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La Sacra Alegria

Grupo Teatral Máschara – novembro de 2022

Prólogo – (retirantes chegam com Diabo – Afastai-vos, afastai-vos. Eu


bagagens ao som da música “Ave renego toda a compaixão, o olhar
Maria Sertaneja – orquestrada”, compreensivo, a pena. Eu sou
formam a figura do quadro “A maior, eu me destaco. Eu quero, eu
Criança Morta” de Portinari.) desejo, eu sou... (trocando de
roupa) Eu fui feito por ele, eu nasci
Texto: Os olhos tristes da fita
como todos vós, eu tenho sangue
Rodando no gravador
nas veias, sou feito de carne, tenho
Uma moça cosendo roupa
ambição (tom) eu sou LUCIFER!
Com a linha do Equador
E voz da Santa dizendo Mulher 2 – Tu és um de nós, tenha
O que é que eu tô fazendo calma. A vivenda é difícil, mas crê
Cá em cima desse andor no amparo, a ajuda virá...
(Personagens formam outra figura Diabo – Crer? A ajuda? Eu estou
de Portinari, “Os Retirantes” para farto. Onde está Deus, o que é que
ambos os lados da arena. Um ele fez por cada um de nós?
homem sai do grupo.)
Homem 2 – Ouça, nós estamos em
Diabo – Ah, Meu Deus, porque me peregrinação pois temos esperança.
fazei passar por essa provação. Tu estás assim agora porque a
Não! O que será de mim com uma jornada parece difícil, maior do que
criança nos braços com fome, com teus ombros parecem suportar, e é
sede, a correr por esse mundo, a assim...
sofrer sem saber de onde venho,
Diabo – E o que foi que ele fez? Por
sem saber para onde vou...
que é que tendes fé? Peregrinas em
Mulher 1 – Acalmai-vos irmão, busca de quê?
tenhais fé...
Homem 1 – Ele nos fez frágeis e ao
Diabo – Fé?! É fé que me pedes mesmo tempo corajosos. Ele
para ter? Quando não tenho como esperava que fossemos todos
matar a minha fome? Quando não justos, bons, mas cada um age do
tenho como saciar a minha sede? seu jeito perante as adversidades.
Nós erramos com medo, mas ele
Homem 1 – Eu entendo a sua dor,
sempre olhou por nós! Junte-se a
mas tenha calma.
nós em peregrinação.
Homem 2 – Todos nós passamos
Diabo – Sempre a mesma
por provações, mas faz parte...
historinha, uma esmola aqui um
Diabo – Eu não sou todos! Por que dinheirinho ali. Vós estais por toda a
é que tenho que ser igual a todos? parte: “uma ajudinha no Natal, uma
Eu tenho direito a um pouco mais ajudinha na Páscoa, um pãozinho
por favor, um copo d’água, um
Mulher 2 – Não fique assim, nos dê troco, um copo de canha, vamos
a sua mão, ande conosco. Juntos pedir na frente da igreja pois lá
seremos mais fortes... terão mais piedade de nós. Eu
conheço-vos. Não é isso que vós Diabo – A morada das trevas, que é
quereis? De que nós que somos de onde vive cada pecador. Sonso,
alguma forma privilegiados e fingido, ambicioso, falsário e ladrão!
felizardos (bravo)temos que cuidar
João – Mas eu nunca roubei nada
de vossos problemas, de vossas
eu juro pelo ar que respiro.
dores e feridas. Mas se estão neste
estado é porque merecem. Eu Zé – Pois trate de parar de respirar.
conheço cada um de vós (cheira)e Roubou ontem mesmo um ovo no
vossos pecados todos. Querem galinheiro da vizinha, dona Coló!
ver? Sois todos aproveitadores que
tentam sempre tomar algum João – Fique quieto, cada palavra
proveito quando possível. Não? pode ser usada contra nós no
(murmúrios)Quereis ver? (joga o tribunal da inquisição, nunca viu
pão no chão, risos. Para o homem filme de polícia?!
que comeu) Guloso! Gula, gula! Zé – Mas eu nunca roubei, o
(apontando para os outros) Luxúria, máximo que fiz foi pegar
inveja, avareza, ira, preguiça, (para emprestado.
o primeiro homem) soberba! Cada
um pior do que o outro (homens João – E esqueceu de devolver,
tentando se esquivar) E é claro, a pois sim.
covardia! Onde pensais que ides? Diabo – Chega! Basta de pilheria.
João Coió – Nós? A lugar nenhum Levarei um pelas orelhas e o outro
não sinhô! pelo rabo preso, grande que é de
tanta mentira!
Zé Mané – Ele eu não sei, mas eu
ia fazer a volta por aqui para ir até João – Valha-me pai do céu.
aí para reverenciá-lo, por todo seu De Jerusalém, Belém, Nazaré
poder, sua sabedoria e sua
grandeza... No céu, na terra ou embaixo dela

Diabo – Debochados! Arruaceiros, O senhor que tudo sabe e tudo vê


o típico serzinho pequeno que gosta Me livre desta esparrela
de dar um “jeitinho” para tirar
proveito na vida... Zé – Não ore assim homem de
Deus, que é capaz do coisa ruim
João – Ih, olha quem falando “o ficar ainda com mais raiva vendo
maior aproveitador” vosmecê tão devoto ao seu maior
Diabo – Como é? inimigo.

Zé – Argumentador, ele disse... AR- João – E onde já se viu, Deus não é


GU-MENTADOR. O maior inimigo de ninguém. Mas eu lhe
argumentador... peço meu Deus nosso Senhor, que
nos socorra nesta hora e nos envie
Diabo – Seus miseráveis cheios de um milagre, um santo ou um fiel
lábia pagarão caro. Ei de arrastá-los soldado de seu andor...
comigo para o quinto dos infernos...
(surge Anjo Gabriel acompanhado
João – Ah não por favor, lá é muito de anjinha)
quente...
Anjo – Deus todo Poderoso nos
Zé – E eu tenho alergia a calor... enviou,
Para que vos defendamos do Pobre, trabalhador Como qualquer
maligno, outro
É por isso que na hora da aflição Que acorda cedo com o canto do
carijó.
Roguem sempre pelo anjo guardião.
Zé – Eu sou Zé, que vem de José
Que dos caminhos do mal vos
afasta Que é carpinteiro
E com suas asas de querubim os Que desde pequeno dentro do
ampara. templo
Diabo – Toda essa conversa... Com a palavra em punho se fez
Gabriel, o preferido do Papai do obreiro
céu, o anunciador... por que é que
Nunca foi de puxa-saquismo e nem
você tem que se meter sempre
de rapapé
onde não foi chamado.
Deve ser por isso que nessas
Zé – Alto lá, o João Coió chamou!
andanças
João – Chamei! Chamei porque não
Me apelidaram de mané.
estamos sós...
Diabo – Aff. Dois poetas... Chega
Diabo – (reage e os dois caem
de conversa, eu tenho mais o que
sentados)
fazer. Exijo levar esses dois
Anjo – Alto lá Satanás! Sabeis que tranquera comigo! E de brinde ainda
não podes judiar dos filhos de Deus, ganho esse bando de retirantes.
muito menos depositar sobre eles a Pedinchas, malandros e
tua mão maligna. Sobretudo quando aproveitadores...
um deles invocar a proteção de
Anjo – Para conduzir qualquer um
nosso senhor...
deles para onde seja terá antes que
Diabo – Não me venha com me enfrentar.
ladainhas.
Diabo – (grita e vem para cima do
João – O Coisa ruim ali não Anjo. Povo chora.)
gostou...
João – Não precisa derramar
Zé – E pelo visto ele tem medo do sangue por nossa causa.
sinhô!
Zé – É verdade, somos todos
Anjo – Não é medo meu irmão, é adultos. Por que é que não
que ele reconhece que o bem é dialogamos...
mais forte. Quem são vocês?
Diabo – E o que é que eu ainda
Apresentam-se.
tenho para conversar ou ouvir para
João – Eu me chamo João, entupir os meus ouvidos de
asneira?!
Filho de Pedro, neto de Elias
João – Lá em minha terra a gente
Tendo em meus antepassados
prefere trocar a ofensa e a violência
Abraão, Jacó e Zacarias. por um jogo de valentia. Ganha
sempre o mais inteligente,
Pelas andanças da vida corajoso...
Me apelidaram de Coió Diabo – (cortando) Ou esperto!
Zé – Se o senhor quer assim Foi o Anjo Gabriel
chamar, eu aceito o elogio. Em uma missão de fé,
Sendo por Deus enviado
Diabo – Vá brincando, que ainda
À Virgem de Nazaré
hoje vosso rabo arderá no
Que mui feliz era noiva
braseiro...
Do carpinteiro José.
Anjo – Qual é a ideia João?
Era jovem virtuosa
João – É simples, eu conto uma E se chamava Maria;
história que aprendi no catecismo. À noite quando orava,
Zé – E que o coisa ruim aí nem O que sempre ela fazia,
deve conhecer. Não tem cara nem Um anjo a surpreendeu,
de que fez a primeira comunhão. Enchendo-a de alegria.

João – É uma história muito bonita “Salve, cheia de graça”,


de amor, confiança e compaixão. O Anjo assim lhe falou,
Zé – Que também tem violência, "O Senhor está contigo
inveja e ambição. E muito te agraciou";
Ouvindo esta saudação,
João – E todo esse povo que tá Maria se perturbou.
aqui na rua há de ficar tão tocado
pela emoção que antes do final “Não temas”, o anjo disse,
desse dia o bem vencerá e o coisa “Pois eis que conceberás
ruim há de voltar bem quietinho pro E daqui a nove meses
seu rincão. Um filho à luz darás,
A quem, por ordem de Deus,
De Jesus o chamarás.
João - A narrativa que faço
Não é minha invenção É o Filho do Altíssimo
Que irá nascer de ti,
Pra contar já me benzi Será grande entre os seus
E os chamará para si,
E fiz minha oração
Deus Pai lhe dará o trono
Peço a Deus discernimento Que pertenceu a Davi".
Pra falar do nascimento
Ouvindo a revelação
De quem trouxe a salvação Do anjo que lhe saudou,
Maria ficou inquieta
E muito se perturbou,
Zé - Nas linhas de cada verso Por isso com humildade
Para o anjo assim falou:
Cumprirei o meu papel
Seguindo sempre a risca “Não entendo como vai
Ser essa concepção,
O tema desse cordel Porque com homem algum
A vinda do Deus menino Eu mantenho relação”;
Mas o anjo, calmamente,
Sua saga seu destino Deu-lhe toda explicação:
Prometendo ser fiel.
"Será por obra dos céus
Que tu irás conceber,
O Espírito Santo vai De ao mundo enviar
Cobrir-te com seu poder, O Messias Salvador".
Pois é Santo o menino
Que de ti irá nascer. Maria pôs-se a cantar
Seu canto com harmonia,
Tua prima Isabel, Pois que o Espírito Santo
Mesmo estéril teve a vez, Seu coração comovia;
Idosa ela ficou grávida A Mãe do Senhor servindo,
E já está nos sexto mês; Cantarolava e dizia:
A Deus nada é impossível,
Do nada tudo Ele fez". A minh’alma engrandece
Imensamente ao Senhor
Maria disse ao anjo: Meu espírito se alegra
"Do Senhor sou a escrava, Em Deus, o meu Salvador;
Ser Mãe do Filho de Deus, Olhou pra minha baixeza
Por essa não esperava, E revelou-me a beleza
Mas que tudo se realize, De suas grandes ações;
Conforme tua palavra". Serei por isso aclamada
Mulher bem aventurada
Transmitida a mensagem, Por todas as gerações.
O anjo se afastou;
Maria, logo em seguida, Sim, o todo poderoso,
Depressa se levantou, Maravilhas fez em mim,
Foi à casa de Isabel, Seu amor é para todos
A ela cumprimentou. Pelos séculos sem fim;
Com seus braços poderosos,
O menino que Isabel Derrubou os orgulhosos
Ali no ventre trazia, Da imponente escalada;
Ouvindo a saudação Os famintos saciou
Pronunciada por Maria, E os arrogantes deixou
Comoveu-se em seu seio De mãos vazias, sem nada.
E pulou de alegria.
Socorreu a Israel,
Cheia do Espírito Santo, O seu povo escolhido
Isabel pôs-se a falar: Recordando a aliança
"É uma honra para mim, No compromisso assumido;
Mal posso acreditar, Lembrou-se da profecia,
Que a Mãe de meu Senhor Cuja promessa um dia
Vem a mim me visitar! Fez ao seu servo Abraão,
De sempre o proteger
Meu filho dentro de mim E com amor acolher
Moveu-se de euforia, Dele toda a geração.
Ao ouvir a saudação
Diabo – É uma história muito
De minha prima Maria;
bonita, mas vocês não estão
Deus lembrou-se da aliança
esquecendo da pobreza e do
E a cumprirá neste dia.
Sofrimento ao qual esse casal foi
exposto, se bem me lembro.
Bendita és tu que creste
Na palavra do Senhor, João – Pois isso acrescenta mais
Pois que em ti se cumprirá bondade a esse texto. O casal
Sua promessa de amor grávido, José e Maria,
abandonaram suas famílias como Ora, se vosmecê é o rei de toda a
qualquer homem ou mulher de hoje Judeia
em dia que abandona sua casa e
Em algum lugar nasceu um menino
vagueia em busca de oportunidade
que será rei,
e comida. Pedindo ajuda de casa
em casa, um cantinho aconchegado Então ele deve ser o seu filho?
pois as primeiras dores Maria
sentia, e teria ainda naquela noite Diabo – Ah, a intriga...
entre capim e manjedoura a sua Boracéia – E você quem é? Faz
bendita cria. parte dessa corte?
Diabo – Eu exijo opinar! Essa Diabo – Da corte do mal sou
história está sendo contada soberano vitalício.
somente pelo vosso ângulo, e um
pouco de malícia eu hei de Comando roubo, assassinato e
acrescentar: parricídio.

Soberano da Judeia, Boracéia – Um homem tão forte e


poderoso
Herodes soube, aturdido,
e eu aqui tão corna desse gorducho
Que uma estrela cintilante guloso.
Haveria conduzido Herodes – Ah esposa, o que tem de
Sempre o trio peregrino bela tem de ignorante.

Na direção do menino, Não percebe que o menino nascido

O santo recém-nascido. Trata-se de um golpe estabelecido


Para nossa coroa usurpar.

Herodes quis confirmar Boracéia – Mas do que se trata


isso? Eu há anos esperando a
Se tinha veracidade viuvez
A notícia que lhe deram, Para ficar livre e reinar de uma vez.
Pois era uma novidade: Onde está esse menino? Vivo ou
morto quero lhe abraçar.
Sacerdotes, profecias
Diabo – Agora sim essa história
Consultou naqueles dias
trafega justa.
A importante autoridade.
Zé – Estamos perdidos. Com essa
Boracéia não contávamos.
Diabo – Herodes tinha pois, uma
Mulher quando se aperreia
esposa muito ambiciosa de nome
Boracéia . Ergue a casa e a todos maneia
Zé – Arre que nome bem feio. A João – Se esquece então dos reis
bichinha deve ser uma diaba! magos do oriente
Diabo – Disse ela ao marido Que viram a luz, uma estrela
Ao saber do nacsimento ocorrido: Grandiosa e poderosa
Boracéia – Nasceu em algum lugar
o rei dos judeus
A iluminar nós tão pequenos aqui Que move um bom coração.
embaixo.
Zé – Chamando os homens ,
Nas escrituras, seus nomes
Boracéia
Nós podemos encontrar.
Fez um pedido, matreiro:
Melchior (ou Belchior),
Boracéia – Encontrem esse
menino, O Baltazar e o Gaspar
Prossigam em seu roteiro. Levaram carinho imenso,
Depois, façam-me um favor, Junto ao ouro, mirra, incenso
Do enviado do Senhor Que puderam ofertar.
Informem o paradeiro.

Um anjo surgiu em sonho


Seguiram o seu caminho Para lhes fazer o alerta:
Aqueles três viajantes - Voltem por outro caminho,
Segurando a ansiedade Pois é essa a escolha certa.
Pelos mágicos instantes Não deem conhecimento
Que teriam em Belém: A Herodes, mau elemento,
Quando vissem o neném Dessa linda descoberta!
Ficariam exultantes. Zé – Vencemos! Vencemos! Nasceu
o pequeno príncipe da terra!
João – E pelos quatro cantos
A estrela que, para os três,
alegraram-se e iluminaram-se as
Era um bonito fanal casas com a estrela do céu!
Riscou o céu e parou Diabo – Seus traidores, vão me
pagar caro! (pula em cima deles.
Bem em cima do local
Anjo pega a base da estrela e
Onde Maria e José acerta o Diabo. Diabo cai no chão)

Receberam, pela fé, Zé – O bem venceu!

O presente Divinal. Anjo – Não zé, o bem não venceu.


O bem só vence quando
aprendemos lições e nos tornamos
Os andarilhos ficaram melhores...

Tomados pela emoção Diabo – E o que será de mim,


sozinho e machucado. Abandonado
Quando puderam cumprir e repleto de ambição e com o ódio a
Aquela grande missão, crescer cada vez mais? Tenha pena
de mim meu Deus, pois eu errei.
Um fruto da persistência Não me abandone, não me
E também da reverência abandone. Eu errei, eu me perdi.
Zé – Nós ganhamos! Nós teu leite
ganhamos, vencemos a aposta. Que é mel sagrado, que é seiva
benta
João – Cale a boca homem. Tu não
se apedoa do sofrimento alheio. A Rompe essa porta, quero olhar teus
diferença entre o bem e o mal é que olhos
no bem sempre há esperança e se Quero agarrar tuas asas para planar
pela estrada
houver um pouquinho de
Que me devolve a viagem
arrependimento dentro de um
Que me devolve a casa
coração ele se torna luz. Por isso eu Tua morada
chamo aqui a mãe do perdão:
Maria – Que palavras Bonitas, João
Zé - Valha-me Nossa Senhora, Mãe Coió e Zé Mané. Obrigado Gabriel,
de Deus de Nazaré! meu grande amigo, anunciador da
A vaca mansa dá leite, a braba dá grande alegria do nascimento do
quando quer. meu filho. Obrigado por proteger
esses romeiros da maldade e da
A mansa dá sossegada, a braba violência que cegou este pobre
levanta o pé. homem.
Já fui barco, fui navio, mas hoje sou Diabo -Minha mãe, eu não sei o
escaler. que aconteceu comigo. Será que eu
Já fui menino, fui homem, só me mereço o vosso perdão?

falta ser mulher. Maria – Eu te compreendo meu


filho, por que já andei por este
Valha-me Nossa Senhora, Mãe de
mundo. Fui uma jovem pobre em
Deus de Nazaré! uma cidade pequena. Sofri na pele
o preconceito e a fome, mas Deus
(toca musica. Entra Maria) fez em mim maravilhas e colocou
em meu seio o salvador do mundo.
João - Em voo rasante pelos tetos
A cada dia nós podemos aprender
humanos
mais sobre o perdão e o que é
Pássaro mãe com pegadas no ar
certo, ainda que sejamos fracos e
Canto sempre a ninar nas noites
às vezes caiamos no erro.
mancas
(menino caminha ao lado dela com
Nos dias em bruma, és um colo de
o mundo sobre as mãos)
plumas
Asas como berço, colar que é terço Diabo – Eu sou digno do perdão?
nos seios do luar
Menino – Todos são dignos do
O grito mais bárbaro, a dor mais perdão (beija a testa dele).
crua
Não passam longe de tua cura, do Diabo – Obrigado. Obrigado Meu
seu cuidar Deus. Obrigado Senhor.
Mãe passarinha, ave materna, (musica a montanha)
benção eterna
Que desce do céu, por sobre minha Zé – E quanto a nós João?
alma
João – Não servimos nem pra anjo
Perdoa minha falta, minha e nem para santo... Acho que pra
impaciência nós só resta ser (tom) o burro e o
Estou dentro da casca como filhote boi de Belém!
nu
Coração afoito, boca sedenta pelo
(formam o presépio. Noite feliz)

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