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CENA 1
CENA 2
Após a música, entra em direção ao caixão, José Lins do Rego, um dos melhores amigos de
Graciliano, com um caderno numa das mãos e uma garrafa de bebida na outra, e um dos
bolsos o cigarro Selma.
José
José
1,75, era a sua altura, calçava 41, vestia o nº 39. Preferia não andar, Odiava vizinhos, Detestava
rádio, telefone e campainhas, tem pavor ás pessoas que falam alto, usava óculos, meio calvo.
José
Não tinha preferência por nenhuma comida, muito menos gostava de frutas e doces.
Indiferente à música. Sua leitura predileta era a Bíblia, mas era ateu.
José: Quando tinha 34 anos, escrevia Caetés. Mas não tinha preferência a nenhum dos seus
publicáveis. Gosta de aguardente. Indiferente à academia. Odeia a Burguesia, adorava
crianças.
José
Romancistas brasileiros que mais lhe agradam: Manoel Antônio de Almeida, Machado de Assis,
Jorge Amado, eu José Lins do Rego e Rachel de Queiroz.
Gosta de palavrões escritos e falados. Deseja morte do capitalismo, escreveu todos os seus
livros pela manhã.
José
Eu, grande entusiasta do Clube de Regatas Flamengo, ele grande fã do Sport Clube Corinthians
Paulista.
José
Fuma cigarros “Selma”, três marços por dia. E não é à toa que morreu de câncer de pulmão.
José
José
Só tem cinco ternos de roupa, estragados. Refaz seus romances várias vezes.
José
Escreve à mão. Seus maiores amigos: Capitão Lobo, Cubano, José Lins do Rego e José Olympio.
(Fui amigo dele observem)
José
Tem poucas dívidas. Foi prefeito de Palmeira dos Índios, quando prefeito de uma cidade do
interior, soltava os presos para construírem estradas.
Espera morrer com 57 anos, mas morre aos 61 anos, vítima de câncer de pulmão, acho que
ficou claro como.
José sai de cena. (Após breve pausa, Graciliano se levanta do meio da plateia e começa a falar)
CENA 3
Graciliano
Os senhores estão em meu funeral. Repleto de pessoas que nem conheço. Que atrevimento!
Graciliano
Porém, não estamos aqui nesta tarde para bisbilhotar tal acontecimento.
Estou aqui não somente para contar-lhes minha história, todavia a história da parcela do
Brasil, particularmente do Nordeste e das mazelas que lhe ocorrem até os tempos hodiernos.
Entrevistador
Um momento, senhor Graciliano, sei que esse é o seu funeral e tal, mas será que poderia me
conceder uma entrevista, sou uma estudante de jornalismo isso seria incrível pro meu
currículo.
Graciliano
Entrevistador
Então, por favor sente-se. Sabe sou uma grande fã, já li todos os seus livros, sempre sonhei em
te conhecer.
Graciliano
Entrevistador
Sim, o senhor! Mas bem vamos começar, eu gostaria de saber um pouco mais da sua infância…
Graciliano
Mas isso tudo está contado no meu livro ‘Infância’. Valeria a pena repetir?
Entrevistador
Claro, tive algumas dúvidas durante a leitura, e não há nada melhor do que ouvir direito da
fonte!
Graciliano
Meus pais são seu Sebastião e Dona Maria Amélia, tive quinze irmãos
(Leonor, Otília, Clodoaldo (I), Otacília, Clodoaldo (II), Amália, Anália, Marili, Carmem (I), Carme
m (II), Clélia, Lígia, Vanda, Clóvis, Heitor.) sendo o mais filho mais velho.
Graciliano
O mais velho filho de comerciantes, da minha cidade natal, em Quebrangulo não guardo a
menor lembrança e talvez não sei porque guardaria, pois saí de lá com um ano.
Graciliano
Graciliano
Então, pude me dedicar aos estudos e assim acabei descobrindo o amor pelas letras, acredita
que publiquei meu primeiro conto com 11 anos de idade?
Graciliano
(Ao fundo instrumental – “Aquele Abraço- Gilberto Gil” para representar o Rio de Janeiro.)
Um pouco mais tarde passei a produzir textos já no Rio de Janeiro, os quais assinava sob o
pseudônimo Feliciano Olivença por conta da minha falta de idade.
Cheguei até a trabalhar em jornais como Correio da Manhã, O Século e A Tarde, além dos
meus próprios literárias, além de ensinar português.
Entrevistador
De acordo com algumas pesquisas que realizei, o senhor ocupou cargos públicos, entre eles ser
prefeito de Palmeiras dos índios. Como foi que chegou a prefeito da cidade?
Graciliano
Assassinaram o meu antecessor. Escolheram-me por acaso. Fui eleito, naquele velho sistema
das atas falsas, os defuntos votando, o sistema no Brasil anterior a 1930, e fiquei vinte e sete
meses na prefeitura.
Entrevistador
Consta que, como prefeito soltava os presos para que fossem abrir estradas.
Graciliano
Não era bem isso. Prendia os vagabundos, obrigava-os a trabalhar. E consegui fazer, no
município de Palmeira dos Índios, um pedaço de estrada e uma terraplenagem difícil.
Entrevistador
Tive conhecimento dos relatórios do prefeito ao governador do Estado, dando contas de sua
administração, não é?
Graciliano
O primeiro teve repercussão que me surpreendeu pra caralho, essa merda, foi comentado no
Brasil inteiro. Houve jornais que o transcreveram integralmente.
Graciliano
Apenas, como a linguagem não era a habitualmente usada em trabalhos dessa natureza, e
porque neles eu dava às coisas seus verdadeiros nomes, causaram um escarcéu medonho. A
culpa não é minha se analfabetismo mata os rebanhos.
CENA 4
Entrevistador
Graciliano
A minha primeira esposa, Maria Augusta, foi um amor rápido, ela tinha apenas 19 anos e eu
tinha 23.
Pensar em te esquecer
Quando penso em você
Graciliano
Um amor de jovem, paixão ardente uma pluma de sentimento mutuo, morreu após dar à luz
ao meu quarto filho aos 26 anos.
Graciliano
Ela como aquela frase “Estou pensando em você, pensando em nunca mais te esquecer”.
Entrevistador
Graciliano
Heloísa Medeiros Ramos, conheci ela, onze anos após a morte precoce da minha Maria. Esse
(palavrão) de amor é (palavrão), é um bicho que te pica e faz você se apaixonar novamente,
mas acho que Heloísa foi outro amor puro da minha vida.
Graciliano
A diferença de idade não foi um problema, 18 anos é essa diferença. Era uma moça jovem com
seus 18 anos em sua plena mocidade e um senhor capenga bem vestido com seus 36 anos e
seus 4 filhos. Com ela tive mais quatro filhos, Ricardo, Roberto, Luiza e Clara.
Entrevistador
Graciliano
Entrevistador sai com animação explícita e Graciliano permanece com a cara séria e olhar fixo
ao público.