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Literatura

Arte e Literatura: conceitos iniciais

Teoria

Os conceitos iniciais da arte se desdobram nas áreas da música, expressões dança, literatura, etc. Para essa
aula, veremos alguns pontos importantes sobre esse conteúdo.

A arte
Saber o que é arte, “todo mundo sabe”, não é mesmo? Ela está no nosso cotidiano, no que ouvimos, vemos e
sentimos, mas você já parou para pensar sobre a sua definição? Não? Bom, vamos lá!

A palavra arte é derivada do termo latino “ars”, que significa


arranjo ou habilidade. Neste sentido, podemos entender a noção
de arte como um meio de criação, produção de novas técnicas
e perspectivas. Há diferentes visões artísticas, mas todas
possuem em comum a intenção de representar simbolicamente
a realidade, sendo assim, resultado de valores, experiências e
culturas de um povo em um determinado momento ou contexto
Tarsila do Amaral. Antropofagia, 1929. Dimensões: 126.00 histórico.
cm x 142.00 cm Acervo: Fundação José e Paulina
Nemirovsky (São Paulo, SP)

A arte pode ser composta pela linguagem não verbal (por meio de imagens, sons, gestos, etc.) ou, ainda, pela
linguagem verbal, formada por palavras. Quando ocorre a fusão entre os dois tipos de linguagem, chamamos
de linguagem mista ou híbrida. É importante dizer, ainda, que por mais que a arte faça referência a algum
período histórico ou político, ela não possui compromisso de retratar fidedignamente a realidade (apesar de
algumas obras terem esse propósito); pode, no entanto, ter o intuito de instigar, despertar o incômodo, romper
com os padrões e provocar questionamentos a seu público.

Poema concreto “Lixo”, de Augusto de Campos.


Literatura

A literatura
Conforme já mencionado, as produções de expressão podem aparecer de diversas maneiras, e a literatura
também é um tipo de manifestação artística, tendo como “matéria prima” as palavras, que podem compor
prosas e versos literários. A linguagem, em geral, explora bastante o sentido conotativo e o uso das figuras
de linguagem contribuem para a construção estética do texto. Os movimentos literários, que estudaremos
em breve, estão vinculados a um contexto histórico e possuem características que representam os anseios e
costumes de um determinado tempo.
Os textos literários têm maior expressividade, desse modo, há uma seleção de vocabulário que busca
transmitir subjetividade, uma preocupação com a função estética, com o intuito de provocar e desestabilizar
o leitor. As palavras possuem uma extensão de significados e faz-se preciso um olhar mais atento à leitura,
que não prioriza a informação, mas, sim, o caráter poético.
Vejamos alguns exemplos de textos literários:

Textos de apoio
Anúncios classificados
Vendedoras. Ótima aparência, excelente salário. Rua tal, no tal. Recusada.
Boutique cidade precisa moça boa aparência entre 25 e 30 anos. Marcar entrevista tel. no tal. Recusada.
Moças bonitas e educadas para trabalhar como recepcionistas. Garantimos ganhos acima de um milhão.
Procurar D. Fulana das 12,00 às 20,00 horas, na rua tal, no tal. Recusada.
Senhor solitário com pequeno defeito físico procura moça de 30 anos para lhe fazer companhia. Não precisa
ser bonita. Endereço tal.
Desta vez ela não disfarçou a corcunda nem pôs óculos escuros para esconder o estrabismo. Contratada.
(CUNHA, Helena Parente. Cem mentiras de verdade, 1985)

Capítulo 4, Versículo 3
60% dos jovens de periferia Na queda ou na ascensão minha atitude vai além
Sem antecedentes criminais já sofreram violência E tenho disposição pro mal e pro bem
policial Talvez eu seja um sádico, um anjo, um mágico
A cada quatro pessoas mortas pela polícia, três Juiz ou réu, um bandido do céu
são negras
Nas universidades brasileiras, apenas 2% dos Malandro ou otário, padre sanguinário
alunos são negros Franco atirador, se for necessário
A cada quatro horas, um jovem negro morre Revolucionário, insano ou marginal
violentamente em São Paulo Antigo e moderno, imortal
Aqui quem fala é Primo Preto, mais um
sobrevivente Fronteira do Céu com o Inferno
Astral imprevisível, como um ataque cardíaco no
Minha intenção é ruim, esvazia o lugar verso
Eu tô em cima, eu tô a fim, um, dois pra atirar Violentamente pacífico, verídico
Eu sou bem pior do que você tá vendo Vim pra sabotar seu raciocínio
Preto aqui não tem dó, é 100% veneno
Vim pra abalar seu sistema nervoso e sanguíneo
A primeira faz bum, a segunda faz tá Pra mim ainda é pouco, Brown cachorro louco
Eu tenho uma missão e não vou parar Número um guia terrorista da periferia
Meu estilo é pesado e faz tremer o chão Uni-duni-tê o que eu tenho pra você
Minha palavra vale um tiro, eu tenho muita [...]
munição
Racionais MC’s
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Poema Brasileiro Motivo


No Piauí de cada 100 crianças que nascem Eu canto porque o instante existe
78 morrem antes de completar 8 anos de idade e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
No Piauí sou poeta.
de cada 100 crianças que nascem
78 morrem antes de completar 8 anos de idade Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
No Piauí Atravesso noites e dias
de cada 100 crianças no vento.
que nascem
78 morrem Se desmorono ou se edifico,
antes se permaneço ou me desfaço,
de completar — não sei, não sei. Não sei se fico
8 anos de idade ou passo.

Antes de completar 8 anos de idade Sei que canto. E a canção é tudo.


antes de completar 8 anos de idade Tem sangue eterno a asa ritmada.
antes de completar 8 anos de idade E um dia sei que estarei mudo:
antes de completar 8 anos de idade — mais nada.
Ferreira Gullar, 1962.
Cecília Meireles, 1939.

“Isto não é um cachimbo”. Magritte, 1929.


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O morcego
Meia-noite. Ao meu quarto me recolho.
Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede:
Na bruta ardência orgânica da sede,
Morde-me a goela igneo e escaldante molho.

"Vou mandar levantar outra parede..."


— Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho
E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho,
Circularmente sobre a minha rede!

Pego de um pau. Esforços faço. Chego


A tocá-lo. Minh'alma se concentra.
Que ventre produziu tão feio parto?!

A Consciência Humana é este morcego!


Por mais que a gente faça, à noite, ele entra
Imperceptivelmente em nosso quarto!
ANJOS, Augusto. Eu e Outras Poesias. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998.

Diferenças entre o texto literário e o não-literário


Diferente do poema da autora Cecília Meireles, em que há uma transmissão de subjetividade nos versos e
uma preocupação estética, os textos não literários são aqueles que possuem o caráter informativo, que visam
notificar, esclarecer e utilizam uma linguagem mais clara e objetiva. Jornais, artigos, propagandas
publicitárias e receitas culinárias são ótimos exemplos de textos não literários, pois esses têm o foco em
comunicar, informar, instruir, etc.
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Exercícios de fixação

1. Sobre o contexto de “arte” e sua definição, é possível afirmar que:


a) Embora haja mudanças, ela permanece com os mesmos preceitos.
b) A definição é “trabalho, perfeição”, em latim.
c) A arte pode se modificar de acordo com o tempo e as necessidades humanas.
d) É possível encontrar arte somente em museus e espaços de manifestações expressivas.

2. Assinale a alternativa que corresponde somente a manifestações não-verbais, geralmente:


a) Poemas, crônicas e artes plásticas.
b) Dança, música e contos.
c) Dança, artes plásticas e música instrumental.
d) Grafite, rap e romances realistas.

3. Após analisar os conceitos de arte e linguagem, observe a imagem abaixo:

Fábio Sexugi.

Apresente o(s) tipo(s) de linguagem utilizado(s) na obra de Fábio Sexugi.


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4. Análise a obra abaixo, visando estabelecer o tipo de arte, a linguagem utilizada, seu possível momento
histórico e interpretação de conteúdo.

Arte: Os Gêmeos. Disponível em: https://www.dionisioarte.com.br/2016/06/29/os-gemeos-um-fenomeno-do-graffiti-


nacional-e-mundial/. Acessado em: 03/09/2021

5. A linguagem literária pode ser encontrada nos seguintes gêneros, exceto:


a) Poemas, crônicas, contos e narrativas.
b) farsas, contos, poemas e narrativas de ficção.
c) sonetos, crônica, novelas e romance.
d) textos jornalísticos, textos didáticos e enciclopédias.
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Exercícios de vestibulares

1. (Enem, 2019)

PICASSO, P. Cabeça de touro. Bronze, 33,5 cm x 43,5 cm x 19 cm. Musée Picasso, Paris. França, 1945. JANSON, H. W.
Iniciação à história da arte. São Paulo: Martins Fontes, 1988.

Na obra Cabeça de touro, o material descartado torna-se objeto de arte por meio da
a) reciclagem da matéria-prima original.
b) complexidade da combinação de formas abstratas.
c) perenidade dos elementos que constituem a escultura.
d) mudança da funcionalidade pela integração dos objetos.
e) fragmentação da imagem no uso de elementos diversificados.
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2. (Enem, 2020) TEXTO I


O caminho habitual para o trabalho, aquele em que a gente já nem repara direito, pode ficar mais belo
com um poema. O projeto #UmLambePorDia nasceu desta intenção: trazer mais cor e alegria para a
cidade por meio de cartazes coloridos ao estilo lambe-lambe. Quem teve a ideia foi o escritor Leonardo
Beltrão, em Belo Horizonte. “Em meio a olhares cada vez mais viciados, acabamos nos esquecendo da
beleza envolvida em cada esquina e no próprio poder transformador da palavra”. Assim, a cada dia um
cartaz é colocado por aí, para nos lembrar de reparar na cidade, na vida que corre ao redor e também
em nós mesmos.

TEXTO II

Disponível em: www.vidasimples.uol.com.br. Acesso em: 6 dez. 2017 (adaptado).

Considerando-se a função que os cartazes colados em postes normalmente exercem nas ruas das
cidades grandes, esse texto evidencia a
a) disseminação da arte poética em um veículo não convencional.
b) manutenção da expectativa das pessoas ao andarem pelas ruas.
c) necessidade de exposição de poemas pequenos em diferentes suportes.
d) característica corriqueira do suporte lambe-lambe, muito comum nas ruas.
e) exposição da beleza escondida das esquinas da cidade de Belo Horizonte.
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3. (Enem, 2011) TEXTO I

Toca do Salitre — Piauí Disponível em: http://www.fumdham.org.br. Acesso em: 27 jul. 2010. (Foto: Reprodução/Enem)

TEXTO II

Arte Urbana. Foto: Diego Singh Disponível em: http://www.diaadia.pr.gov.br. Acesso em: 27 jul. 2010. (Foto:
Reprodução/Enem)

O grafite contemporâneo, considerado em alguns momentos como uma arte marginal, tem sido
comparado às pinturas murais de várias épocas e às escritas pré-históricas. Observando as imagens
apresentadas, é possível reconhecer elementos comuns entre os tipos de pinturas murais, tais como
a) a preferência por tintas naturais, em razão de seu efeito estético.
b) a inovação na técnica de pintura, rompendo com modelos estabelecidos.
c) o registro do pensamento e das crenças das sociedades em várias épocas.
d) a repetição dos temas e a restrição de uso pelas classes dominantes.
e) o uso exclusivista da arte para atender aos interesses da elite.
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4. (Enem, 2018)
Eu sobrevivi do nada, do nada
Eu não existia
Não tinha uma existência
Não tinha uma matéria
Comecei existir com quinhentos milhões
e quinhentos mil anos
Logo de uma vez, já velha
Eu não nasci criança, nasci já velha
Depois é que eu virei criança
E agora continuei velha
Me transformei novamente numa velha
Voltei ao que eu era, uma velha
PATROCÍNIO, S. In: MOSÉ, V. (Org ). Reino dos bichos e dos animais é meu nome. Rio de Janeiro: Azougue, 2009

Nesse poema de Stela do Patrocínio, a singularidade da expressão lírica manifesta-se na


a) representação da infância, redimensionada no resgate da memória.
b) associação de imagens desconexas, articuladas por uma fala delirante.
c) expressão autobiográfica, fundada no relato de experiências de alteridade.
d) incorporação de elementos fantásticos, explicitada por versos incoerentes
e) transgressão à razão, ecoada na desconstrução de referências temporais.

5. (Enem, 2018) O rio que fazia uma volta atrás de nossa casa era a imagem de um vidro mole que fazia
uma volta atrás de casa.
Passou um homem e disse: Essa volta que o rio faz por trás de sua casa se chama enseada. Não era
mais a imagem de uma cobra de vidro que fazia uma volta atrás de casa.
Era uma enseada.
Acho que o nome empobreceu a imagem.
BARROS, M. O livro das ignorãças. Rio de Janeiro: Best Seller, 2008.

O sujeito poético questiona o uso do vocábulo “enseada” porque a


a) terminologia mencionada é incorreta.
b) nomeação minimiza a percepção subjetiva.
c) palavra é aplicada a outro espaço geográfico.
d) designação atribuída ao termo é desconhecida.
e) definição modifica o significado do termo no dicionário.
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6. (Enem PPL, 2010) TEXTO I


Chão de esmeralda
Me sinto pisando
Um chão de esmeraldas
Quando levo meu coração
À Mangueira
Sob uma chuva de rosas
Meu sangue jorra das veias
E tinge um tapete
Pra ela sambar
É a realeza dos bambas
Que quer se mostrar
Soberba, garbosa
Minha escola é um catavento a girar
É verde, é rosa
Oh, abre alas pra Mangueira passar
BUARQUE, C.; CARVALHO, H. B. Chico Buarque de Mangueira. Marola Edições Musicais Ltda. BMG. 1997. Disponível em:
www.chicobuarque.com.br. Acesso em: 30 abr. 2010.

TEXTO II
Quando a escola de samba entra na Marquês de Sapucaí, a plateia delira, o coração dos componentes
bate mais forte e o que vale é a emoção. Mas, para que esse verdadeiro espetáculo entre em cena, por
trás da cortina de fumaça dos fogos de artifício, existe um verdadeiro batalhão de alegria: são
costureiras, aderecistas, diretores de ala e de harmonia, pesquisador de enredo e um infinidade de
profissionais de garantem que tudo esteja perfeito na hora do desfile.
AMORIM, M.; MACEDO, G. O espetáculo dos bastidores. Revista de Carnaval 2010: Mangueira. Rio de Janeiro: Estação
Primeira de Mangueira, 2010.
Ambos os textos exaltam o brilho, a beleza, a tradição e o compromisso dos dirigentes e de todos os
componentes com a escola de samba Estação Primeira de Mangueira. Uma das diferenças que se
estabelece entre os textos é que
a) O artigo jornalístico cumpre a função de transmitir emoções e sensações, mais do que a letra de
música
b) A letra de música privilegia a função social de comunicar a seu público a crítica em relação ao
samba e aos sambistas
c) A linguagem poética, no Texto I, valoriza imagens metafóricas e a própria escola, enquanto a
linguagem, no Texto II, cumpre a função de informar e envolver o leitor
d) Ao associar esmeraldas e rosas às cores da escola, o Texto I acende a rivalidade entre escolas de
samba, enquanto o Texto II é neutro
e) O Texto I sugere a riqueza material da Mangueira, enquanto o Texto II destaca o trabalho na escola
de samba
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7. (Enem, 2018) TEXTO I

ALMEIDA, H. Dentro de mim, 2000. Fotografia p/b. 132 cm x 88 cm. Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa.

TEXTO II
A body art põe o corpo tão em evidência e o submete a experimentações tão variadas, que sua
influência estende-se aos dias de hoje. Se na arte atual as possibilidades de investigação do corpo
parecem ilimitadas – pode-se escolher entre representar, apresentar, ou ainda apenas evocar o corpo
– isso ocorre graças ao legado dos artistas pioneiros.
SILVA, P R. Corpo na arte, body art, body modification: fronteiras. II Encontro de História da Arte: IFCH-Unicamp, 2006
(adaptado).

Nos textos, a concepção de body art está relacionada à intenção de


a) estabelecer limites entre o corpo e a composição.
b) fazer do corpo um suporte privilegiado de expressão.
c) discutir políticas e ideologias sobre o corpo como arte.
d) compreender a autonomia do corpo no contexto da obra.
e) destacar o corpo do artista em contato com o expectador.
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8. (Enem, 2018) Somente uns tufos secos de capim empedrados crescem na silenciosa baixada que se
perde de vista. Somente uma árvore, grande e esgalhada, mas com pouquíssimas folhas, abre-se em
farrapos de sombra. Único ser nas cercanias, a mulher é magra, ossuda, seu rosto está lanhado de
vento. Não se vê o cabelo, coberto por um pano desidratado. Mas seus olhos, a boca, a pele – tudo é
de uma aridez sufocante. Ela está de pé. A seu lado está uma pedra. O sol explode.
Ela estava de pé no fim do mundo. Como se andasse para aquela baixada largando para trás suas
noções de si mesma. Não tem retratos na memória. Desapossada e despojada, não se abate em
autoacusações e remorsos. Vive. Sua sombra somente é que lhe faz companhia. Sua sombra, que se
derrama em traços grossos na areia, é que adoça como um gesto a claridade esquelética. A mulher
esvaziada emudece, se dessangra, se cristaliza, se mineraliza. Já é quase de pedra como a pedra a seu
lado. Mas os traços de sua sombra caminham e, tornando-se mais longos e finos, esticam-se para os
farrapos de sombra da ossatura da árvore, com os quais se enlaçam.
FRÓES, L. Vertigens: obra reunida. Rio de Janeiro: Rocco, 1998

Na apresentação da paisagem e da personagem, o narrador estabelece uma correlação de sentidos em


que esses elementos se entrelaçam. Nesse processo, a condição humana configura-se
a) amalgamada pelo processo comum de desertificação e de solidão.
b) fortalecida pela adversidade extensiva à terra e aos seres vivos
c) redimensionada pela intensidade da luz e da exuberância local.
d) imersa num drama existencial de identidade e de origem.
e) imobilizada pela escassez e pela opressão do ambiente.

9. (Enem, 2019) Inverno! inverno! inverno!


Tristes nevoeiros, frios negrumes da longa treva boreal, descampados de gelo cujo limite escapa-nos
sempre, desesperadamente, para lá do horizonte, perpétua solidão inóspita, onde apenas se ouve a voz
do vento que passa uivando como uma legião de lobos, através da cidade de catedrais e túmulos de
cristal na planície, fantasmas que a miragem povoa e anima, tudo isto: decepções, obscuridade, solidão,
desespero e a hora invisível que passa como o vento, tudo isto é o frio inverno da vida.
Há no espírito o luto profundo daquele céu de bruma dos lugares onde a natureza dorme por meses, à
espera do sol avaro que não vem.
POMPEIA, R. Canções sem metro. Campinas: Unicamp, 2013.

Reconhecido pela linguagem impressionista, Raul Pompeia desenvolveu-a na prosa poética, em que se
observa a
a) imprecisão no sentido dos vocábulos.
b) dramaticidade como elemento expressivo.
c) subjetividade em oposição à verossimilhança.
d) valorização da imagem com efeito persuasivo.
e) plasticidade verbal vinculada à cadência melódica.
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10. (Enem, 2020)

KOSUTH J. One and Three Chairs. Museu Reina Sofia, Espanha, 1965. Disponível em: www.museoreinasofia.es. Acesso em: 4
jun. 2018 (adaptado).
A obra de Joseph Kosuth data de 1965 e se constitui por uma fotografia de cadeira, uma cadeira
exposta e um quadro com o verbete “Cadeira”. Trata-se de um exemplo de arte conceitual que revela o
paradoxo entre verdade e imitação, já que a arte
a) não é a realidade, mas uma representação dela.
b) fundamenta-se na repetição, construindo variações.
c) não se define, pois depende da interpretação do fruidor.
d) resiste ao tempo, beneficiada por múltiplas formas de registro.
e) redesenha a verdade, aproximando-se das definições lexicais.

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Gabaritos

Exercícios de fixação

1. C
Embora a arte tenha nascido em um espaço restrito de possibilidades e expressões, ao longo dos anos
ela obteve maiores formas de representação, ao passo que também se transformava a sociedade. Nesse
sentido, ela é expressada de diversas maneiras, por culturas e momentos diferentes.

2. C
Geralmente, a dança, música instrumental e artes plásticas, em sua maioria, não recebem a presença de
marcações verbais, sendo consideradas expressões não-verbais do mundo artístico.

3. A obra de Fábio Sexugi é a representação de um poema concreto, muito comum no século XX. A obra
contém linguagem verbal, por ser um poema construído com palavras, mas, ao mesmo tempo, também
utiliza da linguagem não-verbal, pois realiza o formato de uma xícara de café.

4. A arte de “Os Gêmeos” é uma representação no grafite, gênero de arte visual, que faz a utilização da
linguagem não-verbal, podendo ser encontrada em momentos mais atuais da sociedade, tendo em vista
que o gênero ganha notoriedade no período pós-moderno. Nela, é possível ver um indivíduo com um
estilo mais urbano, com trejeitos atuais, saindo de uma parede cinza e dando espaço às cores fortes e
chamativas da pintura.

5. D
Textos jornalísticos, enciclopédias e textos didáticos fazem parte dos não-literários, uma vez que
possuem cunho mais objetivo e referencial, diferentemente da arte literária.

Exercícios de vestibulares

1. D
O enunciado fala em um material descartado tornando-se obra de arte, visto que há uma nova
funcionalidade que lhe é atribuída a partir da junção de objetos. É válido ressaltar que a reciclagem
implicaria na transformação do objeto fonte.

2. A
Os cartazes colados em postes nas ruas das cidades geralmente possuem funções utilitárias: informam
ou divulgam alguma coisa. No caso do cartaz reproduzido pelo Texto II, porém, sua função é
primordialmente estética. Dessa forma, há a disseminação da arte poética em um veículo não
convencional.

3. C
A semelhança entre as duas imagens é, justamente, a reprodução de crenças e valores de determinadas
épocas.

4. E
O poema se constrói com base em incongruências temporais propostas a partir de transformações do
eu lírico, como explicitam os versos “Comecei existir com quinhentos milhões /e quinhentos mil anos/
Logo de uma vez, já velha/ Eu não nasci criança, nasci já velha”.
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5. B
O uso do substantivo “enseada” destitui o cenário admirado pelo eu lírico de beleza, graça e poesia. Ou
seja, trata-se de uma perda da impressão subjetiva sobre o espaço, característica típica de Manoel de
Barros.

6. C
O texto I é uma letra de música e apresenta linguagem poética, pois utiliza figuras de linguagem, como
metáforas, para falar da escola de samba.
Perceba as metáforas "chão de esmeraldas" e "minha escola é um catavento a girar" para se referir à
escola de samba Mangueira.
Já o texto II é uma reportagem e, como tal, tem a função de informar o leitor. A linguagem é objetiva e
imparcial, buscando apenas transmitir informações e envolver o leitor.

7. B
A partir da análise dos dois textos, é possível identificar que a concepção de body art diz respeito à
utilização do corpo como suporte para a expressão do sujeito. Afinal, o texto 1 representa uma obra de
arte que recorre ao corpo humano para ser realizada, e o texto 2 valoriza os primeiros artistas que
trouxeram o conceito de body art.

8. A
O enunciado reforça o entrelaçamento dos elementos contidos no texto, e a letra A, por meio da palavra
“amalgamada”, evidencia essa fusão da mulher com a natureza.

9. E
A plasticidade verbal verifica-se na oscilação do tamanho dos sintagmas, em acréscimo ao uso de
vocábulos (em especial adjetivos) que reforçam a descrição do inverno, contribuindo para a estética
impressionista do texto. Além disso, a cadência melódica diz respeito aos recursos sonoros utilizados
no trecho, como a repetição do fonema /r/ em “Tristes nevoeiros, frios negrumes da longa treva boreal”,
ou seja, usando a aliteração (figura de linguagem muito explorada em poemas) em um texto prosaico.

10. A
A obra de Joseph Kosuth objetiva uma reflexão crítica sobre o conceito de mimesis, segundo o qual a
arte deve constituir uma imitação/representação da realidade.

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