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APRESENTAÇÃO: AUTO DA COMPADECIDA

CENA 01

Jogado ao chão, João Grilo tem a marca de um tiro no peito. O público entra e observa
aquela cena. O cenário parece evocar uma entrada de uma igreja, com velas e santos.
De repente, João Grilo se levanta e se dirige ao público.
JOÃO GRILO: Auto da Compadecida!! O julgamento de alguns canalhas, entre os quais
um padre e uma mulher chifreira, além desse amarelo safado e mentiroso que acabou
baleado numa guerra entre cangaceiros e a polícia.
Aproxima-se do público, toca a marca de sangue e faz um gesto de dor.
JOÃO GRILO: Essa é a sina de todo homem: encontrar-se com o único mal
irremediável.
Afasta-se do público e então prossegue.
JOÃO GRILO: Auto da Compadecida!! Uma história altamente moral e um apelo à
misericórdia!
João Grilo faz sinal para que as pessoas que estão assistindo o sigam para o segundo
espaço.

CENA 02

João Grilo chega no segundo espaço. Parece um ambiente meio soturno, sombrio e triste.
Neste espaço, encontra-se cadeiras e nelas estão sentados o padre, a mulher do padeiro,
Severino de Aracaju e seu cabra. O diabo está sentado em uma mesa de frente, como um
promotor. Na mesa existem muitos livros e uma taça.
DIABO: Até que enfim você chegou, seu amarelo safado. Aguardava você.
MULHER DO PADEIRO: Ui, que eu adoro um homem que manda.
A mulher do padeiro toca o ombro do diabo e retira sua mão rapidamente, como se
houvesse sido queimada.
João Grilo se aproxima das cadeiras e cumprimenta com a cabeça os seus conhecidos.
JOÃO GRILO: Me aguardava para quê, seu fedorento?
PADRE: Mais respeito, João.
SEVERINO DE ARACAJU: Isso mesmo! Seremos todos julgados!
DIABO: Julgamento????? Não haverá julgamento!!!
Todos se levantam das cadeiras e se aproximam de João Grilo, se misturam as pessoas
que estão assistindo, assustados.
DIABO: Vamos, todos para dentro. Para dentro, já disse. Todos para o fogo eterno, para
padecer comigo.

Todos saem correndo levando o público para o terceiro espaço.

CENA 03

A cena seguinte encontramos um outro espaço, onde vemos um trono centralizado.


Imagens de anjos estão por toda parte. O ambiente parece extremamente iluminado.
No trono vemos Emanuel (Jesus) sentado.
EMANUEL: O que se passa? Qual o motivo de toda essa confusão?
JOÃO GRILO: O fedorento quer arrastar a gente e este povo todo para o inferno!
Neste momento, o diabo entra na sala e ao ver Jesus, vira-se com cara de quem nada fez.
DIABO: Emanuel é justo e sabe que a situação de vocês não é fácil.
O diabo caminha até onde estão os julgados e começa a falar.
DIABO: O padre enterrou um cachorro em latim.
PADRE: E é errado?
DIABO: Se é errado eu não sei, o que eu sei é que você pensava que era, até receber o
testamento da cachorra. A mulher do padeiro o traia com todos os homens que conhecia.
MULHER DO PADEIRO: Ouxe!
DIABO: Simonia e adultério! Quanto a Severino...
EMANUEL: Severino enlouqueceu enquanto criança ao ver seus pais serem
assassinados, ele foi só um instrumento da cólera divina. Parta Severino, você está salvo!
Severino se encaminha para o espaço final.
CABRA: Ouxe, e eu? Qual será o meu destino?
EMANUEL: Acompanhe o seu companheiro. Estava também entre os desígnios de meu
Pai a sua amizade.
O diabo caminha até o público e começa a observá-los.
DIABO: Quantos pecados interessantes temos aqui, acredito que vou levá-los todos...
JOÃO GRILO: Nada disso, vou me pegar com quem foi gente como a gente.
Valha-me Nossa Senhora, Mãe de Deus de Nazaré!
A vaca mansa dá leite, a braba dá quando quer.
A mansa dá sossegada, a braba levanta o pé.
Já fui barco, fui navio, mas hoje sou escaler.
Já fui menino, fui homem, Só me falta ser mulher.
Valha-me Nossa Senhora, Mãe de Deus de Nazaré!
Neste instante João Grilo afasta ele das pessoas e começam a caminhar para outro
espaço.

CENA 04

O último espaço é um local claro, sem mobília, com algumas velas espalhadas pelo chão.
Neste espaço encontra-se A Compadecida.
A COMPADECIDA: Foi você que me chamou, João?
JOÃO GRILO: Sim, Senhora. A Senhora ficou ofendida com o versinho que recitei?
A COMPADECIDA: Não, João. Tenho mais graças, mas é uma oração alegre. Quem
gosta de tristeza é o diabo.
O diabo se aproxima, com cara de que não está gostando.
DIABO: Lá vem a Compadecida. Mulher em tudo se mete.
A Compadecida sorri para o público e continua.
A COMPADECIDA: Vou ver o que posso fazer por vocês. Intercedo por esses pobres
que não têm ninguém por eles, meu filho. Não os condene.

EMANUEL: O caso é complicado...


A COMPADECIDA: Na Ave Maria os homens me pedem para rogar por eles na hora
da morte, e eu rogo. E olho. Neste momento que muitos encontram a sua redenção.
A Compadecida aproxima-se do padre.
A COMPADECIDA: Na hora da morte o padre encontrou sua fé, apesar dos desvios.
Ele orou por seus carrascos, seguindo seu exemplo.
A Compadecida aproxima-se da mulher do padeiro.
A COMPADECIDA: Quanto a mulher do padeiro, o mais ofendido pelos atos que ela
praticava era o próprio marido, e ele a perdoou na hora da morte.
EMANUEL: Alegações aceitas!
DIABO: Eu protesto!!!
EMANUEL: Eu sei que você protesta, mas você não entende nada dos desígnios de
Deus.
DIABO: Mas eu vou ficar pelo menos com esse amarelo safado e esse povo que está com
ele!
João Grilo sai correndo do último espaço puxando as pessoas para o espaço inicial e,
ao chegar lá, ele se curva e agradece e se despede.

FIM

ELENCO
JOÃO GRILO – JOÃO LUCAS (GRUPO 01) / YAGO (GRUPO 02)
PADRE – GEOVANA (GRUPO 01) / FERNANDA (GRUPO 02)
MULHER DO PADEIRO – SARAH LUZ (GRUPO 01) / ANA CLARA (GRUPO 02)
SEVERINO DE ARACAJU – HELOÍSE (GRUPO 01) / THIAGO (GRUPO 02)
CABRA – MARIA PAULA (GRUPO 02)
ENCOURADO – MATHEUS (GRUPO 01) / VINÍCIUS (GRUPO 02)
EMANUEL – VLADIMIR (GRUPO 01) / SARA CLARINE (GRUPO 02)
A COMPADECIDA – AYSHA (GRUPO 01) / BIANCA (GRUPO 02)

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