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PORTUGAL MODERNO
Licenciatura em Gestão
1.º Ano
Elaborado por:
Sandra Araújo n.º 20212749
Barcarena
Abril 2022
Detalhe de gravura sobre o Terramoto de Lisboa de 1755, autor desconhecido
Coleção do Museu de Lisboa / Câmara Municipal de Lisboa – EGEAC
Marquês de Pombal
ÍNDICE
Introdução...................................................................................................................................5
4. Considerações Finais.........................................................................................................13
Referências Bibliográficas........................................................................................................15
iii
Pombal e a formação do Portugal Moderno – Licenciatura em Gestão de Empresas
Introdução
Este trabalho foi realizado no âmbito da unidade curricular de História Moderna e
Contemporânea do 1º ano da Licenciatura em Gestão de Empresa e tem como objetivo
apresentar uma breve análise sobre a dimensão do alcance da atuação de Pombal no processo
histórico da formação do Portugal moderno.
José Eduardo Franco (2018, p. 3) refere que “é bem conhecida a importância histórica do
marquês de Pombal e da sua ação política e diplomática, que o tornou num dos políticos
portugueses mais marcantes e de maior projeção internacional”, deixando para a posteridade
uma meritória obra económica, política e social. Por outro lado, a crise provocada pelo
terramoto de 1755 fez com que fosse revelada a capacidade de liderança do futuro marquês de
Pombal, afirmando-o como figura decisiva no processo de reconstrução de Lisboa e das
reformas políticas efetuadas no reinado de D. José I (Franco, 2021), restabelecendo a
economia do país, e aproximando-a à realidade económica e social da Europa, que desde o
reinado de D. João IV era decadente (Poeiras, 2013).
Convém, contudo, salientar que não é intenção deste trabalho relatar de forma exaustiva a
ação político-económica de Pombal. Pretende-se sim, através de pesquisa bibliográfica
efetuada, analisar, ainda que duma maneira circunstancial e limitada, as ideias e práticas
económicas presentes na administração portuguesa da segunda metade do século XVIII e que
conferiram a Sebastião José de Carvalho e Melo um protagonismo político e um papel únicos
na nossa história.
Em 1723, ainda um fidalgo sem grandeza, casa com D. Teresa de Noronha, sobrinha do
Conde dos Arcos e dama da Rainha D. Maria Ana de Áustria. Este casamento permitiu a
integração do futuro marquês de Pombal no grupo representante da alta fidalguia. A sua
esposa acabaria por falecer no ano de 1739.
A sua ligação a Pombal terá surgido em 1724, com a sua vinda para casa do seu tio, o
arcipreste Paulo de Carvalho e Ataíde, proprietário da Quinta da Gramela, a qual viria a
herdar após a morte do seu tio em 1737. Foi através desse tio que Sebastião José de Carvalho
e Melo conheceu o cardeal D. João da Mota, ministro e valido do rei D. João V, tendo por sua
influência sido nomeado sócio da Academia Real de História em 1733.
Posteriormente, em 1745, foi enviado para Viena de Áustria com a missão de mediar o
conflito diplomático entre a Coroa austríaca e o Papa Bento XIV. Durante a sua estadia em
Viena, conheceu a Condessa de Daun, D. Maria Leonor Ernestina Eva Josefa, pertencente à
alta nobreza austríaca, com quem viria a casar, em segundas núpcias.
O historiador Joaquim Veríssimo Serrão (1987) refere no seu livro sobre o marquês de
Pombal que “na órbita do Rei movia-se o secretário particular Alexandre de Gusmão que era
o mais dotado dos seus colaboradores e que gozava da plena confiança régia". O autor
continua, relatando que Alexandre de Gusmão era inimigo de Carvalho e Melo, apresentando
uma visão distinta do futuro do Reino, devendo-se a ele o ostracismo a que Carvalho e Melo
foi lançado (Serrão, 1987).
Com a morte do rei D. João V e a subida ao trono de D. José I, Sebastião José de Carvalho e
Melo foi nomeado, em 1750, Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra.
Segundo Serrão (1987) o futuro marquês de Pombal era o “retrato de um estadista com
sentido das realidades, cauteloso a formular projetos, porém determinado na sua execução”,
pelo que a sua ascensão política não foi uma surpresa, correspondendo “à vontade régia de
mudar radicalmente as estruturas políticas”. Quanto a Alexandre de Gusmão deixou a cena
política para reocupar o seu posto no Conselho Ultramarino.
Ao contrário do que muitos biógrafos ainda sustentam, Serrão (1987) refere que havia no
novo Ministro “a humildade própria de quem sente a grandeza da sua missão, a consciência
do homem de Estado que, por meio do estudo pessoal e da experiência alheia, buscava
encontrar os remédios adequados para resolver os problemas do País”.
O período de governo que decorreu até ao terremoto de 1755 traduziu-se, segundo Serrão
(1987), “num arrumar de casa perante a inoperância a que chegara, no fim do reinado, a
administração joanina” e “a mão do Secretário de Estado fez-se sentir em vários domínios
[…], acompanhada de um labor legislativo em muitos pontos inovador”. Apesar de nem
sempre os historiadores considerarem o que foi a ação de Pombal nos cinco primeiros anos de
governo, Serrão considera-a fundamental para compreender a confiança que “Sebastião de
Carvalho foi obtendo junto do monarca e que se consolidou nas horas dolorosas da catástrofe
de Lisboa”.
Serrão refere ainda que o facto de Pombal “ter chamado a si, com o consentimento régio, a
execução das medidas urgentes para tirar Lisboa do caos, bastaria para definir um estadista”.
Ainda de acordo com este autor (1987), ninguém melhor do que Carvalho e Melo soube
impor-se aos acontecimentos e “mesmo os historiadores críticos de Pombal, jamais puseram
em dúvida este aspeto positivo do seu governo”.
Surgiu de imediato a decisão de erguer uma “nova” Lisboa, que se refletiu na concretização
de um projeto que vinha de longe. Com efeito, o Secretário de Estado tinha ideias muito
próprias sobre o tipo de urbanismo que mais convinha para a capital, tendo o terremoto
obrigado “a câmara a encarar de frente o problema da reconstrução da cidade” dando-se
preferência à “reedificação da zona atingida pelo terremoto de acordo com um plano que
tivesse em conta o estilo e a segurança dos edifícios” (Serrão, 1987).
Serrão (1987) revela que “o centro vivo de Lisboa passou a ser o Terreiro do Paço, expressão
da cidade burguesa voltada para o Tejo, porta condigna da grande capital”. Este conjunto
urbanístico tinha fins eminentemente comerciais e a sua edificação foi acompanhada de perto
pelo Secretário de Estado do Reino (Serrão, 1987). Mas a reconstrução pombalina abrangeu
também outras áreas, como as Amoreiras, São Mamede, o Bairro Alto, as Mercês, São Bento,
a zona da Sé e a colina da Lapa. A ela se deve também o surgimento de belos fontanários
(Serrão, 1987).
O mesmo autor (2011) refere que através da análise de documentos produzidos pelo próprio
marquês de Pombal, localizados na Coleção Pombalina, da Biblioteca Nacional de Portugal,
pôde perceber que Sebastião José de Carvalho e Melo foi um adepto das ideias de William
Petty1, que o ajudaram a definir os princípios da política económica portuguesa da segunda
metade do século XVIII.
Para Maxwell (1996) Sebastião José de Carvalho e Melo sabia “que a arte de governar reside
em avaliar o poder e as limitações tanto de amigos como de inimigos”. Assim, os métodos por
este adotados para governar a economia portuguesa “refletiam na verdade as peculiaridades
da posição de Portugal dentro do sistema luso-atlântico”. Este mesmo autor refere que a
política econômica de Pombal era lógica uma vez que protegia o comércio benéfico mútuo,
mas também aspirava a desenvolver uma classe nacional de negociantes capaz de competir
nos mercados internacional e português, em especial com os ingleses.
Santos (2011) concorda com Maxwell acrescentando que “a política económica pombalina
privilegiou os grandes comerciantes portugueses, dando-lhes o apoio do Estado, mas
esperando que eles pudessem gerar as riquezas necessárias ao tão desejado desenvolvimento
nacional”. Com efeito, ainda de acordo com este autor, Pombal “reconhecia que os interesses
do estado só poderiam ser atingidos na medida em que o comércio, principal esteio da riqueza
individual e nacional, fosse fomentado”.
De acordo com Serrão (1987) “a visão pombalina do Estado criou uma nova política
económica para alterar a mentalidade e as capacidades de ação do País”, impondo a
diminuição da importação de bens de consumo, que oferecia bom lucro ao tráfego estrangeiro;
a criação de novos centros de produção manufatureira; a oferta ao comércio de bases de
segurança e de rentabilidade; a orientação de mão-de-obra ociosa para atividades úteis; e o
fomento da riqueza para benefício da comunidade (Serrão, 1987). Ao Estado competiria
encontrar meios eficazes para integrar a economia no sistema mercantilista que vigorava na
Europa, já que a Portugal convinha uma política de concentração económica, em que a coroa
1
William Petty foi um economista, cientista e filósofo britânico.
Atlântica, Instituto Universitário – abril/2022 11
Pombal e a formação do Portugal Moderno – Licenciatura em Gestão de Empresas
Assim, creditando no fomento comercial com o patrocínio do Estado Pombal criou um órgão
consultivo que entendeu como fundamental para a coordenação das atividades comerciais: a
Junta do Comércio - “um órgão regulador da economia portuguesa e a maior alavanca da obra
pombalina para dirigir o sector comercial” (Serrão, 1987).
Com efeito, de acordo com Serrão (1987), a Junta do Comércio foi, a partir de 1770, o
organismo administrativo básico de todo o fomento industrial pombalino, “ordenando o
comércio, reprimindo o contrabando, intervindo na importação de produtos manufaturados, e
assistindo de direito próprio nas alfândegas”. O historiador indica ainda que “a abertura de
lojas em Lisboa estava dependente da sua autoridade, assim como a habilitação para certos
ofícios fabris” e “a partida de frotas para o Brasil e a instalação de homens de negócios
careciam da autorização da Junta”.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tendo este trabalho se debruçado sobre interpretação a ação de Pombal na sociedade
portuguesa do século XVIII, apesar de todos os condicionalismos que limitaram a sua
autonomia e não obstante a ausência de profundidade analítica que ainda domina este tema,
facilmente se conclui que a ação pública de Sebastião José de Carvalho e Melo não se
resumiu ao ato político da expulsão dos jesuítas.
Com a morte de D. José I, em 1771, assiste-se à queda política do (Serrão, 1987) de Pombal
que, gravemente doente, enfrenta a vingança dos seus adversários políticos, tendo solicitado a
D. Maria I que o permitisse deixar as funções que desempenhava e que o autorizasse a sair
para Pombal, onde se instalou numa casa na Praça, junto à Igreja Matriz.
Chegou assim ao fim o governo de mais de duas décadas de Sebastião José de Carvalho e
Melo, conde de Oeiras e marquês de Pombal, em cujas mãos, constou-se, o Rei tinha deixado
a condução dos destinos do reino.
Contudo, pelo que aqui foi explanado a atuação do primeiro ministro de D. José I não deve ser
relembrada pelo facto de não ter tocado nas estruturas do “antigo regime” com que se
identificava, mas pelo que mesmo assim conseguiu fazer, não obstante todas as
condicionantes que não lhe permitiram dinamizar e modernizar a sociedade ao ponto de
alcançar o progresso agrícola (à parte da política vinícola e da criação da Real Companhia dos
Vinhos do Alto Douro), ou o avanço (não pontual) da atividade industrial ou abalar a
esmagador domínio britânico (Castro, 1982). O mesmo autor refere que “compreende-se o
orgulho com que depois da demissão elogiava a sua própria política em escritos reunidos ou
elaborados, como na «Quinta inspeção»”, onde são “mencionadas múltiplas indústrias criadas
ou desenvolvidas sob a sua égide”. Certo é que foram tomadas desde o início da sua presença
no governo de D. José I várias medidas políticas dotadas de um inegável pragmatismo
económico.
Parra Armando de Castro (1982) os aspetos imediatos e diretos da ação de José Sebastião de
Carvalho e Melo são evidentes e “abrangem mesmo a formação duma certa mão de obra
especializada e a fixação de algumas instalações industriais de tipo artesanal e
manufatureiro”. Porém, entende este autor que,
“não é possível deixar de observar que as providências de longe mais significativas surgem
precisamente a partir de 1775/1780, ao mesmo tempo que se assiste a uma certa inversão na
política industrial, tanto de administração direta das instalações pertencentes ao Estado (…)
como dos empréstimos a particulares; mas o mais elucidativo foi a entrega de instalações à
iniciativa de particulares “.
Incontornável é o facto das reformas levadas a cabo por Pombal terem permitido restabelecer
a economia do país que desde o reinado de D. João IV era decadente, fortalecendo a nação e
aproximando-a da realidade económica e social da Europa.
Como refere Romaldo Capel (2020) citando Falcon & Rodrigues (2015), independentemente
de diversos autores enaltecerem ou rebaixarem a atuação do futuro Marquês enquanto
ministro de D. José I, não há como negar a importância das ações políticas e económicas
adotadas atenuando os problemas causados pelo terramoto de 1755, constituindo-se como
responsável das transformações e verdadeiras ruturas que assinalaram a sua governação como
um todo.
Referências Bibliográficas
Azevedo, J. L. (2004). O Marquês de Pombal e a sua época (2 ed. ed.). São Paulo: Alameda.
Capel, R. (2020). Sebastião José de Carvalho e Melo e o terremoto de Lisboa de 1755. XI Congresso
de História Econômica: (pp. 616-629). São Paulo: Universidade São Paulo.
Falcon, F. J., & Rodrigues, C. (2015). A "Época Pombalina" no mundo luso-brasileiro. Editora FGV.
Franco, J. E. (12 de abril de 2018). Projeto de investigação e preparação da edição: Obra Completa
Pombalina. Lisboa.
Franco, J. E. (26 de dezembro de 2021). O terramoto como metáfora: O Grande Terramoto de Lisboa e
o prenúncio do sismo jesuítico na Época da Luzes. Teresa, 619-633.
Soares, T. (1961). O Marquês de Pombal: a lição do passado e a lição do presente. Rio de Janeiro:
Alba.