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RESENHA CRÍTICA – MÓDULO INTRODUTÓRIO

CURSO: FUNDAMENTOS DA PSICANÁLISE


ALUNO: GUSTAVO LOPES DE OLIVEIRA RAMIRO
TURMA: ESPE – 2022
TÍTULO: “OUTRO”

No decorrer desse meu breve (e persistente) percurso lendo alguns textos lacanianos,
me deparei com as formulações que ele fez no seminário sobre a relação de objeto, em que
decorre sobre onde estaria um certo lugar ocupado pelo Outro (o grande Outro, aquele “capaz
de enganar”) que, devido ao poder de sua inscrição junto ao sujeito (ilustrado em especial pela
lógica do esquema L), acreditaríamos ser faltante por toda nossa vida (neurótica). Um tal
objeto “originário”, que nos atravessaria num momento em que estamos muito frágeis:
quando somos amamentados pela primeira vez pelo seio materno. Construindo ideias através
dos pensamentos de Freud acerca da relação de objeto, ele diz:
“[...] Este objeto, que corresponde a um estágio avançado da maturação dos
instintos, é um objeto reencontrado, o objeto reencontrado do primeiro desmame, o
objeto que foi inicialmente o ponto de ligação das primeiras satisfações da criança”
(LACAN, 1995, pág. 13).

Essa satisfação teria algo de único, e que atingiria o desenvolvimento em relação a


nossa constituição como sujeito de forma tremenda, pois até então sentíamos um incôomodo
sem nome, mas marcado pela dor: a fome. E então nos deparamos com aquilo que cessa essa
dor, mas não só isso. É a resposta “perfeita” ao que nos faltava (mesmo que nós não saibamos
que era aquilo que faltava com precisão). E essa resposta veio de um outro.
O problema é que aquilo foi tão bom – aquele sentimento de completude, de unicidade
do que se precisa e do que se recebe, essa “perfeição” entre aquilo que falta e aquilo que
suspostamente se tem de alguém – não vai se repetir. Mas a gente quer que se repita, pois
assim poderíamos tentar sermos completos novamente, inteiros com aquilo que nos satisfez.
Isso, que podemos encontrar no outro, poderia então oferecer essa resposta completa, ideal.
Só que a questão não é sobre encontrar esse outro, e sim sobre essa falta. Sobre o mundo não
repetir sensações; no máximo memórias, ou traços mnêmicos. Mas o neurótico é teimoso
(uma palavra diferente para obsessivo), e quer viver no campo do princípio da realidade
aquilo que só pode encontrar estando no princípio do prazer, porém Lacan (1995) entende que
“[...] a satisfação do princípio do prazer, sempre latente, subjacente a todo exercício da
criação do mundo, tende sempre, mais ou menos, a se realizar numa forma mais ou menos
alucinada”. Podemos pensar então que esta tendência estaria fadada a certa frustração.
Às quintas-feiras, acontece minha sessão de análise. Na última delas trabalhamos
sobre algo que me confronta neste momento e que se concretiza com um dos possíveis
sintomas que o neurótico pode ser levado. Eu havia, após longo e conflitante processo de
pensar, decidido investir em ter um carro. Nunca havia me aventurado a isso. Gosto de minha
moto, ela cumpre com seu objetivo, mas ter um carro me pareceu uma ideia que circulava. Ao
me aproximar dela, me via longe. Longe por minhas origens sem esta perspectiva – ou talvez
com ela num lugar tão fantasmático que, se se realizasse, teria o mesmo poder de um pesadelo
para um sonhador – ou só por não “me ver” realizando isto. Então, quando fui me
aproximando do mês que havia me planejado a dar o primeiro passo, de financiar ou de iniciar
um consórcio, comecei a gastar. A querer “tudo”, a comprar várias coisas fúteis e sem
necessidade. Fora esse movimento externo, também havia os atos. Parei de fumar. Mudei de
academia. Mudei o sofá de lugar. Tudo para que (quem sabe?) o carro pudesse caber (ou para
provar que não caberia).
Não parece existir nada mais teimoso do que um sintoma obsessivo.
Ele teima sobre não querer ver a mudança. Ele teima para que tudo recubra o lugar que
o sujeito quer ocupar. O qual a posição desejante quer se situar. Em alguns casos, parece até
querer criar o obstáculo onde não existe um!
Mas não seria muitas vezes essa chatice do sintoma que possibilitaria aquilo dito como
um dos instrumentos da análise?
Lacan afirma, no início de seus seminários, que “é no movimento através do qual o
sujeito se revela que aparece um fenômeno que é resistência. Quando essa resistência se torna
muito forte, surge a transferência” (LACAN, 2009). Naquilo que se apresenta como essa
imposição ao sujeito, se abre lugar para a presença do analista, não como ele mesmo, mas
ocupando aquilo do sujeito do inconsciente, aquele que quer ser ouvido pelo objeto que o
analista é incumbido a estar.
E não vai estar lá, justamente. Assim como a fantasia do objeto perdido, faltoso, se
estabelece como algo a ser encontrado, o analista pode atravessar esse sentido, pode dizer que
o analisando não precisa querer tudo, que as coisas podem ser parceladas, e que o sintoma é
onde podemos enxergar a tristeza, onde vemos sem ver o alvo que ela quer atingir.
E, dentre as várias direções à cura que a análise pode ir, uma delas está no olhar para
esse lugar que a transferência quer que o analista ocupe e negá-lo, confrontá-lo, fazendo assim
o corte, e possibilitando que (quem sabe?) o paciente desvie, provoque um movimento para
longe da angústia da frustração, e possa ter uma chance de existir sabendo que não precisa
procurar nada pois, afinal, nada se perdeu.
REFERENCIAS
LACAN, J. Seminário, livro 1: os escritos técnicos de Freud (1953-1954). Rio de Janeiro:
Zahar, 2009.
LACAN, J. Seminário, livro 4: a relação de objeto (1956-1957). Rio de Janeiro: Zahar, 1995.
INSTITUTO ESPE – ENSINO SUPERIOR EM PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO

CURSO: FUNDAMENTOS DA PSICANÁLISE: TEORIA E CLÍNICA

ALUNO: GUSTAVO LOPES DE OLIVEIRA RAMIRO

TURMA: STM – 2

DEVOLUTIVA DA RESENHA CRÍTICA

MÓDULO III

NOTA GERAL: 8,5

Fundamentação Resposta às Utilização da Referencial


teórica, questões norma bibliográfico
embasamento e norteadoras ou
articulação relação com as
conceitual disciplinas do
módulo

5 2 0,5 1

CONSIDERAÇÕES:

Gustavo, seu trabalho ficou bem elaborado. Como a sua escrita é muito boa e eloquente, na
próxima resenha, procure se posicionar um pouco mais, assim o trabalho assume o seu modo
de pensar referenciado com os conceitos da psicanálise, aventure-se mais na escrita
posicionando-se sobre o que foi abordado na resenha.

Nos dois últimos parágrafos começou a dar sua perspectiva, poderia ter explorado mais.

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