Você está na página 1de 54

Projeto

PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LINE

Apostolado Veritatis Spiendor


com autorizacáo de
Dom Estéváo Tavares Bettencourt, osb
(in memoriam)
APRESENTAQÁO
DA EDigÁO ON-LINE
Diz Sao Pedro que devemos
estar preparados para dar a razáo da
nossa esperanca a todo aquele que no-la
pedir (1 Pedro 3,15).

Esta necessidade de darmos


conta da nossa esperanca e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora,
visto que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrarias á fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crenca católica mediante um
aprofundamento do nosso estudo.

Eis o que neste site Pergunte e


Responderemos propoe aos seus leitores:
aborda questóes da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
vista cristáo a fim de que as dúvidas se
dissipem e a vivencia católica se fortaleca
no Brasil e no mundo. Queira Deus
abencoar este trabalho assim como a
equipe de Veritatis Splendor que se
encarrega do respectivo site.

Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.

Pe. Estevao Bettencourt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convenio com d. Estevao Bettencourt e


passamos a disponibilizar nesta área, o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica "Pergunte e
Responderemos", que conta com mais de 40 anos de publicacáo.

A d. Estéváo Bettencourt agradecemos a confiaca


depositada em nosso trabalho, bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
to SUMARIO

D
I-
Separar-se da Igreja?
<

Deus Existe?
tu

O A Religiao na URSS
I-
co O Caso Lefebvre
Ul

A "Biblia de Jerusalém": Sim ou Nao?


a

co
"Como se faz um Padre Celibatário"

2
Ul

OQ
O
ce
a.

ANO XXIX SETEMBRO 1988 316


PERGUNTE E RESPONDEREMOS SETEMBRO - 1988
Pubdicacio mensal N?316

SUMARIO
Diretor-Responsivel:
Estéváo Bettencourt OSB Separar-se da Igreja? 385
Autor e Redator de toda a maiéria
A pergunta fundamental:
publicada neste periódico
Deus Existe? 386
Diretor-Administrador: A perplexidade do regime:
D. Hildebrando P. Martins OSB A Religiao na URSS 397
Que pensar?
Administrado e distribuicáo:
O caso Lefebvre 407
Edicóes Lumen Christi
Na imprensa: v<
Oom Gerardo, 40 - 5" andar S/501
Tel.: (021) 291-7122 A "Biblia de Jerusalém":
Caixa Postal 2666 Sim ou Nao? 423
20001 - Rio de Janeiro - RJ Irania fluente:
"Como se faz um Padre
Celibatário" 427

"MAKQVES-SARAIVA"
anÁfcos e eorroRes s*
T.li. ¡01MÍ73-Í'»» - Í7>»447

ASSINATURA: Cz$ 2.000,00 NO PRÓXIMO NÚMERO:

Número avulso: Cz$ 200,00 317 - Outubro - 1988

Pagamento (á escolha) "Jesús antes do Cristianismo" (Albert No-


lan). — O Ecumenismo visto por um ex-pro-
1. VALE POSTAL á Agencia Central (ios testante. - Max Thurian explica-se. - "Re
Correios do Rio de Janeiro. sistir ao Papa hoje, como outrora"? - O Isla
2. CHEQUE BANCÁRIO. mismo. — O celibato sacerdotal.
3. No Banco do Brasil, para crédito na Con
ta Córtente n?0031, 304 1 em nome do
MosteirodeS. Bentodo Riode Janeiro, pa-
gável na Agenciada Praga Mauá (n90435). COM APROVACAO ECLESIÁSTICA

RENOVÉ QUANTO ANTES COMUNIQUE NOS QUALQUER


A SUA ASSINATURA MUDANCA DE ENDERECO
Separar-se da Igreja?
O gesto cismático de D. Marcel Lefebvre consternou os cristaos, ao
mesmo tempo que Ihes inspira algumas reflexóes.
Logo de inicio, no diálogo com os tradicionalistas é forcoso reconhe-
cer que houve abusos na interpretacao do Concilio do Vaticano II,... abu
sos da parte de pessoas e grupos, nao, porém, da Igreja oficial. Isto provocou
repulsa justificada nao só nos fiéis mais apegados ao passado, mas em todos
aqueles que amam a Igreja de Cristo.
Dito isto, observemos que a réplica de D. Lefebvre se prende á Tradi
cao, esquecendo que
1) a Tradicao é algo de vivo, e nao mumificado. Um organismo que só
saiba repetir seu passado sem tirar da sua vitalidade novas expressoes, é ané
mico. Ora a Igreja é o Corpo de Cristo prolongado; deve procurar descubrir
no tesouro de verdades e grapas que o Senhor Ihe deixou nova et vetera (coi
sas novas e antigás; cf. Mt 13,52). Ademáis o Senhor comparou sua Igreja a
um grao de mostarda, que inicialmente é minúsculo, mas se torna, com o
tempo, árvore frondosa, na qual as aves do céu se abrigam (cf. Mt 13,31s).
Por conseguinte, é natural que, no decorrer dos séculos, novas manifestacóes
de vitalidade da Igreja se verifiquem. O que importa, é o desdobramento de
vitualidades latentes em plena consonancia e continuidade com o passado.
Para que isto de fato aconteca, o Senhor prometeu sua ¡nfalível assisténcia
a Pedro {cf. Mt 16,16-19; Le 22,31s; Jo 21,15-17) e a acaodo Espirito Pa
ráclito (cf. Jo 14,26; 16,13-15).
2) A este propósito observemos ainda que as atitudes da Igreja podem
variar diante de nocoes que assumam novas e novas significacoes através dos
tempos. Assim no sáculo XVIII "democracia" implicava impiedade, ateís
mo; daí a repulsa desta palavra por parte de muitos católicos, repulsa que
hoje nao é mantida, pois a palavra foi purificada de anexos filosóficos con
tingentes. Os vocábulos "progresso e "civilizacSo" sugeriam a Pió IX em
1864 o materialismo do sáculo XIX, sugestáo esta que nao mais ocorreem
nossos dias. Por isto entende-se que, diante de conceitos que evoluem, possa
também a autoridade da Igreja tomar posicoes diversas, sem trair a verdade
nem violar a Tradicao; esta é algo de perene, que deve ser "encarnado" den
tro das formas transitorias e variadas da vida dos homens.
Esta breve reflexáo pode dissipar hesitacoes existentes em fiéis católi
cos. Na verdade, nenhuma das alegacoes tradicionalistas é decisiva para jus
tificar um cisma; basta estudar de perto as afirmaedes genéricas que fazem
os seus arautos. É o que proporemos neste e no seguinte fascículo de PR.

E.B.

385
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS"
Ano XXIX - N? 316 - Setembro de 1988

A pergunta fundamental:

Deus Existe?

Em tíntese: Este artigo apresenta depoimentos de dentistas de varías


áreas, assim como de filósofos, contemporáneos ou modernos, que profes-
sam a existencia de Deus. O livro da Natureza, com suas múltiplas facetas,
é, para eles, o mais eloqüente testemunho de que urna Inteligencia Suprema
e poderosa está ñas origens do mundo visfvel. Esta verificafio confirma o
axioma segundo o qual " a pouca ciencia pode afastar de Deus, mas a muita
ciencia leva a Deus".

O ateísmo é fenómeno inédito dos séculos XIX/XX. No século passa-


do quem nao tivesse fé, procurava combater a fé ou, ao menos, justificar a
sua posicao incrédula. No século XX o ateísmo tornou-se, nao raro, indife
rentismo frente a Deus; em muitos casos, já nao é ateísmo teórico ou aca
démico, mas é ateísmo prático; os ateus simplesmente ignoram Deus na sua
vida cotidiana. As razoes desta atitude sao varias:

1) a exaltacao do homem com sua razio e sua ciencia. 0 mito da cien


cia, "chave para resolver todos os problemas", empolgou indevidamente
muitas geracoes;

2) a psicología materialista, que reduz a religiáo a urna atitude mera


mente subjetiva e ocasional do ser humano, sem que Ihe responda a reali-
dade objetiva de Deus. A religiáo seria urna muleta, oportuna para quem
déla precise, mas desnecessária a quem saiba ser auto-suficiente;

3) o hedonismo ou a tendencia ao prazer, que tem aberto os caminhos


da permissividade e vem embotando as conscidncias frente aos valores trans-
cendentais;

386
DEUS EXISTE?

4) a deturpacfo da doutrina e da vida crista por parte dos próprios


cristaos.

O leque de modalidades do ateísmo e das suas causas encontra-se sucin


ta e claramente exposto na Constituicao sobre a Igreja e o Mundo Moderno
(Gaudium et Spes n°s 19-21).

No contexto das posicoes atéias, há quem julgue que a religiao está li


gada ao obscurantismo, á ignorancia ou ao sentimento da pequenez do no-
mem. Nao seria, porém, atitude digna de pessoa inteligente, esclarecida e
aberta a ciencia moderna. — Ora precisamente em vista desta mentalidade,
publicaremos, a seguir, depoimentos de grandes cientistas e pensadores dos
últimos tempos que professaram a fé em Deus e, nSo raro, a fé católica. Os
testemunhos desses intelectuais contribuem, de modo concreto e irrefutá-
vel, para dissipar a falsa premissa de que ciencia e fé safo ¡ncompatíveis en
tre si. A falta de fé no ateu nao se deve a argumentos de ordem científica
ou filosófica (nao se pode provar que Deus nSo existe), mas a uma oppao
pessoal; o ateu é ateu nao por ter a evidencia de que Deus nao existe, mas
simplesmente porque quer ou prefere ser ateu (ás vezes razóes de ordem mo
ral impedem a pessoa de crer ou recomendam a oppao por uma filosofía de
vida atéia).

As declarapSes transcritas ñas páginas subseqüentes foram extraídas


do folheto "Gott Existiert" publicado pela Katholische Junge Gemeinde
(Comunidade Jovem Alema) da cidade Neustadt na Alemanha Ocidental.
Certos do valor que estes textos podem ter para o leitor brastleiro, transmi-
timo-Ios em tradupfo portuguesa:

1. Falam homens de ciencia

Serao, a seguir, arrolados os testemunhos respectivos em ordem cro


nológica, a comecar pelos mais recentes:

1) C. M. Hathaway, nascido em 1902, físico e engenheiro norte-ameri


cano, inventor do cerebro eletrbnico:

"A Física moderna ensina-me que a natureza é incapaz de se organizar


por si mesma. O universo apresenta uma grande organizacao. Por isto se tor
na necessário admitir uma Grande Causa Primeira".

2) Pascual Jordán (1902-1980), físico alemao, um dos fundadores da


Mecánica dos quanta:

387
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 316/1988

"O progresso moderno removeu os empecilhos que se opunham á har


monía entre ciencias naturais e cosmovisSo religiosa. Osatuais conhecimen-
tos de ciencias naturais já nSo fazem objecio é noció de um Deus Criador".

3) Werner von Braun (1912-1977), alemáo domiciliado nos Estados


Unidos, físico e pesquisador da energia atómica:

"Nao se pode de maneira nenhuma justificar a opiniao, de vez em


quando formulada, de que na época das viagens espaciáis temos conhecimen-
tos na natureza tais que jé nao precisamos de crer em Deus. — Somente urna
renovada fé em Deus pode provocar a mudanca que salve da catástrofe o
nosso mundo. Ciencia e Religiao sSo, pois, irmis e nao polos antitéticos".

4) Fr. von Huene (1875-1969), geólogo e paleontólogo alemáo:

"Essa tonga historia da vida que aos poucos se vai erguendo em escala
ascensional. é, precisamente, a historia da criacio do mundo dos viventes. É
a agio de Deus que tudo planeja e concebe, dirige e sustenta".

5) M. Hartmann (1876-1962), Diretor do Instituto de Biología Max


Plank:

"Os resultados da mais desenvolvida ciencia da natureza ou da Física


nao Ievantam a mínima objecio á fé num Poder que está por tras das torcas
naturais e que as rege. Tudo isto pode aparecer mesmo ao mais crítico pes
quisador como urna grandiosa revelacio da natureza, Ievandoo a crer numa
todo-poderosa Sabedoría que se acha por tras desse mundo sabio".

6) Fr. Dessauer (1881-1963), alemao, biofísico e filósofo da Natureza,


fundador da terapia das profundidades por meio de raios Roentgen e da Bio
logía dos quanta:

"0 fato de que nos últimos setenta anos o curso das descobertas e in-
vencoes nos interpela poderosamente, significa que Deus o Criadornos tala
mais alto e mais claro do que nunca mediante pesquisadores e inventores".

7) Cari Gustav Jung (1875-1961), sufpo, um dos fundadores da Psica-


nálise:

"Entre todos os meus pacientes na segunda metade da vida, isto é, ten-


do mais de trinta e cinco anos, nio houve um só cu/o problema mais profun
do nio fosse constituido pela questao de sua atitude religiosa. Todos, em úl
tima instancia, estavam doentes por ter perdido aquilo que urna religiao viva

388
DEUS EXISTE?

sempre deu a seus adeptos, e nenhum se curou realmente sem recobrar a ati-
tude religiosa que Ihe fosse própria".

8) Gustav Mié (1868-1957), físico alemao:

"Devemos dizer que um pesquisador da natureza que reflete... deve


necesariamente ser um homem piedoso. Pois ele tem que se dobrar reveren
te diante do Espirito de Deus, que se manifesta tao claramente na natureza".

9) Albert Einstein (1879-1955), físico judeu alemao, criador da teoría


da relatividade, Premio Nobel 1921:

"Todo profundo pesquisador da natureza deve conceber urna especie


de sentimentó religioso, pois ele nSo pode admitir que ele seja o primeiro
a perceber os extraordinariamente belos conjuntos de seres que ele contem
pla. No universo, incompreensfvel como é, manifestase urna inteligencia su
perior e ilimitada. — A opiniao córtente de que eu sou ateu, baseia-se sobre
grande equívoco. Quem a quisesse depreenderde minhas teorías científicas,
nao teria compre.endido o meu pensamento".

10) Edwin Couklin (1863-1952), biólogo norte-americano:

"Querer explicar pelo acaso a origem da vida sobre a térra é o mesmo


que esperar o surto de urna tipografía em conseqüéncia de urna explosao".

11) Max Plank (1858-1947), físico alemao, criador da teoría dos quan-
ta. Premio Nobel 1928:

"Para onde quer que se dilate o nosso olhar, em parte alguma vemos
contradicao entre Ciencias Naturais e Religiao; antes, encontramos plena
convergencia nos pontos decisivos. Ciencias Naturais e Religiao nao se ex-
cluem mutuamente, como hoje em dia muítos pensam e receiam, mas com-
pietam-se e apelam urna para a outra. Para o crente. Deus está no comeco;
para o físico, Deus está no ponto de chegada de toda a sua reflexao /Gott
steht für den Glaubigen am Anfang, für den Physiker am Ende alies Oenkens)".

12) A. S. Eddington (1882-1946), físico e astrónomo británico:

"A Física moderna leva-nos necesariamente para Deus".

13) J. V. Uexküll (1864-1944), biólogo alemao:

"Quem afirma que há um plano, urna finalidade e metas na criacao,


afirma a existencia de Deus, o Criador".

389
6 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 316/1988

14) H. Spemann (1869-1941), zoólogo alemao. Premio Nobel 1935:

"Quero confessar que. durante as minhas pesquisas, muitas vezes te-


nho a impressao de estar num diálogo em que meu interlocutor me aparece
como Aquele que é muito mais sabio. Diante desta extraordinaria rea/ida-
de... o pesquisador é sempre mais tomado por urna profunda e reverente ad-
miracao".

15) J. Ambrose Fleming (1849-1945), físico británico:

"A grande quantidade de descobertas modernas destruiu por completo


o antigo materialismo. O universo apresen tase boje ao nosso olhar como um
pensamento. Ora o pensamento supoe a existencia de um pensador".

16) P. Sabatier (1845-1941), químico francés, Premio Nobel 1912:

"Fazer oposicao entre as Ciencias Naturais e a ñeligiao é coisa de pes-


soas que estao mal informadas tanto no setor daquelas como no desta".

17) Guglielmo Marconi (1874-1937), físico italiano, inventor da tele


grafía sem fio. Premio Nobel 1909:

"Declaro com ufanía que sou homem de fé. Creio no poder da oracio.
Creio nisto nao só como fiel cristao, mas também como dentista".

18) Thomas Alva Edison (1847-1931), inventor no campo da Física,


com mais de 2.000 patentes:

"Tenho... enorme respeito e a mais elevada admiracao por todos os en-


genheiros, especialmente pelo maior deles: Deus\"

19) W. T. Kelvin (1824-1907), físico británico, descobridor de muitas


leis da natureza:

"Estamos cercados de assombrosos testemunhos de inteligencia e bené


volo planejamento; eles nos mostram através de toda a natureza a obra de
urna vontade livre e ensinam-nos que todos os seres vivos sSo dependentes
de um eterno Criador e Senhor".

20) W. V. Siemens (1816-1892), engenheiro alemao, inventor da ele-


trotécnica:

"Quanto mais fundo penetramos na harmontosa dinámica da natureza


tanto mais nos sentimos inspirados a umaatitude de modestia e humildade;...

390
DEUS EXISTE?

tanto mais também se eleva a nossa admiracSo á infinita Sabedoria, que pe


netra todas as criaturas".

21) J. P. Joule (1818-1889), físico británico, descubridor da lei homó


nima:

"Nos topamos com grande variedade de fenómenos que... em lingua-


gem inequívoca falam da sabedoria e da bendita Mió do Grande Mestre de
obras".

22) J. R. v. Mayer (1814-1878), médico e físico alemao, descobridor


da lei da conservacao da energía:

"A auténtica e verdadeira ciencia da natureza e a filosofía devem levar


á fé em Deus".

23) J. v. Liebig (1803-1873), químico alemáo, fundador da Química


Agrícola:

"A grandeza e a infinita Sabedoria do Criador, só a reconhece realmen


te quem se esforca por ler o grande livro que nos chamamos Natureza".

24) Charles Lyell (1797-1875). geólogo inglés, fundador da Geología


moderna:

"Para onde quer que se dirija a nossa pesquisa, em toda parte descobri-
mos as mais claras provas de urna Inteligencia criadora, de sua Providencia,
de sua Sabedoria e de seu Poder".

25) H. Madler (1794-1874), astrónomo alemáo, autor do primeiro ma


pa da Lúa:

"Um auténtico pesquisador da natureza nao pode ser ateu, pois quem
tao profundamente mergulha seu olhar na obra de Deus e tem a oponunida-
de de contemplar a eterna sabedoria, é impelido a dobrar os joeihos diante
da acao do Espirito Supremo".

26) Ph. v. Martius (1794-1868), botánico alemao:

"Nossa época está demasiado propensa a crer que todo pesquisador da


natureza professa o materialismo... e nao dá ouvidos á voz do substrato espi
ritual das coisas. Ora quem, melhor do que o dentista, poderla e deveria ou-
vir tal voz?"

391
8 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 316/1988

27) A. L. Cauchy (1874-1857), matemático francés:

"Sou um cristao, isto é, creio na Divindade de Cristo como Tycho de


Brahe, Copémico, Descartes, Newton, Leibnitz, Pasca/.,., como todos os
grandes astrónomos e matemáticos da antigüidade".

28) Cari Fr. Gauss (1777-1855), matemático, astrónomo e físico ale-


mao:

"Quando tocar a nossa última hora, teremos a indizfvel alegría de ver


Aquele que em nosso trabalho apenas podemos pressentir".

29) H. Ch. Orsted (1777-1851), físico dinamarqués, fundador da Ele-


tromagnética:

"Toda pesquisa que penetre fundo dentro da natureza, leva ao reco-


nhecimentó de Deus".

30) J. v. Berzelius (1779-1843), químico sueco, descubridor de nume


rosos elementos químicos:

"Tudo o que se relaciona com a natureza orgánica, revela urna sabia


finalidade e apresenta-se como produto de urna Inteligencia Superior... O
homem... é levado a considerar suas capacidades de pensar e calcular como
imagem daquele Seraquem ele deve sua existencia".

31) A. M. Ampére (1775-1836), físico e matemático francés, descubri


dor da lei fundamental da Eletrodinámica:

"A mais persuasiva demonstracao da existencia de Deus depreende-se


da evidente harmonía daqueles meios que asseguram a ordem do universo e
pelos quais os seres vivos encontram no seu organismo tudo aquifo de que
precisam para a sua subsistencia, sua reproducao e o desenvolvímentó de
suas virtualidades físicas e espirituais".

32) A. Volta (1745-1827), eletrofCsico italiano e inventor:

"Submeti a um estudo profundo as verdades fundamentáis da fé e...


deste modo encontrei eloqüentes testemunhos que tornam a ReligiSo acredi-
tável a quem use apenas a sua razio".

392
DEUS EXISTE?

33) F. William Herschel (1738-1822), astrónomo alemao, descobridor


do Planeta Urano:

"Quanto mais o campo das ciencias naturais se dilata, tanto mais nu


merosas e irrefutáveis se tomam as provas da eterna existencia de urna Sabe-
doria criadora e todo-poderosa".

34) Isaac Newton (1643-1727), físico matemático e astrónomo inglés,


fundador da Física clássica, descobridor da lei da gravidade:

"A maravilhosa disposicao e harmonía do universo só pode ter tído


origem segundo o plano de um Ser que tudo sabe e tudo pode. Isto fica sen
do a minha última e mais elevada descoberta".

35) Particularmente a origem da vida exige do cientista o reconheci-


mentó da existénca de Oeus, como atestam muitos pesquisadores. Com efei-
to; a vida está associada ao ácido ribonucleico (ARN) e aos ácidos desoxir-
ribonucléicos (ADN), que armazenam e transmitem osfatores da hereditarie-
dade sob a forma de ¡nformacoes químicas. Ora cada molécula desses ácidos
é urna cadeia de mílhoes ou bílhoes de corpúsculos de quatro diversos tipos:
estes, mediante a sua seqüéncia (semelhante á lista de letras do alfabeto ou
á serie de verbetes de um Dicionário), determinam a confíguracao das célu
las do organismo vivo.

Pois bem, declara o biólogo B. Vollmert, "o surto de urna cadeia de


partículas do ADN ou ARN por acaso tem a probabilidade insignificante de
apenas 1/101O0U". Urna tal cota está totalmente fora da cogitacao dos den
tistas; para estes, a probabilidade de 1/10SO já corresponde a impossibilidade.
Requer-se, pois, a existencia de urna Inteligencia extremamente sabia e po
derosa que tenha feito surgir os átomos e as partículas elementares da vida,
concatenando-as entre si. Por isto dizia Charles Darwin, um dos mais famo
sos autores da teoría da evolucao:

"Nunca neguei a existencia de Deus. Creio que a teoría da evolucao é


plenamente conciliável com a fé em Deus. A impossibilidade de provar e
compreender que o grandioso e ¡menso universo, assim como o homem, ti-
veram origem por acaso parece-me ser o argumento principal para a existen
cia de Deus".

Por isto também dizia Fred Hoyle, astrónomo británico, outrora ateu:

"A existencia de Deus pode ser provada com probabilidade matemáti


ca de 10™*»".

393
10 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 316/1988

2. Falam filósofos e poetas

Partiremos da antigüidade até nossa época.

1) Séneca (4 a.C. - 65 d. C), poeta e filósofo romano:

"Está semeada no coracao de todos os homens a crenca em Deus.


Mentem aqueles que dizem nao acreditar na existencia de Deus, pois, duran
te a noite e guando estio sos, se poem a duvidar".

2) Francis Bacon (1561-1620), Estadista e filósofo inglés, fundador da


Escola Filosófica Empirista:

"Um pouco de Filosofía afasta da Religiao; muita Filosofía leva a ela


de volta".

3) Franco is-Marie Arouet, com o pseudónimo de Voltaire (1694-1778),


filósofo e escritor francés, um dos principáis representantes do racionalis
mo francés:

"Se Deus nao existisse, seria preciso inven té-lo. Eis, porém, que Ele
existe. A natureza inteira o proclama".

4) Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), escritor e filósofo francés:

"Reflito sobre a ordem do universo, para admiré-la sem interrup-


cao e adorar o Criador sabio que por ela se manifesta".

5) D. Diderot (1713-1784), escritor francés e filósofo racionalista:

"O olho ou a asa de urna borboleta basta para aniquilar um ateu".

6) Immanuel Kant (1724-1804), filósofo alemao:

"A razao, com todo o direito, se furta a atribuir isto tudo ao acaso.
Duas coisas enchem a mente de admiracSo e reverencia: o céu estrelado áci
ma de nos e a lei moral em nos".

7) J.W. v. Goethe (1749-1832), poeta alemao:

"Essa realidade intensa, personificada nos vem ao encontró como um


Deus, como Criador e Sustentáculo de todas as coisas, Deus, que de todos
os modos somos convidados a adorar e louvar".

8) John-Henry Newmann (1801-1890), escritor, teólogo e Cardeal da


Igreja Católica:

394
DEUS EXISTE? 11

"Vé o que a razio te ensina:deve existir um Deus\ Se nao, como teña


surgido este maravUhoso universo? Ele nao pode ter criado a si mesmo".

9) J. Langbehn (1851-1907), escritor alemao:

"Quem nega Deus, assemelha-se a alguém que nega a existencia do Sol.


Isto de nada Ihe serve, pois o Sol continua a brilhar".

10) Mahtma Gandhi (1864-1948), pensador e líder indiano:

"Nao hesito em dizer que estou mais ceno da existencia de Deus do


que da nossa presenca neste recinto".

11) Pió XII (1876-1958), Papa:

"Ao contrario de afírmacdes superf¡ciáis, a verdadeira ciencia descobre


Deus, e tanto mais o descobre quanto mais progressos faz".

3. Grandes homens diante da morte

É interessante também ouvir o depoimento de personalidades impor


tantes diante da perspectiva da morte, pois em tal ocasiSo caem todas as ilu-
soes, dissipam-se os subterfugios e verifica-se a necessidade de considerar a
verdade com todo o seu fulgor. Eis alguns testemunhos significativos, que
transcrevemos, em traducao portuguesa, do folheto indicado a p. 387 deste
fascículo.

1) Friederich Ertgels (1820-1895), um dos grandes mentores do mar


xismo ateu, no fim de sua vida reconheceu a Deus e a fé crista:

"A vida deve ser levada de volta a Alguém que na Cruz morreu em fa
vor de todos os homens" fAtheismus - Ein Weg. R. Wurmbrand, Stephanus
Ed.,p. 170).

2} Sinowjew, Presidente da Internacional Comunista e colaborador de


Lenin, antes da morte exclamou:

"O Senhor nosso Deus é o único Deus" fAntwort auf Moskaus Bibel.
fí. Wurmbrand, p. 50. Ver jornal Prawda efe Moscou aos 30/03/1930, citado
em Das Drama auf der Piazza San Pietro, p.218).

3) Heinrich Heine (1797-1856), ateu satírico, companheiro de Marx e


Moses Hess, exclamou antes da morte:

395
12 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 316/1988

"Espedacou-se a artiga lira contra a rocha que se chama Cristo1. A lira


que convidava para a festa malvada por obra do mau espirito. A lira que cha-
mava para o tumulto, que por seus cantos disseminava dúvidas, sarcasmo e
apostasia... ó Senhor, ó Senhor, dobro os joelhos, perdoa, perdoa-me as mi-
nhas cancóesi"

4) Ludek Pachman, tcheco, marxista convicto, Secretario do Conselho


Central dos Sindicatos, preso em 1969:

"No decorrer de alguns días em que parei na prisio entre a vida e a


morte, foi-me dado crerem Deus" fDer Weg und die Warheit und das Leben.
Informations-Zentrum Berufe der Kirche, pp. 11-13).

5) Voltaire, satírico em relacao a Igreja e ao Catolicismo, em sua últi


ma noite antes de morrer pediu clamorosamente a presen ca de um sacerdo
te. A Irma enfermeira que Ihe assistia, declarou:

"Nem por todo o dinheiro da Europa quisera eu ver de novo um incré


dulo morrer!"

6) Hans Frank, Ministro do Governo nacional-socialista de Hitler, de


clarou antes de ser enforeado:

"Assumo conscientemente a morte como reparacao pelas grandes in-


justicas que por nos foram cometidas. Tenho confianca na misericordia de
Deus, que também a nospoderásalvar" /Was seid ihrtraurig. Hans Wesseling).

7) Joachim von Ribbentrop, Ministro das Relacoes Exteriores de


Adolf Hitler, disse antes da sua morte:

"Espero que, mediante o sangue redentor de Cristo, sejam concedidas


também a mim misericordia e salvacao" fibd.).

Nao é possi'vel a PR controlar mais precisamente a documentacao refe


rente aos dizeres destas páginas. Pubticamo-los, porém, porque tém sua gran
de verossemelhanca, visto que periódicamente sao oferecidos ao público
escritos que transmitem o testemunho de ateus em prol da fé religiosa. Esta
constituí urna dimensSo congenita do ser humano, capaz de resistir a pres-
soes e golpes; as campanhas pró-atefsmo podem ter certa eficacia, mas nao
conseguem resultados definitivos, pois isto violentaría profundamente a na-
tureza humana, que cedo ou tarde reage a tal agressao. É o que se pode de-
preender outrossim do depoimento de Konstantin Khartchev reproduzido
no artigo seguinte deste fascículo.

396
A perplexidade do regime:

A Religiáo na URSS

Em símese: O líder soviético Konstantin Khartchev, Presidente do


Conselho para Assuntos Religiosos da UñSS, em marco último, proferiu
importante discurso, em que reconhece a ineficacia de setenta anos de per-
seguicao religiosa: a religiSo na URSS nao somente persiste, mas se mostra
em expansao. — Diante do fato, nSo apregoa nova repressao pela violencia,
mas, sim, a canalizacao de toda essa vitalidade em prol dos interesses do Par
tido Comunista. Afina! este é plenipotenciario no país, de modo que pode
intervirna formacio dos futuros sacerdotes e na atribuicao de tarefas aos clé
rigos segundo as linhas ideológicas do regime vigente. K. Khartchev observa
que este conseguíu dominar a hierarquia ortodoxa a ponto de nada ter que
recear da parte desta. Quanto ás outras denominacoes religiosas, dotadas de
chefia no estrangeiro (inclusive o Catolicismo), mostram-se mais resistentes
ao programa ateu do Estado e, dado o seu caráter clandestino, escapam mais
fácilmente ao controte deste; por isto há quem preconizo o registro oficial
de todos os grupos religiosos na URSS.

O texto de K. Khartchev vai, a seguir, publicado em traducio portu


guesa. Chamam a atencao do leitor a franqueza e a perplexidade de que dá
provas o orador.

Foi divulgado clandestinamente no mundo o texto de urna conferen


cia proferida por Konstantin Khartchev, Presidente do Conselho para Assun
tos religiosos da URSS, perante os professores da Escola Superior do Parti
do Comunista Russo1 em Moscou no fim de margo de 1988. 0 jornal fran
cés "La Croix-L'Evénement", aos 26/05/1988, pp. 2,3 e 4, publicou, em
"furo" jornalístico, o texto como Ihe chegou através do samizdat (rede clan-

1 Equivalente á Escola Superior de Guerra do Brasil, pois forma os futuros


líderes do país. Konstantin Khartchev tem a categoría de Ministro do Gover-
no soviético.

397
14 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 316/1988

destina de informacdes). Reproduzimo-lo em traducao portuguesa,1 pois re


vela a surpresa dos dirigentes soviéticos perante a tenacidade da fé religiosa
na URSS apesar de setenta anos de perseguido; reconhecendo com franque
za que nao podem sufocar tal fmpeto espontáneo da populacao russa, os res-
ponsáveis pelo Partido Comunista julgam necessário canalizá-lo em favor dos
interesses do Governo; K. Khartchev propSe as estrategias que Ihe parecem
oportunas nesta fase da vida nacional.

O TEXTO: "SURPRESA! QUE FAZER?"

"O censo dos anos 50 teve resultados inesperados. Revelou que o nú


mero de fiéis na URSS era de 70%. ou seja, 115 milhóes de habitantes, ao
passo que, segundo os números oficiáis, deveria ser de 20%. Os responsáveis
pela Igreja falam de 70%. Estou inclinado a aceitar estes dados. Desses 115
milhoes, 30 pertencem a Igreja Ortodoxa.1

O confronto entre o poder soviético e a Igreja ocorrido quando os clé


rigos opuseram resistencia armada ao regime soviético, terminou em 1924
pelo reconhecimento do novo Governo pelo Patriarca Tikhon. Os anos de
coletivizacao e "dekulakizacao" foram também anos de repressáo para a
Igreja Ortodoxa-Russa, pois se tratava entao de quebrar a ideología dos cam-
poneses. Na década de 30, em particular nos anos de 1937-8, os clérigos so-
freram a mesma repressáo que os funcionarios do Partido.

Sob o impacto da guerra, a Igreja refloresceu de modo imprevisto. Nos


territorios ocupados, os alemáes, por motivos ideológicos, reabrí ram igrejas
aos milhares.

Réplica na sala: Em Mein Kampf Hitler fala da necessidade de destruir


a relígilo e de a substituir pelas ciencias ocultas.

Prossegue Khartchev: Todavía Hitler compreendia a importancia dos


problemas religiosos para a política. Por conseguinte, via que era preciso dar
um osso á Igreja. Durante a guerra foram abertas 2.500 igrejas.3

As notas de roda-pé sSo do jornal "La Croix-L'Evénement". O mesmo


texto fo¡ publicado também por "la Documentation Catholique", 19/06/88
pp. 640-643.

2 O jornatista de "La Croix-L'Evénement" acrescenta a seguirte nota: "As


cifras de 115 e 30 milhdes nao parecem exatas, qualquer que seja a interpre
tado que se Ihes dé".

3 Se comparar/nos o número das igrejas abertas antes de 1939 com o das


igrejas abertas no fím da guerra (1945). veremos que o aumento esté mais
próximo de 25.000do quede 2.500,

398
ARELIGIÁONAURSS 15

Na década de 50 houve novo surto de religiosidade. Mas Kruchtchev


acreditava numa ascensao rápida do comunismo; por isto quis acabar depres-
sa com os clérigos. Nos anos de 1961-64, de 2.000 ¡grejasentao abertasfo-
ram fechadas 10.000. Fechavam-se até 150 por dia. No período seguinte,
de 1965 a 1985, foram fechadas 1.300. Atualmente há 6.800 igrejas aber-
tas.1

Em Moscou contam-se 57 igrejas, mas, apesar da evidente falta de igre


jas para os habitantes da cidade, os fiéis nao fizeram requerimento algum pa
ra abrir igrejas.2

A designacao dos clérigos é tarefa do Partido

Hoje na URSS há cerca de mil 'pontos candentes', onde os cidadaos


reivindicam a abertura de urna igreja e o registro civil de urna comunidade.

Eis a tendencia atual da política do Partido: é preciso rever a legisla-


cao de 1929 concernente aos cultos e utilizar o decreto de Lenin relativo a
separacao da Igreja e do Estado. De resto, a legislacáo de 1929 está em con
tradi cao flagrante com tal decreto. Nao concordo com todas as disposicoes
da mesma, em particular com a recusa de conceder personaiidade civil a
Igreja.3

Atualmente na Uniao Soviética a religiosidade nao tende a baixar. To


dos os anos celebra-se cerca de um milháo de futierais religiosos, o que re
presenta 20 a 30% dos óbitos.4 Ora os funerais sao, ao meu modo de ver,

1 Estes números corresponden) aos das estatfsticas habituáis.


2 Apesar desta afirmacSo, estamos informados, no Ocidente. a respeito de
negociares que vém sendo efetuadas, ¡ase vai mais de um ano, para reabrir
urna igreja no quarteirio de Ouzkoe.

3 A legislacáo soviética em materia religiosa foi estipulada em dois textos:


um decreto de 1918, assinado por Lenin, e urna leí de 1929. O decreto de
1918 estabelece que as assoct'acdes religiosas nSo tém personaiidade civil
nem tém o direito de possuir. A leí de 1929 recapitula todas as resolucdes
tomadas em materia religiosa desde a RevolucSo. Reduz a atividade das pa-
róquias apenas a celebracao do culto. Os textos só prevéem a existencia de
paróquias. Calamse a respeito do Patriarcado e das dioceses, de modo que,
em nossos dias, o Patriarcado e os bispados funcionam sem auténtica base
jurídica no foro civil.

4 Segundo o termo utilizado para designar os funerais, parece que se trata de


funerais ortodoxos. Sendo assim, vemos que se trata de funerais da popula-
cSo ortodoxa. Isto quer dizer que na realidade a porcentagem de funerais
religiosos e duas vezes maior.

399
16 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 316/1988

o índice mais seguro da religiosidade: quando vivas, as pessoas nao dizem a


verdade, porque tém medo de perder o seu emprego. 30% dos neonatos
sao batizados.

Nos, do Partido, enganamo-nos em nossa política anti-religiosa de


proibicoes e limitacoes. I solamos dos fiéis os clérigos, mas nem por ¡sto os
fiéis mostram ter mais confianca ñas autoridades civis. O Partido e o Estado
perdem mais e mais o controle dos fiéis. Em conseqüéncia, vemos aparecer
crentes superficiais, isto é, pessoas que só se interessam pelo culto e se des-
ligam de tudo mais. E, principalmente, do comunismo. Que é que mais po
de interessar ao Partido? Um crente superficial ou um crente sincero? É mais
difícil dirigir o primeiro. Sim; isto é paradoxal, mas nao contraditório. Ve-
mo-nos diante de um fenómeno extraordinario: apesar de todos os nossos
esforcos, nao somente a Igreja sobreviveu, mas ela comeca a reviver. E coto-
ca-se a questlo de saber o que vale mais para o Partido: um crente que em
nada eré, ou um crente que eré também no comunismo. Creio que dos dois
males é preciso escolher o menor. Conforme Lenin, o Partido deve manter
sob o seu controle todos os setores de atividade dos cidadíos. E, visto que
nao nos podemos livrar dos crentes e a nossa historia nos mostra que a reli
giao está firme e deve permanecer muito tempo ainda, é mais fácil, para o
Partido, fazer de um crente sincero alguém que creía também no comunis
mo. Temos entlo o problema seguinte: é preciso que formemos um novo
tipo de padre. A escolha e a designacao dos padres é tarefa do Partido.

A paciencia de um cSo espancado tem limites

Camaradas, para isto necessitamos da ciencia do Partido. Eu vos peco


que organizeis com a máxima brevidade se nao um Instituto, ao menos um
Laboratorio encarregado de estudar as relacoes entre o Partido e a Igreja,
entre o socialismo e a religiao. Nos vos forneceremos os dados. Atualmente
nao dispomos de nenhuma ¡nstituicáo científica especializada. Durante os
períodos da repressao e da estagnacao, deixamos que as coisas aconteces-
sem por si, julgando que, ñas condicoes adequadas, a religiao acabaría por
si mesma.

No tocante ao controle da religiao e á sufocacSo das suas iniciativas,


foi junto aos Bispos e padres da Igreja Ortodoxa que obtivemos o melhor
éxito. Em principio isto nos regozija, mas pode ter conseqüéncias impre-
visíveis.

A atividade da Igreja Ortodoxa russa é controlada e limitada, e as suas


iniciativas nao nos dáo preocupacao, émbora a paciencia de um cao espan
cado nao seja ilimitada. O que nos inquieta, é o fortalecimento das outras
confissoes: os católicos, que continuam a sobreviver, e as seitas, cujo surto

400
A REUGIÁONAURSS 17

prossegue. Contamos 57 confissdes diferentes e 15.000 comunidades.1


Outrora sufocamos a Igreja Ortodoxa. Mas os Centros e os órgaos de direcao
dos católicos, dos protestantes, dos batistas, dos evangelistas, dos adventis
tas e de muitos outros estao fora do alcance do poder soviético. Por isto a
impetuosidade do seu desenvolvimento é cheia de conseqüéncias imprevi-
sfveis.

O Partido precisa de novo tipo de sacerdote. Hoje acontece muitas


vezes que um sacerdote nao tenha liame algum com a sua paróquia; freqüen-
temente ele é oriundo de outra regiao e nao é raro que pertenca a outra na-
cionalidade. Urna vez por semana, ele vai de carro á sua igreja, celebra a Mis-
sa e vai embora...- Muitos nao sao responsáveis de coisa alguma, nem dos
seus fiéis, nem das financas da paróquia, nem dos consertos da igreja. Quan-
do o Delegado do Conselho de Assuntos Religiosos entrega a autorizacao2
a um sacerdote, ele o admoesta: 'Receberás os teus 350 rublos por mes e nao
meterás o nariz ñas coisas que n3o te dizem respeito'. O que acontece numa
paróquia, nem o sacerdote, nem o Delegado, nem o Partido o sabem. Toda
vía 70% de crentes, isto nao é insignificante; nao podemos proceder como
se nSo existissem; temos que trabalhá-los e influenciá-los. E há aínda o pro
blema da restauracao e do conseno das igrejas. Sobre 6.800, 2.000 sao mo
numentos tombados. Nao seria preferfvel que aqueles que ai celebram o
culto, fossem também encarregados da sua conservacao?

A educac3o religiosa das crianzas

Pensemos no problema da educacáo das enancas. Queiramo-lo ou nao,


nao é possível arrancar aos crentes os seus filhos. Sem dúvida, é proibido
as crianzas servir como corofnhas. Esta norma é escrupulosamente respeita-
da pela Igreja Ortodoxa, mas, no tocante as outras confissóes, nao temos
meios de controlar a influencia que exercem sobre as criancas. Na Lituánia,
20.000 criancas seguem o Catecismo, clandestinamente (como se compre-
ende). E, quando urna crianca pergunta por que se fecham as persianas e por
que ela a ninguém deve dizer que ela estuda o Catecismo, os adultos Ihe res-
pondem: 'É o poder do Anticristo que proibe que te ensinem a verdade eter
na do bem'. Podéis imaginar o que essa crianca pensará a respeito do poder
soviético quando tiver crescido.

1 15.000 é o número de todas as associaedes religiosas, ¡ncluindo todas as


confissdes existentes na URSS.

2 Em cada regiSo, o Conselho para Assuntos Religiosos é representado por


um Delegado. Nenhum sacerdote pode exercer seu ministerio numa paró
quia sem ter sido registrado na Delegada da sua regiao.

401
18 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 316/1988

Compreendo a vossa perplexídade. Eu também sou contrario ao ensi-


no do Catecismo ñas escolas. Mas que fazer? Na Asia Central, há centenas
de escolas musulmanas clandestinas. O ensino é medieval e transmite urna
atitude de denso obscurantismo em relapso ao poder governamentai e aos
nao crentes.

Quando em reuniao de cúpula levantei o problema da instrucao reli


giosa, bateram-me nos dedos, dizendo: 'So faltava isso! Escolas dominicais
após setenta anos de regime soviético! Isto nao entra na cabeca! Que di rao
as pessoas?' Compreendei-me betn: sou contrario ás escolas dominicais, mas,
apesar disto, temos que fazer alguma coisa.

Outro ponto do decreto de Lenin: a Igreja nao tem personalidade ci


vil. Mas, lendo ainda Lenin, encontramos a frase seguinte: 'Todas as organi-
zacoes societarias tem os direitos de urna pessoa civil'. Ora, se a Igreja nao é
urna organizacao societaria, que é ela? A Igreja tem propriedades em Jerusa-
lém desde os tempos do Czar Alexandre II. Dizemos: 'Isso é propriedade
do povo soviético; devolvei-no-lo'. E respondem-nos: 'Eu vos repito mais
urna vez que nao discuto o conteúdo do decreto de Lenin, mas quero lem-
brar-vos a seguinte idéia de Lenin: onde milhoes de homens estao em jogo,
ai comeca a política. A política do Partido em relacáo aos crentes deve tra-
zer a este o máximo proveito'.

A Religiáo penetra no Socialismo

Que significa o slogan: 'A Igreja está separada do Estado, e o Estado


da Igreja'? Em que medida está separada? Um sacerdote é também um so
viético; também ele vota regularmente em nosso favor ñas eleicdes. Consi-
derai todos esses Fundos e Comités:... da paz, da cultura, da infancia. Em
toda parte tém assento... (o orador com a mffo faz a mímica que imita a
mitra e a barba de um Bispo, provocando ritos na sala). Quando foram apre-
sentados na televisao, fui assaltado por telefonemas, especialmente dos ve
teranos do Partido: 'Por que deste a autorizacao? Por que sao filmados? Isso
é propaganda religiosa'. Respondí que nao fui eu que os coloquei lá... Te
mos que mudar nossa maneira de encarar a Igreja e os sacerdotes. Se alguém
dos nossos conhecidos se torna sacerdote, nao devemos considerar isto como
algo de anormal.

Podemos concluir que está em curso um intenso processo de infiltra-


c3o da Igreja na política do Estado. Mas encaremos as coisas bem de frente:
queiramo-lo ou ná*o, está penetrando no Socialismo e - mais ainda - está
subindo nos trilhos deste. Visto, porém, que o poder está totalmente em
nossas maos, creio que temos os meios de orientar esses trilhos num sentido
ou noutro, de acordó com o nosso interesse.

402
ARELIGlAONAURSS 19

Quando estudamos a experiencia dos comunistas húngaros, exprimi-


mos-lhes a nossasurpresa: 'Tendes sacerdotes no Parlamento?' Máseles nos
responderam que o Parlamento servia precisamente para representar todas as
categorías sociais sem excecao. Quanto a mim, em toda a minha existencia
só consigo lembrar-me de um caso de sacerdote eieito para um Soviete de
Distrito. Creio que isto se deu nos pai'ses bálticos. Alias, ele fez muitas coi
sas úteis.

Por que ná"o prestariam servico nos hospitais?

Nao sou favorável á fusáo da Igreja e do Estado. Hoje o problema prin


cipal é o de controlar eficazmente a Igreja na política do Partido. No Conse-
Iho para Assuntos Religiosos, temos apenas 60 pessoas e nao somos capazes
de abordar todos os problemas teóricos e práticos.

Tomemos um aspecto da lei de separacao, como, por exemplo, a proi-


bicáfo, feita á Igreja, de manter atividades de beneficencia. Ho¡e em Moscou
e ñas grandes cidades a falta de pessoal de servicos nos hospitais é catastrófi
ca. Somente em Moscou faltam 20.000 funcionarios. As autoridades religio
sas pediram-nos que autorizemos as obras de caridade. Que fazer: permitir
oii proibir? Se o permitfssemos, por que ná"o prestariam servico nos hospi
tais? Mas entao qual seria a ¡magem política e moral do comunismo, se um
moribundo, ao agonizar, tivesse a impressao de que o poder soviético nlo é
capaz de Ihe prestar servico? Nao podemos autorizar as atividades caritati
vas, porque logo os católicos se aproveitariam - a célebre Madre Teresa de
Calcuta já nos ofereceu os seus prestimos -, além dos protestantes, batistas,
adventistas... A Igreja Ortodoxa hoje está de tal modo abatida que ela na"o
possui os recursos necessários ao exercício de tal atividade.

Temos muitos problemas, camaradas, muitos. A cada passo, descobri-


mos novo problema. Costumamos imaginar que ñas igrejas há apenas velhas
mulheres, mas entrai; veréis adultos na forca da ¡dade, adultos da nossa ge-
racao, muitos jovens. Verificai a origem social dos seminaristas: 70% dentre
eles sao filhos de operarios e camponeses.

Ingerencias permanentes

Perguntou alguém ao orador: Que infracoes á lei süo cometidas pelos


funcionarios locáis e pelos padres?

- A principal ¡nfracao cometida pelos funcionarios e os órgáos locáis


é a sua obstinapáo em nao querer abrir igrejas; também cito a sua ingerencia
permanente na vida privada dos crentes. Por exemplo, no trabalho se há ris
co em lesar materialmente um erante, procuram humilhá-lo moralmente:
nao o inscrevem no Quadro de Honra do pessoal, nao Ihe outorgam meda-

403
20 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 316/1988

Iha, nao Ihe dáo os parabéns de aniversario... Na medida em que me lem-


bro, nunca um representante do Governo foi perseguido por causa de infra-
cao da leí dos cultos. Mas os sacerdotes sao punidos intransigentemente.
Um incidente recente causou grande alarde: o Secretario do Comité do
Distrito do Partido foi censurado, mas ficou sendo membro do Partido.

Num Distrito da Ucrania, decidiram lutar contra os progressos da reli-


giosidade; que imaginaram entao? Segundo a praxe da década de 30, numa
grande aldeia mandaram que a milicia cercasse a igreja; trouxeram um cami-
nháo; de modo selvagem arrancaram todos os icones, puseram-nos no cami-
nhao e levaram-nos. - Mas, apesar de tudo, existe a vontade divina (risos na
sala): o caminhao comecou a patinar no meio da rúa principal, nao conse-
guindo ir nem para a frente nem para tras. Entao os salteadores nada de me-
Ihor imaginaram do que jogar os icones debaixo das rodas do caminhao
diante dos olhares dos fiéis. Reativaram o caminhao, levaram os icones que
ficavam num canto e queimaram-nos. Em conseqüéncia disto, chamamos a
atencao do Primeiro-Secretário e de outros oficiáis do Partido. Tudo procu
ramos sanar... Mas por quanto tempo ainda os mais velhos explicarlo ás
enancas na igreja que naquele lugar havia um ícone de Sao JoSo Batista e
que os comunistas ateus o queimaram? Nao esquecais, camaradas, que em
muitas cidades os produtos alimenticios ainda sao vendidos mediante
cupons de racionamento.

Quando se pederá comprar livremente a Biblia?

Há poucas Biblias, muito poucas. Em setenta anos foram editados


35.000 exemplares. Atualmente, em vista do milenio, 100.000 Biblias serao
editadas pelo Patriarcado. Também importaremos 100.000 exemplares da
Suécia e permitimos aos batistas que mandem vir mais 100.000 do estran-
geiro (há réplica na sala: É pouco!). Eu também considero que é pouco. Fui
até a cúpula para pedir urna tiragem maior e disseram-me que eu quería coi
sas demais.

Praticamente nao temos periódicos religiosos. A Revista do Patriarca


do de Moscou, com seus 30.000 exemplares, é urna gota de agua no mar. Co-
meca agora a aparecer o Mensageiro do Patriarcado de Moscou; é, sim, urna
mui bela publicacáo, mas ven. a ser pura publicidade ou contra-propaganda
destinada ao estrangeiro".

COMENTARIO

O texto apresentado pelo jornal "La Croix-L'Evénement" termina


abruptamente. Como quer que seja, é altamente significativo da situacao de
perplexidade em que se acham os dirigentes soviéticos frente á Religiao.
Chama a atencao dó leitor a franqueza com que Konstantín Khartchev abor-

404
ARELIGIÁONAURSS

da o problema e confessa a surpresa dos dirigentes soviéticos; as medidas que


propoe para responder á vitalidade da religiao na URSS, nao sao de recuo,
mas de canalizacao dessa vitalidade em favor do Partido, que pela Poh'cia e
seus armamentos é plenipotenciario na URSS.

Poderíamos resumir em cinco grandes pontos a exposicao de K.


Khartchev:

1) Os cristaos ou, mais amplamente, os cidadaos religiosos vivem em


situacáo de apartheid na URSS; sao pessoas consideradas de segunda ou ter-
ceira categoría a tal ponto que muitos nao ousam decísrar sua identidade re
ligiosa para nao perder o seu em prego.

2) Khartchev declara que o Partido controla firmemente o clero orto


doxo, a ponto que nada tem a recear da parte das comunidades ortodoxas.
A designacao dos sacerdotes para as funcoes religiosas é tarefa do Partido.
— Esta subserviéncia dos clérigos ortodoxos russos ao Governo soviético tem
sido criticada por alguns sacerdotes e leigos russos, que consideram a hierar-
quia demasiado dócil ás irjuncoes do Estado. Ela é um resquicio do cesaro-
papismo exercido pelos Imperadores bizantinos e pelos Czares russos em
épocas passadas. A uníao da Igreja e do Estado, tanto no Ocidente como no
Oriente, muitas vezes redundou em sufocacao da Igreja por parte do Go
verno.

3) Outra é a condicao dos outros cristaos na URSS. Católicos e protes


tantes nao sao a antiga "Igreja do Estado Russo"; tém chefia fora do país,
de modo que se sentem mais independentes e propensos a resistir á perseguí-
cao; dáo provas de surpreendente tenacidade e dinamismo. Por isto certos
dirigentes soviéticos desejam que saiam da clandestinidade e adquiram per-
sonalidade jurídica, pois assim o Governo soviético poderá mais fácilmente
controlar as atividades dos mesmos.

4) Já que a religiao persiste e, em vez de declinar, se mostra firme e


duradoura, K. Khartchev desaprova as antigás táticas de perseguido violen
ta {que pouco resultado obtiveram), e propoe que o Partido explore essa for-
ca viva em prol dos interesses do próprio Partido. Afinal este é absoluto no
país. Por conseguinte, procurará formar o clero de modo que se impregne
de ideología comunista (o que na realidade nao é possível sem que o cristao
perca a sua auténtica fé religiosa). Khartchev quer dominar o clero desde os
anos dos estudos teológicos.

5} Algo de semelhante é apregoado em relacao aos fiéis leigos. O Pre


sidente do Conselho para Assuntos Religiosos estuda a possibilidade de se
permitir mais amplamente o ensino da religiSo, pois julga que um cristao
mais firme em sua crenca poderá ser mais fácilmente levado para o marxis-

405
22 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 316/1988

mo do que o cristao mal instruido na religiSo. - Esta estranha opiniáo de


Khartchev só poderá ser válida se a catequese ministrada aos cristaos for
mesclada de concepcSes marxistes, conceppoes inspiradas pelas autoridades
soviéticas aos catequistas por elas designados.

Vé-se, pois, que, conforme o discurso de Khartchev, o comunismo nao


pensa em revisionar sua posicao anti-religiosa, mas antes em reafirmá-la e de-
senvolvé-la; apenas a tática é que parece exigir revi sao, a fim de que o pro-
prio progresso religioso sirva ao progresso do marxismo!.

A tomada de consciéncia de tal atitude das autoridades soviéticas é


altamente reveladora para os cristaos de outras partes do mundo!

* * *

(continuacao da p. 432)

Na verdade, a ciencia contribuí para dissipar as crendices; estas nao re-


presentam a auténtica religiao. De modo especial, a psicología e a parapsico
logía ajudam a ver que certos fendmenos extraordinarios, outrora atribuidos
á ¡ntervencao do além, decorrem simplesmente do psiquismo humano. Tais
ciencias ajudam também a compreender a natureza humana, na qual a grapa
de Deus se enxerta; esta "nao destrói a natureza, mas supoe-na e eleva-a"
(S. Tomás de Aquino). Por isto a Religiao só pode ser beneficiada e nunca
prejudicada pelo progresso das ciencias, como, alias, bem evidenciam os de-
poimentos publicados ás pp. 387-396 deste fascículo.

É mister, porém, nao fazer (como faz G. de Moura) do estudo da psi


cología um psicologísmo, ou seja, o criterio último e absoluto para se julga-
rem todos os valores. O psicologismo reduz tudo a forcas psíquicas e ás suas
influencias, sem deixar lugar para os valores transcendentais ou a grapa de
Deus. O psicologismo apouca ou diminuí a grandeza do homem.

Em conclusáo: aqueles que atríbuem aos celíbatários um complexo an


tifeminista mórbido, sao muitas vezes, elesmesmos, vítimas dos complexos e
preconceítos opostos, ou seja, cegamente voltados para a genitalidade, como
se esta fosse a única forma de plena realizapao da pessoa humana. É á luz
deste fato que se há de considerar o livro do Prof. Geraldo de Moura: difu
so e prolíxo, cede a apreciares e expressoes cujo cálao nao está á altura de
um livro estritamente objetivó e científico.

Ver a propósito a Encíclica sobré o Celibato Sacerdotal do Papa Pau


lo VI. datada de 24 de junho de 1967.

Estévao Bettencourt O.S.B.

406
Que pensar?

O Caso Lefebvre

Em sfrítese: O artigo,emsuaprimeiraparte.apresentabreveesboco bio


gráfico de D. Marcel Lefebvre, como desenrolar do pensamento do arcebispo.
Na segunda parte, examina as principáis objecdes que o prelado formula
contra o Concilio do Vaticano II e a atual autoridade da Igreja. - Num
estudo sereno das questóes, verifícase que D. Lefebvre se ressente de
formacao teológica ligada á Aetion Francaise, movímentó monarquista e
antidemocrático, com o qual simpatizava o professor Pe. Louis Billot
S.J., da Universidade Gregoriana em Roma. Tais premissas foram-se desen-
volvendo durante e após o Concilio, corroboradas pela verificacao de abusos
ocorridos na Igreja em virtude de falsa interpretacSo do Concilio do Vatica
no II. Além do mais, a idade e a instancia de assessores mais próximos vém
debilitando a autonomía do prelado.

O cisma de O. Lefebvre tem, ao lado de graves conseqüéncias negati


vas, a vantagem de alertar a Igreja para o mal que os abusos teológicos e
disciplinares causam ao Reino de Deus.

* * *

Tem chamado a atencao do mundo crístáo a atitude do arcebispo


emérito D. Marcel Lefebvre, que aos 30/06/88 ordenou quatro Bispos sem
autorizacáo da Santa Sé; deu assim origem a um cisma ou a urna ruptura na
Igreja, dilacerando profundamente os coragoes dos fiéis católicos.

Dado o grande vulto que os acontecimentos tomaram, procuraremos,


ñas páginas subseqüentes, investigar o pensamento e as idéias que moveram
D. Lefebvre a tanto na avancada idade de 83 anos.

1. D. Lefebvre: a pessoa e suas idéias

1.1. Primeiras influencias: Billot e a "Aetion Francaise" (1905-62)

Marcel Lefebvre nasceu em Tourcoing (Franca setentrional) aos


29/11/1905, de familia católica fervorosa. O pai. Rene Lefebvre, era homem

407
24 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 316/1988

austero e corajoso, enquanto a mae, Gabrielle, se distinguía por seu caráter


firme e sua piedade. De sete filhos, dois se tornaram sacerdotes e missioná-
ríos, e tres se fizeram Religiosas (duas de clausura e uma missionária).

Marcel estudou no Colegio do Sacré-Coeur de Lille; após o que entrou


no Seminario e foi enviado a Roma (Seminario Francés), onde permaneceu
de 1923 a 1930. Foi ordenado sacerdote em 1929, e ¡ngressou na Con-
gregacao dos Padres do Espirito Santo. Na Universidade Gregoriana, sofreu
grande influencia de um antigo professor, o Pe Louis Billot S.J., que em
1911 foi feito Cardeal; este mestre era simpatizante da chamada Action
Francaise, moví mentó francés altamente nacionalista, contrario á democra
cia parlamentar e favorável á monarquía hereditaria; em 1926 o Papa Pió XI
condenou a Action Francaise, pois esta quería apoíar suas teses sobre o Ca
tolicismo; a condenacao levou o Cardeal Billot a renunciar ao Cardinalato e
a retirar-se para uma casa de Noviciado da Companhia de Jesús, onde mor-
reu tranquilamente. Marcel Lefebvre absorveu idéias de Louis Billot, que re-
jeitava o liberalismo como sendo "a heresia por excelencia após o modernis
mo", heresia que levaria os cristSos a destruir a imutabilidade dos artigos de
fé. As idéias de Billot, corroboradas pelo Pe. Le Floch, Superior de Lefebvre
durante os anos de formacao e adversario do "modernismo democrático",
estruturam o pensamento do jovem estudante para o resto da vida.

No inicio do seu ministerio sacerdotal, o Pe. Marcel foi mandado para


o Gabao (África), onde exerceu intensa atividade missionária até 1945. Pas-
sou dois anos (1945-47) na Franca, e voltou á África (Dakar). Seu zelo apos
tólico ocasionou sua nomeacao para Vigário Apostólico e, depois, Arcebispo
de Dakar, onde ficou até 1962. Nesta data deixou a sé arquiepiscopal e vol
tou á Franca. A razio por que D. Lefebvre se retirou da África, é que o pre
lado se mostrara contrario á ¡nstituicao de uma hierarquia episcopal africana
ou á "africanizacáo da Igreja"; parecia-lhe que á Franca competía uma mis-
sao civilizadora e evangelizadora, da qual nao podia abrir mao; ciente disto,
o Presidente Leopoldo Senghor, do Senegal, católico, pediu a Santa Sé que
retirasse da África D. Lefebvre — o que foi feito. Na Franca o prelado foi
posto á frente da diocese de Tulle, mas pouco depois, aos 29/07/1962, o Ca
pitulo Geral da Congregacao dos Padres do Espirito Santo e elegeu Superior
Geral. Como tal, participando do Concilio do Vaticano II (1962-1965).

1.2. O Vaticano íleo ¡mediato pós-Concílio (1962-1970)

Durante o Concilio, Mons. Lefebvre esteve sempre muito ativo. Dois


pontos o preocupavam particularmente: a colegialidade dos Bispos e a Li-
berdade Religiosa, com as suas conseqüéncias para o Ecumenismo e a pre-
senca da Igreja no mundo.

408
O CASO LEFEBVRE 25

A colegralidade é a valorizacao das funcSes dos Bispos unidos a Pedro


(o Papa) na tarefa de governar a Igreja. Parecía a Mons. Lefebvre derrogar á
autoridade do Sumo Pontífice.

A Liberdade Religiosa é a afirmacao de que cada individuo tem o di-


reito (e o estrito dever) de definir sua posicao religiosa sem sofrer a coacao
de algum Governo ou facclo. Isto parecía a O. Lefebvre redundar em libe
ralismo: a dignidade humana já nao merecería ser respeitada desde que a pes-
soa aderisse ao erro religioso. Somente a Igreja Católica é a sociedade perfei-
ta, que tem o direito exclusivo á liberdade religiosa, sempre e em toda parte.
Dizer o contrario seria fazer injuria aos missionários e pdr em perigo o zelo
pela salvacao dos homens.

Acabrunhado com as propostas feitas durante o Concilio, D. Lefebvre


escreveu em 1964 um artigo intitulado: "Para permanecer bom católico, se
rá preciso tomar-se protestante?" Este título já manifesta bem como o au
tor, em sua perspectiva muito pessoal, via na marcha do Concilio a influen
cia do liberalismo e do subjetivismo que caracterizam o protestantismo.

Nos anos ¡mediatamente posteriores ao Concilio (1966-1970), O. Le


febvre foi exprimindo sempre mais os seus "receios" em artigos e homilias
repetitivas, cuja lógica era mais aparente do que real: as questóes complexas
eram por demais simplificadas. O apelo á tradicSo da Igreja era constante;
tratava-se, porém, de urna tradicáb curta, que comecava no sáculo XVI
(Concilio de Trento, réplica ao protestantismo), destituida de ampia visao
da historia da Igreja. Em junho de 1970 escrevia D. Lefebvre: "Realizou-se
na Igreja um perigoso desvio para o protestantismo e o modernismo".

1.3. Da fundacáo de Ecóne ás primeiras ordenacoes (1970-76)

Em 1970 D. Lefebvre fundou, com a autorizacao de Mons. Charriére,


bispo de Friburgo (Sufea), "urna casa de caráter internacional destinada a re-
ceber aspirantes ao sacerdocio"; situava-se em Ecóne (Su fea) e tinha o nome
de "Fraternidade Sacerdotal S. Pió X". Aos numerosos jovens que ai o pro-
curavam, Mons. Lefebvre transmitía suas idéias pessimistas, contrarias ao
Concilio; este era tido como "renovacáo diabólica", "guiñada para o libera
lismo, o protestantismo e a revolucao", "comparável ao latrocinio de Éfe-
so".' Seria preciso retornar á Igreja pré-conciliar, sem medo de desobedecer;

1 Latrocinio de ¿feso é um falso Concilio convocado pelo Imperador Teo-


dósio em 449, favorável é heresia monofisita.
»j "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 316/1988

em especial a Liturgia renovada msrecia serias censuras da parte de Lefebvre,


que afirmava: nao se pode crer nj presenca real de Jesús na Eucaristía e co-
mungar em pé... Professava aderir á Roma eterna e católica e recusar a Ro
ma neo-modernista e neo-protestante. Daí a declaracao:

"Sem rebeliSo, prosseguimos a nossa obra; atemo-nos a tudo o que foi


acreditado e praticado na fé. nos costumes, no culto, no catecismo, na for-
macio dos sacerdotes, pela Igreja de sempre e codificado nos Iivros editados
antes da influencia modernista do Concilio".

As críticas de Mons. Lefebvre suscitaram a inquietude da Santa Sé,


que mandou dois Visitadores Apostólicos a Ecóne em novembro de 1974. 0
fundador da Fraternidade, descontente com o fato, elaborou entao urna pro-
fissao de fé da sua comunidade, repetindo as críticas anteriores. Alias, um
mes antes da visita, aos 13 de outubro de 1974, D. Lefebvre escrevera: "Sata
inventou as chaves, que, mediante o Concilio, ¡ntroduzem a revolucao na
Igreja pela autoridade da própria Igreja: a liberdade (religiosa), a igualdade
(colegialidade), a fraternidade (o ecumenismo, que estende a mao aos inimi-
gos da Igreja)".

Em 1975 houve aínda dois encontros de D. Lefebvre com urna comis-


sao de tres Cardeais em Roma, presidida pelo Cardeal Carroñe (encarregado
dos Seminarios). 0 diálogo de nada valeu, pois o arcebispo repetía ¡mpertur-
bado: "Meu modo de pensar é objetivo. Isto é evidente!" O Concilio era
acusado de ter rompido com o magisterio e a verdadeira tradicao da Igreja,
de haver instituido urna colegialidade ¡ncompreensfvel, de ter instaurado
urna Missa onde se apagava a idéia de sacrificio, com textos novos e confu
sos, sem respeito á presenca real de Cristo,... de haver valorizado excessiva-
mente o sacerdocio dos fiéis.. .

Em conseqüincia, a Santa Sé pediu ao bispo de Friburgo, D. Mamie,


que nao prorrogasse o decreto de autorizacáo da Fraternidade, que em 1970
obtivera a aprovacao para funcionar durante seis anos "a título de experien
cia". Isto equivalía á condenacao da obra de D. Lefebvre, o qual, porém,
permaneceu inabalável, reiterando sempre as mesmas acusacoes: "Liberdade,
igualdade, fraternidade contra a autoridade de Deus e toda autoridade = mi
to sanguinario e imoral".

Em 1976 a situacao se agravou. Apesar de explícita admoestacao de


Paulo VI, D. Lefebvre ordenou sacerdotes aos 29/06/1976; na Missa respec
tiva pronunciou urna homilia, que foi como que um Manifestó:

"Pedem-nos que nSo ordenemos estes candidatos... que dirao a Missa


de sempre, a Missa da tradicio. a que Sao Pió V prescreveu para sempre.

410
O CASO LEFEBVRE 27

Nesta, com efeito, encontramos toda a nossa fé católica,1 ao passo que o no


vo rito da Missa implica urna fé nova, que nSo é católica. Nesta outra reli-
giio, nio é o sacerdote que oferece o sacrificio, mas a assembtéia.2 Está
substituía a autorídade na Igreja; doravante é o número que comanda, ideal
democrático, concepcüo protestante e modernista. Nao aceitamos essa nova
religiSo, que destrói a realeza social de Cristo (a partir das falsas idéias líber-
rais e modernistas?, mas a religiSo católica de sempre: a da nossa infancia.
Temos fé no sucessor de Pedro quando ele mantém a féde sempre, nao quan-
do cria novas verdades. Nisto consiste a nossa obediencia e o nosso amor".

Por causa da ordenaclo dos seus primeiros sacerdotes, D. Lefebvre foi


suspenso de ordens peta Santa Sé aos 22/07/76 - o que quer dizer que nao
Ihe seria lícito para o futuro celebrar a S. Liturgia.

Pouco antes de sofrer esta censura, o arcebispo mandara ao Papa Pau


lo VI (aos 17/07/76) um ultimátum, em que pedia a S. Santidade: o retorno
ao rito da Missa pré-conciliar, a restaurado da Vulgata Latina (traducao fei-
ta por S. Jerónimo no sáculo V), o restabelecimento do Catecismo de Tren
to (sáculo XVI), a reafirmacao do sacerdocio católico e do reino de Nosso
Senhor Jesús Cristo sobre pessoas, familias, sociedades civis (re-afirmacáo
do direito público da Igreja), o abandono das idéias modernas (liberdade,
igualdade, fraternidade, democracia), que estariam associando entre si pre
lados da Igreja e Lojas maconicas.

A ruptura decorrente da suspensáo de D. Lefebvre foi consagrada pe


lo arcebispo, que, apesar da proibicao de Roma, celebrou Missa em Lille
(Franca) aos 29/08/76 perante alguns milhares de pessoas; na homilía, o ce
lebrante aludiu ao regime militar argentino como sendo "um Governo de
ordem, apreciado por seus bons resultados".

1.4. De 1976 a 1988

Em 1977 D. Lefebvre reafirmou sua contestagáo: "Sím a Paulo VI, su


cessor de Pedro. Nao a Paulo VI, Papa liberal, sucessor de Lutero, Rousseau
ou Lamennais". "A reforma litúrgica é herética e inválida. A Missa sem sacri-

Segundo D. Lefebvre, a Divindade do Senhor Jesús, a eficacia dos sacra


mentos, a presenca do sacrificio.

2 "A concelebracSo é contraria á finalidade própria da Missa", diz D. Le


febvre.

3 Falsas idéias ecuménicas: "Nao há Biblia ecuménica, mas a Biblia de Deus


nSo misturada com a linguagem dos homens",

411
28 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 316/1988

ffcio é protestantismo". "Escolhemos a desobediencia aparente, mas a obe


diencia real". Paulo VI foi acusado de ter aprovado nao so todas as falsas re
formas pos-conciliares, mas também a ONU, "Organizacao macón¡ca, inimi-
ga de tudo o que é católico"; terá entregue o seu anel ao arcebispo anglica-
no "Ramsay, leigo, macom, herético". Enquanto o Papa "favorecía" os
erras, D. Lefebvre se julgava obrigado a permanecer fiel ao que fora ensi-
nado durante dois milenios!

A e leí cío de Joao Paulo II em outubro de 1978 provocou certa apro-


ximacao do fundador da Fraternidade, que nutria esperanzas de ser compre-
endido. Todavia D. Lefebvre nada fez para abrir caminhos: continuou a re-
jeitar a Declaracao do Concilio sobre a Liberdade Religiosa, afirmando que
o Estado tem o dever de professar a verdadeira fé e de contribuir diretamen-
te para a difusa o da Igreja Católica; professou aceitar o Concilio, contanto
que fosse interpretado segundo o que O. Lefebvre chama "a tradíelo": por
conseguinte, teriam que ser reformulados, por completo, o decreto sobre o
Ecumenismo, as Declaracoes sobre a Liberdade Religiosa e as Religioes Nao
Cristis, assim como a nova Liturgia da Missa.

Aos 31/08/1985, em vista do Sínodo dos Bispos que faria o bataneo


de vinte anos do Concilio do Vaticano II, D. Lefebvre enviou a Santa Sé a
seguinte advertencia:

"Após vinte anos de autodemolicao da Igreja, é preciso deter a onda


de mudanzas. Todo o mal vem da Declaracao sobre a Liberdade Religiosa.
Esta liberdade em relacao á leí de Deus é inspirada pela Declaracao dos Di-
reitos do Homem, impía e sacrilega, condenada pelos Papas; dessa fonte en
venenada correm o indiferentismo religioso, o ecumenismo, as reformas fei-
tas para agradar as falsas religioes. a ruina da autorídade e da morahdade".

O Encontró de Oracao promovido pelo Papa Joao Paulo II em Assis


no mes de outubro de 1986, reunindo católicos e representantes de todas as
grandes correntes religiosas da humanidade, escandalizou D. Lefebvre, que
assim se manifestou:

"Assis, eis o pecado público contra a unicidade de Deus, o Verbo En


carnado e sua Igreja. Joio Paulo II estímulou as falsas religioes a rezar aos
falsos deuses. .. Eis um escándalo sem medida e sem precedente... é a mais
abominável manifestacao do Catolicismo liberal, prova tangivel de que o Pa
pa e aqueles que o aprovam, tém falsa noció de fé... Essa religiao liberal
de Roma conciliar se afasta sempre mais de nos".

Em 29/06/1987, D. Lefebvre realizou novas ordenacoes sacerdotal


em Ecóne, por ocasilo das quais voltou a carga:

412
O CASO LEFEBVRE 29

"Assis é o escándalo: panteón de todas as re/igides organizado pelo


Papa. O liberalismo da Declarado Dignitatis Humanaa sobre as Religides
NSo Cristas é sem Deus e, por conseguinte, contra Deus... £ provável que.
antes de dar contas da minha vida ao Bom Deus, eu tenha que efetuar orde-
nacdes episcopais, pois Roma se fecha ñas trevas, a apostasia vem chegando".

Em novembro-dezembro 1987 o Cardeal Eduardo Gagnon efetuou


urna Visita Apostólica ao Seminario de Ecóne, á qual sé seguiu um intercam
bio de cartas e documentos entre D. Lefebvre e a Santa Sé. O ponto alto foi
o Protocolo assinado aos 05/05/88 pelo Sr.' Cardeal Joseph Ratzinger, Pre-
feito da Congregado para a Ooutrina da Fé, e D. Marcel Lefebvre, abrindo
perspectivas de próxima reconciliacao. Com efeito; o arcebispo declarou en-
táo, entre outras coisas:

1) prometer fidelidade á Igreja Católica e ao Pontffice Romano;


2) aceitar a doutrina da Igreja relativa ao magisterio eclesiástico e á
adesao que Ihe é devida;

3) reconhecer a validade da Missa e dos sacramentos celebrados com a


intencao requerida e segundo os textos oficiáis da renovacao litúrgica pos-
conciliar;

4) prometer respeitar a disciplina comum da Igreja, especialmente as


leis contidas no Código de Oireito Canónico de 1983, salvaguardando a dis
ciplina especial concedida á Fraternidade Safo Pió X por lei particular;
5) empenhar-se numa atitude de estudo com a Sé Apostólica, evitando
toda polémica, a propósito dos pontos da renovacao conciliar que Ihe pare-
ciam dificilmente conciliáveiscom a Tradicao.

Mais: o mesmo protocolo previa, além da reconciliacáo canónica, os


seguintes tópicos:

1) A erecao da Fraternidade Sao Pió X em Sociedade de Vida Apostó


lica de direito pontificio com estatutos apropriados e dotada de certa ¡sen-
cao relativa ao culto público, á cura das almas e ás atividades apostólicas;

2) a concessao, á Fraternidade, de servirse dos livros litúrgicos em uso


até a reforma pós-conciliar;

3) a nomeacáo de urna Comissáo, integrada por dois membros da Fra


ternidade, destinada a resolver eventuais problemas no relacionamento entre
a Fraternidade e a Santa Sé;

4) a eventual nomeacáo de um Bispo escolhido entre os membros da


Fraternidade.

413
30 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 316/1988

Eis. porém, que logo no dia seguinte (06/05/88) O. Lefebvre escrevia


ao Cardeal Ratzinger urna carta-retratacüo, na qual insistía em ordenar um
Bispo aos 30/06, com ou sem a autorizacao da Santa Sé. Tal atitude do arce-
bispo, contraria ao protocolo assinado na véspera, nao foi aceita pela Santa
Sé. Em conseqüéncia, D. Marcel Lefebvre, aos 02/06/88, escreveu uma carta
ao S. Padre declarando sua decisao incondicional de desobedecer á Santa
Sé ou de romper com a autoridade da Igreja Católica.

Na verdade, O. Lefebvre ordenou quatro Bispos aos 30/06/88 sem a


permissao de Roma. Este delito, conforme o Direito Canónico, acarreta ¡me
diatamente (sem necessidade de processo e sentenca especial) a excomunhao
tanto para o bispo ordenante como para os bispos ordenados. — Aos 02/07/88
o bispo emérito de Campos, D. Antonio de Castro Mayer, foi também exco-
mungado por haver participado ativamente da cerimónia de ordenacao.

Só Oeus sabe quais as conseqüéncias de tais fatos. — Cabe-nos agora


percorrer os principáis pontos alegados por D. Lefebvre como justificativas
do seu cisma.

2. Reflexoes

Virao ao caso sete pontos.

2.1. Liberdade Religiosa e Liberalismo

2.1.1. Liberalismo

O Liberalismo é um movimento inspirado pela afirmacao da plena li


berdade nos setores filosófico, teológico e político. Despontou no sé-
culo XVII e prevaleceu na Europa desde a Revolucao Francesa (1789).

Por "liberdade" entendem os liberáis a emancípacao frente a qualquer


tutela que nao provenha do consenso dos homens. No campo filosófico, isto
significa o primado absoluto da razao, que estaría habilitada a julgar até os
artigos de fé.

A Revolucao Francesa (1789), com seu lema "Liberdade, Igualdade,


Fraternidade", depós a monarquía absolutista dos reís Luís XIV, XV e XVI
e promoveu a democracia. Ao mesmo tempo, porém, perseguiu a Igreja e
propiciou a impiedade na Franca e nos países por esta influenciados. O libe
ralismo era tido como a proclamacao de maior idade e maturidade para na-
coes que até entSo haviam sido governadas de maneira paternalista. No setor
político, em oposicSo ao chamado "direito divino dos príncipes" segundo o
qual o rei só deve prestar contas a Oeus (por conseguinte, é absoluto na ter-

414
O CASO LEFEBVRE 31

ra), propalou-se a teoría de que "o Estado é fonte de todos os direitos" (pro-
posicao condenada por Pío IX no Sílabo n° 39). Em conseqüéncia, alguns
opositores do Liberalismo passaram a defender "o trono e o altar" associa-
dos contingentemente.

No campo religioso, o liberalismo do sáculo XVII tinha seu preceden


te na teoria luterana do "livre exame da Biblia", que recusava qualquer for
ma de magisterio da Igreja. Como dito, o liberalismo chegou a proclamar
a liberdade de cada um para julgar a religüo sem instancia superior á razao
individual - o que foi condenado pelo Sílabo de Pió IX n? 14.39-74.

O passar do tempo contribuiu para que se distinguissem no Liberalis


mo o sadio e o inaceítável: em particular, deve-se dizer que a pessoa huma
na merece respeito; o Estado deve contribuir para a auto-realizacao pessoal
dos cidadSos; compete-lhe, porém, exercer o controle necessário para que o
bem particular ou mesmo o individualismo subjetivista nlo prejudique o
bem comum. Por conseguinte, vé-se que o Liberalismo é suscetfvel de acep-
coes diversas. Na medida em que apregoa o respeito á pessoa humana, é por
tador de um principio verídico. Todavia pelo fato de exagerar tai respeito,
emancipando de Deus o homem, faina lamentavelmente.

2.1.2. Liberdade Religiosa

Á primeira vista, a liberdade religiosa, proclamada pelo Concilio do


Vaticano II na Declaracao Dignitatis Humanae, pode parecer suspeita aos
olhos da fé católica. É isto que impressiona D. Lefebvre. Na verdade, porém,
a liberdade religiosa que a Igreja propugna, deve ser assim entendida:

1} Todo individuo tem, em consciéncia, a obrígapao de investigar o


problema religioso e responder-lhe conscientemente:

"Cada qual tem o dever e, por conseguinte, o direito de procurar a


verdade em materia religiosa, a fim de chegar por meios adequados a formar
prudentemente jufzos de consciéncia retos e verdadeiros" (Dignitatis Huma
nae n? 3).

2) No cumprimento do dever de procurar a verdade religiosa, o ho


mem tem o direito (e é isto que a Igreja tenciona proclamar com énfase) de
nao sofrer coacao alguma, seja de individuos, seja de grupos ou Governos:

"Os homens todos devem ser isentos de coacao por parte tanto de pes-
soas particulares como de grupos sociais e de qualquer poder humano, de tal
sorte que em assuntos religiosos ninguém se/a obrigado a agir contra a pro-

415
32 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 316/1988

pria consciénda, nem seja impedido de agir de acordó com ela... O direito
a liberdade religiosa se funda na própría dignidade da pessoa humana, como
a conhecsmos pela palavra revelada de Deus e pela razio natural" (ib.n? 2).

"NSo é na disposicao subjetiva da pessoa, mas na sua própría natureza


que se funda o direito á liberdade religiosa. Por isto o direito a tal ¡munida-
de continua a existir mesmo para aqueles que nSo satisfazem a obrígafio
de procurar a verdade edea ela aderir" (ib. n? 2).

Como se vé, o documento Dignitatis Humanae nao está afetado de li


beralismo, pois proclama que o ser humano nao é absoluto diante de Deus:
cabelhe a obrigapao inata e severa de definir sua posipao religiosa. - O que
o texto do Concilio rejeita, é a intromissao de terceiros que queiram impor
aos seus semelhantes ou o ateísmo (nos países comunistas) ou determinada
crenpa religiosa (nos países muculmanos, os cidadáos nao muculmanos sao,
por vezes, discriminados).

A corrente tradicionalista de D. Lefebvre nao aceita esta perspectiva


do Concilio, provavelmente porque defende posipdes políticas anteriores a
Revolucáo Francesa, ou seja, a uniSo do Estado e da Igreja e, por conseguin-
te, o dever, do Estado, de professar e promover a fé católica. Ora este ideal,
muito acariciado na Antigüidade e na Idade Media, revelou-se, na prática,
nocivo á Igreja, pois propiciou o Cesaropapismo, o "direito do Padroado"
(nos países ibero-americanos e no Brasil) e outros abusos; além do qué, se
deve reconhecer o fato da secularizacáo, ou seja, a apostasia, a opcao de
muitas pessoas pelo indiferentismo religioso.

A Declaracáo Dignitatis Humanae nao nivela verdade e erro; ao contra


rio, afirma a obrigapao de se procurar a verdade religiosa professada pela
Igreja Católica (n? 1), mas afirma que ná*o se pode obrigar ninguém a crer
nem se pode coagir alguém a mudar de opiniao, desde que "nao desrespeite
as justas exigencias da ordem pública" (n? 4).

2.2. Ecumenismo

Outro tema que suscita as apreensoes de D. Lefebvre é o do Ecumenis


mo. Este foi entendido pelo Concilio do Vaticano II como movimento de
restauracao da unidade, entre os cristaos separados, dentro da única Igreja
fundada por Cristo e entregue ao pastoreio de Pedro.

"A reintegrado da unidade entre todos os cristaos é um dos objetivos


principáis do Sagrado Sfnodo Ecuménico Vaticano II. O Cristo Senhor fun-
dou urna só e única Igre/'a. Todavía muitas comunidades cristas se apresen-
tam aos homens como sendo a heranca verdadeira de Jesús Cristo" (Unitatis
Redintegratio n? 1).

416
O CASO LEFEBVRE 33

"Cremos que o Senhor confiou todos os bens do Novo Testamento


únicamente ao colegio apostólico, á cuja frente está Pedro, ao fim de consti
tuir na térra um só Corpo de Cristo, ao qual é necessário que se incorporem
plenamente todos os que, de alguma forma, pertencem ao povo de Deus"
{ib. n? 3).

Tal nocáo de ecumenismo é consentanea com o Evangelho, onde o Se


nhor Jesús pede que seus discípulos sejam um só (Jo 17,21), constituindo
um só rebanho sob um só Pastor (cf. Jo 10,16). É muito compreensível que
a Igreja Católica, em nossos dias, empreenda coloquios teológicos, sessoes de
estudo, jornadas de oracSes ... para dissipar mal-entendidos existentes en
tre os cristSos e favorecer a volta dos irmaos separados ao único rebanho en
tregue a Pedro. O que importa, é evitar o relativismo ou o falso ¡renisrr.o, ou
seja, concessSes feitas em detrimento da sa doutrina ou da Moral católica:

"É absolutamente necessário que a doutrina inteira seja lucidamente


exposta. Nada é tao alheio ao ecumenismo quanto aquele falso irenismo,
pelo qual a pureza da doutrina católica sofre detrimento e seu sentido ge~
nufno é obscurecido" (ib. n? 11).

O auténtico sentido do ecumenismo tem sido deturpado pelo falso ire


nismo (= pacifismo), de que fala o Concilio. Assim, por exemplo, há quem
afirme:

"O ecumenismo nao é o esforco da Igreja Católica para trazer de volta


os cristSos que déla sairam. Esta era a nocao vigente antes do Concilio do
Vaticano II... Ecumenismo é o esforco de aproximacao entre as varias con-
fissdes cristas em direcao á perfeicio de Cristo" (Frei Leonardo Martín e
Freí Sergio Calixto Va/verde, em "O Estado de Sao Paulo", 1/06/88).

Esta nogao, que prescinde de referencia a Pedro e a Igreja Católica co


mo dispensadora da plenitude dos meios de salvacao, é falha e ilusoria. Con
tra ela podem insurgir-se os fiéis católicos em geral; o mesmo, porém, nao
se diga em relacao ao texto conciliar.

Se tem havido abusos na prática do Ecumenismo por parte de repre


sentantes católicos, sabemos que abusus non tollit usum, o abuso nao extin
gue o uso.

2.3. Igreja e "Estado Católico"

A córreme de O. Lefebvre preconiza o Estado confessional ou o "Es


tado Católico". Este foi o ideal de S. Agostinho (T430), dos Papas S. Grego
rio Vil (tiO85), Inocencio III (1"1216), Bonifacio VIII (ti303). Na Idade

417
34 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 316/1988

Media havia condicdes para tentar realizá-lo, pois toda a populacSo do Sacro
Imperio Romano, desde o monarca até o mais humilde camponés, professa-
va a fá crista (católica). Quem nao a professasse, só podia ser tido como
bruxo, possesso do demonio, enfeiticado... Por conseguinte, era compreen-
sível o empenho dos Papas em fazer que o Estado professasse ou promoves-
se a doutrina católica; eram raros os que contestavam teóricamente a veraci-
dade do Catolicismo. - Hoje em dia, o Catolicismo conserva sua plena vera-
cidade (a verdade ná*o é algo de relativo); mas o racionalismo, o subjetivis
mo, o relativismo... penetraram as escolas filosóficas, levando muitos cida-
dáos a se afastar da fé católica. Neste contexto toca á Igreja renovar a sua
acao missionária, como tem pregado o Papa Joao Paulo II, mas nao Ihe é lí
cito supor as condicoes de unanimidade religiosa e aceitacao vigentes na Ida-
de Media. Já no comeco do século XIV, quando o Papa Bonifacio VIII quis
sustentar o ideal de Gregorio Vil (tiO83) relativo á Cidade de Oeus frente
ao rei católico Filipe IV o Belo da Franca, sofreu vexames e perseguicoes
(embora o rei se dissesse católico!).

Em nossos tempos é preferível a separacao da Igreja e do Estado, fi-


cando a Igreja livre para exercer sua acao missionária. O Estado, que conhe-
ce a forca mobilizadora da religiao, tenderá sempre, como fez no passado, a
manipular a Igreja segundo seus interesses, desde que isto Ihe seja, de algum
modo, facultado.

A democracia na sociedade civil é a forma de Governo aceitável aos


olhos da fé católica. Isto nao quer dizer que deva afetar a estrutura da Igre
ja. Esta nao é nem democracia nem monarquia (no sentido meramente hu
mano desta palavra), mas é sacramento, ou seja, a continuacáo do Cristo vi
vo em seu Corpo Místico, de tal modo que as instituicóes na Igreja común-
gam, de algum modo, com a índole sacramental de toda a Igreja.

2.4. Igreja e Modernismo

D. Lefebvre fala freqüentemente de modernismo na Igreja. Esta pala


vra é ambigua. Pode significar "o ser moderno, atualizado" (com significa-
cao pejoratíva), como também pode significar urna corrente de pensamento
que suscitou graves erras no comeco do século XX a ponto de provocar a
condenacao da parte do Papa Pió X no Decreto Lamentabili (03/07/1907)
e na Encíclica Pascendi (08/09/1907).

O modernismo de Alfred Loisy, GeorgesTyrell, E. Le Roy, E. Dimnet,


A. Houtin ensinava que Deus nao pode ser reconhecido por criterios objeti
vos racionáis, mas apenas pelo sentimento subjetivo do homem; conseqüen-
temente a verdade religiosa nSo seria ¡mutável, mas volúvel como o homem é
mutável e volúvel; Cristo nio teria ensinado um corpo de doutrinas válidas

418
O CASO LEFEBVRE 35

para todos os tempos, mas apenas teria dado inicio a um movimento religio
so a ser adaptado aos diversos tempos da historia; o Catolicismo contempo
ráneo nao se poderia conciliar com a verdadeira ciencia; para o conseguir,
deveria tornar-se nao dogmático ou transformar-se em protestantismo libe
ral.

Verdade é que algumas destas idéias, com vocabulario próprio, reapa-


recem no modo de pensar de teólogos contemporáneos, mas deve-se notar
que estes nao representam a mente da Igreja como tal. Ao contrario, tém si
do sucessivamente chamados á ordem tanto pelo Papa, diretamente em suas
Encíclicas, quanto pela Congregacao para a Doutrina da Fé; sejam mencio
nadas, entre outras, as Instrucoes sobre a Teología da Libertapao publicadas
respectivamente em 1984 e 1986.

Quem leia atentamente os documentos oficiáis da Igreja, verifica que


fazem eco á Tradicao, procurando com fidelidade adaptá-la ás circunstancias
contemporáneas, quando isto se faca necessário.

2.5. Encontró de Oracao em Assis (27/10/86)

Foi mal interpretado o Encontró de representantes dos diversos Cre


dos Religiosos em Assis, a fim de realizarem urna Jornada de Orapáo pela
Paz aos 27/10/86. Significaría relativismo ou mesmo injuria ao único Deus.

A propósito observemos, seguindo a trilha mesma oferecida pelo S. Pa


dre Joao Paulo II em seus discursos:

1) Existe urna unidade fundamental na familia humana decorrente do


f ato de que
- todos os homens sao criados á imagem e semelhanca de Deus;
- todos sao chamados ao mesmo termo final, ou seja, a usufruir
da vida e felicidade do próprio Oeus na patria, definitiva;
- todos foram concebidos em Cristo e remidos pelo mesmo
sangue do Senhor.

Esta unidade é mais básica e forte do que as diferencas de rapa, cultura


e até de religiáo. Ora á Igreja toca a missáo de ser "o sacramento da íntima
uniáo dos homens entre si e com Deus" (Constituipáo Lumen Gentium n? 1).
Ela há de ser o fator de superacáo das diferencas, a fim de constituir o único
Povo de Deus, ao qual todos os homens sao chamados.

Tal missao da Igreja se desempenha normalmente mediante evangeliza-


pío, diálogo e oracao. Em Assis assumiu nova modalidade: encontraram-se
homens de Credos diversos, mas unidos pela mesma religiosidade natural e

419
36 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 316/1988

básica - religiosidade que tem suas expressdes espontaneas: a oracáo como


reconhecimento de que "toda boa dádiva vem do alto" (cf. Tg 1,17) e o je-
jum, símbolo de purificacao do coracao. - Precisamente para evitar toda
aparéncia de sincretismo religioso, nao houve urna fórmula única de oracao,
mas cada grupo rezou a seu modo em presenca dos demais.

Sem dúvida, um tal Encontró de Orapáo jamáis teria sido promovido


pela Igreja Católica em épocas passadas; as idéias inspiradores do mesmo,
embora sejam auténticamente católicas, só vieram á tona em nossos días,
catalisadas pela consciéncia de solidariedade e o anseio de paz que, mais do
que nunca, animam os homens de hoje.

2.6. A nova Liturgia

É impugnada pelos tradicionalistas como eivada de Protestantismo;


apresentaria a Eucaristía mais como Ceia do Senhor do que como o sacrifi
cio do Calvario oferecido por Cristo e pela Igreja.

A propósito já foi publicado um artigo em PR 264/1982, pp. 362-377.


O. Lefebvre se escandaliza de que o altar esteja voltado para os fiéis, a Ora-
pao Eucarística seja dita em voz alta, a Comunhio seja distribuida na mao
(a quem o queira), as oracóes sejam proferidas em vernáculo. Baseia sua re
pulsa na TradicSo... Eis, porém, que segué urna tradicao curta, que tem
poucos séculos, como diremos mais adiante; retrocedendo para além desses
poucos séculos, o estudioso verifica que a Reforma Litúrgica, em muitos ca
sos, nao foi senao urna volta á pureza das fontes mais antigás e origináis da
S. Liturgia. Esta sempre foi celebrada como oracao pública, da qual o povo
de Deus deve respetosamente participar.

É certo, porém, que houve (e ainda há) abusos lamentáveis, que con-
correm para que alguns desdenhem a nova Liturgia. A Santa Sé tem-se em-
penhado por coibir tais males, consciente de que abusus non tollit usum.

2.7. D. Lefebvre, herejía» e tradicao

1. Murria apreciacfo final, notemos ainda:

Quem lé os escritos de D. Lefebvre, verifica neles a obsessao pelos ¡ni-


migos (anticristos) que, com as suas heresias, querem destruir o Catolicismo.
— Conseqüentemente Lefebvre procura nos documentos oficiáis da Igreja
os textos que proferem condenacoas de erros e heresias. Ora os Concilios
muitas vezes promulgaram cánones que rejeitavam com anatematismos os
erros da respectiva época. Todavía a enfatizaclo desses cánones ná"o leva ao

420
OCASOLEFEBVRE 37

conhecimento exato da verdade de fé; pode mesmo levar a outros erros; com
efeito, condenar um erro ainda náío é formular a auténtica doutrina. Quem
julga que a reta fé está comida na proposicSb contraditória áquela conde
nada, pode chegar a verdadeiros absurdos. Alias, foi isto que o modernista
Alfred Loisy fez, considerando as sentencas condenadas pelo Decreto La-
mentabili de Pió X; tomou as contraditórias como verídicas - o que deu
origem a outras proposicSes erróneas. A própria Lógica ensina: De negatio-
ne erroris sequitur quodlibet (da negacao do erro, segue-se qualquer propo
sito). Por exemplo, quem nega que o papel seja branco, nao quer dizer au
tomáticamente que o papel é preto (pode ser azul, amare lo, pardo...);
quem nega que alguém seja velho, nao quer dizer que esse alguém é jo-
vem...; há matizes entre as duas proposicoes contraditórias. Por conse-
guinte, os cañones fecham caminhos sem saída, mas nao abrem as genuí-
nas vias. Compete ao estudioso que lé tais condenacoes, recolocar o proble
ma e procurar, a partir das premissas da fé, a solucfo auténtica para o mes
mo. Este trabalho é especialmente delicado quando as condenacoes da Igre-
ja versam sobre situacSes momentáneas, sujeitas a evoluir; por exemplo, os
conceitos de democracia, liberdade, igualdade tinham conotacffes nocivas,
propensas ao ateísmo, no sáculo XVIII, conotacdes que nSo mais existem no
secuto XX; portanto, nao se pode dizer que, se a democracia era atéia e con-
denável em 1789, ela o deva ser em 1980/90; se a uniao da Igreja e do Esta
do era desejável em sáculos passados, disto nao se segué que o seja também
no sáculo XX.

Paralelamente observemos: D. Lefebvre, conforme a sua índole pes-


soal combativa, esperava do Concilio do Vaticano 11 a condenacao de todos
os erros contemporáneos (protestantismo, cismas orientáis, maconaria, co
munismo. ..). Ora, já que o Concilio nao proferiu anatema sobre tais cor-
rentes (julgando que as poderia com bate r de outro modo), concluiu o arce-
bispo que o Concilio Ihes fez concessoes ou as assimilou - o que é totalmen
te falso.

2. A fim de acusar o Concilio, D. Lefebvre apela sempre para a tradi-


gao de vinte sáculos... Ora este recurso é um tanto vago. Quem examina as
obras do prelado, pode observar que os seus conhecimentos da Tradicáo sao
precarios e imprecisos: revela conhecer muito pouco os antigos escritores da
Igreja; nao faz referencia alguma aos grandes doutores (S. Basilio, S. Gre
gorio de Nazianzo, S. Atanásio, S. Ambrosio, S. Hilario, S. Cipriano...} dos
quatro primeiros sáculos. Da Idade Media, cita únicamente S. Tomás de
Aquino, mas apenas tres vezes (sendo duas referencias imprecisas e a tercei-
ra tirada do opúsculo De regimine Principum, sem menclo da Suma Teoló
gica). O que D. Lefebvre conhece um pouco, á a teología mais recente, ou
seja, algumas passagens de Pío VI (1794), Gregorio XVI (1844), Pío IX (Sí
labo de 1864), Concilio do Vaticano I (1870), certos tratados de Teología,

421
38 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 316/1988

como os de Billot e Garrigou-Lagrange, além de Manuais teológicos de


menor importancia.

Em suma, dir-se-ia que D. Lefebvre chama "Tradiplo" o ensinamento


teológico, as práticas eclesiásticas e a Liturgia que ele conheceu em sua ¡u-
ventude e nos anos de sua formapao sacerdotal; estes dados eram fortemen-
te marcados pelo combate ao liberalismo e ao modernismo. D. Lefebvre
ignorou a renovapáo e o enriquecimento dos estudos ocorridos após a pri-
meira guerra mundial (1914-18) até o Concilio do Vaticano II. Certamente
nessa renovapáo houve desvíos; ora somente isto impressionou o arcebispo,
que conseqüentemente passou a ver heresias em tudo o que nao correspon-
desse ás suas categorías de "Tradicao católica", e se fechou obstinadamente
na defesa do que ele considera a Verdade católica.

3. Conclusao

As objecoes de D. Lefebvre ao Concilio e ás autoridades da Igreja pós-


conciliar nao se justificam. Elas procedem mais de urna grande obsessao de
rivada do tempo de estudo do prelado, alimentada pela deceppao causada
pelas falsas interpretacóes do Concilio, mais do que de raciocinios doutriná-
ríos bem concatenados. De resto, a instabilidade ou a brusca mudanca de ati-
tude do arcebispo ocorrida entre 5 e 6 de maio pp. bem revela que o prelado
já nao parece senhor de si mesmo; antes, ó vitima da idade e dos seus asses-
soares, que se prevalecemda inseguranpa do chefe. Cremosque Ihe falta o dis-
cernimento tío necessário para perceber que "Satanás se dissimula em anjo
de luz" (2Cor 11,14); a idéia fixa de ser "o Salvador da Igreja", ás custas
mesmas de um cisma, pode ser inspirada pelo anjo de luz e pela obsessao
mental.

Pode-se ainda dizer que os fiéis leigos aderem a D. Lefebvre mais por
motivo de perplexidade diante dos abusos do que por abracarem todo o pen-
samento teológico do arcebispo; a idéia de que "nosso futuro é o passado"
(D. Lefebvre) condiz pouco com a mentalidade sadia contemporánea; o
homem de hoje se vé impelido a olhar para o futuro com esperanca e pro
curar construi-lo em plena continuidade com o passado. Ora é precisamente
isto que a Igreja Católica deseja. Saibamos apoiá-la, dizendo NSo ás arbitra
riedades ocorrentes no pós-Concilio e reafirmando a presenpa do Cristo vivo
na única Igreja confiada a Pedro e seus sucessores.

As citafSes de dizeres de O. Lefebvre foram colhidas no artigo Que


penie Montaigne*» Lafebvre? da autoría de CharlesMarie Guillet em "Pré-
tres D/océsafns", abril de 1988, pp. 157-171.

Ver também Pierre Grelot: Mor. Lefebvre et la foi catholiaue em


"Etudes". Janeiro 1988, pp. 93107. '

422
Na imprensa:

A "Biblia de Jerusalém":
Sim ou Nao?

Em síntese: A imprensa tendo divulgado estranhas noticias a respeito


do conteúdo da "Biblia de Jerusalém", o presente artigo elucida os pontos
abordados, a saber: a Virgindade de María e a doutrina do pecado original,
nessa edicao das Escrituras e na concepcao católica.

* * *

Chama-se "Biblia de Jerusalém" (BJ) a traducáo francesa da Biblia


realizada por professores da Escola Bíblica de Jerusalóm. Estes pertencem á
Ordem dos Pregadores (O.P.) ou dos Dominicanos, e se distinguem porseu
elevado grau de cultura bfblico-teológica. Além da edicao francesa, existem
as edicoes italiana, espanhola, inglesa, alema e brasileira da BJ; o texto é
sempre traduzido dos origináis, mas as respectivas notas e as páginas intro-
dutórias ou complementares seguem o texto francés; além do qué, quando o
texto original oscila, apresentando variantes, as traducoes nao francesas se
guem as opcoes dos tradutores franceses. Pode-se dizer que a BJ é urna das
melhores edipoes do texto sagrado, genuino fruto da pesquisa bíblica da
Igreja Católica. - Ora a propósito de tal obra foi publicada na imprensa urna
noticia que suscitou estranheza.

1. O problema

O programa "Sem Limite" da TV Mánchete foi anunciado pelo "Jor


nal do Brasil" em sua edicao de 22/06/88, Cad. B, p. 8. Nessa ocasiao o Sr.
Davi Marien se apresentou como o concorrente que respondería sobre os as-
suntos bíblicos. Eis o que o referido periódico noticiou a talrespeito:

Davi Marien enfrenta a Biblia

"Proprietário da Industria Marien, na 11 ha do Governador, formado em


Direito, Davi Marien, 39 anos, faz questáo de dizer que nao pertence a igreja
alguma. Ele aprendeu a Historia Sagrada em casa com os paise, mais tarde,
como aluno do tio-pastor Nehemias Marien. Ele escolheu a Biblia de Jerusa-

423
40 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 316/1988

lém (publicada pelas EdicSes Paulinas no Brasil) por ser, na sua opiniao, a
traducffo livre de deturpacdes feitas por interesse da teología católica, or
todoxa ou protestante. Davi, porém, nffo quer especificar que deturpaoSes
sao estas apenas para nffo agredir as correntes religiosas, mas seu tio, profes-
sor e coordenador das perguntas, adianta que, alám de colocar em cheque1
o dogma da virgindade de María, a Biblia de Jerusalém tem urna versao do
pecado diferente da Biblia Católica. O pecado na versao católica nasce do
ato sexual entre Adao e Eva, enquanto que a Biblia de Jerusalém diz que
pecado é mau uso da liberdade, revela o tio de Davi".

Em outra coluna da mesma página lé-se:

"O apresentador terá muita polémica com o candidato Davi Manen e


sua Biblia de Jerusalém - a verdadeira traducao, segundo Davi, dos manus
critos sagrados. Esta Biblia admite que Jesús foi concebido pelo Espirito
Santo, mas ná*o afirma a virgindade de María, que, na versao de Jerusalém,
levava vida normal com José".

Como se vé, sao tres os pontos de índole sensaclonalista levantados pe


la imprensa: 1) a "Biblia de Jerusalém" é livre de deturpacSes da teología
católica, ortodoxa ou protestante; 2) a BJ p5e em xeque o dogma da vir
gindade de María; 3) o pecado de Adao e Eva foi pecado sexual, segundo a
versao católica, que a BJ nao segué.

Examinemos com precisao o que se depreende da própria BJ sobre


cada um destes pontos.

2. Os tres temas em foco

2.1. "Livre de deturpacáes. .."

As edícoes católicas da Biblia costumam apresentar notas explicativas


em roda-pé para elucidar o leitor a respeito de passagens dif icéis. Essas notas
tém Índole arqueológica, lingüistica e também teológica; assim poem em
evidencia o sentido do texto sagrado e a sua profundidade doutrinária. Ora
a BJ é urna das edicoes mais enriquecidas por tais breves comentarios, que
vém a ser um dos grandes titulos de apreco dessa edicáo (também freqüen-
tada por protestantes e judeus). — Daí se vé quao impropria é a observacáo
segundo a qual "a traducao é livre de deturpacSes feitas por interesse da teo
logía. .." A propósito devemos notar:

Cheque, como se acha no texto do jornal, significa, "ordem de pagamen-


to>", ao passo que "risco ou perigo" tem a grafía xeque. Ver Dicionário de
Aurelio.
urélio.

424
"BIBLIA DE JERUSALÉM" 41

1) urna tradupao que nao seja objetiva, mas obedeca a preconceitos, já


nao merece o nome de "tradupao";

2} as notas da BJ sao de genuína ¡nspiracao católica; nao fazem parte


do texto bíblico, mas aparecem á margem. llustram o texto cuidadosamen
te traduzido dos origináis.

2.2. A Virgindade de María

"A BJ coloca em cheque o dogma da virgindade de María"... Veja


mos os fundamentos sobre os quais se podería apoiar tal afirmacao.

A nota v a Le 1, 34 diz o seguinte: "Nada no texto impoe a idéia de


um voto de virgindade". Com esta frase, o editor se refere a certos pensado
res católicos que sugerem tenha María emitido um voto de virgindade; ora
a BJ diz que o texto do Evangelho nao obriga a aceitar tal hipótese ou que
tal hipótese nao parece condízer com os costumes da época de María. — E
com razio; a idéia de voto de virgindade é de origem típicamente crista, de
modo que 4 anacrónico ou prematuro atribuí-la a María SS.

Isto, porém, nao significa que, segundo a BJ, María nao tenha sido vir-
gem perpetua (aeiparthénos, como dizia a antíga tradicáo gregal. A própria
BJ professa a virgindade perene de María; tenha-se em vista, por exemplo, a
notar r relativa a Mt 12,46 ("a máe e os irmaos de Jesús estavam fora"):

"Irmaos.. . Nao fílhos de María, mas parentes próximos, por exemplo,


primos, que o hebraico e o aramaico também chamava m 'irmSos' (cf.
Gn 13,8; 14,16; 29,15; Lv 10,4; 1Cr 23,22s)".

A nota S referente a At 1,14 observa:

"Irmaos, isto é, os primos de Jesús (cf. Mt 12,46)".

Vé-se, pois, que a afírmacáo publicada pela imprensa nao corresponde


ao texto da BJ.

2.3. Pecado original e sexualidade

"O pecado na versáo católica nasce do ato sexual de Adao e Eva"


(Nehemias Marien).

Para expor a "versáo católica", nada há de mais indicado do que os


documentos oficiáis da Igreja Católica. Eis por que transcrevemos os seguín-
tes:

"Constituido por Deus em estado de justica, o homem contudo, ins


tigado pelo Maligno, desde o inicio da historia abusou da próprtá liberdade.

425
42 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 316/1988

Levantouse contra Deus. desejando atingir sau fim fora dele. Apesar de co-
nhecer a Deus, náfo o glorificou como Deus. O seu coracao insensato se
obscureceu e eles serviram á criatura ao invés do Criador" {Concilio do Va-
. ticano 11, Const. Gaudium et Spes n? 13).

Em 1968 o S. Padre Paulo VI promulgou o Credo do Povo de Deus,


que repete, em termos claros para o homem contemporáneo as verdades da
fé. Ai se lé:

"Cremos que em Adáo todos pecaram; isto significa que a falta origi
nal, cometida por ele, fez com que a natureza humana, comum a todos os
homens, caisse num estado am que arrasta as conseqüéncias desta falta e que
nao é aquele em que ala se encontrava antes, nos nossos primeiros pais, cons
tituidos em santidade e justica, e em que o homem náfo conheeia o mal nem
a morte. A natureza humana assim decaída, despojada da grapa que a reves
tía, ferida ñas suas próprias foreas naturais e submetida ao dominio da mor
te, é que é transmitida a todos os homens, e neste sentido é que cada ho
mem nasce em pecado. Professamos, pois, com o Concilio de Trento, que o
pecado original é transmitido com a natureza humana, 'nao por imitacáo,
mas por propagacao' e que, portanto, ele é 'próprio de cada um' " {Credo
do Povo de Deus).

Como se pode observar, nao há a mínima referencia a pecado sexual


de Adáo e Eva na doutrina católica. Donde se depreende quanto é falsa a
alegapao publicada na imprensa. Segundo o magisterio da Igreja, o pecado
original consiste no Nao dito pelos primeiros pais a Deus quando submetidos
a urna prova de fidelidade nos inicios da historia sagrada: tendo sido eleva
dos á filiapao divina (grapa santificante e dons preternatural), os primeiros
pais deviam confirmar este dom de Deus mediante um ato de obediencia e
submissao ao Criador; todavía, movidos pelo orgulho ou pelo desejo de se
ré m como Deus, arbitrando entre o bem e o mal (cf. Gn 3,5), pecaram de-
sobedecendo a um preceito (simbolizado pela proibiplo de urna fruta). Em
conseqüéncia, perderam a grapa santificante e os dons que a acompanhavam;
deste modo só puderam transmitir a natureza humana despojada da grapa.
Por isto toda crianpa nasce hoje carente dos dons origináis (justipa original)
que os primeiros pais deviam ter conservado e transmitido. A ausencia da
grapa em cada crianpa que nasce, é ó que se chama "pecado original origi
nado". O Batismo repara este mal, infundindo a grapa e dando á crianpa a
filiapao divina sobrenatural (cf. Jo 1,12%).

A propósito ver

GOMES, CIRILO FOLCH, Riquezas da Mensagem Crista*, Ed. Lumen


Christí. Caixa Postal 2666,20001 Rio (RJ). .

426
Ironía fluente:

"Como se faz um Padre


Celibatário"

por Geraldo de Moura

Em síntese: 0 Prof. Geraldo de Moura impugna o celibato sacerdotal,


que ele j'ulga antinatural ou resultante de um preconceito antifeminista.
Acredita que a formacao dos seminaristas consiste num condicionamento
ou em helero e auto-sugestSo em favor da vida celibatária; urna vez ordena
do, o sacerdote verificaría que foi vitima de deformacao da personaiidade;
entraría em crise e acabaría optando pelo casamento. O autor é irónico e
irreverente em suas referencias ao Espirito Santo, á Igreja, ao clero, á ora-
cao, aos carísmas.. .

A propósito pódese observar que o livro, atribuindo ao clero urna


obsessao antifeminista, é expressao, ele mesmo, de obsessao genitalista ou
pan-sexualista freudiana. Difundiu-se na sociedade o preconceito — nao de
monstrado - de que a pessoa só se realiza plenamente fazendo uso da sua
genitalidade; esta premissa é aplicada cegamente por muitos autores a fatos
e costumes que na verdade desmentem tal proposicao. O caso em foco — o
celibato sacerdotal — é precisamente a expressao de que o Reino de Deus,
inaugurado por Cristo, pode solicitar todos os interesses e atividades da pes
soa humana, levando-a a nao se casar para melhor atender aos valores defini
tivos presentes no tempo. Quem nao compreende isto, nao tem como expli
car o celibato católico.

* * * ■

0 Prof. Geraldo de Moura, Mestre em Letras da Universidade Federal


do Espirito Santo, publicou por conta própria um livro polémico contra o
celibato sacerdotal,1 enviado a todos os Bispos do Brasil e a outras instan
cias da Igreja. Vé-se assim que o autor quis interpelar calorosamente os seto-
res eclesiásticos, voltando a um tema freqüentemente debatido: os argumen
tos contra o celibato já foram, muitas vezes, formulados e muitas vezes já se

1 Como se faz um padre celibatário. Editora própria. Vitoria (ESJ, 1986.


lOOpp., 150x205mm.

427
jf "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 316/1988

Ihes deu resposta. Nao obstante, retorna a questao. e nao raro sob a pena de
quem pouco tem a ver com o assunto.

Tais autores ¡mpugnam o celibato sacerdotal como se fosse produto


de urna obsessáo nervosa antifeminista; parecem, porém, eles mesmos vfti-
mas de obsessáb doentia oposta ou erotizante; dir-se-ia que pessoas obceca
das transferem sua obcecacao para irmáos que na verdade sao tranquilos, lú
cidos e firmes na sua oppao de vida; a experiencia amorosa e genitalistá de
uns faz que nao consigam compreender a experiencia celibatária de outros
sem atribuir a estes um desvirtuamento da natureza. Tal é o preconceito em
favor do absoluto da genitalidade que muitas pessoas nao se podem livrar
dessa premissa para entender de outro modo o uso da sexualidade. Na verda
de, o ideal seria que, assim como a Igreja considera o matrim6nio um estado
santo consagrado por um sacramento, assim também as pessoas casadas res-
peitassem o celibato e, sem ceder a visáb negativa preconcebida, levassem em
consideracáo tudo quanto de grande e belo há na vida una abracada por
, amor do Reino dos céus (cf. ICor 7,25-35; Mt 19,12s).

A seguir, passaremos em revista o conteúdo do livro em foco e Ihe te-


ceremos alguns comentarios.

1.0 livro

O autor, usando de estilo irónico e irreverente, ridiculariza o celibato


sacerdotal. Baseando-se em dados psicológicos e racionalizares inspiradas
pela filosofía pansexualista de Sigmund Freud, quer provar que o celibato é
antinatural, a tal ponto que "modifica a natureza e produz urna alteracao
tanto psíquica quanto orgánica da atracao entre os sexos" (cf. p. 36).

Mais precisamente: o livro diz que a Igreja, a partir de preconceitos


antifeministas, educa seus seminaristas para desconfiarem do sexo femini-
no, suscitando neles "urna repugnancia á cópula", "o desdém á carne";
assim deverao ter a mentalidade de anjos em corpos sensfveis (cf. pp. 31s).
Urna vez ordenados, muitos padres (segundo G. de Moura) se dao conta de
que foram mutilados por sua formacao e deixam vir á tona os instintos sufo
cados durante o período de formacao; daf a crise e, conseqüentemente, a de-
feccao de numerosos sacerdotes. Após o Concilio do Vaticano II (1962-65),
continua o autor, a Igreja abrandou seus mátodos educativos, permitindo en-
contros de seminaristas com mocas; ¡sto parece significar, ao Prof. Geraldo
de Moura, que o Espirito Santo se enganou, pois permite hoje o que outrora
proibia... "Tudo mudou!" (p. 44):

"A Igreja via os dramas/ ¡gnorava as causas ou as interpretava errónea


mente. Grapas é ciencia, a /gre/a mudou e voltou as costas ao amigo Espirito
Santo. O Espirito Santo moderno passeia com os seminaristas ao lado de be-

428
"COMO SE FAZ UM PADRE CELIBATÁRIO" 45

las universitarias. Da casa paroquial foi expulso aquele género 'dragao", as


solteironas tridentmas, velhas feionas, de tres dentes, únicas admitidas para
empregadas dos clérigos por nSo oferecerem perigo á castidade" (p. 44).

Todavía, segundo G. de Moura, estas mudanzas devidas a maior aten-


cao dada á Psicología, aínda sao portadoras do antigo antifeminismo. Com
efeito; o refacíonamento com o outro sexo permitido a seminaristas e sacer
dotes é apenas espiritual, nao carnal.

Em conseqüéncia, o autor preconiza a extíncáo do celibato, dando én-


fase ás reivindicacoes de sacerdotes casados, que pedem a readmissáo ás fun-
cóes sagradas em nome de urna nova inspiracao do Espirito Santo na Igreja.
A tese do lívro se resume nestes parágrafos. Pouco oportuno seria de
termo-nos sobre pormenores de suas páginas, onde as expressóes de sarcas
mo e desrespeito se multiplicam num indecoroso exercício de oratoria.

Pergunta-se agora:

2. Que dizer?

Tres pontos merecerao nossa consideragao:

2.1. Origem e significado do celibato


O celibato por amor do Reino dos céus (cf. Mt 19, 11s) tem sua ori
gem na própria pregapao do Evangelho. Com efeito; já em 56, na 1Cor
7,25-35, S§fo Paulo supunha a prática do mesmo em Corinto e a recomenda-
va nos seguintes termos:

Cristo trouxe ao mundo os bens definitivos ou os inicios do Reino de


Oeus. Consciente disto, o cristao procura, na medida do possível, concentrar
todos' os seus interesses e atívidades no servico desse Reino ou dos valores
definitivos, deixando de lado os bens transitorios: "O tempo se fez breve",
dizía o Apostólo (1Cor 7,29). . . Breve, ná"o porque sejam mais curtos os
días e as noites, mas porque dentro das 24 horas de cada dia entrou o Eter
no ou algo de t5o grande que "nao há mais tempo", nao há como se disper
sar; é preciso concentrar-se. Em conseqüéncia, "aqueles que tém esposa,
sejam como se nao a tivessem; aqueles que choram, como se nao chorassem;
aqueles que se rejozijam, como se nao se regozijassem; aqueles que comprarn!
como se nao possuissem; aqueles que usam deste mundo, como se nSo usas-
sem plenamente, pois passa a figura deste mundo" (1Cor 7,29-31). Daí o
Apostólo deduz explícitamente que "a vida una ou indivisa" é a auténtica res-
posta do cristao á mensagem do Senhor Jesús: "Quem tem esposa, cuida das
coisas do mundo e da maneira de agradar á esposa, e fica dividido. . . Da
mesma forma, amulhernao casada e a virgem cuidam das coisas do Senhor, a
fím de serem santas de corpo e de espirito" (ICor 7,32-34).

429
f* "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 316/1988

Esta conclusao, porém. nao significa desdém em relapao ao matrimo


nio, pois o mesmo Apostólo aprésenla o casamento como grande sacramen
to no qual se realiza em miniatura a uniSo de Cristo com a Igreja Icf. Ef
5,32). 0 Apostólo formula normas para a santificacao dos esposos- "O ma
ndo nao cristao é santificado pela esposa, e a esposa nao crista é santificada
pelo esposo cristao" (ICor 7,14). Alias, o próprio Cristo quis honrar com a
sua presenca e intervencao a dignidade do matrimonio (cf. Jo 2,1-11).

Ora a Igreja é herdeira desta perspectiva de Jesús Cristo e do Apostólo,


que é a da própria Palavra de Deus. Sem menosprezar o casamento (caminho
de santificacao para quem a ele é chamado), ela apregoa o valor da vida una
(celibatária ou virginal) para quem tenha o chamado de Deus.

O celibato foi abracado espontáneamente pelos cristáos, como atestam


os escritos dos primeiros séculos: assim Tertuliano (t220), S. Cipriano
(t251), Novaciano (t255?), Metódiode Olimpo (f311),S. Atanásio (t373)
S. Ambrosio (Í397), S. Gregorio de Nissa (t394)... Compreende-se que no*
povo de Deus os clérigos tenham sentido especial apelo a esse tipo de vida,
dado que se dedicavam diretamente ao Reino de Deus e ao seu servico. A
primeira norma oficial da Igreja se deve ao Concflio de Elvira no comeco
do século IV; ela sobrevém a prática do celibato já espontáneamente abra
cado pelos clérigos. Repetiram-se, a seguir, os ensinamentos de Concilios e
doutores em favor do celibato sacerdotal, inspirados na mais auténtica visáo
crista ou na consciéncia de que o Reino de Deus pode suscitar o desejo de
maior liberdade de apao do que aquela que o casamento permite aos con-
juges.

Está claro, porém, que a vivencia do celibato supóe nao somente pe


culiar chamado da parte de Deus, mas também coerente disponibilidade da
parte da criatura. É precisamente isto que passamos a considerar.

2.2. Carisma, oracao e aséese

1. A teología ensina que a vivencia celibatária é um carisma, ou seja,


um dom de Deus outorgado a certos cristáos em vista do servico da comuni-
dade.

A correspondencia a este carisma nfo desfigura nem mutila a natureza


humana. Atribuir esta funcao negativa ao celibato é seguir a filosofía pan-
sexualista e materialista de Sigmund Freud, que se tem implantado em va
rios segmentos da nossa sociedade; de maneira obsessiva, sem espirito de
crítica." muitos julgam que o celibato é antinatural e mórbido. Na verdade,
os celibatários podem e devem dizer o contrario, baseando-se na sua própria
experiencia. Antinatural seria privar a pessoa da capacidade de amar; todos
foram feitos para o amor, que, conforme S. Paulo (1Cor 13,12s), correspon-

430
"COMO SE FAZ UM PADRE CELIBATÁRIO" 47

de á perfeipao. O amor, porém, nao precisa necessariamente de passar pela


genitalidade, que é apenas um aspecto (ás vezes, dispensável) do amor; este
significa "querer bem ao outro", querer bem que se exerce plenamente mes-
mo sem a prática da genitalidade. Isentando-se desta, o cristao goza de enor
mes perspectivas para exercer o amor. Eis palavras sabias de D. Valfredo
Tepe:

"A casxidade sacerdotal e religiosa é justificada e legitimada pelo


maior amor espiritual a Deus e ao homem. Os celibatários por causa do reino
dos céus renunciam á satisfacao instintiva, ao amor sexual, a Eros com sua
vivencia de unif¡cacao — mas nao renunciam ao amor pessoal, antes o culti-
vam ao máximo. . . Para o cristao, a vida é urna arena em que ele se realiza;
é a pista na qual corre para alcanzar os louros, nao o porto onde tanca ánco
ra, muito menos urna seqüéncia fragmentaria de episodios prazeirosos. Tam-
bém para a pessoa casada, Eros é urna fase que deve ser ultrapassada para
chegar a outra: a do amor espiritual do cónjuge como pessoa,... dos filhos,...
dos homens em geral e, afínal, do próprio Deus. Vista assim, a vida dos ca
sados nao difere tanto da dos Religiosos. Só se realiza quem se engaja e man-
tém fidelidade ao compromisso, seja no convento, se/a no casamento" (Pra-
zer ou Amor?, pp. 41As).

2. É compreensível, porém, que a fidelidade a tal vocapáo exija as-


cese, isto é, vigilancia, autodomCnio e mortífícapao. O celibatário é um ser
sensível, sujeito aos impulsos da carne. Alias, mesmo o cristlo casado neces-
sita de ascese para viver fielmente a sua vida conjugal, sem ceder a traicSes.
De modo geral, nao há cristao que se possa eximir de mortificapao ou de re
nuncia aos afetos desregrados, que prorrompem espontáneamente no íntimo
do sujeito. Já Sao Paulo o proclamava:

"Nao sabéis que aqueles que correm no estadio, correm todos, mas um
só ganha o premio? Correi. portanto, de maneira a consegui-lo. Os atletas
se abstém de tudo; eles, para ganhar urna coma perecfvel; nos, porém, para
ganhar urna coroa imperecfvel. Quanto amim, é assim que corro, nao ao ¡n-
ceno; é assim que pratico o pugilato, mas nao como quem fere o ar. Trato
duramente o meu corpo e reduzo-o á servidao, a fim de que nSo aconteca
que, tendo proclamado a mensagem aos outros, venha eu mesmo a ser repro-
vado" (1 Cor 9,24-27).

A necessidade da ascese, alias, é incutida pelas próprias leis da nature-


za e da psicología, como bem mostra D. Valfredo Tepe em seu livro "Prazer
ou Amor?", pp. 126s, citado em PR 315/1988, pp. 347-9.

As formas de ascese podem variar, pois elas sao um meio e nao um


fim. Sendo meios ou instrumentos, elas tém que ser consideradas á luz das
circunstancias ñas quais vive o cristao. Por isto em tempos passados julgavam

431
jf "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 316/1988

os mestres que a melhor disciplina para cultivar a fidelidade ao celibato era


a da clausura ou a de certa distancia frente ao sexo oposto e ao mundo;
tal disciplina formou realmente grandes santos e heróis da virtude (ao lado
de casos infelízes, como ocorrem em tudo o que é humano). Em nossos días,
as circunstancias ñas quais deve viver o padre, recomendam que desde os
anos de sua formacao no Seminario se acostume a conviver com pessoas de
todo tipo social (¡ovens de ambos os sexos, profissionais diversos, andaos...);
assim se faz o tirocinio ou o treinamento do futuro padre celibatário. - A
mudanca de disciplina da Igreja (mudanpa parcial, setorial, e nao total) nada
tem que ver com o Credo, as verdades da fé ou a infalibilidade do Espirito
Santo; ao contrarío, é sinal da acao do Espirito na Igreja, poís mostra que a
Igreja nao é um organismo mumificado, mas sim o Corpo de Cristo, que
expande a sua vitalidade através dos sáculos, "tirando do seu tesouro coisas
novas e velhas" (cf. Mt 13,52). Nao pode deixar de haver mudancas aciden-
taís ou disciplinares na historia da Igreja, Esposa viva de Jesús Cristo (cf
Ef 5,25-32).

3. Os santos doutores recomendam a orapao para que haja auténtica


vivencia do celibato. . . A oracao nato é um processo de autosugestao, como
afirma o Prof. G. de Moura: "O poder da orapao é puramente humano e con
dicionante: domina, refreia. Melhor do que o teólogo, o paraps ico logo co-
nhece os poderes controladores da mente" (obra em foco, p. 95).

As parábolas do Evangelho apresentam a orapao como o diálogo da


criatura com o Criador ou do(a) filho(a) com o Pai (cf. Le 11, 5-13; 18,1-8).
É a apresentapao dos afetos da alma (adorapao, gratidáo, expiapao, impetra-
pao) a Deus, em atitude de confianpa e humildade; Deus é soberano diante
das preces da criatura, de modo que nao há efeitos mágicos para as súplicas
do cristáo; a fé e o amor do orante e a misericordia do Pai sao o penhor de
que toda orapao é frutuosa.

Compreende-se que o cristáo que pratica a ascese e reza, seja psicoló


gicamente marcado por estes exercícios espirkuais; ele acredita no valor do
que faz. Isto, porém, nSo quer dizer que a forpa da orapao seja a de um exer-
cícío meramente psicológico, apto a convencer o orante a respetto de algu-
ma coisa. Seria incoerente crer em Deus, que é essencialmente o Primeiro
Amor, e nao crer no valor da orapao como súplica dirigida a Deus.

2.3. Ciencia e Religiao

G. de Moura insiste em dizer que "a ciencia depura, desmistifica cor


rige as relig¡3es" (pp. 94s).

(continua na p. 406).

432
EOlpOES LUMEN CHRISTI

1. RIQUEZAS OA MENSAGEM CHISTA (2? ed.l por Don,


Cirilo Folch Gomes OS.B. Ifalecido a 2/12/831. Teólogo
conceituado. autor de um tratado completo de Teología Dog
mática, comentando o Credo do Povo de Deus, promulgado
pelo Papa Paulo VI. Um alentado volume de 700 p., best seller
de nossas Edades, cuja traducao espanhola está sendo prepara
da pela Universidade de Valencia ... Cz$ 1.800.0>

7. O MISTERIO DO DEUS VIVO. P. Patfoort O.P. O Autor fo¡


examinador de D. Cirilo para a conquista da láurea de Ooutor
em Teología no Instituto Pontificio Santo Tomás de Aquino
cm Roma. Para Prolessores e Alunos de Teologia, é um Tratado
de "Deus Uno e Trino", de orientacao tomista e de índole
didática. 230 p
Cz$ 900.00

2? Edicao de:
DIÁLOGO ECUMÉNINO. Tamas controvertidos.
Seu Autor. D. Esté vio Bettencourt. considera os principáis
pontos da clássica controversia entre Católicos e Protestantes,
procurando mostrar que a discussáo no plano teológico perdeú
muito de sua razao. de ser. pois, nao raro, versa mais sobre
palavras do que sobre conceitos ou proposicocs - 380 páginas.
SUMARIO: 1. O catálogo bíblico: livros canónicos e livros
apócrifos - 2. Somente a Escritura? - 3. Somente a fé? NSo as
obras? - 4. A SS. Trindade. Fórmula paga? - 5. O primado de
Pedro - 6. Eucaristía: Sacrificio e Sacramento - 7. A Confis-
sáo dos pecados. - 8. O Purgatorio — 9. As indulgencias - 10.
María. Virgem e Máe - 11. Jesús teve irmaos? 12. O Culto aos
Santos - 13. E as imagens sagradas? - 14. Alterado o Decálo
go? - 15. Sábado ou Domingo? - 16. 666 (Ap. 13.181 - 17
Vocé sabe quando? - 18. Seita e Espirito sectario - 19.
Apéndice geral. — 304 págs Cz$ 1.000,00

LITURGIA E VIDA
Continuadora da REVISTA GREGORIANA, direqao e redacao
de D. Joao Evangelista Enout OSB. Há 35 anos sai regularmen
te.

O n° de marco-abril (205) aprésenla os seguintes títulos:


Pascoo. celebracá~o da Vida ■■ A uncSo do Espirito - O p3o do
cíu e a bebida de salvacao - O sentido do Sagrado e á linga-
gem simbólica na Liturgia — Gnosticismo moderno - Berñanos
e a inútil liberdade - Democracia sob ditadura económica -
Centenario de Bernanos - Esperanca de CivilizacSo - Crónica
de filmes.
Assinatura em 1988: Cz$ 400,00
DirecSo: Mosteiro de S. Bento. CP 2666 - Rio-RJ
EM COMUNHÁO
Revista bimestral, editada pelo Mosteiro de Sao Bento destina
se aos Oblatos e ás pessoas interessadas em assuntos de espiri-
tualidade monástica. Além da conferencia mental de-D. Esté-
vao Bettencourt para os Oblatos, contém traducfles de comen
tarios sobre a regra beneditina e outros asuntos monásticos. -
Assinatura anual em 1988: Cz$ 800.00

Para assinatura dirija-se a Armando Rezende Filho


(Caixa Postal 3608 - 20001 Rio de Janeiro - RJ) ou ás
EdicOes "Lumen Christi" ICaixa Postal 2666 - 20001 Rio de
Janeiro-RJ).
Pedidos de números avulsos podem ser feitos ás Edicóes
Lumen Christi". peloServico de Reembolso Postal.
ASSINATURA DE P.R. -1988

Cz$ 2.000,00

RENOVACÁO PARA 1989

Cz$ 3.000,00

LIVROS EM LÍNGUA ESPANHOLA:


- Los Papas - Retratos y Semblanzas (Josef Gelmi).
Lista de los Papas de Pedro a Joáo Paulo II. Herder.
1986 CzS 10.800,00
- San Francisco de Asís - Escritos, Biografías y Do
cumentos de la época (José Antonio Guerra) 33. edi
ción revisada. 1985 Cz$ 12.200,00
- Nuevo Dicionário de Espiritualidad- Dirigido por
Stefano de Flores y Tullo Goffi. 2- edición. Ediciones
Paulinas (Espanha) CzS 14.500,00

LIVROS DE PORTUGAL:

- Dicionário Grego - Portugués e Portugués -


Grego (Isidro Pereira, S.X) 63 edicáo. 1060 p. 1985.
Lív. Apostolado da Imprensa CzS 5.250,00
- Filosofía Tomista - Manuel Correia de Barros - 2?
edigáo revista 445p.
Livraria Figueirinhas (Porto) CzS 1.800,00
- O Livre Arbitrio (Santo Agostinho) - Traducáo do
original latino com ¡ntroducáo e notas por Antonio
Soares Pinheiro^ Professor de Filosofía. Faculdade de
Filosofía (Braga). 270p. 1986 CrS 2.000,00
- Confissóes de Santo Agostinho- 11? edicáo.410p.
1984. Lív. Apostolado da Imprensa CzS 2.000,00
- O Meu Cristo Partido- Ramón Cué, S.J.28- edicáo.
1986.160p. Editora Perpetuo Socorro CzS 1.050,00
- Salterio Litúrgico- Os Salmos da Liturgia das Horas
com introducáo, Oracóes Sal micas e uso Litúrgico. Se
cretariado Nacional de Liturgia.
(Ed.da Gráfica de Coimbra) 1984,545p Cz$ 1.500,00
- Novo Dicionário Latino - Portugués - Francisco
Antonio de Sousa - Edicáo actualizada e aumentada
por José Lello e Edgar Lello. 1984,1115p. - Lello & Ir-
máo - Editores Cz$ 3.450,00

Precos su jeitos a alteracáo.

Você também pode gostar