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O Real Edifício de Mafra

CASO PRÁTICO – MÓDULO 6


Paulo Simões Nunes

História da Cultura e das Artes / 11.º ano


1. Classificação

Real Edifício de Mafra


Igreja-Palácio-Convento

Arquitetura:
João Frederico Ludovice

Patrono da obra:
D. João V, o Magnânimo

Execução: entre 1717 e 1737

História da Cultura e das Artes / 11.º ano


2. Contexto histórico-cultural
2.1 A obra no seu tempo

O Rei D. João V, o Magnânimo

 D. João V nasceu a 22 de outubro de 1689, filho de


D. Pedro II e de D. Maria Sofia de Neuburgo.

 Foi aclamado rei a 1 de janeiro de 1707 e reinou até à


sua morte a 31 de julho de 1750, naquele que foi um
dos reinados mais longos da História de Portugal.

 Casou a 9 de julho de 1708 com D. Maria Ana de


Áustria, irmã do imperador austríaco Carlos III.

O rei D. João V exerceu um poder absoluto, inspirado em


Luís XIV, o Rei-Sol, concentrando sobre si todos os
poderes do Estado, conforme a tradição das monarquias
absolutistas europeias nos séculos XVII e XVIII.

Busto de D. João V, Alexandre Giusti,


Palácio-Convento de Mafra, século XVIII.

História da Cultura e das Artes / 11.º ano


2. Contexto histórico-cultural
2.1 A obra no seu tempo (cont.)

O Rei D. João V, o Magnânimo


 D. João V beneficiou de um período de prosperidade
financeira por via da exploração das minas de ouro do
Brasil.
 Principais linhas de ação do seu governo:
→ Dirigiu uma política de defesa dos interesses
portugueses no comércio ultramarino.

→ Manteve-se neutro nos conflitos europeus.

→ Nos acordos assinados no Tratado de Utrecht (1713)


conseguiu ver reconhecida a soberania nacional
sobre o Brasil.

→ Canalizou as remessas de ouro provenientes do


Brasil para dinamizar a cultura, as artes, as ciências e
as letras
Retrato de D. João V, o Magnânimo, → Desencadeou grandes empreendimentos no reino
Giorgio Domenico Duprà, século XVIII.
como o Aqueduto das Águas Livres (c. 1731-1748) e
o Real Edifício de Mafra, uma obra de regime.

História da Cultura e das Artes / 11.º ano


2. Contexto histórico-cultural
2.1 A obra no seu tempo (cont.)

O Real Edifício de Mafra


 A edificação do Real Edifício de Mafra está
associada ao cumprimento de uma promessa
efetuada pelo rei D. João V ao frei António de
S. José, frade franciscano da Ordem dos
Arrábidos:
→ Em caso de nascimento de um sucessor ao
trono seria construído um convento para os
monges arrábidos.

→ Assim, com o nascimento da princesa


Maria Bárbara em 1711 o rei mandou
construir um modesto convento em Mafra
para cerca de treze frades que ali se
alojaram.
 Mas, inspirado na magnificência das cortes
absolutistas europeias e seduzido pela Palácio-Convento de Mafra, litografia de escola inglesa, 1853.
monumentalidade dos monumentos
barrocos cujos desenhos chegavam de  Aqui deveria surgir um convento, um palácio e uma
Roma, D. João V pretendeu ampliar a obra. igreja cujas dimensões tornassem o edifício uma
autêntica «obra de regime».

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2. Contexto histórico-cultural
2.2 A obra e o seu autor

João Frederico Ludovice (1673-1752)


 Ludovice era um arquiteto alemão ativo em Portugal
desde 1701, recebendo contratos para obras para os
Jesuítas.

 A partir dos 24 anos (1697) desenvolveu a sua


formação em Roma, com passagem pelo ateliê de
Carlo Fontana, arquiteto com obra feita no Barroco
italiano.
 A proposta de Ludovice para a ampliação do Convento
dos frades arrábidos foi a selecionada pelo monarca por
ser aquela que melhor respondia às linhas clássicas e
monumentais da linguagem barroca.

 O projeto de Ludovice orientava-se pelo equilíbrio,


proporção, imponência e dignidade do Barroco romano.

 Para além de ter assinado todos os projetos do


convento, do palácio e da igreja, Ludovice foi
João Frederico Ludovice, anónimo,
século XVIII.
responsável pela condução integral das obras.

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3. Análise formal

 Construído em pedra lioz da região,


o palácio-convento ocupa uma área
de 38 000 m², com 1200
compartimentos e 156 escadas.

 O imenso estaleiro de obras


chegou a envolver 45 000
trabalhadores, sendo necessário
erguer um conjunto de alojamentos
que deram origem à vila de Mafra.

 De cada lado da igreja basilical as alas do palácio


marcam a fachada com o seu ritmo de janelas,
sendo rematadas pelos gigantescos torreões
laterais norte e sul.

 Ao centro, a fachada da igreja basilical é ladeada


pelas torres sineiras desenhadas à escala barroca.

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3. Análise formal

 O edifício está organizado em dois


retângulos:
→ No primeiro, integram-se a igreja, o
palácio e dois claustros.
Uma galeria com
→ No segundo, localizam-se o 232 m unia as
convento com as celas dos frades, alas do rei e da
rainha, servindo
as oficinas, a biblioteca e todas as de «passeio da
dependências necessárias à sua vida corte» e
quotidiana. constituindo o
maior «corredor
 O Paço Real ocupa o andar nobre palaciano» da
(3.º piso) e os dois torreões: Europa.

→ A ala norte estava destinada ao rei. A basílica ocupa a


parte central do
→ A ala sul estava destinada à rainha. edifício.

 Cada ala tinha as suas cozinhas,


Dois gigantescos
despensas e dependências próprias torreões rematam
que funcionavam no piso térreo (1.º de cada lado a
piso). longa fachada com
 As damas e camaristas alojavam-se no 220 m de
2.º piso, enquanto a criadagem ficava comprimento.
nos mezaninos sob a cobertura
(sótãos).

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3. Análise formal: os espaços

Celas dos frades


Biblioteca (piso
superior)

Claustro do
Escadaria
convento
monumental

Refeitório

Capela do Campo-Santo Sacristia

Sala elítica (Casa


Claustro do palácio do Capítulo)

Claustro do
palácio

Galilé

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4. A basílica A basílica impõe-se no conjunto
arquitetónico pela sua
imponência volumétrica e pela
magnificência das ordens
arquitetónicas e decoração
escultórica barroca.

Construída em pedra lioz da região, a fachada da


basílica segue um rigoroso traçado geométrico
com aplicação das ordens arquitetónicas
clássicas.
As duas torres sineiras enquadram
simetricamente a fachada seguindo um desenho
de matriz barroca.

A ligação entre a igreja e o palácio processa-se


através da Sala das Bênçãos, em cuja janela o
rei costumava abençoar a população ao lado do
patriarca.

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4. A basílica (interior)

A basílica tem a estrutura


de cruz latina com 58,5 m
de comprimento e 43 m
de largura, no transepto.

Organiza-se em três
naves e transepto e
apresenta uma vasta
decoração de mármores
polícromos onde impera a
ordem coríntia na nave
principal.

Esta foi a primeira cúpula


construída em Portugal.
O zimbório tem 65 m de
altura e 13 m de diâmetro.

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5. Os espaços do convento

A biblioteca constitui o
maior tesouro do
Palácio--Convento de
Mafra com mais de 36
000 livros das mais
diversas áreas do
conhecimento.

A enfermaria.

A cozinha.

O claustro do
convento.

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6. A escultura

No pórtico principal desenvolve-se


uma imensa galilé que recebeu a
primeira fase de estatuária de
escultores italianos.

Aqui foi desenvolvido um


vasto programa escultórico
encomendado a escultores
italianos respeitando uma
estrita retórica barroca.

S. Bruno, Santa Teresa, S. Sebastião,


Giuseppe Carlo Monaldi, Carlo Monaldi,
Lironi, c. 1725 c. 1725 c. 1725

Esta é mais
significativa
coleção de
escultura barroca
existente fora de
Itália.

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7. O órgão e os carrilhões

D. João V
encomendou um
conjunto único de
seis órgãos históricos
que possuem um
repertório único.

O rei encomendou
igualmente dois
carrilhões (um para
cada torre),
provenientes da
Flandres.

Cada carrilhão possui


57 sinos. Pesando
mais de 200
toneladas, são dos
maiores carrilhões
históricos do mundo.
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8. Leitura de significados

▪ Esta foi a mais extraordinária manifestação


de glória e absolutismo de um soberano.

▪ Da imponência arquitetónica à magnificência


escultórica, da sumptuosa decoração à
dignidade dos materiais, o Real Edifício de
Mafra concretizou o conceito de «obra de
arte total».

▪ Todas as artes (arquitetura, escultura e


pintura) convergem num mesmo discurso
formal, plástico e estético.

▪ Um discurso fundado numa retórica dos


sentidos que caracterizou a época barroca.

O Real Edifício de Mafra foi inaugurado a 22 de ▪ Em 1910 o Palácio-Convento Nacional de


novembro de 1730, a um domingo, no dia de Mafra foi classificado como Monumento
aniversário do rei, com grandiosos festejos e Nacional, sendo integrado na Rede de
cerimónias que duraram seis dias. Porém, os Residências Reais Europeias.
trabalhos ainda se prolongaram até 1737.

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