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Práticas de Green Supply Chain Management: uma revisão conceitual de múltiplos estudos de caso

PRÁTICAS DE GREEN SUPPLY CHAIN MANAGEMENT:


UMA REVISÃO CONCEITUAL DE MÚLTIPLOS ESTUDOS DE CASO

GREEN SUPPLY CHAIN MANAGEMENT PRACTICES:


A CONCEPTUAL REVIEW OF MULTIPLE CASE STUDIES

João Guilherme Marcato1


Themer Miralha Soares2
Rafael Zampieri Krambek3
Rafael Bellotti Moreno4

RESUMO: O conceito de Green Supply Chain Management (GSCM) tornou-se amplamente


difundido na academia e no meio corporativo, apresentando a proposta de se pensar a Gestão da
Cadeia de Suprimentos sob uma perspectiva ecossustentável que visa à otimização econômica
dos recursos e o reaproveitamento de seus subprodutos. É necessário, portanto, reconhecer
o atual estado da arte sobre o tema e suas melhores práticas. O objetivo do presente estudo
é identificar as principais práticas em GSCM adotadas por empresas em estudos de caso
produzidos entre 2010 e 2019. Os resultados identificaram práticas em oito áreas: manufatura
verde; design verde; logística reversa; gestão de resíduos; compras verdes; marketing verde;
relacionamento com consumidores e fornecedores e inovação ambiental.

Palavras-chave: Green Supply Chain Management. Supply Chain Management. Revisão da


literatura. Estudos de caso. Práticas de GSCM.

ABSTRACT: The concept of Green Supply Chain Management (GSCM) has become widely
disseminated in academia and in the corporate environment, presenting the proposal of thinking
about Supply Chain Management from an eco-sustainable perspective that aims at the economic
optimization of resources and the reuse of its by-products. It is therefore necessary to recognize
the current state of the art on the subject and its best practices. The objective of this study is to
identify the main practices in GSCM adopted by companies in case studies produced between
2010 and 2019. The results identified practices in eight areas: green manufacturing; green
design; reverse logistic; Waste Management; green shopping; green marketing; relationship with
consumers and suppliers and environmental innovation.

Keywords: Green Supply Chain Management. Supply Chain Management. Literature review.
Case studies. GSCM practices.

1 Graduando do curso de Engenharia de Produção da Faculdade de Engenharia (FEB) da Universidade Estadual Paulista
campus de Bauru. E-mail: jg_marcato@hotmail.com.
2 Graduando do curso de Engenharia de Produção da Faculdade de Engenharia (FEB) da Universidade Estadual Paulista
campus de Bauru. E-mail: themersoares@gmail.com.
3 Graduando do curso de Engenharia de Produção da Faculdade de Engenharia (FEB) da Universidade Estadual Paulista
campus de Bauru. E-mail: rapou2@hotmail.com.
4 Graduando do curso de Engenharia de Produção da Faculdade de Engenharia (FEB) da Universidade Estadual Paulista
campus de Bauru. E-mail: rflbmoreno@gmail.com.

Artigo recebido em agosto de 2020 e aceito para publicação em dezembro de 2020.

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João Guilherme Marcato • Themer Miralha Soares • Rafael Zampieri Krambek • Rafael Bellotti Moreno

1 INTRODUÇÃO

O acirramento competitivo no setor industrial promoveu um conjunto de alterações nas


organizações, dentre os quais se destacam o encurtamento do ciclo de vida de produtos e da
tecnologia, bem como a crescente demanda dos consumidores pela diferenciação de bens e
serviços. Nesse cenário, as empresas não devem atuar isoladamente para auferir vantagens
competitivas, mas, sim, em redes (MIN; ZHOU, 2002).
A Cadeia de Suprimentos – Supply Chain (SC), como uma rede, é definida como um conjunto
de empresas interdependentes que atuam conjuntamente para controlar, gerenciar e melhorar os
fluxos de materiais e informações do ponto de origem ao ponto de consumo, visando satisfazer as
necessidades do consumidor e minimizar os custos para todos os elos (LAMBERT; POHLEN, 2001).
Ao final da década de 1990, o advento da globalização promoveu o aumento da
complexidade dos sistemas produtivos, cujas cadeias de suprimento passaram por processos
de integração como forma de aprimorar seus desempenhos e, consequentemente, diferenciar-
se das demais. Tal fato fez com que as questões ambientais, até então pouco valorizadas pelos
gestores, passassem a desempenhar papel fundamental neste processo (SRIVASTAVA, 2007).
Como resultado, emergiu a Gestão da Cadeia de Suprimentos Verde – Green Supply
Chain Management (GSCM) - que auxilia as organizações e seus parceiros a atingir resultados
financeiros e ampliar a participação no mercado por meio da redução dos riscos e impactos
ambientais (RAO; HOLT, 2005). O campo de estudo da GSCM vem recebendo crescente
atenção de pesquisadores e profissionais da área devido a um conjunto de fatores, tanto de
cunho ambiental, como a diminuição das fontes de matérias-primas e o aumento dos níveis
de poluição, quanto de cunho econômico, como a redução de custos e a agregação de valor a
consumidores cada vez mais exigentes (CHAKRABORTY, 2010; SARKIS; ZHU; LAI, 2011).
Somam-se também a tal crescimento as pressões legais e sociais sobre a preservação do
meio ambiente e o próprio escopo da GSCM que abarca desde políticas reativas de monitoramento de
programas ambientais até práticas proativas que envolvem a adoção dos 4 R’s discutidos na Gestão
Ambiental corporativa: Reduzir, Reutilizar, Reciclar e Recuperar (HARTMAN; MOELLER, 2014).
Tais aspectos fizeram com que surgissem inúmeros debates tanto na academia quanto no
meio corporativo acerca de quais práticas adotadas pelas empresas melhor caracterizam a GSCM,
cujo campo de estudo mostra-se rico e em franco desenvolvimento, demandando, assim, estudos
que reconheçam o atual Estado da Arte sobre o tema e permitam sua compreensão sob uma
perspectiva aplicada e gerencial, bem como destaquem os benéficos e barreiras a ser superadas
para sua implementação. Nesse sentido, o objetivo do presente estudo busca responder ao
seguinte problema de pesquisa: “Qual são as principais práticas em GSCM adotadas por empresas
e identificadas em estudos de casos produzidos entre 2010 e 2019?”. Para tanto, realizou-se uma
revisão sistemática, por meio de consultas a duas bases de dados: SciELO e ScienceDirect.
Além deste capítulo introdutório, teceu-se uma revisão da literatura no capítulo 2. O método
empregado é discutido no capítulo 3, seguido pelos resultados no capítulo 4. As considerações
finais são apresentadas no capítulo 5, seguido pelas referências.

2 REVISÃO DA LITERATURA

Fundamentando esta pesquisa, a literatura revisitada contempla aspectos relacionados a


uma breve contextualização histórica da GSCM e suas principais práticas.

2.1 Breve contextualização histórica da GSCM

O advento da Revolução Industrial trouxe consigo questões relacionadas à gestão da


poluição, bem como à especialização do trabalho e das corporações que passaram a dedicar
esforços para estruturar seus canais de distribuição visando minimizar os desperdícios e
aumentar a eficiência operacional. Todavia, o propósito desta minimização não decorria da
preocupação ambiental, mas sim da econômica, dado que quanto maior o desperdício, maiores
eram as perdas econômicas (CHAKRABORTY, 2010; SARKIS; ZHU; LAI, 2011).
Como consequência, a poluição industrial e seu consequente impacto sobre o meio
ambiente não se tornaram o foco do estudo de pesquisadores e gestores da área até o início
de 1960, quando da publicação do livro Primavera Silenciosa por Rachel Carson, no qual se
criticava o uso dos pesticidas a base de DDT e seu efeito cumulativo nos seres humanos e

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animais, provocando, assim, uma série de debates acerca da necessidade do desenvolvimento


e cumprimento das legislações ambientais por parte das empresas (LUN et al., 2011).
Ao longo das décadas posteriores, a literatura amadureceu em relação ao papel das
organizações frente às questões ambientais, abarcando, por exemplo, estudos sobre a reconciliação
entre os setores produtivos e de consumo por meio da reintegração dos resíduos ao sistema
(AYRES; KNEESE, 1969), modelos que estimavam os custos cumulativos dos poluentes das
principais etapas que constituem a cadeia, desde a extração da matéria-prima até a produção de
um bem comercializável (STERN; AYRES; SAXTON, 1973), as vantagens competitivas oriundas
da adoção de práticas de Gestão Ambiental (FROSCH; GALLOPOULOS, 1989) e a integração
entre os setores de compras, operações, marketing e logística com foco ambiental (SARKIS, 1995).
De forma paralela, em 1980, iniciou-se o estudo da Gestão da Cadeia de Suprimentos
– Supply Chain Management (SCM) com o objetivo de integrar os processos essenciais de
negócios e agregar valor aos consumidores e as demais partes interessadas (LAMBERT, 2010).
Nesse cenário, a SCM passou a desempenhar papel-chave no desempenho das empresas,
objetivo este justificado pela crescente pressão da globalização, acirramento da competitividade
dos mercados e preocupação ambiental (HARTMAN; MOELLER, 2014).
Enraizada nos avanços da literatura sobre a Gestão Ambiental nas empresas e no
desenvolvimento da SCM, a GSCM amplia o escopo das funções da SCM ao inserir aspectos
ambientais aos critérios econômico-financeiros de gestão (RAO; HOLT, 2005). A adoção do termo
“verde” visa equilibrar o desempenho operacional com as preocupações ambientais, valendo-se,
para tanto, da forte integração entre os elos da cadeia, que, consequentemente, aumenta sua
competitividade (KIM; YOUN; ROH, 2011; ZAMPESE; MOORI; CALDEIRA, 2016).

2.2 Práticas de GSCM

Srivastava (2007) identificou três áreas de atuação da GSCM em sua revisão da literatura
de estudos produzidos entre 1980 e 2005: a manufatura verde; o design verde e as operações
verdes. A primeira refere-se às iniciativas que visam à economia de recursos, eliminação de
desperdícios e incremento de produtividade ao passo que a segunda, ao design sustentável de
produtos e processos que visa à eliminação de materiais nocivos ao meio ambiente. A terceira,
finalmente, abarca a logística reversa e a gestão de resíduos.
Enquanto a logística reversa refere-se ao processo de planejamento, implementação e
controle dos fluxos de materiais e informações do ponto de consumo até o ponto de origem, com
o objetivo de recapturar valor ou realizar descarte adequado, a gestão de resíduos é o processo
de tratamento das sobras dos processos produtivos, geralmente prejudiciais ao meio ambiente e
à sociedade (SRIVASTAVA, 2007).
Oliveira et al. (2018), também em uma revisão do Estado da Arte sobre GSCM entre 2006
e 2016, reiteraram as áreas de atuação supracitadas, bem como adicionaram quatro novas: as
compras verdes; o marketing verde; o relacionamento com os consumidores e fornecedores e
a inovação ambiental. A prática das compras verdes está relacionada à compra de materiais
considerados amigáveis ao meio ambiente e à notificação da redução dos impactos ambientais
aos compradores, enquanto que o marketing verde relaciona as ações estratégicas e táticas do
setor às questões ambientais.
O relacionamento com os consumidores e fornecedores, por sua vez, refere-se ao conjunto
de ações marcadas pela colaboração, desenvolvimento e conscientização ambiental entre
organização e clientes desde a fase do projeto do produto até o transporte deste aos pontos de
distribuição e posterior retorno no fluxo reverso. A inovação ambiental, por fim, refere-se à prática
de esverdear os processos produtivos, visando minimizar efeitos nocivos ao meio ambiente e
maximizar os desempenhos operacional e financeiro (OLIVEIRA et al., 2018).

3 MÉTODO

Para se alcançar o objetivo proposto a este estudo, utilizou-se o método da revisão


sistemática proposto por Khan et al. (2003), que se encontra estruturado em cinco etapas:
questionamento; identificação; avaliação; sumarização e interpretação. Nesse sentido, a pergunta
de pesquisa elaborada para a fase de questionamento e previamente apresentada no capítulo
introdutório é: “Qual são as principais práticas em GSCM adotadas por empresas e identificadas
em estudos de casos produzidos entre 2010 e 2019?”.

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Uma vez definida a pergunta, determinou-se que SciELO e ScienceDirect seriam as bases
de dados consultadas na fase de identificação, cuja escolha se deu devido à amplitude e visibilidade
de ambas, que abarcam em seus catálogos estudos nacionais e internacionais, bem como ao rigor
dos critérios de avaliação dos periódicos indexados e à utilização, em especial, do ScienceDirect
na geração de indicadores internacionais de produção científica (ORTIZ; ORTIZ; SILVA, 2002).
O período de pesquisa nas bases supracitadas ocorreu na primeira quinzena de maio de
2020. Para a SciELO, digitou-se no buscador ((green supply chain management) AND (practices))
e se selecionaram todos os índices. Para o período de publicação, assinalaram-se todas as opções
compreendidas entre 2010 e 2019 ao passo que se assinalou a opção “artigos” para o tipo de literatura.
Para a ScienceDirect, digitou-se no buscador ((green supply chain management) AND
(practices)) e se selecionaram as categorias título (title), resumo (abstract) e palavras-chave
do autor (author-specified keywords). O limite de tempo imposto foi de 2010-2019 e o tipo de
publicação selecionado (article type) foi o artigo de pesquisa (research articles), excluindo-se,
assim, artigos de revisão (review articles).
O emprego do operador booleano AND tem como objetivo identificar estudos que
considerem a temática deste estudo, isto é, as práticas adotadas no âmbito da GSCM. A pesquisa
resultou em uma amostra de 210 publicações, sendo 16 da SciELO e 194 delas da ScienceDirect.
Tais resultados foram exportados em formato RIS e, com o auxílio do software EndNote
X7, criou-se um banco de dados, utilizado na etapa de avaliação, na qual se realizou a leitura do
abstract de cada artigo encontrado. Para ser elegível, este precisava preencher dois requisitos:
(a) ser um estudo de caso e (b) abordar pelo menos um dos tópicos apontados por Srivastava
(2007) e Oliveira et al. (2018) como práticas de GSCM, a saber: (i) Manufatura Verde; (ii) Design
Verde; (iii) Logística Reversa; (iv) Gestão de Resíduos; (v) Compras Verdes; (vi) Marketing Verde;
(vii) Relacionamento com consumidores e fornecedores e (viii) Inovação Ambiental.
Ressalta-se que o processo de análise adotado, conforme Soares e Souza (2019), confere
a este trabalho características de reprodutibilidade por outros pesquisadores associadas a um
elevado grau de singularidade, dado que um dos critérios de seleção dos artigos envolveu a
leitura e interpretação pessoal dos resumos das publicações encontradas.
Os 39 artigos resultantes desta etapa foram sumarizados nas práticas de GSCM
apresentadas anteriormente e podem ser consultados no capítulo das referências do presente
estudo. Ressalta-se que, devido à interrelação e abrangência das práticas, alguns dos estudos
de caso encontrados foram classificados simultaneamente em mais de uma delas. A fase de
interpretação será abordada no próximo capítulo, que trata dos resultados obtidos.

4 RESULTADOS

A análise dos 39 artigos selecionados permitiu identificar oito práticas de GSCM adotadas
por empresas em nível global, reiterando, assim, a classificação destas ações nos estudos
desenvolvidos por Srivastava (2007) e Oliveira et al. (2018): manufatura verde; design verde;
logística reversa; gestão de resíduos; compras verdes; marketing verde; relacionamento com
consumidores e fornecedores e inovação ambiental. Os resultados encontrados para cada uma
delas encontram-se descritos nos tópicos apresentados na sequência.

4.1 Manufatura Verde

A área de manufatura verde mostrou forte correspondência com técnicas para redução do
consumo de energia e de materiais virgens durante os processos produtivos de uma organização,
bem como técnicas de reciclagem e reutilização de matéria-prima (OLIVEIRA NETO et al., 2015;
MANGLA; KUMAR; BARUA, 2015; SETH; REHMAN; SHRIVASTAKA, 2018).
O estudo desenvolvido por Mangla, Kumar e Barua (2015) em uma cadeia de suprimentos
fabricante de polímeros indiana, por exemplo, identificou o impacto positivo da adoção desta
prática tanto em nível operacional, com a redução do desperdício de insumos, quanto em nível
estratégico, em especial, naquilo que se refere à gestão de riscos que, segundo os autores,
devem ser priorizados segundo seu impacto sobre a GSCM.
Identificou-se, também, que este conceito envolve os processos presentes ao longo de
toda a cadeia de suprimentos, dado que ao término do uso pelo cliente final, o produto pode voltar
ao início da cadeia produtiva e reiniciar o ciclo (ALVES; NASCIMENTO, 2014; TIPPAYAWONG;
TIWARATREEWIT; SOPADANG, 2015; SELLITTO; HERMANN, 2016; SILVA et al., 2018).

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No Brasil, Alves e Nascimento (2014) apontam que a prática da manufatura verde ainda
é incipiente. Em um estudo de caso que envolveu a entrevista de estudiosos deste assunto em
âmbito nacional, foi demonstrado que os principais motivos para o atraso brasileiro deve-se,
entre outros aspectos, à falta de pressão do mercado consumidor por atitudes ambientalmente
corretas e também à falta de uma legislação rígida que inspire o desenvolvimento acelerado das
técnicas de GSCM (ALVES; NASCIMENTO, 2014).
Silva et al. (2018) intensificam os estudos sobre barreiras de implementação de GSCM ao
desenvolver um estudo de caso focado na indústria automotiva. Os autores conseguiram destacar
treze barreiras, sendo a principal delas os custos decorrentes da implementação, seguida de
fatores como falta de conhecimento técnico e falta de integração entre os stakeholders – os
autores explicam que se torna complexo atender às demandas de todos os agentes envolvidos
na cadeia de suprimentos (SILVA et al., 2018).

4.2 Design Verde

A prática do design verde, também referido como Ecodesign nos estudos de caso analisados,
busca compreender como as decisões de design afetam a compatibilidade do produto com o meio
ambiente, bem como prolongar seu ciclo de vida e minimizar a geração de resíduos durante o
processo de fabricação (AZEVEDO; CARVALHO; MACHADO, 2011; KHOR; UDIN, 2013; SELLITTO;
HERMANN, 2016; MAURICIO; JABBOUR, 2017; SELLITTO et al., 2019). Identificou-se, também, o
envolvimento dos centros de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) e parceria com o cliente e esta
prática (TSENG et al., 2013; WANG; HOU; LIN, 2013; ARANTES; JABBOUR; JABBOUR, 2014).
O estudo desenvolvido por Azevedo, Carvalho e Machado (2011), ao analisar cinco
empresas localizadas em posições distintas de uma cadeia de suprimentos do setor automotivo
português sob a perspectiva das práticas de GSCM, identificou que as ações de design verde
na amostra analisada estão relacionadas ao desenvolvimento de produtos e embalagens
ambientalmente sustentáveis, destacando que a colaboração dos consumidores e fornecedores
neste processo é fundamental.
Após analisarem múltiplas cadeias de suprimentos asiáticas, Tseng et al. (2013) concluíram
que esta prática apresenta forte teor estratégico e sinergia com ações de inovação ambiental,
como o desenvolvimento de novas tecnologias verdes para os processos produtivos. Além disso,
os autores identificaram o impacto dela sobre a gestão da produção, como a redução do tempo
de transporte e a integração holística dos estoques (TSENG et al., 2013).
Reiterando o exposto, Khor e Udin (2013), por sua vez, identificaram que o emprego desta prática
nos elos de cadeias de indústrias eletroeletrônicas da Malásia maximizou o valor agregado de seus
produtos em estoque e minimizou desperdícios de materiais, contribuindo para a adoção de práticas
de logística reversa. Sellitto et al. (2019), ao analisarem quatro cadeias de suprimentos de empresas
de calçados, identificaram que houve maior alinhamento estratégico e preocupação ambiental entre os
elos daquelas em que as práticas de Ecodesign se encontravam melhor disseminadas.

4.3 Logística Reversa

Nos estudos analisados, a prática da logística reversa está relacionada a um conjunto de


fatores que visam recuperar valor e promover o descarte adequado de produtos e embalagens,
tais como: o retorno de matéria-prima aos fornecedores; ações que visem os 4 R’s – reduzir,
reutilizar, recuperar e reciclar e a cooperação com os consumidores (ARANTES; JABBOUR;
JABBOUR, 2014; JAYARAM; AVITTATHUR, 2015; SELLITTO; HERMANN, 2016).
O trabalho de Arantes, Jabbour e Jabbour (2014), por exemplo, desenvolveu um estudo de
caso envolvendo oito empresas brasileiras consideradas focais em suas cadeias de suprimento
e atuantes no setor de alta tecnologia. Os resultados demonstraram que a logística reversa
mostra-se como a prática mais adotada pelas organizações, configurando-se como uma área
interna de tais organizações, sendo responsável pela separação, reuso e destinação correta dos
materiais. A cooperação com os clientes, segundo os autores, também favorece esta prática,
dado que estes podem consultar a localização de pontos para o descarte adequado de produtos
e embalagens no website das empresas (ARANTES; JABBOUR; JABBOUR, 2014).
Identificaram-se, também, similaridades entre ela e logística tradicional, como o planejamento
da produção e a distribuição e controle de estoques e a vantagem competitiva advinda de sua
adoção (AZEVEDO; CARVALHO; MACHADO, 2011; ELTAYEB; ZAILANI; RAMAYAH, 2011; KHOR;

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UDIN, 2013; MAFINI; LOURY-OKUMBA, 2018). O estudo de Eltayeb, Zailani e Ramayah (2011),
por exemplo, identificou que a adoção desta prática promoveu a redução dos custos de um grupo
constituído por indústrias malasianas de diversos setores que possuíam certificação ISO 14001.
Como demonstrado por Mafini e Loury-Okoumba (2018), a adoção de técnicas de logística reversa por
pequenas e médias empresas (PME’s) africanas implicou em melhorias de desempenho produtivo.
Agyemang et al. (2018), por fim, ao analisarem uma cadeia de suprimentos africana
responsável pela extração, transporte e manufatura de produtos à base de caju, identificaram as
seguintes barreiras para a adoção da logística reversa sob a perspectiva dos stakeholders: a não
integração entre os elos; a ausência de sistemas de informação integrada e de rastreio; a incerteza
quanto ao retorno financeiro e a fraca firmeza de propósito da alta direção das organizações,
sendo estas duas últimas apontadas, também, no estudo desenvolvido por Muchaendepi et al.
(2019) que analisou 40 indústrias do setor de mineração.

4.4 Gestão de Resíduos

A prática da gestão de resíduos está relacionada à adoção de processos de tratamento


das sobras de produção que, muitas vezes, seriam prejudiciais ao meio ambiente (SEHNEM;
OLIVEIRA, 2016; SLAMAN; HADDARA, 2019), bem como às medidas de incentivo junto aos
fornecedores para reformular seus processos produtivos de forma a minimizar a emissão de
poluentes e a geração de resíduos, sendo que estas podem ser oriundas de ações governamentais,
regulamentárias ou exigidas pelos consumidores (FAHIMNIA et al., 2013; GOVINDAN et al.,
2014; DAMERT et al., 2018).
O estudo de Fahimnia et al. (2013), realizado em uma cadeia de suprimentos australiana
fabricante de móveis, demonstrou como a influência e apoio do governo foram essenciais para
o processo de conscientização de seus fornecedores acerca da necessidade de tratamento e
gestão de resíduos. Após a reformulação dos processos, a cadeia como um todo minimizou
consideravelmente a emissão de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera.
Damert et al. (2018), por sua vez, após analisar cadeias de suprimentos de 37 países,
concluíram que a adoção de tais práticas pelos fornecedores é diretamente influenciada pela
exigência dos consumidores e efetividade das políticas de regulação e controle ambiental dos
países em que as organizações se encontram.
Identificaram-se, também, os benefícios oriundos da adoção desta prática, tais como
maior retorno sobre o investimento (MAURICIO; JABBOUR, 2017); melhoria do desempenho
operacional (MAFINI; LOURY-OKOUMBA, 2018) e melhor posicionamento no mercado (MARCO-
FERREIRA; JABBOUR, 2019).
Mauricio e Jabbour (2017), por exemplo, em um estudo de caso com empresas do ramo
de baterias automotivas, identificaram que os subprodutos gerados no processo de construção e
criação de uma bateria podem fazer com que esse mesmo processo se pague, gerando mais lucro
para a empresa. Os autores concluem que análise e gestão de resíduos são fatores importantes no
desenvolvimento de uma organização, principalmente nos setores cujos subprodutos do processo
crítico produtivo são quantitativamente significantes e devem ter um fim correto (MAURICIO;
JABBOUR, 2017).
Em contraponto ao apresentado, Sehnem e Oliveira (2016) demonstraram em um estudo de
caso com diversas empresas do ramo agroindustrial brasileiro que muitas organizações ainda têm
dificuldades em adotar uma política padronizada de gestão de resíduos adequada: das empresas
estudadas, apenas duas possuíam uma prática firme com um processo bem dimensionado de
gestão de resíduos. Finalmente, os autores destacam a importância de que o processo de gestão
de resíduos esteja bem desenvolvido para a construção de uma Cadeia de Suprimentos Verde –
Green Supply Chain (GSC), pois além de ser uma parte importante da logística, também faz parte
da legislação (SEHNEM; OLIVEIRA, 2016).

4.5 Compras Verdes

A prática das compras verdes caracterizou-se pelo seguinte conjunto de ações: a extração e
aquisição de matéria-prima que minimizem os impactos ambientais (TSENG; CHIU, 2013; WANG; HOU;
LIN, 2013; MAURICIO; JABBOUR, 2017); o estabelecimento de padrões para compra de materiais que não
contenham substâncias proibidas junto aos fornecedores, cuja seleção se pauta na Restriction of Hazardous
Substances Directive – RoHS e em certificações ISO (AZEVEDO; CARVALHO; MACHADO, 2011;

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ARANTES; JABBOUR; JABBOUR, 2014); a realização de auditorias junto aos fornecedores (JABBOUR;
FRASCARELI; JABBOUR, 2015); e a adoção de embalagens e rotulagem verdes, que permitem comunicar
aos consumidores que eles estão adquirindo bens cuja produção minimizou os impactos ambientais,
relacionando-se, assim, às práticas comunicacionais de marketing verde (MEDEIROS; RIBEIRO;
CORTIMIGLIA, 2016; SCUR; BARBOSA, 2017; MARCO-FERREIRA; JABBOUR, 2019).
O estudo de Medeiros, Ribeiro e Cortimiglia (2016) desenvolvido junto a empresas dos
setores automotivos e moveleiro identificou que o valor agregado aos produtos verdes aumenta a
disposição dos consumidores a pagar, em média, 10% a mais por eles. Corroborando com o exposto,
Scur e Barbosa (2017), ao analisarem cadeias de suprimentos de indústrias de eletrodomésticos,
concluíram que o número de vendas de tais produtos aumentou após a adoção de selos que
informavam aos consumidores que a gestão de resíduos delas minimizava os impactos ambientais.
Os autores também identificaram maior propensão a adotar esta prática naquelas organizações
que possuíam certificação ISO 14001 (SCUR; BARBOSA, 2017).
Quanto às barreiras a sua adoção, finalmente, Zhu, Sarkis e Lai (2015) desenvolveram um estudo
de caso junto a fornecedores de um conjunto de empresas chinesas responsáveis pela remanufatura de
peças para caminhões e identificaram que as principais barreiras para adoção de padrões de compras
verdes estão relacionadas à falta de suporte financeiro e investimento tecnológico e à necessidade de
desenvolvimento de conscientização ambiental entre os elos que constituem a cadeia.

4.6 Marketing Verde

A prática do marketing verde está relacionada ao “esverdeamento” do mix de produtos ao


longo de toda a cadeia e envolvimento dos elos com causas ambientais (CHAN; HE; WANG, 2012;
BRINDLEY; OXBORROW, 2014; SELLITTO et al., 2019), à adoção do endomarketing verde dentro
das próprias organizações, como treinamentos que visem conscientização ambiental de todos os
níveis organizacionais (JABBOUR; FRASCARELI; JABBOUR, 2015; JABBOUR; SOUZA, 2015) e aos
fatores comunicacionais de forma a fortalecer a imagem da empresa junto à sociedade (MEDEIROS;
RIBEIRO; CORTIMIGLIA, 2016; SCUR; BARBOSA, 2017; MARCO-FERREIRA; JABBOUR, 2019).
Brindley e Oxborrow (2014) investigaram o relacionamento entre a GSC e as necessidades
do marketing verde em uma cadeia de suprimentos britânica do setor alimentício. Os resultados
demonstraram divergências entre as perspectivas ambientais das empresas envolvidas e a visão
dos consumidores quanto ao desenvolvimento do mix de produtos de forma sustentável. Os
autores indicam que a gestão da demanda é crucial para o balanceamento das necessidades
dos vários stakeholders e os grupos dos clientes, enfatizando, para tanto, os benefícios oriundos
do acompanhamento do fluxo reverso de informações e o desenvolvimento e manutenção de
relacionamentos de longo prazo com clientes e fornecedores (BRINDLEY; OXBORROW, 2014).
Jabbour, Frascareli e Jabbour (2015) analisaram quatro grandes empresas brasileiras que
apresentavam elevado nível de desenvolvimento ambiental corporativo. Além das fortes relações
entre as práticas de manufatura verde e relacionamento com consumidores com o desempenho
operacional e ambiental, os autores ressaltam que as práticas de endomarketing auxiliaram na
criação de procedimentos e programas de Gestão Ambiental entre os colaboradores que, por sua
vez, facilitaram o desenvolvimento de sistemas de produção verdes que, consequentemente,
trazem menores impactos ambientais (JABBOUR; FRASCARELI; JABBOUR, 2015).
Marco-Ferreira e Jabbour (2019), por fim, identificaram que os principais fatores comunicacionais
de três empresas, uma recicladora de chumbo e as demais fabricantes de defensivos agrícolas e
baterias automotivas respectivamente, foram: a elaboração e divulgação de relatórios ambientais, o
patrocínio a eventos ecológicos e a colaboração com organizações ecológicas.

4.7 Relacionamento com consumidores e fornecedores

As práticas de relacionamento com consumidores estão relacionadas ao envolvimento


deles nas questões relacionadas ao projeto dos produtos, tal como sugestões para a alteração
de suas especificações e transparência nas etapas do processo produtivo, bem como na
cooperação com a Logística Reversa (SARKIS; ZHU; LAI, 2011; ARANTES; JABBOUR;
JABBOUR, 2014; JABBOUR et al., 2017). Jabbour et al. (2017), após analisarem um conjunto
de indústrias brasileiras, concluíram que a colaboração com consumidores se configura como
um fator preponderante para a adoção da GSCM, dado que estas se valem de tal relacionamento
como indicador de desempenho ambiental.

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Aquelas relacionadas aos fornecedores, por sua vez, envolvem os processos de seleção
por meio de critérios, como a certificação ISO 14001, a colaboração para gerir o fluxo reverso
de materiais e armazenamento (CANIELS; GEHRSITZ; SAMEJIN, 2013; ZHU; SARKIS; LAI,
2015) e o compartilhamento de responsabilidades, encorajando-os a adotar práticas ambientais
sustentáveis que ajudem a aprimorar seu desempenho competitivo (VILLANUEVA-PONCE et al.,
2015; ZHU; GENG; SARKIS, 2016).
O estudo de caso desenvolvido por Caniels, Gehrsitz e Samejin (2013) considerou 54
organizações alemãs do setor automotivo a fim de determinar os critérios para a seleção de
fornecedores no processo de construção de uma GSC. Os resultados demonstraram que, para
pequenas empresas, a capacidade destes em colaborar com a gestão do fluxo reverso de
materiais e atender às necessidades dos consumidores são preponderantes. Para as grandes
empresas, por sua vez, além de tais fatores, a exigência de uma certificação ambiental torna-se
outro critério relevante (CANIELS; GEHRSITZ; SAMEJIN, 2013).
Zhu, Geng e Sarkis (2016) analisaram empresas chinesas de manufatura e concluíram que a
adoção de práticas ambientais por seus fornecedores está relacionada a ações menos coercitivas por
parte das empresas focais, isto é, quanto menor for a pressão coercitiva e maior a colaboração entre
os elos, maior é a tendência de que os primeiros adotem posturas proativas em relação ao modo
como conduzem suas atividades em relação ao meio ambiente. Além disso, os autores apontam que
o uso de indicadores de desempenho ambiental de forma voluntária auxilia a disseminar as práticas
de Gestão Ambiental ao longo de toda a cadeia (ZHU; GENG; SARKIS, 2016).

4.8 Inovação ambiental

A prática da inovação verde se refere ao conjunto de práticas que visam reduzir ou


eliminar os impactos ambientais dos processos produtivos por meio da adoção de tecnologias
que auxiliem a esverdear as estratégias das organizações (MOORI; SHIBAO; SANTOS,
2018). Nos estudos de caso analisados, encontram-se ações de: cooperação entre os setores
produtivos de empresas de uma cadeia de suprimentos de forma a assegurar a ecoeficiencia
entre seus processos (TSENG; CHIU, 2013; MAURICIO; JABBOUR, 2017); evolução do nível de
maturidade em gestão ambiental por meio do emprego de técnicas de Produção Mais Limpa –
P+L (OLIVEIRA NETO et al., 2015; MARCO-FERREIRA; JABBOUR, 2019) e inovação do setor
de Pesquisa e Desenvolvimento para elevar a competitividade de produtos verdes e diminuir o
consumo energético e de materiais pela reformulação de seus projetos (WANG; HOU; LIN, 2013;
JABBOUR; FRASCARELI; JABBOUR, 2015; SELLITTO; HERMANN, 2016).
O estudo de Tseng e Chiu (2013) identificou que, além da integração entre os setores
produtivos de indústrias fabricantes de circuitos em Taiwan, a boa comunicação entre eles,
favorecida pela tecnologia, reduzia a emissão de resíduos tóxicos e favorecia a seleção de
fornecedores. O trabalho de Wang, Hou e Lin (2013) analisou o impacto da reformulação dos
processos de impressão litográfica offset em embalagens de empresas do setor. Os resultados
demonstraram que, após a implementação do projeto, houve diminuição do consumo de energia
e emissão de CO2 no processo de impressão, bem como redução do total de emissões de gases
do efeito estufa em aproximadamente 239 quilos.
Oliveira Neto et al. (2015) dedicaram-se a indicar quais técnicas de P+L são as mais
populares entre empresas brasileiras. No estudo de caso, que considerou organizações
associadas ao Instituto Ethos – característica que demonstra certo interesse em inovação
sustentável por parte dessas organizações – os autores indicam que o fator de P+L mais comum
entre as empresas brasileiras consiste na avaliação dos impactos ambientais dos resíduos dos
produtos desde o momento de projeto. Essa característica de preocupação com os impactos
ambientais desde o início do projeto pode ser associada a técnicas de redução de impacto na
fonte, o que, por sua vez, pode ser categorizado como nível preventivo de maturidade em gestão
ambiental (MARCO-FERREIRA; JABBOUR, 2019).
Mauricio e Jabbour (2017) utilizaram o setor de baterias automotivas para conduzir um
estudo sobre Fatores Críticos de Sucesso (FCS) para a adoção de técnicas de GSCM. Os
resultados dos autores evidenciam que o compromisso da alta direção da organização com o
projeto de GSCM é um dos principais FCS para o setor estudado, ao lado de aspectos como
gestão da informação e desenvolvimento de produtos/processos ecologicamente responsáveis
(MAURICIO; JABBOUR, 2017). O fato de um dos FCS mais importantes no estudo de Mauricio
e Jabbour (2017) relacionar-se com fluxo de informações vai ao encontro das conclusões de

208 Revista de Ciência e Tecnologia Fatec Lins - Ano VI - Vol. VI - (2): Julho/Dezembro 2020
Práticas de Green Supply Chain Management: uma revisão conceitual de múltiplos estudos de caso

Moori, Shibao e Santos (2018) que relacionam a tecnologia como um elo importante entre as
técnicas de GSCM e a performance ambiental de organizações do setor químico brasileiro.
O estudo de caso de Sellitto e Hermann (2016), realizado com quatro empresas de uma
cadeia de suprimentos da indústria de pêssegos de Pelotas/RS, aponta o aspecto de inovação
como uma das prioridades para as empresas estudadas. Os autores relacionam à categoria
de “inovação” técnicas como o Ecodesign, com projetos que visam melhorias de desempenho
dos produtos e/ou redução do consumo energético e de materiais (SELLITTO; HERMANN).
As conclusões evidenciadas por Sellitto e Hermann (2016) encontram consonância com os
resultados de Mauricio e Jabbour (2017) quanto ao fato de “desenvolvimento de produtos/
processos ecologicamente responsáveis” ser um FCS para a implantação de GSCM.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo do presente estudo era identificar as principais práticas de GSCM adotadas por
empresas em estudos de caso produzidos entre 2010 e 2019, respondendo, assim, a pergunta
de pesquisa apresentada no capítulo introdutório. Revisando estudos nacionais e internacionais,
identificaram-se oito práticas adotadas por organizações ao redor do mundo, quais sejam:
manufatura verde; design verde; logística reversa; gestão de resíduos; compras verdes; marketing
verde; relacionamento com consumidores e fornecedores e inovação ambiental. Portanto, pode-
se concluir que tal objetivo foi alcançado.
No campo acadêmico, este estudo contribui para atualizar e ampliar as discussões acerca
das práticas de GSCM apresentadas na literatura, relacionando-as a estudos de caso aplicados
ao meio industrial. Espera-se que os resultados encontrados possam contribuir também para o
amadurecimento do conceito de Gestão Ambiental corporativa entre todos os elos que constituem
a rede de suprimentos, bem como para a propagação das barreiras que precisarão ser superadas
e das vantagens competitivas oriundas de sua adoção.
No campo gerencial, este contribui ao apresentar uma visão holística das principais
práticas de GCSM que empresas localizadas ao redor do mundo têm empregado ao longo da
última década, servindo de benchmarking para organizações que desejam adotar práticas verdes
em sua cadeia de suprimentos ou que estão enfrentando dificuldades em sua implementação.
Quanto às limitações, podem-se destacar: a quantidade de base de dados consultada –
somente duas; o tipo de estudo buscado – utilizaram-se somente estudos de caso, excluindo-se,
assim, trabalhos teóricos ou conceituais, tais como revisões da literatura e modelos avaliados
por meio de Modelagem de Equações Estruturais (MEE), DEMATEL ou Lógica Fuzzy e o período
das publicações considerado – restrito à última década.
Futuros estudos devem englobar mais bases de dados em seu escopo, como a Web of
Science e ampliar o período de buscas das publicações considerado, de forma a identificar, por
exemplo, as principais práticas de GSCM adotadas por empresas desde o início do século XXI,
bem como investigar qual é o setor industrial em que elas são mais utilizadas, os países que
mais se valem delas e as barreiras a serem superadas para sua adoção. Deve-se quantificar,
também, quais são os principais autores da área e os periódicos mais recorrentes sobre o tema.
Novos estudos, por fim, podem ser realizados a partir de estudos de campo com
organizações localizadas no país, em especial, com PME’s, para verificar sua situação em relação
ao conhecimento e uso de técnicas de GSCM, bem como verificar se existe relacionamento entre
o emergente conceito de Economia Circular e tais técnicas.

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