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12- HISTÓRIA DA TEOLOGIA

CENTRO BATISTA DE EDUCAÇÃO, SERVIÇO E PESQUISA.

INTRODUÇÃO
A história da teologia cristã é marcada por várias lutas. Algumas dessas lutas se deram no campo das palavras e muitas
outras de armas nas mãos. Estamos falando de um período de mais de dois mil anos, onde muitos homens deram suas
vidas em defesa de sua fé e de sua compreensão bíblica.

A teologia cristã foi dividida em períodos, os quais são:

• O período Patrístico, d.C. 100 - 451;

• A idade Média e o Renascimento, 1050 - c.1500;

• Os períodos das Reformas e da pós-Reforma, 1500 - c. 1750;

• O período Moderno e o pós-Moderno, 1750 - até os dias atuais.

A Disciplina para melhor aproveito pode ser dividida em três momentos importantes:

• História da Teologia Cristã I - O Período Patrístico: Os Pais Apostólicos até Agostinho

• História da Teologia Cristã II - Idade Média: De Agostinho a Lutero

• História da Teologia Cristã III - O Período Moderno: Desde a Reforma até o Presente

A história da teologia é de uma amplitude além do que podemos imaginar, não é possível deixar alguns grandes
cooperadores de fora dos acontecimentos, assim como não é possível elencar todos que de alguma maneira foram
participantes desse movimento tão importante. O último apóstolo de Jesus a morrer foi João “o amado”, que morreu
por volta de 90, embora a data exata seja incerta. João é o pivô da história da teologia cristã, porque sua morte marcou
um momento decisivo. Com a sua morte, o cristianismo entrou numa nova era, para a qual não estava inteiramente
preparado. Já não seria possível solucionar debates doutrinários, ou quaisquer que fossem, apelando para um apóstolo.

Enquanto os apóstolos viviam, não havia necessidade da teologia no mesmo sentido que depois de sua morte. A
teologia nasceu à medida que os herdeiros dos apóstolos começaram a refletir sobre os ensinamentos de Jesus e deles
a fim de explicá-los em novos contextos e situações, e de resolver controvérsias quanto à crença e conduta cristãs.

O que podemos afirmar é que a história da Teologia Cristã começa no século II, cerca de cem anos depois da morte e
ressurreição de Cristo, com o início da confusão entre os cristãos no Império Romano, tanto dentro quanto fora da
Igreja.

Os desafios internos principais eram semelhantes a cacofonia de vozes que muitos cristãos em nossos dias chamariam
de "seitas", ao passo que os desafios externos eram semelhantes as vozes que muitos hoje chamariam "céticos".

É dessas vozes desafiadoras que surgiu a necessidade e os primórdios da ortodoxia - uma declaração definitiva daquilo
que é teologicamente correto.

Esses desafios à mensagem apostólica e à autoridade dos sucessores nomeados pelos apóstolos tiveram tanto sucesso
em criar caos e confusões que se tornou imprescindível o desenvolvimento de uma reflexão teológica formal para
combatê-los.

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CAPÍTULO 1 - PAIS ECLESIÁSTICOS OU PAIS DA IGREJA

Os grandes perturbadores do cristianismo apostólico no Esse homem chamava-se Panteno (tido como detentor de
século II foram os gnósticos, Montano e os montanistas e um conhecimento "superior"), de quem Clemente se tor-
o orador anticristão Celso. nou aluno, assistente e que, mais tarde, veio a superar
aquele que foi conhecido como "abelha da Sicília".
Nesta primeira parte de nosso estudo vamos identificar
esses movimentos que trouxeram perturbações a Igreja Já no ano 200 Clemente teria ido além dos ensinamentos
de Cristo. do seu tutor.

Ideais de fé, conduta e salvação em Sendo padre, mas sem obrigações paroquiais (não era
muito afeito a celebrações), Clemente de Alexandria de-
Clemente de Alexandria
dica-se inteiramente ao ensino cristão – catequese.

Ao mesmo tempo em que fala, segue escrevendo; sempre


infatigável, sempre profundo, embora por vezes caótico e
difuso na sua linguagem.

Dono de um coração largo, espírito de uma cultura


enorme, inteligência do mais vasto alcance, que o seu en-
tusiasmo pela doutrina evangélica não impediria de se
abrir a tudo (nem mesmo à tão atacada cultura pagã, em
especial no que diz respeito à filo dos gregos).

Em muitas passagens de suas obras sentimo-nos deveras


comovidos: quando fala da virtude e da infância tão dedi-
cadamente, a questão do casamento, e quando se refere
a problemas que são sempre do maior interesse; como o
das responsabilidades do dinheiro e o da salvação dos ri-
cos (de grande dificuldade), dentre vários outros também
de suma importância para nosso conhecimento e para a
nossa religião como hoje a temos.

Figura- Fonte: http://pensamentocristao4.wixsite.com/2016/nomes-notaveis- Quando a perseguição aos cristãos, promovida pelo im-
na-fe-crista perador Sétimo Severo, fecha, por algum tempo, sua es-

Grego de uma família de libertos, nascido em torno do cola, refugia-se na Capadócia, junto de um de seus anti-

ano 180, no paganismo, Tito Flávio Clemente (mais conhe- gos alunos, onde continua seu fatigante trabalho.

cido por Clemente de Alexandria) encontra a doutrina Clemente morre em 216, após muito ter contribuído para
cristã na juventude e a ela se converte de maneira pro- o desenvolvimento – e mesmo para o surgimento – do
funda. que foi denominado "cristianismo primitivo" (é o início da

Durante anos seguidos, em incessantes viagens da Grécia doutrina cristã; da Igreja).

para a Síria e da Palestina para o Egito, este homem, que Na ótica de Clemente, a vida é um verdadeiro "combate
veio a ser um ícone da Igreja primitiva, procurou penetrar espiritual", ele frisa – prioriza – o lado ascético (práticas de
melhor na doutrina de Cristo, ouvindo atentamente a cris- devoção e penitência); isso no que diz respeito à transfor-
tãos e sábios – adquirindo e desenvolvendo conhecimen- mação que ocorre na vida das pessoas, que, seguindo o
tos. ideal cristão, tentam levar uma vida "santificada".

Dentre esses sábios houve um em especial que lhe cha- É um dos "pais da Igreja" (patrística), pois fundamentou as
mou a atenção, fazendo do alexandrino seu seguidor suas bases, seu início.
(pela convergência de ideias).

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"O que o Cristianismo condena é o abuso, é o excesso de Embora guarde certo receio frente aos perigos que a cul-
afeição que o homem tem aos bens da terra e que o tura mundana oferece, Clemente designa a filo como im-
obriga a desconhecer o seu verdadeiro sentido e o seu portante fonte para a aquisição de uma fé melhor funda-
valor limitado". mentada.

Clemente de Alexandria e muitos outros padres da Igreja A filo grega é vista aqui como um todo, e não haveria o
primitiva condenam com rigor o luxo, os vestuários de ri- conhecimento, platônico, o aristotélico e tudo mais; ape-
cos coloridos, "os sapatos bordados a ouro, sobre os quais nas a totalidade.
os pregos se enrolam em espiral", e a gulodice desmedida
Daí, podemos lançar a importância da unidade, também,
dos ricos, as gastronomias requintadas, e a "vã habilidade
para a religião.
dos pasteleiros".
Fé e razão encontram-se interdependentes, onde se a fé
O ensinamento da Igreja é que se deve usar o que Deus
não se apresenta como simples demonstração da razão,
legou, mas com moderação e gratidão: o alimento celes-
não pode se constituir, também, em algo que a negue;
tial (que é simples por natureza) seria o "único prazer fino
existe complementaridade.
e puro", pois nos levaria à salvação.
Deve-se buscar uma fé "sincera", através da Lei, da obe-
Por vezes, Clemente se referiu e reconheceu que na Igreja
diência e de uma vida reta em Cristo.
havia ricos e pobres – o que não justifica que o lucro e a
propriedade sejam condenados. Fazendo uso de sua pedagogia, o mestre alexandrino nos
passa que: "Uma educação sem castigos se equivoca".
As riquezas da terra são efêmeras, a única riqueza verda-
deira é a do céu, visto que essa jamais passará. Ao contrário do que se possam pensar, os castigos seriam
complementares da sabedoria, e tudo é feito por amor.
Temos aí a explicação para, no ideal de Clemente, a difi-
culdade que os ricos encontravam para entrar no reino A necessidade da defesa da doutrina cristã é muito pre-
dos céus. sente, pois as pessoas devem tomar cuidado com o que
escutam ou falam. Deve-se transmitir a luz a quem con-
Tido como "o mais instruído dos padres", Clemente tam-
vém.
bém atacou fortemente os basilidianos e demais hereges
que tentavam contra a Igreja, e que sempre buscaram dis- É por isso que, em "Stromata", o próprio autor reconhece
torcer os ensinamentos de Jesus. que o texto contém uma verdade dispersa (mutilada);
tudo como forma de defesa.
O mestre alexandrino utiliza muito a comparação entre
ensino / vida cristã e as atividades agrícolas, algo muito Clemente crê na autonomia do espírito humano, em con-
comum entre os estóicos. trapartida com o determinismo de alguns hereges (basíli-
des e sofistas, por exemplo).
Como nesta passagem sobre o casamento:
Vale destacar que mesmo atacando muito os sofistas e
"Assim, não está certo tornar-se escravo dos prazeres do
seu discurso, Clemente reconhece a importância da dialé-
amor e dedicar-se lascivamente à satisfação dos próprios
tica para o progresso do conhecimento racional (pro-
desejos; da mesma forma que é errado entregar-se à sa-
gresso da fé científica).
tisfação das paixões irracionais. Como o agricultor, ao ho-
mem casado é permitido semear sua semente quando a O pecado é apresentado como sendo uma doença da
estação permite”. alma, que deve ser curada através do correto seguimento
dos ideais cristãos.
Clemente não aceita o prazer sexual; o coito serviria ape-
nas para a reprodução. Dessa maneira, o homossexua- E seguindo uma tendência clementina, às vezes torna-se
lismo é, também, visto como uma anomalia, uma afronta necessário amputar um membro do corpo, para que o
à moral. "Comete-se adultério com a própria esposa todo permaneça saudável.
quando se mantém relações sexuais com ela como se Também a antiguidade do Cristianismo (a tradição) é uti-
fosse uma prostituta". lizada pelo padre de Alexandria, em Stromata, para ajudar
Muitos são os estudiosos que apresentam o cristianismo na defesa contra os infiéis.
do alexandrino como sendo uma filo.
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E Moisés é apresentado em muitas páginas, como sendo E ainda sobre a união fé/filo; associando-se à filo grega, o
mesmo o grande legislador do Senhor na terra – o que Cristianismo proposto por Clemente faria, agora, de ali-
evidencia o apego de Clemente ao Antigo Testamento. ado um antigo inimigo (representante fundamental da
cultura pagã).
RELIGIÃO E FILO
A defesa da religião frente aos ataques dos hereges e dos
Como legítimo representante dos primórdios do Cristia-
sofistas é também fundamental na obra do padre cristão.
nismo, Clemente de Alexandria prega muito a importância
A sofística, através do seu forte discurso, denigre o verda-
da religião e a necessidade de que o povo a compreenda,
deiro em função de algo falso (poder de persuasão); é
para que ele adquira boas e corretas palavras que vão
uma "má arte" no entender do alexandrino.
norteá-lo rumo à salvação perante Cristo.
Os sofistas seriam "lobos saqueadores con pieles de oveja,
Altamente influenciado pelos ideais neoplatônicos, o ale-
que esclavizam los hombres y suceden con elocuencia a
xandrino não vê, como outros padres do período, apenas
las almas".
aspectos maus na cultura pagã.
O padre alexandrino não admite que a doutrina sagrada
É bem o contrário, o conhecimento grego vai justamente
seja posta em comparação. Deve-se evitar as palavras
facilitar que as pessoas compreendam melhor os ensina-
desnecessárias.
mentos do Senhor.
Na sua tarefa de persuasão, a sofística impediria o desen-
Clemente chega a atribuir grande importância à filo, a tal
volvimento do conhecimento a partir das próprias pes-
ponto de compará-la à Bíblia, em termos da justificação
soas; elas seriam, assim, guiadas pelo discurso de outrem,
que era lançada sobre gregos e hebreus, respectiva-
onde não haveria espaço para a livre reflexão.
mente. Há a valorização da filo sobre as demais ciências.
Mesmo entendendo a necessidade de não deixar de lado
Para Clemente, havia "níveis" de fé, e as pessoas poderiam
a filo, é importante ressaltar que as palavras santas são
ser "fiéis simples" ou com um grau maior de elevação.
bastante superiores ao conhecimento dos gregos.
O grande objetivo do alexandrino era o de fazer surgir
Ou seja, a religião pode sobreviver sem a filo (que é um
uma ciência da religião, tendo a fé como critério racional
catalisador, uma facilitadora da religião), mas o contrário
de juízo, de onde surgiriam os gnósticos – "cristãos supe-
não pode ocorrer.
riores" – que associavam conhecimento racional às pala-
vras sagradas. A junção entre a tradição humana (filo) e a divina (fé) seria,
desse modo, de dupla utilidade – tanto para a religião
Clemente via a importância de que fosse significativo o
como para a filo.
número de fiéis gnósticos, mas sabia da dificuldade desse
acontecimento. Por fim, temos que a fé seria, também, um filtro para a
entrada das palavras sagradas. Seria um subsídio neces-
Em suma, o gnóstico seria "um cristão ideal, que alcançou
sário para a compreensão desses conhecimentos: "Se não
a ciência e vida espiritual perfeitas, na medida em que po-
credes, não compreendereis" .
dem ser alcançadas neste mundo"; apenas o gnóstico se-
ria capaz de comunicar a doutrina verdadeira sem dis- A VERDADE E A SALVAÇÃO EM CRISTO
torcê-la – exatamente pelo fato de conhecê-la de forma
Procurando fazer com que o grande público compreen-
mais profunda.
desse de melhor forma os ensinamentos cristãos, Cle-
A fé simples é aquela que crê apenas no que diz as Escri- mente utiliza uma metodologia bastante simples e repeti-
turas, sem nenhuma atividade de investigação. tiva, para que seus ouvintes o compreendessem – haja
vista que o padre alexandrino se dedicou especialmente à
A filo, ou qualquer outra forma de conhecimento, vem a
catequese.
ser útil para se ter uma fé mais segura, mais forte; para
que se possa distinguir com toda certeza o bem e o mal. Apesar de seus ensinamentos, o próprio mestre reconhe-
cia que a maioria das pessoas não estava apta ao conhe-
Através da filo, o espírito humano teria maior predisposi-
cimento da doutrina de Cristo.
ção para entender e conhecer melhor as coisas divinas.

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Aquele que procura passar conhecimento religioso a ou- É terrível o fim daqueles que fazem uso do prazer de
trem (geralmente um padre) deve agir de maneira seme- forma desordenada.
lhante a um agricultor, devendo cultivar com esmero em
Os ricos encontram muita dificuldade para entrar no reino
boa terra suas sementes (os fiéis.
dos céus, pelo fato de se ligarem muito aos bens materi-
A semente seria, também, símbolo da perseverança que ais; quando já se dizia nesse cristianismo que "Deus está
um verdadeiro fiel deve possuir; resistir a tudo, suportar além do material".
toda forma de agressão estando no estado latente, e ger-
O homem que deseja a salvação de sua alma não deve
minar quando boas condições forem encontradas.
viver na glória de suas posses ou do seu conhecimento;
A salvação da alma não é coisa fácil de alcançar; pois ela não se deve ter vaidade.
só é possível através de muito esforço e dedicação por
Por fim, a importância de se levar uma vida simples e a
obra daqueles que a buscam.
consequente dificuldade do ingresso dos ricos na salvação
O alexandrino fala em seus escritos da necessidade de se fica clara.
seguir os passos do Senhor, de se levar uma "vida santa",
UM GRANDE CENTRO CRISTÃO
reta em Cristo – é encontrada essa necessidade no Antigo
Testamento. A ESCOLA DE CLEMENTE.

E dizia Clemente ser necessário imitar o que for possível Num momento em que a literatura pagã vai sofrendo um
ao Senhor". E está na Bíblia: "O povo de Deus deve ter período de forte crise, surge a inteligência da Igreja, atra-
uma vida santa". vés, principalmente, dos escritos dos padres.

Aqueles que ensinam às pessoas devem facilitar a sua Os dois maiores centros de onde emanavam as ideias cris-
compreensão, nada mais que isso, pois os fiéis devem tãs no século III eram o Egito e a África.
aprender a superar suas dificuldades. E dentre os nomes de maior destaque está o de Clemente
Os detentores do conhecimento devem não os guardar de Alexandria.
apenas para si, mas torná-los disponíveis ao público; para A título de curiosidade, Alexandria era uma cidade imensa
que este possa realizar a progressão de sua fé. – das maiores do mundo no período – aglomeração em
Também aquele que ensina está aprendendo a cada pa- constante crescimento, cidade de muitas morais, várias re-
lavra que profere. A Sabedoria é personificada em Deus, ligiões.
logo, conhecendo-a melhor, as pessoas estariam se apro- A inteligência era ali muito estimada e dispunha de inu-
ximando mais de Jesus e da salvação. meráveis instrumentos de trabalho: Museu, Biblioteca, Zo-
Na pedagogia Clementina, o exercício leva à perfeição e ológico e tudo mais.
a prática é inimiga do erro. Aqueles que não praticam sua Ali se encontrava um clima excitante para o espírito, uma
fé perdem-se (eles se atrofiam espiritualmente e se tor- terra de eleição para todas as tentativas sincretistas, e para
nam mais aptos aos ataques dos pecadores). todas as heresias.
Ainda nesse ponto, a tradição oral é valorizada sobre a Por volta de 200, Alexandria era o centro do aprendizado
escrita – é mais segura, uma vez que os perigos da nossa cristão e gnóstico; o grande cérebro (o ponto de conver-
língua são os de permitir várias interpretações; o que é gência) do mundo ocidental – era onde tudo fluía muito
campo fértil para especulações. rapidamente.
Quando o assunto é a vida mundana (seu fascínio), Cle- O capitalismo há muito se instalara nesta cidade.
mente não é tão radical como outros padres da Igreja.
Como já foi dito, no século II a fama da cidade torna-se
Deve-se utilizar a cultura mundana – aquilo que a vida na ainda maior.
terra oferece – mas não se pode ficar preso demasiada-
Ao lado das escolas dos filósofos, fundara-se uma institui-
mente a ela; os atrativos do mundo devem ser usados
ção "análoga à de São Justino em Roma", uma didascália
apenas para o bem.
cristã.

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Essa escola era, ao mesmo tempo, uma universidade e um Tal gnosis ou conhecimento, implica reconhecer a verda-
cenáculo: muitas matérias, poucos alunos e também pou- deira origem celestial do espírito, sua natureza divina es-
cos mestres. sencial, como uma parte do próprio Deus.

Clemente foi o primeiro desses chefes da escola cristã.


Alexandria – situada no Egito – tornara-se, no século III, a
• Cristo era o mensageiro espiritual imaterial enviado por
então capital do Cristianismo e o mestre Clemente seu
esse Deus desconhecido que desejava resgatar as cente-
principal nome.
lhas dispersas de seu ser, agora aprisionadas em corpos
CLASSIFICANDO OS MOVIMENTOS DESSE PERÍODO materiais.

• 1 – O Gnosticismo • Todos os gnósticos acreditavam que Cristo não havia


encarnado, mas que simplesmente tinha a aparência de
• 2 – O Montanismo
um ser humano.
• 3 – Filósofo Celso
No século XX, diversos grupos e indivíduos que se procla-
1 – O GNOSTICISMO mam “cristãos da Nova Era” ressuscitaram a mensagem

O gnosticismo é um rótulo genérico aplicado a uma gnóstica do século II.

grande variedade de mestres e escolas cristãs que exis- George Trevelyan e Elizabeth Clare Prophet são dois no-
tiam às margens da igreja primitiva e que chegaram a se mes entre estes que propagam a Nova Era.
tornar um grande problema para os líderes cristãos no sé-
culo II.
2 – O MONTANISMO
O nome provém da palavra grega gnosis, que significa
“conhecimento” ou “sabedoria”. Seus partidários o chamavam Nova Revelação e Nova
Profecia e seus oponentes o chamavam montanismo, por
Certa tradição do século II descreve o embate entre o dis-
causa do nome do fundador e principal profeta: Montano.
cípulo João e um eminente mestre gnóstico de Éfeso por
volta de 90 a.C., seu nome era Cerinto.

Possivelmente este tenha sido um dos primeiros mestres


gnósticos e perturbadores do cristianismo do final do sé-
culo I.

Os gnósticos não tinha organização unificada e discorda-


vam entre si a respeito de muitos assuntos, mas todos
acreditavam possuir um conhecimento ou sabedoria es-
piritual superior à que possuíam e ensinavam os bispos e
outros líderes eclesiásticos do século II.
Figura-Fonte:https://blog.cancaonova.com/hpv/files/2012/05/monta-
Em resumo, acreditavam: nismo.jpg?file=2012/05/montanismo.jpg

• Ser a matéria, incluindo o corpo, uma prisão inerente- Montano foi um sacerdote pagão da região da Ásia Me-
mente limitante ou até mesmo um obstáculo maligno nor chamada Frigia que se converteu ao cristianismo em
para a boa alma ou espírito do ser humano. meados do século II.

• Quanto ao espírito acreditavam ser este essencialmente Montano rejeitava a crescente fé na autoridade especial
divino, uma “centelha de Deus” e que estava aprisio- dos bispos (como herdeiros dos apóstolos) e dos escritos
nado no túmulo que é o corpo. apostólicos.
• Para todos os gnósticos, a salvação significava alcançar Considerava as igrejas e seus líderes espiritualmente mor-
um tipo especial de conhecimento, que não era conhe- tos e reivindicava uma “nova profecia” com todos os
cido pelos cristãos comuns. sinais e milagres dos dias ideais da igreja primitiva no Pen-
tecostes.

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Para os bispos e líderes das igrejas o problema não era A dura resposta dos líderes eclesiásticos a Montano não
tanto a crítica feita por Montano à falta de vida espiritual foi tanto porque ele e suas companheiras proclamavam
e seus apelos em prol do reavivamento, mas sua auto- palavras da parte de Deus ou defendiam o ascetismo ri-
identificação como o “Porta-voz do Espírito Santo” e goroso (proibição do casamento e das relações sexuais,
acusava os líderes oficiais da igreja de prender o Espírito jejuns severos, etc.), mas sim porque rejeitavam os herdei-
Santo dentro de um livro, ao tentar limitar a inspiração ros dos apóstolos e reivindicavam inspiração e autoridade
divina aos escritos apostólicos. especiais para as próprias mensagens.

Duas mulheres, Priscila e Maximila, uniram-se a ele, e o Quando os seguidores de Montano começaram a fundar
trio passou a profetizar o breve retorno de Cristo à sua congregações separadas que rivalizavam com bispos de
comunidade e a condenar os bispos e líderes das princi- todas as partes do Império Romano, estes reagiram com
pais sés metropolitana (áreas dirigidas pelos bispos) como rapidez e severidade. Talvez até com severidade demais.
destituídas de vida, corruptos e até mesmo apóstatas.
Alguns diriam que se trata de um caso clássico de jogar o
Montano e as duas profetizas entravam em transe e fre- bebê fora junto com a água suja do banho.
nesi espirituais, falando na primeira pessoa como se Deus,
Alguns bispos se reuniram secretamente, pois não tinham
o Espírito Santo, falasse diretamente através deles.
o apoio do Império Romano (Estado da época), e exco-
Durante décadas a igreja mostrou-se extremamente des- mungaram a Montano e todos seus seguidores.
confiada quanto a profetas autoproclamados, temendo
Talvez esse tenha sido o primeiro cisma, ou divisão orga-
que talvez pretendessem substituir os apóstolos como au-
nizacional, real dentro do cristianismo.
toridades especiais suscitadas por Deus, à parte das estru-
turas da igreja. Desde o ano de 160, em muitas cidades do Império Ro-
mano havia duas congregações cristãs distintas: uma se-
As igrejas principais do Império Romano e seu bispos, a
guia a liderança de um bispo na sucessão apostólica e ou-
fim de preservar a união em uma estrutura visível e nos
tra seguia a Nova Profecia de Montano.
ensinos, decidiram adotar um conceito de “sucessão
apostólica” semelhante ao posteriormente criado. Sempre e onde quer que a profecia for elevada a uma
posição igual, ou superior, ás Escrituras, lá estará o mon-
tanismo em ação.
Mas, entre os cristãos da metade do século II, ainda havia
profetas carismáticos itinerantes e estacionários. E, por ve-
zes, podiam ser bem problemáticos, como revela um dos 3 – FILÓSOFO CELSO
escritos pós-apostólicos mais antigos, o Didaquê.

O gnosticismo e o montanismo constituíam duas ameaças


internas à igreja e à sua mensagem apostólica, ou seja, a
união e à integridade do cristianismo primitivo.

Um desafio externo de grande peso surgiu de escritores e


oradores judeus e pagãos, como: Fronto, Tácito, Luciano,
Porfírio e especialmente Celso.

O filósofo pagão Celso que, por volta de 175 ou 180, es-


creveu um livro contra a fé dos cristãos intitulado: A ver-
dadeira doutrina: um discurso contra os cristãos.

O conteúdo do livro foi preservado na integra pelo filó-


Figura- Fonte: http://m.downloadgospel.com.br/didaque/didaque/26156
sofo e teólogo Orígenes de Alexandria, que deu sua res-
Esse texto anônimo do começo do século II oferece con- posta em Contra Celso [Contra Celsum].
selhos conflitantes aos cristãos sobre como lidar com tais
No período em que aumentavam os boatos e as falsas
profetas aventureiros que falavam em nome de Deus.
acusações contra os cristãos e em que eram extensiva-

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mente perseguidos e considerados ignorantes e supersti- Os cristãos enfrentaram o desafio apresentado por Celso.
ciosos, senão até desleais, tanto pelos imperadores
quanto pelos plebeus, Celso fez uma crítica extremamente
brilhante e articulada contra a fé cristã. Suas respostas a oponentes pagãos como Celso, fanáticos
como Montano e hereges como os gnósticos deram ori-
Ele destacou os pontos que pareciam ser inconsistentes
gem à teologia cristã.
dentro da doutrina cristã, a partir de sua visão filosófica.
Mas por quê eles decidiram dar respostas a estes?
Uma coisa era os cristãos
refutar boatos obvia- Para preservar a integridade do evangelho e pelo bem do
mente falsos, como o de evangelismo, responderam teologicamente.
se envolver em rituais de A teologia nasceu para responder perguntas para satisfa-
sangue nos quais assavam zer as necessidades de mentes indagadoras tanto de den-
e comiam criancinhas. tro quanto de fora da igreja.
Outra coisa bem diferente
era responder racional e
ANOTAÇÕES
até filosoficamente a um
Figura- Fonte: https://it.wikipe- orador romano culto e ............................................................................................................
dia.org/wiki/Celso_(filosofo)
bem-articulado. ............................................................................................................
............................................................................................................
Mas era preciso responder pois, ao que parece, Celso ti-
............................................................................................................
nha a atenção do imperador.
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Marco Aurélio, imperador romano do final do século II, ............................................................................................................
era filósofo e opositor do cristianismo. ............................................................................................................
Refutar Celso era uma maneira de acalmar a ira do impe- ............................................................................................................
rador contra o cristianismo e refutar que o cristianismo era ............................................................................................................
um perigo para o império. ............................................................................................................
............................................................................................................
O ataque de Celso ao cristianismo é rico em informações
............................................................................................................
sobre a vida e a fé cristã do século II.
............................................................................................................
Por exemplo: Celso deixou absolutamente claro que os ............................................................................................................
cristãos de sua época criam em Jesus Cristo e adoravam ............................................................................................................
esse homem como um Deus. ............................................................................................................
............................................................................................................
Em resposta à adoração dos cristãos por Jesus, Celso es-
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creveu que “é impossível que Deus tenha descido à terra
............................................................................................................
pois, se o fizesse, teria de mudar sua natureza”.
............................................................................................................
Foi esse o desafio de Celso. Portanto, a principal “contri- ............................................................................................................
buição” de Celso ao cristianismo foi o desafio de pensar ............................................................................................................
cuidadosamente sobre duas declarações aparentemente ............................................................................................................
conflitantes e, de alguma forma, torná-las coerentes. ............................................................................................................

A razão do surgimento da teologia cristã ............................................................................................................


............................................................................................................
Os cristãos se viram diante um dilema: ou ignoravam
............................................................................................................
Celso e outros críticos semelhantes a ele e retraíam-se em
............................................................................................................
uma religião folclórica sem apresentar uma defesa lógica
............................................................................................................
ou enfrentavam o desafio e criavam doutrinas coerentes
............................................................................................................
que reconciliariam crenças aparentemente contraditórias
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como o monoteísmo e a divindade de Jesus Cristo.
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CAPÍTULO 2 - CLASSIFICANDO A ERA DOS PAIS DA IGREJA

OS PAIS DA IGREJA SÃO NORMALMENTE, CLASSIFICA- • Fragmentos de Papias, escritos em Hierápolis na Frigia,
DOS EM QUATRO GRUPOS: por volta de 150, citados nas obras de Eusébio e Irineu
(entre outros).
• A Didaquê (Os Ensinamentos dos Doze Apóstolos), es-
crita na primeira metade do século, provavelmente na Sí-
ria.

Os Pais Apostólicos são caracterizados pela edificação e


fortalecimento dos crentes na fé.

DATA: Primeiro Século (30 - 100).


OBJETIVO: Exortar e edificar a Igreja.
PREEMINENTES DO OCIDENTE: Clemente de Roma.
PREEMINENTES DO ORIENTE: Inácio, Policarpo, Epistola
de Barnabé, Fragmentos de Papias, O Pastor de Hermas
Figura-fonte: http://verdadedocristianismo.blogspot.com/2012/07/breve-
introducao-aos-pais-da-igreja.html e a Didaquê.

1.1 – A Ênfase nos Ensinos dos Pais Apostólicos


• 1 - Os Pais Apostólicos (0-120 d.C.).
• 2 - Os Apologistas (120-220 d.C.).
Embora os Pais Apostólicos tenham vivido em um período
• 3 - Os Polemistas (180-250 d.C.).
tão próximo dos apóstolos a diferença entre eles já eram
• 4 - Os Teólogos (325-460 d.C.).
grandes.
Comparados com o Novo Testamento, os Pais Apostóli-
1 - OS PAIS APOSTÓLICOS
cos se distinguem especialmente devido a ênfase no que
geralmente se denomina moralismo (melhor traduzido
Quando falamos nos Pais Apostólicos, geralmente nos re-
para nós como “legalismo”).
ferimos a alguns autores cristãos do fim do primeiro sé-
culo e do início do segundo, cujos escritos chegaram até
A proclamação da lei ocupa lugar de destaque nos escri-
nós.
tos dos Pais Apostólicos.
A maioria destes escritos foi escrito em forma de carta
Isto acontece em parte porque se dirigem a novas con-
(homilias), e os mesmos não tinham a finalidade de serem
gregações cujos membros recentemente abandonaram o
usados ou transformados em material de estudo doutri-
paganismo.
nário.

Fazia-se necessário substituir seus antigos hábitos com


Os mais importantes destes escritos são os seguintes:
praxe e costumes cristãos.

• A Primeira Epístola de Clemente, escrita em Roma, por


A vida cristã dizia-se consistir, acima de tudo, em obedi-
volta de 95• As Epístolas de Inácio; sete cartas a vários
ência a esta nova lei, pregada por Cristo.
destinatários, escritas por volta de 115 durante a viagem
de Inácio a Roma e para sua morte de mártir já prevista.
Graça era entendida com um dom que Deus outorga ao
• A Epístola de Policarpo, escrita e Esmirna, por volta de
homem, por intermédio de Cristo, concedendo a este po-
110.
der interno, associado com o Espírito Santo, pelo qual o
• A Segunda Epístola de Clemente, escrita em Roma ou
homem pode buscar a justiça e andar no caminho da
Corinto, por volta de 140.
nova obediência.
• O pastor de Hermas, escrito em Roma, por volta de 150.

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A graça conferia poder ao homem para obedecer a Cristo, Este assim chamado episcopado monárquico apareceu
desta forma alcançar a justiça e ser salvo. um primeiro lugar na Ásia Menor e é claramente salien-
tado nas epístolas de Inácio.
A salvação, embora ensinada como conquistada por Jesus
Cristo aos homens, ela era dada somente aqueles que Os bispos passaram a ter maior primazia, pois foram con-
conseguiam viver em justiça, isto é, que obedeciam fiel- siderados os verdadeiros portadores dos ensinos apostó-
mente a lei de Cristo. licos, seus sucessores diretos. Como resultado direto, co-
meçou a se desenvolver a partir deste pensamento uma
Em outras palavras, a obediência era uma exigência para ordem eclesiástica.
salvação.
A Escatologia dos Pais Apostólicos incluía a ideia que o
As Escrituras tanto do A.T. como os escritos dos apóstolos, fim dos tempos era iminente, e alguns deles (Papias, Bar-
já eram consideradas como Escrituras Sagradas e usadas nabé) também sustentavam a doutrina de um milênio ter-
para ensino. reno.

É bem verdade que o N.T. ainda vinha conquistando es- Barnabé aceitava a ideia judaica que o mundo existiria por
paço e se firmando neste período. 6.000 anos, prefigurados nos seis dias da criação. E, por
conseguinte, dizia-se, que seguiria o sétimo milênio, em
Muitas das cartas dos Pais Apostólicos chegaram a fazer que Cristo reinaria visivelmente na terra com a ajuda de
parte por um breve período no cânone do Novo Testa- seus fiéis (cf. Ap 20). Este daria lugar ao oitavo dia, a eter-
mento. nidade, que tinha seu protótipo no domingo.

A Doutrina de Deus era baseada praticamente na afirma- 1.2– Principais Nomes dos Chamados Pais Apostólicos
ção da existência de um único Deus poderoso e criador
de todas as coisas. CLEMENTE DE ROMA (30-100)

Embora usassem a fórmula trinitária no batismo, neste


tempo, ainda não tinham desenvolvido a doutrina de um
Deus Trino. Jesus Cristo era afirmado como Deus.

Inácio defendia a vida de Cristo como real na terra em


oposição àqueles que mantinham, que Jesus tão somente
parecia existir em forma humana, e apenas parecia ter so-
frido na cruz e que depois da ressurreição retornou a uma
existência espiritual incorpórea (posição defendida pelos
gnósticos judaico-cristãos – chamada de docetismo).
Figura –Fonte: http://ierardineto.blogspot.com/2014/11/clemente-de-roma-
papa-e-martir-seculo-i.html
As Igrejas que estavam sendo consolidadas naquela
época começaram a dar maior valor ao cargo dos Bispos. Clemente foi bispo de Roma na última década do século
I.
Segundo Inácio, o bispo era o símbolo da unidade cristã Várias hipóteses já foram levantadas sobre Clemente para
e o portador da tradição apostólica. As congregações identificá-lo.
eram admoestadas a serem fiéis aos seus bispos, que de- Para alguns, ele pertencia à família real. Para outros, ele
veriam mantê-las fiéis a sã doutrina. era colaborador do apóstolo Paulo.

Originalmente os anciãos e os bispos estavam no mesmo Outros ainda sugeriram que ele escreveu a carta aos He-
nível, mas a esta altura dos acontecimentos os bispos ocu- breus.
pavam posição superior aos dos presbíteros.

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Em verdade, as informações a respeito de Clemente de Segundo o Didaquê o caminho da vida é claramente o
Roma vão desde lendárias a testemunhas fidedignas. caminho do amor a Deus e ao próximo e da rigorosa ob-
servância às regras morais. O caminho da salvação nele
Alguns pais, como Orígenes, Eusébio de Cesaréia, Jerô- descrito ensina um estilo de vida de fidelidade e obediên-
nimo, Irineu de Lião, entre outros, aceitaram como verda- cia aos mandamentos de Deus e aos ministros cristãos.
deira a identificação de Clemente de Roma como colabo-
rador do apóstolo Paulo. O Didaquê, assim como outros pais apostólicos, coloca
diante dos cristãos mais uma moralidade rigorosa em uma
A principal obra de Clemente de Roma é uma carta redi- visão um tanto legalista do que um evangelho da liber-
gida em grego, endereçada aos crentes da cidade de Co- dade cristã sem a escravidão à lei.
rinto (1 Clemente), mais ou menos no final do reinado de
Domiciano (81-96) ou no começo do reino de Nerva (96- Incluídas no Didaquê, há instruções bastante pormenori-
98). zadas a respeito do batismo e da ceia do Senhor.
A epístola trata, principalmente, da ordem e da paz na O Didaquê descreve como um dos sinais de um falso pro-
Igreja. feta era que eles permaneciam no lugar por mais do que
dois ou três dias, pediam dinheiro e refeições “no espí-
Seu conteúdo traz à tona o fato de os crentes formarem rito”, o que provavelmente significava exigir comida em
um corpo em Cristo, logo deve reinar nesse corpo a uni- troca das profecias.
dade, e não a desordem, pois Deus deseja a ordem em
suas alianças. INÁCIO DE ANTIOQUIA (35-110 D.C)

Traz, ainda, a analogia da adoração ordeira do Antigo Is-


rael e do princípio apostólico de apontar uma continui-
dade de homens de boa reputação.

Esta carta, certamente, contribuiu para uma mudança sutil


e geral rumo ao moralismo cristão, no cristianismo do sé-
culo II, que associava o discipulado à total obediência aos
líderes devidamente nomeados e à prática de uma vida Figura-Fonte: https://www.gaudiumpress.org/content/63869-Santo-Inacio-de-
Antioquia--uma-historia-para-ser-lembrada
moralmente correta.
Mesmo sendo de Antioquia, seu nome, Ignacius, deriva-
Um aspecto interessante dessa epístola é o estranho apelo se do latim: igne: “fogo”, e natus: “nascido”.
de Clemente ao mito da fênix para reforçar a crença na
ressurreição. Conforme seu nome sugere, Inácio era um homem nas-
cido do fogo, ardente, apaixonado por Cristo.
O DIDAQUÊ
Segundo Eusébio, após a morte de Evódio, que teria sido
O Didaquê, também conhecido por O Ensino dos Doze o primeiro bispo de Antioquia, da Síria, Inácio fora nome-
Apóstolos. Nada se sabe a respeito do autor, mas acre- ado o segundo bispo dessa influente cidade.
dita-se que foi escrito no ano 101 d.C.
Alguns estudiosos o consideram o terceiro bispo de Anti-
Contudo alguns acreditam que foi escrito em uma data oquia da Siria pois contam o apóstolo Pedro como o pri-
anterior a essa. meiro bispo da mesma.

O Didaquê parece ter sido escrito com o intuito de refor- Inácio foi discípulo do apóstolo João, também conheceu
çar a moralidade cristã e instruir os cristãos a respeito de São Paulo e foi sucessor de São Pedro na igreja em Anti-
como tratar os profetas que os procurassem alegando fa- oquia fundada pelo próprio apóstolo.
lar em nome do Senhor.

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Santo Inácio foi detido pelas autoridades e transportado Inácio enfatizava veementemente a obediência cristã aos
para Roma, por ordem do imperador Trajano (98-117 d.C), bispos.
onde foi condenado à morte no Coliseu, e foi martirizado
por leões. Certamente o sentimento de Inácio a respeito dos bispos
é um salto quântico para além do que se pode achar nos
escritos dos próprios apóstolos e, decerto, surgiu de uma
necessidade iminente de manter a ordem em um cristia-
nismo cada vez mais diverso e desgovernado.

Inácio também condenou a cristologia doceta do gnosti-


cismo.
Afirmou muito enfaticamente a verdadeira divindade e
humanidade de Jesus Cristo como Deus aparecendo em
Figura- Fonte: https://communioscj.wordpress.com/2011/04/04/santo-ina- forma humana.
cio-de-antioquia-e-o-anseio-de-pela-uniao-a-cristo-por-fr-lucas-scj/

O bispo de Antioquia, Inácio, parece ter inventado um

As autoridades romanas esperavam fazer dele um exem- termo teologicamente rico para a ceia do Senhor: a euca-

plo e, assim, desencorajar o cristianismo, porém sua via- ristia ou cerimônia da comunhão.

gem a Roma ofereceu-lhe a oportunidade de conhecer e


ensinar os conceitos cristãos, e no seu percurso, Inácio es- Inácio claramente concebia a Eucaristia como sacramento,

creveu seis cartas para as igrejas da região e uma para um meio de graça que transforma a pessoa que dela parti-

colega bispo. cipa.

Ao falar sobre sua execução, Inácio disse a famosa expres- Ele não elaborou uma teologia a respeito, mas queria en-

são: "trigo de Cristo, moído nos dentes das feras". fatizar que, ao participar do pão e do vinho da refeição
do Senhor, a pessoa ganha uma participação na imortali-

E na iminência do martírio prometeu aos cristãos que dade divina que sobrepuja a maldição da morte trazida

mesmo depois da morte continuaria a orar por eles junto pelo pecado.

de Deus:
Inácio, assim como outros pais apostólicos, deixou um le-

“Meu espírito se sacrifica por vós, não somente agora, gado útil e perturbador com o qual o cristianismo teria de

mas também quando eu chegar a Deus. Eu ainda estou lidar.

exposto ao perigo, mas o Pai é fiel, em Jesus Cristo, para


atender minha oração e a vossa. Que sejais encontrados Para os cristãos que dão muito valor à hierarquia da lide-

nele sem reprovação. ” rança da igreja e têm um conceito altamente sacramental


da salvação – a graça que transforma pessoas mediante

Inácio escreveu algumas epístolas às comunidades cristãs os ritos sacramentais .

asiáticas: à igreja de Éfeso, às igrejas de Magnésia, situada


no Meander, à igreja de Trales, às igrejas de Filadélfia e Inácio é um herói e uma comprovação de que essa inter-

Esmirna e, por fim, à igreja de Roma. pretação da igreja e do evangelho é antiga e autêntica.

O objetivo da carta a Roma era solicitar que os irmãos não Inácio legou com autoridade uma cristologia da encarna-

impedissem seu martírio, o que aconteceria durante o rei- ção que afirmava Jesus Cristo como verdadeiramente

nado de Trajano (98-117). Deus e verdadeiramente humano e que, com isso, ajudou

Inácio tratou de todo tipo de questões em suas cartas e a preparar o caminho para a plena afirmação do dogma

talvez seja justo dizer que elas contêm a primeira teologia, da Trindade.

propriamente dita, do cristianismo.

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ANTIOQUIA O MARTÍRIO DE POLICARPO

Foi fundada por volta do ano 300 a.C., por Seleuco Nicá- O martírio de Policarpo é descrito um ano depois de sua
tor, com o nome de Antiokkeia, (cidade de Antíoco). morte, em uma carta enviada pela Igreja de Esmirna à
Igreja de Filomélio.
Tornou-se capital do império selêucida e grande centro
do Oriente helenístico. Esse registro é o mais antigo martirológio cristão existente.
Diz a história que o procônsul romano, Antonino Pius, e
Conquistada pelos romanos por volta do ano 64 a.C., con- as autoridades civis tentaram persuadi-lo a abandonar sua
servou seu estatuto de cidade livre e foi a terceira cidade fé, quando já avançado em idade, para que pudesse ser
do Império depois de Roma e Alexandria (no Egito), che- livre.
gando a abrigar 500 mil habitantes.
Ele, entretanto, respondeu com autoridade: “Eu tenho
Evangelizada pelos apóstolos Pedro, Paulo e Barnabé, tor- servido a Cristo por 86 anos e ele nunca me fez nada de
nou-se metrópole religiosa, sede de um patriarcado e mal. Como posso blasfemar contra meu Rei que me sal-
centro de numerosas controvérsias, entre elas, o aria- vou? Eu sou um crente! ”
nismo, o monofisismo, o nestorianismo.
Nota 1: Os pais apostólicos forneceram uma ponte entre
Era considerada a igreja-mãe do Oriente. os apóstolos e o cristianismo católico ortodoxo e ajuda-
ram a preservar e a estabelecer uma igreja relativamente
POLICARPO (69-159) unificada e teologicamente sadia.

Sobre sua infância, família e formação, não temos infor- Por outro lado, em menor ou maior grau, falharam em
mações precisas, contudo há documentos históricos sobre transmitir em suas tradições o evangelho puro da salvação
ele. como uma dádiva que não vem das obras, mas unica-
Graças a alguns testemunhos fidedignos, podemos re- mente da graça.
construir sua personalidade.
2 – OS APOLOGISTAS
Foi discípulo do apóstolo João, amigo e mestre de Irineu,
tendo ainda conhecido Inácio, sendo consagrado bispo Os Apologistas são caracterizados pela sua defesa aos
da igreja de Esmirna. ataques contra o Cristianismo proferidos pelos gregos
(gnosticismo) e os judeus cristãos (o cristianismo judaico
Quanto aos seus escritos, o único que restou desse antigo herético – era conhecido como ebionismo). Por causa
pai da igreja foi a sua epístola aos filipenses, exortando- dessa defesa receberam o nome de “apologistas”.
os a uma vida virtuosa de boas obras e a permanecerem
firmes na fé em nosso Senhor Jesus Cristo. O mais notável destes apologistas foi Justino, cognomi-
nado “o mártir”.
Seu estilo é informal, com muitas citações do Velho e do
Novo Testamentos. Os apologistas ocupam lugar de destaque na história do
dogma, não só devido a sua descrição do cristianismo
Faz, ainda, 34 citações do apóstolo Paulo, evidenciando como a verdadeira filosofia como também por sua tenta-
que conhecia bem a carta desse apóstolo aos filipenses, tiva de elucidar ensinamentos teológicos com o auxílio de
entre outras epístolas de Paulo. Há, também, os depoi- terminologia filosófica contemporânea (por exemplo: na
mentos de Eusébio e Irineu, relatando a intimidade de Po- assim chamada “cristologia do Logos”).
licarpo com testemunhas oculares do evangelho.
O que neles encontramos, por conseguinte, é a primeira
Segundo Tertuliano, Policarpo teria sido ordenado bispo tentativa de definir, de maneira lógica, o conteúdo da fé
pelas mãos do próprio apóstolo João.

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cristã, bem como a primeira conexão entre teologia e ci- Obs2. Uma fenda que divide toda a teologia cristã desde
ência, entre cristianismo e filosofia grega. o início é a que existe entre os pensadores cristãos que
querem enfrentar seus críticos no próprio terreno deles e
DATA: Segundo Século (120 - 220). debater a fé de forma coerente e mesmo filosófica e os
OBJETIVO: Defender o Cristianismo. que consideram esse esforço uma acomodação perigosa
PREEMINENTES DO OCIDENTE: Tertuliano. aos inimigos da fé. (A questão é: devemos falar a mesma
PREEMINENTES DO ORIENTE: Justino – o Mártir, Taciano, linguagem “mundana” para alcançarmos os ímpios?).
Teófilo, Aristides e Atenágoras.
2.1 – Contexto Histórico
As escolas de Alexandria e Roma, os dois centros culturais
mais importantes do Império Romano, foram as que mais O império estava eivado de religiões de mistério – cultos
defenderam o uso de uma abordagem filosófica na defesa de iniciação cheios de mitos elaborados sobre deuses que
da fé cristã. morriam e renasciam, e caminhos para a imortalidade me-
diante cerimônias secretas de iniciação que envolviam coi-
Possivelmente porque estas duas escolas foram as que sas do tipo batismos com sangue de um touro abatido.
mais sofreram influência de Filo, um judeu estudioso.
Havia, ainda, filosofias sobrenaturais de vários mágicos
como Apolônio de Tiana e Pitágoras, cujos seguidores se
reuniam secretamente para pôr em prática seus poderes
paranormais e estudar os significados esotéricos dos nú-
meros e corpos celestes. Existiam, também, diversas ceri-
mônias e mitos de templos sobre panteões gregos e ro-
manos de deuses e deusas do Olimpo como Zeus, Apolo
e Diana.

Os apologistas cristãos do século II decidiram, então, de-


fender a veracidade do cristianismo com base nas filoso-
fias do platonismo e do estoicismo, ou numa mistura das
duas, que eram normalmente aceitas como superiores às
mencionadas.

2.2 – Características da Filosofia Grega


Figura- Fonte: http://imf-akm.blogspot.com/2015/07/a-teologia-alegorica-da-
escola.html
A filosofia grega rejeitava o politeísmo das religiões popu-
Filo por exemplo, ensinou que a filosofia de Platão e os
lares. Afirmavam a existência de apenas uma divindade.
ensinamentos de Moisés baseavam-se na revelação divina
Rejeitava também os mitos e cerimônias de iniciação das
e que, no âmago, eram semelhantes ou idênticos.
religiões de mistério.

Para fazer esse sistema funcionar, foi levado a interpretar


Afirmava a imortalidade da alma e a importância de se ter
de modo alegórico as Escrituras hebraicas.
uma vida virtuosa.

Com esse método, conseguiu combinar os pensamentos


Os seguidores do estoicismo costumavam identificar o di-
grego e hebraico a respeito de Deus da criação e da hu-
vino com a natureza e com a ordem natural das coisas.
manidade.
Deus é a fonte última de todas as coisas, embora não te-
nha criado o universo “do nada” (ex nihilo), Ele é a fonte
Obs1. Os apologistas refutaram as objeções do mundo
de tudo.
pagão e apresentaram o cristianismo como a verdadeira
filosofia.
2.3 – Principais Nomes dos Chamados Apologistas

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ATENÁGORAS DE ATENAS (SÉCULO I) Sem dúvida alguma, Justino Mártir merece reputação de
“o apologista mais importante do século II” por causa
Assim como Justino, Atenágoras, o ateniense, era tanto das ideias criativa respeito de Cristo como Logos cósmico
filósofo como cristão. Entre outros documentos escreveu e de o cristianismo ser a filosofia verdadeira.
Petição a Favor dos Cristãos em forma de carta aberta ao
imperador Marco Aurélio quando este estava para visitar Nota 2: Não fossem os apologistas e a sua obra, o cristia-
Atenas. nismo poderia facilmente ter sido reduzido a uma religião
esotérica de mistério ou, talvez, a uma mera religião fol-
Teófilo de Antioquia (aproximadamente 115-180) clórica sem qualquer influência na esfera pública mais am-
pla da cultura.
Teófilo de Antioquia escreveu três livros A Autólico por
volta de 180. Pouco se sabe a respeito de Teófilo além de Os apologistas levaram a mensagem cristã a público e de-
que foi bispo dos cristãos em Antioquia. fenderam-na, com vigor e rigor, dos mal-entendidos e
das falsas acusações.
Autólico foi um amigo pagão de Teófilo e este escreveu
três livros a fim de responder aos comentários depreciati- Com isso, colocaram a teologia cristã além das pequenas
vos que o amigo fizera em relação ao cristianismo. e simples reflexões dos pais apostólicos, em um novo
plano de pensamento formal e racional a respeito das im-
Justino, o mártir (100-170) plicações da mensagem apostólica para a crença cristã de
Deus, de Cristo, da salvação e de outras crenças impor-
Flávio Justino Mártir nasceu em Siquém, na Palestina, no tantes.
início do segundo século e morreu mártir no ano 170.
Nota 3: Muitos críticos acusam os apologistas de criarem,
Depois de peregrinar pelas mais diversas escolas filosófi- inconscientemente, uma mistura do pensamento hebraico
cas (peripatética, estóica e pitagórica) em busca da ver- e cristão a respeito de Deus com as ideias gregas, especi-
dade para a solução do problema da vida, abandonou o almente platônicas, de deidade.
platonismo, último estágio de sua peregrinação filosófica.
GNOSTICISMO - Este era resultado da mistura da religião
O amor à verdade fez que ele rejeitasse, pouco a pouco, helenística com o cristianismo. Os elementos mais mar-
os sistemas filosóficos pagãos e se convertesse ao cristia- cantes neste sistema eram certas especulações místicas e
nismo. Em sua época, foi o mais ilustre defensor das ver- cosmológicas, além do dualismo entre o mundo do espí-
dades cristãs contra os preconceitos pagãos. rito e o mundo material.

Embora leigo, é considerado o primeiro “pai apolo- Sua doutrina da salvação salientava o livramento do espí-
gista” da Igreja, logo depois dos primitivos “pais apos- rito de sua servidão na esfera material.
tólicos”, pois dedicou sua vida à difusão e ao ensino do
cristianismo. Esta religião tinha seus próprios mistérios e cerimônias sa-
cramentais, além de uma ética que preconizava ou o as-
Em Roma, abriu uma escola para o ensino da doutrina cetismo ou a libertinagem.
cristã e, ainda nessa cidade, dedicou-se ao apostolado,
especialmente nos meios cultos, onde se movimentava Ebionitas - Estes sustentavam a validade da lei de Moisés;
com desembaraço. uma fração julgava que isto só se aplicava a eles, mas ou-
tra fração, mais militante, insistia que os cristãos de origem
Escreveu muitas obras, mas somente três chegaram até pagã também eram obrigados a cumprir a lei de Moisés.
nós: duas apologias contra os pagãos e um diálogo com Outra ideia básica associada aos ebionitas era que espe-
o judeu Trifão ou Trifo. ravam o estabelecimento de um reino messiânico em Je-
rusalém. Isto reflete sua identificação de judaísmo e cristi-
Foi açoitado e, depois, decapitado. anismo (Benget Hängglund).

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O estoicismo é uma doutrina filosófica fundada por Zenão Irineu (130-202)
de Cíito, que afirma que todo o universo é corpóreo e Nascido no ano 130, em Esmirna, na Ásia Menor (Turquia),
governado por um Logos divino (noção que os estoicos e filho de uma família cristã, Irineu era grego e foi influen-
tomam de Heráclito e desenvolvem). A alma está identifi- ciado pela pregação de Policarpo, bispo daquela cidade.
cada com este princípio divino, como parte de um todo
ao qual pertence.

Este logos (ou razão universal) ordena todas as coisas:


tudo surge a partir dele e de acordo com ele, graças a ele
o mundo é um kosmos (termo que em grego significa
"harmonia").

3 – OS POLEMISTAS

Os Polemistas são caracterizados, pela defesa contra he-


resias dentro da Igreja.
DATA: Terceiro Século (180 - 250).

OBJETIVO: Lutar contra as falsas doutrinas.


Figura-Fonte: https://santo.cancaonova.com/santo/santo-irineu-grande-bispo-
e-martir/
PREEMINENTES DO OCIDENTE: Irineu, Tertuliano e Cipri-
ano. Anos depois, Irineu mudou-se para Gália (atual sul da
França), para a cidade de Lyon, onde foi presbítero ou
PREEMINENTES DO ORIENTE: Panteno, Clemente, Oríge- bispo no lugar do bispo que havia sido martirizado em
nes e Hipólito. 177.

Obs1. Irineu, Tertuliano e Hipólito eram conhecidos tam- Além da pregação de Policarpo, Irineu recebeu influência
bém como os pais antignósticos devido ao conflito com o de Justino, cujo ministério foi um elo entre a teologia
gnosticismo. grega e a latina, atuando, no início, junto com um de seus
contemporâneos, Tertuliano.
Para estes teólogos da igreja primitiva, a crença na criação
divina ocupou lugar central de modo mais destacado que Enquanto Justino era primariamente um apologista, Irineu
na tradição ocidental posterior, onde a doutrina da salva- contribuiu na refutação contra as heresias e na exposição
ção foi frequentemente enfatizada às custas de outras fa- do cristianismo apostólico.
cetas do cristianismo.
Sua maior obra foi desenvolvida no campo da literatura
Foi o idealismo gnóstico, com seu repúdio da criação, que polêmica contra o gnosticismo.
levou os Pais Eclesiásticos a tratar tão pormenorizada-
mente da doutrina de Deus e da criação, bem como o OBRAS:
problema do homem, a encarnação e a ressurreição do - Adversus Haereses (refutação ao gnosticismo)
corpo.
- Epideixis (apresenta as doutrinas básicas da proclama-
Obs2.: Os pais antignósticos desenvolveram, com base na ção apostólica)
Escritura e na tradição, uma teologia destinada a proteger
a ortodoxia das especulações do gnosticismo e da filosofia Irineu é denominado o pai da dogmática católica. Há algo
grega. de verdade nesta expressão, visto ter sido ele o primeiro
a procurar apresentar um sumário de toda a Escritura. Iri-
3.1 – Principais Nomes dos Chamados Polemistas neu rejeitou o conceito de cristianismo mantido pelos

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apologistas, a saber, que ele (o cristianismo) é a verda- os pais da igreja reagiam tão fortemente. Qualquer ame-
deira filosofia [...] não concordava que o conteúdo da re- aça à encarnação, por menor que fosse, era vista como
velação era simplesmente uma nova e mais perfeita filo- uma ameaça a salvação.
sofia. Para ele, a Bíblia era a única fonte de fé.
Se Jesus não fosse verdadeiramente humano bem como
Ao desmascarar os gnósticos, Irineu também desenvolveu verdadeiramente divino, a salvação seria incompleta e im-
uma interpretação cristã da redenção que influenciou possível.
profundamente o curso e a direção de toda a teologia
cristã, especialmente nas regiões orientais da igreja cristã A redenção, na sua inteireza, repousa na realidade do
onde o grego era o idioma principal. nascimento de Cristo em carne e osso, de sua vida, seu
sofrimento e sua ressurreição, além do seu eterno pode e
Irineu morreu em Lião durante um massacre de cristãos divindade.
em 202.
Estritamente falando, a raça humana inteira “nasce de
Com certeza, Irineu é personagem crucial na história da novo” na encarnação de Jesus Cristo. Ela recebe uma
teologia cristã porque foi um agente que contribuiu para nova “cabeça”, uma nova fonte, origem ou base de
a derrota do gnosticismo e porque foi o primeiro pensa- existência, que não é caída, mas pura e saudável, vitoriosa
dor cristão que elaborou teorias compreensivas do pe- e imortal.
cado original e da redenção.
Irineu acreditava na solidariedade da humanidade tanto
A TEORIA DE IRINEU SOBRE A REDENÇÃO no pecado como na redenção.

Os teólogos históricos rotularam a contribuição de Irineu Sem a encarnação, Cristo não poderia ter invertido a
de “teoria da recapitulação”. queda de Adão, e a redenção não seria levada a efeito.

Irineu expôs o que acreditava ser o ensino apostólico cris- O pecado e a morte continuariam sendo, para sempre,
tão a respeito da obra de Cristo na redenção de prover características básicas da condição humana.
uma nova “cabeça” para a humanidade, a recapitula-
ção. Para Irineu, Jesus Cristo proveu a redenção passando pelo
escopo inteiro da vida humana e, em cada conjuntura, in-
Irineu procurou demonstrar que o evangelho da salvação vertendo a desobediência de Adão.
ensinado pelos apóstolos e transmitido por eles centrali-
zava-se na encarnação, a existência humana do Verbo, o O que participa voluntariamente da nova humanidade de
Filho de Deus, em carne e osso. Por isso, enfatizava todos Cristo escolhendo ele, e não ao primeiro Adão, como sua
os aspectos da vida de Jesus como necessários para a sal- “cabeça”, pelo arrependimento, pela fé e pelos sacra-
vação. mentos, recebe a transformação que se tornou possível
pela encarnação do Filho de Deus.
A obra de Cristo em nosso favor foi muito além de seus
ensinamentos e estendeu-se à própria encarnação. Para Para Irineu, portanto, a redenção foi uma restauração da
Irineu a própria encarnação é redentora e não meramente criação, e não uma evasão da criação, como na soteriolo-
um passo necessário em direção aos ensinos de Cristo ou gia dos gnósticos.
ao evento da cruz.
Irineu claramente concebia a salvação como a transfor-
Essa ideia ficou conhecida como a encarnação salvífica e mação dos seres humanos em participantes da natureza
foi crucial para o curso de toda a teologia depois de Irineu. divina (2 Pe 1.4).

É por isso que, sempre que surgia uma teologia que de Obs.5: No fim do século II e início do século III (200/201),
alguma forma ameaçava a encarnação de Deus em Jesus, o gnosticismo e o montanismo começaram a perder sua

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importância e influência. Estavam surgindo novas heresias cristianismo a uma filosofia grega genérica revestida do
que seriam enfrentadas por Tertuliano, Cipriano e outros evangelho para torná-lo mais agradável e aceitável às
pais eclesiásticos do século III. mentes alexandrinas sofisticadas.

Obs.6: Os bispos na sucessão apostólica estavam conse- Os pormenores da vida de Clemente da Alexandria são
guindo o monopólio na autoridade das igrejas, de modo cercados de mistério. Sua ligação com a hierarquia formal
que cada vez mais pessoas de dentro e de fora os reco- da igreja de Alexandria é uma incógnita.
nheciam como a autoridade da igreja.
Não parece ter sido ordenado como ministro ou sacer-
Obs.7: A ideia da salvação sendo recebida primariamente dote e seus escritos rejeitam notoriamente as considera-
por meio dos sacramentos incluindo-se o batismo infantil ções sobre a comunidade dos cristãos e, em vez disso,
e o da eucaristia, estava se tornando normativa, embora evidenciam a espiritualidade e a vida intelectual do crente.
algumas vozes se levantassem em protesto.
Sem dúvida alguma, estava contaminado pelo platonismo
A igreja e sua estrutura e teologia estavam paulatina- médio que formava a filosofia genérica da maioria dos
mente se formalizando e padronizando. Uma certa linha alexandrinos cultos e pode ter contribuído para o surgi-
de ortodoxia (doutrina – verdadeira doutrina) estava mento de um novo tipo de filosofia platônica conhecido
sendo amplamente reconhecida. como neoplatonismo.

Nota 4: Quando o século II chegava ao fim, surgia uma Mais do que qualquer outro escritor cristão antigo, Cle-
nova história da teologia. A localização central geográfica mente de Alexandria dava valor à integração da fé cristã
e cultural da história mudou-se para a África do Norte. com a melhor cultura dos seus dias. Seu lema era: “toda
Das cidades da África do Norte, como Alexandria e Car- a verdade é a verdade de Deus, venha de onde vier”.
tago (na região hoje chamada Tunísia) surgiram os gran-
des defensores, intérpretes e organizadores do pensa- Clemente via na filosofia platônica uma aliada viável para
mento e da vida cristã do século III. o cristianismo do mundo pagão.

Nota 5: Durante o século III, as primeiras construções ecle- O platonismo tinha um conceito da vida além da morte e
siásticas – chamadas “basílicas” – foram levantadas de uma dimensão espiritual para tudo, e, desviava a aten-
para a adoração cristã. O cânon das Escrituras cristãs foi ção das pessoas dos prazeres físicos e corporais para as
praticamente solidificado, embora seu reconhecimento realidades espirituais e superiores.
oficial e sua aceitação universal tenham vindo apenas
quase um século mais tarde. Por tudo isso, e muito mais, Clemente encontrou reflexos
e paralelismos da verdade cristã no melhor da filosofia
Clemente de Alexandria grega.

Clemente seguiu os pas- Clemente acreditava que a filosofia ajudaria na luta do


sos de Justino, o grande cristianismo contra as heresias.
apologista e mártir do
século II, e considerava Os falsos ensinos frequentemente surgem do mau enten-
o cristianismo a verda- dimento; a filosofia procura ser lógica e emprega a dialé-
deira filosofia que não tica para testar as alegações da verdade e as crenças.
contradiz nem anula a
filosofia grega, mas a Ensinos de Clemente
completa.
O verdadeiro gnóstico - Uma das áreas mais contraverti-
Figura-Fonte: https://mundoeduca-
cao.bol.uol.com.br/historiageral/heleniza- Certamente, Clemente das da teologia de Clemente é o seu ideal do cristão como
cao-cristianismo-clemente-alexandria.htm
não tentou reduzir o “o verdadeiro gnóstico” ou “o gnóstico perfeito”.

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Clemente chegou a ponto de declarar que o verdadeiro Se Deus não tem partes nem paixões, por que as Escritu-
gnóstico cristão pode “se tornar Deus” nesta vida, des- ras hebraicas descrevem-no como irado, zangado e vin-
pindo-se do “desejo” e tornando-se “impassível, livre gativo? Clemente respondeu: “antropomorfismos! ”.
da ira”.
Quando perguntado sobre a ira de Jesus ao virar a mesa
Ele queria dizer que essa pessoa se reveste da imagem de ou outra manifestação de sentimentos. Clemente res-
Deus e se torna realmente boa, embora somente sob a ponde que são manifestações do homem Jesus.
forma de um ser criado e dependente de Deus.
OBRAS: Cinco livros de Clemente existem ainda hoje:
Ele tinha em mente a ideia da divinização, a ideia de que Exortações aos pagãos; O instrutor; Stromata; quem é o
o alvo da salvação é compartilhar da natureza divina re- rico que será salvo? Seleções de Teodósio.
fletindo a imagem de Deus e alcançando a imortalidade. Antropomorfismo – Figuras de linguagem ou forma como
os seres humanos percebem e sentem Deus.
Jesus Cristo - Clemente enxergava Jesus Cristo não ape-
nas como um homem que ensinava coisas boas e que Tertuliano de Cartago (150-212)
teve a morte de um mártir como Sócrates, mas como a Nasceu por volta de 150
encarnação da Sabedoria divina, e, de certo modo, o pró- d.C., em Cartago (cidade
prio Deus. ao nordeste da África),
onde provavelmente pas-
Corpo físico – Ele tratava o corpo e a matéria como uma sou toda a sua vida, em-
“natureza inferior” e os contrastava nitidamente com a bora alguns estudiosos
natureza “superior e melhor” da alma, que descrevia afirmem que ele morasse
como a parte racional do indivíduo. em Roma.

Nesse ponto ele difere do gnosticismo, pois nega expres- Por profissão, sabe-se que
samente que a matéria ou o corpo são iníquos. São ape- era advogado em Roma.
nas inferiores ao espírito e a alma. Figura-Fonte: http://apaixonadopormis- Fazia visitas com fre-
soes.blogspot.com/2013/10/tertuliano-de-
cartago-biografia.html quência a Roma,
Essa ideia da humanidade e da criação é, naturalmente,
sendo que, aos 40
mais platônica do que bíblica.
anos, se converteu ao cristianismo, dedicando seus co-
Platão e seus seguidores enfatizavam o lado espiritual da nhecimentos e habilidades jurídicas ao esclarecimento da
pessoa como superior e melhor do que o lado físico e fé cristã ortodoxa contra os pagãos e os hereges.
equiparavam-no com a razão.
Nunca foi ordenado ao sacerdócio, nem chegou a ser ca-
Deus – As ideias de Clemente a respeito de Deus e da nonizado pela igreja católica e ortodoxa, a qual abando-
imagem de Deus no ser humano revelam sua instrução nou por volta de 207.
grega.
Neste período de 207 Tertuliano associou-se ao movi-
Repetidas vezes, Clemente reitera a opinião de que Deus mento montanista, que posteriormente manifestou ten-
não tem paixões e que é assim que o verdadeiro gnóstico dências sectárias.
deve ser.
Tertuliano foi o precursor de Cipriano, que se tornou seu
As paixões e os desejos são limitantes por natureza e discípulo, bem como de Agostinho.
Deus, de acordo com Clemente e com a filosofia grega
O legado escrito de Tertuliano que ainda existe inclui
predominante naquele tempo, é livre por natureza de to-
cerca de trinta obras. Vamos destacar somente duas.
das as limitações das criaturas, inclusive de paixões (dese-
jos e emoções). OBRAS:

Uma pergunta óbvia para a interpretação de Clemente a


respeito da natureza divina é: como se explica a ira de
Iavé?

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Contra Marcio – Marcio foi um mestre entre os cristãos de aparentemente singela da Trindade e da unidade de
Roma no século II que tentou forçar uma separação per- Deus.
manente entre o cristianismo e tudo quanto era hebraico,
Ele declarou que se esse conceito fosse verdade, então o
inclusive o Deus de Israel (Javé) e o Pai de Jesus Cristo.
Pai tinha morrido na cruz, e isso, além de ser impróprio
Marcio também tentou definir um cânon de Escrituras para o Pai, é absurdo.
cristãs, limitado a escritos gentios.
Contra o moralismo de Praxes, Tertuliano desenvolveu o
Alguns dos seus pensamentos a respeito da humanidade conceito um pouco mais complexo do “monoteísmo or-
e da criação tinham uma pitada de gnosticismo e Tertuli- gânico”, isto é, a “unicidade” de Deus não impede
ano nada poupou no seu ataque contra os ensinos de nem exclui qualquer tipo de multiplicidade, assim como
Marcio. os organismos biológicos podem ser “um” e, ao
mesmo tempo, consistir em partes interligadas e mútuas.
Contra Praxes – Praxes foi, talvez, o primeiro teólogo cris-
tão que tentou explicar a doutrina da Trindade com deta- Em outras palavras, de acordo com Tertuliano, o Deus no
lhes sistemáticos. qual os cristãos acreditam está em uma só substância e
três pessoas; sendo que substância se refere a existência
Ao fazê-lo, porém, parece que obliterou com suas expli-
ontológica fundamental que faz com que uma coisa seja
cações a verdade ontológica da trindade das pessoas Di-
o que é; e pessoa se refere a identidade de ação que for-
vinas. Isto é, Praxes negou que os cristãos cressem em três
nece a qualidade de ser distinto.
identidades, ou até mesmo relações, dentro do único ser.
Tertuliano elaborou pormenores minuciosos da doutrina
A teoria de Praxes posteriormente veio a ser chamada
da Trindade por contraste com as heresias de Praxes.
“moralismo” e foi revivificada por outro mestre poste-
rior do cristianismo em Roma chamado Tabelio. Talvez por se desviar para o montanhismo, a contribuição
de Tertuliano nessa área foi deixada de lado.
A teologia de Tertuliano foi, em grande parte, condicio-
nada pelo seu conflito com os gnósticos. Suas conhecidas Tertuliano rejeitava o ideal do cristão maduro como o
afirmações contra a filosofia devem ser vistas neste con- “verdadeiro gnóstico” exposto por seu contemporâ-
texto, pois em sua opinião, a filosofia era a fonte de here- neo, Clemente de Alexandria.
sias gnósticas.
Para Tertuliano o cristão maduro não tinha o menor inte-
Foi o pai das doutrinas ortodoxas da Trindade e da pessoa resse na especulação mental além das Escrituras, dos en-
de Jesus Cristo. sinos apostólicos e da regra de fé da igreja.

Suas doutrinas a respeito da Trindade e da pessoa de Influenciado pelo Pastor de Hermas, livro, que particular-
Cristo foram forjadas no calor da controvérsia com Praxes mente gostava muito, e, que ensinava que os cristãos são
que, segundo Tertuliano, “sustenta que existe um só Se- perdoados somente uma vez de um pecado grave após
nhor, o Todo-Poderoso criador do mundo, apenas para o batismo, o levou argumentar com veemência que o ba-
poder elaborar uma heresia com a doutrina da unidade. tismo devia ser adiado até quando o crente tivesse certeza
de possuir forças para não mais pecar.
Ele afirma que o próprio Pai desceu para dentro da vir-
gem, que Ele mesmo nasceu dela, que Ele mesmo sofreu Obs. 8. Orígenes e Clemente eram conhecidos como teó-
e que, realmente, era o próprio Jesus Cristo”. logos Alexandrinos.

Segundo parece, Praxes ensinava que existe uma só iden- A escola alexandrina esteve por muitas vezes em discus-
tidade pessoal em Deus e que essa identidade singular sões acirradas com a escola antioquiana.
podia ser manifestada como o Pai, ou como o Filho, ou
Obs9. Os alexandrinos ofereceram uma cosmovisão siste-
como o Espírito Santo.
mática baseada em princípios filosóficos, em que o cristi-
(Este é o conceito do Moralismo mais tarde veio a surgir anismo foi inserido e conservado como a mais elevada sa-
a monarquia ismo moralista). bedoria.

Tertuliano foi o primeiro teólogo cristão a confrontar e a


rejeitar com grande vigor e clareza intelectual essa visão

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Os teólogos alexandrinos queriam preservar a tradição Buscavam principalmente descobrir a intenção do autor,
cristã de maneira fiel, e para consegui-lo apoiavam-se fir- como meio para determinar o sentido de uma passagem
memente na Escritura. bíblica.

Ao mesmo tempo também possuíam um ponto de vista ORÍGENES (185-254)


filosófico coerente, em cujo contexto procuravam inserir o
Nasceu de pais cris-
conteúdo da revelação de modo a criar novo sistema te-
tãos em 185 ou 186 da
ológico.
nossa era, provavel-
TEÓLOGOS ALEXANDRINOS mente em Alexandria.

Alexandria (localizada no Egito), foi o grande centro cul- Era escritor cristão de
tural da época, mesmo do ponto de vista católico. vasta erudição, de ex-
pressão grega e, inici-
Naquele famoso didascaléion, naquela celebrizada escola
almente, com ação
catequética, espécie de faculdade teológica, foram lumi-
em sua cidade natal.
nares Clemente e Orígenes.
Figura-Fonte: http://geradossporcristo.blogs-
pot.com/2012/10/ Estudou letras e
Alexandria competiu com Antioquia, e em especial com
aprendeu de cor textos bíblicos com seu pai, que foi
Constantinopla pelo domínio eclesiástico do Oriente, e
morto por ocasião da repressão do imperador Sétimo Se-
nesta luta pelo poder entraram também questões teoló-
vero às novas religiões.
gicas.
O bispo de Alexandria passou a Orígenes a direção da
Os teólogos alexandrinos se referiam a Maria como theo-
Escola Catequética, sendo então sucessor de Clemente.
tókos (a mãe de Deus).
Estudou na escola neoplatônica de “Ammonios”.
Esta conclusão harmonizava-se com a adoração à Maria
Viajou a Roma, em 212, onde ouviu ao sábio cristão Hipó-
que estava crescendo naquela época.
lito. Em 215, organizou em Alexandria uma escola superior
Diziam que Maria não foi contaminada pela máculo do de Exegese Bíblica.
pecado original e afirmavam também que Maria perma-
Devido ao seu vasto conhecimento, viajava muito e minis-
necera Virgem durante toda sua vida.
trava ao público nas igrejas. O fato de se haver castrado
O Sinodo de Éfeso (em 431) decidiu em favor da teologia por devoção lhe criou dificuldades com alguns bispos, que
alexandrina contra a teologia de nestoriana que não re- contrariavam o sacerdócio dos eunucos.
conhecia Maria como theotókos (Nestório – Escola de An-
Em 232, transferiu-se para Cesaréia, na Palestina, onde se
tioquia).
dedicou exaustivamente aos seus estudos.
A Escola de Antioquia foi uma das duas grandes escolas
Sobreviveu aos tormentos de que foi vítima sob o domínio
no estudo da exegese bíblica e da teologia durante o final
do imperador Décio (250-252). Posteriormente a esta
da antiguidade.
data, morreu em Tiro, não se sabendo exatamente
Este grupo ficou conhecido por este nome por que os quando.
seus principais defensores moravam na cidade de Antio-
Era considerado o membro mais eminente da escola de
quia, um dos maiores do antigo Império Romano.
Alexandria e estudioso dos filósofos gregos. Acreditava
A Escola de Antioquia (localizada na Síria) foi fundada por que a alma preexiste e está subordinada à metempsicose
Luciano de Samosata ( 240-312 DC ), um teólogo cristão (mudança da alma, transmigração da alma e um corpo
que deu origem a uma linha de interpretação de estudos para outro corpo).
bíblicos conhecida pela sua erudição e conhecimento das
Aqui vemos nele uma tese tipicamente pitagórica e platô-
línguas originais.
nica, sendo abandonada depois pelo cristianismo oficial.
Essa escola se tornou famosa por sua abordagem literal e Todavia, é relembrada ainda hoje por aqueles que a de-
histórica dos contextos das sagradas escrituras. fendem como doutrina cristã: os espíritas.

Obra mais importante: - Hexapla (Sêxtupla).

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Origem da palavra cânon – Orígenes Os Teólogos são caracterizados pela aplicação da Teolo-
gia em áreas filosóficas e científicas.
A palavra cânon vem do assírio “Qânu”. É usada 61 ve-
zes no Antigo Testamento, sempre em seu sentido literal, DATA: Quarto Século (325 - 460).
que significa “cana”, “balança”.
OBJETIVO: Aplicar métodos científicos na interpretação
O primeiro a usar esse termo foi Orígenes, para se referir bíblica.
à coleção de livros sagrados, que eram ou serviam de re-
PREEMINENTES DO OCIDENTE: Jerônimo, Ambrósio e
gra e fé para o ensino cristão.
Agostinho.
CIPRIANO (200-258)
PREEMINENTES DO ORIENTE: Crisóstomo e Teodoro.
Tharsius Caecilius Cyprianus. Converteu-se em 246 d.C. e,
PREEMINENTES DE ALEXANDRIA: Atanásio, Basílio de Ce-
três anos depois, foi nomeado bispo de Cartago, no norte
saréia e Cirilo.
da África.
O desafio do monarquianismo retornou de forma mais
Durante dez anos,
aguda nas violentas controvérsias eclesiásticas do quarto
conduziu seu rebanho
século.
sob a perseguição do
imperador Décio, Foi então que a ameaça do arianismo foi combatida e que
uma das mais cruéis. a fórmula trinitária da igreja foi estabelecida nos concílios
ecumênicos de Nicéia (325) e Constantinopla (381).
Foi também o grande
sustentáculo moral e Há também uma conexão puramente histórica entre Ario,
espiritual da cidade o herético que provocou os maiores conflitos do século
de Cartago no perí- quarto, e o monarquianismo dinamista.
odo em que esta foi Ario, presbítero em Alexandria por volta de 310, foi discí-
atacada por uma epi- pulo de Luciano de Antioquia, que por sua vez, era segui-
Figura- Fonte: http://geradossporcristo.blo-
gspot.com/2012/10/ demia. dor de Paulo de Samósata.
Além disso, escreveu e batalhou pela unidade da Igreja. Na opinião de Ario, Cristo não podia ser Deus no sentido
Seu nome está ligado a uma grande controvérsia a res- pleno do termo; devia, em vez disso, fazer parte da cria-
peito do batismo e da ordenação efetuada por hereges. ção.

No entender de Cipriano, essas cerimônias não valiam, Como resultado, Ario considerava Cristo como “ser in-
pelo fato de os oficiantes estarem em desacordo com a termediário”, menos do que Deus e mais do que ho-
ortodoxia. mem.

Assim, deveriam ser rebatizados e reordenados todos os Também dizia ser Cristo criatura, tendo sido criado ou no
que entrassem pela verdadeira Igreja. tempo ou antes do tempo.

Estevão, bispo de Roma, discordou com ele e isso gerou Ario, portanto, negava a preexistência do Filho em toda a
um cisma, uma vez que Cipriano, além de rejeitar a auto- eternidade.
ridade do bispo romano, convocou um concílio no norte O próprio bispo de Ario, Alexandre, voltou-se contra ele
da África para resolver a questão. e o excomungou por motivo de heresias por volta de 320.
Seus escritos consistem em tratados de caráter pastoral e As ideias de Ario se alastraram por todo o Oriente, e Ario
de cartas, 82 ao todo, das quais 14 eram dirigidas a ele recebeu o apoio de Eusébio de Nicomédia, entre outras.
mesmo e as restantes tratavam de questões de sua época.
O imperador Romano Constantino tentou resolver este
Como mártir, morreu decapitado em 14 de setembro de problema, pois o mesmo já afetava não somente a uni-
258 d.C., durante a perseguição do imperador Valeriano dade da igreja como a coesão do próprio império. Em
vista de resolver este problema foi convocado o primeiro
Concílio de Nicéia no ano 325.
4 – OS TEÓLOGOS

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4.1 – PRINCIPAIS NOMES DOS CHAMADOS TEOLÓGOS toriador judeu Flávio Josefo. Era uma cidade murada, com
o maior porto na costa oriental do Mediterrâneo chamado
“Sebastos”, nome grego do imperador Augusto.
Eusébio de Cesaréia (265-339)
Atanásio (295-373 d.C.).
Incentivado por Constantino, Eusébio fez a narração da
O mais zeloso defensor da fé, no conflito da igreja contra
primeira história do cristia-
o arianismo e o poder imperial que apoiava os heréticos,
nismo, coroando-a com a
por longo tempo, foi Atanásio.
sua imperial adesão a
Cristo. “A ortodoxia era Quando morreu em 373, a controvérsia ariana ainda es-
apenas uma das várias for- tava em andamento, mas como resultado de suas contri-
mas de cristianismo, du- buições, o caminho estava aberto para a vitória final da
rante o século III, e pode só teologia nicena no Concílio de Constantinopla de 381.
ter se tornado dominante
Na luta contra o arianismo, Atanásio desenvolveu a dou-
no tempo de Eusébio”
trina eclesiástica da Trindade e do Logos.
Figura- Fonte: http://geradosspor- (JOHNSON, 2001: 69).
cristo.blogspot.com/2012/10/
Em sua doutrina da Trin-
Eusébio entrou em dis-
dade, que se dirigia especi-
puta com Eustátio de Antióquia, que se opunha à cres-
almente contra o aria-
cente aceitação das teorias de Orígenes e, em especial,
nismo, Atanásio salientava
por este ter praticado uma exegese alegórica das escritu-
de modo enfático que o Fi-
ras, o que interpretava como sendo a origem teológica do
lho é da mesma substância
arianismo (veja Escola de Antioquia).
do Pai (homo ousios).
Eusébio, admirador de Orígenes, foi repreendido por Eus-
Esta ideia não era aceita
tátio que o acusou de se afastar da fé de Niceia.
por Apolinário.
Eusébio retorquiu, acusando Eustátio de seguir ideias sa-
Embora a apresentação de
belianas. Figura-Fonte: http://jobnasci-
Atanásio de ortodoxia ni- mento.blogspot.com/2011/05/quem-
foi-atanasio.html
Eustátio foi acusado, condenado e deposto num sínodo, cena fosse fundamental a
em Antióquia. seu desenvolvimento subsequente, suas formulações não
Grande parte do povo de Antióquia rebelou-se contra foram seguidas estritamente na doutrina da Trindade san-
esta decisão eclesiástica, enquanto os anti-eustatianos cionada pela igreja.
propunham Eusébio como novo Bispo. Foi em grande parte devido à influência dos três capado-
Ele recusou a oferta. cianos (Basílio – o grande, 379; Gregório de Nissa – por
volta de 384; Gregório de Nazianzo - por volta de 390)
CESARÉIA
que a teologia nicena finalmente triunfou como verda-
Fundada pelo rei Hero- deira posição média entre o arianismo e o modalismo.
des no século I a.C. em
No que tange à teologia oriental, os capadocianos chega-
um porto comercial fe-
ram a formular a doutrina da Trindade de modo mais ou
nício e grego denomi-
menos definitivo.
nado Torre de Straton,
Cesaréia foi assim deno- Desenvolvimento correspondente também ocorreu no
minada pelo monarca Ocidente, em parte como resultado da influência da teo-
em homenagem ao im- logia oriental. Agostinho, mais que qualquer outro, deu
perador romano César forma definitiva à posição ocidental neste ponto, especi-
Augusto. almente em seu livro De Trinitate.

A cidade foi detalhada- A teologia de Agostinho forneceu a base para a posição


Figura Fonte: Figura-Fonte: https://slide- mente descrita pelo his- trinitária encontrada no Credo Atanasiano, o último dos
player.com.br/slide/3663808/
três Credos Ecumênicos.
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Jerônimo (325-378) Agostinho (354-430)

Erudito das Escrituras e Aurélio Agostinho nasceu


tradutor da Bíblia para no ano de 354, na cidade
o latim. de Tagaste de Numídia,
província romana ao
Sua tradução, conhe-
norte da África, atual re-
cida como a Vulgata,
gião da Argélia.
ou Bíblia do Povo, foi
amplamente utilizada Agostinho iniciou seus
nos séculos posterio- estudos em sua cidade
res como compêndio natal, seguindo depois
para o estudo da lín- para Cartago.
gua latina, assim como
Ensinou retórica e gra-
para o estudo das Es- Figura-Fonte: https://cita-
Figura- fonte: https://pt.wikipe- mática, tanto no Norte da coes.in/autores/aurelio-agostinho/
dia.org/wiki/Jer%C3%B4nimo crituras.
África como na Itália.
Nascido por volta do ano 345 em Aquiléia (Veneza), ex-
Ficou conhecido como o filósofo e teólogo de Hipona.
tremo norte do Mar Adriático, na Itália, Jerônimo passou
Polemista capaz, pregador de talento, administrador epis-
a maior parte da sua juventude em Roma, estudando lín-
copal competente e teólogo notável, criou uma filosofia
guas e filosofia.
cristã da história que continua válida até hoje em sua es-
Apesar de a história não relatar pormenores de sua con- sência.
versão, sabe-se, porém, que ele foi batizado quando tinha
Inspirado no tratado filosófico denominado “Horten-
entre 19 e 20 anos.Depois disso, ele embarcou em uma
sius”, de Cícero, converteu-se em ardoroso pesquisador
peregrinação pelo Império que levou vinte anos.
da verdade, abraçando o maniqueísmo.
Crisóstomo (344-407)
Com vinte anos, perdeu o pai e tornou-se o responsável
Criado em Antioquia, pelo sustento da família. Ao resolver que iria para Roma,
seus grandes dotes de sua mãe foi contra, então teve de enganá-la na hora da
graça e eloquência, viagem.
como pregador, leva-
De Roma, foi para Milão, onde novamente passou a leci-
ram-no a ser chamado a
onar retórica.
Constantinopla, onde se
tornou patriarca (ou ar- Influenciado pelos estóicos, por Platão e pelo neoplato-
cebispo). nismo, também estava entre os adeptos do ceticismo.

Como os outros apolo- Em Milão, porém, conheceu Ambrósio, que o converteu


gistas, harmonizou o en- ao cristianismo.
Figura-Fonte: http://cleofas.com.br/wp-
content/uploads/2014/09/joao-crisos- sinamento cristão com a
tomo.jpg
erudição grega, dando
Depois disso, voltou ao norte da África, onde foi ordenado
novos significados cristãos a antigos termos filosóficos,
sacerdote e, mais tarde, consagrado bispo de Hipona.
como a caridade.
Combateu a heresia maniqueísta que antes defendia e
Em seus sermões, defendia uma moralidade que não fi-
participou de dois grandes conflitos religiosos: o Donati-
zesse qualquer transigência com a conveniência e a pai-
smo e o Pelagianismo.
xão, e uma caridade que conduzisse todos os cristãos a
uma vida apostólica de devoção e de pobreza comunal. Sua obra mais conhecida é a autobiografia “Confis-
sões”, escrita, possivelmente, no ano 400.
Essa piedosa mensagem, entretanto, tornou-o impopular
na corte imperial, e também entre alguns membros do Em “A cidade de Deus” (413-426) formulou uma filoso-
clero de Constantinopla, por isso acabou sendo banido e fia teológica da história.
morreu no exílio.
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Abaixo segue uma lista com os nomes de alguns dos cha- ............................................................................................................
mados “pais da igreja” por ordem de nascimento: ............................................................................................................
............................................................................................................
Inácio: Bispo de Antioquia na Síria, I e II século.
............................................................................................................
Policarpo: Bispo de Esmirna, 70-155. ............................................................................................................

Justino, o Mártir: Apologista de Samaria, 100-165. ............................................................................................................


............................................................................................................
Irineu: Polemista antignóstico de Esmirna, 130-200.
............................................................................................................
Clemente: Escritor de Alexandria, 155-220. ............................................................................................................
............................................................................................................
Tertuliano: Escritor e Apologista de Cartago, 160-230.
............................................................................................................
Orígenes: Escritor e Teólogo de Alexandria, 185-254. ............................................................................................................

Cipriano: Polemista anti-novaciano de Cartago, 246-258. ............................................................................................................


............................................................................................................
Eusébio: Historiador da Igreja, 265-339.
............................................................................................................
Jerônimo: Tradutor da Bíblia para o Latim, a Vulgata, 325- ............................................................................................................
378. ............................................................................................................
............................................................................................................
Crisóstomo: Expositor e Orador de Antioquia, 347-407.
............................................................................................................
Agostinho: Filósofo e Teólogo de Hipona, Norte da África, ............................................................................................................
354-430. ............................................................................................................

John Wycliff: Reformador e Tradutor da Bíblia para o In- ............................................................................................................

glês, 1328-1384. ............................................................................................................


............................................................................................................
John Huss: Professor e Reformador da Boêmia, 1372-1415.
............................................................................................................
Martinho Lutero: Reformador da Alemanha, 1483-1546. ............................................................................................................
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William Tyndale: Reformador e Tradutor do Novo Testa-
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mento, 1494-1536.
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João Ferreira de Almeida: Tradutor da Bíblia para o Por- ............................................................................................................
tuguês, 1691. ............................................................................................................

ANOTAÇÕES ............................................................................................................
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CAPITULO 3 - ALGUMAS TEOLOGIAS DO NOSSO TEMPO

SÓ JESUS vangélicos, por causa de seu proselitismo sectário e des-


leal. Eles perturbam nossas igrejas e camuflam-se facil-
mente em nosso meio.
Fundada por John 8. Schepp em 1913, ensina que o ba-
Dizem que não são modalistas porque Sabélio dizia que
tismo salva, igual à doutrina da Congregação Cristã no
Pai, Filho e Espírito Santo são três aspectos temporários
Brasil, e deve ser realizado só em nome de Jesus. Seus
da Divindade, ao passo que a Igreja Local afirma que são
adeptos não seguem a fórmula batismal de Mateus 28.19:
três aspectos eternos da Divindade.
“Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”. Essa
O ponto divergente entre eles é que ambos declaram ser
seita provocou muitas divisões nas igrejas evangélicas da
a Divindade uma só Pessoa. Como Sabélio, usam com fre-
época. Ela mesma depois se dividiu em várias facções, en-
quência a palavra “pessoa” para cada Pessoa da Trin-
tre as quais a Igreja Pentecostal Unida do Brasil, presente
dade, mas com outro sentido.
em outros países, que também é modalista e batiza só em
nome de Jesus. (Não confundir com a Igreja Unida.) Empregam até o nome Trindade, mas não é o mesmo tri-
nitarianismo do Credo Atanasiano.
TABERNÁCULO DA FÉ

Fundado por William Marrion Branham (1906-1965), cha-


mado por seus adeptos de “o profeta do século e men- TESTEMUNHAS DE IERROCHUA OU IEHOSHUA
sageiro do Apocalipse”, William Marrion Branham, como
Fundado em 1987, em Curitiba, PR. Além de modalistas,
os demais funda dores de seitas, arroga para si a mesma
pregam que o nome do Salvador não é Jesus, mas
autoridade dos profetas e apóstolos da Bíblia e nega a
Yehoshua, forma hebraica do nome “Josué”.
doutrina bíblica da Trindade.
Os manuscritos gregos do Novo Testamento destroem
Seus adeptos são modalistas, pois seguem o ensino de
completamente essa teoria das Testemunhas de Ierro-
seu líder, e o batismo nas águas é realizado só em nome
chua. Há diversos disparates em sua doutrina.
de Jesus.

MOVIMENTOS PÓS-REFORMA
VOZ DA VERDADE
•Adventismo
Igreja que utiliza o mesmo nome do conjunto Voz da Ver-
dade. Suas músicas são cantadas sem restrição alguma na •Anglicanismo.
maioria de nossas igrejas. •Anglo-Catolicismo.
Muitos ainda não se deram conta dessa gravidade. Eles •ARMINIANISMO (reação ao Calvinismo): soteriologia que
são uma seita e atacam a doutrina bíblica da Trindade, e afirma que o homem é livre para aceitar ou rejeitar o dom
seu batismo nas águas é realizado em nome de Jesus. de Deus da salvação; identificado com o teólogo holandês
Seus hinos que enfatizam a divindade de Jesus constituem reformista Jacobus Arminius, desenvolvida por Hugo Gro-
a doutrina unicista, e estão “sacrificando o Pai”, como tius, defendido pelos Remonstrantes, e popularizado por
disse Tertuliano, dos modalistas de sua época. John Wesley.

A doutrina chave das igrejas Anglicanas e Metodistas,


adotada por muitos Batistas e alguns Congregacionalistas.
IGREJA LOCAL DE WITNESS LEE
•CALVINISMO: Tipo de soteriologia avançada criada pelo
Conhecida por seu ônibus “Expo-livro” e por seu jornal
Reformador protestante francês João Calvino, que de-
Árvore da Vida. É a que mais suscita problema entre ose-
fende as opiniões de Agostinho de Cantuária sobre a elei-
ção e rejeição; Afirma a Predestinação, a soberania de

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Deus e a incapacidade do homem para realizar sua pró- especialmente às crenças de A Igreja de Jesus Cristo dos
pria salvação por acreditar na regeneração; Santos dos Últimos Dias.

•MOVIMENTO CARISMÁTICO: Movimento em muitas •NOVO PENSAMENTO: Movimento baseado na Ingla-


igrejas protestantes e algumas católicas que enfatiza os terra durante o século 19 que acredita no pensamento po-
dons do Espírito e no contínuo trabalho do Espírito Santo sitivo. Várias denominações surgiram disso, incluindo a
no corpo de Cristo; frequentemente associada ao falar em Igreja Unida e a Ciência Religiosa.
línguas e a cura divina.
•ANTI-CONFORMISMO: Advoga a liberdade religiosa; in-
•CONGREGACIONALISMO: Sistema utilizado por Congre- clui os Metodistas, Batistas, Congregationalistas and Sal-
gacionalistas, Batistas, Pentecostais e igrejas, em que cada vacionistas.
congregação se auto-regula e é independente de todos
•ANTI-TRINITARIANISMO: Rejeição da doutrina da Trin-
os outros.
dade.
•CONTRA-REFORMA (ou Reforma Católica): A resposta
•PENTECOSTALISMO
da Igreja Romana Católica a Reforma Protestante. (veja
também Concílio de Trento) •PRESBITERIANISMO: Forma de governança usada nas
igrejas Presbiterianas e Reformadas.
•PANENTEÍSMO.
•PURITANISMO: Movimento para purificar o Episcopa-
•DEÍSMO: A doutrina geral que nenhuma fé é necessária
lismo de qualquer aspecto ritual.
para justificar a existência de Deus e/ou a doutrina de que
Deus não intervém nos assuntos terrestres (contrasta com •SUPERSESSIONISMO: Acredita que a Igreja Cristã, o
Fideísmo). corpo de cristo, é o único povo eleito de Deus na era da
Nova aliança.
•DISPENSACIONALISMO: Crença hermenêutica bíblico e
na filosofia da história que vê o desdobramento histórico •RESTAURACIONISMO: Tentativa de retornar ao modelo
em várias dispensações de Deus para a humanidade. de Igreja do Novo Testamento. Em que uma das doutrinas
fundamentais considera a idade média como um período
•EVANGELICALISMO: Tipicamente conservadora, predo-
conhecido como apostasia, gerando a necessidade de um
minantemente protestante. Prioriza maiormente as pers-
retorno à real teologia cristã em sua "totalidade" e "pu-
pectivas evangelistas das outras actividades da Igreja
reza" por meio de uma restauração divina da ordem sa-
acima mencionadas (ver também neo-evangelicalismo).
cerdotal cristã.
•FIDEÍSMO: A doutrina que a fé é irracional, que a exis-
•TRACTARIANISMO: Movimento de Oxford. Levou ao An-
tência de Deus transcende a lógica, e que todos os co-
glo-Catolicismo.
nhecimentos de Deus funcionam na base da fé (contrasta
com o Deísmo). •ULTRAMONTANISMO: Um movimento do século 19 da
Igreja Católica romana para enfatizar a autoridade papal,
•LIBERALISMO: Crença em interpretar a Bíblia de forma a
particularmente durante a Revolução Francesa e a secula-
permitir o máximo de liberdade individual.
rização do Estado.
•METODISMO: Forma de funcionamento da igreja e dou-
•UNITARIANISMO: Rejeita a Trindade e também a divin-
trina usada na Igreja Metodista.
dade de Cristo, com algumas exceções.
•MODERNISMO: Crença que a verdade muda, assim a
•UNIVERSALISMO: De várias formas, a crença que todas
doutrina deve evoluir em função de novas informações ou
as pessoas no final serão reconciliadas com Deus.
tendências.
CONCLUSÃO
•MORMONISMO: Crença de que o Livro de Mormon e
outros volumes literários poderão ser também considera- O interesse principal da Teologia é Deus e sua atividade
dos Escrituras divinas; crença em profetas e apóstolos; salvadora em Cristo. É, pois uma ciência teocêntrica. To-
considerada como uma doutrina diferente ou pseudo- das suas afirmações são sobre Deus e a partir das afirma-
cristã por algumas outras denominações cristãs; refere-se ções sobre o ser de Deus procuram entender suas ações
e pretende dar sentido à existência do homem e do
mundo.
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A Teologia trata de Deus enquanto Deus, isto é, trata do 2) motivos filosóficos: Deus seria uma construção do pen-
Deus vivo da Revelação, o Deus de Abraão, o Deus de samento humano, uma idéia (em sentido kantiano, meta-
Isaac e de Jacó, o Deus Uno e Trino que se revelou na fisicamente inalcançável);
história da salvação.
3) motivos metodológicos: alguns autores afirmam antes
“O Deus dos filósofos não é o Deus vivo e pessoal que a de tudo o homem e a sua salvação como aspectos cen-
Bíblia nos testemunha, mas um fundamento do mundo, trais da teologia, colocando a pergunta sobre Deus em
um Incondicionado e um Absoluto que não pode ser de- segundo lugar.
nominado com um Nome pessoa, mas mediante concei-
A REFLEXÃO SOBRE DEUS E SUA REPERCUSSÃO
tos abstratos.
TEOLÓGICA.
Ao Deus dos filósofos não se pode rezar. Corresponde,
A partir do século XVII a filosofia racionalista vai empobre-
sem dúvida, ao pensamento filosófico uma importante
cendo a concepção cristã sobre Deus. Não é possível aqui
função. Proporciona acessos para a compreensão da fé e
descrever todo esse processo, mas daremos os conteúdos
mostra que a fé em Deus, sobre passando em muito o
fundamentais desse processo.
puro pensar, não é irracional“.
O processo começou quando a filosofia começou a tratar
“A Deus ninguém o viu jamais: o Filho único, que está no
da mera “ideia de Deus” desligada das afirmações cris-
seio do Pai, Ele nos revelou” (Jo. 1,18). A Teologia de-
tãs sobre Deus.
pende pois da Revelação dada por Cristo, o Filho Unigê-
nito de Deus. O ponto final desse processo é a redução de Deus a uma
mera categoria filosófica, cujo conteúdo é afirmado se-
A Teologia estuda o ser de Deus na medida em que pode
gundo as ideologias do momento.
ser alcançado.
Esse processo termina assim no ateísmo, isto é a negação
Não esquece que Deus é um profundo mistério, que não
racional e absoluta da existência de Deus.
pode ser conhecido como os demais objetos de conheci-
mento. Nesse processo Deus foi confundido com o mundo, com
o homem, até que se tornou uma ideia sem conteúdo da
A Teologia trata de Deus tanto em si mesmo, quer dizer,
mente humana.
enquanto a sua essência, seus atributos e Pessoas, quanto
como princípio e fim de todas as coisas. Essas afirmações são sustentadas por filosofias deficientes,
parciais.
Diz um adágio antigo sobre a Teologia: “Theologia
Deum docet, a Deo docetur, ad Deum ducit”. O questi- Por exemplo: para Descartes Deus era simplesmente a
onamento moderno de Deus como objeto principal da ci- causa última que garante a ordem física do mundo;
ência teológica. Para Espinoza havia uma só substância no mundo, Deus
A afirmação de que Deus é o assunto central da Teologia ou o mundo;
foi posta em debate nos últimos anos. Kant entendia a Deus como uma ideia que serve de pres-
A dúvida sobre isso tem dois motivos: suposto à ordem moral e à liberdade humana.

a) a perda do sentido cultural e filosófico do termo Hegel falará de um movimento histórico-dialético, no que
“Deus”; o Absoluto se faz a si mesmo por infinitos elementos;

b) alguns pressupostos epistemológicos modernos, que Nietzsche proclamou a “morte de Deus” e a chegada
declaram a Deus como um ser incognoscível e afastado do “super-homem”, isto é, o homem contemporâneo
de nós. descartou o conceito de Deus e a partir de agora, o ho-
mem movido pela “vontade de poder” vai mover o
Como base dessa segunda postura temos
mundo.
1) motivos religiosos: Deus seria totalmente transcen-
Esse autor foi capaz de ver as consequências trágicas
dente, inacessível (crítica protestante da objetividade de
dessa “morte de Deus” para a humanidade: “que fize-
Deus);
mos ao libertar esta terra do seu sol? Para onde ela se
move? Para onde nos movemos, longe de todos os sóis?
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Não estamos caindo? Não vamos dando tombos para ............................................................................................................
trás, para o lado, para adiante, para todos os lados? Há ............................................................................................................
ainda um acima e um abaixo? Não vagamos através dum ............................................................................................................
infinito nada? Não sentimos o espaço vazio? Não faz mais ............................................................................................................
frio? Não anoitece cada vês mais?” ............................................................................................................
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A centralidade do mistério de Deus para a Teologia cristã:
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A Teologia da Igreja parte da consciência de que a expe- ............................................................................................................
riência bíblica sobre o Deus vivo dispõe de uma lingua- ............................................................................................................
gem suficientemente clara e acessível à razão humana. ............................................................................................................
Está consciente que Deus é um mistério, que nosso co- ............................................................................................................
nhecimento é parcial, mas é verdadeiro conhecimento de ............................................................................................................
Deus. ............................................................................................................

A Teologia cristã não admite que a noção de Deus possa ............................................................................................................

ser absorvida nos nossos discursos humanos. ............................................................................................................


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“Deus sempre maior” afirmava Santo Agostinho, numa
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expressão clássica e admitida por todos os teólogos de
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bom senso.
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A verdadeira Teologia se esforça sempre por conhecer a ............................................................................................................
Deus e não um ídolo. ............................................................................................................
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ANOTAÇÕES
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https://www.youtube.com/watch?v=_v8GnFM6Stw Constantino

https://www.youtube.com/watch?v=iyZ3B-TH2rQ Credos, confissões e catecismos.

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