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Escola Tomista
Professor Carlos Nougué
Aula 94
Bem-vindos à 94ª aula da Escola Tomista. Estamos no Tratado da Física
Geral XVI, Sistema das Causas X. Espero não ter errado.
Pois bem, vão perdoar-me, estou muito gripado. Então, às vezes terei de
interromper a minha fala por algum espirro ou algo assim. Desculpem-me, mas
tem de gravar a aula.
Pois bem, visto o que vimos na aula passada, podemos insistir no ponto da
existência da matéria prima. Espero que, na aula passada, se tenham
respondido as objeções relativas a essa existência, mas ainda cabe, ainda é
necessário que eu explique esta mesma existência, que eu discorra sobre esta
mesma existência.
Pois bem, é por isso que é preciso afirmar que a matéria prima sem hífen
ou matéria primeira não se ordena à existência de modo imediato e sim – isso é
o que se deve dizer – que se ordena de modo imediato à forma e, mediante a
forma, à existência. Ou seja, entre a matéria prima e o ser, entre a matéria prima
e o existir existe a forma. Por isso é que dizia Aristóteles que a forma dá o ser.
Vejamos o que diz Santo Tomás no seu livro Sobre a potência de Deus,
questão IV, artigo 1: “a matéria não pode ser ou existir entre as coisas naturais
– a matéria prima – a matéria prima não pode ser ou existir entre as coisas
naturais sem que seja informada [é termo técnico] por alguma forma, sem que
seja formada por alguma forma, porque tudo que se encontra nas coisas naturais
existe ou é em ato, o que não tem, ou seja, o ser em ato, o que a matéria não
tem, ou seja, o ser em ato, senão pela própria forma que é seu ato. Por isso –
conclui Santo Tomás – é que não há como a matéria prima ou primeira encontrar-
se sem a forma nas coisas naturais”.
Anote-se que Duns Scott, os escotistas defendiam que sim, que a matéria
prima, ao modo platônico, defendiam que a matéria prima pode existir-se, pode
existir por si. É isto que se combaterá, não vou tratar aqui diretamente a doutrina
de Scott, dos escotistas, mas saiba, saiba-se que tudo quanto se disser aqui a
respeito da matéria prima ou primeira do ângulo, obviamente, aristotélico-tomista
será uma crítica à doutrina da multiplicidade das formas substanciais que Duns
Scott inventou. Além do mais há que dizer que nem todos tomistas, nem todos
os tomistas têm um tratamento ideal, perfeito do assunto da matéria prima. Por
exemplo, Alamanos falha muito não talvez porque não entendesse a coisa, mas
porque usa uma linguagem inconveniente quanto à matéria prima. Por isso, aliás,
é que eu sempre digo que devemos seguir em espírito e letra a Santo Tomás,
porque muitas vezes quando nos desviamos da letra de Santo Tomás acabamos
por desviar-nos também de seu espírito.
Pois bem (difícil dar aula com... todo congestionado como eu estou, mas...),
ainda temos que responder a outras objeções, outras que aquelas que vimos na
aula passada com respeito à existência da matéria prima ou primeira. Mas,
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Então vamos estudar, não sei se dá, deixe-me a quantas anda aqui o
tempo, vai dar. Vamos estudar as partículas desta definição.
Se esta definição que ele dá, que o Padre Calderón dá da matéria prima ou
primeira se aplicasse secundum quid à matéria segunda, este termo lhe
pertenceria com maior propriedade.
Deixe-me ver o tempo que estamos. Eu acho que hoje não será possível
começar a dar as propriedades cada uma explicadamente. Então eu prefiro falar
das propriedades da matéria em geral para deixar o estudo das propriedades da
matéria, cada uma das propriedades da matéria em particular para a próxima
aula quando espero estarei um pouco melhor de saúde.
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Que aspectos são esses? São aspectos que são dados, que estão dados
pelas noções transcendentais que já vimos como ponto da lógica, noções
transcendentais que são, como visto então, análogos supremos, mas que, em si
mesmos, só se estudam perfeitamente na Metafísica, razão pela qual tudo o que
eu disser a respeito disto aqui fica aberto a um maior aprofundamento que,
repita-se, só se pode fazer no âmbito da Metafísica.
Pois bem, vamos considerar então a matéria a partir do ângulo destas seis
perspectivas fundamentais para poder medir, calcular, mensurar seu
pertencimento à ordem real, à ordem do real, da realidade que, com a noção de
matéria prima, se vê comprometida. Acabamos de ver: a matéria prima quase
não é, mas não pode não ser porque o que não é simplesmente não existe.
Pois bem, então trata-se de vê-la pelo ângulo da entidade do ente, da coisa,
do uno, do algo, do verdadeiro e do bom.
Quanto ao ente, quanto a ser ente, quanto a sua entidade deve dizer-se
que a matéria prima é ente em pura potência, ela é pura potência.
Pois bem, quanto ao uno, quanto à unidade devemos dizer que a matéria
prima ou primeira é una, una, é una por si mesma, mas se multiplica pela
quantidade. É importantíssimo isto.
Peço-lhes perdão se não foi uma aula muito corrida pelos acidentes gripais,
mas eu creio que fui claro o suficiente. Então muito obrigado pela atenção e até
nossa próxima aula.