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ELETROBRÁS IAB RJ
Centrais Elétricas Brasileiras S.A. Instituto de Arquitetos do Brasil
Departamento Rio de Janeiro
Presidente
José Antônio Muniz Lopes Presidente
Diretor de Tecnologia Dayse Góis
Ubirajara Rocha Meira Vice-Presidente e Diretor Financeiro
Armando Mendes
ELETROBRÁS PROCEL Diretora Administrativa
Programa Nacional de Conservação de Adriana Larangeira
Energia Elétrica Diretor de Comissões
Marco Leão Gelman
Departamento de Projetos de Eficiência Energética
Diretor Cultural e Social
Fernando Pinto Dias Perrone
Oswaldo Nazareth
Divisão de Eficiência Energética em Edificações
Solange Nogueira Puente Santos
Equipe Técnica
Anselmo Machado Borba
Frederico Guilherme Souto Maior de Castro
José Luiz Grunewald Miglievich Leduc
Patricia Zofoli Dorna
Rodrigo da Costa Casella

Ficha catalográfica

c129 IAB RJ

Caderno de boas práticas em arquitetura : eficiência energética nas edificações :


Edificações Multifamiliares. - Rio de Janeiro : ELETROBRÁS : IAB, Departamento do Rio de Janeiro, 2008.

28.p.: il. (algumas col.) ; 21,0 x 29,7 cm. – (caderno de boas práticas em arquitetura : v.6)

Inclui Bibliografia
Publicado em co-edição com a RJ Planejamento Integrado Ltda.

ISBN 978-85-87083-13-5

1. Arquitetura e conservação de energia. 2. Energia elétrica e Conforto Ambiental. I.


ELETROBRÁS. II. Instituto de Arquitetos do Brasil, Departamento do Rio de Janeiro. III.
Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Brasil) IV. Série

CDD 720.472
2 Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética
SUMÁRIO
03 Apresentação Diretoria da Eletrobrás
04 Editorial Presidente do IAB
05 Reportagem Jornalista Matilde Silveira
Eficiência energética nas edificações multifamiliares engatinha no país
09 Documento Arquiteta Helga Santos da Silva
Do conforto ambiental ao desenvolvimento humano: os conceitos presentes no projeto do Conjunto Pedregulho
12 Artigo Arquiteto Carlos Murdoch e Arquiteta Adriana Figueiredo
BedZED
16 Boas Práticas Arquiteta Vera Hazan
Do conforto ambiental à eficiência energética nas habitações multifamiliares brasileiras contemporânea
22 Legislação Arquiteto Mauro Almada
Conforto ambiental e legislação edílica
24 Pesquisa Arquiteto Marcelo Meiriño
Projeto Arquitetônico deve incorporar elementos de eficiência energética
26 Dicas
27 Créditos

APRESENTAÇÃO
É com grande satisfação que a Eletrobrás, por meio do Procel Edifica, se une ao Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) para a
publicação deste “Caderno de Boas Práticas em Arquitetura”. A busca de soluções arquitetônicas sustentáveis é objeto do cuidado
da empresa há mais de 20 anos. As edificações são, atualmente, responsáveis por quase metade da energia elétrica gasta em
nosso país, sobretudo em decorrência da utilização de sistemas artificiais de iluminação e climatização. Não se pode, portanto,
desconsiderar esse importante segmento ao se investir na racionalização de energia – caminho mais seguro para o futuro energético
do país.
O desenvolvimento tecnológico, ao longo da história, tem permitido ao homem vencer inúmeras limitações impostas pela natureza.
Na arquitetura, a modernização se reflete em soluções nas quais os recursos técnicos substituem cada vez mais os elementos
naturais. Crescem o conforto e a independência das edificações em relação ao ambiente externo, mas também a demanda por
energia elétrica.
No Brasil, o incremento das estruturas para geração, transmissão e distribuição de energia se acentuou entre as décadas de 1950
e 1960, como reflexo da demanda gerada pelo desenvolvimento industrial e o crescimento urbano. Nessa época, também marcada
pela criação da Eletrobrás, o modelo de planejamento ainda trabalhava com a idéia de uma oferta sempre superior à demanda,
assegurando confiabilidade no suprimento. Não havia preocupação com os desperdícios, nem tampouco conhecimento sobre o
modo como a sociedade utilizava essa energia.
A história mostrou, no entanto, que a construção de grandes empreendimentos geradores de energia exige altos investimentos,
além de produzir impactos significativos no meio ambiente. No caso do modelo brasileiro, apoiado essencialmente em hidrelétricas,
as conseqüências incluem alagamento de áreas produtivas e necessidade de deslocamento de comunidades inteiras. O desenvol-
vimento da consciência sobre os limites dos recursos naturais e financeiros transformou a racionalização em palavra-chave.
Para investir nessa idéia, foi criado, em 1985, o Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel), com propostas de
ações para incentivar o uso eficiente da energia. A enorme representatividade do segmento de edificações no perfil do consumo
brasileiro, por sua vez, motivou a criação do Procel Edifica – Eficiência Energética nas Edificações, que vem ampliando e direcionando
as ações da Eletrobrás em prol da racionalização do uso da energia e do aproveitamento dos recursos naturais nas edificações.
Por meio do Procel Edifica, a Eletrobrás investe nos requisitos básicos para uma arquitetura mais integrada ao meio ambiente e aos
recursos naturais, desenvolvendo indicadores de eficiência energética, certificação de materiais e equipamentos, procedimentos
para regulamentação e projetos educacionais.
Disseminar boas práticas para soluções arquitetônicas sustentáveis é uma ação que vai ao encontro dos grandes ideais da empre-
sa. A Eletrobrás acredita no aprendizado e na consciência como caminhos para o crescimento sustentável do país. E acredita,
sobretudo, na capacidade humana de promover soluções que aliem o desenvolvimento tecnológico ao aproveitamento dos recur-
sos ambientais na construção de um futuro limpo.
Diretoria da Eletrobrás

Edificações Multifamiliares 3
EDITORIAL
Prezado(a) Leitor(a),
Você, arquiteto(a), estudante ou estudioso(a) do tema, que tem acompanhado a série Cadernos de Boas Práticas em Arquitetura -
Eficiência Energética nas Edificações, fruto da parceria entre o IAB RJ e a Eletrobrás, vai perceber que este volume apresenta um
partido editorial mais dinâmico, organizado a partir de colunas independentes, nos moldes de uma revista técnica. A mudança se
deu em função do amadurecimento da proposta editorial que, reconhecendo a grande heterogeneidade da produção acadêmica e
tecnológica, optou por abandonar uma seqüência linear, assumindo uma abordagem mais plural e diversificada, com o objetivo de
sensibilizar profissionais e estudantes para a questão do consumo de energia nas edificações, através de um leque maior de
perspectivas.
O mesmo amadurecimento nos permitiu identificar algumas lacunas na formação e na prática profissional de arquitetos e urbanis-
tas, que precisam ser revistas, a fim de enfrentarmos os desafios da sustentabilidade do ambiente construído. A elaboração dos
diversos cadernos desta série nos levou à percepção da existência de um hiato entre a produção de conhecimento científico e
acadêmico e sua aplicação, tanto na concepção dos projetos arquitetônicos, como no próprio processo construtivo das edificações.
A cultura de avaliação pós ocupação acerca do desempenho de consumo de energia das edificações, por exemplo, ainda não está
sedimentada como um procedimento padrão usual.
Isso significa dizer que apesar da preocupação com a racionalização do consumo de energia já estar presente nas agendas
governamental e acadêmica há mais de 15 anos, ela ainda é incorporada de maneira assimétrica pelos profissionais de arquitetura,
e apenas esporadicamente considerada, por empreendedores e/ou clientes, ou seja, aqueles que demandam e definem as diretri-
zes de custo e de economicidade das edificações. Ao mesmo tempo, percebe-se que alguns setores da economia, mais diretamen-
te afetados pelos gastos com energia, já estão convertendo esta preocupação em maior rigor com as exigências para a fase projeto
de suas edificações, demonstrando o papel fundamental que usuário final desempenha no processo de alteração deste paradigma.
Consultando importantes agentes do setor da construção civil residencial, em âmbito nacional, chegamos à conclusão que enquan-
to o consumidor final - o adquirente da unidade residencial - não privilegiar este aspecto na compra do seu imóvel, o mercado não
responderá a este quesito como prioridade.
Este fato aponta para a necessidade de ações mais incisivas de conscientização da população e de regulamentação do setor, como
estratégias combinadas para a efetiva superação deste descompasso, em prol de uma arquitetura eco-eficiente do século XXI.
Em relação especificamente às características do projeto residencial multifamiliar contemporâneo, não podemos deixar de refletir
sobre algumas modificações que se processaram no interior do espaço da moradia, ao longo das últimas décadas, resultando na
incorporação de novas funções.
A consagração da tipologia multifamiliar nas metrópoles brasileiras, como alternativa de viabilização dos altos custos da terra na
disputa pela acessibilidade à infra-estrutura urbana, equipamentos públicos e amenidades, traz consigo alguns custos de energia
inerentes à verticalização, como a necessidade de elevadores e de sistema de bombeamento de água e, outros inerentes à
ampliação do programa de necessidades das áreas de uso comum, geralmente associados à oferta de equipamentos condominiais
de esporte e laser.
Sem discutir a contribuição que estas atividades trazem para a qualidade de vida dos seus moradores, cabe registrar apenas, que
o seu custo manutenção - que inclui os gastos com energia -, muitas vezes se constitui no tormento do orçamento familiar da classe
média.
Mas não foram apenas os espaços externos à residência os que sofreram alterações. Com as modificações na estrutura produtiva
do trabalho, a disseminação da internet e os adventos da globalização das comunicações, a família também adquire hábitos que
resultam no aumento da conta de luz do fim do mês. Se por um lado a incorporação da mulher ao mercado de trabalho, como
fenômeno social, resulta quase que na “casa vazia” durante a maior parte dos dias úteis da semana, por outro, o uso da residência
como alternativa de local de trabalho, a disseminação de computadores e aparelhos de televisão per capita familiar, associados à
realização de atividades em horários noturnos passam a se conformar num novo modus vivendis da família brasileira que interfere
no “programa de gestão de energia domiciliar”.
Somando-se a isso, a edificação está sujeita a condicionantes ambientais e climáticos inerentes a cada região e cada sítio, bem
como aos condicionantes da legislação urbanística e edilícia, que pode ter papel decisivo no consumo final de energia da edificação.
Estas breves considerações nos auxiliam a deixar claro que não existem receitas de bolo. Cada caso é um caso, cada projeto um
projeto, cada sítio um sítio. Não existem fórmulas, mas sim diretrizes, parâmetros e instrumentais colocados a serviço de um novo
desafio.
A diversidade climática existente no território brasileiro aliada à cultural sugere que este esforço deve caminhar na busca de
respostas cada vez mais contextualizadas e de uma arquitetura contemporânea com identidade regional.
Dayse Góis
Presidente IAB RJ

4 Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética


Reportagem

EFICIÊNCIA ENERGÉTICA NAS EDIFICAÇÕES


MULTIFAMILIARES ENGATINHA NO PAÍS
Matilde Silveira
Jornalista

1 - Metrópole iluminada

A preocupação com os aspectos de efi- José Romariz Filho, Diretor de Desenvol- ponsável pela certificação de edificações
ciência energética nos projetos de arqui- vimento de Novos Negócios da TRANE ambientalmente sustentáveis. “Esses sis-
tetura de edificações multifamiliares está do Brasil, tem percebido uma preocupa- temas, que existem em diversos países,
apenas engatinhando no país, pois ain- ção maior de arquitetos e engenheiros são excelentes ferramentas ao definir um
da não há, por parte da população, cons- em criar projetos mais focados em efici- roteiro para construir um empreendimen-
ciência dos benefícios que um empreen- ência energética, mas diz que “ainda há to tão eficiente quanto o definido pelos
dimento sustentável pode representar em um longo caminho a percorrer, objeti- proprietários e permitido pela tecnologia
ganhos não só ambientais como econô- vando o projeto integrado, onde os pro- atual”, explica Romariz, palestrante no IV
micos. No Brasil, a situação pode come- fissionais de sistemas trabalhem junto Clima Rio – Fórum de Climatização, Re-
çar a mudar, quando entrar em vigor a com os arquitetos”. Dessa forma, acres- frigeração e Energia Alternativa, realiza-
Regulamentação da Lei de Eficiência centa, a eficiência do empreendimento do entre 11 e 13 de junho de 2008 no Rio
Energética, no que tange ao desempe- será maximizada já em sua concepção, de Janeiro.
nho das edificações residenciais, elabo- “auxiliada por sistemas de certificação,
rada no âmbito do Procel Edifica, Pro- como o LEED”. O Leadership in Energy O manual de arquitetura preparado pela
grama Nacional em Eficiência Energética and Environmental Design é um selo cri- TRANE, que é especializada em forneci-
nas Edificações, instituído em 2003 pela ado pelo Green Building Council, organi- mento de sistemas de climatização para
Eletrobrás / Procel. zação americana fundada em 1993 e res- ambientes residenciais, comerciais e in-

Edificações Multifamiliares 5
dustriais, indica uma série de providên- também está desenvolvendo metodolo- ao longo de 50 anos os gastos com a
cias simples que podem reduzir conside- gias de gestão, implantação e avaliação operação de um edifício podem represen-
ravelmente as cargas térmicas da estru- de empreendimentos de construção sus- tar até quatro vezes o investimento em-
tura das construções. Em uma simula- tentável, com a participação da acade- pregado na construção, segundo dados
ção de um projeto de um edifício de 20 mia, de entidades da sociedade civil, do do Green Building Council.
andares, pé direito de 2,5 m, altura do mercado e de órgãos públicos, buscan-
plenum de 50 cm, 66% da fachada em do tornar a construção civil mais susten- Para o Engenheiro Mecânico e Profes-
vidro e garagem não condicionada foram tável, com menos consumo de energia, sor do Instituto Militar de Engenharia
sugeridas modificações arquitetônicas, de água e menor impacto ambiental. O (IME), Edison Tito Guimarães, a constru-
tais como: pintura da fachada em cores professor lembra que a indústria da cons- ção de edifícios residenciais com efici-
claras; isolamento com a utilização de 25 trução é um dos setores mais importan- ência energética no Brasil está apenas
mm de Styrofoam em paredes externas, tes da economia mundial, com 10% so- começando. “Já os projetos comerciais
telhado e piso do pavimento térreo; rota- bre o total de investimentos, mas respon- não, pois vários empreendedores bus-
ção do prédio ou, pelo menos, uso da sável por 50% das emissões de CO2, com cam a certificação porque sabem que
ventilação natural; redução da área envi- os edifícios representando 40% do con- uma boa classificação melhora o nível de
draçada; uso de persianas e cortinas em sumo de energia mundial, 16% da água locação e venda do imóvel”, explica Gui-
cores claras; uso de vidros reflexivos e potável e 25% da madeira das florestas. marães, que desde 1985 pesquisa o
de brise soleil. tema, quando se tornou representante,
Se, por um lado, a indústria da constru- por cinco anos, da Abrava (Associação
Antes das intervenções simuladas, o in- ção civil é responsável pela geração de Brasileira de Refrigeração, Ar-condicio-
vólucro representava 47,45% da carga milhões de empregos e bem-estar para nado, Ventilação e Aquecimento) no
térmica total do edifício, as luzes partici- a população, por outro, ainda são des- Procel.
pavam com 20,5%, o ar externo com considerados os impactos negativos des-
14,5%, as pessoas com 12,8% e outros te setor da economia. A falta de cons- Eficiência
itens menos significativos com 4,8%. To- cientização a respeito do impacto dessa
das as alterações somadas trouxeram à indústria é tão grande que não há deman- A eficiência energética nas edificações
simulação uma redução da carga térmi- da por parte dos compradores por imó- multifamiliares pode ser obtida com alte-
ca de 939,2 TRs para 548,2 TRs, fican- veis em prédios residenciais sustentá- rações arquitetônicas, mas também com
do as luzes com 35,1% de participação veis, segundo a Brasil Brokers, que con- medidas como a substituição de eletro-
na carga térmica total da construção, o grega vinte e três imobiliárias nas cinco domésticos considerados vilões em con-
ar externo com 27,9%, as pessoas com regiões do país, totalizando 6.200 corre- sumo energético, analisa o professor do
22,0%, o invólucro com apenas 11,8% e tores em 680 pontos de vendas. A avali- IME. “O chuveiro elétrico, por exemplo,
outros itens com 3,3% do total, o que de- ação é de que é desprezível o número deveria ter sua fabricação proibida, pois
monstra a importância de um bom proje- de empreendimentos que possam ser de- utiliza energia de forma irresponsável. Há
to arquitetônico para a redução do con- nominados assim. O que o potencial com- formas mais eficientes de gerar água
sumo de energia. prador de um apartamento ignora é que quente, como a bomba de calor, objeto

Etiquetagem

O Professor Titular da Universidade de


Santa Catarina e Coordenador do Labo-
ratório de Eficiência Energética nas
Edificações, Roberto Lamberts, conta
que o grupo de trabalho do Procel Edifica
discute atualmente a regulamentação
para etiquetagem de edificações residen-
ciais, que engloba envoltória, sistemas
de ar condicionado, aquecimento de
água, iluminação e equipamentos, e que
tem como base a que vigora desde o ano
passado para edificações comerciais.
“Até o fim do ano a regulamentação deve
estar pronta. Inicialmente, a adesão será
voluntária, mas após 5 anos pode se tor-
nar obrigatória”, antecipa.

Lamberts acrescenta que o Conselho


Brasileiro de Construção Sustentável 2 - Vista da cidade de Porto Alegre

6 Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética


no Brasil elas atingem apenas uma pe-
quena parte do universo da construção
civil. “São necessárias políticas públicas
mais amplas para lidar com o setor, que
precisa evoluir mais rapidamente. É fun-
damental colocar à disposição de todos,
de forma aberta, uma metodologia que
abranja todas as etapas de um projeto
sustentável. Há muitas opções: a ameri-
cana, a inglesa (com 60 mil prédios cer-
tificados), a francesa etc., mas todas têm
um custo alto de implantação. Quando
se disponibilizar no país uma metodologia
aberta, será mais facil a assimilação da
regulamentação por todos”, revela.

A metodologia LEED aportou no Brasil


em julho de 2007 e desde então certifi-
cou 60 projetos, espalhados por São Pau-
lo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio
Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina
3 - Vista da cidade do Recife e Distrito Federal, dos quais 30% resi-
denciais. O Diretor Executivo do Green
Building Council Brasil, Engenheiro Nel-
de estudo da Universidade de São Pau- na internet, são destinados a automatizar son Kawakami, conta que apesar de o
lo (USP) durante mais de dez anos, que o processo de aprovação de edificações movimento ter começado em 1993, foi
faria o país economizar bilhões de reais, em função da legislação energética vi- somente a partir de 2000 que ganhou
pois consome um quinto da energia do gente, permitindo a arquitetos e enge- mais força, com o boom imobiliário ame-
chuveiro elétrico e já é usada por muitas nheiros a rápida avaliação do prédio, tan- ricano e, mais recentemente, com a apro-
academias de ginástica para o aqueci- to para o sistema de ar-condicionado vação do Protocolo de Kyoto. “Embora o
mento de piscinas”, revela. A bomba de quanto para a iluminação, envelope cons- governo americano não tenha assinado
calor ou bomba térmica é um sistema trutivo etc. Os certificados são automati- o documento, alguns estados aderiram
que, por meio de um ciclo termodinâmico, camente emitidos pelos programas”, às boas práticas e sentiram a necessi-
troca calor de uma fonte à baixa tempe- acrescenta Guimarães. dade da certificação”, explica.
ratura e torna essa energia disponível a
uma temperatura mais alta. O Professor Lamberts considera as clas- Kawakami atribui o predomínio das edifi-
sificações muito positivas, mas frisa que cações comerciais entre os projetos sus-
Em sua apresentação no IV Clima Rio,
Guimarães comentou que na Comunida-
de Européia o Green Book (livro verde),
documento que trata da questão da sus-
tentabilidade no continente, aborda, entre
outros assuntos, a certificação energética
de edificações. “Uma etiqueta, semelhan-
te àquelas empregadas em equipamen-
tos eletrodomésticos, é colocada em um
ponto visível da entrada de edifícios pú-
blicos e comerciais. O prédio recebe uma
classificação de acordo com a sua efici-
ência energética, e qualquer pessoa pode
ver facilmente o custo condominial as-
sociado à energia”, esclarece.

Já nos Estados Unidos, o Department of


Energy possui dois programas de verifi-
cação do desempenho energético, o
COMCheck, para prédios comerciais, e
RESCheck, destinado aos residenciais.
“Os programas, com download gratuito 4 - Vista da cidade de São Paulo

Edificações Multifamiliares 7
tentáveis ao fato de os empreendedores preendimentos. A inteligência está no Ainda pouco representativos, os incorpo-
terem uma visão clara de todos os bene- bom senso e cada lugar tem uma solu- radores de edificações familiares susten-
fícios que uma construção deste tipo traz. ção mais adequada que outra”, critica, táveis só surgiram muito recentemente,
“O incorporador de projetos comerciais mencionando a Lei 14.459 de 3 de julho em iniciativas como o do Escritório de En-
sabe que seu imóvel será mais valoriza- de 2007, aprovada no mesmo mês, que genharia Joel Teitelbaum, fundado em
do se o gasto com condomínio for me- obriga parte das edificações comerciais, 1961 e que construiu em Porto Alegre o
nor, em função da economia propiciada residenciais, industriais e públicas a con- primeiro edifício sob as normas do Green
pela eficiência energética. No caso do terem “instalações de sistemas de aque- Building, o Príncipe de Greenfield, em
construtor de imóveis residenciais multi- cimento de água, por meio de aproveita- 2007, e a do empresário Luiz Fernando
familiares, o empresário acredita que o mento de energia solar”. Lucho do Valle, que idealizou a Ecoesfera
Empreendimentos
Sustentáveis em 2004,
após passar toda a sua
vida profissional traba-
lhando na construção
civil tradicional. Em
2005, a empresa entre-
gou seu primeiro pré-
dio residencial, cons-
truído em São Paulo.
Membro da U.S. Green
Building, a Ecoesfera
atualmente possui em-
preendimentos em São
Paulo, Rio de Janeiro,
Campinas e Ribeirão
Preto, sempre focados
no público de classe
média.

Primeira incorpora-
dora a receber a pré-
certificação para um
edifício residencial da
LEED, entre os itens
ecologicamente corre-
5 - Vista da cidade do Rio de Janeiro tos adotados em seus
projetos estão tempori-
zadores nas torneiras
consumidor não vai querer pagar mais O Sinduscon – SP é o representante da dos banheiros, caixa acoplada no vaso
caro por um projeto sustentável”, diz CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da sanitário, uso de energia solar para o
Kawakami, que vê na conscientização e Construção) no grupo de trabalho que aquecimento da água, aproveitamento da
na educação da sociedade a solução está elaborando a regulamentação para água da chuva, sistema de coleta do óleo
para o problema. as edificações multifamiliares. “Há gran- de cozinha, churrasqueiras que não utili-
des diferenças nos consumos e reco- zam carvão. Além disso, a madeira, de
Solução radical mendações para cada tipo de constru- reflorestamento, é usada apenas nos
ção. As fachadas residenciais são mais acabamentos e o projeto é modulado, o
O Vice-Presidente do Sinduscon – SP,
positivas, pois são pouco comuns os es- que representa economia no uso de ce-
Francisco Antunes de Vasconcellos Neto,
pelhos de vidros nesses projetos; o uso râmicas e tijolos. Os edifícios têm de oito
assinala que pelo fato de o Brasil dispor
dos elevadores e aparelhos de ar-condi- a 16 itens ambientais e cada apartamen-
de uma matriz energética variada é con-
trário a qualquer solução radical, que pas- cionado também diferem muito nos dois to custa entre R$150 mil e R$300 mil.
se à margem de uma discussão mais casos. Hoje, infelizmente, o assunto ain- Segundo a incorporadora, o acréscimo
ampla com a sociedade. “Para Rio Gran- da é pouco discutido, mas quando a ade- ao preço final representa cerca de 2% a
de do Norte, Ceará e Piauí, por exem- são se tornar obrigatória o tema entrará mais que um similar que utiliza métodos
plo, a solução talvez esteja na energia em pauta”, acredita. O que vai puxar essa convencionais da construção civil, en-
eólica. Por isso somos contra a decisão discussão, segundo Vasconcellos Neto, quanto seus concorrentes cobram até
da Prefeitura de São Paulo de obrigar a será a preocupação com o valor do con- 10% acima do preço.
utilização da energia solar nos novos em- domínio.

8 Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética


Documento

DO CONFORTO AMBIENTAL AO DESENVOLVIMENTO


HUMANO: OS CONCEITOS PRESENTES NO PROJETO DO
CONJUNTO PEDREGULHO.
Helga Santos da Silva
Arquiteta e Mestre em Ciências da Arquitetura e pesquisadora do LabHab/PROARQ/FAU/UFRJ

6 - Conjunto Residencial Prefeito Mendes de Moraes, o Pedregulho

Conjunto Residencial Prefeito Mendes Das teses defendidas nos CIAM pode- tissem educação, saúde, lazer e prática
de Moraes, ou Pedregulho – como é co- mos destacar as reunidas na Carta de de esportes deveriam nortear os proje-
nhecido pelos arquitetos, localiza-se no Atenas, produto do IV Encontro. Neste tos de grupos habitacionais. Assim foi
limite dos bairros de São Cristóvão e Ben- documento, encontram-se as críticas às concebido o projeto do Pedregulho, com
fica. O projeto do Conjunto traz em seu cidades de então e as recomendações a preocupação central de fornecer as
bojo uma série de preocupações, no que que deveriam ser seguidas para a for- condições para o pleno desenvolvimen-
concerne à adequação ambiental. Essas mulação de novos projetos de grupos to dos seus moradores (CIAM, 1957).
preocupações remetem às questões for- habitacionais.Estas recomendações ba-
muladas pelos teóricos da Arquitetura seiam-se no fator do efeito do meio – ele- No centro do conjunto, encontram-se a
Moderna, que influenciaram a formação mentos geográficos e topográficos – no escola primária e o centro esportivo, com
e atuação dos idealizadores do projeto desenvolvimento humano. Assim, fatores ginásio, piscina e vestiários. A importân-
do conjunto: o Arquiteto Affonso Eduardo como a orientação, localização e a im- cia dos efeitos da escola no desenvolvi-
Reidy e a Engenheira Carmen Portinho. plantação de equipamentos que permi- mento social é sublinhada nesse projeto

Edificações Multifamiliares 9
Carta de Atenas
O Congresso Internacional de Arquitetura Moderna, o CIAM, ocorreu em Atenas no ano de 1933 quando foram estabelecidos
princípios de uma Carta de Urbanismo. As conclusões do Congresso só foram publicadas com uma formulação mais precisa em
1941, na França.

A Carta é composta de 95 artigos agrupados em 7 capítulos: A cidade e a Região, Habitação, Recreio, Trabalho, Patrimônio
Histórico das Cidades, Conclusões e Pontos de Doutrina.

O capítulo da Habitação contém 21 artigos, nos dois primeiros é apresentado um diagnóstico que ainda hoje é atualizado: “a
população é demasiado densa tanto no interior do núcleo histórico das cidades (contam-se até 1.000 e mesmo 1.500 habitantes
por hectare) como em certas zonas de expansão industrial do século XIX”; no artigo seguinte, continua, “nestes setores urbanos
superpopulosos, as condições de habitação são nefastas, por falta de suficiente espaço à casa, por falta de superfícies verdes
disponíveis, por falta, enfim de conservação dos edifícios (baseada na especulação). Esse estado de cousas é agravado pela
presença de uma população dotada de baixíssimo padrão de vida, incapaz de tomar, por si mesma, medidas defensivas (mor-
talidade que alcança até 20%)”.

O Congresso de Atenas, em 1933, debate e sistematiza as premissas que a arquitetura moderna buscava alcançar para resolver
os graves problemas urbanos que permeiam todo o século XX e se agravam no início do XXI, com aspectos ambientais,
perfeitamente identificados na carta de Atenas, agora alcançando uma escala planetária que pode por em cheque a nossa
existência.

Ainda que para alguns arquitetos seja um documento superado, é útil a leitura da Carta, ela ajuda a compor os elos da história
da arquitetura e das dificuldades enfrentadas pelas cidades desde longa data, demonstrando uma incomoda e permanente
incapacidade de atender as expectativas de seus habitantes.

pela riqueza plástica da solução arquite- Na encosta, com o desenho sinuoso, foi (REIDY, 1948). Painéis de brises soleil
tônica, bem como pela beleza dos pai- implantado o bloco habitacional maior verticais, controlados por uma alavanca
néis presentes nesse complexo. com 272 unidades residenciais. Este blo- protegem o interior da creche e jardim
co conta ainda com um pavimento de uso de infância, localizados no pavimento de
Ainda sob a determinação da promoção comum, acesso principal ao bloco, loca- uso comum. Para o interior dos aparta-
do desenvolvimento humano, foram im- lizado no terceiro andar, que evita a ne- mentos esquadrias de venezianas e vi-
plantados no conjunto outros equipamen- cessidade de elevador, sendo necessá- dro articulados através de guilhotinas, ga-
tos, tais como o posto de saúde, o cen- rio apenas subir três pavimentos ou des- rantiriam o controle da ventilação e inso-
tro de abastecimento e uma lavanderia cer dois para o acesso às residências. lação.
mecanizada que cumpriria dois papéis:
a liberação da mulher para outras ativi- Uma das grandes preocupações presen- Os menores blocos habitacionais, com
dades e a extinção da área de serviço tes na solução do Bloco A residia na sua 28 unidades cada, foram implantados
no interior dos apartamentos (NOBRE, orientação predominante para oeste com as aberturas orientadas para noro-
1999). este. Neste bloco, a solução encontrada
para o controle da insolação no interior
dos apartamentos, todos duplex, foi a
criação de varanda para proteger a sala,
e de esquadrias de veneziana e vidro nos
quartos. Um painel de elementos pré-fa-
bricados localizado na varanda protege
o painel de vidro que separa parte da sala
da varanda. Esta sala recebeu ainda um
trilho para que os moradores pudessem
instalar cortinas.
Nos demais edifícios, também foram em-
pregados elementos de proteção contra
a insolação excessiva. No posto de saú-
de foram projetados brises verticais para
a proteção da varanda externa voltada
para noroeste. No mercado, brises hori-
zontais fazem a proteção da fachada vol-
7 - Implantação do conjunto tada para o nordeste. Na lavanderia, essa

10 Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética


8 e 9 - Fachadas nordeste e sudoeste da escola primária

proteção é feita por uma varanda. Na es- tilado plenamente, pois suas portas late- ao meio. O clima foi um fator determinan-
cola, a fachada voltada para o nordeste rais se abrem completamente permitin- te no projeto, que se pautou por tirar par-
é protegida por cobogós cerâmicos he- do a plena integração com o exterior, com tido de elementos de proteção pré-fabri-
xagonais, enquanto a voltada para o no- a devida proteção solar. cados para efeitos de composição das
roeste por cobogós retangulares dispos- fachadas. Outra orientação presente en-
tos com um ângulo de 45°. Já a fachada Diante do que foi exposto acima fica cla- tre os teóricos modernistas era a preo-
voltada para o sudeste, apresenta gran- ra a identificação dos elementos que ca- cupação com o desenvolvimento huma-
des painéis de vidro de fechamento, ex- racterizam os pressupostos teóricos da no. E essa está presente desde a con-
pondo as salas de aula à claridade per- Arquitetura Moderna, rebatidos no pro- cepção global do conjunto até seus mi-
manente sem o inconveniente da expo- jeto do conjunto do Pedregulho: a preo- nuciosos detalhes.
sição à radiação solar. cupação com a adequação dos edifícios
Referências bibliográficas
No tocante à ventilação natural, obser- REIDY, Affonso Eduardo. Conjunto
va-se a preocupação do arquiteto com a Residencial Pedregulho. In: Revista
ventilação cruzada nos ambientes de to- Municipal de Engenharia. Prefeitura do
Distrito Federal. Secretaria Geral de
dos os edifícios. No posto de saúde e no
Viação e Obras. Volume XV. Janeiro –
mercado, há a possibilidade de ventila- março, 1948 – Número 1. p. 2-6.
ção pela cobertura. Nas moradias, a pró- CONGRESOS INTERNACIONALES
pria solução duplex proporciona a venti- DE ARQUITECTURA MODERNA. La
lação direta de todos os ambientes, sen- Carta de Atenas. Buenos Aires:
do a ventilação da cozinha, e dos banhei- Editorial Contémpora, 1957.
ros, no caso dos conjugados, feita por NOBRE, Ana Luiza. Carmen Portinho:
galerias abertas para o exterior, através o moderno em construção. Rio de
dos cobogós cerâmicos. O ginásio é ven- 10 - Bloco Habitacional Janeiro: Relume Dumará, 1999. 158p.

11 - Abertura superior do ginásio 12 - Porta do ginásio

Edificações Multifamiliares 11
Artigo

BEDZED
Carlos Murdoch
Arquiteto UFRJ, Professor da Universidade Estácio de Sá – Curso de Arquitetura

Adriana Figueiredo
Arquiteta UGF, MA. Sustainability Design – East London University DEGIB, Professora da Universidade
Estácio de Sá – Curso de Arquitetura

13 - BedZED, um novo conceito do moradia


O BedZED, ou Beddington Zero (Fossil) empreendimento construído no Reino demandou em todas as etapas desde o
Energy Development, é um empreendi- Unido com a intenção de neutralizar as início de sua construção. A isso se dá o
mento de uso misto construído em emissões de carbono na construção, nome de energia incorporada (embodied
Surrey, sul de Londres, em 2002. A inici- manutenção e no uso dos edifícios. energy). O projeto arquitetônico do
ativa partiu da Peabody Trust, maior as- BedZED teve que ir fundo na avaliação
sociação habitacional de Londres, que O grande interesse que ronda o BedZED de todo o ciclo de vida (lifecycle asses-
contou com o apoio da BioRegional é que, além de ter oferecido uma arqui- sment) dos edifícios, uma vez que a es-
Development Group (organização tetura fora dos padrões habituais, o “con- colha de materiais e sistemas também
ambiental independente) e contratou o domínio” ainda vendia a idéia de mudan- deveriam vir ao encontro da idéia de sus-
projeto arquitetônico do escritório Bill ça de estilo de vida, uma importante tentabilidade. A forma de produção, o
Dunster Architects (www.zedfactory. questão quando se fala em sustenta- transporte e posterior uso de materiais e
com). bilidade. equipamentos deveriam tender a zero em
suas emissões de carbono.
Construção
Considerando que os edifícios são res-
ponsáveis por algo em torno de 50% das A arquitetura sustentável deve não só Além dos materiais escolhidos serem de
emissões de carbono mundiais, o prever o impacto dos edifícios em seu baixo impacto ambiental em sua produ-
BedZED ficou famoso por ser o primeiro uso, mas também na energia que ele ção, eram usados em estado natural,

12 Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética


chamado Bed “HED” (High Energy
Development), constituído de casas tra-
dicionais com alto consumo de energia.
Aquecimento e ventilação
Os sistemas de abastecimento de água,
eletricidade e aquecimento do BedZED
foram cuidadosamente estudados de
modo a tornarem-se independentes do
grid1, ou seja, serem autônomos ao má-
ximo, produzindo toda a energia a ser
consumida.

O primeiro passo foi projetar as unida-


des de forma a consumirem menos ener-
14 - Um novo estilo de vida gia. Para diminuir o consumo com aque-
cimento, foi projetado um sistema passi-
reaproveitados e reciclados, sempre que
possível, todos os insumos procederam
de uma distância de até, aproximada-
mente, 50 Km do local de construção, di-
minuindo seu impacto ambiental. Toda a
madeira utilizada no projeto proveio de
fontes sustentáveis, endossadas pelo
FSC (Forest Stewardship Council) ou de
outra organização ambiental reconheci-
da internacionalmente (LAZARUS, 2003
– p. 1).

Dessa forma, o gasto de energia na ma-


nipulação das matérias-primas e no
transporte foi radicalmente minimizado,
bem como suas emissões de carbono,
se comparado às construções tradicio-
nais.

Costuma-se dizer que o BedZED está


rodeado em sua vizinhança imediata pelo 15 - Esquema de fluxo dos ventos

vo de captação de calor. Os sistemas


passivos são aqueles que aproveitam ao
máximo as condições naturais para su-
prir as necessidades do edifício.

Nesse caso, as fachadas voltadas para


o sul (no hemisfério norte, a fachada de
maior insolação ao longo do dia) foram
guarnecidas com varandas fechadas em
vidro, tornando-as verdadeiras estufas
armazenadoras de calor. O calor concen-
trado nas varandas funciona como um
colchão de proteção para as paredes in-
ternas, tornando mais amena a tempe-
ratura dos interiores.

Para os dias de calor, há também um sis-


tema passivo de ventilação: as janelas
16- Os “capuzes” coloridos instalados nas coberturas das salas e cozinhas, quando abertas,

Edificações Multifamiliares 13
permitem a ventilação cruzada da casa, fluxo, apenas 4 l de água, o que significa fera, é conduzido para o sistema de aque-
evitando o uso de ventilação mecânica. uma economia anual de 11 mil litros por cimento do ciclo fechado (NICHOLLS,
pessoa 2007).
Os elementos coloridos instalados nas
coberturas dos blocos dão identidade ao Energia Além de uma unidade de CHP há ainda
conjunto, mas estão longe de serem ape- um sistema de aproximadamente 800m2
nas elementos decorativos. São chama- A principal meta do empreendimento era de células fotovoltaicas posicionadas nos
dos de cowl (capuz) e têm a finalidade a de que toda energia consumida deve- edifícios (em coberturas, fachadas e vi-
de proporcionar também um sistema de ria ser gerada localmente, por fontes de dros), que complementam a produção de
ventilação passivo. O funcionamento é o eletricidade para o conjunto.
seguinte: o “capuz” é direcionado pelo
vento, funcionando como um leme para Transporte
o sistema e, então quando o vento muda
de posição, o tubo maior é automatica- A preocupação com a redução da pega-
mente posicionado para a sua captação, da ecológica de cada morador passou
levando ar fresco para o interior das uni- pela questão do deslocamento. A inclu-
dades; enquanto o tubo menor, do lado são de espaços de trabalho em meio às
oposto, leva o ar quente para cima, ex- unidades habitacionais já vislumbrava a
pelindo-o para fora. possibilidade de tender a zero o deslo-
camento de algumas pessoas que pode-
Água riam trabalhar a uma distância de cami-
nhada de casa.
Todos os terraços das unidades recebe-
ram cobertura verde, com a finalidade de 17 - Sistema de células fotovoltaicas Apesar da localização do empreendimen-
captar e armazenar as águas da chuva, to próximo a linhas de ônibus e trens ur-
num reservatório posicionado no subso- energia renováveis, tornando o BedZED banos e a facilidade de utilização de bi-
lo. Esse mesmo reservatório também re- uma ilha energética, apesar de conec- cicletas, foi proposta uma nova forma de
cebe água reutilizada proveniente dos va- tado ao grid para importar ou exportar uso de carros particulares.
sos sanitários, após passar por um tan- energia quando necessário (SASSI,
que séptico e uma unidade de tratamen- 2006). Por conta de uma associação entre a
to. As águas reutilizadas alimentam as BioRegional e uma empresa chamada
descargas e as torneiras para rega dos A solução encontrada foi a utilização de Smart Moves, o condomínio é atendido por
jardins. uma Central de Cogeração2, chamada de um sistema chamado “ZEDcars”, que nada

A redução do consumo de água foi pon-


to preponderante para o projeto. Em to-
das as unidades foram instaladas máqui-
nas de lavar roupa com a melhor eficiên-
cia hidro-energética do mercado. Cada
ciclo utiliza apenas 39 litros de água, bem
mais baixa que a média britânica de
100l l/ciclo (LAZARUS, 2003 – p. 23). As
torneiras dos banheiros e cozinhas são
do tipo spray, que evitam o desperdício
por não deixarem a água respingar, com
uso de 7 l/min, ao contrário das torneiras
típicas, que gastam 20 l/min. Apesar de
serem mais caras como investimento ini-
cial, compensa a economia de água fei-
ta em longo prazo. O modelo de chuvei-
ro instalado ajudou a reduzir em torno de
6 l/min o consumo de água por pessoa. 18 - Esquema de fontes de energia renovável
CHP (Combined Heat and Power). Esse mais é que um “clube do carro”, um siste-
As antigas descargas de vasos sanitári- tipo de central funciona a partir da quei- ma de utilização de carros comunitários a
os utilizavam até 16 l de água por fluxo. ma de biomassa, neste caso pedacinhos que os moradores têm direito, já aplicado
As descargas mais recentes já têm sido de madeira seca, cuja queima gera em outras localidades pelo Reino Unido.Ao
projetadas para consumir apenas a me- gaseificação. Esse gás alimenta um ge- invés de cada morador ter seu próprio au-
tade disso, em torno de 7 ou 8 l. No rador que produz eletricidade e o calor tomóvel, ele pode de pegar um veículo do
BedZED as descargas consomem, por gerado, em vez de se dissipar na atmos- clube e devolvê-lo após seu uso.

14 Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética


O sistema de reutilização de águas da
chuva apresentou problemas de retorno
de águas usadas e, hoje, está fora de
utilização; mas um novo sistema de tra-
tamento vem sendo testado em área re-
servada do condomínio para substituir de
forma eficaz o sistema inicial, ainda sem
previsão para entrar em uso. Enquanto
isso, o abastecimento de água perma-
nece completamente dependente da con-
cessionária.

Uma das observações da BioRegional diz


respeito à má utilização dos elementos
arquitetônicos pelos habitantes. Alguns
moradores reclamavam que a casa era
muito quente, mas não sabiam que, para
19 - Vista do BedZED ventilar, nunca poderiam abrir a porta da
Esta prática, além de diminuir o uso de nas fornecida por clarabóias viradas para varanda, que traz o calor do sistema pas-
carros particulares tem a vantagem de o sul. Estes espaços não foram guarne- sivo de aquecimento. Deveriam, sim, fe-
utilização de automóveis movidos à ele- cidos pelo sistema passivo de aqueci- char a porta da varanda e abrir as jane-
tricidade, alimentados pelo próprio siste- mento, tornando-os mais frios durante a las laterais e da cozinha, para permitir a
ma de geração de energia renovável do noite, quando supostamente não teriam ventilação natural cruzada dentro de
empreendimento, ou seja, o abasteci- uso. A transformação de uso aumentou casa.
mento desses carros é grátis para os a necessidade de aquecimento, mudan-
moradores. do completamente a demanda de ener- Este exemplo nos dá a dimensão de
gia para o conjunto. como a arquitetura sustentável respon-
Considerações finais: o de, de forma diferente, às necessidades;
BedZED hoje Apesar da proposta de todas as unida- e o quanto é importante “ensinar” às pes-
des do BedZED terem à sua disposição soas como a nova arquitetura precisa ser
A grande proposta do BedZED e que aju- um terraço-jardim para ser utilizado como utilizada de maneira diferente.
dou a atrair os primeiros moradores foi a horta e produzir alimento para consumo
de oferecer uma mudança radical de es- Apesar das críticas que sofreu o projeto,
próprio, o efeito não foi o esperado. A
tilo de vida, associando sustentabilidade o BedZED atualmente é o maior campo
unidade-horta foi projetada no bloco vi-
arquitetônica com uma mudança de atitu- de experimentação, em termos de
zinho e conectada à unidade-casa por
de. Em recente visita ao BedZED, pude- sustentabilidade, no Reino Unido. Foi
uma passarela. A distância causou aos
mos observar junto a representantes da preciso colocar em funcionamento um
moradores uma sensação de que o jar-
BioRegional alguns aspectos do empre- sistema para perceber como as práticas
dim não lhes pertencia, prejudicando sua
endimento hoje, ainda utilizado pela em- sustentáveis, na arquitetura e no modo
utilização, como a produção de alimen-
presa como campo de experimentações. de vida, podem trazer resultados. E como
tos. No próximo empreendimento ZED da
esses resultados – positivos ou negati-
BioRegional, o projeto deverá manter
O BedZED foi concebido para ter 82 uni- vos – podem influenciar a nova geração
conjugadas casa e horta para evitar má
dades residenciais e 2.500m2 de unida- de edifícios e empreendimentos susten-
utilização.
des de trabalho / moradia. Aos poucos, táveis que estão por vir.
as unidades comerciais passaram a ser
Uma CHP, unidade de cogeração, deve
utilizadas como habitacionais e hoje, pra- Notas
trabalhar com algo em torno de 60% de
ticamente, não há escritórios em funcio- 1
Grid, em português, é rede de suprimento.
geração de calor, 25% de geração de
namento. Isto se explica uma vez que,
energia e os outros 15% são considera- 2
Combined Heat & Power, em inglês britânico,
inicialmente, o empreendimento era para é a Cogeneration (USA), ou cogeração, em por-
dos nas perdas do sistema. Quando o
ser localizado no centro de Londres: e a tuguês.
sistema produz muito mais calor que a
localização escolhida, em Surrey, inviabi- Referências bibliográficas
demanda, ele desliga automaticamente
liza o uso de tantos espaços comerciais.
para evitar superaquecimento. No AZARUS, Nicole. Beddington Zero (Fossil)
BedZED, o equipamento vinha trabalhan- Energy Development. Bio-Regional. London,
Esta mudança de uso trouxe desequi-
2003, p. 1 e 23.
líbrio a todos os cálculos feitos durante o do em desequilíbrio, em constante supe-
projeto inicial, no que diz respeito à de- raquecimento. Hoje está fora de uso, fa- SASSI, Paola. Strategies for Sustainable
Architecture. Taylor & Francis, New York, 2006,
manda e utilização de energia. Como zendo com que o empreendimento utili- p. 185.
exemplo, as unidades de trabalho esta- ze a energia do grid, já que a geração
NICHOLLS, Richard. The Green Building Bible.
vam voltadas para o norte (sem insola- das fotovoltaicas não dá conta de abas-
3rd edition, Volume 2, London, 2007, p. 177.
ção direta) com iluminação natural ape- tecer todo o conjunto.

Edificações Multifamiliares 15
Boas Práticas

DO CONFORTO AMBIENTAL À EFICIÊNCIA ENERGÉTICA


NAS HABITAÇÕES MULTIFAMILIARES BRASILEIRAS
CONTEMPORÂNEAS
Vera Hazan
Arquiteta e Mestre em Planejamento Urbano e Regional, IPPUR/UFRJ; Doutoranda em Urbanismo,
PROURB/FAU/UFRJ

Ultimamente, muito se tem discutido em Eduardo Reidy, Jorge Moreira, Oscar oferta de materiais e tecnologias que
torno de soluções arquitetônicas que pos- Niemeyer, entre outros, como os usos da possibilitem uma construção mais rápi-
sibilitem uma maior eficiência energética ventilação cruzada, brises, pérgulas, ja- da, limpa e eficiente energeticamente –
das edificações, sobretudo dentro das nelas e portas venezianas, cobogós, va- e, menos ainda, a disposição do merca-
universidades, em grupos técnicos de randas, beirais e materiais cerâmicos, do imobiliário, principalmente ligado à
estatais ou grupos de estudos em enti- tão fartos em nosso país, dos módulos, habitação multifamiliar, em investir ma-
dades e empresas ligadas à fabricação da arquitetura flexível e passível de repro- ciçamente nessa tendência.
de componentes para a construção civil. dutibilidade. Além disso, alguns avançam
em questões relativas à coleta seletiva e Para ilustrar a discussão, escolhemos co-
Enquanto, no exterior, já se podem ob- reciclagem do lixo, uso de energia solar mo boas práticas de arquitetura de edifi-
servar diversos projetos concebidos den- integrado ao sistema de aquecimento da cações multifamiliares três projetos re-
tro desta lógica, no Brasil, o movimento água para apartamentos e piscinas, uso centes, cada qual situado em uma região
ainda é lento, seja pelas dificuldades de de sensores de presença e automação, do Brasil: “Arquitetura Essencial” (1º Prê-
entrosamento entre pesquisadores e prá- reuso de águas pluviais, especificação de mio no 2º concurso Internacional Living
ticos, seja pelas opções construtivas tra- cores claras para minimizar a absorção Steel para Habitação Sustentável, de
dicionais do mercado imobiliário, princi- da radiação solar etc. 2007) de autoria de Vinicius Andrade e
palmente em relação à habitação Marcelo Morettin, para o Recife – PE; o
multifamiliar. Se, por um lado, os arquitetos brasilei- empreendimento Príncipe de Greenfield
ros começam a se afinar com o discurso em Porto Alegre – RS, de autoria de Eduar-
Há, entretanto, alguns projetos que res- global da sustentabilidade, da necessi- do Haetinger, da ProArquitetura e a Vila dos
gatam boas práticas modernistas, já re- dade de economizar energia, racionali- Idosos, em Pari, São Paulo – SP, de autoria
alizadas anteriormente por arquitetos zar custos, transportes de material, mão- de Héctor Vigliecca, Luciene Quel, Ruben
como Lucio Costa, Rino Levi, Affonso de-obra etc., por outro, ainda há pouca Otero e Ronald Werner Fiedler.

Zona 8: Recife – PE Arquitetura Essencial


Aberturas grandes para ventilação e com sombreamento.
Paredes externas e cobertura leves e refletoras. Coberturas
com telha de barro sem forro poderão ser aceitas, desde que
as telhas não sejam pintadas ou esmaltadas. Também serão
aceitas coberturas com transmitâncias térmicas acima dos
valores tabelados, desde que atendam às seguintes exigênci-
as: contenham aberturas para ventilação em, no mínimo, dois
beirais opostos; e as aberturas para ventilação ocupem toda a
extensão das fachadas respectivas.
Nestes casos, em função da altura total para ventilação; e no
verão deve adotar ventilação cruzada permanente.
Zona 3: São Paulo – SP Vila dos Idosos
Porto Alegre – RS Príncipe de Greenfield
Aberturas médias para ventilação e sombreamento de maneira
que permita o Sol durante o inverno.
Paredes externas leves e refletoras e cobertura leve e isolada
No verão, deve adotar ventilação cruzada como estratégias de
condicionamento térmico passivo; e no inverno aquecimento
solar na edificação e vedação interna pesada – inércia térmica.
20 - Mapa das Zonas Bioclimáticas

16 Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética


Living Steel e a proposta de uma “Arquitetura Essencial”

21 - Residencial Essential Architecture

Através de um discurso afinado com a tura, fatores socioculturais e custo de dimensões diferentes, com extremo cui-
discussão do papel da arquitetura ante o construção e manutenção da edificação. dado em sua implantação, ajustada ao
contexto do “Aquecimento Global”, os clima de Recife.
arquitetos do escritório Andrade Morettin O projeto agrega a uma estética contem-
desenvolveram um projeto cuja essên- porânea, notadamente industrial, ele- A proposta investe na boa ventilação na-
cia consiste em responder, de forma di- mentos compositivos e espaciais encon- tural e, sobretudo, na permeabilidade do
reta e econômica, não apenas às ques- trados em importantes projetos moder- conjunto, com a implantação de blocos
tões de sustentabilidade ambiental e so- nistas. Da ventilação cruzada à circula- isolados, dispostos de maneira a permi-
cial, mas principalmente sobre a concep- ção externa – ao mesmo tempo corredor tir o permanente fluxo de ar entre as
ção de uma “Arquitetura Essencial” com- e varanda – à estrutura modular e jane- edificações, projetadas como um siste-
prometida com os seguintes parâmetros: las venezianas móveis, são muitas as re- ma que se ajusta às necessidades da de-
uso do solo, construção e operação raci- ferências da arquitetura moderna encon- manda, da capacidade do solo e da pos-
onais, desempenhos bioclimático e tradas neste projeto que, paralelamente, sibilidade de mecanização do edifício.
ambiental dos materiais e recursos, fle- propõe uma edificação flexível e passí- Assim como a edificação, o planejamen-
xibilidade e reprodutibilidade da arquite- vel de reprodutibilidade em contextos e to das áreas externas mostra uma preo-

22 e 23 - Visões dos espaços de convivência do conjunto

Edificações Multifamiliares 17
27 - Sistema hidráulico para reuso de
águas pluviais

24 - Diagrama de estudo de desempenho térmico 25 - Sistema hidráulico para reuso de águas pluviais

cupação com os custos da manutenção posto de perfis de mercado, painéis de viais, aproveitando-se o alto índice
paisagística, através da especificação de laje e acabamentos industriais que even- pluviométrico da região.
espécimes nativas apropriadas ao clima tualmente podem ser substituídos, este
local. sistema reduz os custos de manutenção. Se, a princípio, o projeto – devido ao seu
A concepção flexível e modular permite, sistema de montagem essencialmente in-
Segundo os autores, a sombra e ventila- inclusive, uma eventual ampliação ou mo- dustrial – exige um planejamento minu-
ção são entendidas como recursos es- dificação da edificação, ajustando a ar- cioso e maior desembolso inicial que a
tratégicos essenciais, dispensando solu- quitetura ao tempo e às necessidades de construção tradicional, por outro lado, ele
ções ativas ou mecanizadas como a seus usuários. se revela extremamente econômico ao
climatização. Por esta razão, os espaços longo do tempo, seja pela possibilidade
são “explodidos”, vazados, fluidos; e de flexibilidade e reprodutibilidade, seja
como no Recife, o clima, em geral, é pelos recursos naturais proporcionados
quente, os fechamentos de vidro foram por sua arquitetura, que acarretam bai-
dispensados mantendo-se, sempre, a xo custo de manutenção para os seus
possibilidade de uma ventilação cruzada usuários.
garantida por divisórias internas à meia- Mais informações no site:
altura e venezianas móveis, que ao mes- http://www.andrademorettin.com.br/
mo tempo bloqueiam parte da ilumina-
Ficha técnica
ção, mas permitem a entrada do ar. A
RESIDENCIAL ESSENTIAL
cobertura, como um grande telhado “bor-
ARCHITECTURE
boleta” com grandes beirais, e as varan-
Local: Recife – PE, Brasil
das e circulações externas proporcionam Zona Bioclimática: 8
sombra e proteção contra as chuvas, Projeto: 2003
possibilitando não apenas a circulação, Arquitetura: Andrade Morettin
como a permanência de pedestres em Arquitetos
espaços de encontros e vivências. 26 - Diagrama de ventos predominantes Arquitetos: Vinicius Andrade, Marcelo
Morettin
O projeto procurou especificar materiais Colaboradores: Marcelo Maia Rosa,
que evitam armazenar calor durante o Segundo os autores, a geração de ener- Marcio Tanaka, Marina Mermelstein,
dia, de forma a manter a mesma climati- gia limpa, in loco, não está descartada. Merten Nefs, Renata Andrulis, Thiago
Natal
zação para as noites. A adoção de cores De acordo com a disponibilidade fi-
Estrutura: Stec do Brasil
claras também minimiza a absorção da nanceira e o regime de fornecimento Conforto Ambiental: Ambiental
radiação solar, economizando em ener- energético da região, pode-se lançar mão Consultoria
gia artificial, e garantindo uma importante da geração de energia solar (fotovoltaica) Tecnologias Ambientais: Ecocasa –
qualidade ambiental para as moradias. na cobertura. Além disso, alguns siste- Tecnologias Ambientais
mas prediais, de simples funcionamento Orçamento: Tríade – Serviços
O sistema de montagem, a partir de com- e manutenção deverão ser implemen- Técnicos
ponentes pré-fabricados industriais, ga- tados, como o sistema solar, para aque- Premiação: 1° Prêmio no 2° Concurso
rante um processo limpo e racional. Com- cimento de água; e o reuso de águas plu- Internacional Living Steel, 2007.

18 Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética


Vila dos Idosos: uma proposta de habitação social de
qualidade, no Centro de São Paulo

27 - Residencial Vila dos Idosos

O projeto Vila dos Idosos, localizado no de São Paulo (Cohab), dirigido à popula- Assim como o Living Steel, a Vila dos Ido-
Bairro Pari – vizinho à Biblioteca Pública ção carente. O plano de construir um sos forma um conjunto de blocos organi-
Adelpha Figueiredo, junto ao centro da conjunto habitacional exclusivo para ido- zados em quatro pavimentos, integrados
díade de São Paulo –, faz parte do pro- sos existe desde 1999, mas só em 2003 por caixas de circulação vertical com es-
grama “Morar no Centro”, iniciativa da ele começou a ser viabilizado através cadas e elevadores. Com 145 unidades
Companhia Metropolitana de Habitação deste projeto. – entre as quais, 57 apartamentos de um

28 e 29 - Croquis do loft e do quarto e sala

Edificações Multifamiliares 19
quarto, com área de 42m2; 88 conjuga- no de um grande pátio interno, e integra- e condições sanitárias mais favoráveis à
dos de 30m2, além de áreas coletivas do ao centro da cidade, através de sa- saúde dos idosos.
compostas por salas para TV e jogos, lões de uso comum, localizados nas Ave-
salas de uso múltiplo, salão comunitário nidas Carlos de Campos e Pedroso da
Ficha técnica
com cozinha e sanitários, quadra de bo- Silveira, o projeto acolhe os idosos de for-
RESIDENCIAL VILA DOS IDOSOS
cha, área verde, espelho d’água e horta ma cuidadosa e segura, sem, no entan-
Cliente: Prefeitura de São Paulo
comunitária, o conjunto oferece, ainda, to, isolá-los da vida coletiva do ambiente Local: São Paulo – SP, Brasil
25% das unidades já adaptadas para urbano, promovendo contatos comerci- Zona Bioclimática: 3
pessoas com problemas de mobilidade, ais, culturais e sociais com o bairro. Início do projeto: 2003
sendo as outras facilmente adaptáveis, Conclusão do projeto: 2005
caso seja necessário. Uma das grandes qualidades do projeto Conclusão da obra: 2007
se refere às circulações horizontais, con- Área do terreno: 7.270 m2
O reconhecimento das limitações ineren- cebidas como espaços coletivos de en- Área construída: 8.290 m2
tes à terceira idade serviu de base para contro, que receberam bancos junto às Arquitetura: Vigliecca & Associados
a concepção projetual, desde a organi- portas dos apartamentos, ampliando a Arquitetos: Hector Vigliecca, Luciene
zação da edificação no terreno, até as Quel, Ruben Otero e Ronald Werner
integração entre as áreas privadas e de
Fiedler
circulações horizontais comuns e plane- uso comum, possibilitando, inclusive, Coordenação: Lílian Hun e Ana
jamento das unidades habitacionais. A uma maior aeração das unidades prote- Carolina Penna
proposta compatibiliza tanto a boa orien- gidas pelo sombreamento. Outra ques- Administração: Paulo Serra e Luci Maie
tação e a insolação das unidades, quan- tão importante se refere à opção por Colaboradores: Mario Rodríguez
to facilitar as condições de acessibilida- materiais duráveis e de baixo custo de Echigo, Indiana Marteli, Maíra Carrilho
de aos moradores, proporcionando, sem- manutenção, com laje aparente, elimi- e Fábio de Bem
pre que possível, espaços concebidos nando os revestimentos das paredes e Estrutura e fundações: Telecki
através do desenho universal, que pos- pisos, sendo a alvenaria realizada com Arquitetura de Projetos
sibilitam uma maior convivência e troca Elétrica e hidráulica: LCL Engenharia e
bloco estrutural. O uso de ventilação cru-
Consultoria
entre aos que ali residem. zada e de venezianas permite uma mai- Orçamento: Tríade
or permeabilidade e ventilação naturais, Construção: Delta Construções
Ao mesmo tempo, voltado para o interi- reduzindo o consumo de energia, no ca- Fotografias: Azul Serra
or, com as circulações e varandas em tor- lor, e proporcionando conforto ambiental

Príncipe de Greenfield - um empreendimento focado na


eficiência energética
Atualmente em construção, o empreen-
dimento imobiliário Príncipe de Green-
field, projeto arquitetônico de Eduardo
Haetinger, do escritório Pro-Arquitetura,
tem seu gerenciamento e construção a
cargo do Escritório de Engenharia Joal
Teitelbaum. Destaca-se no panorama da
Região Sul, devido às preocupações com
a eficiência energética e economia de
custos, tanto na construção como na fu-
tura manutenção do conjunto.

Localizada na Rua Campos Sales, 51, em


Porto Alegre – RS, a construção – com
previsão de conclusão em dezembro de
2009 – utiliza alguns elementos comuns
ao projeto Living Steel e outros específi-
cos desta região, que apresenta clima to-
talmente diverso da Região Nordeste.

Enquanto o Living Steel é um conjunto


de edifícios com 4 pavimentos, elevados
do solo por estruturas do tipo “palafitas”, 30 - Residencial Príncipe de Greenfield

20 Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética


o Príncipe de Greenfield é um edifício O princípio de sustentabilidade esteve de materiais; controle de fumaça; proibi-
com 17 pavimentos, 53 apartamentos e presente desde o início da construção, ção do fumo em áreas comuns no interi-
uma proposta de uso das áreas coleti- que optou por encaminhar para recicla- or da edificação; uso de solventes; esta-
vas bastante diferente do projeto anteri- gem ou reuso os materiais provenientes cionamento preferencial para veículos
or e, mais ainda, da Vila dos Idosos. Pro- da fase construtiva, utilizando somente que utilizam combustíveis alternativos e
jetado para um público de alto poder aqui- madeira certificada e dando preferência vans; incentivo ao uso de bicicletas, atra-
sitivo, o edifício explora recursos eco-efi- ao uso de materiais vindos de um raio vés da disponibilização de bicicletário e
cientes sofisticados, como o tratamento inferior a 800 km do empreendimento. A vestiário aos moradores e visitantes.
e reuso de água da chuva para descar- construção em concreto armado com la-
gas e irrigação das áreas verdes; uso de jes nervuradas, paredes de vedação em
sensores de umidade automatizados blocos cerâmicos com instalações elétri-
para irrigação; estação de tratamento de cas embutidas, utiliza um sistema cons- Ficha técnica
água da chuva e provenientes de chu- trutivo bastante tradicional, que mescla RESIDENCIAL PRÍNCIPE DE
veiros, lavatórios e drenos de ar-condici- elementos pré-fabricados com compo- GREENFIELD
onado; uso de redutores de vazão em nentes produzidos no próprio canteiro de Local: Porto Alegre – RS, Brasil
Zona Bioclimática: 3
chuveiros e misturadores. obras.
Início projeto: julho de 2007
Início da obra: dezembro de 2007
Além disso, o projeto investe numa pro- O investimento em tecnologia de ponta, Conclusão da obra: dezembro de 2009
posta luminotécnica que mescla energia na área de eficiência energética, vai per- Área do terreno: 2.715,88 m²
solar e recursos de automação, através mitir, uma economia de 54% no custo de Área construída: 10.826,09 m2
de sensores de presença nas áreas co- energia, por mês; e de 14% na aquisição Arquitetura: Escritório de Engenharia
muns, dimerizadores de iluminação, de equipamentos, segundo o estudo de Joal Teitelbaum
energia solar integrada ao sistema de viabilidade da construtora. O projeto de Arquiteto: Eduardo Haetinger -
aquecimento da água para apartamen- eficiência energética torna o empreendi- ProArquitetura
tos e piscina. O projeto de ar condiciona- mento 30% mais econômico no uso de Arquiteto Paisagista: Guilherme Takeda
Taxa de ocupação: 19,1%
do, ainda indispensável em edificações energia elétrica, em relação a outros edi-
N° de pavimentos: 17 andares (ss2 +
de alta renda, prevê uso de sistemas com fícios multifamiliares oferecidos no mer- ss1 + térreo + 14 tipos)
gás ecológico, livre de CFC. A utilização cado. N° de apartamentos: 53
de vidros duplos “Ecolite” contribui para N° de dormitórios: 80
o conforto termo-acústico dentro dos Para uma manutenção de menor custo N° de vagas de estacionamento: 118
apartamentos, mantendo a temperatura para o condomínio e seus usuários, fo- Estrutura: concreto armado com lajes
climatizada tanto pelo ar-condicionado no ram estabelecidas regras, como um ma- nervuradas, paredes de vedação em
verão, quanto pelo sistema de aqueci- nual de gerenciamento ambiental para os blocos cerâmicos com instalações
mento no inverno. moradores; uma sala de coleta seletiva elétricas embutidas

Conclusão
Os três projetos apresentados demons- dos, novas formas de gerenciamento do O Príncipe de Greenfield, por outro lado,
tram preocupações não somente com a espaço de habitação. não inova espacialmente, nem resgata
eficiência energética e o uso de recur- traços da arquitetura modernista, como
sos naturais e artificiais – visando a A Vila dos Idosos resgata da arquitetura os exemplos anteriores. Mas revela uma
melhoria do conforto ambiental nas uni- modernista alguns princípios concep- preocupação com o futuro, através de
dades habitacionais –, como também, tivos, utilizando-os racionalmente em prol sistemas de captação de energia, reno-
principalmente, com o perfil de seus usu- de uma construção social que exige, so- vação da água, incentivo ao transporte
ários. Enquanto a “Arquitetura Essenci- bretudo, baixo custo de manutenção para ecologicamente correto e diversos recur-
al” se destina a pequenas famílias, jovens seus administradores e usuários. A “Ar- sos de economia e eficiência energética,
de classe média, pessoas com maior quitetura Essencial”, ao mesmo tempo que não apenas reduzem o custo de
abertura às inovações e convivência co- em que retoma seus diversos conceitos manutenção da construção, diretamente
letiva, a Vila dos Idosos tem um público e aspectos construtivos, inova na tecno- ligado aos seus usuários, como também
bastante definido e cunho social distinto logia e parte em busca de uma arqui- demonstra preocupação com o aqueci-
dos outros dois projetos. O Príncipe de tetura sustentável apta a enfrentar os mento global e a necessidade de uma
Greenfield, por outro lado, é uma mora- desafios do aquecimento solar,seja no maior consciência coletiva em relação ao
dia de classe média alta, que estabelece Nordeste brasileiro ou em outras regiões assunto.
regras de convivência e determina, atra- bioclimáticas do país e, até mesmo, no
vés de sistemas tecnicamente sofistica- exterior.

Edificações Multifamiliares 21
Legislação

CONFORTO AMBIENTAL E LEGISLAÇÃO EDILÍCIA


Mauro Almada
Arquiteto FAU/UFRJ, Mestre em Planejamento Urbano e Regional IPPUR/UFRJ.

31 - Escurecimento com ventilação, num projeto residencial dos irmãos MMM Roberto

Quando pensamos em princípios registrado nas Histórias da Arquitetura princípios elementares de conforto am-
projetuais como “sustentabilidade”, Brasileira. biental, obtido este com baixo consumo
“ecoeficiência” e “economia de energia” de energia e, como nos parece óbvio,
– expressões novas para questões des- Mas até aqui apontamos o óbvio, e o ob- sem despesas pós-ocupação para o
de sempre presentes na Arquitetura –, jetivo deste artigo é outro: ressaltar que adquirente do imóvel.
nos salta aos olhos a necessidade de re- “conforto ambiental” começa com o pro-
cuperar certos saberes e práticas que um jeto e que projetos começam – entre ou- Mas o que se vê por aí é exatamente o
dia já foram de domínio comum – tanto tras referências – com a legislação edilí- oposto. Historicamente, nossos Códigos
de projetistas e construtores, quanto de cia que os enquadra e baliza, sobretudo de Obras vêm relaxando progressiva-
usuários de edificações – mas que hoje no caso de edificações residenciais mente as exigências relativas a esses as-
parecem esquecidos. Refiro-me às multifamiliares, produzidas para o mer- pectos, com a fixação de parâmetros
tecnologias voltadas para o conforto am- cado imobiliário, onde esta “influência” da frouxos, arbitrários e insustentáveis, sob
biental dos edifícios – térmico, lumínico legislação sobre o produto final é, diga- diversos pontos de vista. Vejamos alguns
e acústico – que dispensam o auxílio de mos assim, “decisiva” – seja para o bem exemplos:
equipamentos eletro-mecânicos ou, em ou para o mal.
outras palavras, de conforto térmico, ven- Pés-direitos
tilação, iluminação e isolamento acústi- Cabe ao poder público, portanto – e em
co ditos “naturais”. Tudo isto sobejamen- especial, aos Legislativos e Executivos As primeiras posturas relativas à higiene
te estudado e aplicado em projetos, por municipais –, exigir que os projetos sub- e salubridade urbana, ainda no século
nossos antepassados barrocos, neoclás- metidos à sua aprovação apresentem XIX, exigiam alturas mínimas para os
sicos, modernistas e que tais, conforme características técnicas que atendam aos compartimentos de uso prolongado –

22 Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética


quartos e salas – da ordem de 4,50 m. Varandas revestimento – e cultuado por uma cor-
Com as melhorias das condições sanitá- rente de arquitetos, ditos “brutalistas”, o
rias e o controle de certas epidemias, Recentemente, em muitas cidades nor- material ainda é hoje aceito. Neste caso,
essa altura foi sendo progressivamente destinas, a área construída das varan- o Poder Público peca por omissão. Mui-
reduzida para 4,00 m e 3,50 m, estabili- das abertas passou a ser contabilizada tas posturas municipais falam em “imper-
zando-se por volta dos anos 50, na mai- no cálculo da área máxima que se per- meabilidade” das fachadas, mas ficam
oria das cidades brasileiras, em 3,00 m. mite edificar num determinado lote, pro- por aí, nas generalidades, sem qualificar
No Rio de Janeiro, no entanto, a partir vavelmente com o objetivo de aumentar ou quantificar o termo.
de 1970, chegou-se a incríveis 2,60 m, a arrecadação tributária. Mas o resulta-
admitindo-se até 2,50 m para habitações do da medida fiscalista, como não pode- Implantação
de interesse social! ria deixar de acontecer, foi desastroso:
este tradicional elemento arquitetônico, Deixamos para o fim o tema mais polê-
Paredes externas muitas vezes fundamental para a atenu- mico: edifícios “colados nas divisas” X
ação da incidência solar direta nos am- edifícios “soltos no lote”. Até o Modernis-
Com espessuras variando de 0,50 m a bientes de uso prolongado, foi simples- mo, o tipo arquitetônico “edificação en-
1,00 m, à época em que exerciam fun- mente banido dos novos projetos. talada entre medianeiras”, foi hegemô-
ção estrutural, as alvenarias encolheram nico e quase universal em diferentes ci-
drasticamente quando passaram a ser dades. Enquanto modelo de habitação
Telhados
consideradas simples vedos dos vãos urbana, vinculava-se, urbanisticamente,
livres entre peças estruturais. Ainda à idéia de “continuum edificado”, um “pa-
Na cidade de Salvador-BA, em especial
assim, por longo tempo, as posturas drão” composto pela justaposição suces-
no bairro da Pituba, é possível se obser-
municipais exigiram 25 cm para os fecha- siva de prédios com apenas duas facha-
var inúmeros edifícios residenciais bai-
mentos periféricos e 15 cm para as pa- das: de frente e de fundos. Este partido,
xos, de até 4 ou 6 pavimentos, com te-
redes divisórias internas, quase sempre associado a ruas estreitas e sombreadas
lhados de barro, aparentes, e grandes
em tijolos cerâmicos. Com a difusão de pelos próprios edifícios, era vantajoso
beirais. Em muitas cidades brasileiras,
novas tecnologias e materiais – gesso, para regiões de clima quente, onde a pro-
até os anos 40, praticava-se o mesmo.
placas pré-fabricadas de concreto, com- teção da insolação excessiva se revelou
O Modernismo introduziu os telhados em-
pensados de madeira, chapas de fibroci- um princípio mandatário do conforto tér-
mento –, a preocupação com o isolamen- butidos, de fibro-cimento cancerígeno, e mico. Quando os modernistas inventaram
to termo-acústico desses painéis ficou pior, os “terraços-jardim” acessíveis, in- a torre alta e solta das divisas, com qua-
em segundo plano e as posturas passa- variavelmente mal isolados e impermea- tro fachadas castigadas pelo sol, pelo
ram a admitir vedações externas de até bilizados: um completo desastre ecoló- vento e pela chuva, nossos legisladores
8 cm acabados: verdadeiras peneiras gico. Na seqüência, muitos Códigos de aderiram irrefletidamente à idéia, e este
ambientais! Obras passaram a incentivar os chama- modelo tipológico, ideal para climas frios
dos “apartamentos de cobertura”, que a e sombrios, passou a ser incentivado em
Esquadrias incidência solar direta, do alvorecer ao todos os códigos de obras do Brasil. Em
crepúsculo e em todas as direções, trans- nome de uma melhor ventilação, conde-
Em regiões tropicais, dita o senso comum forma em verdadeiras estufas. Mas quem nou-se a “rua corredor” – que Le
que o controle térmico e lumínico dos mais sofre com as infiltrações daí decor- Corbusier chamou de “o caminho dos
ambientes internos, em níveis confortá- rentes é sempre o vizinho do andar de asnos” –, esquecendo-se que, no verão
veis, exige a especificação de janelas baixo, que arca com os ônus sem usu- tropical, o ar externo, exposto à radia-
com, no mínimo, duas folhas móveis, pro- fruir dos eventuais bônus que os terra- ção solar, é mais quente que o dos am-
vidas de vidro e venezianas, ou soluções ços possam proporcionar. E daí? Os pro- bientes internos sombreados; e que, por-
equivalentes, como as persianas de en- blemas, nesta altura, não são mais do tanto, “ventilar” nem sempre significa “re-
rolar. Tal solução foi corrente no merca- incorporador, e sim dos condôminos. E frescar”, muito pelo contrário. Deste equí-
do brasileiro de imóveis residenciais, até haja verba para reformas! voco resulta que qualquer apartamento
50 anos atrás, e por uma razão muito sim- “emparedado” de Copacabana, é mais
ples: as posturas da época tornavam obri- Materiais de acabamento fresco no verão que os condomínios
gatória a possibilidade de “escurecimento “moderninhos” da Barra da Tijuca.
dos quartos”, a qualquer hora do dia ou Se existe um material de fachada inade-
da noite. Pois bem: tão logo se relaxou a quado para o clima tropical, este materi- Concluindo, o que se deseja é que o
exigência – por motivos de todo inson- al é o concreto aparente: escuro – logo, Poder Público, ao formular regras e defi-
dáveis – as venezianas sumiram dos pro- termo-absorvente – e sensível à umida- nir parâmetros edilícios e urbanísticos,
jetos. E os moradores que se virem com de, foi bastante utilizado – acumulando avalie-os criteriosamente, também em
quebra-galhos como cortininhas, “insufil- apenas desvantagens –, como alternati- termos de conforto ambiental, sobretudo
mes”, “blecautes” e persianas, que só va para os tradicionais mármores, grani- a partir de agora, quando tudo indica que
barram a luminosidade... mas jamais o tos, azulejos, cerâmicas, pastilhas e ar- o século XXI será o século da “virada”
calor, posto que instalados por trás dos gamassas. Adotado por incorporadores ecológica. E quem ainda não o percebeu,
vidros! – que se livravam de um item de custo: o vai ficar para trás.

Edificações Multifamiliares 23
Pesquisa

PROJETO ARQUITETÔNICO DEVE INCORPORAR


ELEMENTOS DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA
Marcelo Meiriño
Arquiteto e Pesquisador do Laboratório de Tecnologia, Gestão de Negócios e Meio Ambiente (Latec) da
Universidade Federal Fluminense (UFF)

O ato de projetar, praticado por arquite- termelétricas – grandes poluidoras –, o são responsáveis pelo consumo de
tos e engenheiros, deve sofrer mudan- que é uma barreira ao cumprimento das 47,35% da energia elétrica (BEN, 2001).
ças nos próximos tempos e ter seus hori- metas do Protocolo de Kyoto. Em pesquisas de campo, conforme cons-
zontes ampliados. O estopim dessas tatado por Juan e Lúcia Mascaró, eviden-
modificações encontra-se na década de Nos Estados Unidos, o tema ganhou for- ciou-se que “20% a 30% da energia
1970, com o choque do petróleo,que aba- ça no início da década de 1990. Em 1992, consumida seria suficiente para o funci-
lou o modelo elétrico europeu e só agora o governo, por meio de um ato, obrigou onamento da edificação; 30% a 50% da
vem ganhando força no Brasil. Estamos todas as unidades da federação a ado- energia consumida é desperdiçada por
falando de eficiência energética em tar padrões mínimos de eficiência falta de controles adequados da instala-
edificações. energética em edificações. Atualmente, ção, por falta de manutenção e também
o conceito e as normalizações para o por mau uso; 25% a 45% da energia é
tema já são adotados numa infinidade de consumida indevidamente, por má orien-
países mundo afora. tação da edificação e por desenho ina-
dequado de suas fachadas, principalmen-
Um dos fatores que contribuíram para a te” (MASCARÓ, 1992).
falta de envolvimento do Brasil com essa
questão, até então, é o fato de nossa
planta elétrica estar montada sobre hi-
drelétricas. Responsáveis por 82,36% da
energia elétrica produzida no Brasil (BIG,
32 - Pavilhão na Inglaterra na EXPO – 921 2002), elas provocam impacto ambiental
não tão alardeante quanto as emissões
Trata-se, na verdade, de um vasto con- atmosféricas geradas por termelétricas;
junto de procedimentos e estratégias, e sua produção, teoricamente, vem su-
tanto em etapas de projeto como em prindo nossas necessidades. No entan-
retrofits, que visam garantir o uso racio- to, os apagões ocorridos em 2001 pro-
nal da energia e o conforto dos usuários. vocaram mudanças substanciais, entran-
Ele abrange desde estratégias biocli- do em voga o tema conservação e uso
máticas aplicadas ao empreendimento, racional de energia. Os riscos de blecaute
passando por tecnologia da iluminação, levaram à busca por aparelhos energeti-
até à certificação energética das cons- camente mais eficientes, alavancando as 33 - Shangai Bank2
truções, entre outros aspectos. certificações – a etiquetagem presente
em aparelhos eletrodomésticos permite
O choque do petróleo, ocorrido em 1973, até aos leigos optar por equipamentos Os valores acima evidenciam o papel pre-
pôs em alerta os países cujo sistema poupadores de energia. ponderante dos arquitetos nesse proces-
energético estava calcado na termeletrici- so. É necessário um projeto de arquite-
dade. Neste cenário, foi a França que Nos Estados Unidos e na Europa, esse tura que interaja com o meio em que se
mais rapidamente obteve resultados na modelo vem sendo aplicado às insere, fazendo uso de iluminação e ven-
regulamentação energética em suas edificações. E, muitas vezes, esse dife- tilação naturais, com orientação e forma
edificações, alcançando, já em 1989, rencial qualitativo dos empreendimentos planejada, proteções solares corretas e
economia de energia da ordem de 42% passa a ser utilizado também em estra- especificação criteriosa de materiais (es-
em relação a 1973. O padrão francês tégias de marketing por empresas que pecialmente, no envelope da edificação),
passou a servir de base para o restante põem no mercado edificações certifica- entre outros aspectos. Tirando o máxi-
do continente. Hoje, já transparece nas das (“etiquetadas”) por organismos de mo proveito das condições climáticas da
normas européias uma visível preocupa- reconhecimento público. região é que se obtêm as maiores contri-
ção ambiental, somada à questão da con- buições no uso eficiente e na racionali-
servação energética, já que a planta elé- No Brasil, as edificações dos setores co- zação da energia, sem deixar de garan-
trica européia assenta-se, sobretudo, nas mercial, público e residencial, somadas, tir o conforto dos usuários.

24 Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética


Em qualquer cidade do país nos depara- tema. No âmbito governamental, a Prefei- vamos em projetos, por exemplo, a au-
mos com numerosos exemplos de des- tura do Rio de Janeiro editou, em 2002, sência da simples indicação de norte, o
perdício de energia elétrica, proporciona- o Caderno de encargos para eficiência que certamente reflete a falta de cuida-
dos por projetos inadequados. Muitas energética em prédios públicos, docu- do com o tema.
vezes, essas edificações tomaram como mento com um conjunto de orientações
modelo partidos arquitetônicos de regi- para o uso racional da energia em edifi- Esse conjunto de ações não altera a es-
ões climáticas completamente distintas cações públicas municipais, incluindo as sência da arquitetura; na verdade, ele nos
da nossa – basta lembrar os já consa- que fariam parte dos jogos Pan-Ameri- leva a retomar atitudes de projeto salu-
grados “edifícios-estufa”, com seu “mo- canos de 2007. A cidade de Salvador tares que se perderam no tempo. Este
derno” envelope em pele de vidro, que também está elaborando sua norma para cenário começa a se formar, e traz con-
remetem ao estilo internacional. No en- esse fim. sigo a abertura de novos nichos de mer-
tanto, muitas dessas edificações não po- cado.
dem sequer ter a opção de desligar o seu
sistema de ar condicionado à noite, e por Ou estaremos preparados para supri-lo,
vezes nem mesmo em fins de semana. ou veremos nossas oportunidades se
Este talvez seja um dos modelos mais perderem em um mercado cada vez mais
gritantes de projeto de arquitetura inade- globalizado.
quado. Mas encontramos ainda diversos
outros, mais “sutis”, seja pela má orien- Reportagem: publicada originalmente em
tação da edificação; seja por PROJETODESIGN – (edição 291, maio de
desconsiderar a ventilação natural, a ilu- 34 - Ministério da Educação e Saúde – RJ3 2004) e republicada no site
minação natural ou integrada à artificial; www.arcoweb.com.br
ou até mesmo pela especificação de re- É importante adotar, entretanto, em con-
vestimentos do envelope da edificação, junto com a legislação específica, instru-
com materiais inadequados ao clima (em mentos que impulsionem esse processo,
relação à cor, por exemplo). sejam eles fiscais (redução de impostos),
econômicos (linhas de financiamento) ou
Embora a arquitetura tenha peso consi- educacionais (conscientização e órgãos
derável nesse processo, diversos outros consultivos), bem como certificações e
mecanismos também são importantes na prêmios. A longa experiência internacio- Notas
racionalização do uso de energia na nal comprova a eficácia desses meca- 1
Projeto do arquiteto Nicholas Grimshaw, a
edificação. Entre eles estão o aquecimen- nismos e dessa política de busca da efi- existência da cascata fez com que o edifício
to solar da água, dispositivos de presen- ciência, em termos de retorno tanto eco- consumisse apenas um quarto da energia que
seria necessária se fosse climatizado com ar
ça e fotocélulas no caso da iluminação, nômico quanto ambiental. condicionado.
especificação de equipamentos econô-
2
micos e distribuição de circuitos. Parte dos instrumentos que promovem o Projeto do arquiteto Norman Foster, utiliza-
se de elementos refletores interna e externa-
uso eficiente da energia, ligados ao pro- mente à edificação, distribuindo a iluminação
No Brasil, fatores como o alto custo da jeto de arquitetura, envolve conceitos até natural pelos diversos andares, ganhando em
construção de novas usinas ou amplia- certo ponto básicos, inerentes à profis- qualidade visual e reduzindo o consumo de
ção das existentes – com o ônus ambien- são. Contudo, o abandono desses aspec- energia para iluminação artificial.
tal atrelado a isso –, bem como a cons- tos faz crer que a consciência de projeto 3
As proteções externas podem ser pensa-
tatação de que políticas de conservação perdera-se no tempo; e passamos a ge- das como elemento compositivo de fachada.
de energia elétrica demandam custos rar projetos casuísticos, além de desne- 4
O estudo da forma e orientação da
menores e geram mais campo de traba- cessária e excessivamente automatiza- edificação pode favorecer a iluminação e ven-
lho que a indiscriminada ampliação da ca- dos. O caminho de retomada dessa cons- tilação natural, entre outros aspectos.
pacidade de geração, fazem suscitar os ciência parece ser longo (mas não 5
O ideal é que o arquiteto tenha o conheci-
primeiros movimentos relacionados ao desanimador), na medida em que obser- mento básico de todos os conceitos relativos
ao desempenho energético da edificação.

Referências bibliográficas
Banco de Informações Gerais (BIG), Agência
Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), 2002.
Balanço Energético Nacional (BEN), Ministé-
rio das Minas e Energia (MME), 2001.
MASCARÓ, Juan e MASCARÓ, Lúcia. Inci-
dência das variáveis projetivas e de constru-
ção no consumo energético dos edifícios. 2ª
edição, Sagra-DC Luzzatto, Porto Alegre,
1992.
35- Espaços fluidos / forma e orientação 4

Edificações Multifamiliares 25
Dicas

Dissertação de Mestrado Vidros Reflexivos e Economia de Energia


Processo de projeto para edifícios residenciais inteligentes e o
Com a função de filtrar os raios solares, através da reflexão da
integrador de sistemas residenciais. Dissertação de Mestrado
radiação em todas as suas freqüências, de forma seletiva, os
da Arquiteta Daniela Gonçalves Mattar, pela Universidade Fe-
vidros refletivos podem ser grandes aliados do conforto
deral de São Carlos, 2007. Estuda um integrador de sistemas
ambiental e da eficiência energética nas edificações.
residenciais para edifícios inteligentes, possibilitando econo-
mia, conforto e facilidade de uso para o projeto dos mesmos. www.arcoweb.com.br/tecnologia/tecnologia47.asp, data: 14 de julho
de 2008.
www.bdtd.ufscar.br/tde_arquivos/7/TDE-2007-05-14T14:12:29Z-
1443/Publico/DissDGM.pdf, data: 9 de julho de 2008.

Associação Brasileira de Normas Técnicas


Dissertação de Mestrado (ABNT)

Diretrizes para incorporar conceitos de sustentabilidade no pla- NBR 15.220, Norma Brasileira de Desempenho Térmico para
nejamento e projeto de arquitetura residencial multifamiliar e Edificações. Rio de Janeiro, 2005.
comercial em Florianópolis. Dissertação de Mestrado em Ar-
quitetura e Urbanismo de Maria Andrea Triana, pelo Programa http://www.labeee.ufsc.br/conforto/textos/termica/
de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, Universidade parte1_SET2004.pdf
Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, 2005.
(para demais partes desta NBR, substitui-se parte1 por parte2,
www.infohab.org.br/, data: 15 de julho de 2008. parte3, parte4 ou parte5)

Projeto
Política Nacional de Conservação e Uso
Tecnologias para a construção habitacional mais sustentável, Racional de Energia
que objetiva desenvolver soluções adequadas à realidade bra-
sileira, para tornar a construção habitacional mais sustentável, Para uma Política Nacional de Conservação e Uso Racional
com foco em empreendimentos para baixa e média renda e de Energia, que visa a alocação eficiente de recursos
para a construção auto-gerida. Universidades parceiras: Esco- energéticos e a preservação do meio ambiente, tem-se sanci-
la Politécnica da USP, Faculdade de Engenharia Civil e Arqui- onada pelo Presidente da República a Lei nº 10.295, de 17 de
tetura e Urbanismo da Unicamp, Universidade de Uberlândia, outubro de 2001.
Universidade de Goiás, Departamento de Engenharia Civil
www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/LEIS_2001/L10295.htm, data: 8
UFSC, sob a coordenação geral de Vahan Agopya.
de julho de 2008.
www.habitacaosustentavel.pcc.usp.br, data: 15 de julho de 2008.

Redução e Racionalização do Uso de


Artigo Energia
"Metodologia de avaliação ambiental brasileira para o setor Decreto 45.765 de 20 de abril de 2001 institui o Programa Es-
residencial: eficiência energética". Autora: Maria Andrea Triana tadual de Redução e Racionalização do Uso de Energia e dá
e Roberto Lamberts, 2007. In: IX Encontro Nacional e V Lati- providências correlatas.
no-Americano de Conforto no Ambiente Construído – ENCAC
2007, Ouro Preto, Anais. www.pure.usp.br/pure_sobre_decreto_45765.asp, data: 15 de julho
de 2008.
www.labeee.ufsc.br/finep/Triana_Lamberts_ENCAC%202007.pdf,
data: 15 de julho de 2008.
Investimentos
Selo Verde
Lei n° 9.991, de 24 de julho de 2000, dispõe sobre realização
Decreto de 8 de dezembro de 1993 dispõe sobre a criação do de investimentos em pesquisa e desenvolvimento e em efici-
Selo Verde de eficiência energética, com o objetivo de identifi- ência energética por parte das empresas concessionárias,
car os equipamentos que apresentem níveis ótimos de eficiên- permissionárias e autorizadas do setor de energia elétrica, e
cia energética. dá outras providências.

www.planalto.gov.br/ccivil/DNN/Anterior%20a%202000/1993/ www.planalto.gov.br/Ccivil_03/LEIS/L9991.htm, data: 15 de julho de


Dnn1931.htm, data: 8 de julho de 2008. 2008.

26 Caderno de Boas Práticas em Arquitetura - Eficiência Energética


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Instituto de Arquitetos do Brasil - 5. Lower72 in www.flickr.com
6. Kymtyr in www.flickr.com
Departamento Rio de Janeiro 7. Arquiteta Helga Santos da Silva
Rua do Pinheiro, 10 8. Ann Chou in www.flickr.com
Flamengo - Rio de Janeiro 9 e 10. PedroNW in www.flickr.com
CEP 22220-050 11 e 12. GRUPO FAU in www.flickr.com
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20. Intervenção sobre mapa produzido pela NBR 15220-3 –
ABNT
21 a 26. Andrade Morettin Arquitetos Associados Ltda
LISTA DE CADERNOS 27 a 29. Vigliecca &Associados
1. Shopping Centers 30. Escritório de Engenharia Joal Teitelbaum
2. Edificações de Saúde 31. Revista ABA / CAB: Caderno de Arquitetura Brasileira. Su-
3. Hospedagem plemento V, 1971, pp. 42-43.
4. Edificações Esportivas e de Lazer 32 a 35. LAMBERTS, Roberto; DUTRA, Luciano;
5. Edificações Unifamiliares PEREIRAFernando O. R.; (1997). Eficiência energética na ar-
6. Edificações Multifamiliares quitetura. PW Gráficos e Editores Associados Ltda., São Paulo

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