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cavalo que corria a toda levando no lombo aquele que era o seu maior
tesouro, a Adaga suja de sangue na mão, e a verdade cruel fria como o
aço. Mesmo já tendo usado a coroa na cabeça durante toda a vida, foi
somente naquele momento em que ela se tornou realmente soberana de
si mesma.
Em um tempo muito distante, em uma época onde os romanos ainda não
haviam Machado pela terra e até mesmo os grandes Palácios eram
construídos no Alto das montanhas, foi em um lugar de Terra Fria que Ana
foi coroada Rainha.
Mal sabia ela que a coroa em sua cabeça seria um fardo e não uma
benção.
👑🖤👸🏻🖤👑🖤👑🖤👸🏻🖤👑
Não se lembrava de muita coisa, apenas da mãe chorando enquanto
ambas cavalgavam em uma comitiva cercada por aqueles guerreiros de
mau aspecto. Saiam de sua casa indo até aquele novo lugar, e mesmo ao
longe a Primeira imagem que teve foi da montanha branca coberta de
Neve cujo no cume estaria o local que agora seria a sua casa.
Quando os portões da Muralha de madeira foram abertos e ela entrou,
todo o povo saiu de suas choupanas e olhavam curiosos para aquela
pequena menina que vinha cavalgando junto com a mãe, e o povo
murmurava aquela palavra que ela tinha ouvido desde sempre mas ainda
não entendia o significado. E.
les diziam "princesa".
Os cavalos subiram a colina e o frio no topo era intenso e lá o homem de
barba ruiva aguardava na porta daquela construção enorme, um homem
de olhos frios e que usava na cabeça com aro Dourado.
O pai de Ana estava morto.
"REI MORTO, REI POSTO!", não é assim que se diz?
O território que ele um dia governara agora era conquistado pelo seu
grande inimigo. Ana ainda podia ouvir com desgosto e ódio o som do
gorgolejar que saiu da boca de seus dois irmãos que foram degolados
diante de si na sala do trono na frente do corpo do pai morto.
"Não tem mais herdeiro homem para sentar no trono", foi o que o
soldado com a espada na mão disse quando olhou para ela e para a mãe.
Então a jornada começou, uma viagem de três dias a cavalo, e assim
chegaram ali.
Ana lembra do Espanto de quando viu sua mãe descer do cavalo e se
ajoelhar Diante do Rei, ela nunca tinha visto sua mãe se ajoelhar diante de
ninguém e sim o contrário, eram as pessoas que se ajoelhavam diante
dela, mas o jogo parecia ter virado e elas não eram mais as grandes peças
do Tabuleiro e sim meros peões.
Ela também se ajoelhou então o rei nem sequer falou com elas apenas as
encarou de forma firme e virando as costas entrou para o grande salão e
elas o seguiram.
A mãe de Ana engoliu em seco quando ao olhar para o trono viu ao lado
uma cadeira muito pequena e entendeu que não seria ela a nova esposa.
🧔— E sou cego por acaso? Daqui a pouco tempo ela já terá idade para
produzir meus herdeiros, já você minha cara, já é conhecido que as suas
regras não vem mais e a Lua não fica mais vermelha nas suas intimidades.
Se você achou que veio até aqui como candidata ao trono, muito se
enganou.
E assim foi, poucos dias depois a mãe de Ana foi convencida a ter um fim
digno, então deu cabo de si mesma com uma lâmina passada com firmeza
em ambos os pulsos.
E o casamento foi realizado com aquela menina vestida em túnicas em
tons de vermelho e casacos de pele de animais.
Mas mesmo enquanto ainda era muito nova o cochicho e o rumor das
camareiras trouxeram a Ana um senso de que seu próprio pescoço estava
em risco, isso porque ela sabia que em poucos anos quando se tornasse
fértil o rei iria exigir dela a gravidez.
O problema era que o rei já havia passado dos quarenta anos e fora
casado com quatro outras mulheres e jamais tivera filho com nenhuma
delas, então todos suspeitavam que o problema era ele, coisa que o rei
jamais admitiria. Se após três anos de tentativas Ana não desse um filho
ela seria mais um túmulo no Jardim das rainhas.
E assim o tempo se passou, residindo em um quarto espaçoso e enfeitado
com os objetos mais ricos que se podia ter, ela era um passarinho e é
aquilo era uma Gaiola Dourada.
Então com os seus treze anos um dia ela acordou e quando se levantou
olhou para baixo e viu a mancha vermelha em sua camisola.
As camareiras comemoraram aquilo e saíram gritando por todo o castelo
que a princesa havia se tornado mulher.
Passado sete dias quando ela ia se recolher o rei apareceu em sua porta.
Naquela noite foi a primeira vez que o casamento foi consumado, mas foi
algo extremamente bizarro pois ela não queria aquele homem, só que
também lhe causava estranheza perceber que aquele homem não a
queria, durante o ato ficava ali em cima dela de olhos fechados, tudo era
frio como um acordo comercial, tudo era política.
Ana mais uma vez se deparou com a verdade de não ser gente e sim de
ser vista como uma fermenta, um meio para um objetivo.
No dia seguinte quando acordou sozinha na cama a pequena Ana
começou a bolar um plano em sua mente. Naquela altura ela já não tinha
mais nada de sua família original a não ser a memória de sua fé, a
memória de sua velha avó que rezava a deuses antigos e a espíritos da
Floresta. E foi ali Numa manhã fria com o corpo dolorido após aquela
noite horrenda que ela se ajoelhou diante da lareira e sussurrando
chamou um nome.
👑— Manannan...
E ela percebeu que estava buscando ajuda justamente com aquele que
havia colocado sua vida em risco.
Mas não havia o que se fazer, então aos cochichos e murmúrios uma
negociação começou, e faces enegrecidas e diabólicas se formavam na
Fumaça da lareira, e lábios com os cantos curvados para baixo Riam e
choravam entre As Brasas.
E Manannan cobrou o preço.
Assim como os bancos modernos cobram juros pelas dívidas os deuses
antigos duplicam o preço das prendas não pagas na data certa.
E a última coisa a ser dita é que a carne que Manannan mastiga é a carne
do homem mas a água que Manannan bebe é a alma de mulher.
E se era assim que tinha que ser então assim seria.
Ela sorriu gentilmente e sua mão correu atrás da cabeça dele o agarrando
com força sem perceber que a mão da rainha o segurava pela nuca o
homem apenas gemeu quando com outra mão Ana lhe afundou o ferro
frio na garganta.
Nada! Nada virá a boca do homem morto!
E aquilo parecia ter resolvido a situação, mas Ana sabia que não.
Quando a testemunha morre de forma violenta é claro que mesmo um
testemunho torto colhido de forma pobre passa a ser validado. Então o rei
emitiu a ordem, a rainha não poderá mais sair do quarto e não poderá
mais ver os filhos.
E Ana Ficou ali com o ouvido colado na porta de seu aposento enquanto
tentava escutar o que O sacerdote daquele povo dizia ao examinar suas
crianças.
🧙♂️— Meu senhor, qualquer um que olhar para eles dirá que são seus
filhos pois a semelhança é grande, mas isso porque o pai das crianças se
parecia com o senhor. Majestade, o senhor não tem herdeiros, são todos
filhos de outro alguém.
A Voz do Velho sacerdote falou baixo mas Manannan fez Ana ouvir
palavra por palavra pois havia um prazer sádico no Deus em ver o
desespero da mulher. Um sacrifício já havia sido pago, com a Adaga um
homem inocente tinha sido morto e aquilo era um sacrifício, mas Ana
entendeu sem precisar de aviso que se quisesse salvar os filhos mais
sangue tinha que ser pago.
Então voltando se ajoelhada diante da lareira ela conversou com o
Manannan e foi feito ali o acordo do fim.
De manhã não havia ninguém guardando a sua porta, Ana saiu do quarto
e correu até o aposento vizinho onde suas quatro crianças dormiam
tranquilamente. Não houve muito tempo, calçados com botas quentes e
vestidos com casacos de pele os cinco desceram as escadas usadas pelos
servos até a base do Palácio onde estavam os cavalos. Uma bolsa com
comida para viagem e um odre de água, as quatro crianças olhando com
os olhos arregalados para a mãe que eles beijava no rosto ele diziam para
não temerem pois estariam protegidos. Ana pegou o chicote e açoitou
forte no lombo do cavalo que disparou correndo, e ela ficou observando
pela estrada o cavalo indo com seus meninos nas costas. Não sabia de
nada não tinha certeza de coisa alguma mas apenas confirma na mão ou
se protegeria no caminho.
Teve de subir novamente pois já ouvia o alarido dos servos procurando a
rainha e os Príncipes, e quando entrou no salão principal viu lá o rei com
sua barba ruiva a lhe encarar com seus olhos frios.
Sem dizer nada correu para os braços do grande homem na menção de
abraçá-lo. A fraqueza do grande homem é achar a mulher é tão fraca que
não se defende dela, não levanta a sua guarda contra ela. Ela o abraçou
mas ele Manteve os braços caídos e perguntou a ela onde estavam as
crianças, e ela de queixo erguido olhou nos olhos do o rei cravou-lhe o
punhal na barriga.
Se era carne de homem que Manannan queria aqui estava a carne de um
rei como sacrifício a ele.
O salão estava vazio, todo o povo que diariamente estava ali pavoneando
o monarca hoje estava ausente, então naquele momento ninguém viu a
rainha matar o rei.
E o corpo pesado daquele gigante bateu contra o assoalho enquanto
engasgava com o próprio sangue.
Tudo muito anormal, mas ela sabia que era tudo obra de Manannan.
Então agora estava pago, as crianças seriam protegidas afinal de contas o
acordo foi firmado, para proteger pequenos nobres ela matou um Nobre
Grande.
Porém ela não sentiu coisa alguma, nem um arrepio e nem nada. E a
lareira que crepitava atrás do corpo morto do Rei soltou um uivo como se
entre As Brasas houvesse um lobo ferido.
Ana abaixou os olhos para lâmina suja de sangue e viu o seu próprio
reflexo nela.
E Ana engoliu em seco entendendo que o Nobre grande do acordo não era
o Rei e sim a Rainha.
Caminhou até a janela daquele Salão e viu a estrada da altura daquele
lugar era possível ver todas as coisas da região inclusive o cavalo que ia
toda velocidade levando quatro crianças no lombo.
👑— Mã... mãe?
👩🏻— Pronto meu bem, você já não deve coisa alguma.
E deu as costas e foi indo embora mas Ana correu atrás dela e perguntou
o que estava acontecendo e o que aconteceria agora o espírito da mãe
morta com um sorriso largo disse apenas:
👩🏻— Não tem Deus nenhum minha querida. Não existe Manannan. Tudo
foi culpa minha, eu odiava seu pai e com a magia que aprendi de sua avó o
enfraqueci e permiti que o ruivo o matasse. Eu achava que seria Rainha de
dois reinos, entende? Mas você com sua pouca idade roubou meu lugar.
Usei de Magia, e aquelas que usam a magia para o Mal não são bem
vindas no mundo além deste.
👑— Eu nunca usei magia! Porque ainda estou aqui? O que vai acontecer
agora?
👩🏻— A pior coisa de todas meu bem, o que vai acontecer com você é um
grande... nada. Todo aquele que é Vivo e morre tem a chance de
transcender para outro lugar, mas eu não tenho chance de ir para lugar
algum. Mas a chave que você tinha para sair dessa terra ir para a outra
sem perceber você me deu de livre espontânea vontade, então agora eu
vou seguir uma jornada e você... você fique aí quietinha.
👑— E meus filhos?! Você disse que iria protegê-los!
👩🏻— Sim, e eu deixo a eles a maior proteção de todas. Deixo a eles... você.
A vida é assim meus caros, nos acreditamos que somos muito importantes
mas amanhã o povo que pisará nos caminhos que nós abrimos nem
sequer desconfiará que nós um dia existimos.