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TEMA: REFORMAS DO SÉCULOFICHA

XVI, LUTERO, MUNTZER.


TEMÁTICA
CHAUNU, PIERRE. O Tempo das Reformas. II (1250-1550), 1975.
● A Reforma é, no termo de um longo processo, uma mutação modificadora, umaa
explosão. Insistiu-se durante muito tempo e demasiado exclusivamente na
mutação. Faltava-mos estudar a continuidade que é superior à ruptura. No entanto,
aquilo que contribui para estabelecer a diferença entre a primeira vaga (após um
longo período preparatório dos séculos XIV e XV) da Reforma Protestante e a
Reforma Católica é a explosão modificadora, a invenção inicial. (p. 157)
● A Reforma protestante consiste essencialmente em três coisas: uma ruptura que
vai ao encontro de duas correntes autónomas, o humanismo e a soteriologia
luterana (p.157)
● A Reforma protestante é, portanto, a autoridade da Sagrada Escritura, a
justificação pela fé e a consciência de uma renovação; é, portanto, uma
modificação na percepção da adoração (CHAUNU, 1975, p. 158)
● O verdadeiro arranque demográfico (1515-1530) corresponde aqui e ali, a um
novo clima de vida, a uma esperança perante a vida, porque a morte recua, a
mesma morte que tanto conquistou depois de 1330 e 1348, e que continua a ser
poderosa no século XV (p.159)
● A primeira verificação é que a Reforma explode numa geração. O mapa que
podemos desenhar por volta de 1550-1560 é quase definitivo (p. 159)
● Ora, é incontestavel que uma observação do mapa é suficiente para se verificar que
a Reforma protestante é, na sua longa duração, um fenômeno do Norte (p. 161)
● A Reforma protestante faz com que a antiga cristandade perca tudo o que a
missionarização ganhou, após a queda do império romano, para além das suas
fronteiras (p.162)
● O fenômeno Reforma explode em primeiro lugar na periferia da cristandade
(p.163)
● A Reforma protestante situa-se no período do crescimento acelerado do início do
século XVI, a reforma católica apoia-se na segunda fase mais calma do século
XVI, logo num período de estagnação e vence no tempo severo de um século XVII
em regressão (p.163)
● A Reforma do Norte é luterana e multitudinista. (p. 170)
● [...] Lutero propõe sobretudo uma abordagem da salvação que impede que a
Reforma da Igreja seja uma questão para os clérigos, uma questão de elite para
elite. Por volta de 1520 a Reforma inicia-se em quase toda a parte,
simultaneamente, em todo espaço privilegiado [...] (p. 170)

A Europa dos Estados poderosos: a Inglaterra e a França


● A Reforma, neste sector geográfico e social, é em geral humanista e,
portanto, purificadora, reformadora, intelectualizante. (p. 172)
● Enquanto a Reforma luterana, nos paíse do Norte (a reforma saxônica), é
uma decisão tomada no cume para o conjunto do povo, uma decisão que
deve convencer e arrastar o corpo da Igreja, se quiser impor em situações
por vezes difíceis, a Reforma humanista é elitista e beneficia de um eco
social limitado, sendo por essência < aculturante > ( p. 172)
● A Reforma humanista elitista provoca aquilo que a Reforma luterana,
multitudinista por essência, evita, isto é, uma corrente em sentido
contrário, favorável à religião tradicional. Dá origem a uma estrutura
favorável a um tradicionalismo católico de recusa , antes mesmo do
aparecimento de uma verdadeira contra-Reforma católica. (p. 175)
● A Reforma humanista, muito mais que o modelo luterano, avança devido
às suas exigências purificadoras, seguindo a priori uma linha em
ziguezague, característica do movimento (p. 178)
● A partir da Confissão de Augsburgo (1530), as Igrejas dotam-se de
Confissões. As Confissões remetem umas para as outras e constituem o seu
próprio ponto de referência, formando uma continuidade (p.184)
● As histórias das Igrejas nascidas da Reforma desenvolvem-se segundo um
ritmo que apresentam grandes semelhanças. À partida, uma fase evangélica
acompanha a ruptura (p. 185)
● A saxônia, de 1521 a 1522, durante a estada desse Lutero em Wartburg, é
talvez o melhor modelo. A Reforma é essencialmente congregacionalista
na a fase evangélica [..] A comunidade escolhe os seus pastores, estabelece
a sua liturgia, a sua disciplina e acima dela existe apenas uma confederação
muito flexível de comunidades soberanas. Neste sentido, a Igreja é plural
(p. 187)
● A fase evangélica é sem dúvida a mais rica do tempo da Reforma, além de
ser também a fase da explosão (p. 187)
● A fase evangélica é uma fase crítica, de crítica construtiva, em que os
gestos, as liturgias, o ensino doutrinal, a enorme construção teórica, a
Sacra Doctrina tornada teologia, a construção jurídica do direito canônico,
são submetidas a assembléias que se sentem inspiradas como uma
primitiva Igreja, perante o olhar crítico de uma nova leitura da Sagrada
Escritura, palavra de Deus. Daí o florescimento dos primeiros anos da
Reforma. Com a necessidade de uma nova ordem ordem nas Igrejas da
ruptura, ou de uma ordem renovada nas Igrejas de relativa continuidade,
volta a surgir a necessidade de um corpo de doutrinas, tanto mais que a
salvação pela fé apela à denição dogmática do conteúdo da crença. É claro
que a fé não é a crença, da mesma forma que a salvação pela fé e as obras
não implicam necessariamente a contabilização das indulgências (p.187-
188)
● A primeira Confissão nascida da Reforma, texto colectivo que expressa a
fé de um conjunto de Igrejas é, talvez paradoxalmente, o símbolo de uma
seita, os anabaptistas que escapam à repressão da revolta dos camponeses
(p.192)
● No primeiro anabapbatismo alemão encontrammos o radicalismo de
Carlstadt, o misticismo >socialista< de Muntzer, numa Alemanha sacudida
pelo crescimento da população, a inversão da tendência das actividades e
dos preços, e por um conjunto de difíceis ajustamentos sociais. Herdeiro e
representante de movimentos ‘espirituais’ da Idade Média, o anabaptismo
tem muitos pontos comuns com o primeiro luteranismo (p.193)
● Distingue-se do luteranismo pela sua recusa do Estado, que Lutero
reverencia, e pela extrema relativização dos sacramentos. <O primeiro
anabatismo, o de Thomas Muntzer, ‘teólogo da Revolução, não é no
sentido etimológico, anabaptista, já que Thomas Muntzer e os seus
discípulos, apesar de criticaraem o baptismo das crianças, nunca praticam o
baptismo dos adultos>. Muntzer é um padre instruído, invadido pela
mística medieval, na qual deposita a esperança milenaristra. Ligado a
Lutero desde 1519, é pastor em Zwieken, na Saxônia, onde dirige um
grupo de iluminados nascidos dos restos do taborismo tcheco. A sua
mensagem separa radicalmente os eleitos dos condenados, numa
perspectiva sectária, e concentra-se < na divinização dos eleitos, de uma
forma que faz lembrar as especulações do espírito livre medieval, e na
proximidade do milênio[...] Pensa que as armas tornariam mais rápida a
vinda do reino de Deus>. Envolvido na revolta dos camponeses é feito
prisioneiro durante a debandada de Frankerhausen e condenado à morte
depois de ter reconhecido e confessado seus erros (p.193)
● [...] a Reforma é uma Reforma da Igreja, mais tarde torna -se a resposta a
uma angústia que é partilhada por toda a condição humana durante um
século, a Justitia passiva. (p. 209-210)

Justitia passiva: Justiça que Deus possui.

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