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Personagens

No Memorial do Convento existem personagens históricas (como D. João V, D.


Ana Maria Joseha, Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão e Domenico
Scarlatti) e personagens fictícias (Baltasar Mateus e Blimunda de Jesus).

D. João V
D João V é rei de Portugal de 1706 a 1750. De carácter vaidoso, magnificente
e megalómano pretende deixar uma obra que ateste a grandeza da sua riqueza
e do seu poder – Convento de Mafra -, ainda que para tal se tenha que
sacrificar o povo (sacrificou todos os homens válidos e a riqueza do país). Este
é construído sob o pretexto de que cumpre uma promessa feita (se no espaço
de um ano a sua mulher lhe desse um filho varão este construiria o convento).
É um “marido leviano”, cuja relação com a rainha se rege, essencialmente, pelo
cumprimento de “deveres reais e conjugais”. Dado aos prazeres da carne e a
destemperos vários (teve muitos bastardos e a sua amante favorita era a
Madre Pauta do Convento de Odivelas).
A caracterização do rei é feita predominantemente através da descrição das
suas ações e dos seus pensamentos – de modo indireto.
Durante algum tempo apoiou o projeto do Padre Bartolomeu Gusmão (a
“passarola”).

D. Ana Maria Josefa


De origem austríaca, a rainha, surge como uma pobre mulher cuja única
missão é dar herdeiros ao rei para glória do reino e alegria de todos, vive um
casamento baseado na aparência, na sexualidade reprimida e no falso código
ético, moral e religioso. A rainha representa a mulher que só pelo sonho se
liberta da sua condição aristocrática para assumir a sua feminilidade, sentindo
uma atração incestuosa pelo cunhado D. Francisco. É símbolo do papel da
mulher da época: submissa, simples procriadora, objeto da vontade masculina.

Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão


O padre Bartolomeu, tem por alcunha “O Voador”, vive com a obsessão de
“elevar-se um dia no ar, onde até agora só subiram Cristo, a Virgem e alguns
santos eleitos", daí o seu projeto da “passarola”, apoiado por el-rei D. João V,
que se mostra muito empenhado no progresso do seu invento.
Mantém laços de profunda amizade com Baltasar e Blimunda, que formam o
trio que vai pôr em prática o sonho de voar, e com quem, segundo as suas
palavras, formam “uma trindade terrestre, o pai, o filho e o espírito Santo (XVI)”.
Assim, o trabalho físico e artesanal, de Baltasar, liga-se à capacidade mágica
de Blimunda e aos conhecimentos científicos do padre. Acaba por ter de se
refugiar em Toledo (Espanha) devido à perseguição da Inquisição, que o acusa
de bruxaria, por isso deixa o seu sonho/projeto nas mãos de Baltasar.
A sua obsessão de voar domina-o de tal forma, que ele não se inibe de integrar
no seu projeto um casal não abençoado pela Igreja e de aceitar e usufruir das
capacidades heréticas de Blimunda (“bruxaria”), que farão a passarola voar. A
passarola, símbolo da concretização do sonho de um visionário, funciona de
uma forma antagónica ao longo da narrativa: é ela que une Baltasar, Blimunda
e o padre Bartolomeu, mas também é ela que vai acabar por separá-los.
A sua caracterização é feita predominantemente de forma indireta.

Domenico Scarlatti
É um músico italiano, que veio para Portugal como professor do irmão de D.
João V, o infante D. António, passando depois a ser professor da infanta D.
Maria Bárbara. É um homem de completa figura, rosto comprido, boca larga e
firme, olhos afastados (XVI). Scarlatti é cúmplice silencioso do projeto da
passarola ("Saiu o músico a visitar o convento e viu Blimunda, disfarçou um, o
outro disfarçou, que em Mafra não haveria morador que não estranhasse, e (...)
fizesse logo seus juízos muito duvidosos").
Na história, a sua música tem poderes curativos que libertaram Blimunda da
sua estranha doença, permitindo-lhe cumprir a sua tarefa de recolher as
“vontades” ("Durante uma semana (...) o músico foi tocar duas, três horas, até
que Blimunda teve forças para levantar-se, sentava-se ao pé do Cravo, pálida
ainda, rodeada de música como se mergulhasse num profundo mar, (...)
Depois, a saúde voltou depressa”).
É, ainda, Scarlatti que dá a notícia a Baltasar e Blimunda da morte do padre
Bartolomeu. A música do cravo de Scarlatti simboliza o ultrapassar, por parte
do homem, de uma materialidade excessiva, e o atingir da plenitude da vida.

Blimunda de Jesus
Blimunda de Jesus (19 anos) é "batizada" de Sete-Luas pelo padre Bartolomeu
de Gusmão.
Conhece Baltasar quando assiste ao auto-de-fé de sua mãe, acusada de
feitiçaria.  Rapidamente os dois se apaixonam, e este amor puro e verdadeiro
foge às normas da época.
Blimunda tem um dom: vê o interior das pessoas, herdou da mãe um "outro
saber" e integra-se no projeto da passarola, porque, para o engenho voar, era
preciso "prender" vontades, coisa que só Blimunda, com o seu poder mágico,
era capaz de fazer. Blimunda é, simultaneamente, uma personagem que releva
o domínio do maravilhoso, pelo dom que tem de ver "o interior" das pessoas
(poder que nunca exerce sobre Baltasar - "Nunca te olharei por dentro"-,
porque segundo ela, amar alguém é aceitá-lo sem reservas).
É Blimunda e Baltasar que guardam a passarola enquanto o padre Bartolomeu
foge para Espanha. Após uma aventura voadora, a “passarola” ficou danificada
e estes remendaram-na, compuseram-na e limparam-na.
Após o desaparecimento de Baltasar, Blimunda procurou-o durante 9 anos,
infeliz de saudade, até que na sua sétima passagem por Lisboa, encontrou-o
entre os crucificados da Inquisição, a arder numa das fogueiras, e, graças aos
seus poderes, impediu que a sua vontade (alma) subisse às estrelas,
guardando-a como se fosse sua.
Simbolicamente, o nome da personagem acaba por funcionar como uma
espécie de reverso do de Baltasar. Para além da presença do sete, Sol e Lua
completam-se: são a luz e a sombra que compõem o dia - Baltasar e Blimunda
são, pelo amor que os une, um só. A relação entre os dois é também
perturbadora, porque não existe casamento oficial.
Como outras personagens femininas de Saramago, também Blimunda tem uma
grande firmeza interior, uma forma de oferecer-se em silêncio e de aceitar a
vida e os seus desígnios sem orgulho nem submissão, com a naturalidade de
quem sabe onde está e para quê.

Baltasar Mateus
Baltasar Mateus, de alcunha Sete-Sóis, deixa o exército depois de ter ficado
maneta em combate contra os espanhóis. Antes de partir para a guerra era um
camponês analfabeto. Conhece Blimunda em Lisboa, com 26 anos, e com ela
partilha a vida e os sonhos. De ex-soldado passa a açougueiro num matadouro
em Lisboa e, posteriormente, integra a legião de operários das obras do
convento. A sua tarefa máxima vai ser a construção da passarola, idealizada
pelo padre Bartolomeu de Gusmão, passando a ser o garante da continuidade
do projeto, quando o padre Bartolomeu desaparece em Espanha.
Baltasar acaba por se constituir como a personagem principal do romance,
sendo quase "divinizado" pela construção da passarola: "maneta é Deus, e fez
o universo. (...) Se Deus é maneta e fez o universo, este homem sem mão
pode atar a vela e o arame que hão-de voar. " - diz o padre Bartolomeu a
propósito do seu companheiro de sonhos. Após a morte do padre, Baltasar
ocupa-se da passarola e, um dia, num descuido, desaparece com ela nos céus.
Só é reencontrado, nove anos depois, em Lisboa, a ser queimado no último
auto-de-fé realizado em Portugal.
O simbolismo desta personagem é evidente, a começar pelo seu nome: sete é
um número mágico, aponta para uma totalidade (sete dias da criação do
mundo, sete dias da semana, sete cores do arco-íris, sete pecados mortais,
sete virtudes); o Sol é o símbolo da vida, da força, do poder do conhecimento,
daí que a morte de Baltasar no fogo da Inquisição signifique, também, o
regresso às trevas, a negação do progresso. Baltasar transcende, então, a
imagem do povo oprimido e espezinhado, sendo o seu percurso marcado por
uma aura de magia, presente na relação amorosa com Blimunda, na afinidade
de "saberes" com o padre Bartolomeu e no trabalho de construção da
passarola.
Baltasar é um homem simples, elementar, fiel, terno e maneta, que confina a
capacidade de surpresa com a resignação típica das pessoas humildes de
coração e de condição. Aceita a vida que lhe foi dado viver e a mulher que o
destino lhe ofereceu, sem assombro nem protestos; acata as suas
circunstâncias e não tem medo nem do trabalho nem da morte. Não é um herói
nem um anti-herói, é simplesmente um homem.
Narrador
O narrador garante uma contínua cumplicidade com a personagem e permite a
implicação deste na narrativa:
«…que importância hão-de ter os sonhos que por trás das suas pálpebras se
estão sonhando, a nós o que nos interessa é o trémulo pensamento que ainda
se agita em D. Maria Ana…»
O narrador reflete sobre o processo de escrita, desmistificando assim o seu
papel:
«São comparações inventadas por quem escreve para quem andou na guerra,
não as inventou Baltasar…»
O controlo da narrativa por parte do narrador é ainda verificável nos
comentários valorativos ou depreciativos, nos juízos de valor e no tom
moralístico que perpassa em:
. Provérbios ou profecias:
 «…a pobre não emprestes, a rico não devas, a frade não prometas…»
. Advertências ao leitor:
 «…isto se devendo ler com muita atenção para que não escape ao
entendimento.»
O tom irónico ou sarcástico permite parodiar o passado histórico e o humor põe
em evidência a discordância do narrador perante os factos evocados,
concedendo ao leitor o espaço de julgamento inteligente, porque confia na sua
perspicácia:
«…está o Rossio cheio de povo, duas vezes em festa por ser domingo e haver
auto-de-fé…»
O discurso do narrador é também anti-épico, quando rebaixa heróis que a
História glorifica e nos apresenta como heróis gente anónima em que se
incluem personagens com defeitos físicos, como Baltasar, ou homens
andrajosos, como os operários da construção do Convento de Mafra:
«…termos consentido que viesse à história quanto há de belfos e tartamudos,
de coxos e prognatas, de zambros e epilépticos, de orelhudos e parvos…»
No memorial do convento, o narrador adota muitas posições em relação à
história, o que não podemos afirmar que só existe um tipo de narrador. Em
seguida estão alguns exemplos textuais e o respetivo comentário relativamente
ao narrador:

Exemplo1
«São pensamentos confusos que isto diriam se pudessem ser postos por
ordem, aparados de excrescências, nem vale a pena perguntar, Em que estás
a pensar, Sete-Sóis, porque ele responderia, julgando dizer a verdade, Em
nada, e contudo já pensou tudo isto,»
Observando este excerto, verifica-se que o narrador é sem dúvida um narrador
não participante – heterodiegético – e omnisciente, que conhece os
pensamentos da personagem e que sabe inclusive a resposta que esta lhe
daria se a interrogasse num diálogo imaginado.

Exemplo2
«Já lá vai pelo mar fora o Padre Bartolomeu Lourenço, e nós que iremos fazer
agora, sem a próxima esperança do céu, pois vamos às touradas que é bem
bom divertimento»
O pronome pessoal primeira pessoa e as formas verbais «iremos» e «vamos»
induzem um narrador misturado com a multidão, ou seja, um narrador que
também é personagem – narrador homodiegético – e que perdendo por
instantes a sua faculdade omnisciente, a mais comum em toda a narração, –
vai observando objetivamente o ambiente que o cerca, transformando-se num
narrador observador.

Caracterização do espaço
Físico
Evocação de dois espaços principais determinantes no desenrolar da
ação: Mafra e Lisboa.
Mafra: passa da vila velha e do antigo castelo nas proximidades da Igreja de
Santo André para a vila nova em cujas imediações se vai construir o convento.
A vila nova cria-se justamente por causa da construção do convento.
Lisboa: descrevem-se vários espaços dos quais se destacam o Terreiro do
Paço, o Rossio e S. Sebastião da Pedreira:

 Terreiro do Paço: local onde primeiramente trabalha Baltasar na sua


chegada a Lisboa, descrição pormenorizada e sugestiva da procissão do
Corpo de Deus, em junho. É um espaço fulgurante de vida, com grande
importância no contexto da sociedade lisboeta da época.
 Rossio: surge no início da obra, relacionado com o auto-de-fé que aí se
realiza. A reconstituição do auto-de-fé é fidedigna, a cerimónia tinha por
base as sentenças proferidas pelo Tribunal do Santo Ofício e nela
figuravam não só reconciliados, mas também relaxados, aqueles que
eram entregues à justiça secular para a execução da pena de morte. O
dia da publicação do auto era festivo, segundo se pode constatar das
defesas efetuadas. A procissão propriamente dita saía na manhã de
domingo da sede do Santo Ofício e percorria a cidade de Lisboa antes
de chegar ao local da leitura das sentenças, numa das praças centrais.
À frente seguiam os frades de S. Domingos com o pendão da Inquisição.
Atrás destes os penitentes por ordem de gravidade das culpas, cada um
ladeado por dois guardas. Depois, os condenados à morte,
acompanhados por frades, seguidos das estátuas dos que iam ser
queimados em efígie. Finalmente os altos dignitários da Inquisição,
precedendo o Inquisidor-Geral. A sorte dos réus vinha estampada nos
sambenitos (hábito em forma de saco, de baeta amarela e vermelha que
se vestia aos penitentes dos autos-de-fé) para que a compacta multidão
que se aglomerava soubesse o destino dos condenados.
 S. Sebastião da Pedreira: local mágico ao qual só acedem o padre,
Bartolomeu Lourenço, o Voador, Baltasar e Blimunda. É lá que se
encontra a máquina voadora que está a ser construída em simultâneo
com o Convento de Mafra. A passarola insere-se na narrativa como um
mito, do qual o homem depende para viver, mito proibido, mas que se
evidenciará e se deixará ver pelo voo espetacular que se realizará,
mostrando que ao homem nada é impossível e que a vida é uma grande
aventura. S. Sebastião da Pedreira era, àquele tempo, um espaço rural,
onde não faltavam fontes, terras de olival, burros, noras, e onde se
situava a quinta abandonada. Ali irão as personagens, variadíssimas
vezes e pelas razões mais diversas.

Social
O espaço social é construído através do relato de determinados momentos e
do percurso de personagens que simbolizam um determinado grupo social.
Destaca-se:
1.Procissão da Quaresma:
a. Excessos praticados durante o Entrudo (satisfação dos prazeres carnais) e
brincadeiras carnavalescas – as pessoas comiam e bebiam demasiado, davam
“umbigadas pelas esquinas”, atiravam água à cara umas das outras, batiam
nas mais desprevenidas, tocavam gaitas, espojavam-se nas ruas
b. Penitência física e mortificação da alma após os “abusos” durante o Entrudo
(é tempo de “mortificar a alma para que o corpo finja arrepender-se”)
c. Descrição da procissão (os penitentes à cabeça, atrás dos frades, o bispo,
as imagens nos andares, as ordens e as irmandades)
d. Manifestações de fé que tocavam a histeria (as pessoas arrastam-se pelo
chão, arranham-se, puxam os cabelos, esbofeteiam-se) enquanto o bispo faz
sinais da cruz a um acólito balançam o incensório; os penitentes recorrem à
autoflagelação.
2.Autos-de-fé
a. O Rossio está novamente cheio de assistência; a população está
duplamente em festa, porque é domingo e porque vai assistir a um auto-de-fé
(passaram dois anos após o último evento deste tipo).
b. O narrador revela a sua dificuldade em perceber se o povo gosta mais de
autos-de-fé ou de touradas, evidenciando com esta afirmação a sua ironia
crítica perante um povo que revela um gosto sanguinário e procura nas
emoções fortes uma forma de preencher o vazio da sua existência.
c. A assistência feminina, à janela, exibe as suas “toilettes”, preocupa-se com
pormenores fúteis relativos à sua aparência (a segurança dos sinaizinhos no
rosto, a borbulha encoberta), e aproveita a ocasião para se entregar a jogos de
sedução com os pretendentes que se passeiam em baixo.
d. A proximidade da morte dos condenados constitui o motivo do ambiente de
festa; esta constatação suscita, mais uma vez, a crítica do narrador - na
realidade, o facto de as pessoas saberem que alguns dos sentenciados iriam,
em breve, arder nas fogueiras não as inibia de se refrescarem com água,
limonada e talhadas de melancia e de se consolarem com tremoços, pinhões,
tâmaras e queijadas;
e. Sai a procissão - à frente os dominicanos; depois, os inquisidores
f. Distinção entre os vários sentenciados, assim como o crucifixo de costas
voltadas, para as mulheres que irão arder na fogueira;
g. Menção dos nomes de alguns dos condenados (inclusivamente, o de
Sebastiana Maria de Jesus, mãe de Blimunda)
h. Início da relação entre Baltasar e Blimunda
i. Punição dos condenados pelo Santo Ofício - o povo dança em frente das
fogueiras
3.Tourada (Terreiro do Paço)
a. O espetáculo começa e o narrador enfatiza a forma como os touros são
torturados, exibindo o sangue, as feridas, as "tripas“ao público que, em
exaltação, se liberta de inibições ("os homens em delírio apalpam as mulheres
delirantes, e elas esfregam-se por eles sem disfarce”;
b. Dois toiros saem do curro e investem contra bonecos de barro colocados na
praça; de um saem coelhos que acabam por ser mortos pelos capinhas, de
outro, pombas que acabam por ser apanhadas pela multidão;
c. A ironia do narrador é ainda traduzida pela constatação de que, em Lisboa,
as pessoas não estranham o cheiro a carne queimada, acrescentando ainda
numa perspetiva crítica, que a morte dos judeus é positiva, pois os seus bens
são deixados à Coroa;
4.Procissão do Corpo de Deus
1.Preparação da procissão:

a. Descrição dos "preparos da festa” feita pelo narrador, que assume o olhar do
povo (as colunas, as figuras, os medalhões, as ruas toldadas, os mastros
enfeitados com seda e ouro, as janelas ornamentadas com cortinas e sanefas
de damasco e franjas de ouro), que se sente maravilhado com a riqueza da
decoração (uma reflexão do narrador leva-o a concluir que não se verificam
muitos roubos durante a cerimónia, pois o povo teme os pretos que se
encontram armados à porta das lojas e os quadrilheiros, que procederiam à
prisão dos infratores)
b. Referência do narrador às damas que aparecem às janelas, exibindo
penteados, rivalizando com as vizinhas e gritando motes
c. À noite, passam pessoas que tocam e dançam, improvisa-se uma tourada
d. De madrugada, reúnem-se aqueles que irão formar as alas da procissão,
devidamente fardados.
2. Realização da procissão;
O evento começa logo de manhã cedo. DESCRIÇÃO DO APARATO:
a. À frente, as bandeiras dos ofícios da Casa dos Vinte e Quatro, em primeiro
lugar a dos carpinteiros em honra a S. José; atrás, a imagem de S. Jorge, os
tambores, os trombeteiros, as irmandades, o estandarte do Santíssimo
Sacramento, as comunidades (de S. Francisco, capuchinhos, carmelitas,
dominicanos, entre outros) e o rei, atrás, segurando uma vara dourada, Cristo
crucificado e cantores de hinos sacros.
Outros espaços sociais são:

 O trabalho no Convento – Mafra simboliza o espaço da servidão


desumana a que D. João V sujeitou o seu povo (cerca de 40 mil
trabalhadores).
 A miséria do Alentejo – este espaço associa-se à fome e à miséria

Ação e os seus planos


A análise de Memorial do Convento permite constatar a existência de duas
narrativas simultâneas: uma de carácter histórico – a construção do convento
de Mafra – e outra ficcionada – a construção da passarola que engloba a
história de amor entre Baltasar e Blimunda.
A ação principal diz respeito à concretização do plano de D.João V – a
edificação do convento. Mas nesta encaixam-se outras ações, constituindo
diferentes linhas de ação que se articulam com a primeira.

Linhas de ação presentes na obra:


1ª linha de ação: A do rei D.João V
Abrange todas as personagens da família real e relaciona-se com a segunda
linha de ação, uma vez que a promessa do rei é que vai possibilitar a
construção do convento. Esta linha tem como espaço principal a corte e,
depois, o convento, na altura da sua inauguração, no dia de aniversário do rei.
2ª linha de ação: A dos construtores do convento
Esta é a linha principal da história, a par da quarta – a que respeita à
construção da passarola. Esta segunda linha de ação vai ganhando relevo e
une a primeira à terceira: se o convento é obra e promessa do rei, é ao
sacrifício dos homens, aqui representados por Baltasar e Blimunda, que ela se
deve. Glorificam-se aqui os homens que se sacrificam, passam por
dificuldades, mas que também as vencem.
3ª linha de ação: A de Baltasar e Blimunda
Nesta linha relata-se uma história de amor e o modo de vida do povo
português. As duas personagens (Baltasar e Blimunda) são as construtoras da
passarola; a figura masculina é também, depois, construtora do convento,
constituindo-se paradigma da força que faz mover Portugal – a do povo.
4ª linha de ação: A de Bartolomeu Lourenço
Esta relaciona-se com o sonho e o desejo de construir uma máquina voadora.
Articula-se com a primeira e segunda linhas de ação, porque o padre é o
mediador entre a corte e o povo. Também se enquadra na terceira linha, dado
que a construção da passarola resulta da força das vontades que Blimunda tem
de recolher para que a passarola voe e a força física necessária pela parte de
Baltasar.
Pela análise das sequências narrativas da obra, verifica-se a existência de um
plano ficcional que se cruza com a História, uma vez que a construção da
passarola, evento a que a História se refere, acaba por ser ficcionada quando
se afirma que se moverá pela força das «vontades» que Blimunda recolhe.

Visão crítica
Tendo como pretexto a construção do convento de Mafra, Saramago, adotando
a perspetiva de um narrador distanciado do tempo da diegese, apresenta uma
visão crítica da sociedade portuguesa da primeira metade do século XVIII. É
neste sentido que Memorial do Convento transpõe a classificação de romance
histórico, uma vez que não se trata de uma mera reconstituição de um
acontecimento histórico, mas é antes um testemunho intemporal e universal do
sofrimento de um povo sujeito à tirania de uma sociedade em que só a vontade
de el-rei prevalecem o resto é nada (XXII).
Logo desde o início do romance é visível o tom irónico e, até mesmo,
sarcástico do narrador relativamente à hipotética esterilidade da rainha e à
infidelidades do rei. Esta atitude irónica do narrador mantém-se ao longo da
obra, denunciando o comportamento leviano do rei, a sua vaidade desmedida e
as promessas megalómanas de que resulta o sofrimento extremo de homens
que não fizeram filho nenhum à rainha e eles é que pagam o voto, que se lixam
(XIX).
O clero, que exerce o seu poder sobre o povo ignorante através da instauração
de um regime repressivo entre os seus seguidores e que constantemente
quebra o voto de castidade, também não escapa ao olhar crítico e sarcástico
do narrador. A actuação da Inquisição que, à luz da fé cristã, manipula os mais
fracos é de igual modo criticada ao longo do romance, nomeadamente, através
da apresentação de diversos autos-de-fé e uma crítica às pessoas que dançam
em volta das fogueiras onde se queimaram os condenados.
Assim, é sobretudo as personagens de estatuto social privilegiado que são o
alvo de maiores críticas por parte do narrador que denuncia as injustiças
sociais, a omnipotência dos poderosos e a exploração do povo – evidenciada
nas miseráveis condições de trabalho dos operários do convento de Mafra; ao
mesmo tempo que denota empatia face aos mais desfavorecidos, cujo esforço
elogia e enaltece.
A crítica estende-se, ainda: à Justiça portuguesa que castiga os pobres e
despenaliza os ricos, ao facto de se desprezar os artífices e os produtos
nacionais em defesa dos estrangeiros, bem como ao adultério e à corrupção
generalizados.
Em suma, Memorial do Convento constitui acima de tudo uma reflexão crítica –
ao problematizar temas perfeitamente adaptáveis à época contemporânea do
autor – conducente a uma releitura do passado e à correção da visão que se
tem da História

A simbologia
Começando pelo nome das personagens principais, há que referir que em
ambas (Baltasar Sete-Sóis e Blimunda Sete-Luas) é-nos transmitida uma ideia
de união, de complementaridade e de perfeição, traduzidas pela simbologia do
número sete. De acordo com a numerologia simbólica, podemos constatar,
também, que ambos os nomes representam perfeição, totalidade e até magia,
sugeridas pela extensão trissílaba (e aqui reside a simbologia do número três,
revelador de uma ordem intelectual e espiritual traduzida na união do céu e da
terra).
Vários mutilados surgem na construção do convento («isto é uma terra de
defeituosos, um marreco, um maneta, um zarolho»), onde se inclui obviamente
Baltasar. Tal situação poderá levar à interpretação simbólica da luta desmedida
na construção de algo, como realização de um sonho. Baltasar, após ter
perdido a mão esquerda num episódio bélico, empreende outras lutas: na
construção da passarola e na colaboração na edificação do convento de Mafra.
Simbolicamente, a perda de parte do seu lado esquerdo significou a amputação
da sua dimensão mais nefasta, mais masculina, mais passada; ganhou, assim,
uma dimensão mais espiritual, marcada pela perseverança, força, luta e
sentido de futuro que sairá reforçada na associação com Blimunda.
A riqueza interior de Blimunda apresenta-se, simbolicamente, pela força do seu
olhar, possuidor de um poder mágico.
Metaforicamente, surgem as duas mil “vontades” necessárias para realizar o
sonho do padre Bartolomeu. Trata-se de vontades humanas que, ao longo dos
tempos, originaram o progresso do mundo com a invenção de “aparelhos
voadores” e de todos os objectos concebidos pelo homem. Não será por acaso
que essas vontades são metaforizadas pelas nuvens. Estas ocupam um lugar
ascendente em relação à terra, um espaço intermédio relativamente ao céu.
Também lhes está associada uma ideia de verticalidade. Por estes aspetos, as
vontades (nuvens) estão carregadas de um carácter eufórico (positivo);
contudo, de difícil acesso. Só uma personagem como Blimunda conseguiria
interpenetrar neste mundo não material.
Ainda no que concerne à simbologia dos números, o sete não aparece sé
associado aos nomes de Baltasar e Blimunda, como também à data e à hora
da sagração do convento, aos sete anos vividos em Portugal pelo músico
Scarlatti, sete vezes que Blimunda passa por Lisboa à procura de Baltasar, às
sete igrejas visitadas na Páscoa, aos sete bispos que batizaram Maria Xavier
Francisca comparados a sete sóis de ouro e prata nos degraus do altar-mor
(“Sete bispos a batizaram que eram como sete sóis de ouro e prata nos
degraus do altar-mor”).
O número nove surge também a simbolizar insistência e determinação quando
Blimunda procura o homem amado durante nove anos. Este número encerra
também simbolicamente a ideia de procura. O nove «simboliza o coroamento
dos esforços, o concluir de uma criação e o recomeço», tal como aconteceu a
Blimunda que, após os nove longos anos de busca, reencontra finalmente
Baltasar; não um encontro físico, mas místico e completo («Naquele extremo
arde um homem a quem falta a mão esquerda. (…) E uma nuvem fechada está
no centro do seu corpo. Então Blimunda disse, Vem. Desprendeu-se a vontade
de Baltasar Sete-Sóis, mas não subiu par as estrelas, se à terra pertencia e a
Blimunda»).

Relações amorosas
A Utopia do Amor

Baltasar e Blimunda
Do sonho à concretização

Memorial do Convento - José Saramago


 Ação, tempo, espaço, personagens, narrador
 Temáticas
 Classificações tipológicas
 Simbologias

Ação
 Construção do convento de Mafra (Personagem principal: povo)
 Construção da Passarola (Personagens principais: Baltasar, Blimunda e
padre Bartolomeu Lourenço)
 História de Baltasar e Blimunda (Personagens principais: Blimunda e
Baltasar)

Tempo
17 Nov.
(1624) 1711 1730 1739
1717

21 Out
– desapareciment Blimunda
Quiseram a Data da
Início o Baltasar encontra
construção do inauguração
da Baltasar a
convento do convento 22 Out
ação ser
de Mafra – Inauguração do
  queimado
convento

Duração da ação – 28 anos

Baltasar - 26 Baltasar - 54
anos anos
     
Blimunda - 19 Blimunda -
anos 47 anos

Temáticas
 Amor (D. João V e D. Maria Ana/Baltasar e Blimunda)
 O sonho
 O religioso (Inquisição, Autos-de-Fé, Procissões) vs. o profano (Entrudo,
touradas)
 Crítica social, política e religiosos
 Os verdadeiros construtores do convento

Classificação tipológica da obra


Memorial do Convento não pode ser considerado um romance histórico no
verdadeiro sentido da palavra na medida em que nela se entrelaçam a verdade
e a verosimilhança, o objetivo e o subjetivo, o real histórico e o real
“ficcionado”. Deste modo, é-nos apresentada uma reconstituição histórica
através da recriação de ambientes próprios da época, em jeito de crónica de
costumes, com recurso, tanto quanto possível, à linguagem da época, à
reconstituição pormenorizada de vestuários, usos e costume. Convém também
lembrar a interação entre personagens históricas e personagens ficcionadas.
Assim, Memorial do Convento é um romance que se aproxima da classificação
de Romance Histórico, embora, tendo em conta o atrás exposto, também se
possa falar de Romance de Espaço Social, uma vez que somos confrontados
com a sátira sobre o Portugal da primeira metade do séc. XVIII (1711/1739).
Verifica-se uma preocupação co a realidade social exercida sobre os operários
e a apresentação dos modos de viver, ser e estar de uma época através dos
quadros como as procissões, os autos-de-fé, as touradas, a vida nos
conventos, entre outros.

Cap. X – Comparação entre os dois amores


D. João V e D. Maria Ana (Cap. I)

 Casamento aristocrático, material para servir interesses políticos

Objetivo – conceber herdeiros para assegurar a descendência real

 Sem amor
 Mulher vista apenas como função de procriar
 D. João V, infiel, adúltero
 Relação superficial
 D. Maria Ana desfrutava da relação, era submissa e sonhava com o
cunhado D. Francisco, irmão do Rei.

Baltasar e Blimunda (Cap. V)

 Conheceram-se num auto-de-fé


 Um amor ao acaso
 Não havia infidelidades
 Apenas conviviam
 Casamento espiritual, não religioso apesar de ter sido abençoado pelo
padre
 Amor verdadeiro e sincero

A temática do sonho – a construção da passarola


(Personagens: Padre Bartolomeu, Baltasar, Blimunda, Domenico Scarlatti)

 Encontro do Padre Bartolomeu com Baltasar, no auto-de-fé, em Lisboa


(Rossio) em 26 Julho de 1711 (Cap. V)
 João Elvas informa Baltasar do apelido do padre – O Voador. Baltasar
inquira o Padre sobre a razão do seu apelido de voador. (Cap. VI)
 O Padre confidencia a Baltasar o segredo da máquina e vão a S.
Sebastião da Pedreira.
 Proposta/convite de trabalho de Bartolomeu e Baltasar (Construção da
passarola). (Cap. VI)
 Baltasar e Blimunda mudam-se para S. Sebastião da Pedreira para
estarem perto da máquina (Cap. IX) – o padre viaja para Holanda para
trazer o éter.
 Em virtude de ainda não haver a certeza do voo da máquina, param-se
os trabalhos e Baltasar e Blimunda vão para Mafra. (Cap. IX)
 O padre regressa da Holanda com o “éter – afinal, o que faz voar a
passarola são as “vontades”. (Cap. XI)
 O padre vai para Coimbra mas antes distribui tarefas – quando ele
mandar “irão os dois para Lisboa, tu (Baltasar) construirás a máquina, tu
(Blimunda) recolheras as vontades”. (Cap. XI)
 Baltasar e Blimunda partem para Lisboa a pedido do padre. (Cap. XII)
 Continuação da construção da passarola. (Cap. XII)
 Recolha de vontades na procissão do corpo de Deus. (Cap. XIII)
 O padre revela a Scarlatti o segredo da máquina. - Ida a S. Sebastião da
Pedreira onde o padre apresenta a máquina e a tríade. (Cap. XIV)
 Blimunda finaliza a recolha das vontades durante a epidemia – doença
de Blimunda e cura com a música de Scarlatti. (Cap. XV)
 O padre é perseguido pelo santo oficia o que leva à fuga da tríade na
passarola. Aterragem forçada na serra do Barregudo, no Monte Junto.
(Cap. XVI)


Importância da vontade do ser humano na concretização dos sonhos e a
questão do valor da amizade (os esboços do padre + o trabalho físico de
Baltasar + dimensão espiritual de Blimunda na recolha das vontades) –
esforços conjugados na concretização do sonho de todos.
Implicações simbólicas – engrandecimento do ser humano que atinge outra
dimensão para além da terrestre.

POVO – Herói pícaro coletivo (Cap. XVIII, XIX, XXI)


9 Aquele que tem que andar de um lado para o outro para sobreviver
Oposto à classe dominante, surge este povo anónimo coletivo, trabalhador que
construiu o Convento de Mafra à custa de muito esforço, sofrimento, sacrifício e
mortes. O narrador define-o pelo seu trabalho, pela sua miséria física e moral,
pela sua devoção e humildade, e é este povo o verdadeiro construtor do
convento que alimentou a megalomania do Rei e concretizou o sonho deste.
Não há diferença entre tijolos e homens, estes são apenas a massa bruta que
trabalha. Vemos os homens a escavar os alicerces, a arrotear terras, a
transportar pedras, a erguer paredes, a abrir caboucos, apinhados, sujos,
miseráveis, agrilhoados. Alguns, por desejo do autor, ganham rostos e nomes,
tais são os casos de Francisco Marques, José Pequeno, Manuel Milho,
Joaquim da Rocha, João Anes, Baltasar Mateus … Todos estes ganham
individualidade e é-lhes concedida, aqui na obra, a importância que a História
lhes retirou. No entanto este facto que confere ao povo algum valor, não
impede o narrador de criticar esta personagem coletiva e de mostrar todos os
podres físicos e morais e a sua ignorância. Nesta parte é o povo estúpido e
fanático que assiste deliciado aos autos-de-fé gozando e atirando imundices
aos que vão ser queimados. “Aquela gente que esta cuspindo para mim e
atirando cascas de melancia e imundices” (Cap. V)
 

Quando o narrador deixa de ser omnisciente, passa a contar a história como se


fosse uma das personagens, portanto só pode ser interno.
Na obra, temos um narrador plurivocal que descreve paisagens, situações,
acontecimentos, factos, ambientes, estados de alma, que apresenta a sua
opinião exprimindo juízos de valor, refletindo, comentando e ironizando, que
usa e reinventa provérbios e ditados populares, que faz referencias a obras e a
autores, que domina a história em todos os seus aspetos, que recorre no
discurso escrito a marcas constantes da oralidade, que fala de factos
comprováveis e fidedignos ou que por e simplesmente os inventa. É um
narrador conhecedor da época, íntimo da corte, personagem, testemunha,
observador, critico do presente, contemporâneo do leitor, a voz do próprio
Saramago.
Temáticas:
 O amor – casamento, a construção do convento
 O sonho de voar
 A religiosidade da época (procissões, autos-de-fé, casamentos, funerais
– Infante D. Pedro e sobrinho de Baltasar
 Atos profanos, ou não religiosos (ex.: festas do entrudo e touradas)
 A riqueza da coroa e do clero vs. miséria do povo
 Acontecimentos esporádicos (casuais – a peste, epidemia)

Vertentes: Religiosa, histórica, económica, sócia


Tempo da história ou tempo histórico – época de D. João V entes 1711 e
1739;
Tempo do discurso – tempo do narrador onde podemos encontrar elipses
(omissão do tempo que se passou) – 9 anos que nada se sabe;
Resumos, analepses (momentos passados no tempo) e prolepses (avanços no
tempo) Ex.: Terramoto de 1730, revolução de Abril 1724, e os cinemas e aviões
que ainda não surgiram.

Simbologia
Três
De acordo com a numerologia simbólica, podemos constatar, que ambos os
nomes (Baltasar Sete-Sóis e Blimunda Sete-Luas)
representam perfeição, totalidade e até magia, sugeridas pela extensão
trissílaba (e aqui reside a simbologia do número três, revelador de uma ordem
intelectual e espiritual traduzida na união do céu e da terra).
Quatro
O número quatro está associado à transgressão religiosa já que a junção de
um quarto elemento, Domenico Scarlatti, faz com que se deixe o número divino
(três) para se passar ao símbolo da totalidade e à imagem da Terra.
Quatro são as fases da Lua, cujo ciclo influencia a vida de Blimunda Sete-Luas,
que quando é Lua Nova pode estar em jejum sem que veja o interior das
coisas.
Número Sete
Data e hora da sagração do convento; sete anos vividos em Portugal pelo
músico Scarlatti; sete vezes que Blimunda passa por Lisboa à procura de
Baltasar; sete igrejas visitadas na Páscoa; sete bispos que batizaram Maria
Francisca; sete sóis de ouro e de prata colocados no altar-mor.
A sua presença, no nome de Blimunda e Baltasar, tem um significado dual,
uma vez que se liga à mudança de um ciclo e renovação positiva.
Nove
Representa a gestação, a renovação e o nascimento.
O número nove surge a simbolizar insistência e determinação quando
Blimunda procura Baltasar durante 9 anos. Este número encerra também
simbolicamente a ideia de procura pois, o que realmente acontece a Blimunda
após os 9 anos de busca é que reencontra finalmente Baltasar, não como um
encontro físico, mas místico e completo .
Sol
Associado a Baltasar e ao povo, sugere a ideia de vida, de renovação de
energias (o povo trabalha até à exaustão no convento, Baltasar constrói uma
máquina, mesmo depois de amputado).
Como o Sol, que todos os dias tem de vencer os guardiães da noite (mitologia
antiga), também Baltasar vence as forças obscuras da ignorância e da
intolerância ao voar.
Lua
Símbolo do ritmo biológico da Terra, traduz a força vital que é representada
pelas vontades recolhidas por Blimunda para fazer voar a passarola.
Tradicionalmente a Lua simboliza, por não ter luz própria, o princípio passivo
do sol. No entanto, a obra revoluciona o conceito da Lua ao dar a Blimunda
capacidades sobrenaturais que dependem das fases da lua, tornando-a tão
relevante como o sol. Sol e Lua: simboliza a união como um todo, porque são o
verso e o reverso da mesma realidade, o dia.
Passarola
Traduz a harmonia entre o sonho e a sua realização. Graças ao sonho, foi
possível juntar a ciência, o trabalho artesanal, a magia e a arte, para fazer a
passarola voar.
Simboliza o elo de ligação entre o céu e a terra. É tanto o símbolo da
concretização do sonho, representando assim também a libertação do espírito
e a passagem a outro estado de consciência, uma vez que que esta é
igualmente um símbolo da ligação do céu e da terra, pois ousa sair do domínio
dos homens e entrar no domínio de Deus. Por outro lado, é um símbolo dual,
pois é por sua causa que nasce a Trindade terrestre, mas também é o motivo
de separação desta.
Visão crítica
Desde o início que o Memorial do Convento se apresenta como uma crítica
cheia de ironia e sarcasmo à opulência do rei e de alguns nobres por oposição
à extrema pobreza do povo. «Esta cidade, mais que todas, é uma boca que
mastiga de sobejo para um lado e de escasso para o outro»;» A tropa andava
descalça e rota, roubava os lavradores».
O adultério e a corrupção dos costumes são fatores de sátira ao longo da obra.
Critica a mulher porque «entre duas igrejas, foi encontrar-se com um homem.»;
critica «uns tantos maridos cucos» e não perdoa os frades que «içam as
mulheres para dentro das celas e com elas se gozam»; não lhe escapam os
nobres e o próprio Rei, até porque este considera que as freiras o recebem
«nas suas camas», nomeadamente a madre Paula de Odivelas.
Em Memorial do Convento, José saramago apresenta uma caricatura da
sociedade portuguesa da época de D. João V, revelando-se antimonárquico e
com um humanismo fechado à transcendência, bastante angustiado e
pessimista. Nas questões religiosas, não só usa a ironia, como também se
revela frontal nas apreciações à Inquisição e aos santos que a ela se ligaram
como S.Domingos e Santo Inácio, considerados «ibéricos e sombrios, logo
demoníacos, se não é isto ofender o demónio». Esta acusação resulta de toda
a imagem histórica dos tempos inquisitoriais e das práticas então havidas. Há
uma constante denúncia da Inquisição e dos seus métodos e uma crítica às
pessoas que dançam em volta das fogueiras onde se queimaram os
condenados.
A sátira estende-se a Mafra e à situação dos trabalhadores; à atitude do Rei
em obrigar todo o homem válido a trabalhar no convento; aos príncipes, como
D.Francisco, que se entretém a «espingardear» os marinheiros ou quer seduzir
a rainha, sua cunhada, e tomar o trono.
A religião é o ópio do povo,
o entretenimento dos poderosos
Nada instruído ou informado, o povo português facilmente se deixa manipular
pela Igreja, pelos seus mandamentos anacrónicos e muito afastados dos
princípios defendidos por Jesus Cristo. O próprio rei e demais elementos da
corte se incluem nesta categoria, pois pactuam com todos os desejos e
interesses da Igreja que ninguém ousa sequer contestar ou interrogar, sob
risco de ser acusado de blasfémia ou heresia.
A religião era, na época, um verdadeiro ópio popular, a forma sagaz, inteligente
e integrante de que a igreja dispunha para manter a ordem e os seus grandes
lucros. O povo, miserável e analfabeto, vivia continuamente na esperança de
um qualquer milagre. É, na ignorância, um povo feliz que «desce à rua para ver
desfilar a nobreza toda» para ver chegar o cardeal D. Nuno da Cunha,
esquecendo que são estes os responsáveis pela sua desgraça.
Personagem coletiva e anónima, consubstancia-se nos vários populares que
refletem a miséria encardida, as péssimas condições de subsistência, a
ignorância e a exploração de que são vítimas. E, no entanto, «este povo
habituou-se a viver com pouco.» e não é capaz de evidenciar uma atitude
crítica, nem de assumir uma postura reivindicativa ou de revolta, de tal forma
vive embriagado com os dogmas da Igreja, assustado com atitudes ou
pensamentos que possam significar o julgamento ou o castigo em autos-de-fé,
encarados também como diversão, tal como as touradas.
Com esta consciência, a Igreja sabe tirar partido da sua posição de
superioridade e da influência que exerce, funcionando simultaneamente como
entretenimento e tribunal, alertando os mortais para os perigos que correm
caso não respeitem os mandamentos da santa Igreja. Mas não faculta o
exemplo, todos sabem que muitos membros do clero desrespeitam os votos
que fizeram, que os seus mais altos dignatários são a personificação da
vaidade, da luxúria, da gula, pecados com que se engana o povo, com o intuito
de o manter ignorante e mais facilmente manipulável.

Linhas de crítica
à religião, ao clero, às ordens religiosas, ao povo, às terríveis
discrepâncias sociais, à prepotência real, ...
A Igreja é forte e insistentemente criticada, desde o início da intriga. A
construção do convento, tema nuclear da obra, fica a dever-se a uma
promessa real, visando assegurar a descendência do monarca que, juntamente
com a rainha, obcecados pela ideia da necessidade de um herdeiro, sempre
rezam antes da prática sexual para que não morram no acto carnal (página 16).
É mesmo lançada, pelo narrador, a dúvida sobre a eficácia da promessa real:
«não se vá dizer que... virtuoso Frei António» (página 26).
A sátira religiosa, ora em tom parodístico, ora em tom irónico, ocupa, no
tempo litúrgico da Quaresma, um primeiro exemplo de aproximação
paralelística, por antítese, entre nobres e plebeus, neste caso entre a rainha,
oriunda de Viena, e as mulheres de Lisboa: «É a Quaresma sonho de uns e
vigília de outros» (página 33).
Paradoxalmente, a penitência quaresmal, que inclui as práticas da
autoflagelação, da abstinência e da devoção religiosa, acaba por degenerar em
novos pecados da carne, como se de uma autêntica obsessão se tratasse: «
Assim maltratadas as carnes ... está felizmente louco desde que nasceu.»
(páginas 30 e 31).
Esta vigília pecaminosa das mulheres de Lisboa encontra o
correspondente deslize erótico do sonho progressivamente incestuoso da
rainha, em contraste com: «a maníaca devoção com que foi educada na
Áustria, e a cumplicidade que deu ao artifício franciscano, assim mostrando ou
dando a entender que a criança que em seu ventre se está formando é tão filha
do rei de Portugal como do próprio Deus, a troco de um convento» (página 31).
Além disso, verifica-se que a rainha é caracterizada por um fanatismo quase
demencial.
Ponto alto da sátira político-religiosa, o auto-de-fé ou solene
julgamento/execução do tribunal da Inquisição, constitui ocasião e motivo
singulares para uma ácida crítica comum, à rainha e ao povo.
À rainha, porque, apesar do luto pela morte de seu irmão José, o Imperador da
Áustria, e apesar do seu estado, ela não deixaria de frequentar tão solene
cerimónia, não fosse a debilitação causada pelas sangrias a que foi submetida.
(página 49).
Ao povo, porque sedento de crueldade, oscila na sua preferência entre o auto-
de-fé e as touradas (página 50).
O povo, néscio e atrasado, caracterizado por uma grande e indesmentível
acefalia religiosa, participa com o mesmo entusiasmo nos autos-de-fé e em
novenas e romarias para que a rainha dê ao reino um herdeiro.
E, perante a imbecilidade generalizada, a Igreja vê crescer o seu poder, a
imensa influência que exerce na vida da nação e dos seus destinos. Assim,
manieta o povo e o próprio poder real, pois todos se empenham em celebrar o
fausto dos representantes clericais: «feliz povo que se regala... até ao paço»
(página 87). A ironia é manifesta! Sobretudo, se atendermos ao protocolo que
está associado a todos os actos públicos – em tudo oposto ao exemplo e aos
ensinamentos de Jesus Cristo – e que merece do narrador o seguinte
comentário «louvado seja deus que tem de aturar estas invenções». A mesma
posição irónica, mesmo sarcástica, continua: «esta religião... mas ao corpo»
(página 95).
A Igreja promove e fomenta, igualmente, as discrepâncias sociais: 
«desinteressa-se Deus ... mais os irmãos» (página 109).
O Santo Ofício é continuamente alvo de crítica: «Dos julgamentos do Santo
Ofício não se fala aqui.. bocas.» (página 195).
Estamos, pois, em presença de uma crítica mordaz a este modo bem particular
de praticar a religião. O poder da Igreja é tanto que consegue ludibriar o povo,
embriagá-lo com o fervor religioso e criando-lhe a noção de um Deus
omnipresente, nada benevolente ou pacificador, mas castigador. Este poder é
exercido com grande demagogia, com consciência de que a religião, de acordo
com determinadas regras e preceitos, pode constituir o ópio do povo.
Demagógica será, portanto, a procissão de graças por o Espírito Santo ter
sobrevoado a Vila de Mafra e a crença de que todos os trabalhadores do
convento contribuem para a glória de Deus.
No romance, a mundividência religiosa, obscurantista e fanática
da Inquisição é apontada como causa e responsável pela morte bárbara, pela
destruição do homem, sobretudo daqueles que, pela superioridade do seu
espírito e da sua visão do próprio mundo, contrastavam com a mediocridade, a
ignorância e o negrume dos horizontes religiosos da época.
Se excluirmos o padre Bartolomeu de Gusmão, personagem de excepção,
quer a nível de carácter, quer de formação, todos os outros membros do
clero são apresentados de forma bastante depreciativa.
Mas é sobretudo graças ao pecado da carne e desrespeito pelo celibato que
os clérigos merecem um olhar mais mordaz por parte do narrador, uma vez que
são muitos os exemplos em que os membros do clero, atraídos pelos prazeres
mundanos, esquecem ou ignoram os votos que fizeram, ao consagrarem-se.
Exemplos:

 Página 85- a história de «certo clérigo... à mão»;


 Página 113 - «vêm aí os frades... estivera sentada»;
 Página 359 – episódio em que um frade tenta violar Blimunda: «a
verdade... pessoas».

Também as freiras se revelam merecedoras das mais duras críticas. Sabe-se


que é com estas mulheres que D.João se diverte: «alivia-se a necessidade, na
peniqueira ou no ventre das madres», de tal forma «se diverte.. mesmo tempo»
(página 95).
Exemplos:

 Página 97: « Agora sairão.. ave-maria»;


 Página 98: «ficaram por ali as freiras... meio-dia».

É também de referir  que a Igreja pactua, fomenta e promove toda a espécie


de desigualdades, pois coloca acima de tudo e de todos, os seus próprios
interesses. Cultivando com esmero a vaidade e alardeando o seu poder, a
Igreja cala as explorações de que são vítimas os portugueses, finge ignorar
que o povo passa fome e não tem sequer uma habitação condigna.
Conhecedora das grandes dificuldades em recrutar homens para a
construção do convento de Mafra e das duras condições de trabalho a
que são obrigados todos os trabalhadores, faz tábua rasa de todos esses
aspectos, na mira de mais um templo, de um bom negócio. E
hipocritamente insiste que toda essa obra, devoradora de vidas e bens, é
uma obra santa, pelo que todos nela devem participar.
Uma leitura atenta torna possível perceber quão fúteis e imbecis são
os poderosos que têm a seu cargo zelar pelo bem-estar do povo e gerir os
recursos da nação. D. João V, D. Francisco, D. Nuno da Cunha são
excelentes exemplo onde simultaneamente se adivinham os defeitos que
constituem o tema da crítica.
A própria política dos casamentos reais atesta o que acabámos de dizer:
«Veio devolvida a coitada ... menos» (página  310).
Um dos episódios mais repugnantes do discurso satírico prende-se com
o treino de tiro ao alvo, à beira-Tejo, do infante D. Francisco, cuja
irresponsabilidade repassada de sadismo impressiona o leitor. A
«desconstrução» da inconsciência do contramestre, à mistura com a sua
linguagem de calão, acentua esta repugnância: «levantemos agora... terra»
(páginas 83 e 84).

O fantástico: seu papel


Na obra, parece-nos que o fantástico tem uma função marcadamente
simbólica.
De facto, não será por acaso que o que faz subir a passarola são as vontades
dos homens e das mulheres. Estas vontades recolhidas por Blimunda poderão
significar que a vontade, ou melhor, as vontades dos homens, unidas por uma
mesma causa ou num mesmo sonho, serão capazes de vencer a ignorância,
o fanatismo, a intolerância, libertando o homem, projetando-o para uma
nova idade, abrindo-lhe perspetivas de um mundo diferente.
O próprio voo da passarola poderá representar o poder que o homem tem
quando é capaz de sonhar e não desiste dos seus sonhos. Como a passarola,
o homem libertar-se-á das amarras que o prendem às limitações do seu
quotidiano, à mesquinhez do dia-a-dia e, capaz de olhar o mundo com lucidez,
tornar-se-á mais livre, será cada vez mais senhor de si.
Mas o simbolismo tem outra face. A busca das vontades matará Blimunda
depois de a ter feito sofrer cruelmente: «cansados da grande caminhada de
tanto subir e descer escadas, recolheram-se Baltasar e Blimunda à quinta, sete
mortiços sóis, sete pálidas luas, ela sofrendo uma insuportável náusea, como
se regressasse de um campo de batalha,» e a concretização do sonho dos três
seres empenhados na construção da passarola, levará o padre Lourenço à
loucura e Baltasar à morte. Quanto a Blimunda, ela sofrerá nove anos a
angústia de uma morte lenta, enquanto busca desesperada o seu amor:
«Durante nove anos, Blimunda procurou Baltasar. Conheceu todos os
caminhos do pó e da lama, a branda areia, a pedra aguda, tantas vezes a
geada rangente e assassina, dois nevões de que só saiu viva porque ainda
não queria morrer. Tisnou-se do sol como um ramo de árvore retirado do lume
antes de lhe chegar a hora das cinzas, arregoou-se como um fruto estalado, foi
espantalho no meio de searas, aparição entre os moradores das vilas, susto
nos pequenos lugares e nos casais perdidos».
Assim, a história da construção da passarola representa no seu conjunto a
força criadora que revoluciona o mundo, a esperança num mundo livre e
diferente, e o sofrimento que a sua conquista acarreta para quem se atreve a
lutar por ele.

Intertextualidade
Com Os Lusíadas
Em vários momentos da obra, aparecem inseridos no discurso do narrador
expressões ou versos mais ou menos alterados de Os Lusíadas, como, por
exemplo: «que, entre portugueses traidores houve muitas vezes»; «tão
claramente vista à luz do dia»; «adamastores, que fogos de santelmo, acaso
se levantam do mar, que ao longe se vê, trombas de água que vão sugar os
ares e o tornam a dar salgado»; «vós me direis qual é mais excelente, se ser
do mundo rei, se desta gente»; ou em que se combinam versos de episódios
distintos «Ó doce e amado esposo, e outra protestando, Ó filho a quem eu
tinha só para refrigério e doce amparo desta cansada já velhice minha, tanto
que os montes de mais perto respondiam, quase movidos de alta piedade ». Há
também a recriação de situações vividas no poema, como «e então uma
grande voz se levanta, é um labrego de tanta idade que já o não quisera, e
grita subido a um valado (...) Ó glória de mandar, ó vã cobiça, ó rei infame ó
pátria sem justiça».
1. Na ação da obra distinguem-se três histórias. Identifique-as.
Em memorial do convento podemos destacar três núcleos narrativos: a construção do
convento de Mafra, a construção da passarola e a história de Baltasar e Blimunda.

2. A construção do Convento de Mafra teve origem numa


promessa. Refira-a.
A construção do convento de Mafra teve origem na promessa que se a rainha desse um
filho ao rei este levantaria um convento de Franciscanos em Mafra.

3. Indique dois traços caracterizados de D. João V, Ana de Áustria


e de D. Francisco.
 João V - Autoritário e infantil (quer que a inauguração do convento seja no seu dia
de anos)
 Ana de Áustria – Fútil e superficial.
 Francisco – Ganancioso

4. Baltazar estabelece a relação entre as narrativas da construção


do convento e da passarola. De que modo?
Baltasar estabelece a ligação entre os três núcleos da narrativa porque participa nas duas.
No convento para construir o sonho do rei, na passarola para construir o seu sonho. Numa
como construtor, e noutra como ajudante.

5. Considere as personagens Baltasar Sete-Sóis e Bartolomeu


Lourenço.
5.1. Quando se conhecem?
Baltasar Sete-Sóis e Bartolomeu Lourenço conheceram-se no auto-de-fé num Domingo,
no Rossio, em que a mãe de Blimunda foi condenada.

5.2. Que tipo de relação se estabelece entre os dois?


Tornam-se amigos cúmplices, partilham as mesmas ideias e sonhos (a construção da
passarola) confidenciais.

6. Caracterize Blimunda.
Madura, responsável, corajosa, persistente, fiel ao companheiro, espiritual, misteriosa,
genuína, verdadeira, vê por dentro das pessoas.

6.1. Em que se distingue das outras pessoas?


Blimunda distingue-se das outras pessoas porque tem a capacidade de ver por dentro das
pessoas quando em jejum.

6.2. Como se torna útil a Bartolomeu Lourenço?


Torna-se útil a Bartolomeu Lourenço porque consegue recolher “vontades” necessárias ao
voo da passarola.

7. Interprete o fim trágico das personagens ligadas à passarola.


Ao contrário de Blimunda, Baltasar e o padre Bartolomeu Lourenço acabam por morrer.
Blimunda na obra não morre porque é espiritual. Baltasar morre queimado num auto-de-fé.
O padre morre louco perseguido pela inquisição. Scarlatti morre metaforicamente.
8. O sonho é uma linha de força da obra. Fundamente a
afirmação.
O sonho é uma linha de força da obra porque para realizarmos um sonho necessitamos de
força e de vontade. Na obra o sonho da construção da passarola é uma vontade comum
em que as personagens envolvidas lutam todas pelo mesmo fim. A vontade do ser
humano tem grande importância. A partir da leitura da obra podemos verificar que o
convento é parte do sonho dos franciscanos. O sonho de 1 padre é o sonho de todos, o
sonho é passado para Blimunda e Baltasar. Os desígnios do padre passam a ser os
desígnios dos 3. Querem passar os limites e voar.

9. Distinga personagens referências de personagens ficcionais.


Em memorial do convento existe 2 tipos de personagem: Personagens ficcionais: Julião
Mau Tempo, João Elvas, Baltasar, Blimunda, etc. inventadas pelo autor. D. João V, D. Ana
de Áustria, Scarlatti, e o Padre Bartolomeu são personagens que existiram na realidade.
São todas as personagens que estão referenciadas na história.
10. A construção do Convento assenta no sacrifício de heróis anónimos.
Caracterize-os.

10.1. Registe um acontecimento marcante na vida desses


trabalhadores.
 O transporte da pedra, desde Pêro Pinheiro até Mafra.
 Quando Francisco Marques é esmagado.
 O facto de os homens terem sido obrigados a irem para trabalhar no convento.

11. Apresente o ponto de vista do narrador sobre a construção do


convento de Mafra.
Era um capricho do Rei, era absurdo gastar tanto dinheiro na construção do convento.

12. Os espaços Mafra e Lisboa são privilegiados na obra. Que


imagem física e social nos é dada da capital?
Lisboa é uma cidade suja, levando ao aparecimento de doenças como a peste.
Física - Local onde tudo é imundo, povoado por gente ignorante. Por outro lado gente fútil,
sem princípios (clero).
Social - Existia a extrema miséria por um lado (povo) e a estrema riqueza por outro
(realeza).

13. O clero é observado de forma crítica e irónica. Justifique,


recorrendo a exemplos concretos.
O clero é uma classe enganadora e pecadora, não cumpre as leis da igreja, exemplo dado
é quando o padre fica nu na varanda da casa de uma mulher e depois anda nu pelas ruas
de Lisboa ou quando o padre tenta violar Blimunda.

14. Delimite cronologicamente a ação principal.


A ação começa em 1711. Em 1711 foi colocada a primeira pedra. Em 1790 é o casamento
arranjado de D. José com Mariana Vitória e de Maria Barbara com D. Fernando. O
convento de Mafra é construído a 22 de Outubro de 1930, dia de anos do Rei. Sendo a
acção da construção do convento, começada a 1711 e acabada a 1730.
Resumo do Livro
Autor: José Saramago
Título: Memorial do Convento
Tempo da História: século XVIII, reinado de D. João V, o Magnânimo
João V - Vaidade e Megalomania - Construção do Convento de Mafra como Réplica da
Basílica de S. Pedro
Trilogia necessária para sobreviver a um regime déspota como o do século XVIII:

1. AMOR (Blimunda e Baltasar)


2. SONHO (Padre Bartolomeu de Gusmão)
3. MÚSICA (Domenico Scarlatti)

Macroespaços:

1. Lisboa
2. Mafra

O CASAL REAL

 Casamento = contrato entre duas casas reais europeias


 Carácter obrigatório - falta de afectos e sentimentos
 Falta de intimidade

A apresentação do casal real assenta na ridicularização e humanização do mesmo.


CRÍTICA SOCIAL INICIAL

  o ócio, a infantilidade e a desocupação do rei – legos


  o exagero de pessoal – vestir e despir o rei, momento do encontro noturno
  sobrevalorização do material estrangeiro – a cama da rainha

CAPÍTULO III

 Descrição de Lisboa física e anímica


 Denúncia da religião balofa e virada para o exterior

“Porque a cidade é imunda, alcatifada de excrementos, de lixo, …, de lama mesmo


quando não chove…”
“Lisboa cheira mal, cheira a podridão…”
“… o mal é dos corpos, que a alma, essa, é perfumada.”
A procissão:
“Deus não tem nada que ver com isto, é tudo coisa de fornicação.” -Povo promíscuo,
animal
“É a mulher livre uma vez por ano,…, a mulher entre duas igrejas, foi a encontrar-se com
um homem…” - as classes altas

 Hipocrisia religiosa
 Falta de índole e moral
 Hipocrisia no casamento

CAPÍTULO IV - apresentação de Baltasar


Ficou inválido (maneta) no exército, na Guerra de Sucessão de Espanha, e mandaram-no
de volta para Portugal, sem nada.
Em Évora:

 paga o que deve - Homem honesto e consciente


 Angaria dinheiro para o resto da viagem

PADRE BARTOLOMEU DE GUSMÃO

 Faz a ligação entre a classe alta e a classe baixa porque se dá com a corte e com
o rei (assiste inclusive à aula de música da infanta Maria Bárbara), mas também é
grande amigo de Baltasar e Blimunda.

Capítulo XIV – A aula da infanta


No fim da aula, o padre deixa-se ficar na sala e observa Domenico Scarlatti – o professor –
a tocar. Ele improvisa, dedilha o cravo e deixa correr a música. Esta criação, sinónimo de
liberdade e imaginação, provoca no Padre Bartolomeu um culminar de emoções e
sentimentos – sofre uma fuga no espaço.
Depois, o padre leva Scarlatti até à passarola, com cautela, e convida-o a juntar-se ao
grupo que constrói o engenho: ele, Blimunda e Baltasar. O papel do músico seria tocar
cravo enquanto eles trabalhavam.
Entretanto, apresenta-lhe Blimunda e Baltasar.
Caracterização de Blimunda:

 bonita
 esbelta
 alta
 cabelos cor de mel
 olhos enigmáticos

Simbolismo do cesto de cerejas: Blimunda chega com cerejas nas orelhas para encantar
Baltasar e oferece-lhe um cesto cheio. O cesto simboliza o amor: ela oferece-lhe o seu
amor, o seu coração e a vontade de se por bela para o amado reflecte a veracidade dos
seus sentimentos.
A PESTE
Depois da chegada de uma nau vinda do Brasil à Ericeira, Lisboa é assolada por um surto
de cólera e febre amarela. Com as imundas condições de vida da cidade, rapidamente se
tornam epidemias catastróficas. Então, o padre Bartolomeu lembra-se que seria uma boa
oportunidade de recolher as 2000 vontades necessárias para a passarola voar.
Blimunda parte para Lisboa com Baltasar e cumpre a missão.  Entretanto adoece.
A DOENÇA DE BLIMUNDA
Blimunda adoece no seguimento das provações que passou em Lisboa. Para conseguir
recolher as vontades dos moribundos, a força de viver, precisou de palmilhar imensas
ruas, em jejum, no meio da doença e da sujidade. Ficou debilitada. No entanto, nem o
padre que se sente culpado pela doença dela, nem Baltasar a deixam sozinha por um
momento e, todas as tardes, Scarlatti toca para ela.
Capítulo XVI – O medo, a fuga, o sonho
O padre Bartolomeu sabe que anda a ser vigiado pela Inquisição. Por isso, confessa a
Blimunda que tem medo do St. Ofício. Este medo torna-se, com o passar do tempo, um
obsessão. O padre muda comportamentos, torna-se inquieto, alterado, nervoso.
“O Santo Ofício anda à minha procura. Querem prender-me.”
A passarola surge como o melhor meio para fugir. É a realização do sonho que permite ao
padre fugir à sociedade castradora da época.
Assim, a passarola voa com Blimunda, Baltasar e o padre. Mas, repentinamente, o vento
pára e eles são obrigados a fazer uma aterragem atribulada na Serra do Montejunto.
Desesperado, o padre tenta atear fogo à máquina, mas é impedido pelo casal amigo.
Então, decide fugir.
“Sumiu-se. Foi-se embora e não o tornaremos a ver.”
Um tempo mais tarde, Scarlatti procura Blimunda e Baltasar e informa-os que o padre
morreu louco em Espanha.
Capítulo XIX – A EPOPEIA DA PEDRA
Este capítulo é dedicado à glorificação de todos os que trabalharam no convento durante
tantos anos. Serve também para criticar o rei e os pensamentos da época.
POVO = CONSTRUTORES = HERÓIS
Simbologia dos nomes: o narrador encontra um nome próprio para cada letra do alfabeto
de forma a glorificar todos os homens que trabalharam para que o convento fosse
edificado. É a melhor maneira de mostrar aos leitores que quem merece imortalização são
todos os homens do povo e não o rei que só mandou construir, explorar e maltratar para
satisfazer a sua grande auto-estima.
A PEDRA DE PÊRO PINHEIRO
A pedra enorme que serviu para a construção da varanda tinha que ser uma pedra una
porque o rei era uno e, por isso, deveria simbolizar o seu poder.
Para a transportar de Pêro Pinheiro a Mafra (15km) foram necessários 8 dias, 400 bois,
600 homens e um carro com dimensões especialíssimas.
Os homens deram “um gemido de espanto” ao verem aquela “brutidão de mármore”: o
espanto relaciona-se com o tamanho absurdo da pedra e o gemido com a antecipação do
trabalho e sofrimento que vão ser necessários para a transportar.
Francisco Marques: trabalhador que morre no caminho esmagado pelo carro que resvalou
numa descida. Simboliza todos aqueles que morreram no caminho só por causa duma
pedra.
A história de Manuel Milho: Manuel conta um bocadinho duma história todos os dias à
noite e, no fim da viagem, termina-a. A história fala duma rainha que não sabia se gostava
de ser rainha porque não sabia o que era ser mulher. Então, falou com um eremita que a
aconselhou a largar tudo e a ir procurar as respostas. E assim foi. O rei, humilhado por ter
sido deixado, mandou homens a fio procurar a rainha e o eremita, mas nenhum foi
encontrado e nunca se soube se o eremita chegou a ser homem e a rainha chegou a ser
mulher. Porquê? Porque essas respostas só o próprio a pode alcançar.
Quando chegam a Mafra:

 todos ficam admirados com o tamanho da pedra “Tão grande!”


 Baltasar olha para a pedra e olha para o convento e exclama “Tão pequena!” com
muito desânimo.
Capítulo XX:

 manutenção da camuflagem da passarola


 morte do pai de Baltasar

Capítulo XXI: acordo entre o arquitecto Ludovice e o Rei

 Ludovice consegue dissuadir o rei de mandar construir uma réplica da Basílica de


São Pedro de Roma, utilizando o argumento da idade e do tempo absurdo de
construção.
 O Rei acede e decide a construção de um convento para 1000 frades.
 Ludovice contra-argumenta dizendo que para 1000 frades seria quase tão grande
como S. Pedro.
 Chegam então a acordar a construção de um convento para 300 frades que
deveria estar pronto, impreterivelmente, no Domingo, dia do seu quadragésimo
aniversário, 22 de Outubro de 1830.

Nova referência a Mafra:

 M - mortos
 A - assados
 F - fundidos
 R - roubados
 A – arrastados

Comparação homem-tijolo: a vida humana vale zero. Os homens eram arrastados das
suas terras, empilhados num carro de madeira e levados para Mafra. Lá, eram
descarregados e escolhidos: os que não estivessem em condição de trabalho era
mandados embora sem nada e sem meio de regressar a casa.
Capítulo XXII: troca de princesas

1. Maria Bárbara + D. Fernando


2. José + D. Mariana Vitória

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