Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Escola Tomista
Professor Carlos Nougué
Aula 41
Bem-vindos à 41ª aula de nossa Escola Tomista. Estamos no Tratado das
Categorias ou predicamentos IX.
Pois bem, fiquei hoje de concluir o assunto relação – ad aliquid –, mas não
só o farei senão que já começarei a tratar outro dos predicamentos ou categorias,
ou seja, a ubiquação. Hoje, perdoem-me se não for uma aula muito vivaz, estou
muito cansado, com dor de cabeça, etc., mas tentarei uma boa aula assim
mesmo.
Pois bem, (...) que, entre os filósofos, sempre houve disputa quanto ao
relativo, quanto à relação, quanto ao ad aliquid e, com efeito, isto desde a época
de Sócrates. Sempre houve e continua a haver. E vemos ainda que não é fácil a
exegese, o entendimento, a inteligência do capítulo de Aristóteles sobre o ad
aliquid em seu livro As Categorias. Não é fácil, não é fácil. Uma parte é
relativamente fácil, mas ficam muitas perguntas no ar e ele termina esta mesma
parte de seu opúsculo não no âmbito exatamente da ciência, da certeza, do
apodíctico, senão que o faz no terreno do dialético, ainda da opinião, da busca
da opinião mais provável. Lembrem-se disso na aula passada.
Pois bem, eu vou dar aqui o que me parece se deva concluir agora,
digamos apodicticamente, de todas as dúvidas que ficaram da aula passada.
Seguirei em grande parte a Santo Tomás de Aquino, mas avançarei coisas que
ponho em meu livro Tratado dos Universais que um dia sairá, se Deus quiser.
Pois bem, no comentário à Física de Aristóteles, diz Santo Tomás que pode
resumir-se a definição de Aristóteles para o ad aliquid da seguinte maneira: a
relação consiste unicamente na referência a outra coisa. Repita-se: a relação
consiste unicamente na referência a outra coisa. Igual se refere a desigual,
desigual a igual, semelhante a semelhante, ou melhor, desigual a desigual,
semelhante a semelhante, pai e filho, e assim todos os exemplos que eu dei na
aula passada. Esta, com efeito, é a definição mais abrangente que se pode dar
da categoria ou predicamento relação. A relação consiste tão somente na
referência a outro, a outra coisa. Isto quer dizer que, por sua razão ou noção
própria, por seu logos próprio, por sua noção própria a relação não significa mais
que a referência a outro. Por sua noção própria, por sua razão própria, por seu
logos próprio, por seu conceito próprio a relação, o ad aliquid, não significa mais
que referência a outro. Mas atenção: a relação é um acidente e já vimos que
todo acidente é algo. É claro, todo e qualquer acidente não tem – como temos
Escola Tomista – Apenas para uso dos alunos Página | 2
visto desde o início desta parte – todo e qualquer acidente não tem ser por si,
senão que tem ser na substância e não tem quididade ou essência senão em
abstrato, não em concreto, porque em concreto o que tem quididade ou
substância, ou essência é a substância. Isso está visto. Mas as categorias, os
acidentes melhor dizendo, não são entes de razão, eles são algo na substância,
algo de verdade na substância, algo real. E mais, como veremos antes até da
Física, mas sobretudo na Física Geral, distingue-se da substância os acidentes
não por uma distinção de razão, mas por uma distinção real. Trato isso
longamente, profundamente no meu livro Da arte do belo, a distinção real entre
substância e acidente. Os acidentes são algo na substância, real e distinguem-
se realmente, não só segundo a razão, da mesma substância.
Pois bem, então se temos que a definição geral de relação, que a relação
não significa mais que referência, que respeito, que relação obviamente a outro,
é preciso ver que elementos entram numa relação. É isto que não está tão claro
na parte relativa ao relativo de Aristóteles no seu livro As categorias. Não está
tão claro. Então podemos dizer que há três elementos numa relação: um sujeito
que diz ordem a outra coisa, que diz referência a outra coisa, e é neste sujeito –
a substância ou análogo (tá certo?) – é no qual, é nele que a relação tem
existência, tem ser. A relação não tem ser senão nesse sujeito que é o
fundamento da relação, como aliás para todos os acidentes. Os acidentes têm
por fundamento um sujeito. Que sujeito é este? É a substância! O mesmo se
diga da relação, do relativo.
Pois bem, tem de ter, além do mais, um termo, outra coisa a que a relação
diga ordem ou referência. É o referente, digamos assim. E um fundamento em
que se baseia a própria referência. Então são três elementos: um sujeito que diz
respeito ou ordem a outra coisa no qual a relação tem ser; um termo a que o
sujeito diz ordem ou referência ou respeito; e um fundamento em que se baseia
a mesma referência.
Pois bem, para que, então, uma relação seja real, é necessário que todos
esses elementos sejam reais. Por exemplo: direita-esquerda. A direita e
esquerda se diz com base em mim mesmo. Eu sou, claro que direita e esquerda
são relativos mutuamente, são recíprocos. Só há direita se houver uma
esquerda; só há esquerda se houver uma direita. E o fundamento primeiro desta
relação sou eu mesmo como substância. No entanto imagine-se que estejamos
olhando para uma pilastra, uma pilastra, um pilotil, qualquer coisa assim, e
dizemos que há uma cadeira à direita da pilastra e há uma mesa à esquerda da
pilastra. Veja que esquerda e direita agora são entes de razão, porque a pilastra
que é redonda não tem direita ou esquerda. Eu tenho direita e esquerda. Então
eu digo que a direita ou a esquerda da pilastra, mas é a minha direita e a minha
esquerda, não a da pilastra. Veja que, no caso da pilastra, a relação, se se
considera enquanto pilastra, não tem fundamento real. Portanto é uma relação
que não é senão um ente de razão.
Escola Tomista – Apenas para uso dos alunos Página | 3
Pois bem, mas admite Santo Tomás que outras categorias, que outros
acidentes possam servir de fundamento à relação, desde que, obviamente, se
considere que esses outros acidentes têm eles mesmos fundamento na
substância. A substância é o fundamento último remoto, próximo ou remoto, mas
é remoto se a relação se funda em outras categorias acidentais. Sempre o último
fundamento é a substância, mas pode haver relação fundadas proximamente –
não remotamente que é a substância – fundadas proximamente em outras
categorias acidentais. Por exemplo: a semelhança – vimos o exemplo da
semelhança na aula passada – funda-se, em primeira instância, na qualidade.
Claro! É uma qualidade que haja semelhança ou dessemelhança, que o
semelhante seja semelhante ao semelhante, o dessemelhante seja
dessemelhante ao dessemelhante. São qualidades! Então a relação se funda aí
na qualidade que, por sua vez, se funda na substância.
Pode haver também – creio, isto ainda estou por decidir – na ação e na
paixão que sempre implicam um movimento e o movimento, para que vocês
veem, todo movimento é movimento em sentido lato como veremos. Como vocês
verão no Da arte do belo, o movimento se diz em sentido lato, ele é sinônimo de
mudança. Pode ser um movimento local – ir daqui pr’aqui – pode ser a geração,
pode ser a corrupção, pode ser o aumento, pode ser a diminuição, pode ser a
alteração, etc. Há várias espécies, são seis espécies, seis espécies de
movimento ou mudança. Pois bem, em todo movimento ou mudança há um
Escola Tomista – Apenas para uso dos alunos Página | 4
termo chamado em latim a quo – a, o azinho puro – e depois quo (q-u-o), a quo
que é de que se parte na mudança. Toda e qualquer mudança ou movimento
tem de partir de um ponto e este ponto é o que se chama a quo, a quo, do qual,
a partir do qual. E qual é?... E tem de ter um ponto de chegada. E como se diz
esse ponto de chegada? Filosoficamente ad quem, ou seja, a-d de ad aliquid, a
mesma coisa, quem, ou seja, q-u-e-m, ad quem. Vejam a preposiçãozinha ad,
exatamente o que diz relação. Então se há um termo ad quem, ou seja, para o
qual, ao qual, então parece que há certa relação. Aprofundo, agora já não na
arte do belo, não tem nada que ver com isso, mas no Tratado dos Universais.
Ainda apanho um pouquinho disso, mas chegarei lá.
Pois bem, mas atenção: uma relação não pode ser fundamento mesmo
próximo de outra relação, porque, se houvesse isso, remontar-se-ia ao infinito.
Se uma relação fosse fundamento de outra relação seria necessário que outra
relação fosse fundamento desta relação e assim sem fim ao infinito. Ora, quando,
no conhecimento, se remonta ao infinito, isso quer dizer que não se conhece
absolutamente nada. É impossível, como se estudará – estamos chegando lá! –
como se estudará na Física, é impossível que as causas remontem ao infinito.
Nenhum remontar-se ao infinito nos dá conhecimento. É preciso parar sempre
em algo primeiro. Esta é, aliás, a prova, as vias de Santo Tomás para provar a
existência de Deus, são exatamente a negação de que se possa remontar ao
infinito na série de causas, senão que há que sempre deter-se numa primeira
causa incausada, porque, se fosse causada, eu precisaria remontar a outra
causa e se esta causa fosse causada, remontar-se-ia a outra causa, e assim não
se pararia a nada e não se teria conhecimento. Um exemplo: vemos a Catedral.
Ora, podemos remontar a série de causas de que resultou a Catedral: os
operários, os pedreiros, os eletricistas, os capatazes, os mestres-de-obra, o
engenheiro, mas ou se para no arquiteto, ou antes na mente do arquiteto, de
onde saiu o projeto da Catedral, ou não se conhecerá a Catedral. É impossível
remontar ao infinito. Assim, se uma relação fosse fundamento de outra relação,
seria preciso outra relação que fosse fundamento da primeira e assim ao infinito
e não se conheceria nada.
prós de cada uma e termina aí. Ele não é conclusivo, porque ele mesmo não
havia alcançado, quanto aos dias da criação, uma opinião, uma demonstração.
Ele não conseguiu demonstrar. Como não conseguiu demonstrar, preferiu ficar
no campo da recolha das opiniões mais prováveis.
Pois bem, diga-se que o... quanto à distinção real entre substância e
relação, para que seja tal – real – é preciso, então, que haja um fundamento,
mas pode perder-se a relação que nasceu, que se gerou, que proveio deste
mesmo fundamento. Ela pode desaparecer. Por exemplo, é um exemplo já mais
ou menos clássico, creio que até Mário Ferreira dos Santos o refere em seu
comentário às categorias: imagine-se uma luz de uma vela que ilumina um
quarto, um cômodo. E o que se vê numa vela que ilumina um cômodo? A vela,
antes de tudo, é o fundamento e ela está acesa, mas, mais que acesa, ela ilumina
o cômodo. Suponhamos agora, no entanto, que entrou alguém neste cômodo e
este alguém que entrou, assim como o mesmo cômodo, é iluminável, assim
como as coisas são cognoscíveis ou sensíveis, como vimos na aula passada.
Esse que entrou é iluminável, ou seja, pode iluminar-se pela luz. Sem a luz não
veríamos nada. Pois bem, então assim como havia coisas cognoscíveis antes
de o homem pisar na terra e assim como havia coisas sensíveis antes de o
homem pisar na terra, assim há algo iluminável – que é um homem – e algo que
pode iluminar – que é a vela acesa. Pois bem, antes esqueça-se o cômodo,
vamos pensar só na pessoa que entrou nesse cômodo e na vela que está acesa.
Se olharmos, então, esta coisa conjunta – a vela acesa e o homem que entrou
no cômodo – temos aí duas coisas: primeira que a vela está acesa e segunda
que ela ilumina algo, no caso alguém. A vela, então, ou a luz da vela se determina
a algo. E que algo é este a que se determina enquanto iluminadora? O homem
que entrou no cômodo.
Então alguém há de dizer: pois bem, mas isso é de razão! Não, não é!
Porque, se essa pessoa saiu do cômodo – esquecendo que o próprio cômodo é
iluminado –, a vela continua acesa, mas já não ilumina. Vejam que são duas
coisas distintas, com distinção real e não de razão: enquanto havia um homem
dentro do cômodo, a vela o iluminava e só ilumina aquilo que é iluminável. Logo,
tem-se uma relação entre iluminar, iluminação e iluminável. Iluminação dá a vela
acesa; iluminável é o homem que está no cômodo. Se, no entanto, sai este
homem do cômodo, continua a vela acesa e potencialmente iluminadora, mas já
não há relação entre ela e o iluminável que é o homem, razão porque a distinção
entre fundamento e acidente da relação é real. Se não fosse real, não
desapareceria uma das coisas – ou seja, a iluminação e o iluminável – e não
apareceria quando entrasse alguém no cômodo.
É verdade que a vela não ganha nada, nem perde nada. Não ganha nada
quando ilumina alguém, nem perde nada quando esse alguém sai, mas não só
logicamente, mas ontologicamente, realmente, positivamente, objetivamente
queimar, arder a vela é uma coisa, iluminar uma pessoa é outra e isso decorre
Escola Tomista – Apenas para uso dos alunos Página | 6
do fato de que uma coisa não pode existir sem a outra. Não pode haver a
iluminação sem a luz, não pode haver ilumina... mas só se é iluminável, só se...
alguém só é iluminado se houver a relação com a vela que ilumina. Ou seja, a
relação tem um fundamento. O fundamento pode deixar de ter essa relação se
a pessoa sair do cômodo, mas, se ela entra no cômodo, temos duas coisas: a
iluminação, o ato de iluminar, e o ato de ser iluminado. É uma relação, é uma
relação e esta relação é algo real na coisa, conquanto na substância, conquanto,
conquanto, insista-se e insista-se, não pudesse existir senão nesta mesma coisa
que é o fundamento ou substrato ou sujeito ou substância.
Este exemplo da iluminação dá um... é... ele é claríssimo, né? Ele mostra
realmente que há uma distinção entre o acidente relação e seu fundamento.
Pois bem, como se viu a relação exige, não exige só dois termos que se
referem um ao outro, mas exige o fundamento dessa relação.
parede bege, mas não pelo bege, não pela cor, mas pela parede que é seu
substrato, que é seu sujeito, tomado aqui ao modo de substância, conquanto a
parede seja uma substância com acidentes artificiais, porque a parede é
resultado da arte humana. Pois bem, então a parede bege é semelhante a uma
parede bege; uma parede azul é dessemelhante de uma parede bege. Como
veremos ao fim, nos pós-predicamentos, neste mesmo capítulo de nossa Escola,
os predicamentos ou categorias, os dois contrários (branco e negro) não podem
estar ao mesmo tempo no mesmo sujeito. Uma parede não pode ser bege e não
bege ao mesmo tempo, ela não pode ser bege ou azul ao mesmo tempo, bege
e azul ao mesmo tempo. Ou ela será bege, ou ela será azul.
Tomemos ainda o exemplo das paredes brancas. Eu posso dizer que uma
parede é mais branca que outra, claro. Isso é uma relação! E a outra é menos
branca que uma. Isso é uma relação! Mas a relação aí, ela não é uma vez mais
per se, mas sim per accidens. Por quê? Depende do fundamento em que está a
brancura. A brancura está na parede, então é a parede que é mais ou menos
branca que a outra.
Muito bem. Vamos agora tentar solucionar a questão da cabeça que foi,
cabeça e mão que foi a dúvida posta por Aristóteles no final. Pois bem,
Aristóteles mesmo já havia resolvido isso. Se bem lembrarem, ele falou de asa
e alado, de timão e timoneado, e falou de cabeça e de acabeçado, ou seja,
aquele que tem cabeça, aquilo que tem cabeça. E aí há uma relação. E qual é o
fundamento dessa relação? A substância, tanto a substância que é o todo – está
certo? –, o corpo que tem cabeça, como a substância que é parte desse todo e
que só é substância em segundo grau, digamos assim. Porque, com efeito, a
cabeça não existe sem o corpo, a cabeça depende do corpo. Então a relação
está aí entre cabeça e acabeçado ou provido de corpo. Esta é a relação. Ou, se
ainda se quiser, é a relação entre parte e todo. Qual é o fundamento? É o próprio
corpo e a própria cabeça. Sempre o sujeito será o próprio corpo e a própria
cabeça. Então a relação é real, distingue do fundamento ou substância ou
sujeito, ainda quando se trata de substância que seja parte ou de substância que
seja todo.
portanto, que não se pode fazer, haver relação entre mão e corpo, porque pode
haver corpo sem mão, mas assim como a relação entre a cabeça e acabeçado
– ou provido de cabeça – assim também a relação entre mão e provido de mão,
assim como a relação entre asa e alado.
Eu vou citar uma frase de Santo Tomás de Aquino em sua carta escrita ao
Frei João – seu confrade de religião, dominicano, né? – e que se tornou um
opúsculo seu muito famoso chamado De modo studendi, ou seja, do modo, sobre
o modo, acerca do modo de estudar. É um opúsculo cuja leitura lhes recomendo
a todos. É de fácil, encontra-se fácil na internet. Pois bem, o primeiro dos
conselhos que ele dá ao Frei João, a seu confrade quanto ao modo de estudar
é: escolhe entrar pelos riachos e não imediatamente no mar, porque há que
chegar ao mais difícil pelo mais fácil. Então não vamos já ao mar. Comecemos
pelos riachos, porque, pelos riachos, que são o mais fácil, alcançaremos o mar
que é o mais difícil, e a Metafísica, como verão, é um mar. Vocês que são meus
alunos e que me acompanharem até a Metafísica verão que teremos ali um
verdadeiro gáudio, uma verdadeira alegria. É como uma criança, seremos como
crianças nadando no mar da Metafísica. E é neste mar que Santo Tomás de
Aquino, em seu comentário à Metafísica de Aristóteles, mais tem pérolas
Lógicas. O seu comentário à Metafísica é um mar de pérolas lógicas. Então tudo
o que só começamos a entender agora, só incoativamente, incoativamente
entendemos agora, ou seja, nos riachos, entenderemos mais perfeitamente
quando mergulharmos no mar da Metafísica repleto de pérolas tomistas.
Muito bem, vou começar a dar-lhes a outra categoria. Que categoria é esta?
A ubiquação. Ubiquação vem de ubi latina, palavra latina, ubei. Pois bem, a
ubiquação.
Pois bem, vejam, só vou começar que é um assunto difícil. É difícil por quê?
Primeiro porque Aristóteles não escreveu sobre ele. As categorias é um salto.
Escola Tomista – Apenas para uso dos alunos Página | 10
Pois bem, as coisas naturais são corpos cujo termo é a superfície que
delimita o volume que ocupam, que têm. Num cubo são seis planos quadrados
em que terminam seus lados.
Pois bem, quando nos movemos, quando nos movemos deixamos um lugar
para ocupar outro. Não é isto? Eu estou aqui. Se venho pra cá, eu deixei um
Escola Tomista – Apenas para uso dos alunos Página | 12
lugar para ocupar outro e este lugar deixado vai ser ocupado por outra coisa, por
exemplo o ar. Eu estou aqui, estou neste lugar, saio daqui em movimento local
e me dirijo, e eu vou ocupar outro lugar e algo tem de ocupar aquele lugar que
eu deixei: o ar.
Pois bem, vou repetir esta parte e não vou para a segunda partícula porque
prefiro deixá-la e repetir a primeira partícula, dar de novo a definição, repetir a
primeira partícula e deixar o complemento, o estudo das demais partículas para
a próxima aula. É preciso ir devagar. Não só ir pelos riachos, mas ir devagar,
porque senão escorregamos.
Quando nos movemos deixamos um lugar para ocupar outro, outro lugar e
o lugar que ocupávamos e que ficou vago é agora ocupado, por exemplo, pelo
ar ou por outra pessoa.
Já vimos que o lugar não deve entender-se como espaço ocupado. Isso
seria um ente de razão matemático. O lugar não é o espaço ocupado, mas a
superfície terminal, o termo ou superfície terminal do corpo, do corpo.
Meditem sobre isso, matutem sobre isso, ruminem isso que, na próxima
aula, falarei das outras partículas quanto ao lugar. Repetirei o dito hoje, mas
assim vocês vão se acostumando com este assunto não fácil, mas também
tampouco impossível. Verão que, depois de entendido que o lugar não é o
espaço ocupado, senão que é o limite terminal do corpo, é seu termo, isto é um
grande passo, porque depois entenderemos porque é um termo imóvel,
continente e primeiro.
Vejam que estamos, repito, antecipando. Isto é uma seta, mas, dentro da
circularidade inescapável das disciplinas, não podemos entender o acidente
ubiquação senão como... sem sua referência ao lugar, e um lugar só se entende
na Física.
Eu vou falar ainda, ainda temos um tempo aqui, eu vou falar da segunda
partícula sem deter-me nela: imóvel, imóvel. Não é suficiente dizer que o lugar é
um termo, um limite, uma delimitação, porque podemos pensar como termo
corporal nosso como se fosse a camisa com que estamos vestindo. É como se
fosse uma pele nossa, a camisa é como uma pele sobre outra, sobre a nossa
pele. Mas o lugar deve ser definido, deve definir-se como termo que deixamos
quando nos movemos assim como trocamos, quando trocamos de camisa:
Escola Tomista – Apenas para uso dos alunos Página | 14
Como diz o Padre Calderón, antes do que ele diz, vemos, concluímos agora
do que acabo de dizer, que o termo do nosso corpo, o limite do nosso corpo é
móvel, ele vai com a gente, a nossa pele vai com a gente, mas o termo que é o
lugar é imóvel. Por que é imóvel? Porque ele continua ali. Eu saí, mas o ar ou
outra pessoa vai ocupar este lugar. Vejam, então, que o termo que é o lugar é
imóvel, enquanto o termo de meu corpo é móvel.
Escola Tomista – Apenas para uso dos alunos Página | 15
Muito obrigado pela atenção, desculpe-me se hoje foi uma aula um pouco
arrastada, estou realmente hoje adoentado, mas creio que consegui passar o
necessário pra entendimento tanto da questão da relação quanto com respeito
às primeiras partículas da definição de lugar.