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Escola Tomista – Apenas para uso dos alunos Página | 1

Escola Tomista
Professor Carlos Nougué
Aula 94
Bem-vindos à 94ª aula da Escola Tomista. Estamos no Tratado da Física
Geral XVI, Sistema das Causas X. Espero não ter errado.

Pois bem, vão perdoar-me, estou muito gripado. Então, às vezes terei de
interromper a minha fala por algum espirro ou algo assim. Desculpem-me, mas
tem de gravar a aula.

Pois bem, visto o que vimos na aula passada, podemos insistir no ponto da
existência da matéria prima. Espero que, na aula passada, se tenham
respondido as objeções relativas a essa existência, mas ainda cabe, ainda é
necessário que eu explique esta mesma existência, que eu discorra sobre esta
mesma existência.

Pois bem, a matéria da mudança substancial, ou, desculpe-me, a matéria


da mudança acidental é mais fácil de distinguir e de entender, porque esta
matéria é, em si mesma, como já vimos abundantemente, algo substancialmente
determinado, seja mármore no caso da mudança substancial artificial ou a água
no caso da mudança acidental natural (por exemplo, venho insistindo no exemplo
do esquentamento da água). No entanto, é evidente, é notório que há mudanças
substanciais, ou seja, mudanças que não são acidentais e que, nessas
mudanças, há algo que permanece. Bom, vou falar aqui de uma observação
muito interessante do Padre Calderón em seu livro Tomo II, La naturaleza y sus
causas. Ele aponta que aqui padecemos a já explicada circularidade da via das
disciplinas. Por quê? Porque a existência da mudança substancial e da
continuidade ontológica de qualquer, de algum princípio material faz-se mais
evidente nas ciências particulares, ou seja, aquelas que são partes subjetivas da
Física Geral. Um exemplo: quando a Química considera natureza e as
propriedades do oxigênio e do hidrogênio para, em seguida, então comprovar
por um lado a diferença essencial entre eles – o oxigênio e o hidrogênio – e a
água que eles compõem, fazendo, com isso, evidente, notório que a mudança é
substancial e, por outro lado, a presença virtual mesma do oxigênio e dos dois
hidrogênios na molécula de água, o que ressalta, faz ressaltar a continuidade
ontológica da mudança. Sucede, no entanto, que na Física Geral é necessário
partir da evidência da mudança substancial, é necessário partir de uma
evidência. Por quê? Porque parte-se daí, porque se parte daí como de algo
primeiríssimo para distinguir os princípios que depois permitirão proceder o
procedimento científico nas ciências particulares ou partes subjetivas da Física
Geral. Na Física Geral, porém, só se pode assegurar que o progresso mesmo, o
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avançar mesmo da investigação científica elucidará completamente ou os


princípios mesmos de que partimos na Física Geral.

Pois bem, é a isto que permanece como matéria na mudança substancial


o que se chama, o que foi chamado por Aristóteles matéria prima [sem hífen] ou
matéria primeira – podem usar-se as duas denominações. Isso é assim porque
do mesmo modo como as indústrias chamam matéria-prima [agora com hífen]
àquela matéria que não recebeu nenhuma modificação artificial, assim também
chamamos na Física matéria prima [sem hífen] ou matéria primeira aquela que
não tem nenhuma determinação natural.

Que dizia Aristóteles, como o explicava Aristóteles? “Entendo por matéria


[suposto matéria prima sem hífen] o que de si não é algo, nem é quantidade,
nem é nenhuma outra coisa daquelas que determinam o ente”. Com efeito, o
sujeito de um movimento que se dá segundo a qualidade pode ser substância e
quantidade, mas não qualidade – isso nós já vimos nas categorias –, pois a
qualidade é justamente aquilo que muda nesse movimento. Mas o sujeito ou
matéria de uma mudança segundo, de acordo com a mesma substância, com a
própria substância tampouco pode ser substância. Por quê? Porque justamente
muda aquilo que o faz ser tal ou tal substância. E, portanto, se não pode ser
substância, a fortiori, ou seja, com maior razão não poderá ser quantidade ou
qualidade. Por quê? Porque os acidentes dependem per se, essencialmente da
substância da qual são acidentes. Isto também já está visto abundantemente.

A matéria prima, portanto [matéria prima sem hífen ou matéria primeira], é


algo real, de todo real. Por quê? Porque algo realmente permanece na mudança
substancial, mas – atenção – diferentemente do sujeito, do câmbio acidental,
seja natural ou artificial, esta realidade não é, em si mesma, nada determinado:
não é substância nem é acidente.

Per se, essencialmente, é a pura e simples abertura a ser, a existir sob a


forma substancial do termo a quo, ou seja, o termo de ponto de partida ou sob
sua privação, porque não a tem no termo ad quem, o termo que é o ponto de
chegada. Ia ser ou existir sob a forma substancial do termo ad quem, ou sob sua
privação. Por quê? Porque não a tinha no termo a quo. Espero que vocês já
dominem essa terminologia a quo e ad quem, mas, se não, podem escrever-me.

Já se pode dizer, por conseguinte, que entre todas as coisas reais


completas ou incompletas – não importa – a matéria prima é a realidade ínfima,
ínfima. Pois bem, se já dizia, se eu já dizia quanto ao sujeito da mudança
acidental que não podia existir por si separado, separadamente. Por quê?
Porque está ontologicamente indeterminado, a fortiori, ou seja, com maior razão
devemos dizê-lo, dizer isto, que está ontologicamente determinado, da matéria
prima ou primeira que é pura e simples indeterminação.
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Mas é preciso agora acrescentar algo, porque, com efeito, da matéria da


mudança acidental era possível pensar que existisse ou fosse sob a só privação,
sob a pura privação da forma acidental, porque em si mesma é uma substância
determinada. Sucede, porém, que da matéria prima, quanto à matéria prima ou
primeira – matéria prima sem hífen ou primeira – não podemos pensar que seja
ou exista sobre privação de toda e qualquer forma substancial. Este é o nó da
questão. E por que não podemos insistir que a matéria prima possa existir sem,
privada de qualquer, de toda e qualquer forma substancial? Porque, se fosse
assim, não teria um modo de ser determinado e sempre, e necessariamente, de
modo necessário deve existir sob a forma de alguma substância. Nada pode ser
absolutamente indeterminado, nada pode existir absolutamente indeterminado.

Pois bem, é por isso que é preciso afirmar que a matéria prima sem hífen
ou matéria primeira não se ordena à existência de modo imediato e sim – isso é
o que se deve dizer – que se ordena de modo imediato à forma e, mediante a
forma, à existência. Ou seja, entre a matéria prima e o ser, entre a matéria prima
e o existir existe a forma. Por isso é que dizia Aristóteles que a forma dá o ser.

Vejamos o que diz Santo Tomás no seu livro Sobre a potência de Deus,
questão IV, artigo 1: “a matéria não pode ser ou existir entre as coisas naturais
– a matéria prima – a matéria prima não pode ser ou existir entre as coisas
naturais sem que seja informada [é termo técnico] por alguma forma, sem que
seja formada por alguma forma, porque tudo que se encontra nas coisas naturais
existe ou é em ato, o que não tem, ou seja, o ser em ato, o que a matéria não
tem, ou seja, o ser em ato, senão pela própria forma que é seu ato. Por isso –
conclui Santo Tomás – é que não há como a matéria prima ou primeira encontrar-
se sem a forma nas coisas naturais”.

Anote-se que Duns Scott, os escotistas defendiam que sim, que a matéria
prima, ao modo platônico, defendiam que a matéria prima pode existir-se, pode
existir por si. É isto que se combaterá, não vou tratar aqui diretamente a doutrina
de Scott, dos escotistas, mas saiba, saiba-se que tudo quanto se disser aqui a
respeito da matéria prima ou primeira do ângulo, obviamente, aristotélico-tomista
será uma crítica à doutrina da multiplicidade das formas substanciais que Duns
Scott inventou. Além do mais há que dizer que nem todos tomistas, nem todos
os tomistas têm um tratamento ideal, perfeito do assunto da matéria prima. Por
exemplo, Alamanos falha muito não talvez porque não entendesse a coisa, mas
porque usa uma linguagem inconveniente quanto à matéria prima. Por isso, aliás,
é que eu sempre digo que devemos seguir em espírito e letra a Santo Tomás,
porque muitas vezes quando nos desviamos da letra de Santo Tomás acabamos
por desviar-nos também de seu espírito.

Pois bem (difícil dar aula com... todo congestionado como eu estou, mas...),
ainda temos que responder a outras objeções, outras que aquelas que vimos na
aula passada com respeito à existência da matéria prima ou primeira. Mas,
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seguindo a ordem que dá ao assunto o Padre Calderón em seu Tomo II de La


naturaleza y sus causas, diga-se que é mais conveniente antecipar a resolução
dessas objeções “o que é a matéria prima ou primeira”. Isso porque até agora
nós dissemos antes sobretudo o que não é a matéria prima. Ora, dizer o que é
a matéria prima, assim como dizer qualquer, o que é de qualquer coisa é dar-lhe
o quê? Lembrem-se? A definição que é a oração que nos dá a essência da coisa.
Então, precisamos agora dar a definição de matéria prima que nos dá Aristóteles
e que é aperfeiçoada por Santo Tomás, por tomistas como João de Santo Tomás
e ainda mais pelo Padre Calderón. Então seguirei estritamente, quanto à
definição de matéria prima, os passos dados pelo Padre Calderón em sua, em
seu segundo tomo, no segundo tomo de seu La naturaleza y sus causas.

Pois bem, na Física Aristóteles define a matéria prima ou primeira ou


matéria mais propriamente dita assim, desta maneira: “chamo matéria – diz
Aristóteles na Física – chamo matéria ao substrato primeiro em cada coisa;
aquele constitutivo interno e não acidental do qual algo, a partir do qual algo vem
a ser”.

Então, como propõe o Padre Calderón, pode dizer-se, reordenando um


pouco a definição aristotélica, que a matéria – veja-se como simplifica – a matéria
ou matéria prima, ou matéria primeira, ou matéria propriamente dita é – eis a
definição – princípio intrínseco do qual a algo se faz per se como sujeito.
Princípio intrínseco do qual algo se faz per se como sujeito.

Então vamos estudar, não sei se dá, deixe-me a quantas anda aqui o
tempo, vai dar. Vamos estudar as partículas desta definição.

Então a primeira partícula da definição de matéria prima, que a definição é


princípio intrínseco do qual algo se faz per se como sujeito. Então a primeira
partícula é princípio intrínseco. Aprofundemo-nos nesta primeira partícula.

Por que o Padre Calderón põe princípio intrínseco a modo de gênero


(lembre-se de que toda definição científica, toda definição tem um gênero e uma
diferença específica, se não, não é definição em termos propriamente ditos).
Então, por que o Padre Calderón põe a modo de gênero princípio intrínseco?
Por três razões, diz-nos ele: em primeiro lugar porque distinguimos os elementos
da mudança buscando, procurando o que se entende por natureza que é certo
princípio intrínseco de movimento, de modo que, assim, dizemos que a matéria
prima [sem hífen] ou primeira pertence à ordem dos princípios naturais – isso é
a primeira razão dada pelo Padre Calderón para pôr princípio intrínseco ao modo
de gênero na definição de matéria prima sem hífen; a segunda razão é que ele
o faz para assinalar que não se trata de uma coisa com entidade completa. Trata-
se de algo que é parte do ente natural a modo de princípio – atenção, mantenha-
se isso claro: é parte do ente natural a modo de princípio; e a terceira e última
razão de por que põe princípio intrínseco a modo de gênero na definição de
matéria prima é que o faz para distinguir a matéria [prima, naturalmente, ou
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primeira] de outros princípios extrínsecos, em especial os princípios ativos que


também poderiam compreender-se, entender-se como princípios ex quo, a partir
do qual, mas que nem sequer são necessariamente naturais.

Pois bem, se dizemos “princípio” já não nos é preciso esclarecer que se


trata de sujeito primeiro, porque se trata de sujeito primeiro, porque só deve
considerar-se verdadeiramente princípio [verdadeiramente princípio] aquele que
não tem outro princípio anterior da mesma ordem, como acontece com o sujeito
da mudança acidental que é um substrato com substrato, é um substrato com
substrato. Quem o explica bem é João de Santo Tomás em sua Filosofia da
natureza, Livro I, questão III, artigo 1.

Pois bem, mas, ao chamá-lo também princípio intrínseco também podemos


utilizar essa mesma definição para as matérias de mudanças acidentais,
esclarecendo que são princípios secundum quid, só por certo aspecto. Princípio
simpliciter é aquele princípio que não tem atrás de si outro princípio.

A segunda partícula da definição é do qual [do qual princípio intrínseco]


algo se faz.

Com esta segunda partícula distingue-se a matéria da forma que, como


veremos mais adiante, também é princípio natural intrínseco, mas não é ex quo,
a partir do qual, ex quo, a partir do nada, assim como ex nihil (do nada), ex quo,
a partir de.

Do qual algo se faz se dizem duas coisas. A primeira: a primeira é que,


embora a matéria seja princípio intrínseco que constitui o ente já feito, já
produzido, ela tem, no entanto, que ver necessariamente com a mudança. Por
quê? Por mais que o ente material tenha chegado à existência por criação ex
nihil – do nada, ou seja, por criação de Deus – a presença intrínseca da matéria
implica que pode mudar. Por quê? Porque a matéria prima, como já dito, está
sempre aberta à privação da forma, ou seja, pode substituir-se uma forma por
outra nas mudanças substanciais.

A segunda coisa que se diz é que o princípio permanente da mudança é


esta mesma matéria prima, que a matéria prima é o princípio permanente da
mudança, e isso é assim porque ela constitui o ente no termo ad quem da
mudança, mas já existia no termo a quo ou ex quo [pode dizer-se a quo ou ex
quo]. Esta, então, é a segunda partícula.

A terceira partícula é nossa já conhecida per se que [transcritores, por


favor, deve pôr-se sempre em itálico]. Pois bem, quando se diz que, da matéria
prima ou primeira, algo se faz, per se e não secundum accidens, per se et non
secundum accidens distingue-se o princípio material de quê? Da privação que
também é princípio ex quo ou a quo e, de certo modo, princípio intrínseco, mas
acidental.
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É princípio ex quo porque, se não se desse a privação no termo ex quo,


mal a forma poderia ser novidade no termo do movimento.

Pois bem, mas se é princípio per se no fazer-se, não é princípio per se no


fato de ser. Por quê? Porque o ente material poderia ter sido feito por criação de
nada, a partir do nada e não ter-se dado nunca nem a mudança, nem a privação.
Mas também podemos considerá-lo princípio intrínseco. Por quê? Porque a
matéria está sempre aberta a uma forma ou outra como já vimos, razão por que
está sempre em privação de alguma forma, está com alguma forma e privada de
alguma forma.

Voltemos, no entanto, a dizer que esta privação pertence à matéria prima


[sem hífen] per accidens, ou seja, enquanto se considera o ente material em
ordem a alguma outra mudança.

Pois bem, a última partícula é como sujeito.

Relembre-se toda a definição para que não nos percamos. A definição de


matéria prima dada pelo Padre Calderón é: princípio intrínseco – já vimos esta
partícula – do qual algo se faz – é a segunda partícula já a vimos também – per
se – também já a vimos –, resta-nos a última partícula, ou seja, como sujeito.

É esta partícula que se pode considerar propriamente como diferença


específica, porque toca o que a matéria tem de próprio em sentido mais estrito,
e isso é assim porque nenhum outro princípio o é – é princípio – à modo, ao
modo de sujeito. Então o Padre Calderón prefere dizer a modo de sujeito e não
diretamente sujeito como o fazia Aristóteles, porque a matéria prima,
diferentemente da matéria da mudança acidental ou segunda, a matéria da
mudança acidental – quer artificial ou natural – é matéria segunda. Então,
diferentemente da matéria da mudança acidental ou matéria segunda, a matéria
prima não tem essência nem quididade determinada e não lhe cabe, por isso, de
maneira estrita, chamá-la sujeito que é termo próprio da substância. Já vimos
que a substância é sujeito exatamente de acidentes e de mudanças acidentais,
quer naturais, quer artificiais.

Se esta definição que ele dá, que o Padre Calderón dá da matéria prima ou
primeira se aplicasse secundum quid à matéria segunda, este termo lhe
pertenceria com maior propriedade.

Pois bem, vejamos as propriedades, as propriedades.

Deixe-me ver o tempo que estamos. Eu acho que hoje não será possível
começar a dar as propriedades cada uma explicadamente. Então eu prefiro falar
das propriedades da matéria em geral para deixar o estudo das propriedades da
matéria, cada uma das propriedades da matéria em particular para a próxima
aula quando espero estarei um pouco melhor de saúde.
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Pois bem, justamente porque a matéria prima é uma realidade, como


vimos, ínfima, ínfima, que quase não é, que quase não tem ser, quase não existe
– vejam a palavra que eu uso: quase não é, quase não existe. Se queremos,
portanto, conhecer melhor e defender que, conquanto quase não seja, ainda
assim tem entidade, porque o que não tem entidade não é (não é que quase não
seja, simplesmente não é, não existe), então o caminho mais adequado para
isso é considerá-la (a matéria prima ou primeira) por aqueles aspectos, naqueles
aspectos que parece devem dar-se em todo o real, em toda a realidade por
pouco real que seja.

Vejam a capacidade que nos exige a matéria prima de abstração.

Que aspectos são esses? São aspectos que são dados, que estão dados
pelas noções transcendentais que já vimos como ponto da lógica, noções
transcendentais que são, como visto então, análogos supremos, mas que, em si
mesmos, só se estudam perfeitamente na Metafísica, razão pela qual tudo o que
eu disser a respeito disto aqui fica aberto a um maior aprofundamento que,
repita-se, só se pode fazer no âmbito da Metafísica.

Então relembremos um pouco: além da noção universalíssima de ente,


distinguimos, ao estudar os transcendentais, outras cinco noções
transcendentais: coisa, uno, algo, verdadeiro e bom. Eu acrescento o belo não
como uma certeza, como eu já disse ao estudar da arte do belo mais atrás, mas
como uma probabilidade. Mas não importa isso aqui nesta altura de nossa escola
quando estamos na Física Geral.

Pois bem, vamos considerar então a matéria a partir do ângulo destas seis
perspectivas fundamentais para poder medir, calcular, mensurar seu
pertencimento à ordem real, à ordem do real, da realidade que, com a noção de
matéria prima, se vê comprometida. Acabamos de ver: a matéria prima quase
não é, mas não pode não ser porque o que não é simplesmente não existe.

Pois bem, então trata-se de vê-la pelo ângulo da entidade do ente, da coisa,
do uno, do algo, do verdadeiro e do bom.

Então, quanto à entidade, quanto à sua entidade, como verão, devemos


dizer que a matéria prima ou primeira é ente em pura potência.

Quanto ao transcendental coisa, com modo determinado de ser, é preciso


dizer que é ingerável e incorruptível. Quanto à unidade, ao uno, deve dizer-se
que é una a matéria prima, a matéria prima ou primeira é una por si mesma, mas
se multiplica pela quantidade quando, todavia, a si uma matéria, uma matéria é
algo diverso das outras matérias, é preciso dizer que o é, que é diversa das
outras matérias, mas não por si e sim pela forma.
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Quanto a se a matéria prima ou primeira tem verdade, deve dizer-se que é


em si mesma incognoscível e que só se conhece pela forma a qual se ordena, a
que se ordena.

E, finalmente, quanto ao bom, ou seja, quanto à sua bondade, quanto à


bondade da matéria prima ou primeira, deve dizer-se que esta – a matéria prima
ou primeira – é boa em razão do apetite que ela – matéria prima ou primeira –
tem pela forma.

Eu vou repetir, eu vou repetir isto que é um resumo antecipado do que


estudaremos na próxima aula, do que estudaremos na próxima aula ou a partir
da próxima aula.

Quanto ao ente, quanto a ser ente, quanto a sua entidade deve dizer-se
que a matéria prima é ente em pura potência, ela é pura potência.

Quanto ao transcendental coisa, com modo determinado de ser, deve dizer-


se que a matéria prima ou primeira é ingerável e incorruptível. Atenção, como
veremos, é claro que é Deus quem a cria, mas de nada. Estamos falando que
ela é ingerável no âmbito da natureza e incorruptível totalmente. Então, vejam
que interessante, vou aprofundar isso adiante.

O que é absolutamente ingerável e incorruptível? Deus. E agora eu digo


que o ínfimo da realidade, que é a matéria prima, também é ingerável e
incorruptível. Por isso é que surgiu a heresia medieval de que Deus era a
matéria, ou seja, que a matéria é Deus, porque ela é tão ingerável e incorruptível
como Deus, mas de modo – e é isso que a heresia medieval não entendia, esta
heresia medieval tem raízes no panteísmo, incluído o panteísmo estoico como
veremos na História da Filosofia – o que ela não vê é que são modos
absolutamente opostos, são modos antípodas de ser ingerável e incorruptível.

Pois bem, quanto ao uno, quanto à unidade devemos dizer que a matéria
prima ou primeira é una, una, é una por si mesma, mas se multiplica pela
quantidade. É importantíssimo isto.

Quanto a se uma matéria prima é algo – estamos no algo – diverso das


outras matérias primas, diremos que não é por si. Por si não é algo diverso das
outras matérias primas, mas sim que o é em razão pela forma.

Quanto a se a matéria prima tem verdade, contém verdade, deve dizer-se


que a matéria prima ou primeira é, em si mesma, incognoscível e que só se
conhece, só se pode conhecer pela forma a que, à qual se ordena.

E finalmente quanto à bondade, quanto ao bom deve dizer-se que a


bondade da matéria prima ou primeira lhe advém pelo seu apetite pela forma.
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Peço-lhes perdão se não foi uma aula muito corrida pelos acidentes gripais,
mas eu creio que fui claro o suficiente. Então muito obrigado pela atenção e até
nossa próxima aula.

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