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O urbanismo da Baixa Pombalina

CASO PRÁTICO – MÓDULO 7


Paulo Simões Nunes
História da Cultura e das Artes / 11.º ano
1. Classificação

Plano urbano da Baixa Pombalina


e conceção da arquitetura dos edifícios

Coordenação do processo de reconstrução


e dos projetos:
Eng. Manuel da Maia (1677-1768)

Autoria das plantas de urbanismo


e dos projetos de arquitetura:
Arq. Eugénio dos Santos (1711-1760)
Arq. Carlos Mardel (1695-1763)

Execução: a partir de 1758

História da Cultura e das Artes / 11.º ano


2. Contexto histórico-cultural
2.1 A obra no seu tempo: Lisboa, capital do Reino

 Após se tornar capital do Reino de Portugal, em 1255,


Lisboa registou um assinalável crescimento da
população.

 Lisboa era um importante porto marítimo,


estabelecendo rotas comerciais com o norte da
Europa e com as cidades costeiras do Mediterrâneo.

 A cidade cresceu desordenadamente, em ruas


estreitas e irregulares, sem qualquer plano urbano.
Lisboa antes do Terramoto de 1755, gravura de
Mateus Sautter, Escola Alemã, século XVIII.
 No século XVI Lisboa era descrita como cosmopolita,
muito dinâmica e animada, mas também caótica, suja
e violenta.

 O Rossio assumia-se como a «praça» da cidade,


enquanto no Terreiro do Paço situava-se o Palácio-
-Real, constituindo a representação do poder.

Terreiro do Paço em
Lisboa – uma parada
militar, Dirk Stoop, c. 1650. História da Cultura e das Artes / 11.º ano
2. Contexto histórico-cultural
2.1 A obra no seu tempo: o marquês de Pombal

 Sebastião José de Carvalho e Melo (1699-1782) foi


conde de Oeiras (1759) e marquês de Pombal (1769),
assim ficando conhecido na História.

 Desde 1738 foi embaixador de D. João V nas cortes


inglesa e austríaca, mas com a subida ao poder de
D. José I, em 1750, foi nomeado secretário de
Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra,
passando a deter plenos poderes no seu governo.

Marquês de Pombal, Louis-Michel van


Loo e Claude-Joseph Vernet, 1767.

Marquês de Pombal,
gravura de C. Legrand,
O marquês de Pombal reforçou o poder do século XVIII.
rei e foi defensor do «despotismo
esclarecido» que defendia o poder
absoluto do rei.

História da Cultura e das Artes / 11.º ano


2. Contexto histórico-cultural
2.1 A obra no seu tempo: o marquês de Pombal
(cont.)

 O marquês de Pombal implementou um conjunto de


medidas reformadoras que pretendiam tornar Portugal
uma nação forte e moderna.

 Medidas mais importantes que tomou:

→ Reformou a administração pública, as finanças e o


exército.

→ Expulsou os Jesuítas e confiscou os seus bens.

→ Retirou privilégios aos nobres e ao clero.

→ Criou companhias monopolistas, fomentou as


indústria e o comércio.

→ Reformou o ensino e a Universidade de Coimbra.

 Após o trágico terramoto de 1755, que destruiu


grande parte de Lisboa, o marquês de Pombal
Marquês de Pombal, escola portuguesa,
século XVIII. empreendeu a reconstrução da cidade conferindo-lhe
um traçado racional e funcional e uma imagem
moderna.
História da Cultura e das Artes / 11.º ano
2. Contexto histórico-cultural
2.2 A obra e os seus autores

 Manuel da Maia, engenheiro militar de formação, foi


nomeado Engenheiro-Mor do Reino em 1754.

 Manuel da Maia foi nomeado pelo marquês de


Pombal para coordenar os planos de reconstrução da
Baixa Pombalina.
Manuel da Maia,
busto de  A 4 de dezembro de 1755 entregou a sua dissertação
António Duarte, 1968
com 5 propostas de reconstrução da cidade. Destas,
veio a ser escolhida a reedificação da Baixa segundo
novos planos.

 Eugénio dos Santos era arquiteto e engenheiro militar.


Foi responsável pela planta de reconstrução da Baixa
e pelo desenho da Praça do Comércio (Terreiro do
Paço).

 Carlos Mardel era um arquiteto húngaro, ativo em


Portugal desde 1733. Sucedeu a Eugénio dos Santos
Eugénio dos Santos, Carlos Mardel, após a sua morte, vindo a desenhar a Praça do
retrato anónimo, retrato anónimo, 1760 Rossio.
século XVIII

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2. Contexto histórico-cultural
2.3 O terramoto de 1755

 Na manhã de 1 de novembro de 1755


um violento terramoto destruiu
totalmente a Baixa da cidade,
acompanhado de um maremoto e de um
gigantesco incêndio que durou seis dias.

 Ao todo terão sido destruídos cerca de


10 000 edifícios e morrido entre 12 000
e 15 000 pessoas.

 Seguiu-se um total desgoverno e clima


Terramoto de Lisboa de 1755, gravura alemã da época.
de horror, com corpos entre os
escombros, pilhagens e fugas em
pânico para fora da cidade.

Ficou célebre o pragmatismo da intervenção


do marquês de Pombal: «Enterrem-se os
mortos e cuide-se dos vivos.»

 Mandou remover os cadáveres das


ruas, assegurar o abastecimento de
água e alimentos à população e repor a
ordem pública, e promoveu a
reconstrução da cidade. Terramoto de Lisboa de 1755, gravura alemã da época.
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3. Análise formal

 Seguindo um modelo urbano iluminista (racionalismo,


ordem, regularidade e simplicidade), Eugénio dos
Santos estabeleceu uma malha regular submetida a
uma geometria de ruas ortogonais, definindo quarteirões
retangulares.

 A matriz da arquitetura dos edifícios consistia numa


cércea de quatro pisos com «águas furtadas» na
cobertura, sendo o piso térreo destinado a lojas
comerciais e os restantes a habitação.

 As ruas foram desenhadas com larguras distintas


consoante a sua importância e função, e definidas de
acordo com as respetivas atividades comerciais:
fanqueiros, correeiros, douradores, ouro, prata, etc.

 O entulho dos escombros foi aproveitado para elevar


os edifícios em relação ao rio, e as ruas largas, retas
e alinhadas foram dotadas de uma rede de
abastecimento de água e de um sistema de
saneamento de esgotos.

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3. Análise formal

 A Praça do Comércio (Terreiro do Paço) foi desenhada por


Eugénio dos Santos e constituía o centro político e económico do
Reino, a verdadeira representação do poder.

 No centro da Praça foi


colocada em 1775 a Estátua
Equestre de D. José I, da
autoria de Machado de
Castro.

 O Arco Triunfal da Rua


Augusta foi edificado em
1873-75, com traço do
arquiteto Veríssimo José
da Costa e esculturas de
Vítor Bastos e Anatole
A planta de Eugénio dos Santos. Calmels.
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3. Análise formal

 A Praça da Figueira constituía o mercado da cidade que


decorria a céu aberto.
 Em 1885 foi construído um mercado coberto numa
estrutura metálica, demolido nos anos 1950.

 Em 1971 foi instalada a


Estátua Equestre de D.
João I, da autoria de
Leopoldo de Almeida, e a
praça sofreu um arranjo
urbanístico.

A planta de Eugénio dos Santos.


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3. Análise formal

 A Praça D. Pedro IV,


conhecida como Rossio, foi
desenhada por Carlos Mardel.

 Constituía o centro comunitário


da cidade, onde se
encontravam as principais lojas
e cafés, e se reuniam as
figuras mais proeminentes da
política, da cultura e da arte.

 No centro foi colocada a


Estátua de D. Pedro IV, em
1870, da autoria do arquiteto
Jean Davioud e do escultor
Elias Robert.

 No topo norte da praça foi


construído, entre 1842-46, o
Teatro Nacional D. Maria II com
traça do arquiteto Fortunato
Lodi.
A planta de Eugénio dos Santos.
História da Cultura e das Artes / 11.º ano
3. Análise formal

A ligar aquelas três praças foram


definidas três ruas principais mais
largas:

→ A Rua do Ouro e a Rua Augusta,


ligando a Praça do Comércio ao
Rossio.

→ A Rua da Prata, ligando a Praça


do Comércio à Praça da Figueira.

→ A Rua Augusta, com o Arco


Triunfal a enquadrar a Estátua
Equestre de D. José I com o rio
Tejo ao fundo, constitui uma das
imagens urbanas mais
significativas da Baixa Pombalina.

A planta de Eugénio dos Santos.


História da Cultura e das Artes / 11.º ano
4. Análise técnica

 A matriz da arquitetura foi


uniformizada em edifícios com
quatro pisos e «águas-furtadas»

 Os pisos térreos destinavam-se a


lojas comerciais e a pequenas
oficinas de indústrias artesanais.

 Os restantes pisos destinavam-se


a habitação.

 Ficou célebre o sistema


Paredes corta-fogo
construtivo antissísmico,
designado «estrutura em gaiola».
Edifício pombalino na Rua
 Também foi inédito o sistema de da Vitória, Lisboa, século
A estrutura em combate a incêndios adotado: XVIII.
gaiola consistia para além dos poços abertos nos
numa armação de
saguões dos quarteirões, foram
madeira de vigas
horizontais e criadas «paredes corta-fogo»
verticais com
travamentos em «X».

Os vigamentos verticais eram


enterrados profundamente no solo, num
sistema de estacas, em terrenos
submersos pelas águas do rio Tejo.
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5. Leitura de significados

 A planta da Baixa lisboeta reflete o saber e


a prática de Manuel da Maia, engenheiro-
-mor do Reino e homem experiente no
traçado de cidades militares.

 O racionalismo da intervenção ficou


marcado pelo rigor geométrico do traçado e
pelas preocupações relativamente à
salubridade e segurança dos edifícios.

 A reconstrução da Baixa Pombalina foi


igualmente pioneira na produção
industrializada de diversos elementos
construtivos (cantarias, janelas, sacadas
em ferro, azulejos, etc.).

 Os processos construtivos obedeceram a


uma lógica de uniformização de tipologias
e racionalização construtiva, reduzindo
custos e tempo de obra.

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A Baixa Pombalina

 A reconstrução da Baixa  A matriz racional, de traçado  Para além disto, este foi o primeiro
Pombalina converteu-se regular e rigorosamente plano urbanístico a criar
numa das mais ousadas geométrico, foi pioneira do infraestruturas de saneamento de
intervenções urbanísticas urbanismo iluminista. esgotos, a ter preocupações
da época. antissísmicas e a providenciar um
sistema de combate a incêndios.
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