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Caminhos e Fronteiras

1 Col.
América colonial: caminhos
e fronteiras
• O mundo Atlântico: América inglesa
• A partir das Grandes Navegações surgiu a ideia de um “mundo atlântico” integrando Europa,
América e África.
• Pelo oceano Atlântico transitavam mercadorias, populações e culturas diversas.
• A América transformou-se em um espaço de assimilação e confronto entre negros africanos
escravizados, populações ameríndias e colonos europeus. Nesse contexto, a Inglaterra,
potência naval em ascensão, deu início a um processo de fixação de colônias no Novo Mundo
no século XVII.
• Na mesma época, houve significativa emigração no país, em grande parte provocada pelos
cercamentos, processo em que campos agrícolas foram substituídos por pastagens para a
criação de carneiros.
• Parte da população expulsa dos campos migrou para a América em busca de oportunidades.
• A própria Companhia de Londres, empresa que reunia acionistas burgueses para empreender
a colonização da Virgínia, registrou, em 1624, que tinha como objetivo “a remoção da
sobrecarga de pessoas necessitadas, material ou combustível para perigosas insurreições e
assim deixar ficar maior fartura para sustentar os que ficam no país” (KARNAL, Leandro. História dos Estados
Unidos: das origens ao século XXI. São Paulo: Contexto, 2007).
Colônias do sul
• Em 1607, foi fundada a colônia da Virgínia, marco da ocupação inglesa na América do Norte.
• O sucesso de sua exploração por uma companhia de comércio que monopolizava as atividades comerciais
deu início à implantação de um modelo em que a Coroa outorgava a particulares a incumbência da
colonização.
• O modelo exploratório implementado na Virgínia, inicialmente dedicado à produção de tabaco e,
posteriormente, algodão e arroz, foi utilizado em outros núcleos de produção agrícola que apresentavam
condições favoráveis às plantações, como no caso das colônias da Carolina do Norte e do Sul, Geórgia,
Delaware e Maryland.
• Nessas colônias, localizadas ao sul do território inglês, foram criadas grandes propriedades monocultoras de
exportação, onde pouco a pouco prevaleceu o uso da mão de obra escravizada negra de origem africana.
• Era o modelo conhecido como plantation, que caracterizava o território sul das Treze Colônias como uma
colônia de exploração.
• Em relação à população indígena que eventualmente foi escravizada, não ocorreu um projeto sistemático de
catequização, como nas colônias ibéricas. Para os povos indígenas da América do Norte restava o confronto
com os europeus ou, mais comumente, a fuga para o interior.
• Na esfera política, uma aristocracia de fazendeiros mantinha o controle através de assembleias locais.
• No plano cultural, muitos desses colonos trouxeram para a América alguns hábitos da nobreza europeia,
como a valorização do luxo e das festas, diferenciando-se dos valores puritanos daqueles que colonizaram as
regiões mais ao norte.
Colônias do norte
• Ao norte, nas regiões de Nova York, Pensilvânia, Connecticut, Massachusetts, Nova Jersey, Rhode Island e
New Hampshire, a ocupação foi realizada em boa parte por grupos que sofriam perseguições religiosas.
• Os puritanos (calvinistas ingleses), que chegaram inicialmente à região de Massachusetts em 1620 no
navio Mayflower, buscavam um lugar onde pudessem professar livremente sua fé e construir uma pátria
que respeitasse suas origens, daí o núcleo inicial ter sido nomeado de Nova Inglaterra.
• No contexto da teologia calvinista da predestinação, os puritanos acreditavam ser possível construir uma
comunidade baseada no trabalho e no temor e respeito à vontade de Deus.
• A liberdade religiosa que imperava na Pensilvânia atraiu europeus de diferentes crenças. Em 1681, uma
dissidência religiosa dos puritanos, conhecida como quakers, fundou esse estado. Inspirados na teologia
calvinista da predestinação, os puritanos acreditavam ser possível construir uma comunidade baseada no
trabalho e no temor e respeito à vontade de Deus.
• Para os quakers, os membros da comunidade deveriam tratar-se por “você”, sem nenhum título, e cada
indivíduo seria sacerdote de si mesmo. No final do século XVII, a Filadélfia, capital da Pensilvânia, era uma
das maiores e mais alfabetizadas cidades das colônias inglesas. Em meio a um rápido crescimento
demográfico, a preocupação com a educação nas colônias ganhou contornos importantes. Para os colonos
protestantes a defesa da livre interpretação da Bíblia alimentava o desejo de alfabetizar seus filhos, de
forma a garantir a leitura do texto sagrado. Nesse contexto, foram fundadas inúmeras escolas
comunitárias e universidades, das quais sete já existiam em meados do século XVIII, com destaque para
Harvard, fundada em 1636.
Colônias do norte
• O modelo de ocupação do norte caracterizou uma colônia de povoamento, pois, diferentemente
das colônias do sul, nessas regiões de clima temperado prevaleceram a pequena e média
propriedade e uma produção diversificada.
• Dedicados ao trabalho, os puritanos desenvolveram uma economia em que, além da agricultura
e da pecuária, destacavam-se a pesca, a produção de rum, o comércio e a construção naval.
• A mão de obra predominante não foi a de africanos escravizados, como ocorrera no sul.
• No norte prevalecia o trabalho dos imigrantes europeus, e muitos deles vieram para a América
na condição de servos temporários, posteriormente ganhando a liberdade.
• Em outros casos, a mão de obra era familiar.
• Apesar das diferenças entre norte e sul, deve-se evitar uma visão idílica das colônias do norte.
• Do ponto de vista dos indígenas, a terra foi brutalmente tomada pelos recém-chegados.
• Além disso, o clima de tolerância religiosa convivia com a intolerância ao que fosse considerado
um afastamento em relação a Deus, principalmente no que dizia respeito à tradição religiosa de
pessoas negras escravizadas.
• Ao longo do século XVII, tornaram-se frequentes as acusações de bruxaria, entre a população
branca e livre do norte, que criaram um clima de histeria coletiva e julgamentos sumários.
A relativa autonomia das Treze Colônias
• O rígido controle do pacto colonial, presente nas colônias ibéricas da América, não foi
utilizado nas colônias inglesas do continente.
• Mesmo nas colônias do sul, em que a presença do governo inglês era mais intensa, não
havia um modelo de fiscalização tão atuante como ocorria nas regiões sob o controle de
Portugal e Espanha.
• Além disso, as revoluções inglesas do século XVII, que geraram uma profunda crise no
governo da Inglaterra, fizeram o controle do Estado inglês diminuir sensivelmente.
• A ausência de um rígido controle mercantilista sobre as colônias, particularmente no
norte, favoreceu a autonomia política, com a criação de estruturas governamentais locais
e a intensificação das atividades comerciais com outras partes do mundo.
• Comerciantes do norte vendiam suas mercadorias para a Europa e ilhas do Caribe.
• Um exemplo foi o desenvolvimento de um comércio triangular no mundo atlântico:
comerciantes da Nova Inglaterra adquiriam melaço nas Antilhas, que era transformado
em rum; em seguida a bebida era utilizada para adquirir pessoas escravizadas no litoral da
África, que seriam posteriormente revendidas nas fazendas do Caribe ou nas colônias do
sul.
O mundo Atlântico: África e América
Ascensão do tráfico negreiro
• À medida que a escravidão de africanos foi se consolidando na América, o tráfico negreiro passou a ter importância
cada vez maior no oceano Atlântico. Na África, as principais áreas de embarque de cativos eram o golfo da Guiné (área
conhecida como Costa dos Escravos na África ocidental), o litoral do Congo e Angola mais ao sul. Do outro lado do
oceano, os pontos de chegada incluíam principalmente os litorais do Brasil, do Caribe e da parte sul da América inglesa.
• O monopólio português do comércio africano, estabelecido com a expansão marítima e os acordos com a Espanha,
mediados pelo papa no final do século XV, passou a ser questionado já no século seguinte. Ambicionando participar do
comércio Atlântico, o rei da França, Francisco I, questionou o Tratado de Tordesilhas, afirmando: “Gostaria de ver a
cláusula do testamento de Adão que me afastou da partilha do mundo”.
• A Reforma religiosa, que diminuiu a autoridade do papa, também teve efeito no estabelecimento da concorrência, uma
vez que holandeses e ingleses também passaram a frequentar o litoral da África em expedições mercantis.
• Todavia, o pioneirismo português fez com que o país sempre ocupasse grande espaço no tráfico negreiro.
• Foram os portugueses que criaram o sistema de feitorias e fortes: em vez de realizarem expedições de apresamento de
escravos na África, limitavam-se a estabelecer contatos com autoridades africanas por eles reconhecidas e realizar um
comércio bastante diversificado, no qual a compra de africanos escravizados para revenda na América tinha importante
papel.
• As autoridades ou potentados locais escolhidos pelos europeus para o estabelecimento de relações políticas e negócios
logo se fortaleceram. Dessa forma, consolidaram-se seus estados que, com o aumento do tráfico e a crescente
demanda por escravos, passaram a desencadear guerras interafricanas. Desde o século XVII, o reino do Congo já havia
se aproveitado da relação privilegiada com os portugueses – obtida através da adoção do cristianismo – para se
fortalecer diante dos vizinhos. Até o século XVIII, ligando-se intimamente ao comércio de cativos com os europeus,
fortaleceram-se os reinos de Daomé, Ashanti e Oyo-Benin, no golfo da Guiné.
Escravidão tradicional e tráfico
• Praticava-se a escravidão na África desde antes da chegada dos europeus e do tráfico para a América.
• Tratava-se de modalidades de escravidão integradas em uma estrutura social peculiar, caracterizada como
escravidão doméstica ou de linhagem, na qual o escravo se juntava ao grupo familiar de seu proprietário.
• Obter cativos era uma forma de aumentar o número de trabalhadores disponíveis na família, e um
exemplo dessa prática era a compra de mulheres escravizadas para tornarem-se esposas. Os filhos
nascidos dessas relações eram considerados livres e incorporados à família do proprietário de escravos.
• Longe de estar preso a uma condição imutável, o cativo podia reobter a liberdade, na medida em que se
integrava à estrutura da família e a seu modo de vida. A captura de escravos era considerada crime em
muitas culturas, e um indivíduo podia se tornar cativo como punição por eventuais crimes, dívidas ou
guerra entre grupos rivais.
• A chegada dos europeus e o estabelecimento do tráfico mudaram essa situação. Uma primeira diferença
em relação à escravidão praticada internamente na África foi o caráter maciço do tráfico.
• Estima-se que mais de 10 milhões de africanos foram transportados à força da África para a América.
• O uso da força, feito por reinos aliados dos europeus, resultava tanto em guerras visando à captura de
pessoas para escravização, quanto na imposição a comunidades mais fracas militarmente de tributos a
serem pagos em cativos.
Escravidão tradicional e tráfico
• Os grandes deslocamentos populacionais de grupos escravizados e forças
escravizadoras, tendo em uma das pontas o contato com europeus instalados em
feitorias e fortes no litoral, acabaram servindo de fonte de disseminação de doenças e
mesmo de fome, à medida que áreas agrícolas eram despovoadas à força.
• Vendidos e agrupados no litoral, grandes grupos de africanos aguardavam para ser
embarcados nos navios tumbeiros, para a trágica travessia do oceano.
• Uma forma encontrada pelos portugueses para diminuir os custos do tráfico negreiro
e aumentar o lucro geral da prática mercantil no Atlântico Sul foi o comércio triangular.
• Saindo do Brasil, os navios portugueses levavam carregamentos de aguardente e
tabaco produzidos na colônia para ser vendidos na África, tanto para soldados
portugueses em fortes e feitorias quanto para potentados africanos aliados,
fornecedores de escravos. Retornando ao Brasil com os cativos, os navios poderiam
embarcar o açúcar para a Europa e, de Portugal, rumar diretamente para a África,
levando armas, munições produtos metalúrgicos e tecidos para serem negociados,
fechando assim o circuito mercantil.
A diáspora africana
• Por meio das rotas oceânicas, os africanos chegaram à América e foram distribuídos pelas principais
áreas da economia colonial.
• Estava em andamento a diáspora africana, ou seja, a dispersão das populações do continente por
novos e desconhecidos territórios.
• Retirados do seu meio social e do convívio dos seus familiares, os escravizados passavam por um
processo de dessocialização e despersonalização. Muitas vezes, não tinham mais com quem falar sua
língua, e mesmo seu nome era substituído por um nome cristão de origem europeia. O massacre de
sua identidade era o primeiro passo no sentido de torná-lo obediente, e não eram poucos os
senhores de escravos que espancavam o indivíduo recém-adquirido para afirmar seu controle sobre o
corpo do cativo.
• O padre italiano frei Sorrento descreveu um porto de embarque na África, comparando os escravos
dos portugueses com os pertencentes a africanos:
• A despersonalização e a dessocialização a que estiveram submetidos os povos da diáspora africana,
em vez de criarem uma nulidade, acabaram sendo o ponto de partida para a construção de uma nova
identidade, e essa só poderia ser chamada de “africana”. O termo em si não tem sentido na África,
umavez que o continente não era homogêneo cultural ou politicamente. Essa “identidade africana”,
criada na América, tem sido constituída por meio da experiência de vida dos povos da diáspora, ou
seja, sua vivência social e construções culturais pós-escravidão nas colônias europeias.
Formação territorial do Brasil
As bandeiras
• A colonização portuguesa do Brasil, inicialmente, foi concentrada no litoral. A produção açucareira voltada para o
mercado externo influenciou os colonos a ocuparem, principalmente, a faixa litorânea do território. Contudo, em
algumas regiões surgiram atividades desenvolvidas no interior que expandiram a zona de ocupação territorial e
exploraram uma nova área: os sertões. Ao longo da expansão territorial colonial, o termo “sertão” foi utilizado
como sinônimo de “interior”. Em diversas regiões coloniais (como no norte, no centro-oeste e no sul), o avanço
aos sertões significou a conquista de regiões afastadas do litoral, até então de escassa ou inexistente presença de
colonizadores.
• Um pouco mais ao sul, a capitania de São Vicente foi ocupada inicialmente no litoral e, mais tarde, no interior, no
alto da serra do Mar. A fundação de São Paulo, em 1554, ocorreu 20 anos após a fundação da primeira vila, São
Vicente – um esforço dos jesuítas em levar a catequese a um número maior de indígenas.
• Desde a chegada do padre Manuel da Nóbrega ao Brasil, ele fora informado que havia grande quantidade de
povos no interior da colônia.
• A população de São Paulo cresceu em torno do povoado jesuíta e miscigenou-se com os indígenas, produzindo
alimento em roças para o consumo local. Inicialmente, era uma atividade de subsistência, mas no século XVII essa
produção passou a ser vendida para outras regiões. No entanto, a pobreza, o isolamento e a baixa circulação de
mercadorias eram traços característicos da vila até o século XVIII.
• O trigo, principal produto da vila, era cultivado nas margens dos vários rios que cortam a região. A mão de obra
utilizada pelos paulistas era escrava, formada por indígenas capturados no sertão. Os africanos escravizados eram
caros demais para a população paulista. Inicialmente, os indígenas que viviam nas proximidades da cidade eram
capturados e tornados escravos, mas com o tempo esses povos se afastaram, e logo os paulistas passaram a
organizar expedições para capturá-los, conhecidas como bandeiras.
Formação territorial do Brasil
As bandeiras
• Os bandeirantes eram mamelucos, ou seja, pessoas de ascendência europeia e indígena nascidas na colônia.
• Andavam descalços, com camisas de algodão e calças de tecidos grossos e resistentes. Carregavam armas de
fogo e facões nas mãos para abrir trilhas na mata, falando tupi e outras línguas indígenas, além de possuírem
amplo conhecimento dos caminhos que levavam ao interior do território.
• Alguns rios que nascem em São Paulo correm em direção ao interior e isso facilitou as monções – bandeiras
que se iniciavam com a utilização de canoas e navegavam através das correntezas. Os bandeirantes
aproveitavam a época de chuvas, quando o nível dos rios estava mais alto, para adentrar o território.
• As bandeiras de apresamento ou preação eram destinadas à busca de indígenas para vender como escravos,
inicialmente na própria região de São Paulo.
• Durante a União Ibérica, os prolongados conflitos com a Holanda levaram esse país a interferir no tráfico
negreiro, chegando a ocupar entrepostos e fortificações portuguesas no golfo da Guiné e na Costa dos Escravos
desde 1617.
• Em 1641, em meio à ocupação de Pernambuco, os holandeses tomaram Angola, na época principal local de
captura e embarque de escravos africanos para o Brasil, interrompendo o tráfico português.
• A nova situação gerou uma crise de mão de obra nas áreas açucareiras ainda sob domínio português,
principalmente na região do Recôncavo Baiano. Tais regiões encontravam-se em franca expansão, tentando
compensar a perda da importante produção pernambucana. Surgiu assim uma renovada demanda por mão de
obra, que só poderia ser solucionada com a ampliação da escravidão indígena. Uma vez que as áreas vizinhas
ao Recôncavo – e no nordeste do país em geral – já se encontravam despovoadas de escravos, os bandeirantes
e suas expedições de apresamento ganharam importância.
Formação territorial do Brasil
As bandeiras
• No entanto, nessa época, mesmo as áreas vizinhas a São Paulo já continham poucos
indígenas, obrigando os bandeirantes a avançar cada vez mais em direção ao interior. A
captura passou a envolver a realização de verdadeiras operações militares em grande
escala, nas quais os paulistas, longe de sua base, encontravam dificuldades. Nesse
contexto, surgiu a possibilidade de captura de indígenas “pacificados”, isto é, convertidos à
fé católica e concentrados em grandes números nos aldeamentos mantidos pelos jesuítas
no sul do continente. Nas palavras do historiador Capistrano de Abreu: “Por que aventurar-
se a terras desvairadas, entre gente boçal e rara, falando línguas travadas e
incompreensíveis, se perto demoravam aldeamentos numerosos, iniciados na arte da paz,
afeitos ao jugo da autoridade?”.
• A proximidade sugerida pelo autor refere-se ao acesso relativamente fácil a esses
aldeamentos, através de monções que seguiam o curso do rio Tietê até o Paraná, de lá
descendo até as reduções jesuítas da região.
• Desde o início do século XVII, indígenas que fugiam dos colonizadores espanhóis no vale
dos rios Paraguai e Prata, bem como dos bandeirantes de São Paulo, acabaram
encontrando refúgio junto às missões que os jesuítas organizavam nas regiões do Guairá,
Tape e Itatim (atuais estados do Rio Grande do Sul e Paraná).
Pecuária
• Os primeiros rebanhos de gado foram trazidos pelos colonizadores para o Brasil.
• Desde o início da ocupação do território, pequenas pastagens eram abertas ao lado
dos engenhos para alimentar rebanhos.
• Entretanto, tendo em vista o projeto de colonização por meio da economia açucareira,
era importante preservar o rico solo do litoral para o plantio da cana. Sendo assim, já
no final do século XVI, foi proibida a criação de gado na região e determinado seu
deslocamento em no mínimo 10 léguas para o interior.
• Pecuária no nordeste da colônia
• O crescimento da atividade pecuarista no nordeste do território brasileiro relacionou-
se com o avanço da atividade canavieira. A pecuária tornou-se atividade
complementar à produção açucareira, na medida em que o gado era utilizado como
meio de transporte (levando a cana da colheita para o engenho e o açúcar já
produzido para os portos de embarque) e força motriz (acionando a moenda que
extraía o caldo da cana, primeira etapa no processo de produção do açúcar). O uso do
couro e a alimentação também eram importantes derivados da atividade pecuarista.
Pecuária
• Com a proibição da atividade pecuarista no litoral, os criadores de gado buscaram áreas cada vez
mais distantes em direção ao sertão. As margens dos rios mais caudalosos do interior forneciam
água e pastagens para o gado durante o ano todo, favorecendo a penetração dos rebanhos nas
margens dos rios São Francisco e Parnaíba.
• Os indígenas que habitavam as regiões de pastagem foram expulsos. Vaqueiros armados, que
protegiam o rebanho de animais selvagens, marcavam o gado a ferro com as iniciais de seus donos.
• Uma vez identificado, o gado era conduzido para ser negociado nas vilas e feiras, como Feira de
Santana, no atual estado da Bahia. A carne produzida era salgada e seca para ser conservada, e o
couro, apesar de rústico e pouco trabalhado, era amplamente comercializado, chegando a ser
exportado para Portugal.
• Os vaqueiros não eram escravos: alguns eram trabalhadores assalariados, mas a maioria trabalhava
em troca de sustento, chegando a comercializar alguns subprodutos da pecuária, como chifres e
retalhos de couro. Além disso, o proprietário do rebanho também poderia ceder uma parte dos
bezerros nascidos como pagamento aos vaqueiros. Dessa forma, novos rebanhos foram surgindo,
com novos proprietários buscando outras áreas para criar seu gado. Nesse processo, chama a
atenção a passagem do vale do rio São Francisco para as áreas de pastagem das margens do rio
Parnaíba, que levou a ocupação do atual estado do Piauí pelo interior, e não pelo litoral, como foi
comum no resto do Brasil. Da mesma forma ocorreu a ocupação do interior do Ceará.
Pecuária do sul da colônia
• A pecuária no sul do território concentrou-se desde a capitania de São Vicente, nos
campos gerais do Paraná, até a campanha gaúcha e, posteriormente, com o avanço da
mineração, em direção ao sul de Minas Gerais, próximo à bacia do rio Grande.
• Os maiores rebanhos formaram-se na região da campanha gaúcha. Os bois
abandonados por jesuítas após os ataques nas missões multiplicaram-se aos milhares.
O gado, praticamente selvagem e vivendo livre na vegetação, era caçado a cavalo
pelos gaúchos, que se especializaram na produção de couro. A região ainda não
produzia sal suficiente para conservar a carne, que tinha de ser vendida e consumida
rapidamente nas vilas e missões jesuíticas da região. Os gaúchos que cuidavam dos
rebanhos eram mestiços ou indígenas, assalariados ou trabalhando em troca do
sustento. Entre as suas funções, também estava a condução dos rebanhos para serem
comercializados em feiras, como a feira de Viamão, no atual estado do Rio Grande do
Sul. Para demonstrar suas habilidades em controlar o gado com o laço, era comum a
organização de rodeios entre os vaqueiros. Tropeiros conduziam o gado vivo até São
Paulo, onde passavam um período para engorda, depois eram vendidos para
comerciantes da região das minas por intermédio da feira de Sorocaba.
Pecuária do sul da colônia
• No século XVIII, com o avanço da ocupação colonial no sul da colônia, a região
entre os rios Pelotas e São Gonçalo passou a se consolidar como região produtora
de sal e, com isso, permitiu que se desenvolvesse a produção de carne salgada,
também conhecida como charque. A sua produção exigia mão de obra escravizada,
que começava a ser comercializada na região nesse período.
• O numeroso rebanho gaúcho era transformado em charque e a consolidação do
Caminho do Sul, em 1730, ligando as regiões de São Paulo e Rio Grande do Sul,
favoreceu o comércio do produto para a região mineradora.
• A carne sulina era vendida a preços baixos, tornando difícil a concorrência, o que
levou ao declínio de outras regiões produtoras, como no nordeste do território, que
até então abastecia as minas através do rio São Francisco.
• Além de bovinos, o sul do Brasil também se notabilizou pela criação e venda de
cavalos e mulas para transporte e carneiros para a produção de lã. Minas Gerais
também teve rebanhos de carneiros e destacou-se pela criação de porcos para
produzir banha e carne.
Elite latifundiária e Gauchismo
• Apesar de a pecuária no sul ter seu início ligado à caça do gado livre, possibilitando
que pessoas sem muitas condições econômicas se dedicassem à atividade, com o
tempo e o aumento da lucratividade, começaram a surgir grandes propriedades de
terra distribuídas a membros da elite colonial. Essas propriedades, estabelecidas em
áreas de domínio português, depois conhecidas como estâncias, eram dominadas por
latifundiários que passaram a cercar e controlar o gado. Aos recém-chegados à região
sobravam as terras de fronteiras, normalmente atacadas por colonos espanhóis e por
indígenas, e os que ali se instalavam tinham de viver sob constante ameaça de guerra,
armados e buscando constantemente aliados para seus conflitos.
• A oligarquia latifundiária moldou ao longo do tempo uma imagem do “gaúcho
tradicional”, vestido com roupas elaboradas, lenços, botas altas e boinas; defensor de
um código moral calcado na valentia e disposto à guerra. São retratos que pouco
correspondem à realidade dos vaqueiros que viviam em suas montarias, normalmente
maltrapilhos, na lida do rebanho e sujeitos à pobreza. Assim como ocorreu com o
bandeirante, transformado em mito, houve a construção de um tipo gaúcho, cultivado
através do folclore regional.
Expansão territorial oficial
• A Coroa portuguesa participou ativamente do processo de expansão das
fronteiras coloniais, tanto no sul quanto no norte do território luso na
América.
• As iniciativas da metrópole tinham a intenção de explorar o território
para buscar minérios, mapear terras, controlar a navegação sobre rios e
muitas vezes eram motivadas por lendas difundidas na Europa, que
contavam sobre cidades ricas em ouro e povos fantásticos que
habitavam a floresta. Além disso, houve uma série de iniciativas no
sentido da construção de fortes para garantir a posse da terra.
• Tais como;
• Exploração e colonização da Amazônia
• Colonização da bacia Platina
• Ocupação do litoral norte
Tratados de divisão territorial
• Após o fim da União Ibérica, em 1640, os territórios espanhóis e portugueses na América deveriam ser novamente
divididos. Após 60 anos de união das duas Coroas ibéricas, o Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494, já estava totalmente
desconfigurado e, na prática, não era mais respeitado. As áreas coloniais de ambas as metrópoles tinham passado por
profundas transformações e novas regiões foram ocupadas.
• Iniciou-se uma ampla discussão diplomática e estratégica que durou mais de 150 anos.
• O ponto mais importante dessa discussão foi a assinatura do Tratado de Madri, em 1750. Os portugueses reivindicavam a
posse dos territórios que eram ocupados por seus colonos, usando como argumento o princípio do uti possidetis, ou seja,
de reconhecimento da posse para quem efetivamente usasse a terra.
• A aceitação do princípio pelos espanhóis – e, na prática, a aceitação de uma larga expansão do território português na
América – foi feita com uma única exceção: a Colônia de Sacramento, que era isolada das fronteiras do Brasil, deveria ser
desocupada.
• Portugal, por sua vez, exigiu como recompensa o direito de ocupar o território de Sete Povos das Missões.
• Organizado por jesuítas espanhóis no atual estado do Rio Grande do Sul, Sete Povos das Missões foi um conjunto de
grandes aldeamentos de indígenas catequizados, criado após a destruição das primeiras missões pelos bandeirantes. Em
1756, a fim de dar cabo às resoluções do Tratado de Madri, tropas portuguesas e espanholas realizaram uma grande
expedição militar à região a fim de reprimir quaisquer resistências dos Guarani que se recusassem a deixar a região.
• Esses conflitos ficaram conhecidos como Guerra Guaranítica, que findou em 1756, resultando no massacre de boa parte dos
indígenas resistentes.
• O contorno das fronteiras estabelecido pelo Tratado de Madri é muito semelhante ao formato do Brasil atual, contudo
ambas as partes desrespeitaram algumas das determinações e, em 1761, o Convênio del Pardo anulou o tratado.
• Outra tentativa de acordo foi feita em 1777, com o Tratado de Santo Ildefonso, que foi pouco favorável a Portugal, pois
parte dos Pampas gaúchos era perdida, embora já estivesse ocupada pela atividade pecuária. Os colonos não respeitaram
as determinações e, somente em 1801, com a assinatura do Tratado de Badajoz, as fronteiras do Tratado de Madri foram
retomadas e finalmente aceitas.

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