Você está na página 1de 17

IDEIAS

PARA

MONÓLOGOS

SOLILÓQUIOS

BY

Território da Arte
SOBRE ESTE MATERIAL
Encontram-se neste documento
recortes de escritos de grandes nomes da
literatura mundial para que estudantes de
teatro possam usufruir durante o processo
das aulas.
Optamos por escritores de linguagens
diversas, dramaturgos ou não, para
diversificar o desafio que abarcar um texto
através da fala.
Esperamos que este material sirva de
inspiração para que cada um leia a obra
completa, pois somente a íntegra dos textos
oportunizará a absorção do contexto e as
linguagens pertinentes a cada obra.

  Observação: os excertos abaixo são trechos


de textos copiados para fins didáticos e uso
em aulas de teatro. Este compilado não tem
fins lucrativos e não pode ser
comercializado.
LIVRO
DO DESASSOSSEGO -
FERNANDO PESSOA:

“Pedi tão pouco à vida e esse mesmo pouco


a vida me negou. Uma réstia de parte do sol, um
campo [...], um bocado de sossego com um
bocado de pão, não me pesar muito o c onhecer
que existo, e não exigir nada dos outros nem
exigirem eles nada de mim. Isto mesmo me foi
negado, como quem nega a sombra não por falta
de boa alma mas para não ter que desabotoar o
casaco [... ]
Escrevo, triste, no quarto quieto, sozi nho
como sempre tenho sido, sozinho como sempre
serei. E penso se, a minha voz, aparentemente
tão pouca coisa, não encarna a substânc i a de
milhares de vozes, a fome de dizerem-se de
milhares de vidas, a
paciência de milhões de almas submissas como a
minha no destino quotidiano ao sonho i núti l, à
esperança sem vestígios. Nestes momentos meu
coração pulsa mais alto por minha c onsci ênc i a
dele. Vivo mais porque vivo maior.”
A
COR PÚRPURA - ALICE
WALKER

"Sinhô acha que tudo isso é jeito de home.


Mas o Harpo num  é assim, eu digo pra ele. Voc ê
num é assim. O que a Doci faz é coi sa de
mulher, eu acho. Principalmente purque el a e a
Sofia é que são as pessoa que têm esse jei to. A
Sofia e a Doci num são como os home, el e di z,
mas elas também num é como as mul her. Elas
num depende de ninguém, ele diz. E i sso é
diferente. O queu amo mais na Doci é o que ela
já passou, eu digo. Quando você olha nos ol ho
da Doci você sabe que ela passou pelo que
passou, que ela viu o que viu, fez o que fez . E
agora ela sabe."
O
TEATRO E SEU DUPLO –
ANTONIN  ARTAUD

“Nunca como neste momento, quando é a


própria vida que se vai, se falou tanto em
c i v i l i z a ç ã o e c u l t u r a . E h á u m e s t r a n h o p a r a l e lis m o
e n t r e e s s e e s b o r o a m e n t o g e n e r a l i z a d o d a v id a q u e
está na base da desmoralização atual e a
p r e o c u p a ç ã o c o m u m a c u l t u r a q u e n u n c a c o in c id iu
com a vida e que é feita para reger a vida.
  Antes de retornar à cultura, constato que o
m u n d o t e m f o m e e q u e n ã o s e p r e o c up a c o m a
c u l t u r a ; e q u e é d e u m m o d o a r t i f i c ia l q u e s e
pretende dirigir para a cultura pensamentos
voltados apenas para a fome. 
  O mais urgente não me parece tanto defender
u m a c u l t u r a c u j a e x i s t ê n c i a n u n c a s a l v o u q u a lq u e r
s e r h u m a n o d e t e r f o m e e d a p r e o c u p a ç ã o d e v iv e r
m e l h o r , m a s e x t r a i r , d a q u i l o q u e s e c h a m a cu lt u r a ,
ideias cuja força viva é idêntica à da fome.
  Acima de tudo precisamos viver e acreditar no
q u e n o s f a z v i v e r e e m q u e a l g u m a c o is a n o s f a z
v i v e r - e a q u i l o q u e s a i d o i n t e r i o r m i s t e r io s o d e n ó s
mesmos não deve perpetuamente voltar sobre nós
mesmos numa preocupação g r o s s e ir a m e n t e
digestiva.”
BEIJO
NO ASFALTO- NELSON
RODRIGUES

“ARANDIR (numa alucinação) — Dáli a,


faz o seguinte. Olha, o seguinte: — di z a
Selminha. (violento) Diz que, em toda mi nha
vida, a única coisa que se salva é o bei j o no
asfalto. Pela primeira vez. Dália, escuta! Pela
primeira vez, na vida! Por um momento, eu me
senti bom! (furioso) Eu me senti quase, nem sei !
Escuta, escuta! Quando eu te vi no banhei ro, eu
não fui bom, entende? Desejei você. Naquele
momento, você devia ser a irmã nua. E eu
desejei. Saí logo, mas desejei a cunhada. Na
Praça da Bandeira, não. Lá, eu fui bom. É
lindo! É lindo, eles não entendem. Li ndo bei j ar
quem está morrendo! (grita) Eu não me
arrependo! Eu não me arrependo!”
VIDA
DE GALILEU -  BERTOLT
BRECHT

“ G a l i l e u : A g r a d e ç o a v o s s a e m i n ê n c i a m u it o
e s p e c i a l m e n t e p e l a m a r a v i l h o s a c i t a ç ã o d a e p ís t o l a
aos efésios. Estimulado por ela, fui encontrar outra
frase, em nossa inimitável imitação. C it a de
memória – “ ele, a quem fala a palavra eterna, está
livre das muitas perguntas.” Peço v ê n ia , nesta
ocasião, para falar de mim mesmo. Até hoje me
repreendem porque outrora usei da lín gu a do
mercado para escrever um livro sobre os corpos
celestes. Não era minha intenção propor ou aprovar
q u e s e r e d i g i s s e m n o j a r g ã o d o s p a s t e l e i r o s o s l iv r o s
d e i m p o r t â n c i a m a i o r , c o m o , p o r e x e m p lo , o s q u e
tratam de teologia. Aliás, o argumento em favor da
liturgia latina me parece pouco feliz – quando se
apoia na universalidade dessa l í n g ua , a qual
p e r m i t i r i a a o s p o v o s t o d o s   o u v i r a s a n t a m is s a d e
maneira igual; os blasfemadores, que estão sempre
a t e n t o s , p o d e r i a m r e s p o n d e r q u e a s s i m p o v o a lgu m
entenderá o texto. Renuncio de bom gr a d o à
c o m p r e e n s ã o b a r a t a d a s c o i s a s s a g r a d a s . O la t im d o
p ú l p i t o p r o t e g e a v e r d a d e e t e r n a d a i g r e ja c o n t r a a
c u r i o s i d a d e d o s i g n o r a n t e s , e d e s p e r t a c o n f ia n ç a a o
s e r p r o n u n c i a d o p e l o s p a d r e s d a s c l a s s e s in f e r io r e s ,
em cuja fala se conserva o acento do dialeto local.”
MEDÉIA - EURÍPEDES

“Medéia: das criaturas todas que têm vi da


e pensam, somos nós, as mulheres, as mai s
sofredoras.
Medéia: vêm-me à mente vários caminhos para
o extermínio deles, mas falta deci di r qual
tentarei primeiro, amigas: incendiarei o l ar dos
noivos, ou lhes mergulharei no fí g ado um
punhal bem afiado, entrando a passos
silenciosos na alcova onde está
preparado o leito deles? Mas uma dúvi da me
ocorre e me detém: se eu for surpreendi da
traspassando a porta na tentativa de ati ng i -los
com meus golpes,
rirão de mim, vendo-me morta, os i ni mi gos.
Melhor será seguir diretamente a via que meus
conhecimentos tornam mais segura? Venc e-l os-
ei com meus venenos. Que assim seja!.”
ROMEU E JULIETA-
WILLIAM SHAKESPEARE

"ATO II, cena I I


O mesmo. Jar di m de Ca p ul eto. E n t r a r om eu.
Romeu - só ri das ci ca tri z es quem fer i da nunca sof r eu
no corpo.
(Juli eta apar ece na ja nel a .)
Mas si lênci o ! Que luz se escoa a g or a de ja n el a? Se r á
juli eta o sol da quel e or i en t e? Sur g e, for m oso sol , e
Mata a lua chei a de i n v eja , que se m ost r a
páli da e doente de tr i st ez a , p or t er v i st o que , c omo
serva, és
Mai s formosa que el a . Dei xa , p oi s, de
servi -la; ela é i nvejosa . Som ent e os t ol os us am s ua
túni ca de v estal ,
Verde e doente; jog a -a for a . Ei s m i n ha
dama. Oh, si m! É o meu a m or . Se el a soubess e dis s o! E l a
fala;
Contudo, não di z nada . Q ue i m p or t a ? C om o
olhar está fa l a nd o. Vo u r esp on der -l he. Nã o; sou muit o
Ousado; não se di r i g e a m i m : dua s
estrelas do céu, as m a i s for m osa s, t endo t i d o qu al que r
ocupação, ao s
Olhos dela pedi r a m que b r i l ha ssem n a s
esferas, até que el a s vol t a ssem . Que se der a se fi c ass e m
lá no alto
Os olhos del a , e na sua ca b eça os doi s
luz ei ros? Sua s fa ces ni tent es dei xa r i a m cor r idas as
estrelas, como o
(...)”
ROMEU E JULIETA-
WILLIAM SHAKESPEARE

"(...)  Dia faz com a luz das candeias, e seus


olhos tamanha luz no céu espalhariam, que os
pássaros, despertos,
Cantariam. Vede como ela apoia o rosto à mão.
Ah! Se eu fosse uma luva dessa mão, para
poder tocar
Naquela face!
(Fala de Julieta: “ai de mim!”)
R o m e u - o h , f a l o u ! F a l a d e n o v o , a n j o b r il h a n t e ,
porque és tão glorioso para esta noite, sobre a
minha
F r o n t e , c o m o o e m i s s á r i o a l a d o d a s a l tu r a s s e r
poderia para os olhos brancos e revirados dos
mortais
Atônitos, que, para vê-lo, se reviram, quando
montado passa nas ociosas nuvens e veleja
no seio do ar
Sereno.
(Fala de Julieta - romeu, romeu! Ah! Por que és
tu romeu? Renega o pai, despoja-te do nome; ou
então, se
Não quiseres, jura ao menos que amor me tens,
p o r q u e u m a c a p u l e t o d e i x a r e i d e s e r l o g o .)
R o m e u ( à p a r t e ) - c o n t i n u o o u v i n d o - a m a is u m
pouco, ou lhe respondo?”
ROMEU E JULIETA-
WILLIAM SHAKESPEARE

"JULIETA -
meu inimigo é apenas o teu nome.
Continuarias sendo o que és, se ac aso
Montecchio tu não
Fosses. Que é Montecchio? Não será mão, nem
pé, nem braço ou rosto, nem parte alguma que
pertença
Ao corpo. Sê outro nome. Que há num si mples
nome? O que chamamos rosa, sob uma outra
designação
Teria igual perfume. Assim romeu, se não
tivesse o nome de romeu, conservara a tão
preciosa perfeição
Que dele é sem esse título. Romeu, ri sc a teu
nome, e, em troca dele, que não é part e alguma
de ti mesmo,
Fica comigo inteira.”
CIRANDA DE PEDRA -
LYGIA FAGUNDES TELLES

"Um pardal pousou no pessegueiro, bicou uma


f o l h a e p r o s s e g u i u s e u v o o . V i r g í n i a s e g uiu - o co m
o olhar. Devia ser bom, também, nascer
p a s s a r i n h o . P a s s a r i n h o n ã o t e m e s s a c o m p lica ç ã o
d e p a i e m ã e a s s i m s e p a r a d o s . E p a s s a r in h o n ã o
f i c a l o u c o n u n c a . F r a n z i u a t e s t a : o u f i c a ? Be ij a -
flor era um que não parecia muito certo.
—Melhor ser borboleta — disse ela voltando-se
p a r a l u c i a n a , q u e j á s a í a c o m o c h á . S e g u iu - a n a
ponta dos pés.
  O quarto estava na penumbra, impregnado de um
perfume adocicado e morno. A doente estava
deitada no divã. O roupão azul, frouxamente
entreaberto no busto, deixava entrever o colo
m a g r o , d a b r a n c u r a s e c a d o g e s s o . O r o s t o p a r e cia
tranquilo em meio à cabeleira em desordem, de um
louro sem brilho.
  — V o c ê , L u c i a n a ? — P e r g u n t o u , a f á v e l . F a la v a
baixinho, como se estivesse num concerto e se
dirigisse ao vizinho nesse tom de quem não quer
perturbar. Pousou o olhar em virgínia. — E quem
é esta menina? Virgínia aproximou-se. “Outra
vez, meu deus, outra vez?!”
  — Sou eu, mãe.”
MURRO
EM PONTA DE FACA-
AUGUSTO BOAL

"Doutor: sabe o que é que eu tinha? Já


c o n t e i ? ! E u t i n h a u m a b i b l i o t e c a , r a p a z , q u e ia d o
c h ã o a t é l á n o t e t o . U m a m o n t a n h a d e l i v r o s , l iv r o
n a f r e n t e e l i v r o a t r á s , l i v r o e m c i m a e l iv r o
embaixo, livro verde e livro azul, brochura e
e n c a d e r n a d o , l i v r o d e b o l s o e e d i ç ã o d e l u x o , l iv r o
d e p o r n o g r a f i a e l i v r o s a g r a d o , l i v r o r a r id a d e e
b e s t s e l l e r , l i v r o d e m u l h e r p e l a d a e l iv r o d e
p i n t u r a a b s t r a t a , d i c i o n á r i o s e g i b i m e n s a l . O lh a
a í , r a p a z , e u e r a o c a r a q u e m a i s l i v r o s t in h a e m
todo país! Livros alheios e livros que eu mesmo
e s c r e v i , c o m p r a d o s d a d o s e a t é r o u b a d o s . E u t in h a
muito livro mesmo. Eu tinha.”
DOM QUIXOTE DE LA
MANCHA - MIGUEL DE
CERVANTES

"Sonhar o sonho impossível,


Sofrer a angústia implacável,
Pisar onde os bravos não ousam,
Reparar o mal irreparável,
Amar um amor casto à distância,
Enfrentar o inimigo invencível,
Tentar quando as forças se esvaem,
Alcançar a estrela inatingível:
Essa é a minha busca.”
A FALECIDA- NELSON
RODRIGUES

"Sim, porque, geralmente, antes do


principal, sempre há uma conversinha, um
namoro, um romance… E, com a Zulmira, não
houve nada disso… Ah, eu me lembro como se
fosse hoje. Direitinho. Foi mais ou menos há
um ano. Sabe aquela sorveteria da Cinel âdi a,
que fica perto do “Odeon”? (…) Pois é. Entrei
na sorveteria e… Fui lá dentro… mas em vez
de empurrar a por-ta dos “Caval hei ros” ,
empurrei a porta das “ Senhoras”. Abri assi m
e dou de cara com uma do-na que estava na
pia, lavando as mãos… Eu ia voltar atrás,
mas ah! Não sei o que houve comi-go! Deu-
me a louca e já sabe: atraquei a Fulana, em
bruto. Quer dizer: não houve um “ bom di a”,
um “boa noite”, não houve uma palavra entre
nós, nada.”
UM BONDE CHAMADO
DESEJO - TENNESSE
WILLIAMS

"Não. Era um menino. Apenas um


menino, quando eu era ainda muito j ovem.
Aos dezesseis anos fiz uma grande descoberta
– o amor! Foi tudo tão simples, tão compl eto.
Foi assim como se acendesse uma luz intensa,
num lugar que estivesse sempre no escu ro. Foi
assim que ele iluminou esse mundo para mi m.
Mas não tive sorte. Desiludi-me logo. Havi a
nele qualquer coisa muito estranha… Um
nervosismo, uma doçura, uma delicadez a que
não eram próprios de um homem – se bem
que ele não tivesse nada de efeminado. Mas
havia qualquer coisa… Ele me procurava em
busca de ajuda. E eu não sabia disso… Foi
então, que eu percebi que o havia eng anado
de uma maneira misteriosa e que eu não l he
estava dando ajuda de que ele necessi -tava,
mas da qual não podia falar! Ele estava num
atoleiro e agarravase a mim. Mas eu não o
estava puxando para fora. Eu estava
afundando com ele. E eu não sabia de nada
(…)”
CONHEÇA AS

NOSSAS

REDES:

@territoriodarte

facebook/territoriodarte

Você também pode gostar