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Eu e Tu- Martin Burber

O mundo é duplo para o homem, segundo a dualidade da sua atitude que é dupla de
acordo com a dualidade das palavras-princípio (palavras fundamentos) (não são
vocábulos isolados, mas pares de vocábulos) que ele pode proferir.
Temos duas palavras princípio de que exprimem duas atitudes possíveis para o
relacionamento do ser humano:
Submisso à palavra-princípio da separação, afastando o EU do ISSO, dividiu sua vida
com homens em duas "zonas" claramente de- limitadas: as instituições e os
sentimentos, Do- mínio do Isso e domínio do Eu.

• Eu-Tu: é o encontro, o diálogo, a abertura e, inclusivamente, a relação de amor


autêntico, antecipação da vida eterna, momentos especiais e intensos, que
acontecem se tivermos disponíveis e abertos ao encontro não so com ser
humanos, mas seres da natureza ou espirituais, ou seja, não se limita a relação
com outros seres humanos.
Numa relação eu-tu:
 Não podemos ter qualquer experiência do tu, nós não procuramos o
tu, ele simplesmente aparece sem qualquer aviso prévio. E ao ser
escolhido e escolher estabelecemos uma relação, imediata, de amor
(onde ação e paixão), relação eu-tu.

 Não há qualquer jogo, esquema ou fantasia, mas a própria memoria que


se transforma no momento em que passa dos detalhes para a sua
totalidade e somente quando são quebrados os obstáculos que há um
encontro.

 Não pode ser realizada exclusivamente por mim, mas também não pode
ser efetiva sem mim, o eu realiza na relação com o tu, é tornando eu
que digo tu.

 É uma elação de reciprocidade, o tu atua sobre mim assim como eu


atuo sobre ele.

 As impressões e emoções elementares que despertam o espírito do


“homem natural” são derivadas de fenómenos de relação, vivencia
face-face e estado de relação e reciprocidade, características da relação
eu-tu.

A relação eu-tu, é vivida no presente quando se está face-face que se realiza


através do encontro.
• Eu-Isso (pode ser substituído o isso por ele ou ela): caracteriza-se pela
experiência, utilização, a objetivação, relações laborais, trabalho ou instituições
(ex: estado ou economia, etc..).
É tudo aquilo que consiste numa relação sujeito-objeto, relação enquadrada
institucionalmente -> é a estrutura mais ou menos ordenada e
aproximadamente correta na qual se desenvolve, com o concurso múltiplo de
cabeças humanas e membros humanos, o curso dos acontecimentos.
Os sentimentos são o "dentro", onde se vive e se descansa das instituições.
Na verdade, a delimitação, entre ambos, está sempre ameaçada, pois os
sentimentos ca- prichosos, penetram, às vezes, nas mais sólidas instituições;
todavia, com um pouco de boa vontade, chega-se sempre a restabelecê-la.
A relação eu-isso estamos no passado, ou seja, enquanto o homem satisfaz as
coisas que experiência e utiliza ele vive no passado e seu instante é privado de
presença porque um objeto não é duração, mas estagnação parada interrupção
desvinculação ausência de presença.

Várias modalidades do isso:


→ eu percebo alguma coisa
→ eu experimento alguma coisa
→ eu quero alguma coisa
→ eu represento alguma coisa
→ eu penso alguma coisa
→ eu sinto alguma coisa
O reino absoluto da causalidade no mundo do Isso não aflige o homem que não está limitado
ao mundo do Isso e que pode sempre evadir-se para o mundo da relação. Aí o Eu e o Tu se
defrontam um com o outro livremente, numa ação recíproca que não está ligada a nenhuma
causalidade e não possui dela o menor matiz: aqui o homem encontra a garantia da liberdade
de seu ser e do Ser. Somente aquele que conhece a relação e a presença do Tu, está apto a
tomar uma decisão. Aquele que toma uma decisão é livre pois se apresenta diante da Face.

Mesmo as instituições da chamada vida pessoal não podem ser renovadas por um livre
sentimento (ainda que não possam ser renovadas sem ele). O matrimônio por exemplo. nunca
se regenerará senão através daquilo que sempre fundamentou o verdadeiro matrimônio: o
fato de que dois seres humanos se revelam o TU um ao outro. É sobre esse fundamento que o
Tu, que não é o EU para nenhum dos dois. edifica o matrimónio, Este é o fato metafisico e
metapsíquico do amor, do qual os sentimentos são apenas acessórios. Aquele que deseja
renovar o matrimônio por outro meio não é essencialmente diferente daquele que quer
abolilo.
Na atitude eu-isso nós temos sentimentos e podemos defini-los, caracterizá-los, senti-
los ou até mesmo estudá-los, mas quando o amor acontece, segundo Burber, diz que
acontece de forma inesperada, entra na nossa vida sem clarificação e antecipação.
->Os sentimentos, nós os possuímos, o amor acontece.
Os sentimentos residem no homem, mas o homem habita e contempla o amor que é
uma força cósmica, ou seja, desligam se das suas próprias confusões e encontram um
Tu no encontro face-face seja ele sábio ou tolo, bonito ou feio, este passa a ser
desprendido, livre e único.
O amor é responsabilidade de um Eu para com um Tu, que pode ajudar, curar, educar
e salvar o tu. O mais ou menos feliz e seguro, ou aquele cuja vida esta encerrada na
vida de um ser amando ou até mesmo aqueles que foram crucificados durante a sua
vida a cruz do mundo tem a possibilidade e a ousadia de amar os homens. O amor
pode ser habitado e completado por todos é uma “igualdade daqueles que amam,
igualdade que não pode consistir em um sentimento qualquer”.
O amor não é apenas o que liga, mas também um sentido essencial da vida
A pessoa que se contenta com o mundo das coisas, em experienciá-lo/ utilizá-lo,
construi uma superestrutura de ideias no qual encontra um refúgio e uma
tranquilidade diante da tentação do nada. Uma humanidade reduzida a um isso não
tem nada em comum com a verdadeira humanidade onde o homem diz
verdadeiramente tu.
A ficção por mais nobre que seja, não passa de um fetiche: o mais sublime modo de
pensar, se for fictício, é um vicio.
Se o homem permitir, o mundo do ISSO, no seu continuo crescimento, o invade e seu
próprio Eu perde a sua atualidade, até que o pesadelo sobre ele e o fantasma no seu
interior sussurram um ao outro confessando sua perdição.
Muitas vezes os nossos tu, aqueles que estabelecemos como nossos tu, também se
transformam os nossos isso.
Há uma alternância entre tu e isso, mesmo as pessoas que mais amamos e
relacionamos intensamente, que muitas vezes pensamos que estamos seguros no
domínio da relação eu-tu grande parte do tempo transforma-se em eles ou elas, ou
seja, modalidades do isso entre muitos eles ou elas.
As nossas relações por muitas intensas que sejam estão condenadas a converterem-se
em elas ou eles no mundo entre outros seres, mas se em determinado momento
aconteceu o encontro pode ser sempre ativado e vivido de forma intensa e voltar a
dimensão eu-tu. Isso acontece praticamente com todos os seres.
Muitos dos nossos objetos podem converter-se em nossos tu, os nosso ele transforma-
se em isso e os tu em isso se houver uma abertura.
Se reduzirmos tudo a relação eu-isso, usávamos as pessoas como coisas para o nosso
serviço e transforma nos numa coisa ou ate mesmo num demónio. Se reduzirmos tudo
a coisas também nos perdemos e deixamos de ser humanos e transformamos numa
espécies de demónios.
Para muitos aspetos da nossa vida o eu-isso será fundamental, por ex.: a nível de
conhecimento- conhecer, experienciar ou caracterizar o isso, mas devemos ter o
cuidado de não reduzir a nossa vida a dimensão ou atitude eu-isso, manter uma aberta
a possibilidade de outro tipo de relação, uma relação com mais sentido e que pode dar
sentido a nossa existência- atitude eu-tu.
Para Burber, é importante manter a dualidade das atitudes possíveis, não há aqui uma
oposição uma contradição entre as duas palavras princípios ou atitudes, porque nós,
seres humanos, enquanto estamos vivos podemos abrimo-nos para viver a relação eu-
tu e experimentar a relação eu-isso.
O objetivo é articular e complementar as duas atitudes.
Logo, Burber mostra-se bastante critico em relação a reduzir a vida humana a atitude
eu-isso.
Podemos ver que o Eu do homem também é duplo, porque o Eu da atitude eu-tu é
diferente do eu-isso.
A palavras princípios não exprimem algo que pudesse existir fora delas, mas uma vez
proferidas, pelo ser, elas fundamentam uma existência. -> As palavras princípios são
proferidas pelo ser, ou seja, afetam um plano do nosso próprio ser e nos próprios
somos diferentes daquilo que chamamos eu consoante a atitude, palavra princípio,
esta num determinado momento ativar/ exprimir.
Eu não sou o mesmo na atitude eu-tu e eu-isso, há uma dualidade de atitudes.

• Se se diz ele profere-se também o eu da palavra princípio eu-tu


• Se se diz isso profere-se também o eu da palavra princípio eu-isso
Porem, a pp eu-tu pode ser proferida pelo so ser na sua totalidade, porque eu estou
totalmente envolvido/empenhado na relação, mas o mesmo não acontece com a pp
eu-isso, nunca pode ser proferida na sua totalidade.

→ Porque que isto acontece? Porque não sou eu que estou totalmente integrado
na relação, existe uma parte, especialização minha, que esta empenhada nessa
relação, eu-isso, profissional com estado, com economia…. Estamos a
estabelecer uma relação sujeito-objeto, é uma dimensão com uma capacidade
nossa, não é o nosso ser integral.
“Não eu em si”, o eu depende da atitude/relação em que nos situamos (eu-tu ou eu-
isso), o “eu” vai mudando conforme o tipo de relação que eu consigo estabelecer.

Em termos filosóficos…
Há uma relação filosófica, do eu, identidade, que seria uma substância.
Quem sou eu que sei que existo? Sou uma coisa pensante, o único
essencial a minha identidade é o meu pensamento que pode ser
extraído.
Para o autor nós não somos coisas, o ser humano não é uma coisa entre coisas, ele faz
se na relação com outros seres humanos.
Não é uma substância que permanece estável, sempre igual a si mesmo, pelo contrário
há relações que são dinâmicas e flexíveis, variáveis.
Nós somos seres em construção desde que nascemos, e a relação começa no ventre da
mãe e depois com outros seres e o universo. É numa fase pré-natal das crianças, onde
há um puro vinculo natural, que elas retém a informação mais completa sobre uma
relação temporal de duas palavras princípios. Chega a um determinado momento que
a criança substitui o prazo natural pela ligação espiritual, a relação. Ela vai se desligar
do vínculo com a mãe, e construir a sua realidade, mas objetos apresentados a ela
devem ser conquistados através do esforço porque nada faz parte da experiência nada
se revela sem ser pela força na reciprocidade do face-face.
Primeiro estabelecemos uma relação eu-tu, uma vez que este tu é inato e atua desde
cedo porque há uma necessidade de contacto e ele expressa se cada vez mais quando
há reciprocidade e ternura e depois surge o instinto de autor - instinto de produzir por
síntese, analise e separação, ou seja o diálogo- personificação das coisas feitas.
A partir do momento que começamos a objetivar passamos a ter uma relação-eu isso

Nós somos seres dinâmicos e não substância, coisas, sempre iguais e idênticas a si
mesma, nos mudamos consoante as atitudes consoante as relações e os diferentes
níveis que conseguimos estabelecer.

Será possível, o ser humano, viver, exclusivamente, da dimensão isso? Do ter de


experimentar, possuir, sentir e conhecer? Será possível, mas impedimos de nos
tornamos verdadeiramente humanos no sentido pleno da palavra, se não nos abrimos
a dimensão do encontro e diálogo.
Aquele que diz tu não tem alguma coisa por algum objeto porque onde há uma coisa
há também outra coisa, cada isso é limitado por outro isso, já o tu não está limitado a
nada - ele apresenta abertura, possibilidade ilimitadas, até inesperadas. Logo quem diz
tu não possui coisa alguma, não possui nada- permanece em relação.
Assim, a vida do ser humano não é apenas isso, apesar de não ser algo mau não
devemos reduzir toda a nossa experiencia a posse das coisas e reduzir os seres
humanos em coisas, usa-los como meios para os nossos fins.- Bruner critica e adverte
severamente este aspeto, diz-nos que pode significar um empobrecimento da nossa
existência.
“O homem experiência o seu mundo”

→ O que isto significa? Ele experiência as coisas de uma relação eu-isso, ele
adquire o saber da natureza e a sua constituição. Mas ele não se aproxima do
mundo somente através da experiência, porém, nada adianta juntar as
experiências externas as internas porque nada será alterado.
O experimentador não participa do mundo porque a experiência se realiza nele
e não entre ele e o mundo, o mundo não toma parte da experiência- ele deixa
se experiência, mas ele nada tem haver com isso, pois, ele nada faz com isso e
nada disso o atinge.

É o caso do amor, que não é passível de definições, acontece, o amor é algo


diferente. Não é um sentimento como os outros é uma forma mais elevada de
relação. Os outros sentimentos podem fazer parte do eu-isso, pois podemos
classificar e sentir isto ou aquilo.

• O mundo como experiência diz respeito a pp eu-isso


• A pp eu-isso fundamenta o mundo da relação

O mundo da relação acontece em 3 esferas, 3 grandes áreas, da relação eu-tu e eu-


isso:

→ 1º esfera: o mundo ou a vida com a natureza- a relação com a natureza,


animais e plantas, a relação realiza numa penumbra aquém da linguagem. As
criaturas morrem diante de nós e não conseguimos estabelecer uma relação
através da linguagem, a natureza, em geral, não nos responde. Porém, isso não
invalida a possibilidade de relação.

→ 2 esfera: vida com homens- seres humanos. Relação manifesta e explicita,


podemos expressar e saber o tu, chamo uma pessoa de tu e ela também nos
chama de tu. Podemo-nos dirigir, através da linguagem, as outras pessoas, a
linguagem não é apenas uma ferramenta ou instrumento, a verdadeira
essência da linguagem é a relação. Nós pertencemos a linguagem como
pertencemos a relação.

→ 3 esfera: relação com seres espirituais- revela-se silenciosa ainda que envolva
linguagem (orações), mesmo que não respondam ao mesmo nível.
Mas como podemos incluir o inefável no reino das palavras-principio?
*Inefável- aquilo que não pode ser dito através da linguagem, que não se consegue
exprimir, uma experiencia que não pode ser traduzida por palavras mas não deixa
de ser uma possibilidade de relação.
Em cada uma das esferas, graças a tudo aquilo que se nos torna presente, nós
reslumbramos a orla do Tu eterno, nós sentimos em cada Tu um sopro provindo
dele, nós o invocamos à maneira própria de cada esfera.
Neste texto o autor fala “Eu considero uma árvore”, sobre conhecer a árvore
quanto a sua espécie, tipo de folha, tipo de raiz, entre outros aspetos captados
pela nossa perceção. Mas nada impede que haja a passagem da relação eu-isso
para a relação eu-tu, quando há um domínio sobre o tema, sobre a árvore.
Essa relação eu-tu muitas vezes não pode ser premeditada, acontece como uma
surpresa, de forma inesperada, é aquela que é mais intensa a relação com outros
seres humanos de amor ou relação com a natureza ( ex. a arvore), relação eu-tu de
encontro.
Nada impede que numa relação eu-isso haja uma relação eu-tu, dupla atitude e
não dualismo porque implicaria duas coisas oposta
Se a minha vida enriquecida, alterada, pela relação com natureza (animais, plantas,
etc..) eu posso dedicar um cuidado a esses animais e plantas. Logo; Bruber admite
a relação com a natureza em geral mostrando-se um precursor de atitudes
ecológicas.

História da espécie…
Na génese de civilizações encontra se um estado de primitividade que iniciam com
um pequeno mundo de objetos. Não é a vida da espécie, mas de cada civilização
que corresponde a vida do individuo.
Se observamos as civilizações isoladas recebem influencia de outras civilizações
que adotaram o seu mundo do isso em um estado bem determinado, intermedio
entre o seu estado primitivo e o seu estado pleno desenvolvimento pode ser
assimilação direta de civilizações contemporâneas como Grécia e Egipto ou indireta
de civilizações passadas que é o caso cristandade medieval, herdeira da civilização
grega.
Assim, ampliam o mundo do isso não so pela sua experiência como pelas
experiências dos outros.
O mundo isso de uma civilização é mais extenso do que a anterior a ela e isso
reflete-se num aumento progressivo do mundo ISSO ao longo da história
O contacto original do homem com o mundo do isso implica a experiência, com
persistência que constitui este mundo e a utilização que o conduz aos seus
múltiplos fins, visando conservar facilitar e equipar a vida humana A medida que o
mundo do isso progride também a capacidade de experimentar e utilizar também
deve progredir.
O individuo pode substituir a experiência direta pela indireta ou pela aquisição de
conhecimento, ele pode reduzir cada vez mais a utilização transformando-a em
aplicação especializada, é indispensável que essa capacidade se desenvolva de
geração em geração.
O aperfeiçoamento da função de experimentação e de utilização realiza-se,
geralmente, no homem em detrimento de seu poder de relação.
Mas isso não é assim; a verdadeira comunidade não nasce do fato de que as
pessoas têm sentimentos umas para com as outras (embora ela não possa, na
verdade, nascer sem isso), ela nasce de duas coisas: de estarem todos em relação
viva e mútua com um centro vivo e de estarem unidos uns aos outros em uma
relação viva e recíproca.
A segunda resulta da primeira: porém não é dada imediatamente com a primeira.
A relação viva e recíproca implica sentimentos, mas não provém deles.
A comunidade edifica-se sobre a relação viva e reciproca, todavia o verdadeiro
construtor é o centro ativo e vivo.

Não há a experiência do eu…


Este EU surge dos eventos primordiais, onde a palavra-principio eu-tu prenuncia de
forma natural sem conhecer o eu e a pp eu-isso torna-se possível através do
conhecimento do eu e separação do mesmo. PP eu-tu, nãp provem de algo que se
colou uma a outa, justapôs, é anterior ao eu já pp eu-isso é posterior ao eu e provem
de uma justaposição.
Como o eu surge? Ele surge do mundo dual onde o homem sente a emoção cósmica
do eu sem o ter conhecido,
So no momento que o deu da relação se poe em evidencia e torna-se existente na sua
separação ele se diferencia do seu meio ambiente e se torna o Eu egocêntrico. E so
assim nasce o ato consciente do eu e assim de experiência a palavra eu-isso, isto é algo
primitivo não é uma relação homem eu mas sim uma relação eu-isso.

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