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PET-Letras/UFBA
Fevereiro de 2017
DESEJO
Mas minha pequena Luísa, não se iluda! Meus desejos não são fruto de bondade
São, ao contrário, manifestação do meu egoísmo profundo e individual prazer
Porque sei que a cada uma dessas realizações sua mãe transbordará de felicidade
E saber que fiz minha irmã sorrir é condição essencial ao meu viver.
O branco
Translúcido
Reverso
Em tosse desmedida
Ondas de agonia
E choro
Eu mordo a língua
Meus lábios cinzentos
As presas que me arrancaram
Muito antes de eu nascer
Brotam no peito
Aberto
Encarnado
Sem auréolas
As coisas em volta,
sem volta.
O medo. A dúvida.
Alma que não sossega.
Eu vejo o querer,
a certeza.
Vejo, mas as cegueiras confundem.
Minhas também.
As coisas em volta.
Um sorriso no rosto, nas sombras.
Um sorriso.
Me olho, me canso.
Me vejo, me espanto.
Me sinto, me basto.
Me encontro, me quero.
O outro também.
A esperança... existe.
A beleza, cercada.
Em frente, a muralha,
em volta também.
Não mais.
A muralha, atrás.
Em volta,
o brilho fascina.
O início e o durante.
O durante...
Eu em volta de mim.
O homem
é cria
do amor?
O amor
é cria
do homem?
Se me cabe
resposta acertiva
ou se cabe
resposta subjetiva
ou múltipla escolha
objetiva?
ou redação dissertativa
narrativa
ou descritivas?
Sigo em reticências
ou em pequena
interrogaçãozinha
"quem veio primeiro
o ovo
ou a galinha?
Na minha casa,
Haverá sempre um eterno cheiro de coco queimado
Dos cabelos brancos que salpicam a negra e dourada pele
De meu pai.
Menino dos olhos constantes que revira bastante esse mundo tão vulgar, na mira da
sombra tenebrante encontro teus olhos vibrantes onde tanto posso descansar. Os sonhos
da tua mente, que pensa em te fazer contente virão pra ti quando o teu verdadeiro sol
raiar. Garoto dos pés calejantes de tanto andar distante busca o teu objetivo um dia
alcançar. Mas, espera, espera tua luz culminante que sonda em tua voz pedante aos teus
sonhos alcançar. Um dia verás que tu, serás estrela brilhante diante os que um dia não te
fizeram alcançar.
"Moço
Moço dos cabelos pretos, que tem tanto encosto a falar a mim. Diga que tu és meu lindo,
a beleza grande que eu ganhaste aqui. Diga que enfim um dia eu aqui não viria se não
fosse tu, pois a vida é tão vazia que merece um dia um amor como tu. Saibas que daqui
pra frente tu olhais pra fora e olhais pra dentro, pois o mundo só ganhastes o teu sorriso
doce como o vento. Mas eu digo minha vida que tu és aquilo que eu sempre sonhei... pois
a vida é tão vazia que ganhastes tu para me concedeis. Concedeis a felicidade que jamais
um dia tu acharás, pois o mundo é tão escuro que a tua luz que brilha me iluminarás... o
momento é agora e eu te espero aqui a todo tempo, cuida-te moço lindo para que ficares
doces como o tempo.
O verdadeiro poeta
nega sua profissão.
O verdadeiro poeta
teme a incompreensão.
Foda-se!
Que saudades eu tenho da Bahia. Dos seus becos, de suas ruelas, de sua gente!
Do modo faceiro do seu povo, do samba de roda sem regras. Acordei hoje assim , com
saudades. Quanta saudade tenho do mar da Bahia, das suas praias calorentas, do vendedor
de queijinho que é esperto, das brejas geladas com a água do mar batendo em sua canela,
e o sol castigando suas costas. Que saudades eu tenho da noite da Bahia, com suas boates
e suas dançarinas malucas, que saudades tenho das morenas faceiras de Itapuã . Não sei,
só sei que acordei assim, com saudades da Bahia, da minha Bahia!
A Bahia tem seu charme, seu cheiro, seu jeito
A Bahia tem seu lance, seu romance, seu alcance
Tem sua postura, sua envergadura, sua falta de compostura
A Bahia tem seu remelexo, seu desfecho e seu pretexto
A Bahia encanta, porque dança e canta
A Bahia rima porque tem sintonia fina
A Bahia é ímpar porque par é muito simples e normal
A Bahia é ousada, pois ousadia é a sua diferença
Enfim Bahia é Bahia, porque Bahia não tem stress, tem só alegria.
Quisera lhe ter preso em mim como a um vaga-lume numa garrafa de vidro
E contemplar em minhas noites, sob a cama, iluminado por ti
Lhe ter só meu, e não do mundo
Ser teu par
MORADA
deus seguro do ponto da árvore verde mais alta descia derretendo por todos os poros do
mundo com um corpo multiuso dentro da privada e dando de cara com o muro o telhado
a cerca a mãe fazendo as unhas da cadelinha doméstica pensa que deus demora muito mas
deus está inclusive no tempo e no pelo tosado de mary a professora pediu para joãozinho
escrever ―bicicleta‖ no quadro e deus com dor de cabeça ouviu ―buceta‖ do fundo do giz
o ginasta quando bateu as mãos despertou um susto em deus que se pendurava na
lâmpada florescente de um quarto alagado em sulcos de prazer respingados da
masturbação da garota que deus se choca no espelho e vê pela webcam duzentas pessoas
na livraria passando as páginas dos livros com pressa e deus sendo rebatido folha em
folha de capa a rabo uma casa isolada cheia de santos e uma unidade de beata portando
vestidos pretos e crucifixos: deus espia e se assusta com tantos olhos voltados para seu
bumbum uma britadeira gritando o nome de deus e o homem cai do prédio em
construção seduzido pelo canto um edifício de uma cidade abandonada desaba com o
pulo de deus e não havendo ninguém para ouvir só deus faz barulho o constante campo
de mudança do capital para deleite e deus está na moeda nos olhos do pobre e uma estrela
que nunca foi vista do fundo da terra para o limo na pedra de uma praia desconhecida
porque deus compunha o átomo o homem que foi preso carregava na mochila uma
garrafa de vinagre e uma camisa vermelha e meio pacote de bolachas e deus o corpo da
toupeira esfomeada se limpa no lago encharcado de deus um desenho sendo repintado
por um artista de rua é observado por três moscas e deus deus esparramado no sangue de
um vietnamita que tropeçou numa bomba na base da bomba atômica passaram manteiga
depois da queda do orvalho que deus adiantou o inverno em homenagem uma bruxa
deitada só sozinha com deus canta em latim uma profanação e amém todas as pessoas
que vão e já foram e irão embora vão com deus e voltam sozinhas vi um cabelo
encaracolado todo sujo de grama para saber que deus estava na felicidade de rolar do
morro se você corre ao dicionário e coloca na letra D você vê palavras e deus está na
corrida de todas as páginas do livro no banco do ponto de ônibus esperam Forrest Gump
e uma senhora de idade olhando uma folha que cai vêem deus emitindo o documento da
ordem,
romance, me perguntam,
o que é um romance?
[os olhos dele passeavam por ela, eles não percebia. Os olhos dela passeavam por ele, eles
não percebia. Chegavam bem perto um do outro, num calor duro e real, duplo sentido,
polissemia]
é você! você é o romance, você! O que posso dizer?
Ver teu corpo pelado me transforma
ouvir sua voz de manhã,
conversar com você
[Ele tinha um semblante vago. Ela pensava em profundo sentimento, não construído em
palavras, ―talvez se eu apertar a mente dele, posso descobrir a paixão‖. Tudo parecia girar,
o sol brilha laranja e o amor evapora denso e invisível]
II — terror
- quer atravessar o rio, amigo? 20 moedas de ouro. [homem vestido de preto, ri frio]
— quero chegar no coração
— mas amigo, quanto mais mergulhamos, menos encontramos. Seria mesmo melhor nem
dar ouvidos ao que está por vir. Toda palavra descontinua.
— se o que tu diz é verdade, cabeça, então se foda. A palavra contém o sentido e nele nos
encontramos.
[desce do barco, rio no tornozelo. Tudo o que vê é azul e morto]
III — sangue de cristo
[ alicía sentada no trono de lucifer gritava cuspindo todo tipo de ferocidade. Tinha
dominado o inferno quando derrubou o argumento do diabo de que deus era, no íntimo,
mau. Sua hipótese era que Deus era o Nada. E só assim poderiam existir, sob a
contradição de Deus: a matéria, as coisas!]
[E todo inferno, que tinha cantos sagrados e noturnos, de sons extremamente rosa
desbotado, agora se calou. Tudo se calou e todas as almas se acalmaram. Todos os olhos
revirados se acertaram; os pensamentos ansiosos ficaram lentos. Naquele momento, nem
mais os demnnios tiveram coragem de ficar: só existia alicía e theo]
- não posso
- o que tu sugere?
- subir
e ficar puto
IV — sagrado
subiram enfurecidos
pro céu:
mataram endurecidos
sob o véu:
os medos desaparecidos
de deus.
V — alicía
Formigas-monstros
Pequenas, grandes, desbravadoras,
Crescem, navegando contracorrente
Da tempestade que parece interminável.
Ideia de desejo:
"Gato branco arranhando bolhas de sabão."
Te encontrar sempre:
O poema que vingou.
Seu corpo
Perseguido
Machucado
Cercado
Escondido
Produtor de sensibilidade
produtor de significados
causa minha felicidade
quando o vejo ao meu lado
Pois é você,
É todo seu.
Luisa Martha Souza Castro de Matos, 6º semestre, Letras Vernáculas – Língua Estrangeira.
Pintou as paredes do quarto como se fosse ficar.
Deixou rastros,
pegadas,
digitais.
Do vazio,
farto de pedaços,
costurou lembranças de quem não mais é.
Restou pesar,
mar de ausências,
fantasmas perdidos no armário -
tem 3 dias que o vizinho de quem eu roubo internet parou subitamente de me transmitir
sinal, ilhados, eu, meu computador que necessita de um ventilador para continuar ligado
esperando o sinal que certamente não virá, o rádio e uns cigarros que quase já não fumo,
resistimos.
tem 3 dias que a vida é ruim do lado de cá, acordo sempre tarde, ana, você sabe, fumo um
cigarro enquanto uso o banheiro
escovo os dentes e me sento para escrever 'dentro do carro sobre o trevo a cem por hora
oh meu amor, só tens agora os carinhos do motor'
um passarinho azul pousa na janela
o mesmo velho bêbado apostador me empurrando pra frente
sigo esperando o sinal que não virá.
As vezes passo horas, ana, o tic tac do bater nas teclas
por onde você anda agora?
Não que eu me sinta só e que o ventilador quase branco com as letras U L T R A na parte
da frente ligado no 1, reclame
que pretensão minha te envolver na minha arte
poderia, também, transmitir outra qualquer coisa, oras
enem
cerveja
calor suor
a distância exata entre o muro da minha casa e a dor do meu peito
uma mulher que um dia me sorriu, em periperi.
ninguém nunca viu um muro sair do lugar nem, tampouco, meu peito anda
por onde você anda agora
ana?
acendo um cigarro
a tarde nublada
'o que será que me dá que me bole por dentro será que me dá que me perturba o sono
será que me dá'
e um avião
passando, longe.