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APRESENTAÇÃO

O Mural PET-Letras tem se configurado como permanente, desde os primeiros


anos de atuação do grupo (1996). Sob o intuito discutir e difundir questões de interesse da
comunidade do Instituto de Letras e fomentar debates relativos ao cenário político-
cultural, social e artístico-literário na contemporaneidade, o Mural tem funcionado como
um veículo de divulgação ativo das produções promovidas pelo PET-Letras.
Por acreditar que você também é personagem protagonista dessa narrativa, nós o
convidamos para escrever dessa vez. Esta edição do Mural (02/2017) foi pensada sob o
tema “Ave, Palavra” – mesmo nome da seção de criação literária da Revista Hyperion,
que, por sua vez, buscou inspirações na obra homônima de Guimarães Rosa. Desse
modo, o Mural pode se construir como um espaço aberto e democrático, à disposição das
demandas e produções dos membros da comunidade como um todo.
Neste arquivo, estão compiladas todas as produções literárias submetidas para a
confecção de nosso Mural. O PET-Letras gostaria de agradecer a todos aqueles que
compartilharam, conosco e com toda a comunidade do Instituto de Letras, suas criações
literárias autorais. Obrigado por construir junto a nós esse espaço tão importante de
divulgação e de debates na academia. É incrível que possamos todos dividir, ao mesmo
tempo, os papéis de autores e protagonistas de nossas próprias histórias.

PET-Letras/UFBA
Fevereiro de 2017
DESEJO

Desejo que você cresça, sem pressa ou procrastinação


Viva cada momento da vida há seu tempo
Saboreie, ao máximo, a beleza de cada estação

Desejo que você abuse sempre do colo de seus pais


Mas que nem sempre se deixe levar por terceiros
Comece seus primeiros passos, utilize apoio, sem vergonha das quedas
Depois trate de correr, subir em árvore, andar de bicicleta e machucar o joelho

Desejo que você comece a falar


Nem que seja aquele gruído que só seu pai jura entender, pobre tolo
Que você descubra o poder da palavra, prata
Mas que também saiba o valor do silêncio, ouro

Desejo que você participe de um clubinho. Só de meninas!


Com casinha, bonecas e outros brinquedos
Que tenha amigos em que possa confiar
E ao menos um para contar seus segredos

Desejo que você fique-de-mal, por uma hora, nada mais


Só para animar a amizade e rir da briga sem valor
Que perceba que a vida é sempre muito curta
Não deixe espaço para ódio, inveja ou rancor

Desejo que você quebre seu melhor brinquedo, acredite em magia


Se livre de tudo que não seja útil, bonito ou alegre
Use suas roupas para eventos especiais todos os dias

Desejo que você corra descalça e tome banho de chuva


E que às vezes, mas só às vezes, fique doente. Nada sério!
Só para receber todo o carinho e atenção da casa
E descobrir que colo de mãe é sempre um bom remédio

Desejo que você se apaixone por um professor


E que mais tarde sinta vergonha do que escreveu no diário
Se pergunte, com sorriso, como pôde ser tão criança
É sinal que tudo valeu à pena, foi superado

Desejo que você cometa alguns erros


Mas não sempre os mesmos. Use a imaginação!
Que tenha coragem para assumi-los e corrigi-los
E sabedoria para aprender a dizer sim, talvez e não.
Desejo que você tenha uma galera e curta uma (curta) fase rebelde
Mas que possa transpor a arrogância da juventude
Que valorize sua família, sua origem
E aprenda que não é preciso ser má para ter atitude

Desejo que você tenha paciência com seus pais


Eu sei que eles são chatos, esquizofrênicos, autoritários... iguais aos meus!
Mas dedicam suas vidas para te fazer feliz
São apenas humanos, crianças, seu pedaço de Deus!

Desejo que você estude e trabalhe


Escolha algo que ame, sua vocação, nada obrigado
Que sinta todo o desespero e prazer do amadurecimento
Que você tenha dinheiro, nunca o contrário!

Desejo que você se ame


Que encontre e ame outra pessoa
E que por ela também seja amada
Exatamente nesta ordem

Desejo, por fim, que você seja mãe


Que essa vida a desabrochar inicie um novo ciclo
Novas esperanças, sonhos, medos e realizações

Mas minha pequena Luísa, não se iluda! Meus desejos não são fruto de bondade
São, ao contrário, manifestação do meu egoísmo profundo e individual prazer
Porque sei que a cada uma dessas realizações sua mãe transbordará de felicidade
E saber que fiz minha irmã sorrir é condição essencial ao meu viver.

Ademir Andrade Bicalho Júnior


*Para minha sobrinha Luísa Bicalho Vieira
Agudo

Ele vive dentro de mim


Sua gosma amarela
Embrulha meu estômago
Uma bílis úmida e corrosiva
Transborda de meus olhos
Minhas carnes viradas pelo avesso

O branco
Translúcido
Reverso
Em tosse desmedida
Ondas de agonia
E choro

Eu mordo a língua
Meus lábios cinzentos
As presas que me arrancaram
Muito antes de eu nascer
Brotam no peito
Aberto
Encarnado
Sem auréolas

Meu ranger come paredes


Abre rachaduras
Em silêncio
Deito-me no leito
Azul
E morno.

Alahisa Lago, 8º semestre, Letras Vernáculas.

Meu corpo é esfera


Maciça e pesada
Através dela não passa luz,
mas reluz e cintila estrelas.

Alahisa Lago, 8º semestre, Letras Vernáculas.


Saboroso toque da vida

Em constante crise existencial


Troco a sala de frutas
Pelo sabor incógnito das tâmaras
Mergulho em águas inexploradas
Nada de superficialidade, vou fundo, busco sínteses, integridade
Gosto das misturas, um sabor é muito pouco
Em plena Sinestesia, sou um famito por sons com sensibilidade tátil no olhar.
Sou aquele que descobre caminhos para se perder
Gosto das estatísticas e suas combinações, possibilidades, pathos, ludus, flechadas do eros
Sou "criador", gosto da arte de combinar o que há de melhor
Sou o chronos que vai, a incerteza imanente, a efemeridade da vida

Alan Ricardo dos Santos Costa, 14º semestre, Educação Física.


Odeio

Eu odeio suas manias,


Odeio suas rimas.
Odeio sua frieza,
Odeio seu sorriso.

Ai, como eu amo seu sorriso…


Como eu amo seu cheiro,
Amo seu jeito…

Na verdade, odeio a mim mesma.


Me odeio por te querer.
Odeio poetizar, respirar, pensar que não irei te ter.
Odeio amar você.

Alice Lemos, 5º semestre, Letras Vernáculas – Língua Estrangeira.


Condenados Eu Não posso amar
Sofrer
Mais uma mãe hoje chorou Chorar
Os becos e vielas embebidos de sangue... Me revoltar
Mais um filho preto morreu Sou preta...
E o que será de meu povo que todos os Apenas...
dias é exterminado?! Nasci para sustentar o país com o meu
Entendam! Não é dever! trabalho escravo
Abuso de poder! Sem reclamar!
Poder branco! Sem estudar!
Poder bélico! Direito?
Poder capitalista! De ficar calada!
Poder escravocrata! Preto não fala
Meu povo não quer morrer Se cala!
Parem de nos matar! Cale a boca você!
Nos matam nos corredores de hospitais É! você!
Nas ruas Incomodado com o meu grito
Nas escolas- presídios! Incomodado com a minha subjetividade
Nos mataram até mesmo na "abolição da Inteligência
escravidão" Ousadia
Tivemos trabalho? E
Terras? Enfrentamento
Educação? Cansei de ser chicoteada!
Direitos? Respeite os filhos e filhas de Dandara!
Não éramos cidadãos!
Ao nascer já fui condenada a morte... Ana Paula de Oliveira, 8º semestre, Letras
Morte da minha subjetividade Vernáculas.
EM VOLTA

As coisas em volta,
sem volta.
O medo. A dúvida.
Alma que não sossega.

Eu vejo o querer,
a certeza.
Vejo, mas as cegueiras confundem.
Minhas também.

As coisas em volta.
Um sorriso no rosto, nas sombras.
Um sorriso.
Me olho, me canso.
Me vejo, me espanto.
Me sinto, me basto.
Me encontro, me quero.
O outro também.

A esperança... existe.
A beleza, cercada.
Em frente, a muralha,
em volta também.

Não mais.
A muralha, atrás.

Em volta,
o brilho fascina.
O início e o durante.
O durante...

Eu em volta de mim.

Antônio Carlos Vieira Caetano Júnior, 2º semestre, Letras Vernáculas.


Divagações delirantes

O homem
é cria
do amor?
O amor
é cria
do homem?

- sinceramente, não sei!

Se me cabe
resposta acertiva
ou se cabe
resposta subjetiva
ou múltipla escolha
objetiva?
ou redação dissertativa
narrativa
ou descritivas?
Sigo em reticências
ou em pequena
interrogaçãozinha
"quem veio primeiro
o ovo
ou a galinha?

Antonio Rubens Berenguer, 4º semestre, Letras Vernáculas.


JESUs
VeGA
LUAnA
RAóNI
LUCAs
PATRIcK
JoÃO
nATHAN
LARIsSA
tHAÍS
MUrILO
JuLIA
L A (u) i Z A
SAmUELSON
CARoL
ALEssANDRA
BRUNo
CRISTiANE
ALmIR
KAReN
JAnINE
MATHEUs
GEoVANE
bARBARA
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R O b E R TO
G A B R I e L (a)
GIUlIA
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qUETSIA
JuLIANA
RAFAeL
mARIANA
SEvERA
AGaTHA
MARiA
INGRId
MANOeLLA
YAsMINE
HtA
CArVALHO
DuARTE
yANNA
DE-GINO
AlANA
VIToRIA
? Anônimo, Anônimo, Letras.
Pai

De certo, o açúcar das sacas


Com que se vestiu de infância
ainda brilham nos contornos da pele de – porque velho – menino!
Talvez isso explique
Minha mão mole,
Meu olhar apertado ou
Minha obesidade:
Nosso diabetes cultural fitando horizonte
[bate-se na madeira].

Na minha casa,
Haverá sempre um eterno cheiro de coco queimado
Dos cabelos brancos que salpicam a negra e dourada pele
De meu pai.

Hoje, não tem cocada.


Só esta palmeira alta
De onde me versejo.

Ari Sacramento de Souza, Doutor em Letras e Linguística.


o sentido não faz sentido: existe; hesite

os planetas são átomos do universo


os peixes cantam enquanto se divertem
os números cantam ópera
o cavalo fala quando dorme
elefante rosa que perdura em minha cabeça

como sorrir sem boca?


como dançar nas nuvens?
amar sem coração?
em que tipo de coisa o universo está inserido?
quem criou o criador?
hoje, amanhã de ontem

Luana {cabelo preto de loira que bebe água salgada)


não ligou, mas o mar se tornou vermelho
tão meiga e doce que sua ignorância era uma flor
flutua sobre uma pequena folha que caiu da árvore
tem pé, mas não tem cabeça
pé de manga que não dá fruto
caule sem espinhos

Aurora Silva de Oliveira, 4º semestre, Física.


Amaríssimo

Todos os Josés amam todas as Marias


Todas as Larissas amam todas as Bias
Todos os Joões e Carlos amam-se todos os dias
Todos que tem problemas com isso precisam amar-se às terapias

Autor Desconhecido Propositalmente, 1º semestre, Letras.


"Estrela Brilhante

Menino dos olhos constantes que revira bastante esse mundo tão vulgar, na mira da
sombra tenebrante encontro teus olhos vibrantes onde tanto posso descansar. Os sonhos
da tua mente, que pensa em te fazer contente virão pra ti quando o teu verdadeiro sol
raiar. Garoto dos pés calejantes de tanto andar distante busca o teu objetivo um dia
alcançar. Mas, espera, espera tua luz culminante que sonda em tua voz pedante aos teus
sonhos alcançar. Um dia verás que tu, serás estrela brilhante diante os que um dia não te
fizeram alcançar.

Bruno de Jesus do Espírito Santo, 6º semestre, Letras Vernáculas.

"Moço
Moço dos cabelos pretos, que tem tanto encosto a falar a mim. Diga que tu és meu lindo,
a beleza grande que eu ganhaste aqui. Diga que enfim um dia eu aqui não viria se não
fosse tu, pois a vida é tão vazia que merece um dia um amor como tu. Saibas que daqui
pra frente tu olhais pra fora e olhais pra dentro, pois o mundo só ganhastes o teu sorriso
doce como o vento. Mas eu digo minha vida que tu és aquilo que eu sempre sonhei... pois
a vida é tão vazia que ganhastes tu para me concedeis. Concedeis a felicidade que jamais
um dia tu acharás, pois o mundo é tão escuro que a tua luz que brilha me iluminarás... o
momento é agora e eu te espero aqui a todo tempo, cuida-te moço lindo para que ficares
doces como o tempo.

Bruno de Jesus do Espírito Santo, 6º semestre, Letras Vernáculas.


Pessoa
que ecoa
em mim
logo se (re)constituirá.

Camila Araújo Gomes, 5º semestre, Letras Vernáculas – Língua Estrangeira.

O verdadeiro poeta
nega sua profissão.
O verdadeiro poeta
teme a incompreensão.

Foda-se!

Camila Araújo Gomes, 5º semestre, Letras Vernáculas – Língua Estrangeira.


Depois da Festa

No final, no apagar da luz,


O pensar entre espada e cruz
Vai fritando a cinzenta massa
E, assim, caminhando aflito,
Eis à frente, como infinito,
O silêncio e o vazio da praça.

No final, me percebo ouvindo


O cortejo do Escuro infindo
Ao meu ser - que é sombrio também -.
Já sem garbo, a gravata frouxa,
Um respingo, um sinal na coxa,
Dos olhos molhados vem.

No final, o portão à frente,


E ao redor nem um "piu" de gente;
As janelas sem luz nem olhos.
Por fim, quando o quarto alcanço,
A carcaça na cama eu lanço
E da noite analiso espólios.

No final, remontando a festa,


As canções, cada dança, resta
Eu saber se era "festa" mesmo...
Um soluço, um desejo enorme
De ser como alguém que dorme
Sem dor ou pensar a esmo.

No final, já cantando o galo,


O chuveiro, a toalha, o ralo,
Algum pão que, apressado, grelho,
O bilhete do bus e o ponto
São peças com as quais remonto
Outro dia, que é novo... e é velho.

No final, quando a noite vem


E lá longe vai mais um trem
A levar multidões sem fim,
Eu percebo que céu nem folhas,
Sequer a mais vil das rolhas
Vão nunca esperar por mim.
Carlos Witalo, 3º semestre, Letras – Língua Estrangeira.
Voyeur da Noite
Que a pobre senhora
A luz amarela Na cama, no escuro,
Que o poste sustenta... Repensa nos filhos,
O som dos cachorros No pão que jaz duro.
Nas noites aumenta.
E um homem sozinho,
Fechou-se a janela Bebendo, seguia;
Que outrora espiava Com os olhos chorava,
Um trem apitando Com a boca sorria.
Que ia e voltava.
A moça um carinho
A noite chegara Que outrora tivera,
Mostrando figuras Reclama em seu quarto
Que, tristes, zanzavam E o espera, e o espera.
Nas próprias loucuras.
Das almas sofrentes
Que a Treva entregara A mais peculiar
Aos palcos da noite É a minha, pois segue
Seu fel mais amargo, A olhá-los passar
Seu tórrido açoite.
E, olhando essas gentes
Que a tinta de agora Que gemem sozinhas,
Provém dos boeiros Eu sinto a dor delas
Que entopem de preto Somando-se às minhas.
Quaisquer dos tinteiros.
Carlos Witalo, 3º semestre, Letras – Língua
Estrangeira.
nostalgias

o cheiro de terra molhada é inconfundível


suscetível a lembranças
histórias de quando criança

água de coco no fim da tarde


e já na mocidade me invade
o reconhecimento de todos os símbolos
signos que não deixarão de me encontrar
e eu a vos abraçar.

Celyps, 4º semestre, Letras Vernáculas – Língua Estrangeira.

Deixa eu ver teus contrastes na noite


Deixa eu ver teu reconvexo, teu remelexo
Deixa eu ver tua pressa ficar agoniada com minha lentidão
Deixa eu ver teu sorriso que me deixa sob aviso sobre tua explisão
Deixa eu ver tua pele multicor, indolor
Me permita ver, se a ajuda das lentes multifocais, o mais lindo brilho do seu ser.

Celyps, 4º semestre, Letras Vernáculas – Língua Estrangeira.


Saudades da Bahia

Que saudades eu tenho da Bahia. Dos seus becos, de suas ruelas, de sua gente!
Do modo faceiro do seu povo, do samba de roda sem regras. Acordei hoje assim , com
saudades. Quanta saudade tenho do mar da Bahia, das suas praias calorentas, do vendedor
de queijinho que é esperto, das brejas geladas com a água do mar batendo em sua canela,
e o sol castigando suas costas. Que saudades eu tenho da noite da Bahia, com suas boates
e suas dançarinas malucas, que saudades tenho das morenas faceiras de Itapuã . Não sei,
só sei que acordei assim, com saudades da Bahia, da minha Bahia!
A Bahia tem seu charme, seu cheiro, seu jeito
A Bahia tem seu lance, seu romance, seu alcance
Tem sua postura, sua envergadura, sua falta de compostura
A Bahia tem seu remelexo, seu desfecho e seu pretexto
A Bahia encanta, porque dança e canta
A Bahia rima porque tem sintonia fina
A Bahia é ímpar porque par é muito simples e normal
A Bahia é ousada, pois ousadia é a sua diferença
Enfim Bahia é Bahia, porque Bahia não tem stress, tem só alegria.

Diogo Barreto Berni, 6º semestre, Letras Vernáculas.


ESPÍRITO LIVRE

Quisera lhe ter preso em mim como a um vaga-lume numa garrafa de vidro
E contemplar em minhas noites, sob a cama, iluminado por ti
Lhe ter só meu, e não do mundo
Ser teu par

Mas hoje percebo que é um espírito livre


É do mundo, é de Deus, de Oxum, é do ar, da terra, fogo e da água
Seus quatro elementos me completam
Me tiram da normalidade de ser só eu

Você me deixa em outra estação de mim mesmo


Redescobri em seus beijos um alguém que fui e que me olvidara há muito
Acariciado pelos seus cabelos numa madrugada musical
Já não sou mais alguém, sou imortal

Teu fogo em meu fogo


Tua terra em minha terra
Teu ar em meu ar
E tua água em minha água

Ah, saudade que destrói quem se prende nela


Quem revive em pensamentos o que já se foi
O devir é um remédio, talvez
O porvir é acalanto

E quando fecho os olhos tento voltar para aquela sexta


Reviver toda a madrugada do sábado
Ir contigo no prazer multiplicador e incansável
Contigo estar, e permanecer contente

Gamaliel, foi um anjo que entrou em meu céu

Te espero, seja hoje, amanhã ou em outra vida.

Ebert Vieira, 5º semestre, Letras Vernáculas – Língua Estrangeira.


CAMINHO

Caminho entre síncope


e o fogo impresso
na grife do ensejo.

Onde eu sucumbir de ausência,


rompe o espectro
da palavra: cáfilas
de metáforas.

A morte revestiu minhas cidades


rotas.

Agora, enquanto a noite alastra,


escuto esgares da fênix
encantada sobre meus rastros,

vejo brotar lírios da ferrugem


onde a angústia analisa
meu grito de incêndios.

O meu amor é essa gota vazada


de amora, e a partícula
que me ergue
é este lacre de sangue.

Fabrício Lima de Oliveira, 2º semestre, Letras Vernáculas.

MORADA

Nesses olhos meigos


habitam dor, medo
e silêncio.

Fabrício Lima de Oliveira, 2º semestre, Letras Vernáculas.


(extensos poemas de 1 verso só) - ágape

deus seguro do ponto da árvore verde mais alta descia derretendo por todos os poros do
mundo com um corpo multiuso dentro da privada e dando de cara com o muro o telhado
a cerca a mãe fazendo as unhas da cadelinha doméstica pensa que deus demora muito mas
deus está inclusive no tempo e no pelo tosado de mary a professora pediu para joãozinho
escrever ―bicicleta‖ no quadro e deus com dor de cabeça ouviu ―buceta‖ do fundo do giz
o ginasta quando bateu as mãos despertou um susto em deus que se pendurava na
lâmpada florescente de um quarto alagado em sulcos de prazer respingados da
masturbação da garota que deus se choca no espelho e vê pela webcam duzentas pessoas
na livraria passando as páginas dos livros com pressa e deus sendo rebatido folha em
folha de capa a rabo uma casa isolada cheia de santos e uma unidade de beata portando
vestidos pretos e crucifixos: deus espia e se assusta com tantos olhos voltados para seu
bumbum uma britadeira gritando o nome de deus e o homem cai do prédio em
construção seduzido pelo canto um edifício de uma cidade abandonada desaba com o
pulo de deus e não havendo ninguém para ouvir só deus faz barulho o constante campo
de mudança do capital para deleite e deus está na moeda nos olhos do pobre e uma estrela
que nunca foi vista do fundo da terra para o limo na pedra de uma praia desconhecida
porque deus compunha o átomo o homem que foi preso carregava na mochila uma
garrafa de vinagre e uma camisa vermelha e meio pacote de bolachas e deus o corpo da
toupeira esfomeada se limpa no lago encharcado de deus um desenho sendo repintado
por um artista de rua é observado por três moscas e deus deus esparramado no sangue de
um vietnamita que tropeçou numa bomba na base da bomba atômica passaram manteiga
depois da queda do orvalho que deus adiantou o inverno em homenagem uma bruxa
deitada só sozinha com deus canta em latim uma profanação e amém todas as pessoas
que vão e já foram e irão embora vão com deus e voltam sozinhas vi um cabelo
encaracolado todo sujo de grama para saber que deus estava na felicidade de rolar do
morro se você corre ao dicionário e coloca na letra D você vê palavras e deus está na
corrida de todas as páginas do livro no banco do ponto de ônibus esperam Forrest Gump
e uma senhora de idade olhando uma folha que cai vêem deus emitindo o documento da
ordem,

Gabriel Amorim, 4º semestre, Letras Vernáculas.


I — romance

romance, me perguntam,
o que é um romance?

- é uma questão fácil eu diria.


todos os amores que tive me distraia
de alcançar o que eu sou sozinho.

[falava enquanto ouvia a chuva do lado de fora cair, denso]


 — mas por que vc acha que
foram seus amores que te
deram esse problema assim?

não quero mais responder, ela tem corpo moreno


cabelo caracóis castanhos, sotaque estranho
malemolência na estrutura e dança.

- carai, não sei. Todos os amores que tive


me feriram, realmente. Depois me encontrei pela dor
o cristal da lágrima se tornou caro.

- entendo. Mas você ainda não me conta


o que pra você é um romance,
seje criativo.

[os olhos dele passeavam por ela, eles não percebia. Os olhos dela passeavam por ele, eles
não percebia. Chegavam bem perto um do outro, num calor duro e real, duplo sentido,
polissemia]
é você! você é o romance, você! O que posso dizer?
Ver teu corpo pelado me transforma
ouvir sua voz de manhã,
conversar com você

- não sei, acho que sou meio louco. Digo,


não acho que já me apaixonei alguma vez
só pequenos casos

- um romance é um momento, amigo,


uma história pra contar mais tarde.
E ele escolhe as vítimas, eu diria! É narcisista…

- não acredito em nada disso,


talvez romance seja entrega total
ao outro. Nunca tive um romance.

sentir suas palavras crocantes nos ouvidos


e ter medo de perder ela
evaporar com o amor pelos meus dedos

[Ele tinha um semblante vago. Ela pensava em profundo sentimento, não construído em
palavras, ―talvez se eu apertar a mente dele, posso descobrir a paixão‖. Tudo parecia girar,
o sol brilha laranja e o amor evapora denso e invisível]

romance, me perguntaram o que é romance,


o que é romance?

por fim, a última resposta:

- alicía, eu sei o que é romance.


É o lado bom, a beleza do amor
quente e vivo nos nossos braços;
é o lado ruim, o medo de morrer e sumir
quando a outra pessoa partir, o apego.

"Tenho pra mim que todos nós somos apaixonados;


de fato, todos nós nos matamos todos os dias por algo ou alguém.
O pior do amor [disse, a olhando nos olhos marrons e fundos] é olhar nos olhos
marrons e fundos da outra e dizer em palavras simples
que o romance é uma contradição.

II — terror

corria transtornado na madrugada frígida gelada deserto de computadores


dores incomputáveis perdidas memoráveis em arquivos de zip lcoks
mendigos momentos décadas passadas vários looks
vazias mãos afaga o rosto de pixels
moles degenerados quase mesmo que apagados agarram
quente a pele macia imagem vazia fuligem na memória
corria deixava a marca:
toda consciência existia materializada
no rio negro corria ao seu lado
vermelho sangue na água de voz de sereia e medo
perdido em tnttas passagens
informações contagenss tantas verdades
inverdades mentiras verdades
volúpias sonhosss alucinações
corria em tristes deformações o céu azul ultramarino.

- quer atravessar o rio, amigo? 20 moedas de ouro. [homem vestido de preto, ri frio]
 — quero chegar no coração
 — mas amigo, quanto mais mergulhamos, menos encontramos. Seria mesmo melhor nem
dar ouvidos ao que está por vir. Toda palavra descontinua.
 — se o que tu diz é verdade, cabeça, então se foda. A palavra contém o sentido e nele nos
encontramos.
[desce do barco, rio no tornozelo. Tudo o que vê é azul e morto]

Ia, era tudo que lem rava, ao encontro de alicía


na descida do inferno de fogo azul
com memórias fragmentos compartilhados em arquivos rar
e almas correntes em memórias quentes de ninar:
os corpos já não tinham rentes nada nas mãos, os ossos brilhavam brancos.
Desceu, nas vozes do passado se encontrou,
viu de joelhos um senhor de cara gelada dizendo sempre
―não há poesia amanhã, quando se tem fome hoje‖
e era magro mago vazio riu foi embora fumaça vermelha
desapareceu
o mar de verdades tava atrás, todas as questões
e contradições,
se banhar no rio do esquecimento, almas perdidas apaixonadas ou loucas. Tudo o que
queria era saber que aquilo que sentia não era a morte. Não era, não era a morte. Não
podia ser, tentava com fé acreditar
na morte: os olhos do velho eram
mortos como os de modigliani mortos
pedra viva esculpida em humano morto
olhos brancos de modigliani
a morte
riu,
ao sair de cena.

III — sangue de cristo
[ alicía sentada no trono de lucifer gritava cuspindo todo tipo de ferocidade. Tinha
dominado o inferno quando derrubou o argumento do diabo de que deus era, no íntimo,
mau. Sua hipótese era que Deus era o Nada. E só assim poderiam existir, sob a
contradição de Deus: a matéria, as coisas!]

- alicía! Que bom que te encontrei,


precisamss voltar
e viver bem livres desse mal computacional, desse mal de arquivo.

- não sei se quero sair


e perder meu trono
de ser supremo e racional

- será que a racionalidade em seu mais puro estado


vai salvar você de chorar no
meu ombro quando a dor vier?

- não tenho mais dores,


não quero mais ter!
sou, agora, o diabo.

- não tem mais contradições ou paixões?


- nada disso. Sou, agora o Todo,
e tudo conheço,
menos a Deus

- me fala a dor que senti


quando te vi morrer.

[E todo inferno, que tinha cantos sagrados e noturnos, de sons extremamente rosa
desbotado, agora se calou. Tudo se calou e todas as almas se acalmaram. Todos os olhos
revirados se acertaram; os pensamentos ansiosos ficaram lentos. Naquele momento, nem
mais os demnnios tiveram coragem de ficar: só existia alicía e theo]

- não posso

- mas por que?

- porque não sei ler as almas


por qual sou apaixonada

- e tu diz que é dona da Razão?


eu te conheço alicía,
sei que teu caminho é outro.

- o que tu sugere?

- subir
e ficar puto

IV — sagrado

subiram enfurecidos
pro céu:
mataram endurecidos
sob o véu:
os medos desaparecidos
de deus.

Jesus ria tomando vinho,


levou uma facada na barriga.
Desgraça de Morte desgraçada.
[O mago do inferno ria, de longe, observando a cena]

Nada daquele sangue sagrado satisfez alicía e theo


que por sua vez queriam a mais transtornada viagem:
sangue e miragens em alguém
dessa vez foi projetado na Totalidade.

Na realidade, viveram na materialidade por certo tempo


até que alguém, preto pobre ladrão, deu um tiro na cabeça
por engano da Beleza e a matou.
O romance, nessa hora, morreu.

Agora, livres de todo o dispendioso cansaço de seus corpos


perceberam que a existência
era menor que um fonema:
o grito de Deus foi o silêncio eterno.

subiram enfurecidos pro céu


mataram os anjo exu hermes
caralho, todo mundo.

No fim, não tinham nada nas mãos além do riso.

V — alicía

- mas theo — ela dizia, tirando uma faca suja do buxo de miguel


como tu pode me fazer lembrar
de quem eu era?

- acredito q cada alma tem um gênio


e se apaixona por certos outros
talvez especiais…

[ela tinha, no rosto, um alívio. Conversavam num horizonte sem nada,


além de anjos mortos.
a morte viva observava os dois, assobiando. O futuro, dali pra frente, era incerto]
- não sei se acredito nisso, exatamente,
mas admito que o amor
é um jogo que não compreendo

- talvez o primeiro passo


seja aprender que o verdadeiro
nunca é um jogo, mas uma realidade.

- toda morte, me parece,


é um recomeço

[e riram por tanto tempo, que as vozes


morreram e as línguas mudaram,
mas a paixão permaneceu]

Galego, 4º semestre, Letras Vernáculas.


Pobre menino que sonhava em ser
policial, bandido e herói.
Queria o baralho e a paz. Vivo hoje.
Queria Deus e o diabo. Morto amanhã,
Queria a todos e a solidão as emoções que senti,
Pobre menino de cabelo corrugado e os momentos que vivi,
cabeça inchada. palavras ditas ou não ditas,
Inchada de problemas, perturbações e sonhos realizados, planejados,
preocupações. inacabados, frustrados,
Queria o amor e a dor. amores vividos, fingidos, não
Queria o mistério e a solução. correspondidos.
Fazia as perguntas, mas não queria as tudo termina aqui.
respostas. este é o fim:
Pobre menino magricela que sonha poesia.
muito e pensava demais.
Queria o mundo. Gilmar Figueiredo Silva Souza, 3º semestre,
Queria o tudo. Letras Vernáculas.
Pobre menino diferente.
Queria aceitação.
Queria igualdade.
Queria se tornar realidade.
Pobre menino herói. Em cada cama que deitei:
Queria salvar a todos: negros, cristãos e me reduzi,
homossexuais. desfiz de mim,
Pobre menino. me sacrifiquei,
Esquecido, amei sem amar,
Excluído, me doei sem deixar,
Inconformado, toquei-me sem sentir, sem permitir,
porque questionava demais. enchi-me do prazer que não existia, só
fingia.
Gilmar Figueiredo Silva Souza, 3º semestre, Me lambuzei de solidão,
Letras Vernáculas. despojei de mim
e a mim mesmo
me matei.
hoje,
eu chorei Gilmar Figueiredo Silva Souza, 3º semestre,
mas Letras Vernáculas.
chorei pelos dedos
chorei rios de letras
que desaguaram
numa folha branca de papel.

Gilmar Figueiredo Silva Souza, 3º semestre,


Letras Vernáculas.
sou frasco. Eu:
em mim, contém os piores venenos. olho,
sou de dentro pra fora, foco,
mortal. penso,
de fora pra dentro, imagino,
pura mentira. desejo,
toco,
Gilmar Figueiredo Silva Souza, 3º semestre, sinto,
Letras Vernáculas. logo,
eu gozo.

Gilmar Figueiredo Silva Souza, 3º semestre,


Letras Vernáculas.
Sou poema
Tem um monte de mim,
aqui
ali
acolá
até já
não dá mais
já enraizei
já me fundi
sou daqui
eternizo-me aqui
sem fim
nesta poesia

Gilmar Figueiredo Silva Souza, 3º semestre,


Letras Vernáculas.
A ADOLESCÊNCIA DESNUDADA

pelo basculante só se vê metade do amanhecer


metade da cidade banhada pela metade do sol que surge entre as metades dos prédios
o basculante é a prévia da liberdade;
o gosto fraco de gengibre que finca à boca já dormente;
a promessa da JANELA - o ápice da ambição

para o menino que observa, silente, as metades


e é fadado a imaginar (e só imaginar) os inteiros
o basculante é a esperança de que a cidade se estende por outros ângulos ainda cegos:
os ângulos do amanhã.

(a juventude é um exercício de paciência.)

Giulia Fontes, 4º semestre, Letras Vernáculas.


Felicidade

Faz uns dias que a felicidade me habita


Fez morada nos cantos úmidos de mim
E para que a história de tristeza não se repita
Devo dizer que ser feliz não é tão problema assim.

Hilário Mariano dos Santos Zeferino, 4ª semestre, Letras Vernáculas.

Tem ventado muito esta primavera.


Eu vi um beija-flor, ninguém me contou.
Ele lutava com suas asinhas contra o Zéfiro furioso que o impelia ao lado contrário.
Esse beija-flor, meu Deus, sou eu.

Não tem flores nesta primavera.


O tempo esfriou, congelou a semente.
A semente das ideias.
Essa semente, meu Deus, sou eu.

Tem chovido muito esta primavera.


Pingos pulando por todo lado.
Tem poças, tem reflexos.
Esses reflexos, meu Deus, sou eu?

Hilário Mariano dos Santos Zeferino, 4º semestre, Letras Vernáculas.


Perdição

Perdi meu verso no ar


Na fumaça do ônibus
Na rua escura
Ou num outro qualquer lugar

Achei que tinha falado


Achei que tinha ouvido
Achei que se voltasse tudo
Talvez teria encontrado

Mas eu perdi, perdi mesmo


Devo ter deixado cair
Pode ser que esteja numa boca de lobo
E está no esgoto a esmo

Mas algo desejo.


Desejo que a dor seja conjunta
Alguém ache meu verso
E goste dele como um beijo.

Hilário Mariano dos Santos Zeferino, 4º semestre, Letras Vernáculas.


Tributo às formigas

Eu, a sombra da noite, levantado do chão,


Estranho, louco, sem nome.
Sou todos vocês:
Gays, negros, pobres,
A margem da orla, favelados.
As lágrimas que escorrem pelo meu rosto
Orvalham o chão antes árido, duro, espinhoso da solidão.

Nós os combalidos, feios, gordos, magros demais,


Invisíveis, desolados,
Não nos deixaremos vender, vencer!
Nasce o sol do outro dia e nos diz: ―Vai, segue!‖

Olho para trás, o que vi da vida?


Tudo. Nada. Desespero. Fome.
Combati o bom combate, não com milagres,
Mas com sangue nas unhas, concreto nas costas.
Sou nordestino, o que aproveita a chuva para se banhar,
Aquele que cata latinha no carnaval,
Esboçando o sorriso amarelado no rosto
Alegre pra ter o que comer no dia seguinte.

Represento minha gente que luta


Com a lata d água na cabeça ou o lápis na mão
Para sobreviver dia após dia,
E a noite poder olhar o céu ao chegar em casa
E agradecer a Deus por estar vivo, por ter sobrevivido.

Formiguinhas que carregam o peso diário do preconceito, da discriminação,


Dos socos e pontapés de maridos, amantes, cafetões,
Porém lutam com dignidade, apesar das bermas da estrada
Que lhe foram relegadas.

Formigas-monstros
Pequenas, grandes, desbravadoras,
Crescem, navegando contracorrente
Da tempestade que parece interminável.

Jefferson Expedito Santos Neves, 4º semestre, Mestrando em Literatura e Cultura.


EU JÁ TINHA APRENDIDO A TIRAR FOTOS

Quando nos conhecemos:


Você só tinha alguns fósforos.

Demos risada pela primeira vez:


Ser ranzinza é engraçado. Até certo ponto.

Subir a ladeira da Preguiça é:


Sentir o coração palpitar. Penso ser de amor, mas também fumo todos os dias.

Ideia de desejo:
"Gato branco arranhando bolhas de sabão."

Te encontrar tão pouco:


Sinastria amorosa online. Forjei uma certidão de nascimento pra você.

Te encontrar sempre:
O poema que vingou.

Festa bacaninha no centro da cidade:


A física das pequenas partículas se faz presente, tem um arco invisível entre nós.

Quando te vi sem óculos:


"Amor é o jeito que nós fervemos."

Abandonar os problemas de memória:


Tateio o braço. A cintura. Me aninho no ombro esquerdo e espero. Vasculho barriga e
umbigo em um só movimento. Sei todas as rotas, não me perco em nenhuma.

Quando aprendi a te agarrar só com as pernas:


Cocaína na seringa.

O gosto da minha pele na sua língua:


Líquido que escorre sem lamentos. E se renova.

Quando deram nome para o que a gente fazia:


Caiu café na nossa foto 3×4.

Encontrar romance no verso do seu marca página:


Usamos palavras importantes para coisas de pouca importância.

Letícia Carvalho Pinto, 3º semestre, Letras Vernáculas.


SOMOS GEMAS PRECIOSAS chorar juntos pela mesma cebola
choraremos juntos por muitas razões
gastei todas as folhas depois fomos entender
daquele bloquinho azul turquesa
para enrolar as bitucas dos cigarros que estamos encurralados
acendi e nos deixamos levar pelo trânsito ruim
e apaguei nessas páginas que e uma ração
depois reparei barata
você havia desenhado autorretratos ali não sabes o procedimento necessário
e escrito nem para cuidar de tuas plantas
"TODO O CASO" em que tanto ama
hidrocor preto eu o entendo, nesse sentido
sorri, porque aquilo me fez lembrar a só me filio a péssimas estratégias
Szymborska com a gente não foi diferente
mas não tanto, veja bem não é assim uma grande questão
que eu só uso nanquim mas é que só
(caso tivesse sou dura em todos os começos
um exemplar de nanquim) para me arrepender depois

você disse me arranjar um, quando nos encontrarmos irei te


um presente oferecer bolas de gude e os lábios
mas já não nos vemos mais e mordidos
você odeia ter de ir ao correio você vai ver que continuo cismada
ou deixar recado embaixo do tapete demais
eu, particularmente mas que tenho exercitado as boas
adoro que me deixem recados embaixo mentiras
do tapete
ou nas últimas páginas do livro eu fico com a tarefa de costurar
emprestado nossas coisas fabulosas
ou ainda que larguem notícias na minha (por mais que
mochila de costas nos digam o contrário)
é a regra dos que ficam para trás
"me gustan las sorpresas" é você cuida de tirar boas fotos de
a resposta praquela sua pergunta que Montevidéu
veio em forma de quadrinho do Liniers imprimo as melhores e te envio de volta
podes perceber que estou aprendendo junto com a minha sala vazia do próximo
espanhol carnaval
e também a descamar peixes e todos os convites que deixei de fazer
podemos cuidar do mesmo peixe
mastigar o mesmo alho Letícia Carvalho Pinto, 3º semestre, Letras
engolir a mesma manteiga Vernáculas
Matinal

Para Ariana Silva

O Sol entra pela janela


esquenta o quarto
ilumina a pele dela
celebra o tato

O maior órgão é a pele


atrito que faz gozar
seja qual expressão gere
como a beleza no olhar

Seu corpo
Perseguido
Machucado
Cercado
Escondido

Produtor de sensibilidade
produtor de significados
causa minha felicidade
quando o vejo ao meu lado

Pois é você,
É todo seu.

Luanna Calasans de Souza Santana, 6º semestre, Letras Vernáculas.


Three words, three days Together is such a nice word
When it comes to you and I
Maybe it's the vodka talking Bad things are just an ugly blur
– though I haven't had a sip today When affection is here to satisfy
But lately I've been missing you
I mean I want you to stay To satisfy our urges, our needs
This burning red colored desire
Stay, even if it's quietly But we know it can get messy
Let's have a coffee or two When body and mind are both on fire
I can no longer bear your absence
I think I'm falling for you Fire flames were not made to last
We don’t want any awful surprises
For you have those fingertips So we pour ourselves some alcohol
Running through my back As the liquid goes down, the craving rises
Wandering over me, dizzy
As if they're exploring the track Rises the attraction, rises the arousal
It’s easier when you’re young and free
Track me down, I'm not even hiding Around this age the world is wide
I'm sick of people playing games There’s so much more to feel and see
Let's be clear, I want you now
Speaking out is not a shame See, I hope you get my point
I hope I’m making myself clear
Shame on me for keeping it in It’s hard to talk, so I'll write down
We should embrace what gives us joy What I’ve been meaning to tell you, dear
Who would've known this would
happen? Dear college friend’s brother
I'm crushing a 19 year old boy I think you’re pretty hot
We fooled around sometimes
Boy, I wanna tell you about my songs And, no kidding, I liked it a lot
I'll let you read between the lines
Sit and tell me about your day A lot more than I should
What do you think about our signs? This I must confess
Cause 19 year old boys
Signs, energy, cosmos, universe Are usually such a mess
Combining themselves on our behalf
Some mysterious forces surround us A mess is what I’m living now
And if it goes wrong, we'll have a laugh Cause you’re almost dating some guy
He’s so cute, funny and gentle
Laugh about the silly days I’m kinda jealous, I won’t lie
And if I'm close it's even better
Cause I think I grow another curl Lie beside me one more time
Every time we laugh together But let me tell you in advance
Yes, I wanna feel your body Should I give you this poem?
But I’m not asking for romance Would it be a hideous crime?
Am I really asking too much
Romance is such a nice word When I ask you one more time?
When it comes to you and him
But before we lose this chance Time to go straight to the point
Grab me and kiss me and touch my skin I’ll pick the place and you’ll say when
Let’s make out one more time
Skin to skin, let the fun begin Before we never do it again
Get closer to me as we sing this duet
No drama, no pain, the tables are set Again I wonder if it’s wrong
Will it happen again? We don’t know yet Since you’re falling for someone
But can we really blame ourselves
Yet I know we must take care For being young and having fun?
Don’t overthink, try to relax
Just two friends, I’ll caress your chest Fun is dancing in nightclubs
You’ll warm my heart as you touch my Till they play the last song
breast It’s having deep conversations
About how the world is wrong
Breast to belly to waist to hips
Shoulders to arms to hands to fingertips Wrong is a recurring word here
Thighs to knees to legs to feet Let’s change this speech
Ears to neck to cheeks to lips What about setting up the date
To our walk on the beach?
Lips that will kiss you entirely
Lips that won’t say I love you The beach is so beautiful
Lips that may or may not be lying I can picture us in the sea
But won’t stop till the night is through Immersed by the waves
Let me know if you agree
Through some conversations we’ve had
I’ve seen you have much to share Agree to take a walk
And you’re not a sexist jerk Maybe share a kiss or two
Oh, honey, you got me there We could go somewhere else
Where I could be alone with you
There’s something unique about you
Your kindness, your voice, your smell You always hug me twice when we meet
I keep thinking ―he’s just 19‖ My body twinkles like a star
Apparently it’s not working well I smile as I say "hello, I love you"
But my lips just ask you how you are
Well, it’s possible this whole thing
Is nothing but falsehood Are you bored with my bad poetry?
I just wish what I can’t have You're so much more than I can explain
I can’t stop, but I know I should I miss the weight of your arms
Is it possible to have shoulders that Let me kiss your problems away
complain? Let's talk about music and movies

Complain, scream and argue with me


Cause they want you now and also after Do you know Thursday is my favorite
Let me tell you with no exaggeration day?
Say the word I'll be happy forever
Day 3 and the poem is not finished
Forever is such a nice word Truth is I don’t want it to end
When it comes to being dumb Cause then I’ll come back to the status
Cause it’s nice to ignore Of pretending you’re just some friend
The end comes for everyone
Some friend would say it’s pathetic
Everyone says you’re handsome How I’m devoting myself to this fling
I could confirm the first day we met But now you’ve become an excuse
Life turns into summer if you’re near Cause, thinking of you, I can write
Putting colors together to the prettiest anything
sunset
Anything could happen if I told you
Sunset on Sunday, our friends laughing But I also think I’d be mean
I can’t even tell how beautiful it is There’s a guy who’s crazy for you
But you’re pretty busy on someone else’s Who am I to get in between?
arms
It’s not with me you’re sharing a kiss Between choosing me or him
You better keep kissing men
Kiss me once, my body shakes I’ll learn how to deal with it
There are some things I wanna try It’s ok to miss you now and then
Kiss me twice, I’m totally yours
If you excuse me, can I…? Then I wonder how I can be original
When there's nothing new about love to
I catch myself thinking now and then write
That I may be fantasizing too much It seems like the symptoms are the same
But what a waste to have my hands on a Why would it be different for you and I?
pen
When your skin is right there to touch I wish I could say I love you
Organizing the words in a poetic way
Touch me as we become something What I say ain't new, but my love is true
greater Each and every day
As we both get off of the ground
Cover my body with yours Every day it gets harder
Would you rather stand up or lay down? I hate you but you’re so beautiful
Jesus, what have I done?
Lay down by my side a little bit I wish I knew how to quit you
You showed up with her in your arms
You had no idea, but it was so hard
Two goddamn rays from the shiniest star
Your hands on her waist, your feet on my heart

Luisa Martha Souza Castro de Matos, 6º semestre, Letras Vernáculas – Língua Estrangeira.
Pintou as paredes do quarto como se fosse ficar.

Deixou rastros,
pegadas,
digitais.

A pele ainda no leito,


suspiros no espelho,
cílios no sofá.

Do vazio,
farto de pedaços,
costurou lembranças de quem não mais é.

Restou pesar,
mar de ausências,
fantasmas perdidos no armário -

E nos lábios uma súplica


nun-ca
expelida.

Manuela Ferreira, 6º semestre, Letras Vernáculas.


nunca fui a uma praia do subúrbio

tem 3 dias que o vizinho de quem eu roubo internet parou subitamente de me transmitir
sinal, ilhados, eu, meu computador que necessita de um ventilador para continuar ligado
esperando o sinal que certamente não virá, o rádio e uns cigarros que quase já não fumo,
resistimos.
tem 3 dias que a vida é ruim do lado de cá, acordo sempre tarde, ana, você sabe, fumo um
cigarro enquanto uso o banheiro
escovo os dentes e me sento para escrever 'dentro do carro sobre o trevo a cem por hora
oh meu amor, só tens agora os carinhos do motor'
um passarinho azul pousa na janela
o mesmo velho bêbado apostador me empurrando pra frente
sigo esperando o sinal que não virá.
As vezes passo horas, ana, o tic tac do bater nas teclas
por onde você anda agora?
Não que eu me sinta só e que o ventilador quase branco com as letras U L T R A na parte
da frente ligado no 1, reclame
que pretensão minha te envolver na minha arte
poderia, também, transmitir outra qualquer coisa, oras
enem
cerveja
calor suor
a distância exata entre o muro da minha casa e a dor do meu peito
uma mulher que um dia me sorriu, em periperi.
ninguém nunca viu um muro sair do lugar nem, tampouco, meu peito anda
por onde você anda agora
ana?
acendo um cigarro
a tarde nublada
'o que será que me dá que me bole por dentro será que me dá que me perturba o sono
será que me dá'
e um avião
passando, longe.

Maria Mariana Porto Eloy, 5º semestre, Letras Vernáculas.


Se viu diante do oco da geladeira
se identificou por dentro.
Há tempos se sentia vazio.
Sabia porém, que precisava de pouco.
Pouco foi tudo o que sempre teve...
De amor a comida.
E nunca os dois no mesmo prato.
Isso seria sorte.
E sorte não cabe no pouco que sempre teve.
Até o oco da sua geladeira tinha uma fraca luz no fim do túnel.
Em si, um túnel escuro sem fim.
Era uma posição íntima, oco a frente de oco,
uma singela troca de energia.

Neilane Santos Rocha, 6º semestre, Medicina Veterinária.


Revolução Hipócrita

Como é tão difícil de ter você revolução.


Primeiramente pedi para aqueles que tinham o
poder que largassem a corrupção,
Mas reparando as minhas atitudes, eu percebi,
que não poderia falar nada, pois a corrupção
Já tinha corroído a mim.

Em seguida tive pena da classe dominada,


Por causa dessa injusta distribuição de renda,
Que não distribuíam para eles quase nada.
Mas dividir o meu dinheiro eu não queria ceder,
Pois ser milionário é bem melhor do que
Ter somente boas condições pra se manter.

Depois indignei-me com atos de homofobia


Senti pena dos homossexuais, que eram tratados
Com desigualdade todo santo dia.
Mas também não acho certo essa opção
Foram criados homens e mulheres,
O homossexualismo é descaração.

Pelos negros eu chorei, pois estava consciente


Que em todas as gerações brasileiras
o grande preconceito por esse povo era onipresente.
Mas ao lado dessa gente eu não iria protestar
Pois eu morria de medo, que porventura
Algum preto viesse me assaltar
E na guerra de classes eu pedi pela equidade,
Pois quanto mais vocês fingem tratar todos iguais
mais aumentam a infeliz desigualdade.
Mas também é muito difícil imaginar e aceitar
O dominado ser o dominante locomovendo-se
Da base pro ápice, e tentar comigo disputar.

Muitas religiões desviaram de suas funções


Já não nos liga mais a espiritualidade,
Pois guerreiam, fazem preconceitos e provocações.
Mas eu também não tiro delas a sua razão
Precisamos lutar pra comprovar que nós
Somos a única verdadeira religião.
Ô emissora, é tão difícil cumprir a sua função?
Ou o sensacionalismo já lhe consumiu demais,
Que ficou incapaz de passar a real informação?
Mas vai com calma, não faça continência
Pois certamente as suas atitudes são os motivos
De fazer com que a gente lhe dê audiência

Tirando a escama dos olhos, veremos o amor


Poderemos assim fazer qualquer revolução,
Pois conheceremos de cada gente a sua dor.
A humanidade se recusa com nitidez enxergar
Que a revolução que tanto precisamos nunca
chegará até que o mundo seja livre dessas pessoas que não sabem amar.

Renan Lopes, 1º semestre, Pré-vest.


"Até hoje eu sinto o vazio
Da multidão
Que eu me inseri
Pra tentar me preencher"

"Todo dia eu vivo a farça de tentar ser


Quem sou
Mas quem sou
Senão um ser que a todo momento
Algo tenta ser?"

Unknown, Todos, LETA-VIDA.


Sob o teto dos mesmos olhos
Coexisto com meu inconsciente
Me formo e desformo no abrigo
Que criei para me transfigurar c o n s t a n t e m e n t e

Decifro códigos nos quais me inscrevi


Na tentativa de sobreviver e resistir
E a cada mudança de endereço
Me fez ver do avesso
O meu permanecer e o meu (re)partir

Zélyps, 4º semestre, Letras Vernáculas.

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