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Escola Tomista – Apenas para uso dos alunos Página | 1

Escola Tomista
Professor Carlos Nougué
Aula 37
Bem vindos à 37ª aula da Escola Tomista, ou seja, aquela em que vamos
tratar, continuar a tratar o Tratado dos Predicamentos ou Categorias IV. Muito
bem.

Ao menos aqui nas categorias a cada – ou predicamentos – a cada aula eu


farei uma recapitulação da anterior para que a matéria fique bem fixada. Pois
bem, recapitulemos aqui o que se falou de substância na aula passada.

Pois bem, vimos que substância pode dizer-se de quatro maneiras, quatro.
Relembre-se. A primeira maneira é quando chamamos substância a esta coisa
concreta, este algo, hoc aliquid ou tóde tí em grego. Este cão, esta pedra, este
tomate, esta minhoca, etc. e tal, e isto, esta é a primeira maneira como dizemos
substância, ou seja, chamamos substância às coisas concretas, a este algo, este
algo concreto. E estas coisas que são algo concreto, que são este algo, não
estão em sujeito algum, nem se dizem de sujeito algum. Ao contrário, como
veremos, elas mesmas é que são sujeitos.

Pois bem, um segundo modo ou maneira de dizer substância é quando


chamamos substância àquilo de que algo é feito. Assim dizemos que a
substância do pão é o trigo e que a substância da Pietà de Michelangelo é o
mármore. Neste sentido substância é sinônimo de matéria. Matéria estudá-la-
emos num primeiro momento quando tratarmos a Poética e depois o
aprofundaremos grandemente ao tratar no capítulo, nosso capítulo da Física
Geral. Esta segunda maneira sempre se predica denominativamente, ou seja,
de bronze, de mármore, de trigo, etc. e tal.

A terceira maneira é quando chamamos a substância, chamamos


substância àquilo que faz que algo seja o que é. O que é que faz que o homem
seja homem? É a alma humana. O que é que faz que o gato seja gato? É a alma
gatuna. O que é que faz que a pedra seja pedra? É a forma petrina, de pedra.
Ou seja, alma é a forma nos viventes – gato, minhoca, homem, laranjeira, etc.
Então esta é a terceira maneira com que usamos substância, ou seja, para
chamar aquilo que é o princípio que faz que algo seja aquilo que ele é
essencialmente. O que faz que o homem seja aquilo que ele é? A alma. O que
faz..., ou seja, a forma humana. O que faz que a pedra seja aquilo que ela é? A
forma de pedra. E a isso também chamamos substância.
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E, finalmente, a quarta maneira chamamos substância àquilo que a coisa


é, ou seja, ao que responde à pergunta quid est, ou seja, a quididade, a definição
da coisa. Então chamamos substância à quididade ou essência da coisa. Assim,
dizemos que animal racional, ou seja, a definição de homem, a definição de sua
essência é a substância do homem e que o mármore figurado na Pietà de
Michelangelo é a substância da estátua – forma que Michelangelo deu ao
mármore para fazer sua Pietà, a que está no Vaticano. Se se trata desta quarta
maneira, a substância, obviamente, não está em nenhum sujeito, mas pode
dizer-se de um sujeito.

Pois bem, como vimos na aula passada, essas quatro maneiras se


reduzem a duas: a segunda, ou seja, sinônimo de matéria, reduz-se à primeira,
ou seja, o sentido substância tomada como este algo, como esta coisa concreta,
enquanto a terceira maneira, ou seja, substância como sinônimo de forma, pode
reduzir-se à quarta maneira, ou seja, substância como essência, definição,
quididade.

Muito bem, se só temos essas duas maneiras então temos que a primeira
maneira é o que se chama substância primeira. É ela que subsiste por si e é
suporte de acidentes: este algo. E, depois, temos o que se chama substância
segunda.

Como vimos na aula passada, em grego a palavra era ousía, ousía – OUZIA
com acento agudo, S – ousía. Não há o som de Z aqui em grego. Ousía vem de
toon, ou seja, de ente em grego. Então por isso é que literalmente ousía quer
dizer essência. Mas substância acaba por traduzir, pelas razões aduzidas na
aula passada, ainda expressa ainda melhor a ideia que a mesma ousía
aristotélica, que a mesma ousía aristotélica.

Pois bem, repita-se: o conceito de substância primeira, se predica de Pedro


ou de Maria sob certa confusão, ou seja, não univocamente, mas analogamente.
Somente a substância segunda é que é conceito unívoco. É um universal! Ao
passo que os acidentes concretos se predicam denominativamente.

Pois bem, o que é próprio do primeiro predicamento, ou seja, substância


sem distinguirmos aqui substância primeira de substância segunda, é que
subsiste – sub stat. A substância primeira subsiste por si e sub stat aos acidentes
concretos, enquanto a substância segunda subsiste sub stat a acidentes em
abstrato, não em concreto, não em concreto.

Muito bem, o que mais importa nesta recapitulação é firmar as propriedades


da substância. Creio que não fui muito profundo, fui algo superficial na aula
passada. Portanto é muito importante que voltemos, nos atenhamos novamente
às propriedades da substância.
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Quantas são as propriedades da substância? São seis propriedades. A


primeira é que não está em um sujeito, não é em um sujeito, não se dá em um
sujeito. E esta propriedade, como já dito, como antecipado, é comum a ambas
as substâncias, a primeira e a segunda.

A segunda propriedade é que se predica a substância univocamente. Mas


é preciso entender, esta é a parte mais difícil. Antes de tudo, somente o sujeito,
ou seja, somente o indivíduo, melhor dizendo, ou seja, a substância primeira,
este algo concreto, e a espécie podem ser sujeitos de predicação substancial. O
gênero pode ser sujeito não enquanto gênero, mas enquanto espécie com
respeito a um gênero superior e o gênero já não pode – o gênero superior – já
não pode receber predicação substancial. Quer dizer, univocamente, conquanto
sempre o possa fazer analogamente. Além disso, somente, tão somente as
substâncias segundas e as diferenças é que podem ser predicadas e não as
primeiras, as substâncias primeiras. Eu posso predicar a substância segunda
“animal racional”, “homem”, “humanidade”, mas não posso predicar “eu” a nada,
a nenhum sujeito, nem, a não ser que se predique a mim mesmo, ou seja, eu
sou eu, mas já vimos a debilidade disto. “Eu sou eu” é uma forma algébrica: a=a;
b=b. É uma maneira portentosa de não dizer nada. Tá certo? É uma predicação
sem muito sentido na ciência.

Pois bem, mas a predicação unívoca pode entender-se de tripla maneira,


de triplo modo, de três modos. O primeiro modo é materialmente. Se se atenta
tão somente ao que o nome significa e não para o modo de atribuí-lo, ou seja,
se se atribui ou predica essencial ou denominativamente, predicação unívoca
equivale pura e simplesmente a universal e todos os predicáveis se predicam
univocamente. Mas pode entender-se predicação unívoca formalmente e esta
maneira de entender a predicação unívoca, por sua vez, se divide em duas:
quando a noção atribuída ou conceito atribuído se predica essencialmente, o que
pode ocorrer pura e simplesmente quando se trata de substância e secundum
quid, segundo algo, segundo certo aspecto quando se predica aquilo que é o
acidente. Assim, por exemplo, pra que se entenda esta parte um pouco mais
complicada, cor se predica – cor, cor, cor – se predica univocamente de azul e
amarelo, ou seja, tanto azul como amarelo são cores, mas não simpliciter, não
pura e simplesmente, tão só secundum quid, segundo algo, exatamente porque
cor é um acidente.

Muito bem, a próxima propriedade da substância é significar este algo. Já


o vimos, né? As substâncias primeiras são inquestionavelmente,
verdadeiramente, indubitavelmente este algo, porque, como dito, significam algo
individual e numericamente um, uno, uno. Não assim as substâncias segundas.
Significam, diz-se em latim, quale (q-u-a-l-e) aliquid, quale aliquid porque
qualificam as substâncias primeiras em tal ou tal gênero ou em tal ou tal espécie.
Repita-se: as substâncias segundas significam quale aliquid porque qualificam
as substâncias primeiras em tal ou qual gênero ou em tal ou qual espécie.
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A próxima propriedade importantíssima é não ter contrário. Esta é de fato


uma importante propriedade ou próprio da substância. Os contrários são
espécies do gênero dos opostos. Junto com quê? O contrário no gênero dos
opostos se dá junto com a negação e com a privação. Oposto é aquilo que se
contrapõe a outro de tal maneira que, posto um, elimina-se o outro. Oposto é
aquilo que se contrapõe de tal modo a outro que, dado um, posto um, se elimina
necessariamente o outro. Esta propriedade, porém, não é exclusiva da
substância. Por que o digo? Porque, por exemplo, tampouco a quantidade tem
contrário. Nada se opõe a dois metros de altura ou a três metros de largura. Qual
é o oposto de três metros de largura? Não há. Qual é o contrário, melhor dizendo,
perdão, qual é o contrário de três metros de largura? Não há. Qual é o contrário
de cem quilos? Não há. Então não é uma propriedade exclusiva da substância.
A compartilha, compartilha-a, por exemplo, a quantidade. Há outra propriedade
não ser susceptível, susceptível de mais e de menos. Esta propriedade que,
aliás, tampouco é exclusiva das substâncias, não significa que a substância não
se diga com mais ou menos de um e de outro. Dizê-lo seria falso. As substâncias
primeiras são mais substâncias que as segundas. Isso é muito importante! As
substâncias primeiras são mais substâncias que as segundas. E as espécies são
mais que o gênero. A espécie, quanto mais concreto, mais realidade se tem. O
que é mais real, o que tem mais realidade, o que mais tem realidade ontológica
é a substância primeira, este algo concreto. Depois vem a espécie, depois o
gênero. Tá certo?

Bom, o que quer dizer, então, esta propriedade? Ela significa que esta ou
aquela substância como homem, leão, laranjeira não se diz mais ou menos
aquilo que ela mesma é. Não é mais ou menos nenhuma delas em tempo
diferente nem com respeito a outro no mesmo tempo. Então o homem, o leão, a
laranjeira não são mais ou menos em diferente tempo nem com respeito a outro
ao mesmo tempo. Maria, José não era menos homem antes que agora o é, ainda
que fosse menos sábio. Veja, ele era menos sábio, agora é mais sábio, mas
continua a ser o mesmo homem que era. Pedro não é menos homem que João
ao mesmo tempo, conquanto mais, seja mais sábio, mais, mais ativo, mais
responsável que ele. Então repita-se isso: a substância não é mais ou menos ela
mesma em diferente tempo nem mais ou menos com respeito a outro ao mesmo
tempo. Joaquim não era menos homem do que é agora, ainda que pudesse ser
menos prudente. Pedro não é menos homem que Maria, conquanto seja mais
trabalhador que ela, ou se entregue mais à oração que ela.

Pois bem, podemos passar para a outra propriedade da substância: ser


susceptível, veja, eu já disse que a substância não tem contrário. Essa é uma
das propriedades. Agora é a última das propriedades. Foi sobre essa que eu,
creio, falei pouco na outra aula. Ser susceptível, susceptível de contrários. Pois
bem, o que é maximamente próprio da substância, ou seja, o que lhe convém a
todas, somente a ela e sempre é que, embora seja uma e mesma
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numericamente, uma e mesma, e a mesma numericamente, pode receber os


contrários, conquanto ela não tenha ela mesma contrários. Isso pode ver-se por
indução. Já disse, creio, que a indução estudá-la-emos ao estudar os Analíticos
Posteriores, ou seja, no Tratado da Demonstração: o ápice da Lógica.

Pois bem, vê-se por indução que esta propriedade é de todas as


substâncias e sempre. Com efeito, deste homem (substância primeira, este
homem, este homem concreto) dizemos que agora está sentado e depois está
em pé; agora está deitado, agora, depois está levantado; uma hora está
pensativo, outra hora está extrovertido; uma hora está triste, outra hora está
alegre, sem deixar nunca de ser uno, numericamente uno e o mesmo
numericamente. Ademais, do homem como espécie – agora substância segunda
– dizemos que é negro ou branco, ou seja, a espécie humana, a espécie homem
pode ser negra, branca, amarela, vermelha, grande ou pequena, o gigante
nórdico ou um pigmeu africano, má ou boa, bom ou mal, sem que o homem deixe
de ser identicamente o mesmo.

Do gênero animal – que também é uma substância segunda, do gênero


ponha-se animal, que é uma substância segunda –, dizemos que é racional ou
bruto – não assim que se divide o gênero animal? Em racional ou bruto – sem
que o animal deixe de ser ele mesmo identicamente o mesmo, uno e o mesmo.
E, com efeito, não há substância, seja primeira, seja segunda, da qual não se
possa, possam dizer alguns contrários como estar aqui, ali, ou ser antes e ser
depois. Mas esta propriedade, esta sesta propriedade, a capacidade
susceptibilidade de receber contrários é própria, é só da substância. Com efeito,
um dos demais predicamentos ou categorias não se dá esta propriedade. A
quantidade, como veremos ainda hoje, pode ser contínua ou discreta, de dois ou
de três, mas não podemos dizer que o ser da quantidade continue a ser
identicamente o mesmo em cada caso. Dois não são três, três não são quatro,
discreto não é contínuo como verão, contínuo não é discreto.

Pois bem, a cor pode ser branca ou amarela, mas deixa de ser ela mesma,
deixa de ser a mesma. Uma coisa é a cor branca, outra coisa é a cor amarela.

A ação, por seu lado, que é uma das categorias, pode ser má ou boa, mas
não deixa de ser ela mesma ação e assim com todas as demais categorias.

Pois bem, esta propriedade é o maximamente próprio da substância.

Pois bem, creio que já podemos começar a tratar o segundo predicamento:


a quantidade. Lembremos algumas coisas prévias para que nos sirvam de baliza
em cada trecho de nosso caminho no Tratado das Categorias.

Pois bem, as dez categorias do ente ou do ser, como preferirem, não são
uma invenção de Aristóteles, foram descobertas por Aristóteles e estas dez
categorias, as quais não se pode acrescentar nenhuma outra e das quais não se
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pode tirar nenhuma, como visto se dividem em dois blocos: o primeiro bloco é de
uma só categoria que é a principal, é a categoria da substância – já vimos dividir-
se em primeira e em segunda, em este algo e em essência (quididade). Todos
os demais predicamentos ou categorias são gêneros de acidentes. Cada um
desses gêneros, como se verá, terão suas espécies, subgêneros, subespécies
alguns, outros não. Aristóteles não os tratou por igual. Alguns deixou-os só
referidos e alguns só os tratou inicialmente, deixando de tratá-los finalmente. A
razão de o ter feito no seu opúsculo magnífico As Categorias não se sabe ao
certo. O que importa é que para alguns, os mais importantes – digamos assim –
ele deu especial atenção. Como quer que seja, procurarei sanar algumas
lacunas, não todas. Se o fosse fazer, repito, não terminaríamos a Escola
Tomista. Aliás, podem ter certeza que estou com controle – absoluto não existe
– mas grandíssimo do tempo de nossa escola. A insistência na Lógica se deve
a que nós, nós todos, vocês assim como eu não tivemos o devido preparo lógico
para adentrar a ciência. Já vimos que a Lógica é a arte que permite alcançar a
ciência com facilidade, com ordem e sem erro. Portanto, se não a temos muito
entranhada no intelecto, dificilmente penetraremos a ciência de maneira mais
perfeita e, acabada a Lógica, incluindo suas partes potenciais – dialética, retórica
e poética – já entraremos na ciência, mergulharemos de chofre na física geral
que – é bom dar novamente esse quadro – terá grande importância em nosso
curso, tem grande importância. Obviamente eu também ministrarei as partes
subjetivas da Física Geral, a saber, a Cosmologia, Química, Biologia e
Psicologia, mas me deterei mais na Psicologia, depois na Biologia e depois na
Cosmologia. Na Cosmologia arrostarei de maneira não muito extensa, mas
arrostarei, por exemplo, a Teoria da Relatividade. Na Biologia necessariamente
arrostarei o Darwinismo ou Evolucionismo, enquanto na Psicologia arrostarei
necessariamente o Freudismo e todas as suas ramificações, fundado, porém,
sempre em Aristóteles e Santo Tomás. Depois, conhecida a alma humana – a
Psicologia também se pode chamar Antropologia – conhecido o homem,
conhecida a alma humana, teremos, então, as importantes Ética econômica e
política. O peso aí recairá na Ética e na Política, conquanto também não deixarei
de aprofundar a econômica. Depois, então, teremos a Metafísica antes de ter a
História da Filosofia e depois a Teologia Sagrada.

Vejam que a Escola Tomista visa a dar-lhes a vocês uma autonomia tal
que, terminada a escola, vocês possam ler toda e qualquer Tratado de
Aristóteles, de Platão, de Santo Tomás, dos grandes. Mesmo os modernos e
terríveis como Kant, Hegel, etc., graças à nossa História da Filosofia que, claro,
será algo veloz, não pode ser de outra maneira, vocês já terão condições de lê-
la. Darei com relação a cada filósofo uma espécie de sinopse de sua doutrina o
que lhes permitirá lê-los a eles mesmos, conquanto seja de bom senso que antes
devemos ler os principais (Platão, Aristóteles, sobretudo Aristóteles e Santo
Tomás de Aquino, mas também depois Platão, Santo Agostinho) antes de querer
abarcar os menores. Nossa vida é curta, nossa vida é curta. Pois bem, então,
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quando terminarem a Escola Tomista vocês serão senhores de uma capacidade


muito precisa, muito eficaz de ler e compreender tudo, tudo: a Suma Contra os
Gentios, a Metafísica de Aristóteles, ou antes o Comentário à Metafísica por
Santo Tomás de Aquino, Platão, tudo. Vocês terão condições de ler tudo, mas,
para isso – aliás, terão condições não só de ler tudo senão que minha esperança
é que muitos de vocês sejam vocês mesmos filósofos ou cientistas no futuro,
que propaguem exatamente o tomismo em todas as áreas do saber. Mas, para
isso, repita-se, é preciso que nos demos a pachorra de Aristóteles com respeito
à Lógica. A Lógica de Aristóteles é tão grande justamente porque ele teve a
pachorra, a paciência de se debruçar sobre ela e não se afastar dela enquanto
não tivesse domínio, enquanto não fosse senhor dos instrumentos que a Lógica
nos propicia para que possamos não só entender, mas alcançar a ciência, ou
seja, ser cientistas, sermos cientistas nós mesmos.

Pois bem, tratemos agora o predicamento quantidade, dando primeiro a


definição e a divisão da quantidade.

Peço-lhes atenção. Qualquer dúvida, insisto, voltem a escrever-me. Não


deixem de escrever-me.

Antes de tudo, por que vem a quantidade logo depois da substância?


Lembro-me que, quando comecei a estudar isso, perguntava-me: mas não
parece conveniente que, antes da quantidade, venha a qualidade? Substância,
qualidade e quantidade. Mas não. A ordem que lhe dá Aristóteles, que lhes dá
Aristóteles é: substância, quantidade e depois qualidade. Qualidade, aliás, é o
predicamento mais árduo a meu ver. Pode ser que algum de vocês não o
considere assim. Mas ele põe, então, a quantidade imediatamente após a
substância. Fê-lo aleatoriamente? Gratuitamente? Não, de modo algum. Ele o
fez conscientemente e com toda a razão. Por quê? Porque de fato a quantidade
é algo intermediário entre a substância e os demais acidentes. É como um elo,
é como uma ligação, é como uma ponte, digamos assim, entre a substância e
os demais acidentes, os demais predicamentos. Isso é assim porque, com
respeito à própria substância, a quantidade é o único acidente que se assemelha
a ele segundo o modo. Por quê? Porque, também como a substância, a
quantidade subjaz e porque, tal como a substância, ela tem paixões. Isto com
respeito à substância. Com respeito às demais, às demais acidentes veremos
que tudo supõe a quantidade e que, por seu lado, a quantidade não supõe
nenhum dos outros acidentes. Isso nós o veremos à medida que avançarmos
nos demais acidentes. Então repita-se que a quantidade é algo intermediário
entre a substância e os demais acidentes. Se se trata com respeito à substância,
a quantidade é o único acidente que se assemelha a ele segundo o modo, ou
seja, porque também ela – a quantidade – subjaz e porque também ela tem
paixões. Pois bem, com respeito aos demais acidentes, como veremos, todos
supõem a quantidade enquanto, obviamente, a mesma quantidade não supõe
nenhum. Daí a ordem, então, posta por Aristóteles nas suas Categorias: primeiro
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a substância, depois, como algo intermediário, como um elo, como uma ligação
a quantidade e, em seguida, os demais acidentes a começar pela qualidade.

Pois bem, a quantidade, se considerada em abstrato, é o acidente que


proporciona a ciência do matemático, as matemáticas, seu sujeito próprio – já
vimos o que é sujeito – enquanto a quantidade em concreto, antes dita quantum
em latim, né? (q-u-a-n-t-u-m, q-u-a-n-t-u-m), ou seja, a quantidade em concreto
compete antes ao filósofo considerá-lo, ao físico e ao metafísico. Não que o
matemático também não seja filósofo. Entenda-se aqui filósofo como o físico e o
metafísico. E o que compete ao Lógico? Ambas as coisas: tanto a quantidade
em abstrato quanto quantum em concreto, mas compete ao lógico só enquanto
a quantidade, ou seja, a quantidade em abstrato e a quantidade em concreto ou
quanto só compete ao lógico – as duas competem ao lógico, mas só o
competem, só lhe competem enquanto inteligidas. Esta é a função mesma do
lógico: estudar essas coisas enquanto inteligidas, enquanto entendidas,
enquanto se dão em nossa mente ou intelecto. Então repita-se que a quantidade
em abstrato é a que proporciona às matemáticas, à ciência do matemático seu
sujeito. Assim como o sujeito da Metafísica é o ente enquanto ente, o da Física
é o ente móvel, o da matemática é o ens (e-n-s) quantum, ens quantum. Pois
bem, a quantidade em abstrato é a que proporciona o sujeito, o ens quantum, à
Matemática, às matemáticas, enquanto a quantidade ou quantum em concreto
compete, é da alçada do filósofo, entendido aqui filósofo como físico e,
particularmente, como metafísico. Ao lógico compete ambas as coisas, ou seja,
a quantidade em abstrato ou a quantidade em concreto, mas sempre enquanto
inteligidas, sempre como inteligidas como é próprio da Lógica.

Pois bem, passemos ao próximo ponto e diga-se que a quantidade tem dois
modos fundamentais, dois modos fundamentais. O primeiro desses modos é a
multidão. Multidão vem de muito, muitos, e significa pluralidade de unidades. O
que é uma multidão? É uma unidade, mais uma unidade, mais uma unidade,
mais uma unidade. Então, multidão é... significa pluralidade, multiplicidade de
unidades. E contra o que é o nosso uso mais comum no português do Brasil, ao
menos, diz-se multidão se se trata de três homens. Dois homens já não, mas
três, quatro homens já são multidão. Por quê? Três, quatro já são multiplicidades
de unidades. Se se fala de oito palavras também é multidão. De três livros é
multidão também. De quinze carros: multidão. Mas, curiosamente, também se
chama multidão, se diz multidão coisas que certamente, indubitavelmente não
têm quantidade, como se fala da multidão de anjos diante do trono de Deus ou
da multidão que são as três pessoas da Santíssima Trindade. Vejam que
também se falam de multidão quando se trata de coisas que não têm quantidade,
porque coisas espirituais não têm quantidade. As três pessoas da Santíssima
Trindade são multidão, mas não têm quantidade, não implicam quantidade,
assim como os anjos tampouco implicam quantidade ou como os demônios
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também não implicam quantidade, porque tudo isso, como diria Platão, é
metassensível, está para além do físico, é metafísico, é espiritual.

Muito bem, esse é o primeiro modo fundamental da quantidade: multidão.


O segundo é algo um pouquinho mais complexo, mas não tanto, é a magnitude.
Tudo isso, aliás, esses modos terão importância imensa na Cosmologia, por
exemplo. Magnitude vem de Magnum, ou seja, grande. Magnitude supõe certa
comparação pela qual algo possa dizer-se grande ou pequeno. Claro, porque,
se é grande ou pequeno, em comparação com outra coisa. Eu sou grande com
relação a meu filho, mas sou pequeno com relação a um jogador de basquete.
E disse magnitude do comprimento de uma estrada, da extensão de uma
estrada, magnitude disse também da superfície de um campo, de um terreno, a
extensão de uma estrada, de um campo, da superfície, da linha, do retângulo,
do cubo, mas também, às vezes, de coisas que não são quantidade. Por
exemplo, coisas que são antes qualidade, como se diz a magnitude da fé de
alguém. Alguém tem fé maior que outro, mas a fé não implica quantidade, porque
a fé não é algo material e a quantidade só se diz de algo material, só diz respeito
a substâncias materiais.

Vejam, como requer a boa ordem da ciência, Aristóteles está nas


categorias no âmbito dos entes móveis, ou seja, os entes corpóreos, sensíveis.
Está aqui, está aqui, embora se façam digressões, se possam fazer digressões
como a que eu estou fazendo, ou seja, se diz magnitude, multidão de coisas que
não são quantidade, como os anjos, como a fé como a Santíssima Trindade, etc.
e tal.

Pois bem, esses dois modos, ou seja, a multidão e a magnitude têm uma
coisa em comum entre si: é a razão ou noção de medida. Exatamente esta
medida se dá pela comparação com certa, com determinada unidade. Por isso
é que a razão de medida convém primeiramente e essencialmente à unidade e
é, com efeito, da unidade que deriva a multidão enquanto numerada, ao passo
que da multidão deriva a magnitude. Por conseguinte, o que manifesta, o que
põe de manifesta quantidade enquanto tal é a razão de medida e o princípio pelo
qual se conhece de maneira certa, inequívoca a medida é a unidade. Não há
medida sem unidade.

Pois bem, se, porém, se considera a quantidade não em abstrato, mas


como acidente mesmo, mesmo da substância, ou seja, enquanto quantum –
quanto se diz mais da quantidade em concreto enquanto quantidade, se diz da
quantidade em abstrato. Repita-se: quantidade é a quantidade em abstrato;
quantum é a quantidade em concreto. Então repita-se que, considerada não em
abstrato, mas justamente como acidente da substância, ou seja, enquanto
quantum, a quantidade não é a medida, mas é o fundamento da relação de
medida. Isso se entenderá muito cabalmente quando estudarmos a Cosmologia,
por exemplo.
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Pois bem, a noção mais ampla e, exatamente por ser a mais ampla,
necessariamente análoga e não unívoca, que assinala de modo como que
genérico, determinável, o que a quantidade tem de mais próprio é a divisibilidade.
A quantidade é sempre divisível de algum modo. Esta noção de divisibilidade é
o que assinala de um modo como que genérico o que a quantidade tem de mais
próprio.

Pois bem, outra coisa que se há de dizer da quantidade é que as partes


próprias do quantum – já vimos que ele é divisível – se dão no todo. Claro, as
partes do quantum se dão onde poderiam dar as partes no todo, isto é, existem
atualmente enquanto tais.

E, por fim, o que é próprio e específico das partes quantitativas é que


podem, elas mesmas, dizer-se esta ou aquela parte.

Vejam agora porque a quantidade está entre a substância e os demais


acidentes. As partes da quantidade se dão como os acidentes na substância,
mas são este algo como são as próprias substâncias. Vejam porque é algo
intermediário, a quantidade é algo intermediária entre a substância e os demais
acidentes: porque, conquanto de fato as partes da quantidade se deem na
substância, como os demais acidentes, elas mesmas, contudo, no entanto, são
este algo – tóde tí – como o são as próprias substâncias.

Pois bem, pode agora dizer-se, classificar-se a quantidade. Agora vamos à


classificação da quantidade. Devemos dividi-la em: quantidade discreta, antes
de tudo, ou não contínua. Primeira, primeira parte da divisão: a quantidade se
divide, antes de tudo, em quantidade discreta ou não contínua. É o que
especifica a espécie multidão e o que é divisível em partes que não terminam
uma na outra. Imagine uma multidão de três homens. Nós somos independentes,
nós não temos termo comum. Só se eu fosse irmão siamês de alguém. Se eu
não sou irmão siamês de alguém, não tenho nenhum termo de contato com as
outras pessoas que fazem parte de uma multidão de cinco homens ou mulheres.
Então quantidade discreta ou não contínua é o que especifica a espécie multidão
e que é divisível em partes que não têm termo comum.

O caso, Aristóteles dá dois, duas coisas inclusas na quantidade discreta: o


número e a oração, a oração gramatical – é dividida em sílabas breves e longas.
Eu confesso-lhes que tenho grande dúvida quanto à oração. Esta é outra dúvida
em que ainda persiste, em que ainda obsta o término de meu Tratado dos
Universais. Creio, não estou certo, de que a oração deva incluir-se na quantidade
discreta ou não contínua. Mas o número – então deixo isso para depois, não vou
resolvê-lo agora, pelo menos nesta altura da Escola Tomista –, mas o número,
sem dúvida, é o que é, o que propriamente se chama quantidade discreta e não
contínua.
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Mas atenção: o número se subdivide por sua vez. Há o número numerado


e o número numerante. O número numerado é o número aplicado às coisas
numeradas, é algo real nas coisas, é algo real em mim, numa... em mim, em
Maria, em José... é algo real, é o número numerado, é aquilo que é, o número
que é numerado, é o número que se dá nas coisas numeradas, nas coisas
mesmas, é algo real efetivamente nas coisas, enquanto número numerante é o
número considerado de maneira absoluta – abstração feita da quididade da
unidade –, ou seja, é só um ente de razão, embora ente de razão aqui – nós o
veremos ao estudarmos as matemáticas brevemente, como dito desde o início,
não tenho condições de dar um curso de Matemática, não só por falta óbvia de
tempo, mas por falta de capacidade mesmo para tal, mas as noções gerais de
Matemática nós a daremos e veremos que os números numerantes [1,2,3,4 e
tal] são entes de razão, mas não no mesmo sentido dos entes de razão da
Lógica, ou seja, os entes de segunda intenção, não exatamente no mesmo
sentido, é um pouco diferente, como se verá.

Pois bem, falamos da quantidade discreta ou não contínua. Agora a


segunda: é a quantidade contínua. Se a quantidade discreta é o que especifica
a espécie de quantidade multidão, a quantidade contínua é o que especifica a
espécie de quantidade que é a magnitude, que é o divisível em partes cujo termo
se dá um no outro, ou seja, que estão em contato efetivo. A quantidade contínua,
então, inclui duas coisas, inclui três coisas, algumas coisas. Perdão, não são só
essas.

Vejamos as coisas que inclui a quantidade contínua. A linha, a linha.


Peguem uma linha que é divisível segundo uma dimensão. Que dimensão é
essa? O comprimento. Não é divisível segundo largura, já que a linha é
considerada sem largura nem profundidade. Então a linha é divisível, posso
dividir uma linha, segundo o comprimento, não segundo a largura nem a
profundidade.

Inclui ainda a superfície. Uma superfície de uma mesa, por exemplo. A


superfície se divide segundo duas dimensões. Enquanto a linha só com a
dimensão comprimento, a superfície se divide segundo duas dimensões: o
comprimento e a largura. Pensem numa superfície. Mas também a superfície se
considera sem profundidade.

E, finalmente, o corpo que este, o meu corpo, por exemplo, qualquer corpo
é divisível, incluindo o corpo da pedra, é divisível segundo as três dimensões:
comprimento, largura e profundidade. Então repita-se: por um bloco a
quantidade contínua inclui a linha que se divide segundo só o comprimento, mas
não segundo a largura e a profundidade; a superfície que se divide segundo
largura e comprimento, mas não segundo profundidade; e o corpo, qualquer
corpo que se divide segundo as três dimensões: comprimento, largura e
profundidade.
Escola Tomista – Apenas para uso dos alunos Página | 12

Mas, por outro lado, a quantidade contínua também inclui o lugar – que
estudaremos em seu devido momento e pelas razões que estudaremos então –
e o tempo. O tempo já se pode dar sua definição: o tempo, como diz Aristóteles
– tudo isso se aprofundará, é uma seta – o tempo é a medida do movimento
segundo um antes e um depois. Atenção: o tempo é o número do movimento
segundo um antes e um depois.

Mas agora vejamos como se divide a quantidade segundo a ordem das


partes. Já vimos que a quantidade tem partes. Pois bem, divide-se duplamente:
em quantidade com posição – com posição – e em quantidade sem posição. A
quantidade com posição compreende a linha a superfície, o corpo e o lugar. A
quantidade sem posição compreende o número e o tempo. Aristóteles dá
também a oração, mas vou pôr aqui que a quantidade sem posição compreende
o número e o tempo.

Outra consideração é que, por acidente, per accidens, per accidens, per
accidens, a quantidade se estende a certas coisas às quais ela não pertence
pelo que essas coisas são em si (per se), mas em razão de outra coisa em que
são ou com que se relacionam de alguma maneira, sempre per accidens.

Pois bem, algo pode dizer-se quantum per accidens de duas maneiras: em
razão – vejam, não per se, não essencialmente, mas per accidens,
acidentalmente – de duas maneiras algo pode dizer-se quantum, mas não per
se e sim per accidens: primeiro em razão do sujeito. Assim como a qualidade
pode ser quantidade per accidens – já o vimos: a fé, por exemplo – assim
também outras qualidades: por exemplo, o branco se diz extenso em razão da
superfície em que se dá, ou seja, o branco em si mesmo não é extenso, o branco
não tem extensão, o branco em si não tem quantidade, ele tem quantidade só
per accidens. Por quê? Graças ao sujeito em que se dá. Tecnicamente... em que
se dá. Não, deixa o tecnicamente de lado. Graças ao sujeito em que se dá. Que
sujeito é esse? A superfície branca. O branco por si mesmo, per se, não tem
extensão, mas é pelo sujeito em que se dá, ou seja, a superfície, ele tem, se diz
também extenso per accidens. Mas também se diz per accidens não em razão
do sujeito, mas enquanto alcança divisibilidade por relação com alguma
quantidade. Por isso, desse modo, diz-se quantidade per accidens o movimento,
o próprio movimento. É divisível, o movimento é divisível não per se, mas em
razão da magnitude na qual o móvel se move. Então, se eu me movo daqui pra
cá, o movimento, este movimento meu daqui pra cá... eu sou um móvel, móvel,
com “é”, móvel. Eu sou um móvel e me movimento daqui para cá. Muito bem,
diz-se que este movimento é uma quantidade porque ele se divide em razão da
magnitude a extensão no qual o móvel se move. Não pelo movimento em si, mas
pelo, digamos para simplificar, o espaço em que se move, a magnitude em que
se move.
Escola Tomista – Apenas para uso dos alunos Página | 13

Também se diz quantidade o tempo, mas é per accidens, que é divisível


em razão do movimento.

Diga-se como uma seta que, conquanto ele chegue a ter razão de medida
própria – nós contamos o tempo – é o lógico que o considera quantidade per se.
Quando chegarmos à Física veremos que a consideração é per accidens.

A ação é a paixão são divisíveis em razão da magnitude que ela afeta ou


do tempo que dura. A ação e a paixão é receber, queimar, ser queimado pelos
raios do sol, não, melhor, um exemplo: paixão é a paixão da madeira que é
serrada; o ato de serrar é uma ação. Pois bem, tanto essa paixão como essa
ação se consideram quantidades divisíveis per accidens em razão da magnitude
que afeta, a magnitude da madeira, esta sim tem magnitude, ou do tempo que
dura.

Pois bem, para terminar esta aula podemos, então, falar agora, por sua vez,
das propriedades da quantidade. Assim como vimos as propriedades da
substância, as propriedades da quantidade, mas creio que repetirei isto último
que disse que é um pouquinho mais complexo. Repita-se que algo pode dizer-
se quantum per accidens de dupla maneira, de dois modos: primeiro em razão
do sujeito. Assim a qualidade pode ser quantidade per accidens – já o vimos –
assim como o branco se diz extenso em razão não de si mesmo, não per se,
mas em razão da superfície em que se dá. O outro modo é não em razão do
sujeito, mas enquanto alcança divisibilidade, divisibilidade por relação com
alguma quantidade. Assim é quantidade per accidens o movimento que é
divisível em razão da magnitude na qual o móvel se move, o tempo que é
divisível em razão do movimento, embora o tempo chegue a ter razão de medida
própria, razão porque o lógico o considera quantidade per se e não per accidens.
O físico, o cosmólogo é que o considerará quantidade per accidens.

A ação e a paixão divisível em razão da magnitude que a ação afeta ou do


tempo, a magnitude que a ação afeta ou que é... da magnitude daquilo que é
afetado ou do tempo que dura: a ação e a paixão, que duram a ação e a paixão.

Pois bem, as propriedades da quantidade são as seguintes: não ter


contrário. Não tem contrário. Com efeito dois metros não tem contrário. Já vimos
que contrário é uma espécie, junto com a negação e a privação, do oposto, do
gênero oposto. Pois bem, não tem contrário.

Não é susceptível de mais e de menos. Uma mesma quantidade, uma


mesma quantidade não pode ser agora mais e depois menos. Se agora é uma
quantidade, depois é menos, é outra quantidade, não é a mesma quantidade.
Não é isso? Quatro pode tornar-se três, podem tornar-se três, mas três não é a
mesma quantidade que quatro. Então uma mesma quantidade não pode ser
agora mais e depois mesmo, menos, nem pode dizer-se mais ou menos
quantidade que outra da mesma espécie.
Escola Tomista – Apenas para uso dos alunos Página | 14

E a última e importante propriedade, a mais importante propriedade da


quantidade, porque é o maximamente próprio dela, é ser igual ou desigual. Igual,
ser igual, ou desigual: isso é que é o próprio da quantidade. Uma coisa pode ser
igual ou desigual, uma quantidade pode ser igual ou desigual de outra. Três é
desigual de quatro, três é igual a três e assim sucessivamente. Então a
quantidade, uma quantidade aqui de dez metros e ali outra quantidade de dez
metros são iguais, mas uma quantidade de dez metros aqui e uma quantidade
ali de sete metros são quantidades desiguais.

Pois bem, creio que posso terminar esta nossa aula anunciando-lhes que
a próxima, na próxima tratarei o mais, para mim, o mais difícil, não é o mais difícil,
mas o mais difícil de ensinar, pelo menos, dos acidentes que é o acidente
qualidade.

Muito obrigado uma vez mais pela atenção de vocês e até a nossa próxima
aula.

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