiano, em seguida, crê que uma vez que Deus quer que todos os homens sejam
salvos, ele envia seu Santo Espírito para atrair todos os homens a Cristo, contudo, desde que o
homem goza de vontade livre absoluta, ele pode resistir à vontade de Deus em relação a sua
própria vida. (A ordem arminiana sustenta que, primeiro, o homem exerce sua própria
vontade e só depois nasce de novo.)
Ainda que o arminiano creia que Deus é onipotente, insiste em que a vontade de Deus,
em salvar a todos os homens, pode ser frustrada pela finita vontade do homem como
indivíduo.
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3.2.2.5 O homem pode cair da graça

O quinto ponto do arminianismo é a consequência lógica das precedentes posições de


seu sistema. O homem não pode continuar na salvação, a menos que continue a querer ser
salvo.

3.3 ARMINIANISMO X CALVINISMO

O sínodo de Dort foi um sínodo nacional que teve lugar em Dordrecht, na Holanda em
1618/19, pela Igreja Reformada Holandesa, com o objetivo de regular uma séria controvérsia
nas Igrejas Holandesas iniciada pela ascensão do Arminianismo. A primeira reunião do
sínodo foi tida a 13 de Novembro de 1618 e a última, a 154ª foi a 9 de Maio de 1619. Foram
também convidados representantes com direito de voto vindos de 8 países estrangeiros. O
nome "Dort" era um nome usado na altura em inglês para a cidade holandesa de Dordrecht. O
sínodo é por vezes chamado de Sínodo de Dordt, ou Sínodo de Dordrecht.
Segundo Duane Spencer, após o Sínodo de Dort se reunir em 154 sessões num
―completo exame das doutrinas de Arminius e comparar cuidadosamente seus ensinos com os
ensinos das Escrituras Sagradas, chegaram à conclusão que os ensinos de Arminius eram
heréticos‖. ―E não somente isto, mas o Concílio impôs censura eclesiástica aos
‗Remonstrantes' depondo-os dos seus cargos, e a autoridade civil (governo) os baniu do país
por cerca de seis anos‖.

Arminianismo Calvinismo

Vontade Livre – O arminianismo diz que a Depravação Total – O calvinismo diz que o
vontade do homem é ―livre‖ para escolher, homem não regenerado é absolutamente
ou a Palavra de Deus, ou a palavra de escravo de Satanás, e, por isso, é totalmente
Satanás. A salvação, portanto, depende da incapaz de exercer sua própria vontade
obra de sua fé. livremente (para salvar-se), dependendo,
portanto, da obra de Deus, que deve vivificar
o homem, antes que este possa crer em Cristo.

Eleição Condicional – O arminianismo diz Eleição Incondicional – O calvinismo


que a ―eleição é condicional‖, ou seja, sustenta que o pré-conhecimento de Deus está
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acredita-se que Deus elegeu àqueles a quem baseado no propósito ou no plano de Deus, de
―pré-conheceu‖, sabendo que aceitariam a modo que a eleição não está baseada em
salvação, de modo que o pré-conhecimento alguma condição imaginária inventada pelo
[de Deus] estava baseado na condição homem, mas resulta da livre vontade do
estabelecida pelo homem. Criador à parte de qualquer obra de fé do
homem espiritualmente morto.

Expiação Universal – O arminianismo diz 3. Expiação Limitada – O calvinismo diz que


que Cristo morreu para salvar não um em Cristo morreu para salvar pessoas
particular, porém somente àqueles que determinadas, que lhe foram dadas pelo Pai
exercem sua vontade livre e aceitam o desde toda a eternidade. Sua morte, portanto,
oferecimento de vida eterna. Daí, a morte de foi cem por cento bem sucedida, porque todos
Cristo foi um fracasso parcial, uma vez que aqueles pelos quais ele não morreu receberão
os que têm volição negativa, isto é, os que a ―justiça‖ de Deus, quando forem lançados
não querem aceitar, irão para o inferno. no inferno.

Graça Irresistível – O calvinismo entende


que a graça de Deus não pode ser obstruída,
A Graça pode ser Impedida – O
visto que sua graça é irresistível. Os
arminianismo afirma que, ainda que o
calvinistas não querem significar com isso
Espírito Santo procure levar todos os homens
que Deus esmaga a vontade obstinada do
a Cristo (uma vez que Deus ama a toda a
homem como um gigantesco rolo
humanidade e deseja salvar a todos os
compressor! A graça irresistível não está
homens), ainda assim, como a vontade de
baseada na onipotência de Deus, ainda que
Deus está amarrada à vontade do homem, o
pudesse ser assim, se Deus o quisesse, mas
Espírito [de Deus] pode ser resistido pelo
está baseada mais no dom da vida, conhecido
homem, se o homem assim o quiser. Desde
como regeneração. Desde que todos os
que só o homem pode determinar se quer ou
espíritos mortos (= alienados de Deus) são
não ser salvo, é evidente que Deus, pelo
levados a Satanás, o deus dos mortos, e todos
menos, ―permite‖ ao homem obstruir sua
os espíritos vivos (= regenerados) são guiados
santa vontade. Assim, Deus se mostra
irresistivelmente para Deus (o Deus dos
impotente em face da vontade do homem, de
vivos), nosso Senhor, simplesmente, dá a seus
modo que a criatura pode ser como
escolhidos o Espírito de Vida. No momento
Deus, exatamente como Satanás prometeu a
que Deus age nos eleitos, a polaridade
Eva, no jardim [do Éden].
espiritual deles é mudada: Antes estavam
mortos em delitos e pecados, e orientados
para Satanás; agora são vivificados em Cristo,
e orientados para Deus.

O Homem pode Cair da Graça – O Perseverança dos Santos – O calvinismo


arminianismo conclui, muito logicamente, sustenta muito simplesmente que a salvação,
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que o homem, sendo salvo por um ato de sua desde que é obra realizada inteiramente pelo
própria vontade livremente exercida, Senhor – e que o homem nada tem a fazer
aceitando a Cristo por sua própria decisão, antes, absolutamente, ―para ser salvo‖ -, é
pode também perder-se depois de ter sido óbvio que o ―permanecer salvo‖ é, também,
salvo, se resolver mudar de atitude para com obra de Deus, à parte de qualquer bem ou mal
Cristo, rejeitando-o! (Alguns arminianos que o eleito possa praticar. Os eleitos
acrescentariam que o homem pode perder ‗perseverarão' pela simples razão de que Deus
subsequentemente, sua salvação, cometendo prometeu completar, em nós, a obra que ele
algum pecado, uma vez que a teologia começou. Por isso, os cinco pontos de TULIP
arminiana é uma ―teologia de obras‖ – pelo incluem a Perseverança dos Santos.
menos no sentido e na extensão em que o
homem precisa exercer sua própria vontade
para ser salvo). Esta possibilidade de perder-
se, depois de ter sido salvo, é chamada de
―queda (ou perda) da graça‖, pelos
seguidores de Arminius. Ainda, se depois de
ter sido salva, a pessoa pode perder-se, ela
pode tornar-se livremente a Cristo outra vez
e, arrependendo-se de seus pecados, ―pode
ser salva de novo‖. Tudo depende de sua
continua volição positiva até à morte!

A diferença crucial entre o Arminianismo e o Calvinismo se resume na palavra


Soberania. Enquanto os calvinistas entendem que Deus opera a salvação na vida do ser-
humano conforme a sua livre e soberana vontade, os arminianos salientam que o homem é
capaz de por si só querer ou não ser salvo.
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4 REFERÊNCIAS

Os 100 Acontecimentos mais importantes da história do Cristianismo: Do incêndio de Roma


ao crescimento da igreja na China A. Kenneth Curtis/J. Stephen Lang/Randy Petersen -
EDITORA VIDA

POR QUE FÉ REFORMADA? Terry L. Johnson- 1ª Edição digital em Português, 2013

Nossa Herança Reformada: O Justo Viverá por Fé — Dr. Joel Beeke - Editora Os
Puritanos/Clire publicado na Revista Os Puritanos ―Como posso ser salvo‖, n.º2 de 2005.

http://www.mackenzie.br/7111.html- Instituto Presbiteriano Mackenzie - O


PROTESTANTISMO NORTE-AMERICANO: SÉCULOS 17 A 19- Acesso 12/12/13 01:16

Completando as aflições de Cristo/John Piper; Tradução Regina Aranha. São Paulo: Shedd
Publicações, 2010.

A Bíblia e sua história- O surgimento e o impacto da Bíblia. Barueri, SP: Sociedade Bíblica
do Brasil, 2006.

George, Timothy. Teologia dos reformadores. São Paulo: Edições Vida Nova, 1994.

Abraham Kuyper. Calvinismo

http://arminianismo.wordpress.com/ acesso 14/12/13 04:34

Heróis da fé- Vinte homens extraordinários que incendiaram o mundo- Orlando Boyer. Rio de
Janeiro, RJ: CPAD
33

Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. In:Wesley. São Paulo: Editora Vida Nova,
2000.GONZALEZ

Coletânea da teologia de John Wesley. Rio de Janeiro: Igreja Metodista, 1ª Região


Eclesiástica, 2005.

NICHOLS, R. H. História da Igreja Cristã. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2008.

http://imwtaubate.com.br/quem-somos/john-wesley/#sthash.ucFBiiAx.dpuf. Acesso 15/04/13


01:45

Biografia de Carlos H. Spurgeon, por Alfredo S. Rodríguez y García, Cuba, 1930.

http://www.iprb.org.br/biografias/vultoscristianismo/Moody.htm

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