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TEORIA

* 6 de janeiro de 1401: día soalheiro de inverno.


* No adro do Mosteiro de Santa Maria Vitória ou Mosteiro da Batalha: o povo entra em multi­
dões para assistir à representação do auto sobre a adoração dos reis magos, enquanto os
frades dominicanos fazem as suas celebrações litúrgicas.
Capítulo I
* Diálogo entre Frei Lourenço de Lampreia (confessor de el-rei D. João I), Frei Joane e Mes­
«O Cego»
tre Afonso - o mestre ofendido e amargurado por D. João lhe ter retirado o cargo de Mes­
tre oficial do Mosteiro por estar cego, surdo e coxo.
•Construção do Mosteiro entregue a Mestre Ouguet (arquiteto irlandês), que altera a
planta da abóbada da Casa do Capitulo do Mosteiro, ignorando a planta de Mestre Afonso.

• D. João I desce até ao terreiro do Mosteiro.


• Mestre Ouguet cumprimenta el-rei D. João I.
• D. João I entra no Mosteiro e repara que as «arcarias» de Ouguet não são tão perfeitas
Capítulo II como as de Afonso Domingues.
«Mestre • Pela resposta do irlandês se percebe que se trata de um homem arrogante, considerando
Ouguet» Portugal um país de ignorantes.
• El-rei D. João I e o seu séquito dirigem-se para a Casa do Capítulo. Todos a consideram
mal acabada.
•Mestre Ouguet (protestante) condena os portugueses pela sua religião (Catolicismo),
pelos seus autos de inspiração católica.

• Representação do auto: seis primeiras personagens, três do Céu e três do Inferno - Fé,
Esperança e Caridade * Idolatria. Diabo e Soberba.
• Mestre Ouguet irrompe pela sala e começa aos gritos a dizer impropérios a todos, espe­
cialmente a Mestre Afonso e aos que estão do seu lado, acusando-os de feitiçarias e hipo-
Capítulo III crisia.
*0 Auto» • Percebendo que estava possuído pelo Diabo, Frei Lourenço pede a todos que rezem pela
alma que foi alvo do Diabo e faz o exorcismo necessário, em frente de todos, que viam
com «sobrenatural pavor».
•Depois disto, todos se dirigiram para a Casa do Capítulo, feita à maneira de Mestre
Ouguet, a qual «tinha desabado em terral».

Capítulo IV . Diálogo entre el-rei D. João I e Mestre Afonso Domingues: depois de recusar voltar ao
«Um Rei cargo de Mestre da construção do Mosteiro, a piedade, o zelo e a bondade de el-rei como-
Cavaleiro» vem o velho arquiteto e ele aceita o desafio, prometendo ter a obra pronta dali a quatro
meses.

• Quatro meses depois, 7 de maio da «era da Redenção 1401», na primavera.


• A tarefa está concluída: a abóbada acabada, com o trabalho dos populares portugueses
regressados de Guimarães: D. João I volta à Batalha, regressando de Santarém.
Capítulo V
• Mestre Afonso afirma que fez dois votos:o primeiro era não tirar os «simples» (andaimes)
«0 Voto
que seguravam as pedras da abóbada, a não ser na presença de D. João I, o segundo era
Fatal»
sentar-se debaixo da abóboda durante três dias, jejuando.
• A abóbada da Casa do Capítulo não caiu, mas o Mestre acabaria por morrer, não porque a
abóbada caísse, mas porque o seu corpo idoso e frágil não resistiu ao jejum de três dias.

2Paísrepleta de terrenas desertDse de meros pedregulhos sem va lar arquitetônico e cultural.

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NEMUII EXAME NACIINAL

Contextua lização histórica


A Abóbada tem como pano de fundo a construção do Mosteiro da Batalha, cerca de 16 anos
depois da Batalha de Aljubarrota (início do século XV). Há, por isso, um conjunto de figuras
que existiram historicamente, que desempenharam um papel importantíssimo na História
de Portugal e que foram obreiras da construção deste Mosteiro, símbolo da vitória de Por­
tugal (encabeçada pelo rei D. João I. antigo Mestre de Avis, que ordenou a edificação do
Mosteiro) sobre os castelhanos, que queriam apoderar-se do reino lusitano, na sequência
da crise de 1383-1385.
Afirmação da verdade histórica
Alexandre Herculano (século XIX) afirma a veracidade do que conta, neste texto, porque
consultou, com grande cuidado, crónicas em que se retrata Ouguet (entre as quais a de Frei
Bernardo de Brito), arquivadas em Alcobaça. roubadas pelos castelhanos nos reinados dos
Filipes, mas recuperadas depois da Restauração (1640). Desta forma, os frades. Mestre
Afonso Domingues. os seus discípulos. Mestre Ouguet. os frades dominicanos. João das
Regras. Martim de Océm e o próprio rei D. João I são, de facto, personagens que existiram
historicamente. Claro que, como escritor. Alexandre Herculano construiu outras persona­
gens de ficção para dar corpo e pormenores narrativos à sua obra literária.
Imaginação histórica
A imaginação histórica começa, desde logo, pela inclusão das referidas personagens de fic­
ção, às quais se aliam as seguintes:
•relações e episódios de ficção, quer entre personagens reais, quer entre personagens
inventadas por Herculano;
• descrições de pormenores sobre cenários, por exemplo, o adro (parte exterior) do Mos­
teiro. onde se amontoavam pedras, colunas...;
Imaginação •representação exata do auto e crenças em feitiçarias e exorcismos típicos da Idade
histórica e Média.
sentimento Sentimento nacional
nacional •O conto integra-se no Romantismo que vai recuperar não só os tempos medievais, mas
também os seus nobres, clérigos e portugueses honrados em geral, muito devotos do seu
país, defendendo corajosamente valores patrióticos de liberdade política.
• Este sentimento nacional revela-se também em A Abóboda, pelas seguintes componentes:
- defesa da construção do Mosteiro da Batalha
(comemorativo de uma honrosa vitória portu­
guesa sobre os castelhanos);
- defesa da construção desse Mosteiro por um
Mestre português e não estrangeiro - Mes­
tre Afonso Domingues, já idoso, mas com o
mesmo domínio da inteligência e da técnica
arquitetónica, bem como de excelentes discí­
pulos igualmente de raça lusitana:
-presença assídua de el-rei D. João I e seus
conselheiros João das Regras e Martim de
Océm, que decidem devolver a planta do
Mosteiro a Mestre Afonso Domingues, des­
pedindo o irlandês, Mestre Ouguet;
-referência ao castelo de Guimarães, símbolo
por excelência da exaltação patriótica de
Portugal independente;
- celebração da fé católica, tipicamente portu­
guesa, com a Adoração dos Reis Magos.

James Murphy, Gravura do Mosteiro da BcrtaiTra, séc. XVIII

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TEORIA

* Mestre Afonso Domingues - cavaleiro de D. João lr Mestre de Avis (capitão de todos), na


Batalha de Aljubarrota. fiel servidor de el-rei (sendo o sentimento de amizade recíproco).
•Qs Frades Lourenço Lampreia e Joane
são os superiores dominicanos a quem
foi doado o Mosteiro da Batalha por D.
João I. Mantêm excelentes relações com
el-rei e com Mestre Afonso Domingues.
• El-rei D. João I é um excelente, justo e
piedoso rei. nutrindo amizade sincera
e respeito: depois dos fracassos de
Mestre Ouguet. não hesita em pedir
desculpa a Mestre Afonso Domingues.
a quem entrega novamente a planta
do Mosteiro da Batalha; Entre D. João
e Mestre Ouguet existe apenas uma
relação de respeito profissional. Como
Relações
venerável rei de Portugal, ouve com
entre
atenção e zelo as opiniões e os conse­
personagens
lhos dos doutores da corte, João das
Regras e Martim de Océm. apesar de
dar primazia aos seus valores patrióti­
cos. Por outro lado, mantém muito boas
relações com o clero, de que os domini­
canos (seus confessores pessoais) são
um ótimo exemplo. Quanto aos portu­
gueses em geral, manifesta-se sempre
responsável, preocupado e protetor dos
seus interesses.

* Mestre Ouguet odeia Mestre Afonso Domingues. assim como despreza a arquitetura e os
arquitetos portugueses, por ele considerados inferiores e incompetentes; será afastado
por el-rei e pela corte, sendo a construção devolvida a Mestre Afonso, até ao dia da sua
morte.

* Mestre Afonso apresenta dois Jovens, que viriam a ser o terceiro e o quarto arquitetos do
Mosteiro - Martim Vasques c Fernào de Évora, figuras da sua total confiança.

0 herói romântico de A Abóboda é. sem dúvida, o Mestre Afonso Domingues. Esta perso­
nagem contém em si todos os valores patrióticos que desenham o inequívoco sentimento
nacional, o sentimentalismo intenso e uma vida dedicada ao seu país, por cuja independência
lutou na própria Batalha de Aljubarrota. em defesa de D. João I.
Características românticas:
•Português honrado e ciente da sua missão arquitetónica e histórica. Mestre Afonso
Característi­ Domingues permanece sempre no espaço da construção do Mosteiro;
cas do herói • Absoluto fiel ao seu rei, D. João I. Mestre de Avis. e à independência de Portugal (lutador
romântico na Batalha de Aljubarrota), não tem dúvidas sobre o seu papel ao serviço da Pátria;

• Não só é fiel cavaleiro de el-rei. como é seu amigo pessoal e de coração;


•Detentor de valores patrióticos e nacionalistas: é inflamado e destemido na defesa de
Portugal independente; é sentimental quer na vitória, quer no sentimento de traição e
injustiça; é zeloso e escrupuloso; é capaz de dar a sua vida pela verdade de uma causa.
Este patriotismo, levado ao extremo, culmina com a sua própria morte, devido à fragili­
dade do seu corpo idoso.

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