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Idade Moderna: Reforma

Religiosa
1 Col.
Causas
• Crise de espiritualidade
• A Reforma religiosa foi um movimento de ruptura que surgiu dentro da
própria Igreja católica e se manifestou por meio do aparecimento de novas
religiões, logo chamadas de protestantes. Essas novas religiões eram
cristãs, baseadas na leitura da Bíblia, porém negavam a autoridade do papa
e sua interpretação do cristianismo.
• As origens do movimento reformista remontam a uma crise de
espiritualidade vivida na Europa a partir do fim da Idade Média. O
desenvolvimento de um novo modo de vida, baseado na prática do
trabalho para satisfazer o mercado e de sua recompensa através do lucro,
era visto com desconfiança pela Igreja. O ideal de “preço justo”, a
condenação da usura e a desconfiança em relação à obtenção de lucros
contrariavam os interesses e as atividades dos mercadores e de muitos
habitantes das cidades.
Causas
• No período medieval era comum a venda de objetos e imagens religiosas
pela Igreja, por exemplo. Além disso, o crescimento exagerado do clero a
partir da adoção da doutrina tomista – que pedia um clero atuante junto
à vida cotidiana dos fiéis – resultou no mau preparo geral dos clérigos
seculares. Padres analfabetos ou que desconheciam o latim (língua em
que era lida a Bíblia), mistura de ritos católicos com práticas espirituais
populares, o desrespeito ao celibato clerical, tudo contribuía para uma
crescente desconfiança e até rejeição à Igreja.
• O principal objeto de crítica à Igreja no início do século XVI era a prática
da absolvição dos pecados por meio do dinheiro: diante de um
pagamento expressivo, membros do clero apressavam-se em redigir uma
carta de indulgência garantindo ao doador a vida eterna junto a Cristo no
Paraíso.
Religião luterana
• Martinho Lutero (1483-1546)
• Em 1517, , o alemão Martinho Lutero, padre da ordem agostiniana,
desencadeou o movimento reformista ao entrar em atrito com o papa
Leão X. Professor de Teologia na Universidade de Wittenberg, na
Alemanha (então parte do Sacro Império Romano-Germânico), Lutero
criticava a venda de indulgências e a doutrina de salvação pelas obras.
• Naquele ano, Lutero divulgou suas críticas afixando na porta da igreja
da cidade um documento intitulado 95 Teses, no qual, além de outras
críticas, responsabilizava diretamente o papa pelo que entendia como
desmoralização da Igreja.
• Em pouco tempo, suas teses se espalharam pela Alemanha e por todo
o resto do continente europeu.
Região Luterana
• Ao receber uma bula papal exigindo sua retratação, Lutero a
destruiu em público, colocando-se em choque direto com o papa.
• Diante da pressão católica, Lutero buscou apoio da nobreza local
e, em agosto de 1520, escreveu o discurso À nobreza cristã da
nação alemã, fazendo um apelo aos príncipes alemães para que
retirassem sua fidelidade ao papa e reformassem a Igreja na
Alemanha.
• Muitos deles responderam a seu apelo, pois a Reforma
proporcionava a oportunidade de confiscar as terras da Igreja,
abolir o pagamento de tributos e conseguir o apoio de seus
súditos, na medida em que se associavam a um movimento
religioso que se tornara popular.
Religião Luterana
• A doutrina luterana se fundamenta no princípio da salvação pela fé, segundo a
qual Deus é o único responsável pela salvação, perdoando os pecados de acordo
com sua vontade. Uma vez que essa vontade é incompreensível para os homens,
só resta aos indivíduos reconhecerem-se enquanto pecadores e aceitar seu
destino, praticando a fé e adotando os ensinamentos contidos na Bíblia.
• A partir de então, Lutero pregava a livre leitura do Evangelho, a ser realizada pelo
fiel em um texto redigido não mais em latim, mas na língua por ele falada, por isso
a importância da tradução da Bíblia.
• Na nova religião luterana, um culto simples, baseado na leitura da Bíblia e nas
canções, deveria ser conduzido pelos pastores, conhecedores dos textos sagrados
e não submetidos ao celibato clerical. Lutero também criticava a idolatria cristã,
isto é, o culto às imagens que, na sua concepção, afastava as pessoas da
• palavra de Deus. Ao negar a transubstanciação (transformação do pão e do vinho
em corpo e sangue de Cristo) e afirmar a consubstanciação (em que o pão e o
vinho permanecem como são, porém recebendo a presença divina), Lutero
questionou um importante dogma da Igreja.
Guerras de religião
• Lutero, porém, obteve acolhida junto aos nobres alemães.
• Em 1529, após a confirmação da sentença imperial, muitos príncipes
alemães protestaram contra o imperador, fazendo surgir o uso do termo
“protestante” para se referir aos luteranos. Para os nobres alemães, aceitar
as ideias de Lutero era uma forma de se livrar da autoridade do imperador
que, como vimos, buscava exercer seu poder em todas as partes do
território, nomeando bispos fiéis às suas ordens.
• Diversos atritos surgiram na Alemanha à medida que os primeiros
protestantes enfrentavam as forças unidas de papa e imperador. Em meio
aos confrontos, tornaram-se comuns cenas como o saque de igrejas, a
prisão de padres e a destruição de imagens religiosas (iconoclastia). Para
muitos, a violência contra poderes estabelecidos ganhava ares de uma
nova era que se iniciava, e logo o movimento ganhou um forte
componente social.
Guerras de religião
• Desde 1522, o teólogo Thomas Münzer afirmava a necessidade da criação de uma
comunidade cristã mais pura. Seguidor de Lutero, Münzer apoiava sua luta contra as
autoridades da Igreja, mas levou adiante sua pregação conclamando todos à luta
contra os senhores laicos, proprietários de terra.
• Multidões de camponeses adotaram suas ideias, notadamente no norte da Alemanha,
onde florescia o grupo reformista camponês dos anabatistas. Diante da revolta social,
Lutero manifestou-se contra os camponeses, consolidando sua aliança com a nobreza
alemã. As revoltas foram reprimidas em 1525.
• A fim de se defender de possíveis ataques das forças imperiais, em 1531 foi formada a
chamada Liga de Schmalkaden, que reuniu principados e cidades alemãs que
adotavam o protestantismo. A Liga conseguiu importantes vitórias contra as tropas do
império e, em 1555, o imperador Carlos V foi obrigado a aceitar o protestantismo,
assinando um acordo com os príncipes alemães, a Paz de Augsburg. O acordo fundava-
se no princípio cujus regio ejus religio (de quem é a região, dele é a religião), segundo
o qual cada região deveria seguir a religião de seu governante, autorizando a
autonomia religiosa dentro das diferentes localidades do Sacro Império.
Doutrina calvinista
• João Calvino (1509-1564)
• O teólogo francês João Calvino foi um dos principais incentivadores do
protestantismo na cidade suíça de Genebra, conferindo ao movimento
reformista um novo rumo.
• Convertido ao luteranismo, Calvino reafirmava a doutrina da salvação
pela fé, a livre leitura da Bíblia e a iconoclastia. Mas propunha algo
novo: colocava no centro de sua doutrina o conceito de predestinação
absoluta - diante da onisciência divina, a salvação ou a condenação
eterna seriam determinadas por Deus desde o nascimento.
• A virtude, identificada por Calvino a partir de certos trechos bíblicos,
encontrava-se na diligência (ou seja, na dedicação ao trabalho) e na
parcimônia (propensão de economizar, como forma de humildade).
Doutrina calvinista
• Desse modo, o calvinismo passou a se
expandir rapidamente por toda a Europa. Na
Holanda, na França (onde seus seguidores
foram chamados de huguenotes), na Escócia
(os presbiterianos) e na Inglaterra (os
puritanos). O calvinismo foi a grande
expressão da religiosidade burguesa a partir
da Idade Moderna.
A ética protestante e o espírito do
capitalismo
• Pode-se falar em uma ética protestante, ou seja, em uma atitude diante da vida que foi
assumida pelos indivíduos de religião protestante, sobretudo com o calvinismo.
• A dedicação integral ao trabalho e a rejeição aos prazeres da vida mundana, vistos como
vícios que afastavam o indivíduo do trabalho, eram características fundantes para essa ética
que surgia. Entre seus adeptos, a busca por uma vida simples e sem excessos resultou na
defesa da austeridade, com a economia e a valorização do trabalho ganhando cada vez mais
destaque.
• O dinheiro acumulado se transformava em investimento em novos negócios, e aqui se
encontra a própria essência, ou “espírito”, do nascente sistema econômico capitalista: o
trabalho visto como fonte de acumulação visando ao reinvestimento.
• Em 1905, o sociólogo alemão Max Weber, em sua obra mais conhecida, A ética protestante e
o espírito do capitalismo, afirmou que uma sociedade protestante teria maior propensão à
expansão econômica do que uma sociedade não protestante. O pensador fundava seu
pensamento na identificação dos países que foram, cada um em sua época, uma potência
econômica global: primeiramente a Holanda, mais tarde a Inglaterra e, já na
contemporaneidade, os Estados Unidos, todos eles países com predominância da religião
protestante e fortemente influenciados pela ética calvinista. Independente ou não da
correção das observações de Max Weber, chama atenção o teor de sua argumentação,
segundo a qual mudanças na mentalidade podem afetar decisivamente o desenvolvimento
econômico.
A reforma anglicana
• Henrique VIII (1491-1547)
• Em 1527, o rei Henrique VIII desejava se casar com Ana Bolena, mas, para isso, teria
de anular seu casamento com a espanhola Catarina de Aragão. A solicitação de
anulação, no entanto, nunca foi concedida pelo papa Clemente VII. Catarina era tia
do imperador Carlos V do Sacro Império Romano, com quem o papa pretendia unir
forças para combater o movimento luterano. Diante disso, Henrique VIII obrigou o
Parlamento a votar uma série de leis que submetiam a igreja inglesa a seu jugo.
• Em 1534, o rei inglês instituiu o Ato de Supremacia, por meio do qual criou a Igreja
anglicana, da qual era autoridade suprema. Isso tornou o rei da Inglaterra chefe do
clero, proprietário de todos os bens da Igreja e dos direitos devidos, como impostos
e contribuições. No plano da doutrina, a nova religião teve inicialmente um
conteúdo calvinista. Independente das motivações pessoais de Henrique VIII, a
criação do
• Ato de Supremacia resultou no amplo fortalecimento do poder real na Inglaterra, o
que traria importantes consequências políticas para o país.
A reação da Igreja católica
• Nesse contexto, a venda de indulgências foi abolida, padres despreparados ou corruptos
foram afastados, e instalaram-se escolas para a formação e o aperfeiçoamento de membros
do clero.
• Essa nova orientação foi estabelecida pelo Concílio de Trento, entre 1545 e 1563, que, entre
outras determinações, reafirmou os dogmas católicos: o latim como língua litúrgica oficial e
dos textos bíblicos, a infalibilidade do papa, o celibato clerical, a hierarquia do clero e a
transubstanciação.
• Ao mesmo tempo, a Igreja lançou as iniciativas da Contrarreforma a fim de combater as
novas religiões protestantes. Foi criado o Tribunal do Santo Ofício, órgão baseado em Roma
responsável por coordenar a atuação de tribunais eclesiásticos que atuavam, desde a Idade
Média, com o nome de Inquisição. Considerando o protestantismo uma heresia, o Santo
Ofício estabeleceu uma estreita ligação com os monarcas católicos, dedicando-se à
investigação e repressão do que fosse considerado um desvio da fé. Seus alvos, no entanto,
não se resumiam aos fiéis da doutrina protestante, mas também às “práticas judaizantes”. As
disputas religiosas contribuíram para acirrar a intolerância na Europa.
• O Index, ou Índice de Livros Proibidos, foi uma importante ferramenta da Igreja para
combater a divulgação de obras proibidas aos católicos. Na lista do Index se encontravam
obras da teologia protestante, mas também de cientistas, romancistas, poetas e filósofos. Um
exemplo foram as obras de Galileu Galilei, Erasmo de Roterdã e Nicolau Copérnico.
Companhia de Jesus
• Em 1534, a Companhia de Jesus foi fundada pelo padre espanhol
Ignácio de Loyola. O principal objetivo da ordem era combater o
protestantismo e expandir o catolicismo. Muito cuidado foi dado à
formação teológica dos jesuítas, e seus membros eram notadamente
intelectualizados e dedicados a atividades de ensino.
• No plano prático, os jesuítas (ou inacianos) dedicaram-se à expansão
da fé católica, atuando ao redor do mundo, principalmente nos
territórios coloniais, incluindo China, Índia e, sobretudo, o continente
americano.
• O desenvolvimento da colonização da América, em larga escala por
parte de Portugal e Espanha, significou uma intensa atuação dos
jesuítas no continente, dedicando-se à catequese dos indígenas e à
educação em geral.
Resultados
• A Reforma Protestante resultou em um profundo abalo na cristandade, dividida pela
segunda vez após o Cisma de 1054. O surgimento da religião protestante não apenas
dividiu como inaugurou uma nova forma de se relacionar com o cristianismo: a partir da
Reforma, qualquer pessoa poderia ler a Bíblia, interpretá-la de forma autônoma e, na
prática, ter a própria religião cristã. Em outras palavras, é da essência do protestantismo o
surgimento de muitas ramificações religiosas que propuseram novas leituras do Evangelho.
• A ênfase na leitura da Bíblia resultou em um forte estímulo à alfabetização nos países
protestantes.
• Enquanto isso, nos territórios submetidos à autoridade espiritual de Roma, a prática da
censura, através do Index, a repressão a novas formas de pensar, por meio da atuação dos
tribunais subordinados ao Santo Ofício, e o desestímulo à alfabetização tiveram um
impacto cultural bastante forte.
• No plano político, observa-se um distanciamento entre religião e política nos territórios
protestantes, com a notável exceção da Inglaterra anglicana e sua igreja encabeçada pelo
monarca. Nos países católicos, como Portugal e Espanha, os reis atuavam em conjunto com
a Igreja e o papa.

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