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Aspectos da

Singularidade e
Outras
Consequências
Por Pensepensepense..., Guelpa e Pablo.

Sobre este escrito:


Buscarei falar sobre como as características do singular afetam as relações, os
valores e noções de verdade. Eu não falarei a fundo sobre as coisas afetadas em si,
pretendo com que o trabalho feito aqui seja um trabalho de fundamentação para
que eu apresente outras noções.
Também vale mencionar que esse assunto não surgiu apenas por uma simples
necessidade de fundamentar as coisas, também é uma resposta para uma pessoa
sobre coisas delicadas que necessitam de exposições gigantescas, então eu me
deparei com a necessidade de a fazer esperar por longos anos ou escrever sobre
algo que afeta algumas noções sem tocar no todo delas.
A Singularidade

Primeiro precisamos entender o que dizemos com singularidade, e a


primeira coisa que podemos pensar sobre isso é o número um. Quando
pensamos em um, pensamos que não há outra coisa como esse um, de
outra forma não trataríamos como um, mas sim como dois ou mais. Mas
esse tratamento acontece quando se leva em conta certos estados de
coisas, ou seja, excluindo certas relações e componentes do objeto. Para
que se entenda melhor, veja o exemplo abaixo:

É certo que todo mundo entende que há três maçãs nessa imagem,
mas quando se pergunta a quantidade de maçãs que está na parte mais
inferior, seria dito que há apenas uma maçã na parte inferior. Logo se
infere que há apenas uma maçã no mundo que está na parte inferior
desta imagem, sendo conferido para ela uma singularidade, algo que
outra coisa não tenha. Veja, para longe do singular também funciona,
basta tentar pensar em quantas maçãs existem.
A consequência disso é que a resposta correta mais extensa possível
quando se perguntar o que é esta coisa vermelha debaixo dessas outras
será a que aponta para toda a configuração dessa maçã. Ou seja, isto é
uma maçã que está debaixo de outras duas maçãs, que compartilha uma
generalização com outros objetos que também chamamos de maçã, que
está sendo afetado pelo vento de X maneira e assim por diante. Em
outras palavras, é correto responder que isso é uma maçã, mas não é
correto dizer que isso é só uma maçã.
Logo percebemos que, quando tratamos do objeto sem o separar de
suas relações e outras coisas que o compõe, ele se evidência como algo
singular, afinal, não há objeto existente separado das suas relações, essa
separação só ocorre na mente humana para fins de compreensão.

Determinante do Singular
Agora que falamos sobre o singular, devemos falar sobre o
determinante do singular, i.e., sobre a coisa que faz o singular ser o
singular. Quando pensamos em algo singular, podemos pensar em um
efeito de status que existe através de uma relação que esse objeto tem
com o outro, ou seja, quando colocamos duas coisas completamente
diferentes em perspectiva, podemos dizer que exercem um efeito de
status sobre o outro mutuamente. Tendo isso em mente, podemos
perceber que não há singularidade quando algo é completamente
diferente de outra coisa, pois necessita-se de que ambos exerçam esse
efeito de status, sendo esse efeito algo comum entre eles, ou, falando de
forma mais precisa, que não há algo completamente diferente de outro
algo.
Então se faz necessário que sempre haja o comum entre os singulares,
sempre será preciso que haja um espaço de comunhão entre as
singularidades para que elas possam existir. Ao mesmo tempo, o
contrário também pode ser afirmado, se não houver singularidades, não
haverá o comum, pois não haverá o outro com que se tenha em comum,
haverá apenas um. Importante que se note que esse um não é singular,
pois não há outro para se ter diferenças.
É claro que pode ser afirmado que esse um é singular, pois se não há
outro, ele é único. Mas o problema aqui é que há uma série de
afirmações sobre componentes que acabam fazendo parte do um, o
próprio efeito de status é outra coisa, então, por exemplo, quando se fala
que há só um, se fala de status, se fala de efeitos de não haver outros e
por aí vai, e esse um não pode ser igual a estas coisas, o um não pode ser
igual ao que o compõe. Portanto, é impossível haver um quando não há
outro.
Valores do Ser
Agora, se faz necessário fazer uma investigação sobre as
consequências dos aspectos da singularidade sobre outras questões,
começando com os valores do ser.
Primeiramente, pensemos em valor como uma atribuição de bom ou
ruim com base em algum critério. Claro, assumirei aqui que os valores
são objetivos para que a palavra valor tenha peso em uma análise, mas
não se esforce muito sobre isso, isto é matéria para outro momento, o
que quero que entenda é que os valores orientarão o ser a escolher entre
vários e vários, portanto, os valores orientarão o ser a compor a sua
alma, afinal, quando se escolhe, se compromete com certos efeitos
daquela escolha da forma como foi escolhida. Então, no fim, você vai
ser uma pessoa X, Y e Z que escolheu o que foi escolhido para sempre,
ou seja, você carregará esse efeito para sempre, talvez carregará outros
efeitos dessa escolha que talvez sejam efeitos bons ou ruins, mas isso já
dependerá de uma série de coisas.
Haverá, dentro desses valores, prezo e desprezo, uma afirmação de
algo e uma afirmação de outro algo necessariamente, portanto,
observamos aqui o efeito de status mútuo que comentei anteriormente.
Veja, quando digo que é bom que o indivíduo busque ser original ao
máximo, estou prezando pela proximidade ao singular e desprezando
pela proximidade ao comum, uma afirmação depende da outra, e como
observamos anteriormente, podemos dizer que há uma impossibilidade
de que esse juízo de valor seja feito devido à natureza da singularidade e
do comum, i.e., o singular e o comum andam juntos. Ainda sobre esse
juízo de valor, como o singular está atrelado ao comum, significa então
que é impossível um valor ser algo relacionado com ser mais ou menos
singular, já que o que terá de bom valor em algo singular, somente o terá
porque o comum o permite, sendo o inverso também verdadeiro. Digo
então que a relação do singular com o comum é de um para um, já que
todo singular terá o comum.
Dinâmico e Estático
Dentro do singular e comum, podemos encontrar o dinâmico e o
estático. O singular atribui dinamismo as coisas, ou seja, atribui
variáveis de estados, fazendo com que certa instância do mundo não seja
sempre a mesma, já o comum atribui estática as coisas, ou seja, certa
instância do mundo será sempre a mesma.
Estou falando disso, pois, como eu disse, os valores orientarão as
escolhas do ser, e escolhas pressupõe dinamismo das coisas, caso
contrário, escolha nenhuma seria possível, já que não há alternativa. Do
mesmo modo, escolha nenhuma seria possível sem a estática das coisas
visto o efeito de status mútuo, visto que várias escolhas dizem respeito à
uma situação, essa situação é o que permite que as escolhas sejam o que
são, mas isso tratarei melhor depois.
Então, podemos entender que é um problema tratar as coisas como
estáticas, e que devem ser estáticas, na instância das dinâmicas, sendo o
contrário correto, já que um tratamento assim para as coisas do mundo
seria um atentado contra a própria natureza e contra a própria realidade,
já que se as coisas fossem assim, nada seria, e que é impossível que algo
seja assim.
É interessante notar que, quando alguém trata as coisas como
completamente dinâmicas, sendo esse tratamento uma forma de
relativismo, isso nos remete ao egoísmo, pois quando todas as coisas são
dinâmicas, o ser supostamente pretende possuir uma habilidade de
conseguir colocar a mão em todas as coisas, ou seja, fazer uma escolha
sobre elas, não havendo nada que o limite. O contrário também nos
remete ao egoísmo, pois quando se pensa que tudo é estático, podemos
nos isentar de culpa ou pensar em coisas estáticas de tais maneiras que
se adequem ao que pensamos perfeitamente. Claro, ainda podemos
presumir a inocência do pensante ao pensar dessas maneiras.
Contemplação, Conversa e
Relacionamentos
Não é simplesmente por estar em excomunhão com as massas que
algo deve ser digno de contemplação, que é o que as formas de elitismo
extremo nos dizem, e nem por simplesmente estar em comunhão com as
massas, que é o que os anti-intelectuais e antielitistas nos dizem (ou
parecem dizer em alguns casos, tenha muito cuidado com isso). Se há
algum valor em algo, é justamente porque o comum e o não comum
estão permitindo que esse algo seja algo, significando que o valor de
algo não está atrelado ao status de ser singular ou comum.
Como disse anteriormente, várias escolhas dizem respeito à uma
situação, isso quer dizer que o diálogo e os relacionamentos precisam de
uma capacidade de conexão, ou seja, necessitam de que exista algum
espaço comum para que os singulares possam dizer a respeito. Isso
significa que os singulares, em último caso, compartilham de uma
mesma coisa, e que estamos montados em uma única coisa nos atos e
nas falas para que elas possam acontecer. Buscar romper com essa ideia
significa um atentado contra as relações com os outros, portanto contra a
sociedade. Também significa um atentado contra o estado de
contemplação, pois reduziria o ato de contemplar a coisa tida como
admirável ao nível de apenas olhar.

“24 - Para o homem que viveu com um


grande problema como com um destino e cujos dias
e noites são passados em diálogos e em
resoluções solitárias, as opiniões de outrem
sobre esse mesmo problema são uma espécie de
zumbido do qual se defende tapando os ouvidos;
ouve a respeito, quando muito, indiscrição,
incompetência e indecência da parte daqueles
que, a seu ver, não têm direito a semelhante
problema, porque não o descobriram. É nas horas
em que se desconfia de si mesmo, de seu direito
e de seu privilégio, que o apaixonado solitário
- pois todo filósofo é isso – deseja ouvir tudo
o que foi dito ou subentendido por ocasião de
seu problema; talvez perceba então que o mundo
está repleto de apaixonados ciumentos como ele e
que todo esse barulho, toda essa confusão, essa
vida pública, todo esse desfile da política, da
vida cotidiana, da feira, da “época”, tudo isso
parece ter sido inventado somente para permitir,
ao que resta de solitários e de filósofos,
dissimular-se atrás disso, no que constitui sua
solidão própria; todos ocupados com uma única
coisa: justamente seu próprio problema. “Só se
pensa nisso hoje, por pouco que se pense”, diz
ele finalmente para si mesmo. “Tudo gira em
torno desse mesmo ponto de interrogação. O que
parecia ser reservado para mim é o que a época
inteira ambiciona; no fundo, nada mais acontece;
eu mesmo – mas o que importa minha pessoa!””
- Nietzsche, A Vontade de Potência, Aforisma 24

Considerações
Separei esta parte para falar sobre o vácuo que pode ser percebido
sobre os valores, afinal, não fiz uma investigação sobre os valores, mas é
que o que foi escrito aqui se trata de consequências da singularidade
sobre as coisas. Isso significa que a exploração continua, que ainda há
coisas que devemos explorar, mas que serão exploradas sob
consequências exploradas aqui. Claro, há muita coisa mais escondida
dos olhos no texto, portanto, se você buscar pensar sobre o que foi dito
aqui em outras áreas, sempre terá o que se tirar, assim como qualquer
outra coisa que é investigada por aí.

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