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Escola de História da Igreja – Patrística - Lucas Régis Lancaster

“PROTRÉPTICO” OU “EXORTAÇÃO AOS GREGOS”,


DE CLEMENTE DE ALEXANDRIA

O autor e a obra

➢ O autor: Clemente de Alexandria nasceu por volta de 150 em


Atenas, e se converteu ao cristianismo no limiar da juventude.
Viajou da Grécia à Síria e da Palestina ao Egito para conhecer
melhor a doutrina de Cristo, ouvindo cristãos sábios. Aquele que
o satisfez foi São Panteno, fundador da Escola Catequética de
Alexandria, do qual se tornou aluno e depois assistente. Quando
o mestre morreu em 200, sucedeu-o na direção da escola. Foi
ordenado padre e consagrou-se inteiramente ao ensino cristão.
Quando uma perseguição encerrou por algum tempo sua escola,
refugiou-se na Capadócia, onde morreu entre 215 e 216.
➢ Importância do seu pensamento: Apesar de São Justino já ter
apontado, especialmente na sua II Apologia, a possibilidade de
utilização da filosofia grega a favor da fé, foi Clemente o
primeiro teólogo a fazê-lo explicitamente. Encontrou objeções
no próprio ambiente eclesiástico, no qual muitos viam este tipo
de atitude como uma traição ao espírito do Evangelho ou, ao
menos, a filosofia como algo inútil1. Para compreender o
pensamento de Clemente é necessário entender que ele é,
sobretudo, um pedagogo, um mestre, um professor que se
dedica a formar homens. Está é, outrossim, a própria missão
da Igreja: ensinar. Clemente de Alexandria

o Mas para quê Clemente educa? Para a contemplação da verdade e para a ação
segundo a verdade. Queria formar um homem, ou antes um cristão, que vivesse
ordenado ao seu fim enquanto homem e enquanto cristão (“a graça não anula a
natureza”, diria Santo Tomás 1000 anos depois), mas de forma íntegra e harmônica, ou
seja, no qual a vida moral estivesse de acordo com a fé professada. O objetivo de sua

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“Para supor que a filosofia é inútil, seria útil estabelecer [filosoficamente] a afirmação de sua inutilidade”, afirmaria no
seus Estrômatos.

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obra, dizia, era a contemplação, o cumprimento dos mandamentos e a formação dos


homens virtuosos. Modelaria um cristão que vivesse da fé e que colocasse suas
potências superiores, e ainda mais as inferiores, integralmente a seu serviço. O objetivo
da educação clementina é, em suma, a própria perfeição, a construção de um homem
integralmente segundo Cristo. Se quiseremos utilizar linguagem escolástica, Clemente
queria formar os seus alunos no exerício dos atos propriamente humanos, o do intelecto
(conhecer) e o da vontade (querer), contemplando a verdade, que é Deus (para o qual
tende o intelecto) e amando o Sumo Bem, que também é Deus (para o qual tende a
vontade).
o Como Clemente educa? Sua obra é toda voltada para a educação, entendida como
“paideia”, ou seja, enquanto formação completa do homem, desde a educação física,
a educação nas disciplinas ditas encíclicas, formação filosófica e, no cume, a
catequética. O problema com que se deparou, porém, foi o choque entre a paideia
clássica e a paideia cristã. Seguindo o caminho traçado por São Justino, ele pretende
conciliá-las, mostrando que a filosofia não é pagã e que ela decorre da própria natureza
humana. Entendia que a educação cristã devia exercitar tanto a razão filosófica quanto
o conhecimento da fé revelada. Devia, portanto, ser uma autêntica paideia.
o Quem educa? O Pedagogo é o próprio Logos divino, Jesus Cristo. Desenvolvendo o
conceito de Logos já utilizado por São Justino para se referir à Segunda Pessoa da
Santíssima Trindade, Clemente explica como Ele nos quer salvar e nos conduzir à
perfeição. Como a obra do Logos é universal, harmônica, visando transformar o homem
total, o Logos-Educador orientará o homem moralmente até nos casos mais triviais da
existência, a fim de que esta se paute pela retidão racional e pela graça salvífica. Sendo
amigo dos homens e empenhado em levá-los à salvação, realiza o seguinte programa:
primeiro exorta, depois educa e, por fim, ensina.
➢ A trilogia clementina: É para expor esse “programa educativo” do Logos que Clemente
desenvolveu três obras, que bem podem ser consideradas como partes de um todo:
o “Protréptico” ou “Exortação aos Gregos”: É a obra que estudaremos nessa aula. É
uma obra apologética endereçada aos que não haviam se convertido. É, por isso,
exortativa. É sobretudo um chamado à conversão.
o “O Pegagogo”: é a obra propriamente pedagógica de Clemente. Após adquirirmos a
fé, é necessário que vivamos segundo essa fé. Mas quem há de nos ensinar? É o próprio
Jesus Cristo, o Logos, que nos educa. Ele é o Pedagogo que nos forma segundo o seu
modelo, e nos guia para o fim almejado.

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o Os “Estrômatos”: Essa obra se dedica a explicar a fé a partir dos princípios filosóficos,


mostrando as relações entre a filosofia e o cristianismo, e a demonstrar como o
verdadeiro gnóstico é o cristão. É uma obra de ensino do Logos, não apenas segundo
as verdades por Ele reveladas, mas também conforme a razão natural com a qual Ele
mesmo nos dotou. Com efeito, a todos os homens foi dada uma participação na razão
divina, no mesmo Logos, de modo que a razão natural pode, por mais que de forma
limitada, buscar a verdade. Essa busca pela verdade e pela natureza real das coisas é,
para Clemente, a filosofia. Ela ajuda a exercitar o espírito, a despertar a inteligência, e
a suscitar a sagacidade investigadora da verdadeira filosofia que os cristãos receberam
da própria Verdade. Ela tem, outrossim, um caráter propedêutico para a fé. Na obra ele
se dedica a demonstrar que não existe oposição entre filosofia e o cristianismo,
evidencia os tipos de relação que existem entre o saber natural cultivado pelos gregos
e a religião verdadeira revelada por Cristo, mostrando ainda que o verdadeiro gnóstico
não se afasta da Igreja - ele aprofunda o conhecimento proporcionado pela fé e se
distingue pela prática da virtude, passando a vida na presença de Deus e na
contemplação da verdade.
➢ Clemente é santo?: Clemente de Alexandria foi venerado como santo pela Igreja Católica até
o século XVI, quando o Papa Sisto V, a conselho do Cardeal Barônio, retirou-o do Martirológio.
Três foram as razões: (1) ausência de dados a respeito de sua vida; (2) ausência de culto a
Clemente antes do século IX (600 anos após sua morte); (3) dificuldades em alguns pontos de
sua obra e suspeita de heterodoxia nos “Estrômatos”, quando ele trata da gnose cristã. Trata-se,
na verdade, menos de heterodoxia do que de equivocidade.
➢ Data da obra: A “Exortação aos Gregos” foi escrita possivelmente entre 193 e 195.

Capítulo 1 – O Cântico Novo do Logos de Deus

➢ Neste primeiro capítulo Clemente contrapõe o canto “antigo” dos pagãos, pelo qual os homens
foram seduzidos ao politeísmo, ao “cântico novo” do Logos de Deus, que se fez carne e nos
quer salvar.
➢ O cântico antigo (1-3): Os mistérios pagãos foram ensinados através de hinos. O mundo estava
sob o domínio “do coro dos demônios”, assentados nos montes da impostura, como o Hélicão
e no Citerão. O trácio Orfeu e o tebano Metimneão não passaram de impostores que divulgaram
o politeísmo através de suas canções e de seus encantamentos.

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➢ Mas contra a mentira desses charlatões demoníacos, Clemente afirma que fará a verdade
“descer do alto dos céus, sobre a montanha santa de Deus, com a luminosíssima sabedoria e
o santo coro dos profetas” (2,2) e a conclama para que ela “faça resplandecer ao mais longe
possível sua luz brilhante, ilumine de todas as partes aqueles que estão mergulhados nas
trevas, que liberte os homens do erro, estendendo sua mão direita toda poderosa – o
entendimento – para a salvação deles”. Somente essa verdade celeste pode livrar o homem
do erro, levando-o a abandonar os montes da impostura como Helicão e o Citerão, a fim de
habitar em Sião, donde surge o Logos celeste, que entoa seu cântico não ao modo de Terpandro,
de Cepião, nem ao modo frígio ou dório, “canta segundo o modo eterno da nova harmonia, a
que traz o nome de Deus, o cântico novo” (2,3):
o E o que vem fazer este novo cantor? Não vem ele enganar, mas a “abolir a grande e
amarga escravidão dos demônios tirânico e, transportando-nos sob o jugo doce e
humano da piedade, exorta aos céus aquele que se haviam precipitado sobre a terra”
(3,2).
o O poder do cântico novo: Enquanto os antigos cantores afirmam encantar os animais,
o novo cantor “abrandou os mais difíceis animais como nunca existiram – os homens”
(4,1) Àqueles que se tornaram pedras em relação à verdade, “fez germinar uma semente
de piedade, sensível à virtude, entre as nações oriundas das pedras e que puseram sua
fé em pedras”. Mesmo àqueles que chamou de “raça de víboras” e “lobos em pele de
cordeiro”, ele pode fazer homens civilizados (4,2-3). Eis o poder do cântico novo: “de
pedras e de animais selvagens fez homens”, e aqueles que, “de certa forma, estavam
mortos, tão somente escutaram este cântico e tornaram-se redivivos” (4,4).
o Aquele que ordenou o universo e o homem: Esse cântico é o cântico do Logos, aquele
que “ordenou todo o universo harmoniosamente, submeteu a dissonância dos elementos
a uma ordenação harmoniosa, para que o universo inteiro se tornasse uma sinfonia”
(5,1). Esse cântico puro “sustenta a harmonia do universo e ajustou esse conjunto
segundo a vontade paternal de Deus” (5,2). Ele ordenou o cosmo e esse microcosmo
– “o homem, alma e corpo do Logos, e o Logos salmodia a Deus através desse
instrumento polifônico e canta em sintonia com esse mesmo instrumento: o homem”. O
homem é, para o Logos, a cítara (pela harmonia do seu ser), flauta (pelo seu sopro de
vida), templo (pela sua razão) (5,4).
o O que quer o Logos e seu cântico novo? Quer nos curar, nos conduzir à justiça,
“mostrar Deus aos homens insensatos, fazer cessar a corrupção, vencer a morte,
reconciliar com o Pai os filhos desobedientes” (6,1). Ele nos ama, e quer nos instruir,

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nos educar, nos formar, tendo em vista o reino dos céus. “Tudo isso com a única
intenção de nos salvar” (6,2).
o Em que sentido ele é novo? Esse cântico salvífico não é novo porque surgiu agora, ao
contrário, “já existia antes da aurora” (no princípio era o Verbo...). “Como o Logos
existe desde o início, ele era e é o princípio divino de todas as coisas; mas como agora
recebe o nome outrora consagrado e que é digno de sua força – Cristo – eu o chamo
de Cântico Novo” (6,7).
o Ele nos criou e quer nos salvar: O Logos, o Cristo “é a causa de nós existirmos por
todo o sempre (pois ele estava com Deus) e da nossa boa existência (porque agora ele
aparece aos homens”. Com ele aprendemos a bem viver para sermos conduzidos à vida
eterna (7,1). “Este é o Cântico Novo, que agora vem brilhar em nós, aparição do Logos
que estava no início e que pré-existia, pois apareceu agora como Salvador”. Nos deu a
vida no princípio e agora, como mestre, nos ensina a bem viver (7,3). E não é a primeira
vez: desde a queda ele nos fala, nos conduz, nos ensina pelos profetas. Ele é “polifônico
e engenhoso a respeito de nossa salvação”: nos exortou, castigou, falou pelos profetas,
mas agora, “é Ele, o Logos, que nos fala claramente, desmascarando a incredulidade;
o Logos de Deus tornado homem, a fim de que aprendamos, por meio de outro homem,
como um homem pode vir a ser Deus” (8,3-4).

1ª Parte – Refutação do Paganismo

Capítulo 2 – A demolição dos mistérios e dos mitos gregos

➢ No capítulo II Clemente se dedica a demolir as duas facetas da religião grega: as religiões de


mistério e a religião pública.
➢ Começa desmontando as religiões de mistério (14-23), as mistagogias, que àquela altura
seduziam tantas almas em toda a extensão do Império Romano e que floresciam sobretudo na
sua Alexandria. Tudo aquilo não passa de loucura, diz Clemente, e parece que ele próprio foi
um iniciado neste rito, pois declara que “proclama publicamente o que está escondido, sem
medo de dizer aquilo que vós não vos envergonhais de adorar” (14,1). Descreve os confusos e
ridículos mistérios e iniciações de Dionísio, Deméter, Perséfone, Afrodite, de Elêusis, dos
Coribantes (13-23). Mostra como surgiram seus símbolos, pondo a luz aquilo que eles
escondem para expor “aquela charlatanice escondida neles” (12,1). Conclui afirmando que os
que promovem estes cultos são ateus, por duas razões: “a primeira é a que os faz ignorar Deus,

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não reconhecendo como Deus aquele que verdadeiramente o é; a outra, a segunda, é este erro
de atribuir existência àqueles que não a têm, chamando de deuses aqueles que, em realidade,
não o são” (23,1).
➢ Antes de tratar da idolatria pública, Clemente faz algumas reflexões a respeito dos dois
extremos da ignorância – a impiedade (ateísmo) e a superstição (idolatria). Uma nega Deus,
a outra imputa numerosos deuses falsos contra o único e verdadeiro Deus (25,2). Essa segunda,
sobre a qual se debruçará, tem 7 causas em sua gênese, ou antes, 7 gêneros de idolatria (26) que
“afastaram o homem, ‘a planta celeste’, o homem, de uma conduta celeste e o subjugaram
sobre a terra, persuadindo-o a se prender às criaturas celestes” (25,4), “fazem o homem
tombar, afastar-se do céu e voltar-se para o abismo” (27).
➢ O que o santo faz em seguida é passar em revista os deuses gregos, utilizando as obras dos
próprios escritores gregos, expondo suas fraquezas, crimes e debilidades, todas indignas de
deuses (27-41): Ares é narrado como “inconstante e hostil”, tendo sido feito prisioneiro por três
meses (29); Hefesto, aleijado e coxo, se tornou ferreiro (29); Asclépio, deus médico, era amante
do dinheiro (30). Os deuses se entregavam a todo tipo de fornicação (32), todos eles escravos
de suas próprias paixões, mas que também se faziam escravos dos homens, como Apolo que
trabalhou assalariadamente por um ano (35), além de possuírem corpo e sangue, como
demonstram as feridas que muitos padeceram na Guerra de Tróia (36), e as embriaguezes,
banquetes e uniões indecentes (36). Mais grave é Zeus, soberano dos deuses, descontrolado
sexual (33), que é “injusto, criminoso, imoral, sacrílego, misantropo, violento, corruptor,
adultero, libertino” e que toma aparência das mais baixas criaturas – serpente, cisne, águia –
para satisfazer seus desejos (37).
➢ Em seguida mostra que os egípcios são melhores que os gregos, porque adoraram animais
irracionais e não deuses adúlteros e concupiscentes e que tampouco buscam prazeres contra a
natureza. Mostra ainda que os gregos, apesar de rirem dos egípcios, também adoram criaturas
irracionais como o peixe, a ovelha, o lobo, o cão, a formiga e o bode (39).
➢ Conclui dizendo que os deuses gregos não passam de demônios, que se alimentam dos
sacrifícios que os mortais lhes prestam (40-41).
➢ Houve mesmo, diz ele, homens como Evêmero de Agrigento, Nicanor do Chipre, Diágoras,
Hipo de Melos e Teodoro de Cirene, que escaparam à cegueira comum, mas que foram tratados
como ateus porque souberam ser prudentes e que, “se não conceberam a própria verdade, ao
menos suspeitaram do erro” (24,2).

Capítulos 3 e 4 – A religião pública

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➢ Após desmontar as religiões de mistério, Clemente parte a crítica da religião pública, ou seja,
dos cultos pagãos oficiais e públicos.
➢ No capítulo 3 ataca os sacrifícios e os templos pagãos: os deuses são, como narram os mitos,
“demônios misantrópicos”, que amam o assassinato e a guerra, e que exigem sacrifícios
humanos. Ele questiona: como podem ser benéficos esses deuses, a quem os pagãos rezavam,
sendo que eles mesmos desejavam a mal para os homens? Eles nada mais exigem dos seus
servidores que carnificinas e assassinatos, e seus templos não passam de túmulos.
➢ No capítulo 4 ataca a idolatria, demonstrando que os ídolos atestam a estupidez e o impudor
dos deuses gregos. É pura tolice dirigir súplicas a objetos insensíveis, obras de mãos humanas
e lista uma série de povos que adoravam pedras, cimitarras, rios, madeira. Em seguida passaram
a adorar estátuas de ouro, marfim e mármore, chegando mesmo a divinizar e idolatrar deuses
novos como o demônio Serápis em Alexandria, e Antinoos, jovem amante do imperador
Adriano, divinizado por este (46-56).
➢ Mas há mais: a aparência dessas estátuas trazia claramente impressa a predisposição interior
dos demônios, dos deuses, que representam. Isso é notável: a nudez e a imoralidade expressa
nas belas estátuas e pinturas corresponde à libertinagem que os mitos atribui aos próprios
deuses. Clemente demonstra como as pessoas ficavam excitadas e apaixonadas pelas estátuas,
e relata casos de indivíduos que chegaram a fornicar com estátuas das deusas (57). Tudo isso
são as lições dos deuses para aqueles que os cultuam, a indecência e a imoralidade. “Nós
denunciamos vossa indulgência a todas essas coisas indecentes, condenando não apenas a
prática, mas também o ato de vê-las e ouvi-las. Vossos ouvidos se prostituíram, vossos olhos
cometeram adultério” (61,3). “Vós credes em vossos ídolos, ciumentos que sois da libertinagem
deles, mas não credes em Deus, porque não suportais a temperança; vós odiastes o melhor e
venerastes o pior, tornando-vos não espectadores da virtude, mas atores do vício” (61,4).
➢ Outros chegaram, conclui, a adorar os astros: o Sol, a Lua e as estrelas. Não devemos adorar
o sol, diz Clemente, mas aquele que o fez (63).
➢ O que eles fizeram, acrescenta, é “do céu, uma cena, o divino tornou-se, para vós, uma peça
de teatro; representastes em comédia o que é santo, com máscaras de demônio; pela
superstição, transformastes em dramas satíricos a verdadeira piedade divina” (58,4).
➢ Os cristãos, devem virar a cabeça para tudo isso: “nós, os portadores da imagem de Deus,
e nessa estátua viva e animada, que é o homem, há uma imagem que habita conosco, que nos
aconselha, que nos faz companhia, que vive junto a nós e que tem misericórdia de nós e sofre
mais do que nós. Nós somos oblações a Deus por Cristo” (59,2).

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➢ Quanto aos pagãos, estes se esforçavam por fazer a estátua tão bela quanto possível, mas “não
insistis em vos tornardes vós próprios, semelhantes às vossas estátuas” (62,3).
➢ O único caminho para chegar às portas da salvação é a sabedoria divina: “lá, como num asilo
sagrado, o homem não mais será tentado por nenhum dos demônios e rapidamente andará
rumo à salvação” (63,5).

Capítulo 5 – Erros dos filósofos

➢ Mas também entre os filósofos houve erros a respeito de Deus.


➢ Cita primeiro os ateus, a quem a louca sabedoria levou a adorar a matéria, como o fogo, a água
ou outros elementos materiais. São sobretudo os pré-socráticos jônicos, como Tales,
Anaxímenes, Parmênides, Heráclito de Éfeso e Empédocles de Agrigento (64-65). “Se eles não
honraram pedra e pedaços de madeira, ao menos divinizaram a terra, mãe de todas essas
coisas; se não plasmaram Poseidon, ao menos foram suplicantes da própria água” (65,3).
➢ Houve outros filósofos, no entanto, que procuraram algo mais elevado, tal como o infinito, e
acabaram divinizando os astros, como Anaximandro, Anaxágoras, Demócrito, Alcmeão,
Xenócrates e os estoicos (66).

Capítulos 6 e 7 – Acertos dos filósofos e dos poetas

➢ Houve entre os gregos, porém, quem acertasse a respeito de Deus e dissesse coisas verdadeiras
a seu respeito:
o Filosofia: Entre os filósofos, ele aponta Platão como “colaborador para esta
investigação”. Platão, diz Clemente, descobriu o Deus do universo, proferindo verdades
sobre ele: é uno, imperecível e eterno. Mas como teria Platão alcançado essas
verdades? Não foi, como dizia Menandro, através do Sol, que deve ser adorado como
o primeiro deus, que nos mostrou outros deuses: “O sol não mostraria jamais quem é o
verdadeiro Deus, mas sim o Logos salutar que é o sol da alma, e que só ele, saindo das
profundezas da mente ilumina o olhar” (68,4). É o Logos que iluminou Platão e mostrou
a ele que Deus é “rei do universo, a causa de tudo o que é belo. Medida da verdade de
todos os seres” (68,5-69,1). Platão ensinou nas Leis que Deus organizou o universo e
com a sua justiça castiga os infratores da Lei Divina. Ora, como seria possível que
Platão fizesse tal alusão à verdade? Assim como Platão, diz Clemente, teria aprendido
as artes de variados povos, “para as Leis, ao menos aquelas que são verdades também

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para a glória de Deus, os próprios hebreus te ajudaram” (70,1). Se trata de um


equívoco comum entre os Padres da Igreja: o de que os filósofos gregos teriam lido o
Antigo Testamento e omitido essa referência em suas obras. Mas isso não o impede de
dizer que “A todos os homens em geral, principalmente aqueles que passam seu tempo
dedicando-se aos estudos, foram concedidos alguns eflúvios divinos” (68,2). Ou seja,
lendo ou não os hebreus, o Logos iluminou Platão, assim como iluminou outros
filósofos que descobriram verdades acerca de Deus como Antístenes, Xenofonte,
Cleante de Pédaso e os pitagóricos. Conclui dizendo que “tudo isso eles escreveram,
também por inspiração divina, é suficiente para levar ao conhecimento de Deus aqueles
que, mesmo com pouca capacidade, são capazes de considerar a verdade” (72,5).
o Poesia: Encerrando a consideração do pensamento dos pagãos, Clemente demonstra
que também alguns poetas testemunharam algo de verdade a respeito de Deus: Arato
disse que o poder divino perpassa todas as coisas; o Pseudo-Sófocles proclamou a
unidade de Deus e a vã adoração dos ídolos; e o próprio Orfeu, após ter revelado
mistérios idólatras, proclamou a unidade divina. Muitos poetas, ademais, debocharam
dos deuses. Vale citar uma passagem do Íon de Eurípedes: “Como é justo que vós
(Zeus), que haveis fixado aos mortais suas leis acusai-nos de injustiça?” se ele é o
primeiro, junto dos demais deuses, a violá-las?
➢ Tudo isso que se considerou nos poetas e nos filósofos quanto à divindade atesta, diz Clemente,
que os gregos receberam melhor do que os outros algumas fagulhas do Logos divino, e fizeram
ouvir algumas raras verdades, e desse modo, testemunharam que o poder da verdade não estava
escondido (74,7). Ora, dizer qualquer verdade “sem o Logos da verdade é algo completamente
semelhante a andar sem os pés” (75,1).

2ª Parte – Exortação ao Cristianismo

Capítulo 8 – Deus nos chamou primeiro pelos seus profetas

➢ Primeiramente, Clemente mostra que para encontrar a verdade sobre Deus é preciso dirigir-se
aos profetas como Jeremias, Isaías e Moisés, que revelaram os caminhos claros da piedade,
propuseram as regras da vida virtuosa, indicaram o caminho da salvação e lançaram os

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fundamentos da verdade nas Escrituras divinas, que podem carecer do estilo para um espírito
afeito às elegâncias da linguagem, mas contêm o segredo da salvação (77,1).
➢ As Escrituras mostram um Deus distinto dos demônios pagãos: um Deus cuja grandeza é
infinita (78-79), que nos retira da idolatria (80) e ao qual devemos adorar, e não às suas criaturas
(81,3). Aquele Deus que, estando nós caídos sobre os ídolos, nos ergueu por meio do seu Logos
diante da verdade (80,3).

Capítulo 9 – Deus nos chama pelo seu Logos – Não desprezemos seu chamado!

➢ “O Logos é a luz para os homens”, pela qual nós vemos a salvação. Por ele Deus nos chama,
“como um pai benévolo” (82,1-2). E cada ser humano responde ou não a este chamado:
o Aqueles que atendem ao chamado de Deus serão tornados cidadãos (do céu) e
recebidos por Deus como por seu pai, tomando posse “dos bem paternos”, e dividirá
com ele seu reino. “Essa é, continua ele, a igreja dos primogênitos, aquela que é
constituída por muitos de seus bons filhos; ‘são esses os primogênitos inscritos nos
céus’, e que celebram suas festas com tantas miríades de anjos’” (82,5-6). “Nós somos
os primogênitos, nós, os nutridos de Deus, os amigos do Primogênito, os primeiros que,
dentre todos os homens, conhecemos a Deus, os primeiros que fomos arrastados do
erro, os primeiros separados do diabo” (82,7).
o Aqueles que não atendem ao chamado de Deus, por outro lado, recusam serem filhos,
permanecendo escravos. Deus quer dar a liberdade, mas eles preferem a servidão. “Ele
nos presenteia com a vida eterna, e vós esperais pacientemente o castigo, o fogo que o
Senhor preparou para o diabo e seus anjos” (83).
➢ O Senhor não cessa de exortar: Ele aconselha, amedronta, exorta, instiga, repreende, chama
sem cessar aqueles que se desgarraram. “Que ninguém despreze o Logos”, diz Clemente.
Pensemos no castigo e pensemos na recompensa. Até o fim dos tempos durará o hoje e a
possibilidade de apreender: “Obedeçamos a voz do divino Logos, aquele pelo qual somos
iluminados por Deus” (84).
➢ Mas para que Deus nos chama? O Senhor Deus convida a todos os homens ao conhecimento
interior da verdade. E em que consiste este conhecimento? Na piedade, no viver
religiosamente, tendo sempre em mente a vida futura, não cessando em tempo algum de pensar
na nossa salvação eterna (85). Atenção à salvação! “Ó homens, por quanto compraríeis a
salvação eterna, se esta estivesse à venda?” Nenhum tesouro do mundo compra a salvação,
mas o nosso tesouro pessoal compra, “a caridade e a fé” (85,4-86,1).

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➢ A transformação que a piedade opera em nós: “A piedade, segundo seu poder, faz o homem
assemelhar-se a Deus, assegurando-lhe um mestre apropriado: Deus, que só pode imprimir no
homem, conforme seu mérito, a semelhança divina” (86,2).
➢ Clemente conclui o capítulo com uma bela exortação, conclamando todos, novamente, a ouvir
a voz do Logos, que não cessa de nos chamar (Ler 88,2-3).

Capítulo 10 – Todos os homens devem ouvir e acatar a voz da verdade

➢ Abandonar os maus costumes e ouvir a voz de Deus: Os pagãos diziam que não podiam
deixar a tradição de seus pais. Ora, diz Clemente, quando recebemos a herança paterna, não
podemos aumentá-la ou diminui-la, devemos mantê-lo tal como é? (89,1) Devemos abandonar
o que de errado recebemos, mesmo que nossos pais se irritem com isso, “nos inclinar para a
verdade e ir em busca daquele que é nosso verdadeiro pai” (89,2). Devemos ouvir a voz de
Deus, sabendo que os homens bons e piedosos receberão bens equivalentes, e os maus, castigo
proporcional. Clemente pergunta ao leitor por que ele ainda caminha para o inferno. Que ele
cesse já de seguir este caminho que o precipitará nas chamas e passe a viver uma vida bela,
conforme Deus. Que larguem, portanto, as más tradições, e ouçam a voz de Deus (90).
➢ Não sejamos como homens-porcos: Ele pergunta: “Não achais estranho que vós, homens, que
sois criaturas de Deus, sejais escravos de outro senhor, que sirvais em lugar do rei, ao tirano,
em lugar do bem, ao mal?” (92,2). Pois é o que se dá com o que se nega a ouvir o Logos: se
priva de Deus para viver com demônios; podendo ser cidadão do céu, persegue as trevas. São
como homens-porcos que chafurdam no lamaçal, dos prazeres ilícitos e da negação de Deus,
enquanto podemos ser filhos (Parábola do Filho Pródigo) (92,3-4). “Não deixemos nos
escravizar e não vivamos em pocilgas, mas sim como autênticos ‘filhos da luz’; alcancemos a
vista em direção à luz e a contemplemos atentamente” (92,5). Impossível não se recordar de
Ovídio, em suas Metamorfoses, quando explica a diferença entre os homens e os animais:
“Enquanto os outros animais olham a terra inclinados sobre ela, ao homem deu um rosto ereto
e determinou-lhe que olhasse o céu e elevasse os astros a sua face” (1,80-85). Mais adiante diz
Clemente que os pagãos são de fato como animais irracionais (108,1).
➢ O amor de Deus não nos abandona – metáfora com os animais: Apesar de tudo, Deus, “em
seu grande amor pela humanidade, prendeu-se ao homem, como uma mãe-pássaro que,
quando seu filhote cai do ninho, voa em direção a ele”. Deus Pai também procura sua criatura
e a cura de sua queda, persegue a besta selvagem que a pegou e a encoraja a voar de novo para
o ninho (91).

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➢ Larguemos a imundice e abracemos o verdadeiro tesouro: Nossa herança não é de ouro nem
de prata. É uma herança muito superior. É uma dádiva eterna, superior a qualquer tesouro,
qualquer benefício, qualquer coisa que este mundo pode produzir. Herdaremos o Céu, a glória
do Senhor e seu poder (93,1-94).
➢ Escutemos o Logos: O Logos tem razões, argumentos, com os quais nos quer convencer a
atender o seu chamado. Ouçamo-lo, diz Clemente:
o Em primeiro lugar, não nos preocupemos mais, nenhum pouco, com o que dizem as
pessoas a nosso respeito: “após sermos despojados aos olhos de todos, lutamos
nobremente no estádio da verdade; o santo Logos discerne o prêmio”. Será a própria
eternidade! (96,3-4).
o Abandonemos os ídolos: A imagem de Deus é o seu Logos, “e imagem do Logos é o
homem verdadeiro, a inteligência que está no homem, e que, por isso, se diz ter sido
criado à imagem de Deus e à sua semelhança, comparado ao divino Logos pela
inteligência de seu coração e, por conseguinte, razoável” (98, 3-4). Abandonemos o
culto daquelas coisas que não são deus, paremos de divinizar as coisas criadas (102) e
reconheçamos que só um é Deus (103,1). “Que Deus vos faça recobrar os sentidos,
após o sono, e compreendê-Lo, e não mais considerar como deuses o ouro, a pedra a
atividade humana, o sofrimento, a doença ou o medo” (103,2).
o Banhemo-nos na verdade: “Recebei, pois, a água racional, banhai-vos, vós que ainda
estais sujos; purificai-vos, vós mesmos, do hábito, aspergindo em vós gotas da verdade:
é preciso subirdes puros aos céus. Tu és homem, isso é o que há de mais universal,
procura pois, teu criador; tu és filho, isso é o que há de mais particular, reconhece teu
pai” (98,3).
o Façamos aquilo para o qual existimos: “Assim como não devemos constranger o
cavalo a trabalhar, mas empregarmos cada um naquilo para que nasceu, da mesma
maneira nós convidamos o homem, nascido para a contemplação do céu, ao
conhecimento de Deus; nós o fazemos ver o que lhe é próprio, o que o caracteriza e o
distingue dos outros animais, e o aconselhamos a se munir dum salvo-conduto
suficiente para a eternidade: a piedade, vivendo religiosamente” (100,3)
➢ A saída do erro para a verdade não é, para Clemente, uma simples mudança intelectual, mas
uma modificação no próprio ser, uma cura: nada mais equivocado do que o chamar de
intelectualista e especulativo, pois ele exorta os pagãos a uma autêntica conversão: “Deixai-vos
curar a vossa selvageria, por meio desses encantamentos e acolhei o nosso Logos; expeli o
veneno letal, a fim de que vos seja permitido, ao máximo possível, despojar-se da morte”

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(106,1). E há algum obstáculo que impeça? Não, diz ele (105,2) nada impede aquele que
ruma para o conhecimento de Deus: nem a falta de instrução, nem a pobreza, nem a indigência.
Nada disso impede que deixemos de ser como as serpentes que rastejam nas imundices, e
ergamos a cabeça para o céu (106,2). Ele chama o homem para ser aquilo para o que existe:
para parar de se comportar como animal e contemplar a Deus.
➢ Os animais selvagens são piores, continua ele, do que os homens que são vítimas do erro. Os
animais vivem conforme foram criados para existir, ou seja, de modo irracional, enquanto nós,
ao não aceitarmos o Logos e adorarmos as coisas, nos tornamos irracionais por nossa própria
vontade (108,1-2).
➢ Conclama-os a respeitarem sua própria velhice: Eles foram crianças, depois adolescentes,
depois efebos, depois homens, sem nunca serem virtuosos. “Respeitai, ao menos, a vossa
velhice; no ocaso da vida, tornai-vos sábios; mesmo no fim da vida, conhecei Deus, para que
o fim de vossa existência ceda lugar ao início da vossa salvação” (108,3).
➢ A transformação que Deus opera: Ele nos dá asas da simplicidade para que possamos
abandonar nossos antros e habitar o céu (106,3). Na velhice, nos tornará jovens novamente, nos
tornando crianças inocentes (108,3). Deus inscreverá em nossas almas a justiça, a caridade, o
pudor, a doçura (107,1), nos tornando melhores nas condições em que nos encontramos (107,3).
➢ E como Ele o fará? Pela verdade: Assim como remédios amargos nos trazem a saúde, do
mesmo modo a verdade “nos faz subir ao céu, rude no início, mas finalmente, excelente nutriz”
(109,1). É no gineceu da verdade, dura no princípio, mas para a qual devemos tender, que Deus
exercitará em nós todo tipo de virtude: “É um gineceu pleno de virtudes, é um senado pleno de
sabedoria; ela não é de difícil acesso nem impossível de ser atingida; ao contrário, ela é
absolutamente próxima, ela habita em nós” (109,2).
➢ A luz de Deus brilha, deixemo-nos iluminar por ela: “O poder divino iluminou a terra e a
todos saciou com a semente da salvação” (110,1). O Logos, arauto da paz, nosso mediador e
nosso salvador, fonte vivificante, pacificadora, se difundiu sobre a superfície da terra, fazendo
de tudo um oceano de bens (110,3).

Capítulo 11 – A chegada do Logos divino

➢ Clemente faz uma recapitulação da história da queda e da salvação: quando Adão brincava
no paraíso, como uma criança pequena de Deus, sucumbiu à volúpia (a serpente é, em sua
opinião, alegoria da volúpia, que se arrasta sobre o ventre), achou-se preso a seus erros (111,1-
2). Mas Deus subjugou a serpente e reduziu à servidão o tirano, a morte, e ao homem libertou,

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ressuscitou, dando-lhe uma recompensa ainda maior do que o paraíso que perdera: os céus
(111,3).
➢ O Logos desceu dos céus e se tornou nosso mestre – a filosofia encontra seu termo: O Logos
divino se encarnou, se faz homem para a nossa salvação. Agora não precisamos mais de
nenhuma escola humana, não nos devemos nos preocupar com Atenas, com o resto da Grécia
ou com a Jônia. Temos por didáscalos, por mestre, aquele que tudo sabe e tudo criou com seu
poder e sua bondade, e esse Mestre tudo nos ensina por meio das suas profecias, das suas leis
e da sua doutrina. “O Universo inteiro tornou-se, por meio do Logos, uma Atenas e uma
Grécia” (112,1). Os maiores filósofos, continua ele, entreviram a verdadeira e única sabedoria,
mas nós, os discípulos de Cristo, a recebemos e a proclamamos por inteiro (112,2).
➢ A religião e o verdadeiro significado da vida: A religião, acrescenta Clemente, é uma
exortação universal, pois conclama todos os homens a atentarem para o verdadeiro significado
da vida, para “seu fim mais importante”: a salvação eterna (113).
➢ Recebamos, portanto, a luz: O Logos é a luz que nos ilumina e nos liberta, nos tornando
coerdeiros seus. “Despojemo-nos da ignorância e da obscuridade que impedem, como uma
venda, os nossos olhos de contemplar aquele que é verdadeiramente Deus”. “Pois do Céu, uma
luz brilhou para nós, que estávamos nas trevas e aprisionados à sombra da morte” (114,1).
“Essa luz é a vida eterna, e tudo que dela participa vive” (114,2).
➢ Novamente, a transformação que a luz opera: O Logos, a luz que desceu dos céus, pela sua
morte na cruz, nos agraciou com a herança do Pai, diviniza o homem (114,4) e nos dá condições
de colonizar os céus (115,1), nos libertando das paixões, que são as doenças da alma (115,2).
Tudo isso porque Ele é a luz da verdade: “a verdade existe!”, enfatiza Clemente (115,3). “Que
essa luz brilhe no âmago do homem, no seu coração, e que os raios do conhecimento se elevem
para manifestar e tornar resplandecente o homem escondido em seu íntimo, o discípulo da luz,
familiar e coerdeiro de Cristo” (115,4).

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