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O que significa viver com propósito? E será que você está vivendo?

Antes de entrar nessa


reflexão, eu gostaria de fazer uma breve digressão sobre o presidente americano John
Kennedy, um dos homens mais influentes do século passado. Seu assassinato, em pleno
mandato presidencial, causou uma comoção nacional semelhante à morte de Ayrton Senna no
Brasil.

Não existe – e nunca vai existir – nenhum povo no mundo preparado para perder um herói no
ápice da sua obra. É um trauma nacional que leva muitos anos para ser cicatrizado. Mas
comecei este texto falando sobre Kennedy por duas razões. Primeiro, eu gostaria de pedir
licença para citar uma de suas frases mais famosas: “Esforço e coragem não são suficientes
sem propósito e direção.” E, segundo, porque sua história nos oferece grandes lições.

Os exemplos de Kennedy e Senna têm muito a nos ensinar. Cada um à sua maneira, eles não
apenas viviam por viver. Eles tinham uma razão para viver, que transcendia suas próprias
vidas. Senna estava sempre em busca de explorar os limites do corpo humano e da engenharia
mecânica, perseguindo a perfeição em cada curva e cada ultrapassagem que fazia em seu
carro de Fórmula 1.

Já Kennedy passava os dias liderando e levando esperança a seus compatriotas num dos
momentos mais incertos do país, a Guerra Fria contra a União Soviética. Um homem da
política, um homem do esporte. É difícil imaginar duas figuras mais diferentes e, ainda assim,
mais iguais. Ambos unidos pela paixão em extrair o melhor de si, em levar suas virtudes ao
mais alto grau de excelência.

TALENTO E PAIXÃO

Isso, talvez, represente a essência do que é viver com propósito: encontrar um talento e
direcioná-lo para um objetivo nobre. Produzir uma obra capaz de deixar marcas no mundo e
na vida das pessoas.

Nem precisa ser algo tão extremo como os exemplos de Kennedy ou Senna. Você pode ser um
enfermeiro; um fotógrafo; um cozinheiro; um marceneiro; um trabalhador voluntário um líder
local; ou seja lá o que quiser.

Não interessa se você toca a vida de mil, ou meia-dúzia, ou um milhão de pessoas. O


importante é investir o seu talento e a sua paixão em fazer a diferença. Procurar um “porquê”
para te guiar em suas ações e decisões.

Esse “porquê”, senhores, é a diferença sutil, porém monumental, entre “sobreviver” e “viver”.
Qual deles você anda fazendo?

PROPÓSITO É A JORNADA, NÃO


O DESTINO
Duas palavras definem bem o que é uma vida com propósito. Uma é a
“vocação”, comumente utilizada no Ocidente, que vem do latim vocatio
e significa algo como “chamado da natureza” ou “chamado interno”.
No Oriente, utiliza-se muito a palavra sânscrita dharma, que, apesar
de apresentar traduções aparentemente diferentes, na verdade são
complementares: “dever”, “caminho”, “jornada” ou “compromissos”.

Propósito é a razão por que algo existe. O propósito do fogo é queimar, da água é molhar, da
faca é cortar, do veneno é matar e do remédio é curar. E o propósito do homem? Qual é a
razão por que o ser humano existe? Trato desse assunto em meu livro Vivendo com
propósitos, onde abordo os propósitos humanos universais derivados da afirmação bíblica:
“Criou Deus o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher
os criou” [Gênesis 1.27]. Você pode aprofundar sua reflexão a respeito dos propósitos
universais lendo o livro.

Mas existe também a ideia de propósitos pessoais e particulares. As tradições filosóficas


e religiosas se ocupam em abordar essa questão de como descobrir a razão da existência
de cada ser humano particular. Em quase todas elas existe uma noção de que o propósito
para a vida humana passa pelo senso de vocação, isto é, cumprir um chamado, se
incumbir de uma tarefa atribuída pela vida, pelo destino ou pelos deuses.

Na tradição cristã podemos tomar o apóstolo Paulo como referência. Paulo, sem dúvida
um dos maiores gênios da humanidade, responsável por fazer a síntese entre as culturas
judaica e grega de sua época, que deu origem ao que chamamos cristianismo que
fundamenta a cultura ocidental, acreditava que sua vida somente valia a pena porque
cumpria um propósito divino.

A respeito de alguns assuntos, eu lhes escrevi com toda a franqueza, como para
fazê-los lembrar-se novamente deles, por causa da graça que Deus me deu,de ser
um ministro de Cristo Jesus para os gentios, com o dever sacerdotal de proclamar
o evangelho de Deus, para que os gentios se tornem uma oferta aceitável a Deus,
santificados pelo Espírito Santo. [Romanos 15.15,16]

Como você pode saber se recebeu de Deus uma diaconia, e sua vida tem um
propósito a cumprir? Sugiro quatro critérios:

Primeiro, o propósito é algo que você faz independentemente de remuneração. Na


verdade, o propósito é algo que você faz mesmo que precise pagar para fazer. Em
alguns períodos de sua vida o apóstolo Paulo trabalhou como fabricante de tendas
durante a semana e se dedicou aos sábados para divulgar a mensagem de Jesus nas
sinagogas. Fabricar tendas era sua profissão e seu trabalho, enquanto divulgar a
mensagem de Jesus era seu propósito, sua vocação. Em outras ocasiões, quando
encontrava patrocinadores e financiadores e mantenedores para se dedicar
exclusivamente ao seu propósito e vocação, não hesitou em deixar de lado a
actividade de fabricante de tendas [Actos 18.1-5]. O propósito, portanto, é algo que
você faz mesmo sem receber qualquer remuneração.

Em segundo lugar, o propósito é algo que você faz para beneficiar mais pessoas
além de você mesmo, sua família e as pessoas do seu círculo mais íntimo de afetos.
Cuidar de si mesmo e dos seus é básico para qualquer pessoa. O propósito tem a
ver com um universo muito maior e mais abrangente do que as pessoas que você
convive e que você tem afinidade. O propósito implica prestar um serviço útil para
uma coletividade, a sociedade onde você está inserido, e até mesmo o mundo todo.
Aquilo que você faz em benefício da família e dos amigos pode ser sua obrigação,
ou no máximo um hobby, mas não um propósito e uma vocação.

Outro critério para identificar um propósito é o nível de sacrifício que você está
disposto a fazer para que ele se realize. Um propósito exige sacrifícios de doer.
Para realizar um propósito você abre mão das coisas, das oportunidades e
possibilidades que quem não tem o mesmo propósito não precisa ou não deseja
sacrificar. O propósito também exige que você assuma compromissos e se entregue
num nível de dedicação que quem não compartilha do mesmo propósito não se
sente impelido ou na obrigação de assumir.

Finalmente, o quarto critério para saber se você tem mesmo um propósito, é constatar que
aquilo que você faz dá sentido e significado para sua vida. O propósito leva a nossa vida para
além da mediocridade, isto é, além da mera sobrevivência. O propósito faz com que nossa vida
seja incomum. Nesse sentido, deixar de cumprir o propósito e morrer é quase a mesma coisa.
Deixar de prestar a diaconia, fracassar ou ser negligente em cumprir aquele serviço, equivale a
ser medíocre, cair na vala comum de quem vive para comer e come para viver. É isso o que
apóstolo Paulo diz quando afirma que sua vida não tem valor caso deixe de cumprir o
ministério que recebeu do Senhor Jesus. Uma vida sem valor é mera sobrevivência, é fútil, sem
sentido e não gera interferência na realidade - não faz diferença. Martin Luther King Jr.
disse: “se você ainda não encontrou uma causa pela qual valha a pena morrer,
ainda não encontrou razão para viver”.

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