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Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LINE

Apostolado Veritatis Splendor


com autorizagáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoriam)
APRESENTTAQÁO
DA EDigÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos
estar preparados para dar a razáo da
nossa esperanga a todo aquele que no-la
pedir (1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos


corita da nossa esperanga e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrarias á fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crenca católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


Responderemos propoe aos seus leitores:
aborda questóes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
V_ vista cristáo a fim de que as dúvidas se
.. dissipem e a vivencia católica se fortaleca
*"" no Brasil e no mundo. Queira Deus
abengoar este trabal no assim como a
equipe de Veritatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Esteváo Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Esteváo Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicagáo.
A d. Esteváo Bettencourt agradecemos a confiaga
depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
Ano xxxvii Dezembro 1996 415
"Prossigo para o Alvo" (Fl 3,14)

Expectativas de Fim do Mundo e Milenarismo


Como Evangelizar em Nossos Dias?
Urna Jovem Budista Descobre Jesús e a Igreja
A Data de Redacáo dos Evangelhos
Pode um Cristáo Rezar as Imprecacóes dos Sal
mos?

María Santíssima no Coráo e no Islamismo


Notas Avulsas

- Os Feriados Religiosos

- O Ecumenismo: Que Pensar?


ÍNDICE GERAL 1996
PERGUNTE E RESPONDEREMOS DEZEMBRO1996
Publicagáo Mensal N°415

Diretor Responsável
SUMARIO
Estéváo Bettencourt OSB
"Prossigo para o Alvo" (Fl 3.14) 529
Autor e Redator de toda a materia
publicada neste periódico Ontem e Hoje:
Expectativas de Fim do Mundo
e Milenarismo 530
Diretor-Administrador:
Questáo vital:
D. Hildebrando R Martins OSB Como Evangelizar em Nossos Dias? 542

Do Budismo ao Catolicismo:
Administrado e Distribuicáo: Urna Jovem Budista Descobre
Jesús e a Igreja 559
Edicóes "Lumen Christi"
Rúa Oom Gerardo, 40 - 5° andar - sala 501 Novas Descobertas ilustram
Tel.: (021) 291-7122 A Data de Redacao dos Evangelhos 564

Fax (021) 263-5679 Sim ou Nao?


Pode um Cristáo Rezaras
Imprecacóes dos Salmos? 570
Enderezo para Correspondencia:
Surpreendente:
Ed. "Lumen Christi"
María Santíssima no
Caixa Postal 2666 Coráo e no Islamismo 572
CEP 20001-970 - Rio de Janeiro - RJ
Notas Avulsas:
ImpressSo e Encadema^ío
-Os Feriados Religiosos 575
- O Ecumenismo: Que Pensar? 576

índice Geral 1996 578

"MARQUES SARAIVA"
GRÁFICOS £ EDITORES Ltda.
Tels.: (021) 273-9498 / 273-9447

COM APROVACÁO ECLESIÁSTICA


NO PRÓXIMO NÚMERO:

Educacáo Sexual Ñas Escolas: A Experiencia Norte-Americana. - Transplante de Ce


rebro: Mudanca de Personalidade? - Eutanasia e Testamentos de Vida. - A Vinda
Intermediaría de Jesús. - A Conferencia de Istambul: Habitat II. - Eliminar Um Feto
Defeituoso?

(PARA RENOVAQÁO OU NOVA ASSINATURA: R$ 25,00).


(NÚMERO AVULSO R$ 2,50).

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1. Enviar em Carta, cheque nominal ao MOSTEIRO DE SAO BENTO/RJ.

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comprovante do depósito, para nosso controle.

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CHRISTI" Caixa Postal 2666 / 20001-970 Rio de Janeiro-RJ

Obs.: Correspondencia para: Edicfies "Lumen Christi"


Caixa Postal 2666
20001-970 Rio de Janeiro - RJ ¿
"PROSSIGO PARA O ALVO" (Fl 3,14)
Em Fl 3,7-14, Sao Paulo fala da sua conversáo do judaismo ao Cristia
nismo. Diz entáo: "Corro para verse O (Cristo) alcanco, pois que também eu
já fui alcancado por Cristo Jesús" (Fl 3,12). Com efeito; na estrada de Da
masco Paulo foi alcancado (ou melhor, foi agarrado) por Cristo. A imagem
quer lembrar que Paulo ia, apressado, a Damasco a fim de lá perseguir o
Cristo nos cristáos (cf. At 9,4); mas o Senhor Jesús Ihe foi ao encalco, correu
mais rápidamente, agarrou-o e fé-lo mudar de mente; Paulo continuaría a
procurar o Cristo, mas nao mais como perseguidor e. sim, como discípulo
Tal episodio foi decisivo para a vida do Apostólo: doravante seria ele o heroi
co atleta de Cristo, correria para mais e mais descobrir e possuir o Cristo.
Eis urna bela imagem da vida crista: o atleta no estadio esforca-se com
todo o seu fólego em demanda da palma da Vitoria. Essa corrida tem um alvo
transcendente, para o cristáo: chegar á visáo de Deus face-a-face (cf. 1Cor
13,12). Tal meta imprime dinámica á marcha do atleta: a vida crista é essen-
cialmente progresso em prol de urna uniáo com Deus cada vez mais estreita
Mais ainda do que o atleta no estadio, o cristáo nao tem o direito de parar um
. so instante em atitude complacerte ou satisferta; d¡r-!he-ia S. Agostinho: "Si dixe-
ris: Sufficft, et peristi. - Se disseres: 'Basta!1, já pereceste" (sermáo 169,15,18).
Cada passo dado á frente é um impulso em demanda de maior santidade ou de
um amor a Deus sempre mais íntimo. Nao há estacíonamento na estrada que
aproxima o cristáo daquilo "que o olho jamáis viu, o ouvido jamáis ouviu, o cora-
cáo do homemjamáis percebeu" (1 Cor 2,9). Odesejo da vida eterna e a esperan-
ca da benvaventuranca celeste sao os grandes propulsores da vida do cristáo.
A figura da corrida é muito válida, mas nao deve fazer esquecer que a
meta almejada pelo cristáo nao é apenas algo de futuro ou que esteja pela
frente; ela é também o aprofundamento de urna realidade incompletamente
possuída para chegar á posse perfeita; ainda mais do que tendencia, a vida
crista é crescimento, e crescimento em profundidade.
Nessa demanda da perfeicáo, o Apostólo diz: "Esquecendo-me do que
está para tras e avancando para o que está á frente, prossigo para o alvo
para o premio da vocacáo do alto" (Fl 3,13s). Olhar para o passado, no caso,
nao é slmplesmente recordar o passado (isto nao é vedado ao cristáo), mas
é o olhar que leva ao relaxamento ou ao esmorecímento do ideal. Há, porém,
um olhar para o passado que é construtivo, pois recorda os beneficios rece-
bidos do Senhor ao longo dos anos e dos dias, para encontrar ai um estímulo
ao progresso espiritual, como o encontraram S. Agostinho em suas Confis-
soes e S. Teresa de Lisieux em sua Historia de urna Alma.
Estas grandes verdades, tiradas da Escritura e da Tradicácvsejam mo
tivo de reflexáo para nos, que terminamos mTe "m f>"" «=» cont¡mns g corrida
do tempo. Corramos com o tempo, sim, coi i(^guijtf SrdBHra ere scer para
chegar á visáo de Deus face-a-face. oí"¿
CENTRAL _ _
529 Q.
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS"
Ano XXXVII - N° 415 - Dezembro de 1996

Ontem e Hoje:

EXPECTATIVAS DE FIM DO MUNDO E MILENARISMO

Em sintese:/A expectativa de próximo fim do mundo parece provir de


urna necessidade, talvez inconsciente, que os homens experimentan! de
prever urna salda para os momentos de críse da historia. E, como a crise é
quase permanente (guerras, fome, peste, catástrofes acompanham a his
toria da humanidade), em quase todas as épocas houve quem "profetizas-
se" a solugao drástica de fim dos tempos. Em nossos dias, o fim de um
milenio, ingrato ou inclemente para muitos povos flagelados pela guerra
pela fome, pela AIDS... a expectativa de um fim ¡mínente é intensificada-
para tanto concorrem também pujantemente a agao da imprensa escrita,
iralada e televisionada, capaz de dar a qualquer rumore qualquer noticia
urna repercussáo mundial. A complexidade da vida contemporánea, total
mente inédita na historia da humanidade, explica que, mais do que nunca
as "profecías" se cruzem, se associem, se multipliquen!, envolvendo
pretensas revelagóes religiosas, que muitas vezes nSo sSo mais do que a
expressSo da fantasía dos "videntes".
* * *

Pululam as expectativas de fim do mundo, com ou sem reino milenar


de Cristo na Térra1. Muitas pessoas se apavoram com os boatos lancados
e recorrem a artificios diversos para evitar os males previstos pelas "pro
fecías". Ñas páginas subseqüentes seráo catalogados alguns fatos e nú
meros que relathrizam tais expectativas; um percurso da historia passada,
muitas vezes, prpjeta luz sobre acontecimentos presentes.

1. A SITUACÁO EM NOSSOS DÍAS

Cerca de cirtqüenta milhSes de norte-americanos pertencentes a de


nominares protestantes tradicionais ou também fundamentalistas julgam
'O reino, de mil anos, do Jesús Cristo sobre a Tena, com osjustos ressuscitados no
fim dos tempos empaze bonanga (estando Satanás acormntado e os maus adorme
cidos pela morte), deduz-se, segundo alguns autores, de Ap 20,1-6 - Tal modo de
entender o texto bíblico nao é aceito pela Igreja Católica desde os tempos de S
Agostinho (t 430), como se dirá ás pp. 540s deste fascículo.

530
EXPECTATIVAS DE FIM DO MUNDO E MILENARISMO 3

que a segunda vinda de Cristo ocorrerá ñas proximidades do ano 2000,


devendo seguir-se-lhe um reinado de Jesús Cristo por mil anos sobre a
Térra juntamente com seus fiéis; finalmente dar-se-á a última investida de
Satanás e o juizo final.

A segunda vinda de Cristo, dizem, será precedida de grande ataque


do Anticristo, mas muitos norte-americanos nao tém medo dele, pois cré-
em na rapture ou no arrebatamento aos céus, dos fiéis, que o Senhor
subtrairá á grande tribulacáo dessa hora final1.

Além disto, há quem conté no mundo alguns milhoes de crentes


pentecostais para os quais o iminente fim do mundo é tema de importan
cia capital.

Entre os católicos há também grande número dos que acreditam em


próximo fim do mundo.

Quem considera estes fatos, diz, ás vezes, que assim se repetem


fenómenos que ocorreram ñas imediacóes do ano 1000. O fim do primei-
ro milenio terá sido também perturbado e dramático. - Ora esta afirmativa
é errónea; deve-se, em grande parte, a historiadores que propagaram a
"lenda negra" da Idade Media, inspirada pelo racionalismo do século XVIII
e o positivismo do século XIX, desejosos de condenar a cultura crista me
dieval. A realidade dos fatos que cercaram o ano 1000 vai a sequir ex
posta. '

2. QUE HOUVE NO FIM DO PRIMEIRO MILENIO?

Registra-se a expectativa de fim do mundo desde épocas antigás


sem que se possa dizer que as imediacóes do ano 1000 tenham sido es
pecialmente agitadas por isto. É o que se deduz dos seguintes dados:
A fórmula appropinquante fine mundl (aproximando-se o fim do
mundo) é encontrada em testamentos e outros documentos já no século
VI, e vem a ser urna cláusula de estilo que percorre toda a Idade Media.
Sem dúvida, os pregadores anunciavam freqüentemente o fim do mundo
como algo de próximo, mas nao com mais intensidade nos últimos deceni
os do século X do que nos decenios que precederam e se seguiram éo
ano 1000. Registra-se mesmo o fato de que a ruina sofrida pela basílica
do Santo Sepulcro em Jerusaiém no ano 1010 foi interpretada como sinal
apocalíptico muito mais importante que a transcorréncia do ano 1000.

1 A noticia data de 1985. É torneada por Marlene Tufís na obra Snatched Away
Before the Bomb: Rapture Believes ¡n the 1980s. Disseriagáo aposentada á Uni-
versidade do Havalem 1986, p. VI.
Em nossos días, as cifras devem ser aínda mais elevadas.

531
■PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 415/1996

O historiador Rudolfo Glaber (t 1056) fala de grande fervor religioso


existente em tomo do ano 1000; tal época foi marcada por desastres na
natureza e grande fome, que mais chamaram a atencáo do que a própria
passagem do ano 1000.

O Concilio regional de Trosly (Franca) em 909 refería-se a um possí-


vel fim do mundo como coisa ¡minente, nao como algo para o ano 1000.
Entre as declaracóes dos conciliares lé-se a seguinte:

"O mundo está cheio de imoralidade e adulterio, de devastagáo de


igrejas, de assassínios e da opressSo dos pobres".

Incursóes continuas dos normandos, dos sarracenos, dos húngaros


saqueavam ddades e mosteiros, devastando regioes inteiras.

Abalizados historiadores reconhecem, desde fins do século XIX, que


a noticia de tremores e terrores em torno do ano 1000 se deve a pensado
res racionalistas dos séculos XVIII e XIX interessados em atacar a Igreja
Católica e o "fanatismo" medieval. Ver, por exemplo, F. Plaine, Les
prétendues terreurs de Tan mille em Revue des Questíons Historiques
1873, Parte I, pp. 145-164, como também Francesco Olgiati, Mille e non
piü mille, em Vita e Pensiero 1951, pp. 310-314.

3.APÓSOANO1000

Quem considera atentamente a historia, verifica que as expectativas


de fim do mundo com ou sem milenarismo se repetem - de maneiras
diversas - em cada século da historia (especialmente no fim de cada sé-
culo). Com o passar do tempo, os fenómenos que exprimem tal expecta
tiva, tomam vulto mais denso, pois mais complexa se vai tornando a vida
da sociedade; aumenta o pluralismo religioso e cultural; avulta-se a deso-
rientagáo das ideologías, que geram inquietagáo sempre mais profunda.
Levem-se em conta alguns casos mais salientes:

Nos séculos XIV/XV, por ocasiáo do Grande Cisma do Ocidente (1378-


1417), a idéia de que o mundo estava para acabar era muito difundida. A
situacáo religiosa um tanto caótica em que se achava o mundo ocidental,
contribuirá grandemente para suscitar a tese de que a historia nao se prolon
garía por muito tempo. Todavía o Cardeal Pierre d'Ailly (1350-1420), um hábil
diplomata, que muito colaborou para por fim ao Cisma, rejeitava a astrologia
e profecías daí derivadas, e se baseava em intuicSes pessoais para tranqui
lizar os seus contemporáneos; dizia-lhes que o fim do mundo nao estava
táo próximo, pois pressentia que ele só ocorreria bem mais tarde, ou seja,
em 1789; neste ano teriam inicio acontecimentos realmente apocalípticos.

Esta datacáo, estipulando o ano de 1789, ano da Revolucáo France


sa, suscitou em alguns estudiosos a pergunta: como Pierre d'Ailly terá

532
EXPECTATIVAS DE FIM DO MUNDO E MILENARISMO 5

atinado com tal data, que de fato foi de grandes mudanzas, pois marcada
por profunda reviravolta social e religiosa? Terá havido casualidade ou
alguma revelacáo de ordem transcendental? - O fato é que d'Ailly n§o
alimentava concepcoes milenaristas; atribuía a Ap 20 um sentido figurati
vo, que rejeitava a nocáo de um milenio de paz e bonanca sobre a Térra.

No fim do século XV (em que morreu Pierre d'Ailly) viveu Cristóváo


Colombo (1451-1506). Este leu ávidamente toda a bibliografía apocalíptica
do seu tempo. Foi-se convencendo de que era muito provável o fim do
mundo no ano de 1500; por isto considerava as suas viagens como a
última grande míssáo crista antes dos últimos tempos. Ver a propósito
Pauline Moffit Watts: Prophecy and Discovery. On the Spiritual Origins
of Christopher Columbus's Enterprise of the Indies, em American
Historical Review, vol. 90 (1995), pp. 93-99. Ver também Juan Gil, Miti e
Utopie della Scoperta. Cristoforo Colombo e II suo Tempo. Milano 1991.

No fim do século XVI Michel de Nostredame ou Nostradamus (1503-


1566) escreveu suas Centurias, que o fizeram passar por profeta de imi-
nente fim do mundo. Os intérpretes n§o concordam entre si ao definir o
significado de tais quadras; quando Nostradamus parece referir-se a urna
época posterior a 1600, julgam muitos que ele se referia a um fim do mun
do previsto para 1699/1700. Sabe-se, alias, que Nostradamus tem sido
explorado como profeta de acontecimentos trágicos do século XX e men-
sageiro de fim do mundo para os próximos tempos. Urna serie de estudos
abalizados dissuade o leitor de dar crédito ao "profeta"; ver, por exemplo,

Edgar Leroy, Nostradamus. Ses Origines. Sa vie, Son Oeuvre.


Laffitte, Marseille 1993.

Jean-Paul Clébert, Nostradamus, Edisud, Aix-en-Provence 1993.

Robert Amadou, L'Astrologie de Nostradamus. Dossier. ARRC,


Poissy1992.

De resto, do século XVII ao século XX n§o tém faltado escritores que


apontam o Anticristo presente na Térra; seria, para os protestantes, o Papa;
para os católicos, os dirigentes protestantes. Ver Gennaro María Barbuto,
II Principe e l'Anticristo, Guida Napoli 1994; também Bernard McGuin,
Antichrist Two Thousands Years of the Human Fascinaron with Evil.
Harper San Francisco, San Francisco 1994.

Na Inglaterra do século XVII, onde os partidos lutavam pela conquista


do poder, Anticristos eram os líderes dos partidos opostos. Na Rússia,
quando o fim do mundo era esperado para o ano de 1666 (ano terrível,
porque lembrava o número da Besta do Apocalipse, conforme Ap 13,18),
o Anticristo, para os rebeldes "Velhos Crentes", era o czar, e, para o czar,
eram os "Velhos Crentes".

533
■PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 415/1996

O fim do século XVIII foi também marcado por expectativas do


fim do mundo: a Revolugáo Francesa (1789), causando grande
rebordosa ñas sociedades européias, sugeriu a muitos pensadores da
Europa e dos Estados Unidos a conviccao de que o mundo estava para
acabar. Algumas Lojas Macónicas também acreditavam que fim do
século XVIII e fim do mundo coincidiriam entre si; esperavam, porém,
que da( se seguiría urna Idade de Ouro; cf. Giuseppe Giarrizzo,
Massoneria e Illuminismo nell'Europa del Settecento. Marsilio,
Venezia1994.

O fim do século XIX foi, por sua vez, ocasiSo para que médiuns e
videntes espiritas proclamassem o fim do mundo anunciado pelos esplri-
tos do além. Cf. Nicole Edelman, Voyantes, Guérisseuses et Visionnaires
en France 1785-1914. Albin Michel, Paris 1995.

Para os católicos, era principalmente o espiritismo, além da política


anticlerical e laicista, que, a partir de 1850, fazia crer que o Apocalipse,
com suas catástrofes, estava para se tomar realidade.

Nos Estados Unidos da América, a década de 1830 deu inicio a fortes


expectativas milenaristas, principalmente no Estado de Nova lorque, onde
se difundiram os mórmons e os adventistas. Cf. Michel Barkun, Crucible
of the Millennium. The Burned-Over District of New York ¡n the 1840s.
Syracuse University Press. Syracuse (New York) 1986.

Quanto mais os séculos avangam, tanto mais fácil e rápidamente se


difundem idéias fantasiosas, aptas a provocar o pánico; os meios de co-
municacáo social as exploram em estilo sensacionalista, avolumando ru
mores sinistros, que desconcertam o público sem fundamento. O fim do
século XX, em conseqüéncia, é aguardado com mais temor do que o fim
dos séculos anteriores: a bomba atómica, a bomba de hidrogénio, o flagelo
da AIDS contribuem para tomar os horizontes mais sombríos, afetando
talvez centenas de milhóes de pessoas. A área anglo-americana tem sido
particularmente sensivel ao embate, registrando-se ai varios casos de
fervor religioso mal orientado.

Entre outros, cita-se o de Hal Lindsey, um ex-capitao de navios do rio


Mississipi: após ter estudado no Dallas Thological Seminan/ - baluarte da
cultura protestante milenarista norte-americana -, publicou em 1970 o li
vro The Great Planet Earth (O Grande Planeta Tena): anunciava ai o
comego do milenio de paz e bonanga para antes do ano 2000; em 1994
haviam sido vendidos vinte e oito milhoes de copias dessa obra, que se
tornara um dos mais famosos best-seller norte-americanos; Russell
Chandier, jomalista responsável por noticias religiosas do Los Angeles
Times, pode afirmar que tal livro exerceu enorme influencia sobre o modo
de pensar dos americanos nos últimos decenios. O presidente Ronald
534
EXPECTATIVAS DE F1M DO MUNDO E MILENARISMO 7

Reagan confessava-se "enamorado" desse livro, que ele guardava em cima


de sua mesa de cabeceira junto ao leito e que ele citou algumas vezes
durante os anos de seu governo presidencial; admitiu repetidamente que
"a nossa geracáo poderia ser a última sobre a face da térra".

Os observadores políticos julgam que as eleicóes norte-americanas


sofrem influencia dos milenaristas.

Outros nomes de "profetas" norte-americanos podem ser ainda apon-


tados:

Edgar C. Whisenant publicou o livro 88 Reasons Why the Rapture


Will Be in 1988. World Bible Society, Nashville. Indicava oitenta e oito
razdes para se crer que o arrebatamento dos justos destinados a escapar
das catástrofes fináis se daría em 1988. Em 1980 haviam sido vendidos
4.500.000 exemplares dessa obra. A data foi deslocada para 1989 pelo
próprio Whisenant, que posteriormente admitiu possíveis atrasos até 1993;
todavía sempre frustradamente...

Na Coréia o protestante Lee Jang Rim predisse, com enorme aceita-


cáo por parte do público, o fim do mundo para 28 de outubro de 1992; o
movímento fundamentalista seguidor dessa "profecía" espalhou-se pelos
Estados Unidos, a Asia, a Australia e parte da Europa... Tendo-se compro-
vado a nulidade das predic5es, o movimento arrefeceu, de mais a mais
que outro autor milenarista, B. J. Oropeza, escreveu em 1994 a obra 99
Reasons Why No One Knows When Christ Will Return (99 Razoes
pelas quais ninguém sabe quando Cristo há de voltar), ínter Varsity Press,
Downers Grave (Illinois) 1994.

Pode-se citar outrossim Harold Camping, talvez o mais notável pre-


gador radiofónico dos Estados Unidos, que previu para 1994 o arrebata
mento dos justos para longe da Térra. Findo o ano de 1994, os opositores
(mesmo protestantes milenaristas) da profecía puseram-se a imaginar,
em seus escritos, o estado de ánimo dos milhoes de protestantes america
nos e europeus que deram crédito a Harold Camping; cf. Robert Sungenis,
Scott Temple e David Alien Lewis: Schock Wave 2000: The Harold Cam
ping 1994 Debacle. New Leaf Press. Green Forest (Arkansas) 1994.

Apesar do fracasso das "profecías" até agora propostas, continuam


varios pregadores a predizer o fim dos tempos, fixando-se no ano 2000.0
nome mais condecido, dentre os mensageiros da televisáo norte-america
na, é o de Jack Van Impe. Outros arautos sao ainda Robert Van Kampen,
Marvin Byers (que prega principalmente na Guatemala, onde se deu vulto-
so avango do protestantismo), Pat Robertson (protagonista da nova direita
religiosa norte-americana). O Tratado de Maastricht e o surto da Uniáo
Eurapéia sao considerados, na perspectiva dos "profetas", como o retorno

535
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 415/1996

do Imperio Romano em chave apocalíptica. Durante a guerra do Golfo,


Saddam Hussein foi identificado como o Anticristo por milhóes de norte
americanos. Ted Daniels, membro da American Academy of Religión, con-
tou mais de quinhentos centros que difundem a idéia de que o fim do mun
do ocorrerá no ano 2000.

4. FIM DO MUNDO: QUE DIZER?

Em meio ao pulular de prognósticos referentes ao fim do mundo, pro-


postos por individuos e grupos através dos séculos, tres observares im-
póem-se a quem deseje refletir serenamente sobre o assunto:

1) A previsáo de próximo fim do mundo parece provir de urna neces-


sidade, talvez inconsciente, que os homens experimentam de prever urna
saída para os momentos de crise da historia. E, como a crise é quase
permanente (guerras, fome, peste, catástrofes acompanham a historia da
humanidade), em quase todas as épocas houve quem "profetizasse" a
solucao drástica de fim dos tempos. Em nossos días, no fim de um mile
nio, ingrato ou inclemente para muitos povos flagelados pela guerra, pela
fome, pela AIDS..., a expectativa de um fim iminente é intensificada; para
tanto conconretambém pujantemente a acao da imprensa escrita, falada e
televisionada, capaz de dar a qualquer rumor e qualquer noticia urna re-
percussao mundial. A complexidade da vida contemporánea, totalmente
inédita na historia da humanidade, explica que, mais do que nunca, as
"profecías" se cruzem, se associem, se multipliquem, envolvendo pretensas
revelacoes religiosas, que muitas vezes nao sao mais do que a expressao
da fantasía dos "videntes".

2) A Igreja Católica é sobria em relacáo a tais prognósticos. Ela só se


op5e aos dizeres que firam, de algum modo, as verdades da fé; fica, pois,
a criterio de cada fiel católico dar crédito ou n§o ás "profecías" modernas;
é para desejar, porém, que cada qual exerca sadio senso crítico para dis
tinguir de auténticas mensagens as varias expressóes da imaginacáo hu
mana excitada pelos acontecimentos contemporáneos.

3) Quanto ao milenarismo em particular, sabe-se que foi professado


por antigos escritores da Igreja, como Sao Justino (t 165), S. Ireneu (t 202),
Tertuliano (t após 220), Latáncio (t após 317), S. Metódio de Olimpo (j 311).
Todavia a partir de S. Agostinho (f 430) a interpretado milenarista de Ap
20 caiu em total desuso, cedendo á explicacáo que vai, a seguir, proposta.

5. O MILENARISMO OU QUILIASMO: QUE DIZER?

A teoría do milenarismo ou quiliasmo1 funda-se sobre o texto de Ap


20,1-21,2. Esta passagem, no inicio da era crista, foi por vezes interpreta-
1 Quiliasmo vem do grego chilioi = mil.

536
EXPECTATIVAS DE FIM DO MUNDO E MILENARISMO 9

da á luz de concepcóes judaicas. Ora os profetas no Antigo Testamento


propuseram a vinda do Messias como inicio de urna era de grande pros-
peridade para Israel; cf. Is 9,1-6; 11,1-9; 54,2s; 60,1-22; Ez 40,1-48,35; Dn
7,1-28; 12,1-13. Os escritores judaicos subseqüentes, autores de livros
apócrifos, deram colorido muito vivo a tais vaticinios; descreveram o rei
nado do Messias como período de abundancia e felicidade material neste
mundo; os homens viveriam um número de anos maior do que a cifra de
seus dias de outrora: "Nao haverá mais anciáo que nao seja saciado de
días; o menino morrerá com cem anos"(ls 65,20). Enquanto alguns judeus
identificavam esse bem-estar terrestre com a bem-aventuranca definitiva
do homem, outros assinalavam-lhe um termo após o qual se dariam o
juizo final e a consumacáo de todas as coisas. A duracáo do reino
messiánico assim concebido era, n3o raro, calculada em funcao dos sete
dias em que se julgava ter sido criado o mundo: a historia anterior ao Mes
sias se estenderia por 6.000 anos; o sétimo milenio seria o período do
reino messiánico, em que os justos neste mundo gozariam de repouso e
bem-estar, paralelos ao repouso de Deus após a obra de criacáo. Termi
nados os sete milenios, dar-se-ia finalmente a entrada de cada criatura no
seu estado definitivo. Eis o sistema escatológico que, na base de Ap 20,
construiram os milenaristas cristáos antigos:

1) segunda vinda de Cristo (em gloria e majestade);


2) primeira ressurreicao (para os justos apenas);
3) juízo universal;

4) reino messiánico de mil anos, ou milenario;

5) ressurreicáo segunda ou geral (para os demais homens);


6) juízo final;

7) premio ou sancáo definitiva.

A primeira ressurreicao será concedida únicamente aos justos. Res-


suscitados, estes se assentaráo com Cristo como assessores no juízo que
logo a seguir se efetuará. Este é dito universal porque seráo julgados os
povos como coletividades, nao os individuos de per si. Após tal solene
julgamento, inaugurar-se-á urna fase de mil anos ou mais; Satanás estan
do impedido de exercer sua acáo nociva, os justos ressuscitados reinarao
com Cristo na cidade de Jerusalém, renovada e gloriosa, gozando de toda
bonanca; em torno deles, no restante do mundo, viveráo os homens ainda
nao ressuscitados, usufruindo de melhores condicóes de vida do que nos
tempos anteriores á segunda vinda de Cristo. Terminado tal período, Sata
nás moverá a derradeira perseguido contra o reino de Cristo, e será defi
nitivamente prostrado. Dar-se-á entáo a ressurreicáo segunda, a dos

537
1° 'PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 415/1996

homens que nao tiverem tomado parte na primeira, e proceder-se-á ao


juízo final, juízo de cada individuo em particular, juízo em que Cristo n§o
terá assessores, mas examinará tanto os pecadores como os justos. Este
julgamento final é também dito juízo dos morios, enquanto o anterior (o
universal) é chamado, outrossim, o juízo dos vivos1. Eis os traeos carac
terísticos do Quiliasmo; nem todos os pontos do sistema s§o devidamente
esclarecidos pelos seus fautores: nao indicam, porexemplo, que tipo de rela-
coes teráo entre si os homens ressuscitados e os nao ressuscitados; como
poderá o exército diabólico fazer a guerra ao reino de Cristo glorioso, etc.
O sistema apresenta-se sob duas modalidades:

a) o Milenarismo grosselro, que faz consistir a bem-aventuranca do


reino terrestre de Cristo nos prazeres da carne: uso e abuso do matrimo
nio, da comida e da bebida... Esta forma foi propalada por gnósticos heré
ticos no séc. II d.C. e mereceu a condenac§o unánime dos Padres e Dou-
tores da Igreja. Depois de ter caído em esquecimento a partir do séc. III, a
teoría foi ressuscitada pelos ¡novadores religiosos do séc. XVI e por deno-
minagóes protestantes modernas, que Ihe d§o um colorido atual;

b) o Milenarismo espiritual ou mitigado, que concebe a felicidade


em termos mais dignos; afirma que os justos, após a ressurreic§o primei
ra, já nao se casarSo nem seráo sujeitos á fome ou á dor, segundo o que
diz Jesús em Le 20,35.

Nos primeiros séculos, como dito, o Milenarismo era doutrina profes-


sada por varios Padres e escritores da Igreja2. Sto. Agostinho, depois de
Ihe ter aderido em seus primeiros escritos, propós novo modo de entender
Ap 20, excluindo o reino milenario3. A autoridade do Santo Doutor fez com
que o sistema caísse em descrédito na sé tradicio crista; defenderam-no,
porém, na Idade Media, escritores "iluminados", fanáticos, e ainda o pro-
fessavam recentemente alguns estudiosos católicos. Estes reivindicam
para a sua doutrina o nome de Milenismo, a fim de serem devidamente
diferenciados do Milenarismo crasso, erróneo.

1 É distínguindo assim que os milenaristas interpretam a fórmula das Escrituras (2Tm


4,1; At 10,42; 1Pd 4,5) e do Símbolo de fé: Cristo há de virjulgaros vivos e os morios.
2 Urna das expressoes mais fortes da mentalidade milenarísta tem-se, por exemplo,
na seguinte descricSo que. do reino terrestre de Cristo, dá Papias (f cerca de 130):
"Víreo dias em que as videiras crescerSo, tendo cada qual dez mil ramos; de cada
ramo sairáo dez mil varas; de cada vara, dez mil rebentos; de cada rebento, dez mil
cachos; em cada cacho, haverá dez mil bagos; e cada bago esprimido dará vinte e
cinco medidas de vinho. E, quando algum dos santos colherum cacho, outro clamará:
Sou cacho de melhorqualidade; toma a mim; pormim bendize ao Senhor. Da mesma
forma, o grao de trigo...' (Na obra de Sto. Irineu. Adversus haereses 5,33)
3 Cf. De civitate Dei 20,7-9. Ver subtitulo 6 deste artigo.

538
EXPECTATIVAS DE FIM DO MUNDO E MILENARISMO 11

O Magisterio da Igreja, embora nao tenha formalmente condenado o


Milenarismo, é-lhe francamente desfavorável. Com efeito, há alguns de
cenios, foi apresentada ao Santo Offcio a seguinte questáo:

"Que pensardo sistema dito 'Milenarísmo mitigado', o qualensina que


o Cristo Senhor, antes dojuízo final, há de vira Tena para reinarvisivel-
mente, querse admita, quernáo, a ressurreigáo previa de muitos justos?"
Ao que a Santa Sé respondeu em 19/07/1944:

"O sistema dito 'Milenarismo mitigado' neo pode ser ensinado sem
perigo para a fé. - Systema millennarismi mitigati tuto doceri non potest. "■
Com efeito, nao se vé como conciliar o Milenarismo com a doutrina
geral da Sagrada Escritura e dos símbolos de fé, que associam a segunda
vinda de Cristo com o juízo final e a inauguracáo de estados definitivos,
sem que fique margem para um reino de Cristo intermediario entre o juizó
universal e o final, entre o jufzo dos vivos e o dos mortos.2

O último pronunciamento do magisterio da Igreja sobre o assunto


encontra-se no Catecismo da Igreja Católica. Com efeito; no § 676 o
milenarismo é tido como falsifícacáo do Reino de Deus:

"A impostura religiosa suprema é a do Anticristo, isto é, a de um


pseudomessianismo em que o homem se glorifica a simesmo em lugarde
Deus e do seu Messias que veio na carne

Esta impostura anticrística já se esboga no mundo toda vez que se


pretende realizar na historia a espenanga messiánica, que só pode reali
zarse para além déla através dojuízo escatológico: mesmo na sua forma
mitigada, a Igreja rejeitou esta falsificagáo do Reino vindouro sob o nome
de milenarismo1™, sobretudo sob a fonva política de um messianismo se
cularizado, 'intrínsecamente perverso'1069'.

A forma política do messianismo secularizado "intrínsecamente per


verso" é o comunismo, segundo a nota n° 1069 do texto ácima: esta nota
de rodapé faz referencia á encíclica de Pió XI Divlni Redemptoris, que

1 Acta Apostolicae Sedis 36 (1944) 212. Cf. G. Gilleman. Condamnatíon du millo-


narisme mitígé, em"Nouvelle Revue Théologique" (1945) 239.
1 Basta lembrar as palavras de Jesús:
"O Filho do homem há de virria gloria de Seu Pai com os anjos, e retribuirá a cada um
conforme as suas obras" (Mt 16,27).
S. Pedro também é claro:
"Os céus devem recebar (o Messias, Jesús) até o momento da restauragáo de todas
as coisas, de que Deus falou pela boca de seus santos profetas" (At 3,21).
A volta do Senhor e a consumagáo de todas as criaturas sao ¡mediatamente associa-
das entre si nestes dois textos.

539
I? TERGUNTE E RESPONDEREMOS' 415/1996

condena "o falso misticismo" dessa "contrafacáo da redencáo dos humil


des" apregoada pelo comunismo "intrínsecamente (ou em si mesmo) mau".
A nota 1068 do texto atrás transcrito menciona a explícita rejeicáo do
milenarismo que se deu em 19/07/1944.

Como se vé, o Catecismo interpreta a resposta do S. Oficio em sen


tido extremado, como sendo a condenagáo de urna "falsificacáo do Reino
de Deus" - o que bem mostra que a Igreja Católica é alheía a qualquer
forma de milenarismo.

6. COMO ENTENDER AP 20?

Após S. Agostinho (t 430), a interpretacáo mais comum dada a Ap 20


é a seguinte:

Considera-se tal texto á luz de um paralelo encontrado em outra obra


de S. Joáo (autor do Apocalipse) e que é Jo 5,25.28.29:

"2S Em verdade, em verdade vos digo: vem a hora -eé agora - em


que os morios ouvirSo a voz do Filho de Deus, e os que a ouvirem, vivetéo...

28 Nao vos admiréis poristo: vem a hora em que todos os que repou-
sam nos sepulcros, ouvirao a voz29 e sairSo; os que tiverem feto o bem
para urna ressumeigao de vida; os que tiverem cometido o mal, para urna
ressuneigáo dejulgamento".

Como se vé, S. Joáo fala ai de duas ressurreicóes. como também em


Ap ¿u.

A primeira ressurreicáo dá-se agora (v. 25), ao passo que a outra nao
ocorre agora (v. 28).

Como entender essas duas ressurreicSes?

- A primeira é sacramental; é a passagem da morte espiritual para a


vida espiritual crista mediante o Batismo; ésta se dá agora, ¡sto é, no de-
correr da historia da Igreja. A outra será a ressurreicáo corporal, que ocor-
rerá no fim dos tempos, consumando a ressurreisáo sacramental.
Ora a primeira ressurreicáo, de que fala Ap 20,5 vem a ser a primeira
ressurreicáo de Jo 5,25; é a Batismal. A segunda ressurreicáo (implícita
mente mencionada em Ap 20,13) identifica-se com a ressurreicáo corpo
ral a que se refere Jo 5,28. - Entre a ressurreicáo batismal, que ocorre em
cada bateado, e a ressurreicáo corporal, o Apostólo coloca um reino de
Cristo milenar sobre a térra, estando Satanás acontentado. Esse milenio
significa o tempo da Igreja (que vai para 2000 anos!) na medida em que é
um tempo penetrado pela Vitoria de Cristo sobre o pecado (mil tem um
540
EXPECTATIVAS DE FIM DO MUNDO E MILENARISMO 13

simbolismo de bonanca); Satanás é, conforme S. Agostinho, um cao


acorrentado, que pode ladrar, mas nao pode morder senáo a quem se Ihe
chega perto.

No fím dos mil anos de Ap 20,7, ou seja, no fim da historia da Igreja,


dar-se-á o assalto final de Satanás contra os membros da Igreja, a fim de
arrebatá-los para o mal. Mas o Senhor Jesús vira na sua gloria e os mor-
tos ressuscitaráo (ressurreicáo segunda) para o juízo universal. A segun
da morte, de que fala Ap 20,6, é a morte espiritual ou a ruina definitiva no
inferno.

Eis esquemáticamente o paralelismo:

Jo 5,25: Jo 5,28:
ressurreicáo 1a « > ressurreicáo 2a

1000 anos de reinado de Cristo sobre a térra


(o penhor da vida eterna nos foi dado; Ef 1,14)

Ap20,5: Ap 20,13:
ressurreicáo. 1a < > ressurreicáo 2a

Tal paralelismo e a interpretado que dele fazem os teólogos, nao


surpreendem a quem conhece o estilo simbolista de Sao Joáo. - Verdade
é que o recurso a simbolismo pode ser, muitas vezes, arbitrario e precon
cebido. No caso presente, porém, tem respaldo no linguajar mesmo do
Apocalipse e do Evangelho segundo Sao Joáo.

Por conseguinte, carecem de fundamento sólido as férvidas expecta


tivas de próxima vinda de Cristo á térra para instaurar um reino milenar de
paz e bonanca.

Estas ponderacoes sejam suficientes para projetar luz sobre o ema-


ranhado de prognósticos hoje correntes e sugerir ao fiel católico paz e
confianca. O S. Padre Joáo Paulo II, longe de prever catástrofes, progra-
mou para os próximos anos intensa preparacáo a fim de se celebrar com
ánimo renovado o grande jubileu do ano 2000. Na verdade, o que importa
a todo cristáo neste momento, é mais e mais converter-se ás verdades do
Evangelho e cultivar urna coeréncia de vida que seja testemunho lúcido
para o mundo angustiado de nossos dias. Ver a propósito as pp. 544-6
deste fascículo.

Os dados deste artigo se devem á obra de Massimo Introvigne: Mille


e non piú Mille. Gribaudi, Miláo 1995.0 autor apresenta ampia bibliogra
fía que fundamenta suas afirmacoes e que, em parte, transcrevemos em
nossa explanacáo a fim de Ihe dar toda a possível solidez.

541
Questáo Vital:

COMO EVANGELIZAR EM NOSSOS DÍAS?

Em síntese: A pergunta deste artigo pode-se responder observando


que o homem de hoje neto eré fácilmente nos mestres, mas aceita mais
prontamente as testemunhas que, porseu teorde vida, chamam sadia-
mente a atengSo. Dai a importancia da vivencia do Evangeiho coerente e
plenamente fiel; esta despertará a curíosidade dos observadores, que se
¡nteressarao pelo segredo da conduta de "flortáo rara' quanto é a pessoa
sincera e corajosa em suas atitudes. A tal curíosidade o fiel católico há de
responder anunciando Jesús Cristo em toda a riqueza de sua Pessoa e de
sua obra, selada pelo fato da ressurreigáo dente os mortos,... ressurrei-
gao que é o seto colocado pelo Pai a fím de autenticaras declaragóes de
Jesús, que disse sero Messias e Salvador, Deus feito homem para salvar
os homens.
* * *

No mundo de hoje sao tantas as proposicóes arreligiosas e religi


osas que muitos cidadáos se fecham a elas num certo ceticismo. "Que
é a verdade?", repetem com Pilatos (cf. Jo 10,38). Tal situacáo nao
deve levar o católico, encarregado por Jesús de ser arauto da fé (cf. Mt
28,18-20), ao desánimo e ao cansaco. Os Papas Paulo VI e Jo3o Pau
lo II tém-se manifestado enfáticamente sobre o dever missionário que
toca a todo fiel católico; tenham-se em vista a Exortacáo Apostólica
Evangelii Nuntiandi (1975) de Paulo VI e a encíclica Redemptoris
Missio de Joáo Paulo II (1990). Eis por que os teólogos procuram apon-
tar vias oportunas (n§o propriamente novas) que falem significativa
mente ao homem de hoje. Este é certamente inquieto e sequioso de
respostas, como atesta o pulular de novos movimentos filosóficos e
religiosos de nossos dias. Procura-se, porém, como fazer chegar a
resposta do Evangeiho ao homem "bombardeado" por tantas mensa-
gens "místicas" disseminadas pelos jomáis, as revistas, o radio e a
televisáo.

Antes de propor urna via muito recomendável para a evangelizacáo


do mundo contemporáneo, parece oportuno fazer breve levantamento do
problema.

542
COMO EVANGELIZAR EM NOSSOS DÍAS? 15

1. O PROBLEMA RELIGIOSO

Quem considera o panorama religioso de nossas sociedades ociden-


tais, n§o pode deixar de ficar perplexo ante o fato de que, numa época táo
impregnada de ciencia e tecnología, milhares e milhares de pessoas nao
so no Brasil, mas também nos Estados Unidos e na Europa, nio só ñas
classes mais modestas, mas também ñas classes cultas, déem sua ade-
s3o a mensagens religiosas que nao ocultam seu caráter fantasioso ou
mesmo irracional. Tenham-se em vista, por exemplo, os seguintes casos:

1) Muitos cidadáos de classe media dáo fé ao Livro de Mórmon e


dispóem-se a jurar que esse texto religioso foi traduzido no século XIX por
Joseph Smith (1805-1844); este mestre terá lido em placas de ouro urna
historia redigida em "língua egipcia reformada" por um reí chamado
Mórmon, que explicava, entre outras coisas, o povoamento da América
por urna tribo (dita de Jered), que terá emigrado da Asia para a América
após a confusao das Ifnguas em Babel. Joseph Smith, guiado pelo anjo
Moroni, encontrou essas placas dentro de urna árvore da colina de Cumorah
(Estado de Nova lorque); haverá decifrado o seu conteúdo sob a orienta-'
cao do anjo e, terminada a traducSo para o inglés, terá deixado que o anjo
Ihe subtralsse as tábuas; ninguém as viu senáo Joseph Smith!

2) Como explicar que milhóes de pessoas acreditam que Deus guia a


sua vida mediante a teologia da Torre de Vigía, órgáo oficial das Testemu-
nhas de Jeová? Baseiam-se em cálculos que pretendem datar a segunda
vinda de Cristo segundo a Biblia,... cálculos, porém, que tém sido refeitos
algumas vezes porque até hoje desmentidos pela experiencia. A alteracSo
dos cálculos implica alteracáo do próprio corpo de doutrinas das Téstemu-
nhas de Jeová.

3) Como entender que milhares e milhares de pessoas sigam as "re-


ligióes ufológicas" fundadas sobre mensagens transmitidas por seres ex
tra-terrestres, que aterrissam em discos voadores e se comunicam mara-
vilhosamente com os homens da Térra, levando-os mesmo a viajar pelos
ares?

Em resposta, teceremos as seguintes considerares.

2. O VALOR DO TESTEMUNHO DE VIDA

O homem de hoje parece, em muitos casos, insensfvel á verdade


religiosa. Isto se deve ao fato de que a religiáo, desde o século passado
(ver Fr. Schleiermacher e a corrente pietista protestante) é considerada
urna questao de sentimento (sentimento pessoal e subjetivo) mais do que

543
16 TERGUNTE E RESPONDEREMOS" 415/1996

de raciocinio coerente; a fé sería mais ou menos cega, contanto que fosse


a adesáo a um Ser Superior, concebido ao arbitrio do crente. Para tanto
concorrem também a rejeicáo da Metafísica proposta por algumas esco
las filosóficas dos séculos XIX e XX; sem Metafísica o homem renuncia ao
acesso lógico a Deus e se confina nos afetos do seu coracáo.

Ora estes dados influenciam, consciente ou inconscientemente, o


homem contemporáneo, que talvez mais se impressione com o testemu-
nho de vida do que com a mensagem oral do arauto religioso. É o que o
Papa Paulo VI observava em sua Exortacáo Apostólica Evangelii
Nuntiand¡n°41:

"E antes de mais nada... é conveniente melgar isto: para a Igreja, o


testemunho de urna vida auténticamente crista, entregue ñas maos de Deus,
numa comunháo que nada deverá interromper, e dedicada ao próximo com
um zelo sem limites, é o prímeiro meto de evangelizagáo. 'O homem con
temporáneo escuta com melhorboa vontade as testemunhas do que os
mestres—dizlamos aínda recentemente a um grupo de leigos - ou entáo se
escuta os mestres, é porque eles sao testemunhas'. Sao Pedro exprimía
isto mesmo muño bem, quando ele evocava o espetáculo de urna vida pura
e respeitável, 'para que, se alguns nao obedecem á Palavra, venham a ser
conquistados sem palavras, pelo procedimento'. Serápois, pelo seu com-
portamento, pela sua vida, que a Igreja hé-de, antes de mais nada, evan
gelizar este mundo; ou seja, pelo seu testemunho vivido com fidelidade ao
Senhor Jesús, testemunho de pobreza, de desapego e de liberdade frente
aos pobres deste mundo, numa palavra, testemunho de santidade."

Em outra passagem diz o mesmo Papa:

"E esta Boa Nova há-de serproclamada, antes de mais, pelo testemu
nho. Suponhamos um cristao ou punhado de cristaos que, no seto da co-
munidade humana em que vivem, manifestam a sua capacidade de com-
preensáo e de acolhimento, a sua comunháo de vida e de destino com os
demais, a sua solidariedade nos esforgos de todos para tudo aquilo que é
nobre e bom. Assim, eles irradiara, dum modo absolutamente simples e
espontáneo, a sua fé em valores que estéo para além dos valores corren-
tes, e a sua esperanga em qualquercoisa que se nao vé e que nao se seria
capaz sequerde imaginar. Porforga deste testemunho sem palavras, es
tes cristaos fazem aflorarno coragáo daqueles que os véem viver, pergun-
tas indeclináveis: porque ó que eles sao assim? Porque é que eles vivem
daquela maneira? O que é-ou quem é - que os inspira? Por que é que
eles estáo conosco?

Pois bem: um semelhante testemunho constituíjá proclamagáo silen


ciosa, mas muHo valorosa e eficaz da Boa Nova. Nisso há já um gesto

544
COMO EVANGELIZAR EM NOSSOS DÍAS? 17

inicial de evangelizagáo. Daí as perguntas que talvez sejam as prímeiras


que se póem muitos nSo-cristáos, querse trate de pessoas ás quais Cristo
nunca tinha sido anunciado, ou de batizados nao praticantes, ou de pes
soas que vivem em crístandades, mas segundo principios que nSo sSo
nada cristSos, quer se trate, enfim, de pessoas em atitude de procurar,
nSo sem sofrimento, alguma coisa ou alguém que elas adivinham, sem
conseguir dar-lhe o verdadeiro nome. E outras perguntas surgiráo, de-
pois, mais profundas e mais de molde a ditarum compromisso, provocadas
pelo testemunho aludido, que comporta presenga, participagSo e solidari-
edade e queé um elemento essencial, geralmente o primeiro de todos, na
evangelizagáo.

Todos os cristSos sao chamados a dareste testemunho e podem ser,


sob este aspecto, verdadeiros evangelizadores. Eaquí pensamos de modo
especial na responsabilidade que se origina para os migrantes nos países
que os recebem" (n' 21).

Joáo Paulo II retomou as mesmas idéias na sua encíclica Redemp-


toris Missio n° 90:

"O chamado á missao deriva, porsua natureza, da vocagáo á santida-


de. Todo missionário só o é, auténticamente, se se empenharno caminho
da santidade: a santidade deve ser considerada um pressuposto funda
mental e urna condigno totalmente insubstituívelpara se realizara missao
de salvagáo da Igreja.

A universal vocagáo á santidade está estritamente ligada á universal


vocagáo á missSo: todo fiel é chamado á santidade e á missSo. Este foio
voto árdante do Concilio ao desejar, 'com a luz de Cristo refíetida no rosto
da Igreja, iluminar todos os homens, anunciando o Evangelho a toda a
criatura'. A espiritualidade missionária da Igreja é um caminho orientado
para a santidade.

O renovado impulso para a missSo ad gentes exige missionários san


tos. NSo basta explorar, com maior perspicacia, as bases teológicas e bí
blicas da fé, nem renovaros métodos pastorais, nem ainda organizare
coordenar melhor as forgas eclesiais: ó preciso suscitar um novo ardor de
santidade entre os missionários e em toda a comunidade crista, especial
mente entre aqueles que sSo os colaboradores mais íntimos dos missioná
rios.

Pensemos, cams irmáos e innSs, no impulso missionário das primiti


vas comunidades cristas. Nao obstante a escassez de meios de transporte
e de comunicagáo de entSo, o anuncio do Evangelho atingiu, em pouco
tempo, os confins do mundo. E tratava-se da religiáo de um Homem morto

545
18 -PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 415/1996

na cruz, 'escándalo para osjudeus e loucura para os pagaos' (1 Cor 1,23)!


Na base deste dinamismo missionário estava a santidade dos prímeiros
crístaos e das prímeiras comunidades".

Por certo, as palavras dos dois Papas nao querem negar o valor da
pregacao oral e da catequese. Apenas verificam que, muitas vezes, o pr¡-
meiro passo a fim de chamar a atengáo para a verdade do Evangelho nao
é o anuncio mesmo do Evangelho, mas é o testemunho de vida do mensa-
geiro. Este suscita questóes básicas, que se impdem a urna sadia curiosi-
dade dos observadores: "Qual o teu segredo íntimo? Qual a mola propul
sora de tua vida reta e honesta? Que misterio trazes em ti?".

A resposta do cristáo há de ser a apresentacao de Jesús Cristo, o


Mestre que ensina os seus discípulos a viver urna vida corajosamente
coerente.

3. COMO IDENTIFICAR JESÚS CRISTO?

E como se apresenta Jesús nos Evangelhos? Que impressóes cau-


sou aos seus ouvintes? Quem era Ele para provocar o impacto que os
discípulos experimentaram? ... discípulos que fugiram quando O viram
preso por seus adversarios, mas que se recuperaram quando O contem-
plaram vivo depois de morto (Tomé incrédulo acabou crendo porque apal-
pou as chagas do seu Senhor).

Esse Jesús, dizem as testemunhas que O viram e acompanharam,


era tido pelas multidoes como figura única, Pessoa diante de quem era
preciso tomar posicáo. Assim exclamavam:

"Eis urna doutrina nova, ensinada com autorídade!"(Me 1,27);

"Nunca um homem falou como este!" (Jo 7,46);

Todos davam testemunho e fícavam maravilhados pelas palavras


cheias de graga que saiam da sua boca" (Le 4,22).

"Senhor, a quem iremos? Tu tens palavras de vida eterna" (Jo 6,68).

Esse Jesús era reconhecido como figura extraordinaria por aqueles


que se aproximavam dele. A adesáo dos discípulos a Cristo se fazia após
terem visto... como insinúa repetidamente o Evangelho:

"Vinde e vede", disse Jesús aos seus prímeiros discípulos, que se


puseram a seu sen/ico "depois de haverem permanecido com Ele naquele
dia"(cf. Jo 1,39).

546
COMO EVANGELIZAR EM NOSSOS DÍAS? 19

Filipe disse a Natanael: "Vem e vé" (Jo 1,46).

A mulher samaritana fez algo de semelhante em relacáo aos seus


conterráneos, que acabaram exclamando: "Já nao é por causa do que
disseste que eremos. Nos próprios O ouvimos, e sabemos que esse é
verdaderamente o Salvador do mundo" (Jo 4,42).

O Evangelho de Sao Joáo insiste em mostrar que o acesso á fé se


abre quando alguém aceita que os fatos o interpelem, e acolhe o testemu-
nho de outrem. O testemunho fala de acontecimentos e, em última análi-
se, atesta as pessoas protagonistas desses fatos. No caso da fé crista, é a
pessoa de Jesús Cristo que vem posta em relevo. A fé nasce quando
alguém se encontra com Jesús de Nazaré ou quando se detém junto a Ele.

Dois mil anos após Jesús, o nosso encontró com Cristo se dá através
da mediacáo de testemunhas. Há as testemunhas da primeira hora, das
quais nos fala o Evangelho. E há o testemunho das geracoes seguintes
(contando numerosos mártires, heróis e heroínas de todo tipo), que cons-
tituem a Tradicáo ou a transmissáo oral e escrita da mensagem de Jesús
Cristo; essas testemunhas de vinte'séculos falam através da Igreja de
hoje, que eré e, por sua vez, dá testemunho; a Igreja de hoje remete á
Igreja do passado e esta, por sua vez, remete á Pessoa de Jesús Cristo,
que foi contemplado, acompanhado, julgado com fé titubeante até tornar
se a fé dos Apostólos e dos mártires. Muito sabiamente dizia a jovem
Yavy, que se converteu do budismo ao Catolicismo: os seus criterios ¡me
diatos para avaliar a mensagem crista foi o das testemunhas; o juiz, que
nao presenciou o crime, acredita nos fatos e julga-os na base dos teste-
munhos de pessoas credenciadas. Assim também o homem de hoje, de-
sejoso de avaliar a mensagem crista, recorre aos testemunhos deixádos
por Joao, Paulo, Francisco de Assis, Joáo Bosco, Teresa de Ávila, Teresa
de Lisieux... Ver p. 561 deste fascículo.

A nogáo que tais testemunhas transmitem é bem aquela que o Con


cilio do Vaticano II enuncia na sua Constituicao Dei Verbum n" 4. Jesús
"revela aos homens os segredos de Deus" e os encaminha, mediante a
sua morte e ressurreigio, para a vida eterna:

"Depois de terfalado muitas vezes e de muitos modos pelos Profetas,


Deus ¡.¡"últimamente, nestes dias, falou-nos pelo FHhon(Heb 1,1-2). Com
efeito, Ele enviou Seu Filho, o Verbo eterno que ilumina todos os homens,
para que habitasse entre os homens e Ihes expusesse os segredos dé
Deus (cf. Jo 1,1-18). Jesús Cristo, portanto, Verbo feito carne, enviado
como "homem aos homens" "profere as palavras de Deus" (Jo 3,34) e con
suma a obra salvífíca que o Pailhe confiou (cf. Jo 5,36; 17,4). Bs porque

547
20 'PERGUNTE E RESPONDEREMOS' 415/1996

Be, ao qual quem vé, vé também o Pai (cf. Jo 14,9), pela total presenga e
manifestagao de Si mesmo porpalavras e obras, sinais e milagr&s, e espe
cialmente porSua morte e gloriosa mssumeigáo dentre os mortos, enviado
finalmente o Espirito de verdade, aperfeigoa e completa a revelagáo e a
confimna com o testemunho divino de que Deus está conosco para libertar
nos das trevas do pecado e da morte e para ressuscitar-nos para a vida
eterna" (rí° 4).

Dentre todos os aspectos da vida e da obra terrestre de Cristo, o mais


importante é, sem dúvida, a ressurreicSo do Senhor. Esta é o sinete colo
cado pelo Pai sobre a pregacáo de Jesús e sobre as suas declaragóes
messiánicas; demonstra a veracidade de quanto Jesús disse a respeito de
Si mesmo como Messias e Filho de Deus, a respeito do Pai e a respeito do
designio salvífico do Pai. Nenhum profeta ressuscitou, nenhum pretenso
mensageiro de Deus recebeu a cháncela da ressurreicáo, que somente
Deus pode dar. Este tema voltará em breve a ser abordado. - Impde-se,
por ora, urna observacao.

4. JESÚS E O ANTROPOCENTRISMO

Em nossos dias, a grandeza nobre e impressionante de Jesús Cristo


é, por muitos, reduzida a um mero predicado ou adjetivo que serve para
qualificar e melhorar o substantivo homem. Com efeito; o homem parece
mais importante do que o próprio Jesús Cristo. Este, em muitos casos,
nao é considerado em si, em sua identidade absoluta, mas táo somente
em funcáo do homem.

Este modo de pensar tem suas raizes próximas em Fr. Schleiermacher


(t 1834), já citado á p. 543 deste fascículo. Tal autor protestante se opunha
ao racionalismo, que, mesmo entre os protestantes, esvaziava a religiáo
(tenha-se em vista especialmente Immanuel Kant, f 1804). Desejoso de
restaurar o valor da religiao, Schleiermacher a propós como um sentimen-
to pessoal, mas sentimento meramente subjetivo e cegó; segundo Schlei
ermacher, anunciar Deus sería anunciar a piedade própria do arauto; Je
sús sería apenas o símbolo das verdades referentes a Deus e ao homem
que o individuo encontra na sua consciéncia Intima; Schleiermacher as-
sim renunciava a proclamar Jesús como Deus e Homem, para o conside
rar como mero prototipo do "homem religioso". Desta maneira Cristo se
toma predicado relativo ao homem, que é o sujeito. Elimina-se a teología
como aprofundamento das verdades da fé para cultivar urna "teología da
autoconsciéncia do homem".

Em nossos dias já quase n§o se fala de Schleiermacher, principal


mente nos países latino-americanos; mas permanece a tendencia a ver

548
COMO EVANGELIZAR EM NOSSOS DÍAS? 21

na religláo um servico ou "Pronto Socorro" devotado ao homem; este vai


ao templo para resolver seus problemas de saúde, de matrimonio de fa
milia, de trabalho...

Ora, ao falarmos de Jesús Cristo como testemunha e Revelador do


Pai ou como figura inédita em toda a historia da humanidade, tencionamos
realcar, antes do mais, o seu aspecto transcendental de Deus feito Ho
mem, imagem do Pai ou do Deus invisível (cf. Cl 1,15). Precisamente
porque Ele é táo nobre e digno, o homem encontra nele a resposta ás suas
aspiracóes mais profundas e o cultua como Kyrios ou Senhor da historia,
apresentado majestosamente em Ap 5,1-14; a liturgia celeste é continua
da pelos homens na Térra, que se associam ao coro dos justos para can
tar: "Digno é o Cordeiro imolado de receber o poder, a riqueza, a sabedo-
ria, a forca, a honra, a gloria e o louvor" (Ap 5,12).

Aderindo a Cristo como Deus e Senhor, o homem encontra também


as gracas de que precisa para caminhar pelas estradas deste mundo; en
contra Aquele que Ihe pode dar "o pao nosso de cada día", ou seja, os dons
da saúde, do trabalho, da paz em familia e outros mais de que necessita
para chegar ao termo final de sua vocacáo na patria celeste.

Donde se vé que a auténtica Apologética nao reduz Cristo a predicado


ou a adjetivo do substantivo "homem", mas guarda a identidade de Cristo
Eixo e Centro da historia da humanidade.

Agora pergunta-se: como se pode afirmar com seguranca que Ele é


realmente Deus feito homem?... Centro da historia? Como testemunhar
com firmeza estas proposicóes?

5. A AUTENTICAQÁO DA OBRA DE JESÚS CRISTO

Jesús mais de urna vez afirmou ser mais do que mero homem, mais
do que mero Profeta. As suas afirmagoes tiveram plena confirmacao qúando
Jesús ressuscitou dos mortos, recebendo do Pai a autenticacáo de sua
missáo.

Percorramos os textos relativos a cada urna destas duas sentencas.

1. Jesús declarou mais de urna vez ter consciéncia de ser Ele


mesmo Deus

1) A consciéncia de ser Deus... A leitura dos Evangelhos evidencia


com muita clareza que Jesús tratava Deus como Abbá (cf. Me 14,36), ou
seja, como Pai em sentido muito íntimo ou em sentido único. Por isto
Ele dizia a Madalena: "Subo a meu Pai e vosso Pai" (Jo 20.17); era, pois,

549
22 TERGUNTE E RESPONDEREMOS" 415/1996
¡ntransferível a sua relacáo com o Pai, a tal ponto que Ele afirmava: "Tudo
me fo¡ entregue por meu Pai, e ninguém conhece o Filho senáo o Pai,
e ninguém conhece o Pai senáo o Filho e aquete a quem o Filho o
quiser revelar" (Mt 11,27).
Quando Pedro confessou: Tu és o Cristo (Messias), o Filho do Deus
Vivo", Jesús logo observou: "Bem-aventurado és tu, Simáo, filho de
Joñas, porque nao foram a carne e o sangue (o bom senso humano)
que to revelaram, mas o meu Pai, que está nos céus" (Mt 16,16s).
É de notar o uso enfático da expressáo "Eu sou" por parte de Jesús.
Faz eco ao "Eu sou" (Javé) com que Deus se revelou a Moisés (cf. Ex
3,14). O Eu que falava e legislava soberanamente em Jesús, tinha a mes-
ma dignidade do Eu de Javé:
Jo 8,28: "Quando «verdes elevado o Filho do Homem,
conhecereis que Eu sou".
Jo 8,57: "Em verdade, em verdade eu vos digo: antes que Abraáo
existisse, Eu sou".
Jo 13,19: "Eu vo-lo digo agora, antes que aconte$a, a fim de que,
quando acontecer, vos creáis que Eu sou".
Jo 8,24: "Se nao crerdes que Eu sou, morrereis em vossos peca
dos".
A fórmula Eu sou, além de fazer ressoar o nome de Javé revelado
em Ex 3,14-16, evoca passagens do Antigo Testamento (na traducao gre-
ga dos LXX), em que "Eu sou" significa "Eu sou Deus, o único Deus";
vejam-se •
Is 43,10: "Possais compreender que Eu sou; antes de mim ne-
nhum Deus foi formado e, depois de mim, nao haverá nenhum".
Is 41,4: "Eu, Javé, sou o prímeiro, e com os últimos ainda serei o
mesmo".
Is 48,12s: "Ouve-me, Jaco, Israel, a quem chamei: Eu sou. Sou o
primeiro e sou também o último. A minha máo fundou a térra, a mi-
nha destra estendeu os céus".
2) Autoridade de Jesús... Em conseqüéncia, a autoridade que Je
sús atribuía a si, é a do próprio Deus:
"Passarao o céu e a térra. Minhas palavras, porém. nao passa-
ráo" (Me 13,31).
550
COMO EVANGELIZAR EM NOSSOS DÍAS? 23

A atitude dos homens em relacáo a Jesús decide a salvado eterna


dos mesmos:

"Eu vos digo: todo aquele que se declarar por mim diante dos
homens, o Filho do Homem também se declarará por ele diante dos
anjos de Deus; aquele, porém, que me houver renegado diante dos
homens, será renegado diante dos anjos de Deus" (Le 12,8s- cf Me
8,38; Mt 10,32).

Para seguir Jesús, é preciso amá-Lo mais do que qualquer bem


terreno:

"Aquele que ama pai ou máe mais do que a mim, nao é digno de
mim. E aquele que ama filho ou filha mais do que a mim, nao é digno
de mim... Aquele que acha a sua vida, perdé-la-á; mas quem perde a
vida por causa de mim, a encontrará" (Mt 10,37-39).

N3o existe Mestre além de Jesús; cf. Mt 23,8.

c) Os primeiros cristáos sabiam... A Igreja nascente, desde os seus


primeiros anos, e nao em conseqüéncia de um desenvolvimento tardío,
professava Jesús como Filho do Pai, Igual ao Pai em perfeicáo; veja-se!
por exemplo, o hiño litúrgico citado por Sao Paulo na sua epístola aos
Filipenses (escrita em 63 ou antes):

"Cristo tinha a condicáo divina; mas nao considerou o ser igual


a Deus como algo a que se apegasse ciosamente. Esvaziou-se a si
mesmo, e assumiu a condicáo de servo, tornando-se semelhante aos
homens... até a morte, e morte de Cruz!" (Fl 2,6-8).

Particularmente significativas sao as "fórmulas de missáo": "Deus


enviou o seu próprio Filho" (Rm 8,3; Gl 4,4).

A filiacSo divina de Jesús está no centro da pregacSo dos Apostólos,


que a deviam entender como explicitacáo do apelativo Abbá (Pai muito
caro) que Jesús dirigía ao Pai.

2. A Ressurreicáo de Jesús é um fato real, "sinal de Joñas" (cf.


Mt 12,39s), que poe o selo de autenticacáo á sua missáo

O Novo Testamento nos diz que Jesús ressuscitou. Pode-se crer na


veracidade de tal anuncio? é o que vamos examinar, considerando os
textos que o declaram.

551
24 TERGUNTE E RESPONDEREMOS" 415/1996

2.1.1 Cor 15,3-8

0 texto mais significativo é a profissáo de fé consignada por Sao


Paulo em 1Cor 15,3-8. EMa em traducáo literal:

1 Fago-vos conhecer, irmSos, o Evangelho que vospreguei, o mesmo


que vos recebestes e no qual permanecéis firmes.2 Porele também seréis
salvos, se o conservantes tal como vó-lo preguei... a menos que na"o tenha
fundamento a vossa fé.

3 Transmiti-vos, antes de tudo, aquilo que eu mesmo recebi, a sa


ber, que Cristo morreu por nossos pecados, conforme as Escrituras,

4 e que foi sepultado

e que ressuscitou ao terceiro día conforme as Escrituras

5 e que apareceu a Cefas, depois aos doze.

6 Posteriormente apareceu, de urna vez, a mais de quinhentos inváos,


dos quais a maiorparte vive até hoje, alguns, porém, já morreram.

7 Depois apareceu a 77ago e, em seguida, a todos os Apostólos.

8 Por fim, depois de todos, apareceu também a mim, como a um


abortivo".

Sao Paulo escreveu tal passagem no ano de 56, ou seja, pouco mais
de vinte anos após a AscensSo de Jesús. Eis, porém, que nesse texto o
Apostólo quer apenas lembrar aos fiéis o que ele Ihes transmitiu de viva
voz quando fundou a comunidade de Corinto em 51 -52: nessa época Pau
lo entregou aos fiéis a doutrína que Ihe fora entregue ("Transmiti-vos...
aquilo que eu mesmo recebi..."). E quando o Apostólo recebeu a mensa-
gem?

-Ou porocasiáo da sua conversao, que se deu aproximadamente no


ano de 35, ou no ensejo de sua visita a Jerusalém, que teve lugar em 38,
ou, ao mais tardar, por volta do ano de 40.

Observemos agora o estilo do texto de 1Cor 15,3-8: as frases sao


curtas, incisivas, dispostas segundo um paralelismo que Ihes comunica
um ritmo notável. Abstracao fetta dos w. 6 e 8, dir-se-ia que se trata de
fórmulas estereotípicas, forjadas pelo ensinamento oral e destinadas a ser
freqüentemente repetidas. Nesses versículos encontram-se varías expres-
soes que nao ocorrem em outras cartas de Sao Paulo: assim "conforme as
Escrituras", "no terceiro día", "aos doze", "apareceu" (expressáo que só ocorre
sob a pena de Sao Paulo num hiño citado pelo Apostólo em 1Tm 3,16).

552
COMO EVANGELIZAR EM NOSSOS DÍAS? 25

Estas indicagoes dáo a ver que Sao Paulo em 1 Cor 15,3-8 reproduz
urna fórmula de fé que ele mesmo recebeu já definitivamente redigida
poucos anos (dois, cinco, oito anos?) após a Ascensáo do Senhor Jesús.
O v. 6, quebrando o ritmo do conjunto, talvez tenha sido introduzido poste
riormente; quanto ao v. 8, é por certo urna noticia pessoal que Sao Paulo
acrescenta ao bloco.

Vé-se, pois, que desde os primeiros anos da pregacáo do Evangelho


já existia entre os fiéis urna profissáo de fé na ressurreicao de Cristo for
mulada em frases breves e pregnantes; tais frases eram transmitidas como
expressóes exatas da mensagem dos Apostólos.

Ora essa fórmula de fé antiqülssima professa a ressurreigáo corpórea


de Cristo como realidade histórica. Para a comprovar, havia testemu-
nhas oculares, das quais, diz Sao Paulo, muitas ainda viviam vinte e pou
cos anos após a ressurreicao do Senhor.

Tal depoimento de primeira hora é um texto pré-paulino, concebido e


transmitido pelos discípulos ¡mediatos do Senhor como expressáo da fé
comum da Igreja nascente. - É de notar que S3o Paulo insiste no peso das
testemunhas oculares; muitas ainda viviam e podía m ser interpeladas pes-
soalmente; nao diz que "creram", mas que "viram" (Jesús apareceu-lhes
ressuscitado).

O texto de 1Cor 15,1-8 é por Bultmann e sua escola reconhecido


como obstáculo serio á sua teoría racionalista (obstáculo fatal, segundo a
expressáo usada pelo próprio Bultmann em Kerygma und Mythos I). Paulo
terá sido incoerente consigo mesmo:

"Sóposso compreendero texto de 1Cor 15,1-8 como tentativa de apm-


sentara ressurreicáo como um feto objetivo, merecedorde fé. Apenas pos-
so dizerque Paulo, levado por sua apologética, caiu em contradigáo consi
go mesmo" (Glauben und Verstehen /. Tübingen 1964,54s).

Passemos agora a

2.2. A pregacáo da Igreja nascente

2.2.1.0 destemor dos Apostólos

Seriam incompreensíveis o éxito e a torga persuasiva da pregacáo


dos Apostólos, se, depois de haverem feito a dolorosa experiencia da Pai-
xáo do Mestre, nSo O tivessem visto realmente ressuscitado.

Sem o encontró com Cristo vencedor, também nao se explicaría a


Cristologia pascoal (ou seja, a doutrina concemente a Cristo morto e re-

553
26 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 415/1996

divivo) da Igreja antiga. Com efeito, os Apostólos e os primeiros cristáos nao


somente se reconciliaram com a idéia de um Messias padecente, mas tam-
bém com a de um Messias ausente, que voltará no fim dos tempos. Le
vemos em conta outrossim que, apesar do seu estríto monoteísmo, os Apos
tólos no culto sagrado associaram Jesús a Deus Pai, reconhecendo-lhe gran
deza e dignidade divinas. Nada disto teria podido ocorrer, se os discípulos
nao tivessem visto o Senhor ressuscitado e se Ele nao vivesse de fato na
Igreja nascente mediante o Espirito Santo prometido aos Apostólos.

A conversáo de Sao Paulo, que de perseguidor se tornou incansável


arauto de Cristo ressuscitado, desenvolvendo atividade admirável e fe
cunda, é outro fato que difícilmente se poderia entender sem a realidade
da ressurreicSo de Cristo.

2.2.2.0 conteúdo da pregacáo dos Apostólos

Em termos mais precisos, perguntamos: que é que os discípulos anun-


ciaram quando comecaram a pregar?

O livro dos Atos dos Apostólos responde a esta pergunta, apresen-


tando-nos textos muito significativos:

At 2,4-40: Pedro, no dia de Pentecostés, explica á multidáo o fenó


meno das línguas;

At 3,12-26: Pedro, apelando para a obra salvlfica de Cristo, escla


rece como e por que um paralítico foi curado á porta do Templo de Jeru-
salém;

At 4,8-12: diante do Sinedrio (tribunal judaico) Pedro explica as ocor-


réncias da última Páscoa.

At 5,30-32: idem;

At 10,34-43: Pedro, em casa do centuriáo romano Cornélio, faz urna


síntese do plano de Deus, apresentando a morte e a ressurreicáo de Je
sús como ponto central;

At 13,17-41: Paulo em Antioquia da Pisídia faz o mesmo.

A propósito observamos:

É possível averiguar o caráter arcaico de tais trechos: neles se en-


contram, por exemplo, o eco de locugóes biblicas (At 2,22-24; 10,38...) e
hebraísmos (At2,23; 2,3; 3,20; 10,40...)... Isto significa que estamos dian
te das carnadas mais antigás e das linhas-mestras da pregacáo dos Apos
tólos, dirigida aos judeus, que constituiram o núcleo inicial da Igreja.

554
COMO EVANGELIZAR EM NOSSOS DÍAS? 27

O tema desse anuncio, como se compreende, é Jesús de Nazaré

- anunciado pelos Profetas: At 2,23; 2,27; 3,18; 4,11; 5,30s; 10,40;


13,35...

-figura histórica, pois há referencias ao seu nascimento na casa de


Davi (At 13,23; 10,37), ao seu ministerio público precedido pela pregacáo
de Joáo Batista (At2,22; 10,37s; 13,24-31);

- ressuscitado dentre os mortos, ponto alto de toda a pregacáo. A


ressurreicáo revela o significado da existencia de Jesús, de tal modo que
o Evangelho (a Boa-Nova) é essencialmente o anuncio da ressurreicáo.
Diz Sao Paulo em Antioquia: "E nos vos anunciamos a Boa-Nova: Deus
cumpriu para nos, os filhos, a promessa feita a nossos pais, ressuscitan-
do a Jesús" (At 13,22). Procurando resumir numa palavra a missáo dos
Apostólos, Pedro diz que a sua tarefa principal é a de ser "testemunhas
da ressurreigáo" (At 1,22).

2.3. O conceito de Messias

Notemos que os judeus do Antigo Testamento nao tinham o conceito


de um Messias que morreria e ressuscitaria. Esperavam, antes, a vinda
do seu reino em poder e gloria. Se, nao obstante, a idéia da ressurreigáo
do Messias logo após a sua morte foi apregoada por Pedro e seus compa-
nheiros, parece lógico admitir que os Apostólos tiveram a experiencia de
um encontró pessoal com Cristo redivivo após a morte na cruz. Sem esta
experiencia, jamáis teriam chegado a proclamar que Jesús ressuscltara
dentre os mortos.

Com outras palavras: a idéia de um Messias nao glorioso, mas cruci


ficado, era "escándalo para os judeus" (cf. 1Cor 1,23). O fato de que os
Apostólos a aceitaram, seria um enigma se nao tivessem visto Jesús res-
suscitado.

Observa-se mesmo que os Apostólos, longe de imaginar que Jesús


morto voltaria á vida, perderam o ánimo ao vé-lo presa de seus inimigos,
e fugiram. Quando Ihes foi dada a noticia da ressurreigáo, relutaram para
aceitá-la; nao estavam subjetivamente predispostos a conceber a vitória
de Cristo sobre a morte. Fizeram-no, porém, vencidos pela evidencia ob
jetiva do fato; cf. Jo 20,9.19-29 (episodio de Tomé); Le 24,13-35 (os discí
pulos de Emaús); Le 24,36-43 (Jesús nega ser mero espirito, dá a palpar
máos e pés).

Em outros termos: quem lé os Evangelhos, observa que as apariedes


de Jesús nao se dáo após urna expectativa ansiosa dos Apostólos ou disef-

555
28 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 415/1996

pulos. Ao contrario, Jesús aparecía de maneira totalmente imprevista, quan-


do os discípulos menos o esperavam.

Ñas aparicoes é Ele, e sonriente Ele, quem tem a iniciativa ou quem


vai ao encontró... Jesús também desaparece imprevistamente, quando os
Apostólos desejaríam té-lo por mais tempo consigo. Estes dados tornam
inaceitável a tese segundo a qual as aparicOes de Jesús nao teriam sido
senáo subjetivas - visóes que, após madura reflexáo, haveriam sugerido
a interpretado: "Jesús ressuscitou". Segundo os Evangelhos, os discípu
los tiveram experiencia ¡mediata do Senhor Ressuscitado, que eles pude-
ram identificar com o Crucificado.

2.4.0 Sepulcro Vazio

O texto de Me 16,1-8 fala das mulheres que encontram vazio o sepul


cro de Jesús na manhá de domingo. A mesma descoberta foi feita por
María Madalena, segundo Jo 20,1s, e por Pedro, conforme Le 24,12.

Perguntamos: qual o valor histórico destas narracóes?

Admite-se a realidade do sepulcro vazio na base das seguintes razSes:

1) Os Evangelhos d§o a entender que Jesús foi sepultado por José


de Arimatéia, homem rico, que se serviu de urna rocha ainda nao utilizada
para tal fim. Por conseguinte, o sepulcro de Jesús devia estar em lugar
conhecido; a visita das mulheres ao túmulo correspondía bem aos costu-
mes da época.

2) A noticia de que as mulheres encontraram vazio o sepulcro de


Jesús, nao pode ter sido forjada pela Igreja antiga; quem a inventasse,
nao teria apelado para dizeres de mulheres, já que as mulheres outrora
eram tidas como testemunhas pouco fidedignas. Refere S3o Lucas que as
mulheres, tendo encontrado o sepulcro vazio, "disseram isto aos Apostó
los, mas suas palavras pareceram-lhes um desvario e eles n§o acredita-
ram. Pedro, no entanto, pós-se a caminho, e correu ao sepulcro. Debru-
gando-se, apenas viu as ligaduras e voltou para casa, admirado com o
que sucederá" (Le 24,10-12).

3) Os inimigos de Jesús nao negaram que o túmulo estivesse vazio,


mas únicamente trataram de explicar o fato por vías diversas. Eis, por
exemplo, o que se lé em Mt 28,11-15:

"Enquanto as mulheres iam a caminho, alguns dos guardas foram á ci-


dade participar aos principes dos sacerdotes tudo o que havia sucedido. Es
tes reuniram-se com os andaos e, depois de terem deliberado, deram muito
dinheiro aos soldados com esta recomendagSo: Dizeiisto: os seus discípulos

556
COMO EVANGELIZAR EM NOSSOS DÍAS? 29

vieram de noite e roubaram-no enquanto donvíamos. E, se o caso chegaraos


ouvidos do govemador, nos o convenceremos e taremos com que os deixe
tranquilos. Recebendo o dinheiro, eles fízeram como Ihes tinham ensinado.
E esta mentira divulgou-se entre osjudeus até o dia de hoje".

Vé-se, pois, que a tradicSo do sepulcro vazio é históricamente bem


fundada. Ela tem sentido profundo para os cristaos. Sim; ela quer dizer
que a mensagem da ressurreicáo de Jesús implica algo mais que o fato de
que "a causa de Jesús continua" (Marxsen). Ela incute que existe continui-
dade entre o Crucificado e o Ressuscitado; a vida terrestre de Jesús nao
foi urna fase ultrapassada da existencia de Cristo, mas continua presente
no corpo do Senhor. O Cristo que ressuscitou, é o mesmo que morreu na
cruz; possui o mesmo corpo, embora de maneira diversa.

Deve-se dizer também que a ressurreicáo de Jesús, á qual ninguém


assistiu, deixou de si um sinal impressionante na historia humana: o sepul
cro vazio. Eis por que a questáo do sepulcro vazio nao é secundaria ou
pouco importante.

6. CONCLUSÁO: SANTIDADE DE VIDA

A mensagem que acaba de ser firmada sobre a evidencia de textos


do Novo Testamento, pode deixar cético ou hesitante o homem de hoje,
afetado por múltiplos sistemas filosóficos e religiosos disparatados. Dai o
indispensável recurso ao testemunho da vida, que, este sim, impressiona
o cidadáo de nossos días, desiludido pelo comportamento incoerente e
covarde de muitos contemporáneos. É o que os Papas Paulo VI e Joáo
Paulo II observavam nos textos atrás transcritos. É também o que observa
o historiador francés Jean Delumeau na sua obra "As Razoes de minha
Fé° (Ed. Loyola, Sao Paulo 1991): desta obra sejam extraídos alguns dos
textos mais significativos:

"Parece-me necessárío ressaltar um fato histórico... que raramente


figura nos Ih/ros de historia... Refiro-me á santidade. Tomemos o caso da
Reforma católica dos séculos XVI e XVII. Seguidamente me pergunto como
urna agao evangelizadora conduzida na Europa e fora da Europa... pode
obter indiscutíveis resultados tanto quantitativos como qualitativos, capa-
zes de fazerinveja aos regimos comunistas, que fracassaram totalmente
ao tentar convencer as suas populagóes, apesardo emprego de meios
bem mais potentes. A resposta é simples: de um ladohouve a santidade, e
de outro nao. Os protagonistas e os missionários da Reforma católica...
surpreendiam pelo devotamente, austeridade, generosidadeeabnegagáo. E
isto nao vale apenas para algumas personalidades heroicas como Inádode
Loyola e Vicente de Paulo, mas também para toda urna legiáo de homens e

557
30 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 415/1996

mulheres anónimos que literalmente passaram... a seus contemporáneos por


urna constante vocagáo para o martirio. Um exemplo dentre muitos: as
municipalidades na Franca do secuto XVII desejavam a implantagáo de con
ventos capuchinhos. É que estes sempre estavam disponíveis a socorreros
habitantes em tempos de peste ou porocasiáo de incendios" (p. 223).

"Bergson pensava que, dentre todos os homens, os maiores sao os


santos. Pensó o mesmo e creio que este sentimento ó inconscientemente
partilhado por muitos. Caso contrarío, neo se compreenderia o respeito e a
admiragáo conquistados por Madre Teresa em todo o mundo. Nao apenas
os cristaos, mas também os hindus a véem como 'urna mulherde Deus'"
(p.224).

"Nao menos admirável que a 'santa da india' é a 'mendiga do Cairo',


Irma Emmanuelle, cuja trajetóría é parcialmente comparável á de Madre
Teresa, já que tanto urna como a outra abandonaran! os estabelecimentos
de ensino onde instruiam jovens abastadas para se entregar ao servigo
dos desandados. Definindo sua vocagáo, irmá" Emmanuelle assegura: 'Sou
como Antlgona: nao fui feita para odiar, e sim para amar™ (p. 225).

"A santidade do dia-a-dia constituí para mim a melhorprova da exis


tencia de Deus - o Deus de amor de que fala S. Joáo - e me infunde
confíanga no futuro do cristianismo. Esta confianga também tem orígem
nos ¡números sinais de vitalidade crista que podemos observarnos quatro
cantos do mundo" (p. 230).

Ñas páginas que precedem, pode-se dizer, está a resposta para a


questáo do título do presente artigo: "Corno evangelizar em nossos días?".
-Testemunho de vida que suscite o interesse por urna explanacáo funda
mentada e sólida da mensagem crista; eis a chave para talar ao homem
de hoje.

Como Receber as outras "Religióes" que batem á sua porta, pelo


Pe. Sergio Jeremías de Souza, Ed. Ave-María, SSo Paulo, 110 x160 mm,
46 pp.
O Pe. Sergio, autor de varios livros de Pastoral, brinda agora o públi
co com um pequeño volume destinado a responder aos irmáos que abor-
dam os fiéis católicos no intuito de os "converter" a crengas nao católicas.
Após propor sugestdes para que o católico guarde sempre urna atitude
crista e a integridade de sua fé, considera temas como imagens, a Virgem
SSma., o Purgatorio, o Batismo de Criangas, o Sábado, a ConfíssSo dos
Pecados, a Reencamagáo, a "provagáo derradeira da Igreja"... Olivromuito
se recomenda pela firmeza de suas posigóes. Enderego do autor Caixa
Postal 341, 88701-970 Tubarao (SC).
558
Do Budismo ao Catolicismo:

UMA JOVEM BUDISTA DESCOBRE


JESÚS E A IGREJA

Em síntese: A jovem Yavy budista, do Cambodja (SE asiático),


descobriu o Cristo e a Igreja a partir da candado dos discípulos de
Cristo. Foi esta que, em diversas situagóes de sua vida, Ihe chamou a
atengáo: desconhecida e estrangeira como era em París, ela foiacolhi-
da e ajudada de maneira decisiva. O fato merece ser sublinhado. Com
afeito; as tres virtudes teologais sSo a fé, a esperanga e a candada; tal
ó a ordem lógica segundo a qual sSo estudadas nos tratados de Teolo
gía. Todavía a ordem lógica muitas vezes nao é a ordem psicológica;
muitas pessoas incrédulas nao comegam sua conversSo estudando as
verdades da fé, mas se dispóem a procurar Deus considerando a vi
vencia daqueles que dizem crerem Deus; a vivencia na carídade éafé
mais eloqüentemente apregoada, é a tradugao mais concreta e signifi
cativa dos artigos da fé.

A revista Missions Étrangéres de Paris (Missóes Estrangeiras


de París), em junho de 1995, publicou o relato de conversao da jovem
Yavy, khmer, do Budismo ao Catolicismo. A narracáo é interessante
porque mostra como os caminhos de Deus sao variados; essa jovem
se deixou atirar principalmente pela caridade dos fiéis católicos; assim
provocada, procurou conhecer a mensagem do Catolicismo apta a sus
citar tal testemunho de amor fraterno.

Á guisa de ¡ntroducao, faz-se mister notar que o povo khmer se


estabeleceu no atual Cambodja no século VI d.C, fundando o podero
so imperio Khmer, que tinha por capital a cidade de Angkor: esta cida-
de e o templo de Angkor Wat eram consideradas obras-primas de ar-
quitetura. O imperio caiu sob o dominio Thai em 1434. Os khmers,
após muitas peripecias ocorridas ainda nos últimos decenios, recon-
quistaram o poder, de modo que o Cambodja tem o nome oficial de
República Khmer. Situa-se no SE asiático, a Leste do Vietnam, confi
nando com a Tailandia a NO e o golfo da Tailandia áo Sul.

Eis os dizeres de Yavy:

559
32 'PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 415/1996

"I. ENCONTREI O SENHOR...

Meu caminho em diregáo do Batismo foi muito longo. Nascida numa


familia budista, eu era muito apegada a esta religiáo. Eis por que, ao che-
gar na Franca, fiquei muito surpresa por verificar o desinteresse das pes-
soas pelo Budismo. Entáo a questáo se me colocbu em sentido contrario:
por que nao me ¡nteressaria eu pela religiáo dos franceses? Mais: a atitu-
de dos meus amigos cristáos praticantes me questionava. Eu perguntava
a mim mesma por que me ajudavam, embora nunca me tivessem visto
antes; precisamente com o auxilio deles eu havia conseguido deixar os
campos de refugiados e chegar a París.

Um amigo me auxiliou de modo especial. A primeira pergunta que


Ihe fiz, foi a seguinte: 'Que é o essencial na religiáo?'. Ele me respondeu:
'Amor, é preciso que nos amemos uns aos outros como amamos a nos
mesmos'. De novo fiquei surpresa, pois perguntava a mim mesma como
podemos amar os outros, quando nao amamos a nos mesmos.

Mais tarde, em 1984, atravessei urna fase difícil no meu emprego. A


minha patroa procurava um pretexto para me despedir. Ela ficava a me
vigiar o tempo todo - coisa esta que me perturbava. Éu tinha a impressáo
de estar carregando um peso enorme sobre a cabega, tanto que um dia
julguei que a cabega estava pesada como se fosse estourar. Ao meio-dia
na hora da refeigáo, senti algo que me levou até a igreja situada a 100m do
meu lugar de trabalho. Chegada diante do altar, fiquei fixa ali a falar sozi-
nha, sem me dar conta do que acontecía em tomo de mim: 'Senhor, ajuda-
me a nio mais trabalhar em tais condigoes; já nao vejo as coisas táo cla
ramente como outrora1.

Logo que pronunciei estas palavras, minha cabega tornou-se normal


e recomecei a ver as coisas como antes. Disse a mim mesma que havia
alguém que escutava e me ajudava. Em conseqüéncia, resolvi procurar
esse alguém..., mas como? Falei disso ao meu amigo; este mandou-me
aprender o Evangelho com urna Religiosa. Mas, pouco tempo depois, tive
que mudar de residencia. Assim nao pude prosseguin mas guardei em
meu coracáo a intengáo de ir mais longe para conhecer essa religiao.

Decorreram orto anos durante os quais desistí da minha procura. Le-


vei urna vida igual á de toda gente. Havia altos e baixos; creio, porém, que
mais experimentei o baixo do que o alto.

De novo, em 1992, passei pelo mesmo problema que em 1984. Que-


riam despedir-me do emprego. A angustia me estonteava; as pessoas
que me acompanhavam, viam-me deprimida. Eu nao podia viver assim
por mais tempo. Embora o emprego nio me agradasse muito, eu julgava

560
UMA JOVEM BUDISTA DESCOBRE JESÚS E A IGREJA 33

que enlouqueceria ao pensar em perdé-lo; que faria eu? Encontrar traba-


Iho nao era fácil na minha idade.

Foi entáo que meu amigo se aproximou, mais uma vez, de mim. Devo
dizer que. todas as vezes que tenho problemas, ele se aproxima, sem que
eu Ihe faga algum sinal. Isto me parece ¡nacreditável, mas ele afirma que
o faz sem saber da minha necessidade. Ele mora no interior, e eu em
Paris. Depois de Ihe ter explicado o meu problema, algo levou-me a dizer-
Ihe: 'Nao sei por qué, mas, cada vez que a minha situacáo parece um
pouco estável e quero aprofundar a minha fé, levantam-se graves proble
mas, que me impedem de ir adiante'.

Eu julgava que precisava de ter a cabeca livre para aprender o Evan-


gelho. Mas, para o meu amigo, dava-se o inverso. Ele me prapós comecar
a viver a fé, logo e de ¡mediato, sem esperar estar numa boa situacáo; eu
vería como as coisas haveriam de se desenrolar. Com grande emocáo
respondí Sim e pronto, e prometí fazer a experiencia.

No dia seguinte, contactei a igreja do meu bairro para encontrar al-


guém que me pudesse ajudar. Uma ou duas semanas depois, todos em
torno de mim me interrogavam surpresos: 'Encontraste alguém? Todos te
véem táo radiante'.

- 'Sim, encontrei o Senhor, e Ele me dá muita coragem, paz. alegría


e esperanca. Ele está comigo, e de nada tenho medo. Eu sei que Ele me
ama, e finalmente me recebe em seus bracos'.

A procura de Deus fez-me descobrir a Igreja. Após dois mil anos os


testemunhos de S3o Paulo, Sao Francisco de Assis, Santa Teresa levam-
me a crer ainda mais fortemente. Podemos comparar-nos a jufzes que, no
tribunal, nao viveram os acontecimentos a ser julgados, mas devem pesar
os pros e contras aduzidos pelas testemunhas. Pessoalmente, na base
das testemunhas e da minha própria experiencia, creio que, a partir de
Jesús, podemos conhecer o rosto de Deus e o seu Amor eterno. Em lugar
nenhum podemos encontrar algo como o seu Amor. É um Amor eterno.

Minha vida mudou. Nao vejo mais sombras negras no caminho da


minha existencia, embora eu esteja sempre na mesma situagáo profissio-
nal, a respeito da qual eu disse que ela nao me satisfaz plenamente. Vejo
agora que essa posicio me confere muitas vantagens. Sempre desejo ir
mais longe, mas pensó nisso agora com mais clareza e sem nervosismo,
pois descobrí o sentido da minha vida: sei para onde vou, para quem vou
e, principalmente, sei que sou amada e que posso amar os outros. É isto
que faz a felicidade de viver neste mundo. Pego ao Senhor que todos
tenham a alegría de O conhecer como eu. Por certo, ninguém O conhece
bastante, mas, de tanto O procurar, as pessoas O acabam encontrando.

561
34 -PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 415/1996

Eis, em resumo, como se deu o meu encontró com Deus. Fiz a expe
riencia de muitos outros acontecimentos semelhantes a estes. Agora pen
só que toda gente já encontrou a Deus, mas, para estarem conscientes
disto, é preciso que estejam muito atentos".

II. REFLETINDO...

O texto nos sugere algumas considerares:

1) A jovem Yavy descobriu o Cristo e a Igreja a partir da caridade dos


discípulos de Cristo. Foi esta que, em diversas situacóes de sua vida, Ihe
chamou a atencáo: desconhecida e estrangeira como era em París, ela foi
acolhida e ajudada de maneira decisiva. Vale a pena sublinhar este fato.

Com efeito; as tres virtudes teologais sao a fé, a esperanca e a cari


dade (cf. 1Cor 13,12s); a Teología as estuda sucessivamente na ordem
proposta pelo Apostólo; é a ordem lógica; faz-se mister conhecer a Deus
(pela fé) para amá-lo (pela caridade). Todavía a ordem lógica, murtas ve-
zes, nao é a ordem psicológica; muitas pessoas incrédulas nao comecam
a sua conversio estudando as verdades da fé (embora muitos também
assim comecem), mas se dispñem a procurar Deus considerando a viven
cia dos que professam a fé e dizem crer em Deus e em Jesús Cristo; a
vivencia é a fé mais eloqüentemente apregoada; é a traducáo mais con
creta e significativa dos artigos da fé.

Com outras palavras: quem vé alguém que tenha a coragem de amar


o próximo com amor de benevolencia (agápe) sem procurar seus interes-
ses pessoais, surpreende-se, pois tal atitude é cada vez mais rara no mundo
de hoje, calculista e pragmático. Quem vé isto, concebe a pergunta: qual o
misterio dessa pessoa? Qual a forca Intima que a move a tanto?

O fato de pressentir algo de maior ou transcendental no irmáo que


ama, pode levar o incrédulo a urna aurora de esperanca: deve haver algo
de melhor que suscita expectativa de dias mais alegres e sorridentes.

Quem é ou que é esse algo melhor que fundamenta a esperanca? -


O Evangelho comeca entáo a falar emitindo sua mensagem. A pessoa
que procura sinceramente, descobre, aos poucos, o segredo íntimo dos
irmáos que amam, e verifica que esse segredo íntimo é o próprio Cristo,
que pregou o Evangelho e vive na Igreja. Surge entilo o ato de fé como
ponto de chegada de longa caminhada. é fé firme, que pede vivencia cor
respondente.

2) Yavy compara a situagáo de quem se aproxima da Igreja á posicáo


de um juiz que deve julgar acontecimentos passados que ele mesmo nao
562
UMA JOVEM BUDISTA DESCOBRE JESÚS E A IGREJA 35

presenciou. Conseqüentemente só pode julgar na base dos depoimentos


favoráveis e desfavoráveis das testemunhas que depdem no tribunal. Ora
Yavy julga que o Cristianismo se baseia em fatos distantes, que as pesso-
as de hoje n§o presenciaram; por conseguinte, só podem aferír o valor
desses fatos mediante o testemunho daqueles que fizeram a experiencia
próxima ou remota de tais fatos - os Santos. Ela cita SSo Paulo (século I),
S. Francisco de Assis (século XIII), Santa Teresa de Ávila (século XVI)...

Nisto vai um apelo aos fiéis católicos de nossos dias. Háo de ser os
atuais "Paulo, Francisco, Teresa...", que atestam a grandeza e a beleza do
Evangelho pelo seu teor de vida manifestada ao mundo. Diz o Senhor
Jesús: "Brilhe a vossa luz diante dos homens para que, vendo as vossas
boas obras, glorifiquem o vosso Pai que está nos céus" (Mt 5,16). O Se
nhor quer fazer repousar as sortes do Evangelho neste mundo sobre os
ombros daqueles que Ihe aderiram. Enorme responsabilidade, nao solici
tada nem procurada por algum cristáo, mas confiada generosamente pelo
Senhor Deus a cada um! Donde também enorme dignidade e nobreza que
toca a cada um e a todos os fiéis católicos! Tenham consciéncia disto e
procurem nao trair a missao recebida e a confianca neles depositada pelo
Senhor, é o que, em última análise, a historia de Yavy diz ao povo de Deus.

Alegra-te, Filha de Siio, porJ. M. Schechinah. - Ed. Cefas Ltda.,


Caixa Postal 10581, Brasilia (DF) CEP 71621-980, 135 x 185 mm, 42 pp.
Logo em sua segunda capa, o editor do iivro aprésente a justificativa
da obra em termos muño significativos:
"A insuspeita revista TIME estampou, como a foto do ano, na capa de
sua edigáo internacional de 30 de dezembro de 1991, um befo quadro da
Virgem María proclamando-a a mulhermais venerada da historia.
TIME nadamais fez quedar testemunho universal do incessante cum-
primento de uma profecía bíblica: 'Doravante todas as geragdes me cha-
maráo bem-aventurada' (Le 1,48).
O objetivo deste livreto é precisamente irá raíz desse fenómeno, que,
aoo após ano, século após século, só faz crescere se tomarmais intenso,
á diferenga do que acontece com os chamados grandes vultos da historia,
que vao sendo esquecidos, á medida que se distanciam de seu tempo
histórico0.
O autor desenvolve o seu programa abordando O Misterio dalniqüi-
dade, A Perpetua Virgindade, A Virgindade de María na Igreja e nos Evan-
gelhos, O Relacionamento de Jesús com María, O Culto a María. Estes
temas sSo estudados com seguranga e clareza, de modo que o leitortem al
uma sintese do que é a figura de María, e um repertórío de respostas para
levar aqueles que contradizem a veneragáo de María SS. — Parabéns ao
autor! Parabéns á Cefas Editora!

563
Novas Descobertas ilustram

A DATA DE REDAQÁO DOS EVANGELHOS

Em síntese: Urna exposigáo de papiros antigos portadores de textos


do Novo Testamento em Rimini, Italia, no principio de 1996, foi ocasiSo
para que o papirólogo Prof. Carsten Peter Thiede renovasse declaragóes
anteriores relativas á data de redagáo do texto dos Evangelhos: o de Ma-
teus tere sido escrito por volta de 50, quando aínda viviam testemunhas
oculares da vida e das obras de Jesús - o que muito contribuí para corro
boraros fundamentos da fé. O Evangelho de Marcos também é tido por
varios estudiosos como datado de meados do secuto I. E de notar que no
secuto passado a critica racionalista atribuía os Evangelhos ao secuto II -
datagSo ultrapassada pelo progresso da ciencia.

Em Rimini (Italia Setentrional) realizou-se em meados de fevereiro


de 1996 urna Exposigáo de manuscritos e objetos dos primeiros séculos
do Cristianismo intitulada "A Expansao do Cristianismo nos Primeiros Sécu
los". Como objetos de particular interesse, foram expostos no Palazzo del
Podestá de Rimini: 1) seis dos mais antigos fragmentos do Novo Testa
mento; 2) inscric6es da esplanada do Templo de Jerusalém; 3) urna
tabuinha apresentando o nome de Póncio Pilatos; 4) um ossuário que
menciona Caifas; 5) exemplares de moedas mencionadas nos Evange
lhos; 6) artefatos litúrgicos da Igreja nascente.

A idéia de montar essa Exposigáo partiu do papirólogo alemao Prof.


Carsten Peter Thiede. Este pesquisador leciona na Universidade de
Paderborn (Alemanha); é um dos arautos de tese recente segundo a qual
os Evangelhos foram redigidos em época muito próxima de Cristo - tese
que diverge de concepcdes mais antigás segundo as quais os Evangelhos
datariam do período de 100 a 150 ou até de época posterior.

O repórter Francesco Ognibene entrevistou o Prof. Thiede a respeito


de tal Exposicáo, e publicou as respectivas declaracoes no jornal italiano
L'Awenire de 5/3/1996. é de notar que o mesmo professor C. P. Thiede
se manifestara anteriormente sobre a origem do Evangelho segundo Ma-
teus, afirmando sua antigüidade; cf. PR 398/1995, pp. 290-294.

564
A DATA DE REDAQAO DOS EVANGELHOS 37

A seguir, reproduziremos o depoimento do Prof. Thiede em tradujo


portuguesa.

I. A ENTREVISTA

Repórter: "Professor Thiede, um dos maiores peritos nos estudos


dos antigos manuscritos do Novo Testamento, pode o Sr. explicar-nos o
significado da Exposigáo de Rimini?"

Prof. Cari Peter Thiede: "É urna Exposigáo extraordinaria. Pegas


singulares foram coletadas a partir de diversos países a fim de ilustrar a
origem do Cristianismo no mundo judaico, como também para mostrar o
contexto de diversas culturas e diversas línguas em que nasceu a Igreja
primitiva, ao mesmo tempo que sao postas em evidencia as raizes
judeocristás da civilizado européia.

As descobertas feitas junto ao Mar Morto, em Qumran e na fortaleza


de Massadá, em textos de língua hebraica, aramaica, grega e latina (entre
os latinos, há fragmentos papiráceos da Eneida de Virgilio) atestam a di-
versidade de Ifnguas da sociedade anterior ao Novo Testamento. Pela pri-
meira vez, o famoso ossuário de Alexandre, filho de Simáo o Cireneu, está
á vista fora da térra de Israel, portador do nome de Caifas e inscrigóes
hebraicas e gregas. Urna tabuínha traz o nome de Póncio Pilatos inscrito
em latim, etc. Os objetos expostos em Rimini ajudam a compreender por
que os mais antigos textos cristáos foram escritos em grego, linguagem
falada e compreendida por quase todos os grupos étnicos e religiosos da
área mediterránea: hebreus, romanos, gregos, cristáos.

Na exposigáo apresentamos todos os papiros gregos descobertos na


sétima gruta de Qumran, sendo os principáis os controvertidos fragmen
tos conhecidos como 7Q5 (Me 6,52s) e 7Q4 (1Tm 3,16; 4,3), assim como
o mais antigo código papiráceo do Novo Testamento que conhecemos
(tres fragmentos do Evangelho segundo Mateus conservados no Magdalen
College de Oxford) bem como outros exemplares muito antigos de papi
ros portadores de textos dos quatro Evangelhos e dos Atos dos Apostólos.
Entre os objetos raros também apresentados, contam-se alguns que fo
ram descobertos em cemitérios judeus de Roma. O tesouro de Walter
Newton (o mais antigo tesouro do Cristianismo) é um documento da mais
antiga igreja crista existente ao Norte dos Alpes (em Colchester, na Grá-
Bretanha). Há urna secgáo dedicada á basílica do S. Sepulcro em Jerusa-
lém; utiliza diagramas computadorizados para tragar a historia do sepul
cro de Cristo desde os tempos de Jesús até os nossos".

Repórter: "Retrocedamos até um dos mais importantes objetos ex


postos. Há poucos meses, o Sr. anunciou que os tres fragmentos do Evange-

565
38 TERGUNTE E RESPONDEREMOS' 415/1996

Iho segundo Mateus guardados no Magdalen College, de Oxford, sao os


mais antigosquepossuímos. Queira explicara sua hipótese".

Thlede: "A principio, os tres fragmentos foram datados de meados


do século II. Eu os datei de novo, assinalando-os aos anos de 66-70. Esta
tese, que publiquei em Janeiro de 1995, é apoiada por urna pesquisa que
comparou os fragmentos de Mateus com outros papiros, de modo que a
datacáo mais antiga dos textos de Oxford parece segura.

Agora é de crer que faziam parte de um código. Todavía os papirólogos


tém consdéncia de que os Evangelhos comecaram a ser escritos em ro
los (como 7Q5), e só mais tarde foram redigidos sob forma de códigos.
Assim, sem dúvida, existiu um rolo de Mateus (atualmente perdido) mes-
mo antes dos fragmentos de Oxford.

Desta forma somos levados a concluir que o Evangelho segundo


Mateus foi escrito antes de 66-70. Na verdade, o ano de 66 vem a ser um
marco-vertente para a comunidade de Jerusalém, pois ela fugiu de Jeru-
salém para Pela ao Oriente, visto que os romanos invadiram a Térra San
ta".

Repórter: "Podemos esperar novas descobertas arqueológicas na


Tena Santa que projetem mais luz sobre a data de orígem dos Evange-
Ihos?"

Thiede: "Isto n§o é provável, especialmente se pensamos em Qumran.


Tal hipótese pode valer para outra regiáo: Herculaneum, perto de Pompei
na Italia. Somente urna pequeña parte da cidade (destruida por urna erup-
cao do vulcáo Vesúvio em 79 d.C.) foi escavada; talvez importantes des
tragos estejam ainda encobertos debaixo da lava: casas, bibliotecas, luga
res privados de reuniáo... Sabemos que existia urna pequeña comunidade
crista em Herculaneum antes da destruicáo. É provável que as cartas de
Sao Paulo e algo do Evangelho (Lucas ou Marcos) já fossem lá conheci-
dos e lidos pelos cristios".

Repórter: "Que diz o Sr. a respeito da teoría de Claude Tresmontant,


que admite ser o Evangelho de Joáo o primeiro a ser redigido?"

Thiede: "É urna teoría compartilhada por outros famosos pesquisa-


dores, como John A. T. Robinson e Klaus Berger, que sugerem a data de
66, ao mais tardar, para a orígem do Evangelho de Joáo. Nao creio, po-
rém, que a tese de Tresmontant possa ser sustentada. Para mim, o Evan
gelho de Joáo foi redigido e copiado para ser distribuido na mesma época
dos outros tres, embora Joáo nao tenha haurido seu material das mesmas
fontes que os outros evangelistas utilizaram".

566
A DATA DE REDAQAO DOS EVANGELHOS 39

Repórter: "Alguns pesquisadores afirman) que a análise e a datagáo


dos papiros nao sao método persuasivo para demonstrar a historicidade
dos Evangelhos. Queira comentá-lo".

Thiede: "Nunca afirmei que algum fragmento prove a historicidade


dos Evangelhos. O fragmento de Qumran 7Q5, que foi composto entre os
anos 50-68, e o fragmento de Oxford P64, que sugere seja Mateus oriundo
entre 66 e 70 (ou mesmo antes, como vimos) provam apenas que esses
textos já existiam quando testemunhas oculares da vida e da obra de Je
sús ainda estavam em vida. Este dado é importante em favor da
historicidade do Evangelho, mas nao é urna prava conclusiva. Tal pesqui
sa demonstrou, por exemplo, que Jesús foi um profeta fidedigno, já que
ele predisse a destruícSo do Templo em 70, isto e, após a redacáo de tais
papiros. Naturalmente, porém, os fragmentos de papiros nao podem pro-
var de modo definitivo a historicidade dos Evangelhos".

Repórter: "Outra objegáo afirma que a datagáo dos Evangelhos nao


é importante, já que nos lidamos com textos que, segundo se eré, transmi-
tem urna doutrina mais do que urna infonvagáo histórica".

Thiede: "Nao concordo. Os Evangelhos foram escritos para contar


um evento histórico em estilo narrativo. O prólogo do Evangelho de Lucas
professa essa objetividade com muita clareza. Embora nao possamos
equiparar os evangelistas a biógrafos no sentido moderno, as suas obras
certamente sao afins ao conceito antigo de biografía. Por exemplo, com
paremos o Evangelho de Lucas com o texto de Tácito relativo ao seu so-
gro Agrícola. Lemos Agrícola como biografía e como urna narracáo fide
digna da ocupacao da Bretanha pelos romanos. Mas o livro de Tácito ser
ve a outra finalidade: fói escrito como o panegírico de um grande homem
e de suas facanhas. Se isto era lícito para Tácito, por que nao o terá sido
para Mateus, Marcos, Lucas e Joao? Os Evangelhos quiseram apresentar
a vida e as obras de Jesús Cristo do ponto de vista de urna fé, sólida e
demonstrável, no Filho de Deus. Nao escreveram uma-biografia comple
ta, mas escolheram e organizaram seu material em vista de urna finalida
de bem específica".

Repórter: "Eis a questáo final dirigida ao cristao Carsten Peter Thiede:


que significado tem este debate para a sua fé?"

Thiede: "Toda crenca que dependa de descobertas arqueológicas é,


por certo, muito fraca. Consideramos Sócrates como um dos maiores filó
sofos, mas os manuscritos que Ihe dizem respeito e que temos atualmen-
te, foram escritos 1500 anos após a morte dele (o nosso mais antigo ma
nuscrito referente a Sócrates, copia de um código de Platao, data do sécu-
lo XII). Ao contrario, os fragmentos do Evangelho datam de menos de

567
40 TERGUNTE E RESPONDEREMOS° 415/1996

quarenta anos após a crucifixao de Jesús. Estes fragmentos eximem os


Evangelhos da moderna hipótese de que os Evangelhos sao lendários e
foram redigidos em época tardía. As descobertas de papiros aproximam
os Evangelhos dos acontecimientos que eles narram e das testemunhas
oculares de tais eventos. Mas ninguém se converterá ao Cristianismo so-
mente por causa da data de um papiro.

No tocante á minha fé, tornou-se talvez um pouco mais concreta por


causa dessas descobertas. Os fatos que percebemos através de pesqui
sas arqueológicas ou papirológicas podem ajudar-nos a realizar mais con
cretamente que o Cristianismo fala de pessoas reais num mundo real.

Podemos assim consolidar nossa fé em um Jesús real, nao inventado,


mas enviado a nos por Deus em certo momento e lugar da historia da
humanidade, com urna mensagem para todos os povos e todos os tempos".

II. COMENTANDO...

As declaracóes do Prof. Carsten Peter Thiede podem ser resumidas


em tres pontos importantes:

1) A redacáo dos escritos do Novo Testamento, especialmente a dos


Evangelhos, nao é de época tardía ou do século II, como quis a critica
racionalista do século passado. Quanto mais a ciencia (no caso, a
papirologia) progride, mais ela tende a aproximar de Jesús a data de com-
posícao dos Evangelhos; segundo Thiede, O'Callaghan e outros autores,
tal data se sitúa em meados do século I (cerca de 50).

2) Este fato nao prova diretamente as verdades da fé, mas corrobora


os fundamentos da fé. Os Evangelhos teráo sido escritos numa época em
que ainda viviam testemunhas oculares da vida, da pregagáo e das obras
de Jesús. Essas testemunhas podiam controlar o que se escrevia a respei-
to de Jesús - o que torna aínda maís fidedigno o conteúdo dos Evangelhos.

3) Os Evangelhos nao sao apenas livros de doutrina. A mensagem


doutrinária que eles transmitem, está necessariamente ligada á historia e
a fatos históricos. Para o Cristianismo, a historia é veículo da RevelacSo
de Deus. Este se manifestou aos homens por palavras e por acontecimen-
tos, como afirma o Concilio do Vaticano II:

"O plano da Revelagáo (Divina) se concretiza através de aconteci-


mentos e palavras intimamente conexos entre si, de forma que as obras
realizadas por Deus na historia da salvagSo manifestam e corroboram os
ensinamentos e as realidades significadas pelas palavras. Estas, porsua
vez, proclamara as obras e elucidam o misterio nelas contido" (Constituí-
gao Dei Verbum n'2).

568
A DATA DE REDAQÁO DOS EVANGELHOS 41

O próprio Sao Paulo escreve: "Se Cristo nao ressuscitou, vazia é a


nossa pregagáo, vazia também é a vossa fé... Se Cristo n§o ressuscitou,
ilusoria é a vossa fé; ainda estáis nos vossos pecados" (1Cor 15,14.17).

O Prof. Thiede ilustra o fato de que a historia pode ser, além de relato
de fatos reais, ensinamentos ou recomendacáo de urna doutrina, citando o
caso da obra Agrícola de Tácito: o historiador romano, além de narrar
fielmente a tomada da Bretanha pelos romanos, quis nessa sua obra his-
toriográfica fazer o elogio de seu sogro Agrícola (sem prejudicar a fidelida-
de histórica do relato). Assim os Evangelhos querem certamente apresen-
tar Jesús de Nazaré como o Messias e Salvador, mas nem por isto negli-
genciaram a historicidade ou a fidelidade histórica de seus relatos.

É pelos motivos atrás indicados que a data de redacáo dos Evange


lhos, que está, de certo modo, relacionada com a credibilidade dos Evan
gelhos, é importante. "Podemos assim consolidar nossa fé em um Jesús
real, nao inventado, mas enviado a nos por Deus em certo momento e
lugar da historia da humanidade, com mensagem para todos os povos e
todos os tempos".

A propósito da datacao e da veracidade dos Evangelhos ver

PR 257/1981, pp. 257-265;

PR 288/1986, pp. 194-200;

PR 318/1988, pp. 489-501;

PR 321/1989, pp. 50-54;

PR 341/1990, pp. 469-472;

PR 354/1991, pp. 482-494.

CARO(A) LEITOR(A), COMO PRESENTE DE NATAL DÉ AOS SEUS


FAMILIARES E AMIGOS UM PRESENTE QUE O(A) FACA PRESENTE
A CADA UM POR TODOS OS DÍAS DE 1997. TALÉ.A FUNQÁO DE
UMA ASSINATURA DE PR, QUE ALÉM DO MAIS, OFERECE AOS LEI-
TORES A OCASIÁO DE REFLETIR SOBRE OS ACONTECIMENTOS
DOS NOSSOS TEMPOS EM PERSPECTIVA CRISTA. A IGNORANCIA
RELIGIOSA É UM DOS MALES QUE MAIS AFLIGEM O CATOLICISMO
NO BRASIL. SABEMOS QUE RELIGIÁO NAO É APENAS QUESTÁO
DE EMOCÁO E SENTIMENTOS, MAS É A ATITUDE MAIS NOBRE QUE
O SER HUMANO, USANDO DA SUA INTELIGENCIA, POSSA ASSUMIR.
569
Sim ou Nao?

PODE UM CRISTÁO REZAR AS IMPRECAQÓES


DOS SALMOS?

Em síntese: As imprecagoes podem ser rezadas pelos crístáos nao


para desejaro mal aos seus inimigos, mas', sim, para pedirá Deus o fim ou
0 exterminio de todas as obras e instituigoes más. Sabiamente dizia S.
Agostinho: "Odeia o pecado, mas ama o pecador". Consciente desta nor
ma, o cristáo pode proferir as imprecagoes, sem restrigáo, contra tudo o
que neste mundo é pecaminoso ou alheio ao Reino de Deus, desojando,
porém, a salvagao daqueles que cometem o mal.
* * *

Ocorrem no Antigo Testamento, principalmente nos salmos, fórmulas


em que o autor sagrado ou outro personagem deseja o mal aqueles que o
angustiam. Sao frases que, á primeira leitura, ofendem a consciéncia do
cristáo e pedem um esclarecimento.

Dentre essas fórmulas, nao se negará que algumas sejam expressáo


de paix§o desregrada; acham-se simplesmente citadas ou consignadas,
como ditos alheios, pelo hagiógrafo, nao, porém, aprovadas nem propos
tas qual modelo de sentimentos do homem de Deus. O contexto indica
quais sejam tais impreca$8es pecaminosas (cf., por exemplo, SI 41,6-10)1.
Muitas, porém, das ¡mprecacóes do Antigo Testamento, mormente
do salterio, podem ser lidas e proferidas em chave ou perspectiva crista,
como passamos a demonstrar.

COMO ENTENDER AS IMPRECACÓES?


Para entendé-las, será preciso considerar que procedem de um ánimo
intimamente unido a Deus,... por mais estranho que isto pareca. Em verdade,
os autores sagrados, ao pleitear sua causa perante o Senhor, nao o costuma-
vam fazer a título pessoal, reivindicando direitos particulares, próprios, mas
advogavam os interesses do bem, da justicaou da verdadeira religiáo; por
conseguinte, explícita ou implícitamente a sua causa se identrñcava com a de
Deus, e os seus inimigos vinham a ser os adversarios do próprio Deus.2
Assim entendida a situacáo, nao podiam ver motivo para abrandar o rigor
dos termos com que os antigos orientáis, dotados de ánimo férvido, costu-
mavam pedir a extirpacáo dos adversarios; nao pode haver compatibilidade
1 Citamos os salmos segundo a numeragáo do texto hebraico, que geralmente está
urna unidade á frente do texto grego e do latno. Assim o salmo 40 do texto hebraico é
o Salmo 39 do grego e do latim; o Salmo 41 corwponde ao 40...
2 É o que transparece dos seguintes textos:
"A sombra das tuas asas agasalha-me contra os pecadores que me fazem violencia,
Contra os inimigos que, sedentos, me rodeiam." (S117,8s). Continua na p. 571.
570
PODE UM CRISTAO REZAR AS IMPRECAQOES DOS SALMOS? 43

entre o bem e o mal, o reino de Deus e o pecado; a toda instituido que se


opoe a Deus, o homem justo nao pode deixar de desejar completa ruina.

Isto mais ainda se compreende se se leva em conta que os hagiógrafos


nao costumavam fazer distincáo explícita entre a pessoa que praticava o
mal, e o mal por ela cometido; já que, na realidade cotidiana, a injuria se
nos depara geralmente associada a determinado individuo que Ihe dá ori-
gem, o autor sagrado, desejando a extincáo das injurias (o que em si é
coisa ótima), envolvia na sua fórmula imprecatoria a pessoa mesma
injuriante. É dessa situacao psicológica que resulta o modo de falar sur-
preendente das imprecacóes bíblicas.

Quanto aos termos com que se acham formuladas, convém frisar


que pertencem ao vocabulario oriental, tendente ás hipérboles e á énfase.
Sao muitas vezes tirados diretamente da linguagem militar ou do direito de
guerra de outrora. É o que dá tanta vivacidade - dir-se-ia mesmo: cruelda-
de - ás frases imprecatorias. Para se perceber a verdadeira mente do
autor sagrado, será preciso descontar o que tais fórmulas possam ter de
hiperbólico e convencional.

Á luz destas consideracoes, o leitor da Biblia verá ñas imprecacóes


(em particular, nos salmos imprecatorios) a expressao do desejo de qué
justica seja feita, os abusos coibidos; entendé-las-á como fórmulas dirigidas
contra os males e o Mal, nao contra os maus; transportar-se-á, em suma,
para um plano todo impessoal.

Para o cristáo, pois, mesmo as imprecacóes mais veementes do


salterio tomam valor cristao. Nao há dúvida, o discípulo de Jesús tem por
lei "amar os inimigos, orar pelos que o perseguem" (cf. Mt 5,39.44). Sem,
porém, derrogar ao amor dos homens, ele pode, e deve, devotar odio ao
pecado e ao reino de Satanás; deve desejar a extirpagáo completa deste
potentado e dos seus baluartes, baluartes que, em parte, sao as tendenci
as desregradas da própria natureza humana, em parte sao tudo que há de
mau disseminado em tomo de nos. Que o cristáo, pois, reze os salmos
imprecatorios, tendo em vista os vicios e as instituicóes hodiernas inimi-
gas do reino de Cristo, todas as potencias que, ocultamente movidas por
Satanás, se esforcam por disseminar o erro e o pecado no mundo! E contra
tais esteios do mal nao hesitará em proferir os salmos imprecatorios, do
íntimo do corac§o, com a plenitude do seu amor para com Deus e o próximo.
ContínuagSo da p. 570:
"Sejam confundidos e corem de vergonha os que procuram arrebatar-me a vida!...
Exultem e alegrem-se em Ti todos os que Te procuram!" (SI 40,15.17).
"Ouvir-me-á e os humilhará Deus, que tem um trono eterno,
Pois neo há neles conversáo, e nño temem a Deus." (SI 55,20).
"Nao entmráo em si, porventura, os que cometem iniqüidade,
Os que devoram o meu povo assim como engolem pao,
Os que nao invocam a Deus?" (SI 53,5).

571
Surpreendente:

MARÍA SANTÍSSIMA NO CORÁO E NO ISLAMISMO

Em síntese: Maomé conheceu os escritos bíblicos assim como tradi-


góes judaicas e cristas. Ao redigiro Coreo, deixou transparecer grande
estima por María SS., á qual dedicou o capitulo (Sura) 19, versos16-34do
seu livro, além de fazer varias outras referencias a María SS.. O "profeta"
dá testemunho da virgindade de María, M§e de Jesús, e prop&e tragos
biográficos da mesma que, em parte, sSo fantasiosos.

Os mugulmanos venenam María e visitam alguns santuarios marianos,


entre os quais o de Éfeso, onde se encontra a Meryem Ana ou a casa tida
como residencia de María SS. após a Ascensao do Senhor, quando fícou
em companhia de SSo Joño.

O Isla, religiáo fundada por Maomé em 622 d.C, recolheu tradigoes


judaicas e cristas, que ele fundiu com nocoes religiosas dos árabes da
península arábica. Dentre essas tradicóes, tém especial significado, para
os cristaos, as que se referem a Maña SS. - Maomé conheceu a Biblia do
Antigo e do Novo Testamento, além de lendas judaicas concementes aos
Patriarcas e Evangelhos apócrifos dos cristaos; deu a esses documentos
um sentido novo, decorrente do fato de que nao aceitava Jesús como Deus
feito homem, mas apenas como profeta.

Compreende-se que Maomé tenha conhecido algo do Cristianismo,


pois era sobrinho do bispo nestoriano Waraga B. Nawfal e teve, como
tutor, o monge Ab-Buhira. Além disto, Maomé viveu numa época em que
os cristaos bizantinos atribuiam grande énfase ao culto de María SS.; em
suas viagens terá contemplado, muitas vezes, estatuas, pinturas ou mo
saicos de María SS. Na própria Caaba (santuario muculmano principal em
Meca) existe urna imagem colorida de María SS. com o Menino Jesús.

Estes dados explicam as freqüentes e reverentes alusoes de Maomé


a María Santíssima, que podem ser sintetizadas como a seguir, ficando
claro que envolvem, ao lado de tragos históricos verdadeiros, noticias len-
dárias. Como quer que seja, o que importa é observar a estima que Maomé
alimentava para com María SS. e que ele transmitiu aos seus seguidores.

572
MARÍA SANTlSSIMA NO CORAO E NO ISLAMISMO 45

A FIGURA DE MARÍA

É principalmente o capitulo (Sura) 19 do Coráo, versiculos 16 a 34,


que exalta María SS. Este e outros textos do Livro islámico propóem a
seguinte figura de María SS.:

Terá sido filha de um judeu chamado Imran. A sua máe a terá consa
grado a Deus antes mesmo que nascesse. María é chamada Irma de
Aaráo" em virtude de urna confusáo com outra María de que fala o livro
dos Números 12,1.0 sacerdote Zacarías, diz o Coráo, a tomou sob a sua
tutela espiritual e ajudou-a a crescercomo urna "planta vicosa". Por ordem
de Deus, o arcanjo Gabriel anunciou-lhe que ela traría em seu seio um
puro e santo menino. Ela o deu á luz debaixo de urna palmeira, que mila
grosamente ofereceu seus frutos a María. Esta se conservou sempre vir-
gem; ao nome de María se segué muitas vezes no Coráo a observacáo:
"Ela conservou a virgindade". Deus soprou em seus ouvidos o Espirito
Divino, fazendo de María e de seu Filho "um sinal para todas as criaturas".
Foi difamada pelos judeus, mas seu Filho recém-nascido a defendeu, fa-
lando a partir do seu bergo. Deus ofereceu a María e a seu Filho um refu
gio tranquilo numa colina alta e irrigada. Em suma, de acordó com o Coráo,
María foi urna santa e devota mulher, chamada, purificada e escolhida por
Deus mais do que todas as outras mulheres. Por isto María é tida como
exemplo de fé e submissáo á vontade de Deus, a ser imitada por todos os
muculmanos (é de lembrar que Isla significa submissáo a Deus). Toda
via, para os maometanos, nem María nem algum homem reto é perfeito
modelo; este titulo convém exclusivamente a Maomé.

É de notar aínda que María é mencionada trínta e quatro vezes no


Coráo, sendo a única mulher designada por seu nome pessoal. Outras
mulheres, como Khadija, Aisha e Fátima sao indicadas por algum título
seu ou pelo relacionamento que tiveram com Maomé.

Mais: entre os semitas, que sao também os árabes, as enancas sao


designadas como filhas de seu pai, e nao de sua máe. Todavia os maome
tanos chamam Jesús "o filho de María" - o que exprime a estima que con-
sagram a María SS. O próprio capitulo 19 do Coráo tem por titulo "María"
e é considerado como um dos mais comoventes capítulos do Livro.

No Coráo María é apresentada, por vezes, em termos semelhantes


aos que designam o "Profeta". Tanto María como Maomé sao tidos como
pranchas virginais sobre as quais Deus escreveu a sua Palavra (Kalima,
em árabe); María é dita "a Máe da Palavra". Tanto María como Maomé
receberam a visita do arcanjo Gabriel, que Ihes ¡nsuflou o Santo Espirito
ou a Palavra de Deus. Esta Palavra tornou-se em María urna enanca, e em
Maomé um livro. Em conseqüéncia, dizem alguns comentadores, o Coráo

573
46 -PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 415/1996

representa Jesús sob forma de livro, e Jesús representa o Coráo sob a


figura de um homem.

O apreso devotado pelo Coráo a María SS. explica que no Medio


Oriente os muculmanos, principalmente as mulheres, visitem santuarios
marianos, a fim de venerar a Virgem María e pedir a sua assisténcia. E o
que se dá com especial interesse em Éfeso, onde se encontra a casa tida
como residencia de María, hoje chamada em língua turca Meryem Ana; lá
váo rezar grupos de estudantes, militares e familias mugulmanos. Foi o
que motivou as palavras de Pío XII dirigidas a Mons. Descuffi, Arcebispo
de Esmirna, em 22/7/1957:

"Meryem Ana é um centro de culto mañano único no mundo, onde os


fiéis crístáos e mugulmanos de todos os ritos e de todas as nacóes sepodem
encontrarpara venerara Máe de Jesús e confirmara veracidade destas pala
vras profetices: 'Todas as geragóes me chamarao bem-aventurada'."

TRADigÁO ORAL E TRADIQÁO ESCRITA


Eis o teorde urna carta enviada ao jornal O GLOBO em 2/10/96:

Em carta a essejornal foi contestada a tradigao oral e escrita da Igre-


ja, que, segundo o missivista, nño poderia ser colocada no mesmo nivel da
S. Escritura. - A bem da verdade, convém dizerque a tradigao ou a Pala-
vra oralé anteriora Palavra escrita do Novo Testamento; durante deceni
os, antes da redagáo dos Evangelhos, a mensagem de Cristo foi transmiti
da tño somente de viva voz. Como eco dessa viva voz é que foiredigido o
Novo Testamento, que nao pretende abarcar tudo quanto Jesús disse e fez
(verJoáo 20,30; 21,24-25). Poristo a Tradigao oral que vem dos Apóste
los, é o bergo da Palavra escrita eéo referencial permanente para o reto
entendimento da Escritura; sem esse referencial, o cristao cai no "livre
exame", que é fonte de divisóes e subdMsóes subjetivas e deletérias do
cristianismo. A/So em váo Jesús prometeu á Igreja que Ele confiou a Pedro
e seus sucessores, a sua assisténcia infalível (verMt 16,17-19; Le 22,31ss-
Jo 16,13).

Quanto á noite de S. Bartolomeu, nada tem que ver com os criterios


de fé e da mensagem crista.

Ela se deve ao ánimo fanático da rainha Catarina de Medicis e da


dinastía dos Valois, que se opunham a Henrique de Navarra e aos
huguenotes. O protestantismo de Joáo Calvino incidiu em atitude seme-
Ihante queimando vivo o médico Miguel Servet, exilando Jerónimo Bolsee
e sufocando os opositores do reformador, que transformou Genebra em
cidade triste e oprimida.
Pe. Estéváo Tavares Bettencourt O.S.B.
574
Notas Avulsas

OS FERIADOS RELIGIOSOS
(a propósito do feriado de 12 de outubro)

Os feriados religiosos justificam-se bem, mesmo nos paises em que


Religiáo e Estado sao separados um do outro. E isto pelo fato de que todo
povo tem suas tradicóes culturáis, que sao o seu patrimonio moral e fa-
zem a ufanía desse povo. Basta percorrer a literatura e a historia de cada
nacSo para averiguar ai as marcas desse patrimonio que constituí a iden-
tidade indelével dos habitantes do pais. Tal patrimonio deve repercutir na
turalmente nos costumes e na legislacao do povo respectivo, já que as leis
háo de corresponder á realidade de cada povo. Eis por que urna festa
como o Natal é consagrada pela legislacao de todos os povos ocidentais,
embora os respectivos governos atualmente se digam arreligiosos. Eis
também porque a Semana Santa é igualmente respeitada pelo calendario
civil dos mesmos povos; a legislacao propicia aos cidadáos o direito
inalienável de viver suas tradicdes religiosas, desde que arraigadas na
consciéncia da nacáo. Este direito tanto corresponde á identidade do ser
humano que nos paises que aboliram os feriados religiosos em virtude de
urna ideología materialista véem atualmente reviver em público as tradi
cdes religiosas de seus cidadáos. O Estado de Israel, que se diz "Estado
leigo", oficializa o sábado como dia de descanso, e nao o convencional
domingo.

Ora no Brasil, além das festas religiosas comuns aos ocidentais,


existem (como em outros povos) festas religiosas peculiares á nacáo; en
tre estas, acha-se a da Padroeira do Brasil, que o Presidente Figueiredo
quis assinalar com um feriado nacional, precisamente para permitir ao
povo brasileiro a expressSo de seus sentimentos religiosos muito caracte
rísticos. Pode haver no Brasil quem nao compartilhe o interesse do povo
pela solenízagáo de tal festa; isto, porém, nao deve levar á abolicSo do
feriado respectivo, pois também há quem nao se interesse pela Semana
Santa e o Natal - o que nao justificaría a extincáo de tais feriados.

575
QUAL SUA OPINIÁO SOBRE O ECUMENISMO?

O Ecumenismo é o movimento que visa a restabelecer a plena comu-


nháo entre a Igreja Católica e as demais denominacóes cristas que no
decorrer dos séculos se foram separando do grande tronco católico: orien
táis (nestorianos, dissidentes em 431; monofisitas em 451; ortodoxos em
1054), protestantes separados em 1517. Velhos Católicos em 1870.0 Ecu
menismo é algo inspirado pelo Espirito Santo em nosso século, quando se
verifica que as separacoes nao tém mais as razoes de ser que as suscita-
ram na época da respectiva cisáo. Em nossos dias há quase total identida-
de de Credo entre católicos e cristáos orientáis. Com o protestantismo o
diálogo é mais difícil, dado o esfacelamento do bloco protestante, onde as
denominacoes mais recentes já perderam muito ou quase tudo do patrimo
nio doutrinário genuinamente cristao, reduzindo o Cristianismo a urna es
cola de bons costumes inspirados pela Biblia sem referencia explícita aos
sacramentos. Além das diferencas doutrinárias (ora mais, ora menos apa
gadas), nota-se que urna das dificuldades para o bom entendimento entre
cristáos provém de questóes de ordem histórica (as Cruzadas, por exem-
plo, no Oriente...), cultural, nacionalista...; quanto menos cultura há em algu-
ma porcao da populacao, tanto mais apego parece haver a costumes locáis,
de importancia secundaria, mas altamente apreciados pela gente simples.

No nivel teológico-doutrinário, as conversares entre católicos e cris


táos nao católicos estáo adiantadas e sao bem sucedidas; a Igreja Católi
ca tem-se esforcado ao máximo para fomentar a aproximagáo e derrubar
preconceitos. O fato, porém, de que a Comunháo Anglicana resolveu con
ferir a ordenacao sacerdotal e a episcopal a mulheres esfriou um tanto o
relacionamento entre anglicanos, de um lado, e católicos e orientáis, de
outro lado; o Oriente é profundamente conservador e fiel ás suas tradicóes.

No plano popular, o Ecumenismo tem sido muito menos feliz, a ponto


de nao ser recomendado entre fiéis despreparados, pois os novos movi-
mentos religiosos oriundos do protestantismo querem aproveitar-se dos
encontros com os católicos para exercer proselitismo.

Como quer que seja, o Ecumenismo merece ser fomentado entre


pessoas dispostas, conhecedoras, com seguranca, das verdades da fé,
capazes de evitar tanto a polémica quanto o falso irenismo (ou conces-
sSes doutrinárias destinadas a insinuar que nao existem diferencas de
Credo). A Igreja Católica propoe suas normas a respeito tanto no decreto
Unitatis Redintegratio do Concilio do Vaticano II quanto em documentos
provenientes da Santa Sé e da Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil.
Estéváo Bettencourt O.S.B.
576
Pergunte

Responderemos

índice Geral de 1996


50 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 415/1996

ÍNDICE
(Os números á direita indicam, respectivamente, fascículo, ano de edicao e página)

"A BIBLIA. MATYAH (O EVANGELHO SEGUNDO MA-


TEUS)". porAndréChouraqui 410/1996 p 290
"A BIBLIA. NO PRINCIPIO (GÉNESIS)", por André
Chouraqui 421/1996, p. 386.
ABORTO EM CASO DE ESTUPRO 408/1996, p. 228;
E TRAUMATISMOS PSICOLÓGICOS 413/1996 p 447:
LÍCITO NA IGREJA? 413/1996, p. 451;
NA ITALIA 412/1996, p. 414;
PARA IMPEDIR MONSTRUOSIDADES 410/1996, p 327
ADIVINHOS E CHARLATANISMO 409/1996, p. 249.
AGUA BENTA: significado 404/1996^ p. 22
AIDSEBISPOSDAFRANQA 409/1996 p 256"
E PRESERVATIVO INEFICAZ 409/1996Í P- 26¿
"A IGREJA DE JESÚS", por Rufino Velasco 411/1996, p. 351.
ALTARES E VELAS: significado 404/1996, p. 23.
ANJOS BONS E DEMONIOS, segundo O. Quevedo.. 408/1996, p. 235.
ANO 2000: CARTA APOSTÓLICA DO PAPA 405/1996, p. 52;
MEDOOUESPERANQA? 406/1996 p 98
ANTI-SEMITISMO E PIÓ XI 407/1996, p. 159.
ANTROPOLOGÍA: desvíos 407/1996, j>. 183.
ANTROPOSOFIA: que é? 414/1996, p. 525.
APARECIDA: histórico das aparicoes 405/1996, p. 72.
APARICÁO DE LA SÁLETE: histórico 414/1996, p. 501.
APARIQOES DE GARANBANDAL (Espanha) 404/1996, p. 32.
APARIQÓES DOS SANTOS E PARAPSICOLOGÍA... 408/1996, p. 236.
APOCALIPSE20: COMO ENTENDER? 415/1996, p. 540.
"A QUEM IREMOS?" porEvaldo Alves D'Assumpcao.. 407/1996, p. 182
ARGELIA E TRAPISTAS ASSASSINADOS 413/1996 p 434
ASSOCIAQÁO "A VERDADEIRA VIDA EM DEUS"... 406/1996, p. 118.
AUSTRIA-BISPOS ACUSADOS 407/1996, p. 149.
AUTENTICAQÁO DA OBRA DE JESÚS CRISTO 415/1996, p. 549.
AUTENTICIDADE DOS FRAGMENTOS DE QUM-
RAN 411/1996, p. 338.
"AVE-MARIA" - origem 404/1996, p. 25.
"A VIAGEM DE LOURDES", por Alexis Carrel 406/1996, p. 137.

578
Índice geral de 1996 51

BENEDITINAS DA DIVINA PROVIDENCIA: 60 anos


no Brasil 409/1996, p. 245.
BÍBLIAESONHOS 409/1996, p. 251;
TRADUZIDA PARA 2.120 IDIOMAS 413/1996, p. 446;
-VERACIDADE 408/1996, p. 237;
-VALOR HISTORIOGRÁFICO 414/1996, p. 482.
BISPOS DA FRANQA EAIDS 409/1996, p. 256.
BRITÁNICOS E EMBRIÓES 413/1996, p. 459.
BUDISMO ECONVERSÁOAO CRISTIANISMO 415/1996, p. 560.
"BUSCAR SENTIDO NO SOFRIMENTO", por Peter
Kreeft 409/1996, p. 285.

CAMISINHA:.INEFICÁCIA 409/1996, p. 267.


CARREL, ALEXIS: "Viagem de Lourdes" 406/1996, p. 137.
CARTA APOSTÓLICA DE JOÁO PAULO II: "JÁ SE
APROXIMA O TERCEIRO MILENIO" 405/1996, p. 50.
CARTA DE JOÁO PAULO IIAOS BISPOS DA AUS
TRIA 407/1996, p. 149.
CASAMENTO CIVIL EIGREJA 404/1996, p. 40.
DE EMERSON FITTIPALDI 404/1996, p. 39.
CASSINOS-ABERTURA 414/1996, p. 513.
CATECISMO DA IGREJA E MORAL CATÓLICA 410/1996, p. 320.
"CATOLICISMO: VERDADE OU MENTIRA?", por
Adelson Damasceno Santos 407/1996, p. 173.
CELIBATO SACERDOTAL: QUESTÓES E RESPOS-
TAS 414/1996, p. 497;
414/1996, p. 490.
CHINIQUI, CHARLES: "O DOM INEFÁVEL" 412/1996, p. 429.
CHOURAQUI, ANDRÉ: MATYAH (MATEUS) 410/1996, p. 290;
NO PRINCIPIO (GÉNESIS).. 412/1996, p. 386.
CONCILIOS ECUMÉNICOS (21) 405/1996, p. 57.
CONFERENCIA DE PEQUIM: RESTRICÓES DA
SANTA SÉ 406/1996, p. 130;
CONFERENCIA DE PEQUIM: RESULTADOS 406/1996, p. 124.
NACIONAL DOS BISPOS DO BRA
SIL E PROFANACÁO DE IMAGEM ... 406/1996, p. 101.

579
52 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS' 415/1996

CONFISSAO - VIOLAQÁO DO SEGREDO NA IR


LANDA? 405/1996, p. 78.
CONGELAMIENTO DE SERES HUMANOS: como?... 411/1996, p 372
CONSELHO EUROPEU E FECUNDACÁO ARTIFI
CIAL 404/1996, p. 47.
CONSULTA A ADIVINHOS: VALE A PENA? 409/1996, p. 249.
CORPO E ALMA, INSEPARÁVEIS UM DO OUTRO?.. 408/1996, p. 234.
CRENDICE POPULAR E SEITAS 404/1996, p. 5
CRONOLOGÍA E TOPOGRAFÍA DA BÍBLIA EM ES
TILO SEMITA 414/1996, p. 487
CROSSAN, JOHN DOMINIO: "O JESÚS HISTÓRI
CO" 406/1996, p. 104.
CULTOASATANÁS 410/1996, p. 329.

D'ASSUMPCÁO, EVALDO ALVES: "A QUEM IRE


MOS?" 407/1996, p. 182
DATA DE REDACÁO DOS EVANGELHOS 415/1996 d 564
DESTINO EXISTE? 411/1996* o 343~
DIGNIDADE DA PROCRIACÁO HUMANA 412/1996 d 405
DIREITOATERUMFILHO 412/1996 p 41 o'
DIVORCIO E NOVO CASAMENTO PARA OS PO-
DEROSOS? 404/1996 D 43'
DIVÓRCIO-"EXISTESAÍDA?" 409/1996 p 375!
-"LEGALIZACÁOPELAIGREJA?" 408/1996Í p. 2U.

ECUMENISMOrQUEÉ? 416/1996. p. 576;


FALSO 404/1996, p. 3;
405/1996, p. 88.
EGITO: recordares de viagem 413/1996 p 472
ELEICÁO DO PAPA POR TODOS OS FIÉIS 408/1996Í p. 223;
-comoéfeita 412/1996 p 398
"EMBRIÁOÉUMDENÓS" 413/1996 p 459
EMBRIÓES SACRIFICADOS NA INGLATERRA 413/1996 p 459
EPlSCOPO, ESPOSO DE UMA SÓ MULHER (1Tm
3.2; Tt 1,6) 414/1996, p. 490;
quemé? 414/1996, p. 491.

580
Índice geral de 1996 53

ESCÁNDALOS DA PROVETA 404/1996, p. 45.


ESCATOLOGIA: desvíos 407/1996Í p. 186^
ESPIRITISMO, segundo Ricardo Sazaki 407/1996, p. 169^
ESTUPRO E ABORTO na revista VEJA 408/1996* p 228
ESTRATIGRAFÍA DOS ESCRITOS DO NOVO TES
TAMENTO 406/1996, p. 113.
EXERCÍCIOS FÍSICOS NA ESPIRITUALIDADE
CRISTA? 408/1996, p. 211.
"EXISTE SAlDA? PARA UMA PASTORAL DOS DI
VORCIADOS", porBernhard Háring 409/1996, p. 275
"EVANGELIUM VITAE"-Encíclica de Joáo Paulo II... 413/1996, p. 464
EVANGELIZAR EM NOSSOS DÍAS: como? 415/1996 p 542
EXPECTATIVAS DE FIM DO MUNDO E MILENARIS-
MO 415/1996, p. 530.

FECUNDACÁO ARTIFICIAL -inconvenientes 404/1996, p. 45;


- posicáo da Igreja 413/1996, p. 466.
FERIADOS RELIGIOSOS: sim ou n§o? 415/1996, p. 575.
FILME SOBRE MADRE TERESA DE CALCUTTÁ 413/1996, p. 480.
FIM DO MUNDO: que dízer? 415/1996, p. 536;
EPRIMEIROMILENIO:QUEHOUVE? 415/1996, p. 53i"
FITTIPALDI, EMERSON: CASAMENTO NA IGREJA.... 404/1996, p. 39

GARABANDAL: sim ou nao? 404/1996, p. 32.


GARAUDY, ROGER: quem é Jesús Cristo? 411/1996, p. 349.
GÉNESIS 1-11: género literario 413/1996, p. 488.
-traducáodeAndréChouraqui 412/1996, p. 386.
GRECIA: recordacSes de viagem 413/1996, p. 477.
GRUEN, WOLFGANG: "O CATECISMO... E NOSSA
CATEQUESE" 410/1996, p. 316.

HÁRING, BERNHARD: "EXISTE SAÍDA?" 409/1996, p. 275.


HERANCA DE BENS na legislacáo brasíleira 412/1996, p. 413.
HEIDEGGER, MARTÍN, E DEUS 414/1996, p. 528.

«sa-
54 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 415/1996

HIBERNACÁO OU CONGELAMENTO: que é? 411/1996, p. 373


HISTORIA BÍBLICA: PRAGMÁTICO-RELIGIOSA 414/1996, p. 484.
HISTORICIDADE DA BIBLIA: sim ou nao? 414/1996Í p. 482.

IGNORANCIA RELIGIOSA E SEITAS 404/1996 p 4


IGREJA CATÓLICA E CREDIBILIDADE 412/1996," p. 392"
E GUARDA DA BÍBLIA 404/1996 p u'
EEDUCACÁO SEXUAL 405/1996 p 8V
DURANTE SÉCULOS FAVORÁVEL AO "
ABORTO? 413/1996, p. 451;
NOS ESCRITOS DO NOVO TESTAMENTO.. 411/1996 p 356
IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS E CRE
DIBILIDADE 412/1996, p. 393
IMACULADA CONCEIQÁO: significado 412/1996 d 422
IMPOTENCIA COMO IMPEDIMENTO MATRIMONI- '
AL
IMPRECAQOÉS DOSi SALMOS: comorezá-las?>".".'.'. Vi%]llÍ ü"
INGLATERRA E EMBRIÓES SACRIFICADOS IiSioo? „
INOVACÓES PROTESTANTES %$£&' o 180
ISLA E MARÍA SS ¿iÍmS' n lio
ISRAEL recordares de viagem JJ^Jg P %\
J

JESÚS CRISTO: COMO O IDENTIFICAR 415/1996, p. 546


JESÚS E ANTROPOCENTRISMO 415/1996 p 548
"JESÚS, UMA BIOGRAFÍA REVOLUCIONARIA", por
John Dominio Crossan 408/1996 p 200
"JESÚS VIVEU NA ÍNDIA?", por Holger Kersten 410/1996. p. 302.
JOÁO BATISTA E ELIAS: reencamacáo? 410/1996 p 312
JOÁO PAULO II -17 ANOS DE PONTIFICADO 407/1996* p 156'
JUBILEU DO ANO 2000: preparado, segundo Joao
Paul°" 405/1996, p. 52.

KREEFT, PETER: "BUSCAR SENTIDO NO SOFRI-


MENTO" 409/1996, p. 285.
KRIEGER, MURILO, E VASSULA RYDEN 406/1996, p. 118.
Índice geral de 1996 55

LA SALETTE: histórico da aparicáo 414/1996, p. 501.


LEGRAIN. MICHEL: DIVORCIO NA IGREJA? 408/1996, p. 214.
LOURDES E ALEXIS CARREL 406/1996, p. 137.

MADRE TERESA DE CALCUTTÁ - filme 413/1996. p. 480;


- vida e obra 411/1996, p. 364.
"MAMONAS ASSASSINAS" E VIDENTE .... 409/1996, p. 246.
MANIPULAQÁO DA VIDA: aspectos diversos 411/1996, p. 383.
MANTRA NA ESPIRITUALIDADE CRISTA 408/1996, p. 209.
MARÍA SS. NO CORÁO 415/1996, p. 572;
-veneracáo legítima 412/1996, p. 423.
MARTINETTI, GIOVANNI: "RAZÓES PARA CRER"... 408/1996, p. 194.
MASSIFICAQÁO EM GRANDES PARÓQUIAS 405/1996, p. 89.
MATERNIDADE DIVINA: significado 412/1996, p.421.
MATEUS, EVANGELHO DE - traducao de André
Chouraqui 410/1996, p. 290.
MATRIMONIO INDISSOLÚVEL NO NOVO TESTA
MENTO 408/1996, p. 216.
MEDJUGORJE: PRONUNCIAMENTO DA SANTA
SÉ 413/1996, p. 470.
MENINAS XIFÓPAGAS 410/Í996, p. 325.
MESSIAS -conceito, entre os Apostólos 415/1996, p. 555.
MILAGRE EM LOURDES (Alexis Carrel) 406/1996, p. 137.
MILENARISMO OU QUILIASMO: que dizer? 415/1996, p. 536.
MISSA NEGRA: que é? 410/1996, p. 331.
"MISTER ABORTO" RECONHECE OS CRIMES ...... 412/1996, p. 414.
MITO DO "SEXO SEGURO" 409/1996, p. 267.
MITOLOGÍA E DESTINO 411/1996, p. 344.
MOONISMO: nogao 407/1996, p. 171.
MORAL SEXUAL, segundo J. Delumeau 408/1996, p. 199.
MULHERES E ORDENACÁO SACERDOTAL 407/1996, p. 153.
MUNDOS HABITADOS POR SERES INTELIGENTES:
existem? 414/1996, p. 506.

583
56 'PERGUNTE E RESPONDEREMOS* 415/1996

NESTORIANOS PROFESSAM A FÉ CATÓLICA 407/1996, p. 146.


NOITE DE SAO BARTOLOMEU (24/08/1572) 404/1996. p. 27.
NOSSA SENHORA APARECIDA: histórico 405/1996, p. 72.
NOVA EVANGELIZACÁO E SEITAS 404/1996, p. 9.

"O CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA E NOSSA


CATEQUESE", por Wolfgang Gruen 410/1196, p. 316.
"O DOM INEFÁVEL", por Charles Chiniquy 412/1996, p.429.
"O JESÚS HISTÓRICO", por John Dominio Crossan.. 406/1996, p. 104.
"O OUTRO LADO DO ESPIRITUALISMO MODER
NO. PARA COMPREENDER A NOVA ERA",
por Ricardo Sazaki 407/1996, p. 164.
ORACÁO CRISTA E EXERCÍCIOS FÍSICOS 408/1996. p. 209.
ORDENACÁO SACERDOTAL DE MULHERES: de-
clara9§o papal 407/1996, p. 153.
ORIGEM DO MUNDO E DO HOMEM E EXISTENCIA
DE DEUS 408/1996. p. 196.
"ORIGEM DOS VARIOS GRUPOS CRISTÁOS" - pan
fleto protestante 404/1996, p. 11.
"OS ANOS OBSCUROS DE JESÚS", artigo de ISTO
É , 410/1996, p. 298.
"OS CRISTÁOS DIANTE DO DIVORCIO" por Michel
Legrain... 408/1996. p. 214.
OUTROS MUNDOS HABITADOS? 414/1996, p. 506.

PARAPSICOLOGÍA E RELIGIÁO 408/1996, p. 233.


PAULO APOSTÓLO: nos passos de... (peregrina-
5§o) 413/1996, p. 472.
PEQUIM: CONFERENCIA DE - RESTRICÓES DA S.
SÉ. 406/1996, p. 130;
- RESULTADOS 406/1996. p. 124.
PESQUISA DE CREDIBILIDADE 412/1996, p. 392.

584
Índice geral de 1996 57

PESSOA HUMANA: DIGNIDADE 412/1996, p. 407.


PLATÁO: JUSTIQA E INJUSTICA 406/1996, p. 103.
"POR QUE MARÍA CHORA?", por J.T.C 412/1996, p. 420.
PRESERVATIVOS: INEFICACIA 409/1996, p. 267.
PROTESTANTISMO: DATA DE ORIGEM DAS DIVER
SAS DENOMINACÓES 407/1996, p. 380;
- ORIGEM DO NOME 404/1996, p. 103.
PROVIDENCIA DIVINA E DESTINO 411/1996, p. 348.

"QUE DIZ VOCÉ A RESPEITO DA IGREJA CATÓLI


CA?-pesquisa do Jornal do Brasil 412/1996, p. 392.
"QUEM NAO PODE TRANSAR, NAO PODE CASAR",
por Rubem Alves 412/1996, p. 416.
QUMRAN: manuscritos bíblicos 411/1996, p. 338.

"RAZÓES PARACRER", porGiovanni Martinetti, S.J... 408/1996. p. 194.


REENCARNACÁO E CRISTIANISMO: compatfveis
entresi? 410/1996. p. 312.
REENCARNAQÁO E IGREJA ANTIGA 413/1996, p.471.
REFORMA AGRARIA E TÉRRAS DA IGREJA 413/1996, p. 468.
RELIGIÁOETRADIQÁOafins entre si 407/1996, p. 165.
RESSURREICÁO DE CRISTO E PARAPSICOLOGÍA.. 408/1996. p. 236;
-fato real 415/1996, p. 550.
RESSURREICÁO APÓS CONGELAMENTO? 411/1996. p. 378.
ROMA: recordacoes de viagem 413/1996, p.478.

SACERDOTES CASADOS E SACERDOTES CELI-


BATÁRIOS 414/1996, p. 500.
SALETTE, LA: aparicáo 414/1996, p. 501.
SANTA SÉ - RESTRIQÓES A CONFERENCIA DE
PEQUIM 406/1996, p. 130.
SANTIDADE DE VIDA: valor apostólico 415/1996, p. 557.
SATANISMO-PROPAGAQÁO 410/1996, p. 330.

585
58 TERGUNTE E RESPONDEREMOS' 415/1996

SAZAKI, RICARDO: "O OUTRO LADO DO ESPIRI-


TUALISMO MODERNO" 407/1996, p. 164.
SECULARISMO E PROPAGAQÁO DAS SEITAS 405/1996, p. 86.
SEITAS: CAUSAS E RESPOSTAS 405/1996, p. 82;
DESAFIO 404/1996, p. 2.
SEMIRAMIS.A-RAINHADOCÉU" 412/1996, p. 425.
SEPULCRO VAZIO: importancia 415/1996, p. 556.
"SEXO SEGURO": falsidade 409/1996, p. 267.
SIGILO E ELEICÁO PAPAL 412/1996, p. 403;
SACRAMENTAL: violado na Irlanda? 405/1996. p. 78.
SINAL DA CRUZ NA TRADICÁO 404/1996. p. 22.
SÍNDROME PÓS-ABORTO 405/1996, p. 92.
SOFRIMENTOE ATEÍSMO 409/1996. p. 288;
- MISTERIO E NAO PROBLEMA 409/1996, p. 287.
"SOMENTE DEUS NOS PODE SALVAR" (M. Hei-
degger) 414/1996, p.528.
SONHOS: significado 409/1996, p. 251.

T •

TEOSOFÍA: que é? 414/1996, p. 516.


TERCEIRO MILENIO: Carta Apostólica 405/1996, p. 50.
TERESA DE CALCUTTÁ: apresentacao 411/1996, p. 364;
filme 413/1996, p. 380.
TÉRRA, AMBIENTE SINGULAR PARA A VIDA 408/1996, p. 197.
TÉRRAS DA IGREJA E REFORMA AGRARIA 413/1996, p.468.
"TERTIOMILLENNIO ADVENIENTE" deJoao Paulo II.. 405/1996, p. 50.
TESTAMENTO DO PE. CHRISTIAN, trapista da Ar
gelia 413/1996, p.444.
TESTEMUNHO DE VIDA-valor 415/1996, p. 543.
TRADICÁO CRISTA E INDISSOLUBILIDADE DO
MATRIMONIO 408/1996, p. 218.
TRANSUBSTANCIACÁO: histórico do vocábulo 404/1996, p. 23.
TRAPISTAS ASSASSINADOS NA ARGELIA 413/1996, p. 434.
TURQUÍA: recordacSes de viagem 413/1996, p. 475.

UNIÁO SEM CASAMENTO: legislacao brasileira 412/1996, p. 412.


"UNIVERSI DOMINICI GREGIS" - Constituicao de
JoSo Paulo II 412/1996, p. 399.

586
ÍNDICE GERAL DE 1996 59

VASSULA RYDEN, PRONUNCIAMENTO DA IGRE-


JA 406/1996, p. 116.
VATICANO II: MUDANCA HISTÓRICA 411/1996, p. 355.
VELASCO, RUFINO: "A IGREJA DE JESÚS" 411/1996, p. 351.
VENERACÁO A MARÍA SS.: justificativa 412/1996, p. 423.
"VERDADERA VIDA EM DEUS" E VASSULA RYDEN.. 406/1996, p. 118.
VÉU EGRINALDA: significado 404/1996, p. 40.
VIOLAQÁO DO SEGREDO DA CONFISSÁO NA IR
LANDA? 405/1996, p. 78.

XIFÓPAGAS NORTE-AMERICANAS 410/1996. p. 325.

EDITORIAIS

"ABRAQAR COMO FUI ABRACADO..." (Fil 3,12) 405/1996, p. 49.

A IGREJA, MINHA MÁE 410/1996, p. 289.


"EIS QUE ESTOU A PORTA E BATO..." (Ap 3,30) 404/1996, p. 1.
"O DEUS BEM-AVENTURADO" (1Tm 1,11) 407/1996, p. 145.

O FIM DO MUNDO OÜ RENOVAQÁO DO MUNDO?... 411/1996, p. 337.


O MISTERIO DA INIQÜIDADE 409/1996, p. 241.
"Ó MORTE, ONDE ESTÁ A TUA VITORIA?" (1Cor
15,55) : 406/1996, p. 97.

"PROSSIGO PARA Ó ALVO" (Fl 3,14) 415/1996, p. 529.


SEMEARPARACOLHER 412/1996, p. 385.

"SEM INTERVENQÁO HUMANA..." (Dn 2,34) 408/1996, p. 193.


SE NAO VOS TORNARDES COMO AS CRIANCAS..."
(Mt 18,2) 413/1996. p. 433.

"VIVER É CRISTO, MORRER É LUCRO..." (Fl 1,21) .. 414/1996, p. 481.

587
60 TERGUNTE E RESPONDEREMOS' 415/1996

LIVROS APRECIADOS

BARREIRO, SJ., Alvaro. Do Jordáo á Betánia. Con


templando os misterios da vida públi
ca de Jesús 407/1996, p. 191.

BLANK, Renold J. Esperanca que vence o temor. O


medo religioso dos cristaos e sua su
perado 404/1996, p. 44.

CARVALHO, Doris Hoyer de. Por que perdoar? 412/1996, p. 432.

CASTANHO, D. Amaury. Afetividade e sexualidade


humana no Plano de Deus 412/1996, p. 431.

LAFRANCE, Jean. Com Maria em oracáo 408/1996, p. 232.

MACANEIRO, SCJ., Marcial. Mística e Erótica 406/1996, p. 144.

MAGALHÁES, Dr. Cicero Wey de. A Regra de Sao


Bento na vida do Oblato 404/1996, p. 38.

MOSER, D. Hilario. A missáo da familia crista no


mundo de hoje 412/1996, p. 431.

MOVIMENTO INTERNACIONAL DAS EQUIPES DE


NOSSA SENHORA. Evangelizar a sexu
alidade 412/1996, p. 431.

PEDRINI, SCJ., Alírio J. Jovens em renovacao 407/1996, p. 191.

PERNOUD, Regina. Hildegard de Bingen. A consci-


éncia inspirada do sáculo XII 412/1996, p. 394.

PENSANDO NOS IRMÁOS...

CARO(A) LEITOR(A), SE ESTA REVISTA LHE AGRADOU, RE-


COMENDE-A A SEUS AMIGOS, PROPORCIONANDO-LHES A OCA-
SIÁO DE REFLETIR. MUITAS VEZES NAO HÁ MAIS FÉ PORQUE HÁ
MAL-ENTENDIDOS E PRECONCEITOS. A NOSSA REVISTA PROCU
RA ESCLARECER EM FIDELIDADE AO PENSAMENTO DA IGREJA.
ESTAMOS CERTOS DE QUE A FÉ É A LUZ INDISPENSÁVEL PARA
GUIAR OS PASSOS DOS HOMENS PELAS ESTRADAS DESTA VIDA.

588
LIVROS Á VENDA NA LUMEN CHRISTI:

- JESÚS CRISTO VIDA DA ALMA, Dom Columba Marmion, OSB. Quarta edicáo Portu
guesa pelos Monges de Singeverga, Portugal. 1961, 544págs R$ 25,00
- SALTERIO MEU MINHA ALEGRÍA, os 150 Salmos pelas Monjas beneditinas de Santa
Maria - SP. Salterio ilustrado para enancas e adultos com alma de enanca 2a edicáo
1994. Formato: 21,5x16cm R$ 11 gfl'

- MAGISTERIO EPISCOPAL, (Escritos Pastorais) de D. Clemente José Carlos Isnard


OSB, Bispo emérito de Nova Friburgo/RJ. Coletánea dos mais variados temas vividos
durante os seus trinta anos de vida episcopal. Volume de 540 págs R$ 11,40.
- RIQUEZAS DA MENSAGEM CRISTA, por Dom Cirilo Folch Gomes O.S.B. Reimpressáo
da 2a edicáo (Jan. 1989). Curso completo de Teología Dogmática, Comentario ao "Cre
do do Povo de Deus", de Paulo VI. Especialmente para curso superior em Seminarios
e Faculdades. 691 págs R$34 80.

- O MISTERIO DO DEUS VIVO, Pe. Albert Patfoort, OP, traducáo e notas de D. Cirilo
Folch Gomes, OSB. Tratado de "Deus Uno e Trino", de orientacáo tomista e de Índole
didátíca. 230 págs R$16,80.

- DIÁLOGO ECUMÉNICO, Temas controvertidos. Dom Estéváo Bettencourt, OSB. 3a


ed., ampliada e revista, 1989. 340 págs R$ 16,80.
- GRANDE ENCONTRÓ, Dom Hildebrando P. Martíns, OSB. Semana da Missa na Paró-
. quia para melhor compreensáo do povo. 109 págs R$4,60.
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Paroquiais. Em cores.

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ao povo. Traducáo e notas de D. Hildebrando P. Martins R$7,20.

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Moura, O.S.B.. Baseada em parte em traducáo de Dom Ludgero Jaspers, O.S.B.. Revi-
sao de Luis A. de Boni. Edicáo bilingüe. 927 págs.
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- O ENTE E A ESSÉNCIA. Tradugáo e introducáo com notas de Dom Odiláo Moura, O.S.B..
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meira escrita por Sao Tomás, urna síntese de sua doutrina filosófica R$ 15,00.

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ra edicáo. Ed. Loyola. 1995. 120 págs R$9,00.

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- PADRE PENIDO, TEÓLOGO E APOSTÓLO DA LITURGIA, Editora Tricontinental, Rio,


1995,108 págs R$8,00.

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mais de 300 págs., analisando a grande personalidade do Pe. Penido, sob os aspectos
humano, intelectual e espiritual R$ 25,00.

- SAO JOÁO DA CRUZ, O MESTRE DO AMOR. Vida e doutrina mística do Doutor da


Igreja, comparada com a de outros teólogos católicos. Editora G.R.D., SP. 1991.
168 págs R$ 15,00.

- IDÉIAS CATÓLICAS NO BRASIL - Direcóes do pensamento católico do Brasil no século


XX. Editora Convivio, SP. 1978. Análise das personalidades e movimentos católicos até
o Concilio Vaticano II. 255 págs R$8,00.

- TEOLOGÍA E TEOLOGÍAS DA LIBERTAQÁO. Opúsculo. Presénca Edicóes,-


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- ECUMENISMO E ENSINO RELIGIOSO NA ESCOLA PÚBLICA. Presénca Edicfies 1988.
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