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FLORIANÓPOLIS
2020
Pedro Seolin dos Santos
Florianópolis
2020
Pedro Seolin dos Santos
ANÁLISE DE INICIATIVAS PARA GESTÃO DE RESÍDUOS TÊXTEIS
NO PÓS-CONSUMO DA INDÚSTRIA DE VESTUÁRIO NO CONTEXTO DA
ECONOMIA CIRCULAR
Certificamos que esta é a versão original e final do trabalho de conclusão que foi
julgado adequado para obtenção do título de mestre em Engenharia de Produção.
____________________________
Coordenação do Programa de Pós-Graduação
____________________________
Profa. Lucila Maria de Souza Campos
Orientadora
Florianópolis, 2020
RESUMO
Nas últimas décadas, a eficiência e gestão dos recursos naturais tornaram-se uma área de
grande interesse para fechar os ciclos dos materiais e contribuir para transição à economia
circular. Na indústria de vestuário, o modo de utilização dos recursos têm ocasionado
problemas em níveis cada vez maiores, em especial devido ao fast fashion. Uma das
maneiras de reverter essa situação é a reinserção dos itens de vestuário já utilizados à
cadeia produtiva. Desse modo, à luz da economia circular, a presente pesquisa tem como
objetivo principal analisar as iniciativas para gestão de resíduos têxteis no pós-consumo
envolvendo as etapas de coleta, separação e reinserção de itens de vestuário no pós-
consumo. A metodologia foi estruturada em três fases e seis etapas. Na primeira fase, foi
realizada análise da literatura existente e identificado que a gestão de resíduos no setor
têxtil já possui novas abordagens embora careça de mais estudos num contexto prático para
que esses novos modelos de negócios emergentes saiam de seus estágios iniciais de
desenvolvimento. Já na Fase 2, as iniciativas de gestão de resíduos têxteis no pós-consumo
foram mapeadas e conceituadas com base na literatura identificada e analisada na Fase 1.
Por fim, a Fase 3 envolveu uma entrevista em profundidade com 11 experts da indústria
têxtil que analisaram sua atual gestão de resíduos têxteis em pequenas e médias empresas
pensando em critérios econômicos, sociais e ambientais. Essa análise serviu de
embasamento para a discussão dos resultados utilizando a corrente teórica Practice-Based
View (PBV). Os resultados alcançados identificaram onze iniciativas de coleta, três de
separação, cinco de reúso e seis de reciclagem. Tais iniciativas ainda que promovam a
circularidade como uma nova solução para os problemas ambientais, é puxada
principalmente a jusante, promovendo abordagens de gerenciamento de resíduos de curto
prazo, enquanto os elos iniciais da cadeia produtiva continuam a extrair e utilizar
quantidade de recursos não renováveis de maneira excessiva. enquanto no contexto prático,
a partir das entrevistas com os experts da indústria, se notou que existe maior preocupação
com a reinserção dos itens de vestuário por meio de reúso, a partir de separação manual e
coleta através de garimpo e ecopontos. Os recursos considerados essenciais foram a malha
de transporte e a mão-de obra qualificada enquanto os principais agentes envolvidos na
gestão de resíduos foram as MPEs (fornecedores), consumidores e a própria empresa. A
discussão frente à PBV permitiu validar que no momento a Economia Circular nos modelos
de negócio analisados é aplicada parcialmente, justamente devido ao modelo ser aplicado
em uma cadeia predominantemente linear. Soma-se a isso o fato de que o desempenho da
gestão de resíduos usualmente é determinado pelos entrevistados por critérios econômicos,
em especial, a qualidade do têxtil coletado e os valores do negócio enquanto os critérios
ambientais e econômicos são puxados de acordo com as iniciativas escolhidas em cada
etapa da gestão de resíduos. Concluiu-se, por fim, que embora os modelos de negócio
possam ter emergido com princípios sustentáveis em sua fundação, a gestão de resíduos
têxteis também é fortemente afetada pelo ambiente externo, principalmente pelos
consumidores.
In the last decades, the efficiency and management of natural resources have become an
area of great interest to close the material cycles and contribute for a transition to the
circular economy. In the clothing industry, the way resources are used has caused problems
at increasing levels, especially due to fast fashion way of production. One of the ways to
reverse this situation is to reinsert clothing post-consumer items in the production chain.
Thus, under circular economy model, the present research pretend to analyze the initiatives
for textile waste management in post-consumption involving the stages of collection,
sorting, reuse and recycling of post-consumer clothing items. The methodology was
structured in three phases and six stages. In the first phase, an analysis of the existing
literature was carried out and it was identified that textile waste management already has
new approaches although it needs further studies in a practical way for these new emerging
business models to come out of their early stages. In Phase 2, the textile waste management
initiatives in post-consumption were mapped and conceptualized based on the literature
identified and analyzed in Phase 1. Finally, Phase 3 involved an in-depth interview with 11
textile industry experts who analyzed its current management of textile waste on small and
medium enterprises with economic, social and environmental criteria. This analysis served
as a basis for the discussion of the results using the theoretical Practice-Based View (PBV).
The results achieved identified eleven collection initiatives, three sorting initiatives, five
iniciatives for reuse and six iniciatives for recycling. Such practices, although promoting
circularity as a new solution to environmental problems, are mainly drawn downstream,
promoting short-term waste management approaches, while the initial links in the
production chain continue to extract and use a number of non-renewable resources from
excessive way. while in the practical context, from the interviews with industry experts, it
was noted that there is greater concern with the reinsertion of clothing items through reuse,
from manual separation and collection through mining and ecopoints. The resources
considered essential were the transport network and qualified labor, while the main agents
involved in waste management were micro and small companies (MSEs), consumers and
the company itself. The discussion with the PBV allowed us to validate that at the moment
the circular economy in the analyzed business models is partially applied, precisely because
the model is applied in a predominantly linear chain. Added to this is the fact that the
performance of waste management is usually determined by respondents by economic
criteria, in particular, the quality of the textile collected and the values of the business while
the environmental and economic criteria are pulled according to the initiatives chosen at
each stage of waste management. Finally, it was concluded that although the business
models may have emerged with sustainable principles in their foundation, the management
of textile waste is also strongly affected by the external environment, especially by
consumers.
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 15
1.1 OBJETIVOS ............................................................................................................... 17
2.2.1.1 Atividade 5 - Definição dos aspectos circulares para gestão de resíduos têxteis no
pós-consumo ............................................................................................................................. 30
2.2.1.4 Atividade 8 - Definição dos critérios para análise da gestão de resíduos têxteis ....... 32
2.3.1 Etapa 5 – Definição do método e procedimentos para analise das iniciativas .... 33
2.3.2 Etapa 6 - Consulta com experts da indústria e análise das iniciativas ................. 37
3.1.4.1 Materiais têxteis na cadeia produtiva e seus principais resíduos sólidos gerados...... 47
3.3.1.2 Coleta.......................................................................................................................... 72
3.3.1.3 Separação.................................................................................................................... 73
4.1.1 Definição conceitual das iniciativas para gestão de resíduos têxteis no pós-
consumo da indústria de vestuário no contexto da Economia Circular .......................... 100
4.2.1 Descrição dos aspectos circulares na gestão dos resíduos têxteis na operação . 112
4.2.2 Descrição das atuais iniciativas utilizadas pelos experts nas etapas de coleta,
separação e reinserção dos itens de vestuário .................................................................... 116
4.2.3 Descrição dos recursos disponíveis e responsáveis pelas iniciativas .................. 121
4.2.4 Análise das iniciativas de gestão de resíduos têxteis no pós-consumo pelos
experts da indústria............................................................................................................... 126
1 INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas, a eficiência e gestão dos recursos naturais tornaram-se uma
área de grande interesse para pesquisadores, fabricantes e profissionais para fechar os ciclos
dos materiais e contribuir para transição à economia circular (BUKHARI et al., 2018). A
abordagem circular busca promover a máxima utilização dos recursos e mitigar os impactos
ambientais durante os processos de produção e consumo (BECH et al., 2019).
Conforme Norris (2019), a indústria da moda ainda está identificando e adequando
iniciativas que de fato garantam a máxima utilização dos recursos e não apenas práticas que
apenas preservem a coleta e o descarte final dos itens de vestuário. A emergência dessas
iniciativas ocorre devido ao modo de utilização dos itens confeccionados, que têm
ocasionado problemas em níveis cada vez maiores, em especial devido ao fast fashion1.
Esse modelo econômico, pautado na economia linear, é caracterizado por
minimizar os custos de produção, incentivar o consumo em massa de produtos sazonais e
de baixo valor monetário (BRAY, 2017). Tal modelo tem gerado diversos impactos
ambientais negativos, como o alto consumo de água e energia elétrica, e a subutilização de
recursos (PAL, GANDER, 2018; ALLWOOD et al., 2006; NORRIS, 2019).
Tal subutilização provoca perdas financeiras substanciais em um mercado cada
vez mais competitivo. Para Burton (2018), indústria de vestuário está perdendo meio
trilhão de dólares por não ser circular devido à subutilização dos recursos, podendo
aumentar a perda de valor se consumidores de grandes países, incluindo o Brasil,
continuarem a adotar as atuais taxas de consumo.
A literatura já tem apontado que o descarte de itens de vestuário no pós-consumo
demanda constante atenção devido ao crescimento no descarte de grandes quantidades de
resíduos têxteis à aterros sanitários e estoque não vendido por meio de incineração (HU et
al., 2014, HVASS, 2014, BURTON, 2018). Além disso, embora boa parte dos têxteis
utilizados nos itens confeccionados poderem ser reutilizados ou reciclados, estima-se que
85% da produção global tenha sua destinação final em aterros já no primeiro ciclo de
utilização (MCKINSEY GLOBAL FASHION INDEX, 2016; BURTON, 2018).
Sendo assim, teóricos têm sugerido (PEDERSEN et. al, 2019; FRANCO, 2017;
MCNEILL, SNOWDON, 2019) novos modelos de negócio. Esses modelos a máxima
1
O fast fashion é um termo contemporâneo baseado no sistema produtivo puxado por tendências
onde se demanda grande volume de itens de vestuário para serem comercializados em um curto período de
tempo
16
1.1 OBJETIVOS
A seguir serão indicados os objetivos que irão nortear o estudo, tendo em vista as
considerações anteriormente apresentadas.
1.2 JUSTIFICATIVA
2
O termo slow fashion é aquele que infere potencial de mudança na indústria de vestuário a partir de três
pilares sendo: a) valorizar o local; b) sistemas de produção transparente e; c) produtos sensoriais.
19
meio no qual foram inseridos mais do que se preocupando com melhorias e ajustes nesses
processos (PALM et al., 2014; ELLEN MACARTHUR FOUNDATION, 2017).
Nesse sentido, a análise das iniciativas para gestão dos resíduos pós-consumo no
setor de vestuário seguirá como corrente teórica a PBV e se justifica como adequada para
endereçar as lacunas ao nível prático e teórico. Do ponto de vista prático, as iniciativas
permitiram oferecer um panorama no modo como essas são escolhidas pelas organizações e
como ocorre essa operacionalização (recursos e responsabilidades).
No contexto teórico, a identificação e mapeamento dessas iniciativas permitiria
fornecer novas soluções que podem ser testadas em outros contextos, conforme defende
Bech et al. (2019). Além disso, esta pesquisa permitirá aprofundar o entendimento do modo
como essas iniciativas de coleta, separação, reúso e reciclagem são tratadas num contexto
circular, a partir de critérios ambientais, econômicos e sociais.
Foram propostas três fases para delineamento da pesquisa, sendo elas: (1) análise
da literatura existente e formulação das perguntas de pesquisa; (2) definição conceitual das
iniciativas e critérios para gestão de resíduos têxteis no pós-consumo; e (3) análise das
iniciativas. A Figura 1 apresenta a estrutura metodológica da pesquisa.
As fases foram segmentadas em etapas (cada etapa pode possuir uma ou mais
atividades para sua conclusão). A Fase 1 teve como propósito a verificação da literatura
existente, panorama do estado da arte sobre os temas propostos, identificação das principais
lacunas na literatura e formulação da oportunidade de pesquisa.
Já a Fase 2 teve como propósito identificar na literatura as iniciativas de coleta,
separação, reciclagem e reúso na indústria de vestuário no contexto da economia circular,
bem como os critérios para analisar a gestão de resíduos têxteis circular no pós-consumo.
Por fim, a Fase 3 traz uma análise regional das iniciativas.
Para Etapa 1 foi realizada uma revisão sistemática na literatura sobre resíduos
têxteis na indústria de vestuário. Os passos da revisão sistemática foram adaptados dos
estudos de Hallinger (2013), Tranfield et al. (2003) e Levy e Ellis (2006) e o Quadro 1
sintetiza o procedimento metodológico aplicado, às atividades desenvolvidas e suas
principais entregas na Etapa 1.
Procedimento
Objetivo Entrega Principais entregas da atividade
Metodológico
3-
Definição waste AND fashion industry OR fashion retail OR
e uso das cloth industry OR cloth retail OR apparel retail OR
palavras- apparel industry OR garment industry OR garment
chave retail.
Evolução do 4 - (1) "waste” deve estar relacionado apenas à têxteis
tema e Definição
nos processos de produção e consumo; (2) os
identificação dos estudos devem abordar práticas de reúso ou de
Revisão
das lacunas critérios reciclagem em seu contexto de reinserção de
Sistemática da
de pesquisa para resíduos têxteis na cadeia produtiva
literatura seleção
sobre
resíduos 5-
têxteis Descrição dos aspectos gerais sobre os estudos
Análise
analisados
descritiva
6-
Análise Evolução sobre o tema de resíduos têxteis e as
de principais lacunas identificadas
conteúdo
Fonte: elaborado pelo autor, com base em Hallinger (2013), Tranfield et al. (2003) e Levy e Ellis (2006)
3
Foram realizadas buscas em 4 bases de dados utilizando 9 palavras-chaves e suas combinações, sendo elas:
circular economy AND fashion industry OR fashion retail OR cloth industry OR cloth retail OR apparel retail
OR apparel industry OR garment industry OR garment retail. Após a conclusão da busca, foram selecionados
61 publicações das quais foram excluídas as duplicatas (6), totalizando 78 artigos para leitura do título,
palavras-chave e resumo, dos quais foram obtidos 28 artigos para leitura integral resultando num portfólio
final composto por 18 artigos. Os estudos que abordam ECONOMIA CIRCULAR na indústria têxtil e os
artigos seminais utilizados na pesquisa estão identificados nos Apêndices D e E, respectivamente.
29
(Atividade 5), a definição dos termos para designar as iniciativas (Atividade 6) e a sua
descrição em relação aos recursos e principais responsáveis (Atividade 7). Por fim, foram
descritos os critérios necessários para análise da gestão de resíduos têxteis circular no pós-
consumo.
A Figura 2 apresenta a estrutura conceitual que relaciona as características gerais da
gestão de resíduos têxteis no pós-consumo e as iniciativas organizadas na ordem sequencial
das etapas de (1) coleta, (2) seleção e (3) reinserção na cadeia produtiva (reúso ou
reciclagem).
a) Lógica das atividades: diz respeito ao modo como os recursos devem circular
dentro da CS (retardar, reduzir ou fechar os ciclos);
b) Nível de ação: representa a perspectiva na qual as iniciativas foram estruturadas
do ponto de vista da economia circular (níveis micro, meso ou macro);
30
c) Tipo de resíduo: diz respeito a qual tipo de resíduo gerado as inciativas irão ser
aplicadas (resíduos do pós-produção, pré-consumo ou pós-consumo);
d) Premissa das iniciativas: diz respeito ao objetivo final do conjunto desenvolvido
(como exemplo, descarte correto, capturar valor ou imposição legal) e;
e) Stakeholders envolvidos: são aqueles que tenham relação direta com alguma das
etapas no pós-consumo (coleta, separação, reúso ou reciclagem).
A Fase 3 foi subdivida em duas etapas: definição do métodos para análise das
iniciativas (Etapa 5) e consulta com experts da indústria (Etapa 6). A Fase 3 envolveu o
desenvolvimento de um roteiro semi-estruturado para consulta a experts da indústria que
atuem com reúso ou reciclagem de itens de vestuário e participem do processo de coleta e
separação.
Ainda que consultar especialistas não consista em uma survey, Forza (2002)
entende que o procedimento metodológico com uma seleção de especialista precisamente
definida no que tange escopo e objetivo do estudo e a construção do instrumento para
coleta de dados validada com pré-teste, possibilita uma coleta e análise dos dados com
maior relevância aos aspectos analisados.
Para seleção dos experts da indústria, consideram-se profissionais que atuam no
setor de vestuário, com preferência por indivíduos que atuem em micro e pequenas
empresas, pois representam uma parcela significativa da indústria de vestuário e podem
contribuir significativamente para a transição a uma economia mais circular (TESTA et al.,
2017).
Para delimitação da amostra, foi levada em consideração a conceituação definida
por Ellen Macarthur Foundation (2017), que entende ser necessária a aplicação prática num
contexto regional para posterior ampliação desse estudo numa esfera mais ampla (ex.:
nacional).
Dessa forma, pensando na conveniência para captação dos dados e tendo em vista
o estado de Santa Catarina ser um dos principais polos produtivos de vestuário (SEBRAE-
2019), foram selecionados apenas empresas da grande Florianópolis.
Os participantes foram recrutados através das plataformas LinkedIn e Instagram.
Mitra e Buzzanell (2016) defendem a utilização da plataforma LinkedIn pois permite o
contato com participantes vinculados a grupos focais específicos (por exemplo,
profissionais que atuam com Economia Circular).
Para Gelinas et al. (2017), o Instagram e outras mídias sociais também tornam-se
atraentes nesse contexto, pois podem permitir que os pesquisadores alcancem segmentos
mais amplos da população e também permitem inferir sua elegibilidade para estudos
específicos, do que realizar buscas mais formais como bancos de dados científicos ou ações
presenciais.
Os autores (2017) entendem que a amostra do estudo possa ser extraída de mídias
sociais desde que respeitado dois aspectos principais:
35
a) Respeito pela privacidade e outros interesses: contato nas mídias sociais a grupos
vinculados ao tema proposto que demonstrem conhecimento e interesse pelo tema,
realizando primeira abordagem pautada na pessoalidade e responsabilidade do
pesquisador diante das informações solicitadas;
b) Transparência: honestidade no contato à amostra pretendida, isto é, buscar contato
em redes sociais com maior abertura (exemplo: Instagram), e não acessar grupos de
networking privados.
Desse modo, a amostra foi mapeada com usuários de LinkedIn e Instagram que
possuíam interesse em áreas de sustentabilidade, design de moda e economia circular.
Foram identificados 48 possíveis experts da indústria e 11 aceitaram participar da
entrevista, formando assim a amostra final da pesquisa.
A Figura 3 apresenta as etapas de identificação, primeiro contato e realização das
entrevistas num período de cinco semanas. Inicialmente, as duas primeiras semanas não
tiveram aplicação do instrumento de coleta de dados (Entrevista). Elas passaram a ocorrer
na terceira semana, em especial, devido a uma segunda tentativa de contato com a amostra
que aceitou participar da entrevista (11 experts entre os dias 06 de maio à 22 de maio).
Os códigos iniciais foram criados conforme Charmaz (2009) aponta como sendo as
expectativas de respostas advindas das perguntas da entrevista, isto é, o que o pesquisador
objetiva identificar nas respostas realizadas pelos entrevistados. A codificação criada é
embasada na teoria, focalizada no objeto de análise e feita de maneira axial, ou seja, como
um mesmo termo (categoria) pode ser abordado de diferentes maneiras (subcategorias)
(CHARMAZ, 2009).
Conforme Bardin (2010), as categorias podem emergir no momento exploratório
dos dados, desde que levado em consideração a saturação temática, isto é, o esgotamento de
categorias definidas. Nesse estudo a saturação temática ocorreu durante a análise da
Entrevista 09, que permitiu fornecer novos exemplos e contextos de aplicação que se
mostraram úteis para refinar ainda mais os códigos pré-existentes.
Após o mapeamento final dos códigos (ver Apêndice L) os trechos das entrevistas
foram alocados nas categorias definidas que englobavam os 5 blocos de conteúdo. A partir
dos resultados alcançados, a finalização do estudo deu-se por uma discussão dos resultados
teóricos com as análises do estudo de campo a partir da corrente teórica PBV.
A discussão a partir dessa corrente teórica pretendeu analisar as iniciativas de gestão
de resíduos a partir de critérios econômicos, ambientais e sociais a fim de compreender o
desempenho da gestão de resíduos têxteis na qual os experts da indústria atuam.
40
3 REFERENCIAL TEÓRICO
Neste capítulo serão discutidas as bases teóricas que irão sustentar os objetivos da
pesquisa. Inicialmente foi realizada uma revisão sistemática da literatura sobre resíduos
têxteis na cadeia produtiva da indústria de vestuário, englobando análise descritiva e de
conteúdo, bem como as principais lacunas de pesquisa sobre o tema.
Fonte: Próprio autor, baseado em FRANCO, 2017; ALLWOOD et al., 2008; AMARAL et al., 2018; DE
ALENCAR et al., 2015.
Nota: o maior contribuinte para a pegada de carbono do vestuário é a produção de fibra através da extrusão de
polímeros ou da agricultura; e a maior utilização de quantidade de água também ocorre durante o crescimento
e produção de fibras, em especial no cultivo do algodão.
Fonte: Próprio autor, 2019 (baseado em FRANCO, 2017; ALLWOOD et al., 2008; AMARAL et al., 2018;
DE ALENCAR et al., 2015)
desse modo, reduzido os impactos ambientais desde 2012 (THE WASTE AND
RESOURCES ACTION PROGRAMME, 2017).
Conforme Hu et al. (2014), os benefícios ambientais podem ser criados pela
reinserção de roupas usadas no processo produtivo, uma vez que a reutilização de itens de
vestuário previne a produção de novos recursos, resultando em uma diminuição dos
impactos ambientais gerados.
Fonte: elaborado pelo autor baseado em Amaral et al. (2018) e De Alencar (2015).
Nota: a diferença entre fibra sintética e artificial reside na composição do têxtil. Na fibra sintética, o filamento
é produzido totalmente a base de produtos químicos (e.g petróleo) enquanto na fibra artificial é utilizado
polímeros naturais (ex.: celulose).
47
A indústria de vestuário produz dois tipos de resíduos que podem ser classificados
como resíduos pós-produção, pré-consumo e pós-consumo. Os resíduos de pré-consumo
são criados pela indústria de vestuário antes do produto chegar ao consumidor, enquanto o
pós-consumo é criado pelos consumidores depois que o produto é usado (ENEZ, KIPÖZ,
2019). A Figura 7 apresenta os principais resíduos gerados dentro das duas categorias.
Figura 7 - Classificação dos resíduos gerados nas etapas de produção, pré e pós-consumo
Nos últimos anos, a economia circular tem recebido considerável atenção devido
às oportunidades oferecidas, a fim de otimizar e promover a produção e o consumo
sustentáveis, por meio de novos modelos baseados em crescimento contínuo e recursos
ilimitados (GOVIDAN, HASANAGIC, 2018).
Nesse trabalho, a economia circular será um dos temas abordados e, inicialmente,
será discutida a partir de artigos seminais. Em seguida, aplicações da economia circular na
indústria de vestuário serão discutidas para identificar e sintetizar os parâmetros necessários
para análise dos aspectos circulares na gestão de resíduos têxteis no pós-consumo.
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em sua mais alta utilidade e valor em todos os momentos, enquanto Franco (2017) a
descreve como sendo um sistema interconectado de objetivo específico, no qual o ciclo de
materiais ocorre de maneira fechada, a fim de promover a sustentabilidade.
Para Kirchherr et al. (2017), a economia circular vem como um sistema econômico
que substituiu o atual modelo baseado no fim de vida por ciclos fechados nos processos de
produção, distribuição e consumo, a partir da redução, reutilização, reciclagem ou
recuperação de materiais, nos níveis micro (produtos, serviços e consumidores), meso
(parques industriais) e macro (cidade, região, países e blocos econômicos)
Uma das críticas aos atuais métodos de economia circular é discutida por Lieder e
Rashid (2016), os quais argumentam que a maioria das análises e discussões sobre o
modelo negligencia os aspectos econômicos e operacionais pertinentes às micro e pequenas
empresas.
Embora algumas das estratégias à implementação da economia circular envolvam
aspectos de design, produção mais limpa, cooperação com clientes e gestão de resíduos,
poucos estudos têm dado atenção ao modo de implementação dessas estratégias em um
nível micro e em que medida elas necessitam ou afetam a propulsão da economia circular
no nível macro (GHISELLINI et al, 2016; FRANCO, 2017).
Com base nas características das definições expostas, o presente trabalho irá
considerar a economia circular como um sistema econômico que atua em ciclos fechados
para redução, reutilização, reciclagem ou recuperação dos recursos em sua mais alta
utilidade e valor a partir de iniciativas nos níveis micro, meso e macro, a fim de promover o
desenvolvimento sustentável.
Conforme Kirchherr et al. (2017) e Ghisellini et al. (2016), a transição total para a
economia circular precisa ocorrer em três níveis que podem ser interpretados como três
níveis do sistema, sendo eles: nível micro (produtos, empresas, consumidores), nível meso
(parques industriais) e macro (cidade, região, nação e blocos econômicos).
A transição a economia circular deve priorizar, simultaneamente, a qualidade
ambiental, prosperidade econômica e equidade social, para o benefício das gerações atuais
e futuras. O Quadro 8 apresenta breve descrição de cada um dos níveis divididos por focos
de estudo, conforme o trabalho de Ghisellini et al. (2016).
Uma outra crítica aos estudos da economia circular está no grau de análise e
discussões. Em sua revisão de literatura, Lieder e Rashid (2016) criticaram que as análises
62
4
Prática de reciclagem/reúso que envolve a desmontagem do item em seus componentes iniciais.
Quando os elementos constituintes ou materiais são recuperados, eles são reutilizados, se possível, mas como
um produto de menor valor.
5
Processo de transformação de itens descartados, não utilizados, materiais residuais ou indesejados
em novos materiais ou produtos de qualidade igual ou superior e geralmente possui um apreço ambiental.
64
6
Hennes & Mauritz AB (H&M) é uma empresa sueca multinacional de varejo de vestuário
conhecida pelo segmento fast fashion, com coleções para o público masculino, feminino e infantil.
69
Fonte: elaborado pelo autor (2019), com base em Bukhari et al. (2018) e Palm et al. (2014).
72
3.3.1.1 Descarte
3.3.1.2 Coleta
3.3.1.3 Separação
3.3.1.4 Reúso
Notas: o exemplo acima descreve o processo de upcycling de jeans podendo ser aplicado a outros têxteis
Fonte: elaborado pelo autor, com base em Han et al. (2016).
75
3.3.1.5 Reciclagem
VEHMAS et al., 2018; KIM, 2019), as ONGs (BRACE-GOVAN, BINAY, 2010; HU et al.,
2014) e a gestão pública (DOMINA; KOCHI, 1997; LARNEY, VAN AARDT, 2010;
BURTON, 2018).
Sendo assim, nessa dissertação, os principais stakeholders que serão analisados
serão: consumidores e usuários, ONGs, designers, gestão pública e empresas. A seguir
apresenta-se uma descrição desses agentes envolvidos nos processos de coleta, separação,
reúso e reciclagem de itens de vestuário no pós-consumo.
3.3.2.2 ONGs
3.3.2.3 Designers
consumo) como matéria-prima para novas concepções nas quais os têxteis são regenerados
dentro do processo produtivo (BINOTTO, PAYNE, 2017).
Conforme Yasin (2017), o alcance da redução de resíduos é possível através de
roupas que foram projetadas meio de recursos especializados e exclusivos (desenho,
modelagem e tecidos utilizados) e elevados padrões éticos garantidos desde o início. A
importância da customização e das adaptações dão margem e flexibilidade ao pequeno
produtor frente às grandes marcas, que podem considerar difícil de ajustar a partir de seus
modelos de negócios e hábitos estabelecidos (HAN et al., 2016).
Independente do uso de têxteis pré ou pós-consumo, existem limitações que o
designer deve considerar ao trabalhar com esses materiais, como o tipo da fibra, a
padronização (comprimentos e características distintas dos têxteis coletados), sendo que
para o sucesso no uso dos materiais, devem ser estabelecidas diferentes estratégias de
fabricação (KEITH, SILIES, 2015).
3.3.2.5 Empresas
Disponibilidade
de participação Considera e prioriza parcerias com grupos vulneráveis nas
de grupos regiões onde existem
Social vulneráveis
Segurança e Considera iniciativas que priorizem a integridade física e
saúde do mental do funcionário no desempenho de suas atividades na
trabalhador empresa
Fonte: elaborado pelo próprio autor com base na literatura, 2020
Nota: o Apêndice I apresenta qual (ais) autores citaram determinado critério no quadro acima.
Uma das principais características da produção têxtil é sua demanda por grandes
quantidades de energia e água (FRANCO, 2017). Numa concepção circular, isso infere em
potencial insuficiência do sistema em lidar com a dependência desses recursos e,
possivelmente, tornar a iniciativa não viável do ponto de vista ambiental (FISCHER,
PASCUCCI, 2017).
A literatura também discute sobre a suficiência dos recursos coletados, ou seja, para
que seja possível a adoção da iniciativa os recursos inseridos novamente na cadeia
produtiva são ou não suficientes para completar o processo. O estudo de Palm et al. (2014),
compreende que, embora possa ser difícil que os recursos coletados sejam suficientes para
adoção de determinada iniciativa, eles devem ser a principal matéria-prima da fabricação,
cabendo ao projetista o conhecimento para adequar apenas os insumos compulsoriamente
necessários para finalização do projeto.
Além disso, se objetiva que os recursos inseridos novamente mantenham-se
circulando dentro da cadeia produtiva. Desse modo, é importante que a geração de resíduos
durante a iniciativa seja minimizada a partir do planejamento e controle das atividades
desenvolvidas. Para Noman et al. (2013), a geração de resíduos está diretamente atrelada a
mão-de-obra envolvida no processo.
Sendo assim, o custo de mão-de-obra qualificada é algo a ser considerado tendo em
vista que as iniciativas ainda operam de maneira artesanal e a frequente mudança de
funcionários pode dificultar na adoção de uma rotina ineficiente (PALM et al., 2014;
NOMAN et al., 2013).
84
existem sérias limitações para garantir uma verdadeira melhoria contínua em iniciativas que
promovam a saúde e segurança do trabalhador. O estudo (2019) apresentou que métodos
que garantam a integralidade física e mental dos funcionários são afetados por
preocupações com custos de produção, pressão de compradores (principalmente entre
varejistas e fabricantes) e capacidade da fabrica (espaço da fabrica por número de
funcionários).
Por fim, cabe ressaltar que os critérios ambientais, econômicos e sociais
identificados foram selecionados de forma a serem genéricos o bastante para serem
analisados na perspectiva de qualquer iniciativa de gestão de resíduos têxteis. No entanto,
aspectos específicos podem ser acrescentados em análises mais aprofundadas, alinhadas à
cada situação específica.
perspectivas interorganizacionais ampliam o foco para uma perspectiva mais ampla que
abrange várias organizações.
Assim como a RBV, a PBV se concentra principalmente no nível intra-
organizacional. Contudo, a RBV explica a vantagem competitiva de uma empresa por
recursos específicos, enquanto a PBV explica o desempenho de uma empresa a partir de
práticas conhecidas e acessíveis que as empresas (possam) executar (BROMILEY, RAU,
2016).
Essencialmente, a prática é definida como sendo uma atividade ou um conjunto dela
que empresas podem executar e são imitáveis sendo passíveis de transferência para outras
organizações (BROMILEY e RAU, 2014). Para os autores (2014), é a partir da
variabilidade na aplicação dessas práticas que se pode adequar e aprimorar as atividades já
realizadas, para que de fato seja promovida uma mudança no atual modo de operação.
Dessa forma, uma análise fundamentada na PBV busca explicar como práticas
desenvolvidas numa firma podem ser aplicáveis em outras empresas ao longo de uma
cadeia de suprimentos para contribuir com melhorias de desempenho (CARTER et al.,
2017). Esse desempenho então é explicado por essas atividades conhecidas e acessíveis
(práticas) e tornam-se a variável dependente de estudos nessa corrente teórica
(BROMILEY, RAU, 2016).
Por ser um constructo multidimensional, o desempenho podem ser pensado de
diferentes maneiras, desde um constructo mais abrangente como desempenho operacional
ou organizacional da organização, até constructos menos agrupados resultados da adoção
por nível ou unidades de negócio (BRÖMER et al., 2019; BROMILEY, RAU, 2016).
Outro ponto importante é que não necessariamente a PBV substitui a RBV, mas a
complementa, tendo em vista que a prática abordada pela PBV trata do compartilhamento e
absorção de iniciativas similares enquanto na analise da RBV as ações ocorrem em um
ambiente isolado e fortemente inimitável (BROMILEY, RAU, 2016).
Em um artigo que amplifica a compreensão acerca da PBV, Jarzabkowski et al.
(2016) entende que se não for levado em consideração o contexto no qual as práticas estão
inseridas a análise pode possuir um viés tendencioso, ou seja, o desempenho final é restrito
puramente a análise das práticas, atribuindo apenas efeito dessas quando, na verdade,
podem ser atribuídos a outros fatores.
Para Carter et al (2017), é necessário estender ao nível interorganizacional de
análise, tanto em termos de práticas quanto de desempenho. No momento em que essa
87
dissertação traz a perspectiva dos agentes envolvidos nesse processo, preenche-se, ainda
que de maneira qualitativa, a abrangência da análise e retira o possível viés que atribui o
efeito do desempenho apenas às iniciativas.
Esse entendimento vai de encontro com Brömer et al. (2019). Segundo os autores
(2019), considerar unicamente uma empresa-focal, considerando-se que as interações entre
empresas na rede de fornecedores e os recursos transferidos entre um elo da cadeia para
outro interferem no desempenho analisado.
Além do que, Jarzabkowski et al. (2016) também indica a necessidade de investigar
as maneiras com que essas práticas são desenvolvidas. Essa outra lacuna também será
elucidada na etapa qualitativa com exemplos de aspectos práticos que possibilitaram
identificar os diferentes meios e instrumentos que potencializam a realização dessas
iniciativas de gestão de resíduos têxteis.
Com base nesta discussão teórica e levando-se em consideração a necessidade de
analisar as iniciativas de gestão de resíduos num contexto circular, conforme exposto por
Franco (2017), o PBV será o fundamento teórico dessa discussão. Esse modelo será
construído levando-se em consideração as bases da PBV com os dois pontos defendidos por
Carter et al. (2017) e Jarzabkowski et al. (2016) anteriormente.
A variável dependente será o desempenho da gestão de resíduos das empresas
entrevistas, resultante da adoção de determinadas iniciativas de coleta, separação e
reinserção de itens de vestuário no pós-consumo. As variáveis exploratórias serão as
iniciativas (práticas) sobre as quais os entrevistados possuem conhecimento e propriedade
de discussão.
A questão-chave será discutir o que pode explicar as diferenças de desempenho
entre as diferentes gestões de resíduos analisadas, considerando além das práticas os pré-
requisitos de recursos e atores que, conforme Jarzabkowski et al. (2016), possibilita inserir
fatores que excedem os limites da empresa.
88
O Apêndice H indica quais estudos citaram cada uma das iniciativas abordadas no
Quadro 16. Foi identificada uma maior diversidade de práticas na etapa de coleta (10).
Destaca-se também a agregação das iniciativas de coleta dos resíduos têxteis na discussão
dos estudos sobre as práticas de reúso e reciclagem.
Por exemplo, das 17 pesquisas que abordaram a iniciativa de brechó, todas
trataram de uma ou mais práticas para coletar os itens de vestuário com a finalidade de
reutilização. Conforme Burton (2018), as iniciativas podem coexistir dentro de um mesmo
modelo de negócio e, dessa forma, iniciativas de reinserção do tipo reúso podem fazer
utilização de iniciativas de coleta predominantemente utilizadas por empresas de
reciclagem e vice-versa.
Dos 64 estudos analisados, apenas 7 tiveram ênfase nas etapas de coleta, separação
e reinserção na cadeia produtiva, sendo 3 aplicadas como reúso (brechó e upcycling) e 4 em
reciclagem (ênfase em remanufatura). Além disso, houve também pouca discussão a
respeito das iniciativas de separação dos resíduos têxteis.
As pesquisas que abordaram diretamente a etapa de separação (7 estudos)
entendem que o processo de separação é realizado, na maioria dos casos, de maneira
empírica (PALM et al., 2014), e com alta necessidade de mão de obra qualificada para
manipulação dos itens coletados (BUKHARI et al., 2018).
Por fim, a recuperação térmica (processo de converter resíduos têxteis em energia)
pode ser considerada como uma alternativa também viável do ponto de vista econômico,
contudo, nesse estudo o escopo de sua atividade dar-se-á apenas nos casos em que os
resíduos têxteis não tiverem possibilidade de reúso ou reciclagem.
A seguir serão apresentadas iniciativas de coleta, separação e reinserção na cadeia
produtiva de resíduos têxteis pós-consumo identificadas na literatura. É importante apontar
que no modelo atual, a indústria de vestuário está em um estado de fluxo, já que a
qualidade está reduzindo e os volumes estão aumentando, criando desequilíbrio financeiro
(PALM et al., 2014).
Para Leal Filho et al. (2019), o sucesso na gestão de resíduos inicia-se com os
hábitos (e possível reeducação) no comportamento do consumidor. O correto descarte dos
itens de vestuário para doação ou revenda em lojas de segunda mão envolvem o
conhecimento e entendimento de reciclagem, reúso e sustentabilidade por parte do usuário
(HU et al., 2014).
91
4.1.1 Definição conceitual das iniciativas para gestão de resíduos têxteis no pós-
consumo da indústria de vestuário no contexto da Economia Circular
Os tópicos que tratam sobre economia circular especificamente foram baseados nos
estudos de Ellen MacArthur Foundation (2013), Ellen MacArthur Foundation (2017),
Kirchherr et al. (2017), Geissdoerfer et al. (2017) e Ghisellini et al (2016). Enquanto a
descrição das iniciativas de coleta, separação, reúso e reciclagem foram baseadas de Palm
et al. (2014), Han et al. (2017), Pal e Paras (2018) e Mejias et al. (2019).
O Quadro 21 apresenta a definição conceitual, conforme procedimentos
metodológicos indicados no tópico 2.2.1 do Capítulo 2.
102
Quadro 28 - Definição conceitual das iniciativas para resíduos têxteis no pós consumo da
indústria de vestuário, sob perspectiva circular
Características gerais
Modelo econômico Economia Circular
Manter os recursos têxteis em ciclos
fechados dentro dos processos de
Lógica das atividades
produção e consumo em seu mais alto
nível
Nível de ação Micro com influência no macro
Etapa do ciclo de vida Pós-consumo
Formas de capturar valor após o
Premissa das iniciativas
consumo dos itens de vestuário
Empresa, ONGs, designer,
Stakeholders envolvidos na etapa
consumidor e usuário e gestão pública
Descrição das iniciativas para gestão de resíduos têxteis na indústria de vestuário
Iniciativa Descrição da Iniciativa Recursos Responsáveis
Pontos de coleta para captação de
itens de vestuário (roupas, itens
de cama, mesa e banho), sapatos
e acessórios para serem
Pontos de coleta em Poder Público
encaminhados a centros de
áreas públicas, malha e/ou Empresa
Ecopontos separação e, dessa forma, serem
de transporte, centro Terceirizada,
vendidos em brechós, doados
de triagem MPEs,ONGs
para instituições de caridade,
encaminhados para remodelagem
ou reciclagem ou, em último
caso, enviado para incineração
Atividade de garimpo e coleta
Pontos de coleta,
com cliente para revenda ou
espaço para
empréstimo de itens de vestuário
armazenamento,
Brechó/Mercado com características diversas
transporte para MPE
de pulgas (brechós de luxo ou brechós
coletar, transporte
tradicional) com fins lucrativos
para envio do
ou filantrópicos, a partir de loja
produto
própria ou plataforma online
Continua
103
Quadro 21 - Definição conceitual das iniciativas para resíduos têxteis no pós consumo da
indústria de vestuário, sob perspectiva circular – Continuação
Quadro 21 - Definição conceitual das iniciativas para resíduos têxteis no pós consumo da
indústria de vestuário, sob perspectiva circular – Conclusão
Restauração e remanufatura + + ++ - -
Reciclagem - Técnicas
- - ++ --- ---
Especiais
Nota: Consumo de energia elétrica (CA1); Consumo de agua (CA2); Suficiência dos recursos coletados
(CA3); Geração de resíduos finais (CA4); Rastreabilidade final do item (CA5)
106
Separação Semi-
-- -- ++ --- + +++ ---
automática
Reciclagem - Tecnicas
+ + +++ -- +++ + +++
Especiais
Notas: Custo de mão-de-obra qualificada (CE1); Flexibilidade na aplicação dos recursos financeiros,
materiais e humanos (CE2); Tecnologia envolvida (CE3); Custo de transporte (CE4); Auto-sustentabilidade
da organização (CE5); Capacidade de tratamento dos resíduos têxteis (CE6); Maturidade do negócio (CE7).
estarem num estágio reativo, as iniciativas mais atendem à demanda externa latente (seja
por pressões do consumidor ou gestão pública) do que necessariamente aprimorando suas
atividades num ambiente mais controlado.
Esse processo acaba tornando os ajustes também reativos, ou seja, é preciso que
uma ação extrema ocorra para que as devidas precauções sejam tomadas. Essa questão foi
bastante visualizada em processo macros, como sistemas de EPR ou gestão de resíduos
têxteis municipais que englobam um maior número de funcionários. Os estudos nessa área
surgem com maior intensidade no período entre 2018 e 2019 (4 artigos identificados),
demonstrando ser uma preocupação emergente.
A disponibilidade de participação de grupos vulneráveis também depende do escopo
do negócio. Isso porque existem iniciativas que demandam uma especialização mais técnica
(iniciativas de reciclagem). Usualmente, a participação de grupos de vulneráveis ocorre
mais na etapa de coleta, que permite inserir até mesmo associações de coletores individuais,
dotados de conhecimento necessário para realizar uma melhor triagem.
O Quadro 24 apresenta a análise social das iniciativas identificadas na literatura, no
contexto da Economia Circular. A classificação é subjetiva e definida de "---" para muito
desvantajoso à "+++" que indica muito benéfico em comparação com outras iniciativas.
Também foi levada em consideração uma classificação neutra, todavia, na análise social
nenhuma prática foi neutra em comparação as demais.
Separação Semi-automática + + +
Separação Automática + + +
Os resultados apresentados nos sub tópicos desta sessão estão agrupados em pré-
requisitos, iniciativas e implicações de desempenho da gestão de resíduos têxteis em
relação à critérios econômicos, ambientais e sociais, conforme indicado na Figura 12.
4.2.1 Descrição dos aspectos circulares na gestão dos resíduos têxteis na operação
Tempo de
Entrevistado Breve descrição do negócio Tipo de negócio
Atuação
Coleta de itens de vestuário por meio
Entrevistado 10 de doações e garimpo para revenda 7 anos Microempreendedor
do item de vestuário
Coleta de itens de vestuário
excedentes em ecopontos para
Entrevistado 11 reutilização do têxtil, em especial 10 anos Projeto
jeans, para confecção de itens
diversos por métodos upcycling
Essa percepção de que existe uma falta de responsabilização por parte dos
fabricantes em educarem o consumidor e receberem esses produtos novamente também é
citada por outro experts que contribui com a seguinte afirmação:
Quando analisada num contexto de micro e pequenas empresas, alguns experts (3)
citaram que a reinserção de itens de vestuário pode ser vista tanto sob a ótica de brechós,
que coleta e revendem esses itens, quanto das empresas que reusam esse resíduo têxtil para
um novo produto. Isso vai ao encontro com as atuais técnicas de upcycling e downcycling
que visam o lixo zero discutidas na literatura. No relato a seguir, o entrevistado sintetiza
essa ponderação:
“[...] eu acredito que tenham duas formas que a economia circular no vestuário
consegue ter bastante espaço, que é no mercado de segunda mão, em que a gente
116
pega uma peça de roupa, a gente garimpa [...] sendo vendidas a um preço bem
baixo (sic), ou porque estavam empoeiradas, ou faltando botão, ou rasgadas, ou
de qualquer forma são peças que as pessoas deixaram de enxergar valor nelas.
Então são essas peças que a gente pega [...] A outra forma que a gente consegue
fazer isso, que a gente ainda não faz no (cita o nome da empresa), mas que existe
já, alguns brechós fazem esse trabalho, que é o trabalho de upcycling (sic), que é
pegar uma de roupa e reconstruir essa peça, então eu posso pegar uma amostra de
tecido de sofá e costurar ela de alguma forma que vire uma bolsa, e entra essas e
outras possibilidades que o upcycling possibilita” (Entrevistado 10)
4.2.2 Descrição das atuais iniciativas utilizadas pelos experts nas etapas de coleta,
separação e reinserção dos itens de vestuário
Atividade de
revenda de
Coleta pequeno volume
itens de
de itens de vestuário em Separação manual dos itens para
Entrevistado vestuário em
bom estado através de doação ou reutilização, lavagem
06 bom estado, a
garimpo em brechós com produtos de limpeza padrão
partir de
próprios
plataforma
online
Atividade de
revenda de
Coleta pequeno volume itens de
de itens de vestuário em Separação manual dos itens para vestuário em
Entrevistado
bom estado através de doação ou reutilização, lavagem bom estado, a
07
garimpo em brechós com produtos de limpeza padrão partir de
próprios ou ONGs plataforma
online e loja
física
Atividade que
transforma
Posto de coleta para
Separação manual dos itens para calças jeans
Entrevistado disposição de médio
doação ou reutilização, lavagem excedentes
08 volume de itens de
com produtos de limpeza padrão dos pontos de
vestuário em bom estado
coleta em
acessórios
Atividade de
revenda de
Coleta pequeno volume itens de
Separação manual dos itens para
Entrevistado de itens de vestuário em vestuário em
doação ou reutilização, lavagem
09 bom estado através de bom estado, a
com produtos de limpeza padrões
garimpo em ONGs partir de
plataforma
online
Continua
119
Atividade de
revenda de
itens de
Coleta pequeno volume
Separação manual dos itens para vestuário em
Entrevistado de itens de vestuário em
doação ou reutilização, lavagem bom estado, a
10 bom estado através de
com produtos de limpeza padrão partir de
garimpo em ONGs
plataforma
online e loja
física
Atividade que
Coleta pequeno volume transforma
de itens de vestuário Separação manual dos itens para calças jeans
Entrevistado
para reutilização através doação ou reutilização, lavagem excedentes
11
de garimpo em brechós e com produtos de limpeza padrão dos pontos de
feiras coleta em
acessórios
“a gente não tem parceiros que fossem utilizar esse material, e atualmente (sic)
não tem um volume de materiais suficientes pra fazer isso valer a pena [...] nós
preferimos simplesmente comprar retalho, se (sic) precisar de algo novo
procuramos uma empresa responsável” (Entrevistado 07)
analisar se aquele item de vestuário poderá ser reutilizado ou não. Inclusive, a separação em
alguns casos (3) ocorre no próprio garimpo (etapa de coleta).
No relato seguinte, por exemplo, percebeu-se que a separação manual é utilizada
pois possui o intuito de justamente coletar e reutilizar os itens que de fato os clientes da
marca se identificam. A necessidade aqui é evitar os custos decorrentes de uma matéria-
prima que não será de fato utilizada, ainda que os entrevistados entendam que seja
necessário sua reinserção.
“é um processo bem manual e intuitivo inclusive, de também até hoje a gente ter
visto que também esta dentro do nosso público alvo, o que as nossas clientes vão
gostar, vão se interessar, e o que a gente acredita que consegue reformar, muitas
vezes pra aumentar esse valor dessa peça e a vida útil da peça, como tinha
comentado (Entrevistado 06)”
“nós escolhemos o jeans, pois uma vez ao conversar com (parceira do projeto)
num encontro de fashion revolution, a gente conversou e o jeans é um material
assim de boa aceitação, muito resistente e que em geral ele tem o primeiro pós-
consumo, que é esse quando minha calça jeans puiu quando aconteceu algo com
ela que eu não sei como reparar mas ele pode se transformar em outra coisa como
essas peças [...] e escolhemos os jeans por eles serem tão resistentes.”
(Entrevistado 11)
Isso se conecta com o exposto por outro expert da indústria, o qual trouxe a
perspectiva da tecnologia para o contexto dos materiais integrantes do item de vestuário.
Isto é, esse entrevistado compreendeu os recursos como sendo os resíduos têxteis
reutilizados e a forma como a criação de um novo produto gera preocupações quanto a sua
destinação final.
“Então, uma das perguntas que a gente tem feito em relação aos recursos é o mix
de materiais, eu desenhei algumas necessaires (com o ziper) porque eu acho que
facilita no dia-a-dia, mas quando a gente mistura um jeans com mais um forro
com mais um ziper então eu acho que a gente tem um problema futuro nele, a
gente tem uma etiqueta em cada peça indicando que quando a pessoa não quiser
mais aquela peça ela pode retornar pra gente porque dai a gente pode dar o
descarte correto pra ele, então a gente tem pensado em cada recurso, etapa, novo
ou não a gente tem pensado com bastante carinho.” (Entrevistado 11).
Com relação a mão-de-obra, todos citaram de maneira direta ou indireta, que uma
alta especialização é essencial para o sucesso das iniciativas de reinserção dos itens de
vestuário na cadeia produtiva. Ainda nesta questão, observa-se até mesmo uma forte
relação entre as tecnologias vigentes para reciclagem com a necessidade de uma mão de
obra qualificada.
“eu não diria que é o mais importante (critério para separar manualmente), mas é
hoje o que toca a (nome da empresa), ainda que as maquinas façam basicamente
todo o processo, a alimentação delas depende muito dessas pessoas que precisam
ser qualificadas em saber separar, saber mexer no maquinário, tem que ser multi
função pra trabalhar nisso.” (Entrevistado 02)
“[...] transporte com certeza, porque muitas vezes eu tenho que ir até o cliente,
porque as vezes são sacolas pesadas e tudo mais, e as vezes só de ônibus eu não
consigo, tendo em vista que nem todas as linhas aqui em Florianópolis ligam uma
coisa a outra.” (Entrevistado 01)
“Então quando a gente chega nesses armários, a gente recolhe o que tem ali, a
gente também tira muita coisa, leva pra outros armários ou encaminha direto pra
pessoas que a gente sabe que vão reutilizar essas coisas, ou ONGs, enfim, então a
gente faz essa logística sim, mas a gente não faz tipo ‘ah, tem um dia da semana’,
é quando eu estou indo pra lagoa, quando eu já estou movendo o meu carro
praquele lado, eu passo no armário e faço, então esse também é um jeito
sustentável da gente fazer essa logística, senão não há dinheiro que abasteça carro
e gasolina e que mantenha tudo isso pra ir atrás só pra arrumar a bagunça dos
outros, então é assim que a gente faz a logística [...]” (Entrevistado 08)
“Sim, a prefeitura, mas através da prefeitura a gente tem (cita nome de uma das
Secretarias Administrativas da Prefeitura de Florianópolis) que é da geração de
empregos, que está tudo um pouco parado mas eles continuam (sic) e tem as
universidades. Por exemplo, ali a gente tem um apoio [...] até nós repaginamos
todo o (cita o nome da empresa), porque nós somos incubados pela (cita nome de
uma universidade privada na Grande Florianópolis) [...] então em 2018 a gente
teve uma incubação deles, que foi muito bom, com reuniões, muito focado nessa
coisa do reúso e nas feiras, a gente até ganhou móveis, mudamos todo o ambiente
[...]” (Entrevistado 04)
apenas um melhor desempenho econômico (devido aos preços mais acessíveis), como
também um melhor desempenho ambiental tendo em vista que tais ONGs são beneficiadas
por grandes varejistas de fast fashion com peças reprovadas no teste de qualidade ou itens
de fim de coleção e, caso não fossem revendidas, seriam simplesmente incineradas.
“[...] para elas (ONGs) o que é mais importante é ter dinheiro em caixa logo,
porque até o próprio trabalho que elas tem dentro do brechó de vender, entregar
pra cliente (sic) elas conseguem focar em outras coisas que são importantes pra
instituição [...] (sic) as vezes quem esta consumindo de brechó inclusive, e talvez
principalmente porque quer consumir de uma moda que venha da economia
circular, as vezes vê ali que a gente esta vendendo peça nova e pode ficar
contraditório, então até pra levantar isso pras nossas clientes é uma coisa
importante, porque acaba fazendo sentido pra gente né? Apesar de estar vendendo
essas peças novas, elas vieram de uma fonte de descarte de uma empresa de fast
fashion e (sic) ainda consegue beneficiar todo mundo que esta dentro desse ciclo,
que é uma das premissas da (cita o nome da empresa) desde o início, que é que
todos os envolvidos, que estejam nesse ciclo possam ser beneficiados, então tanto
a empresa que esta ali [...] doando peças de descarte, quanto a instituição que
consegue ter esse dinheiro em caixa, a gente que consegue vender pras nossas
clientes, e as nossas clientes que ficam felizes e assim por diante” (Entrevistado
10)
Esse trecho contribui para a perspectiva de que tais iniciativas não necessariamente
são espaçadas dentro do modelo de negócio e que seu impacto pode estar atrelado tanto ao
desempenho econômico quanto ao desempenho social, pensando na perspectiva de quais
fornecedores escolhe-se para coletar os resíduos têxteis. Por fim, todos os atores e recursos
indicados por cada entrevistado foram compilados no Quadro 29.
MPEs e usuário
Entrevistado 03 Malha de transporte e mão-de-obra qualificada
final
MPEs e usuário
Entrevistado 04 Malha de transporte e mão-de-obra qualificada
final
Continuação
125
Sendo assim, observa-se que a percepção dos entrevistados para com os recursos
utilizados variam de acordo com o modelo de negócio da organização, mais do que
necessariamente as etapas de coleta, separação e reinserção dos itens de vestuário à cadeia
produtiva. Como pontuado anteriormente, existe muitas vezes conflitos para escolher a
iniciativa ideal para a gestão de resíduos têxteis nas empresas analisadas.
Isto é, buscar alinhar as iniciativas de gestão de resíduos para coletar os itens de
vestuário que atendam as expectativas do cliente, com aspectos sociais ou ambientais.
Outra ação de integração também acontece é quando pensado o transporte entre etapas da
gestão de resíduos, uma vez que também interfere nos custos do negócio e nos valores
sustentáveis defendidos pela organização.
Dessa forma, as iniciativas eram definidas por esses experts da indústria
fortemente desempenhadas por uma mão de obra qualificada a partir da escolha de pontos
de coleta, considerando a distância e tipo de material, com participação de outros MPEs e
ONGs em determinadas etapas, em especial, na coleta.
A sessão a seguir analisa as iniciativas de gestão de resíduos têxteis no pós-
consumo da indústria de vestuário dos pontos de vista a partir de critérios econômicos,
ambientais e sociais.
126
Critérios Econômicos S S S S S S S S S S S 60 11
Critérios Ambientais S P S P P S S S P S S 11 11
Critérios Sociais S P P S X S S S S S P 7 10
Legenda: S: A categoria analítica atinge fortemente a empresa. N: A categoria analítica não atinge a empresa.
P: A categoria analítica atinge parcialmente a empresa de forma limitada. X: O entrevistado não forneceu
informações claras sobre essa categoria analítica.
“[...] Acredito que sim, mas não do modo como hoje a gente se posiciona,
naquela época tudo era muito novo e na verdade os (cita nome dos fundadores da
empresa) estavam saindo da faculdade e viram nesse resíduo apenas uma forma
de gerar dinheiro, ate porque na região (sic) do vale (referindo-se a região do vale
do Itajaí) esse setor ainda era pequeno mas a demanda era alta.” (Entrevistado 02)
“Eu vou fazer uma coisa que é de outra coisa usada (sic) não faz sentido, as
pessoas não vão gostar disso (sic) porque eu tinha que pensar no cliente também,
em como atingir o cliente, porque (sic) também tem que pensar nessa parte de
vender, no dinheiro em si. Eu pensava ‘mas será (sic)?’ reciclagem me lembra
aquelas coisas de vó, sabe? Até a gente mesmo tirar esse pensamento. É você
pensa: ‘ah, vou reciclar aqueles tapetinhos, ou aquelas bolsas assim cheias de
flores, com vários tecidos diferentes’ e (sic) até a gente entender que pode
realmente fazer algo realmente que dure e que esteja consumindo nessa época,
pra pessoas dessa época, porque a moda infelizmente é a moda, ela vem e ela vai,
e não tem muito o que fazer, ou tu vai junto ou tu apanha muito por ir contra [...]”
(Entrevistado 01).
130
Esse desempenho em curto prazo tem relação direta com a forma como esse item
de vestuário será coletado, separado e reinserido na cadeia produtiva da maneira mais
rápida possível. Para os entrevistados o importante é que, nesse momento, o ciclo seja
fechado sem grandes interrupções entre uma etapa e outra. Inclusive, não foi notada relação
entre influência do consumidor com o tempo de funcionamento do negócio.
Desse modo, pensando apenas nas entrevistas realizadas, infere-se que o modelo
linear de consumo pressiona e influencia diretamente as decisões dos experts da indústria
por critérios econômicos em detrimento dos demais.
Em essência, para o bom desempenho da gestão de resíduos têxteis critérios
econômicos tornam-se mais relevantes, entretanto, quando o modelo de negócio possui
princípios ambientais dentro de seus valores, estes também são considerados ainda que
afete seu desempenho final.
A citação abaixo ilustra a afirmação anterior:
“[...] tanto custo quanto princípios dentro do (cita o nome da empresa). Quando a
gente percebeu que a gente conseguia fazer algo que seria muito bom pra gente e
que a gente ainda ia conseguir beneficiar quem estava vendendo, fez muito bem
pra gente, e eu acredito que (sic) aí, eu vou até um pouco longe, (sic)? Eu vou
falar aqui, não queria sair do gancho mas vou aproveitar aqui o que eu pensei. É
que até uma coisa que a gente sente também é que as próprias clientes sentem
quando compram da gente, que é a sensação de estar comprando, mas sabendo
que estão fazendo bem pra um movimento, sabe? [...]” (Entrevistado 10).
E1 E2 E3 E4 E5 E6 E7 E8 E9 E10 E11
Consumidor Consumidor mais
mais consciente consciente e
e engajado em engajado em
Coleta
iniciativas iniciativas
sustentáveis de sustentáveis de
descarte descarte
Aumento no
Crescimento de novas
consumo de Aumento no
empresas e
itens de Aumento no consumo de itens
cooperativas para
Consumidor vestuário de consumo de itens de vestuário de
Crescimento Aumento no parcerias, aumento no
mais consciente segunda-mão, de vestuário de segunda-mão, Crescimento de
da demanda consumo de consumo de itens de
e engajado em Consumidor segunda-mão, Consumidor mais novas empresas e
Reinserção por têxteis itens de vestuário de segunda-
iniciativas mais Crescimento de consciente e cooperativas para
para outras vestuário de mão, Consumidor
sustentáveis de consciente e novas empresas e engajado em parcerias
indústrias segunda-mão mais consciente e
descarte engajado em cooperativas para iniciativas
engajado em
iniciativas parcerias sustentáveis de
iniciativas sustentáveis
sustentáveis de descarte
de descarte
descarte
134
“Na verdade a maior dor hoje dos (cita o nome dos pontos de coleta) é a
financeira, porque a gente precisa de dinheiro pra fazer a logística, e
principalmente pagar a dupla que trabalha com isso. A parte ambiental, a parte
social, a parte estrutural (sic) na verdade funciona como um todo, a gente ainda
esta “capenga” porque não consegue se sustentar financeiramente no sentido de
(sic) a gente não consegue crescer. Hoje o retorno que o (cita o nome dos pontos
de coleta) dá, a gente consegue fazer o que a gente esta fazendo, mas a gente não
consegue crescer, é bem triste [...]” (Entrevistado 08)
vestuário na cadeia produtiva, embora também sejam visualizadas barreiras nas etapas de
coleta e separação.
“Na verdade as pessoas que eu converso são as que tomam decisões e enfim, pra
eles tanto faz, pagar pra enterrar, que já esta nesse fluxo mesmo do que
encaminhar. Inclusive nós (refere-se a grupos ambientais) somos um empecilho
(sic) porque a gente não quer que eles enterrem, a gente esta falando sobre isso,
[...] e por mais que são pessoas que querem um mundo melhor (sic) a maioria dos
acionistas são internacionais e são business mesmo (sic) [...] Nós somos um
incomodo que eles tratam bem porque mais vale ter a gente como “amiguinho”
[...] nós que eu digo (sic) todos os ambientalistas e todas as pessoas que fazem
esse movimento de realmente utilizar. Eu acredito que a gente esteja perto dessa
virada de chave, que eles realmente mudem e encaminhem isso pras pessoas.
Aqui no centro de distribuição eles doam, doam no sentido de doação mesmo [...]
então é esses brechós de igreja (sic) que vendem as roupas, as vezes até com as
etiquetas. E daí entra nós como não sendo doação, porque a gente não quer essas
roupas pra vender como estão, a gente quer transformar em outras coisas, então é
isso assim, a gente ainda ‘esta estudando esse jogo’ (sic) é tudo muito novo, mas
eu acho que vai dar certo.” (Entrevistado 08).
136
“A questão das ONGs é uma coisa que a gente vem acompanhando há anos,
quem gosta de brechó sabe que atualmente as ONGs elas são grandes centros de
depósitos de roupas descartadas, que não são corretamente descartadas, que não é
uma boa vontade das pessoas, é realmente não saber o que fazer com a roupa [...]
mas a gente sabe que é uma responsabilidade da indústria ter tanto excesso de
tecido pra descartar, e a gente vê, uma das coisas que a gente percebe quando
começa a garimpar em brechó são as falhas da indústria (sic), aqui na região a
gente tem o depósito da (cita o nome de grande varejista), então a gente vê
muitos produtos da (cita o nome de grande varejista) com pequenos defeitos que
eles distribuem nas ONGs, e a maioria desses defeitos a maioria das vezes é
causado pela própria (cita o nome de grande varejista) pra ocultar a marca deles
(sic) e eles vão distribuindo pelas ONGs, que nem falo, virou um grande depósito
de roupa descartável, que é um absurdo (sic), porque a ONG só aceita porque ela
precisa gerar renda pra ela, então é muito complicado essa situação”
(Entrevistado 07)
Outro expert também observou que não apenas o acesso é importante mas o que
fazer com o material coletado. Para esse entrevistado, a latência atual da gestão de resíduos
têxteis na indústria de vestuário é encontrar nesses resíduos uma utilização total do recurso,
sem que haja algum tipo de resíduo final gerado.
“[...] eu não costumo jogar nada fora, a calça (jeans) é reutilizada 100%, o que
sobra de retalhos pequenos eu vou juntando até que se formem retalhos grandes
pra fazer uma nova mochila ou um novo material. Eu geralmente faço
carteirinhas pra dar de brinde, ou algum chaveiro, tudo isso reutilizando esse
mesmo jeans, pra que nada vá pro lixo. E os pequenos resíduos, os menores, que
não tem como juntar, que não vale muito a pena, eu guardo [...] mas esse resíduos
pequenos, já entra outro projeto que eu estou tentando fazer. Eu estou guardando
eles porque eles servem de enchimento, esses menorzinhos. E com esses
enchimentos eu estou pensando em fazer caminhas pra cachorro” (Entrevistado
01)
iniciativas possíveis. Destaca-se que esse impacto indireto nas tomadas de decisão é
visualizado pelos entrevistados na tentativa de equilibrar os valores da marca (usualmente
com princípios ambientais) com os critérios econômicos.
Em síntese, para os experts da indústria entrevistados, ainda que a preocupação
esteja no meio (critérios econômicos), o peso dos valores da marca precisam ser somados e
visualizados na ação final dessa iniciativa, do contrário perde-se a razão em sua utilização.
Por fim, o capítulo seguinte apresenta a discussão dos resultados obtidos neste capítulo com
a revisão da literatura abordada no Capítulo 3.
138
5 DISCUSSÃO
Figura 13- Modelo esquemático final da PBV baseado nos resultados do Capítulo 4
Fonte: próprio autor, com base em Carter et al. (2017); Jarzabkowski et al. (2016) e Bromiley e Rau (2016)
foram citados para defender os valores do negócio ou na decisão por escolher determinada
iniciativa de coleta.
Ainda na pesquisa de campo, identificou-se a maior influência desempenhada pelos
critérios econômicos na decisão dos entrevistados. Tal constatação justifica-se pelo atual
modelo desempenhado por essas iniciativas, mais reagentes a pressões do ambiente
externo, ao invés de necessariamente enfatizar os reais princípios da economia circular
(FISCHER, PASCUCCI, 2017; BOCKEN et al, 2017).
Seguindo essa premissa, para outras empresas que atuem no mesmo cenário que as
empresas analisadas, o desempenho precisara levar em consideração critérios econômicos
essencialmente ligados ao custo de transporte, a flexibilidade nos processos, a qualidade
dos resíduos coletados e a aceitação e participação do consumidor.
Para Pal e Gander (2018) essa preocupação quanto aos critérios econômicos deve-
se, em parte, devido aos modelos de negócio circulares estarem inseridos num fluxo linear
de produção. Conforme Bocken et al. (2017), o processo de experimentação por
circularidade é importante para deteção do que precisa ser aprimorado nas atuais
iniciativas.
Além disso, também destaca-se o alto grau de flexibilidade para aderirem a
possíveis mudanças. Isso porque a maior parte dos entrevistados (8) atuam em empresas
que possuem tempo de funcionamento médio de 2 anos. Para Hu et al. (2014), empresas
que ainda estão iniciando suas atividades ou ainda possuem suas atividades de maneira
menos estruturada são mais impactadas por mudanças externas ou internas.
Essas considerações auxiliaram a compreender a atual variabilidade na aplicação
dessas iniciativas e endereçar quais barreiras e facilitadores para que ocorresse uma
unificação e melhoria no desempenho da gestão de resíduos têxteis que empresas que as
executam. Para Todeschini et al. (2017), apenas mapeando essas barreiras e facilitadores
torna-se possível alcançar iniciativas inerentes aos aspectos circulares.
Como barreiras para o cenário ideal, foram identificados, principalmente, a falta de
incentivo financeiro, consumidor mais exigente e carência de parceiros para reinserção. Os
pontos de melhoria concentraram análise justamente na etapa de reinserção caracterizada,
conforme observa Burton (2018), como o momento de maior contato com o consumidor e
com as possibilidades de reúso do material coletado.
Os facilitadores também tiveram maior enfoque na etapa de reinserção, sugerindo o
aumento no consumo do varejo de segunda-mão e consumidor mais consciente e engajado
142
6 CONCLUSÃO
campo busca explicar como isto ocorre regionalmente junto a experts da indústria. Essa
análise limita-se, contudo, nas conclusões.
Sendo assim, as considerações acerca desse objetivo não podem ser associadas a
outras amostras, embora o estudo possa ser replicado e comparado com o resultado obtido
junto à esse grupo de experts da indústria.
Quanto a compreensão do termo economia circular e sua aplicação na indústria de
vestuário do Brasil, os resultados demonstraram que os entrevistados entendem a
circularidade como um modelo de itens de vestuário num ciclo fechado, pensando em sua
máxima reutilização e baixo índice de descarte final para conservação dos recursos naturais
e que sua aplicação no Brasil é feita de maneira dispersa.
As iniciativas circulares mais utilizadas são os ecopontos e mercado de pulgas na
etapa de coleta, a manipulação manual na etapa de separação e na reinserção geralmente é
realizada a reciclagem mecânica dos têxteis coletados ou sua reutilização por meio de
brechós ou restauração (upcycling).
Posteriormente, foi identificado que os critérios prioritários quanto à decisão pela
utilização de determinada iniciativa são os econômicos, ainda que os valores da
organização possuam princípios ambientais inclusos. Nesse sentido, critérios ambientais
que afetam o desempenho do modelo de negócio são predominantemente puxados pelos
critérios econômicos definidos, sobretudo a geração de resíduos finais e a rastreabilidade
dos itens produzidos.
A análise das iniciativas também permitiu identificar uma forte pressão do ambiente
externo, principalmente por parte dos clientes, que demandam uma experiência
diferenciada mas exigem, ao mesmo tempo, uma alta qualidade em comparação aos itens
de vestuário adquiridos de modelos de negócios voltados à produção linear.
Ainda com relação às iniciativas, embora no contexto teórico os recursos
tecnológicos despontem como principal item para assertividade na aplicação das iniciativas,
na práxis, os recursos mais citados foram o transporte e a mão de obra qualificada. Segundo
os experts da indústria, mais do que conceber tecnologias para reúso e reciclagem, é preciso
pensar nos recursos que compõem o item de vestuário para seu posterior descarte, retorno e
desmontagem. Isso corrobora com os achados teóricos indicativos da complexidade dos
têxteis (composição) em criar novas tecnologias.
Essa característica inclusive foi uma das barreiras mais citadas durantes as
entrevistas. Em outras palavras, existe uma preocupação maior com a reinserção dos itens
146
de vestuário na cadeia produtiva, apesar de também serem visualizadas barreiras nas etapas
de coleta e separação. Já em relação aos facilitadores, foi citado principalmente o aumento
no consumo do varejo de segunda-mão e consumidor mais consciente e engajado em
iniciativas sustentáveis de descarte.
Essa questão conecta-se com o último ponto discutido com os entrevistados que
seria os benefícios de uma gestão integrada de resíduos entre os diferentes elos dessa cadeia
produtiva. Mesmo que haja ressalvas com grandes varejistas, todos entenderam a existência
de benefícios numa maior integração entre diferentes elos da cadeia produtiva.
Todavia, a análise das iniciativas ainda é feita pelos experts da indústria de maneira
micro, visando alinhar muito bem as expectativas dos clientes com os tipos de materiais
necessários para o processo produtivo. Logo, não apenas os valores da empresa sejam
atendidos (pensando em empresas que atuam com princípios ambientais) como também a
gestão de resíduos possibilite um desempenho economicamente vantajoso.
Sendo assim, no contexto da economia circular, as empresas consideram as
iniciativas de gestão de resíduos têxteis no pós-consumo pensando num contexto micro,
levando em consideração aspectos econômicos. Os critérios ambientais e sociais são,
usualmente, dependentes dos critérios econômicos definidos.
Portanto, o desempenho da empresa concilia as demandas do mercado (ambiente
externo) principalmente as exigências definidas pelos clientes e as expectativas com os
valores do negócio com os recursos e responsáveis pelas iniciativas.
Em termos de contribuições do trabalho, do ponto de vista teórico, foram
identificadas novas barreiras e facilitadores favoráveis a análise em outros contextos.
Enquanto, do ponto de vista prático, a abordagem realizada permitiu identificar quais os
recursos e agentes envolvidos que de fato participam diretamente nas iniciativas.
Entre as limitações do trabalho e recomendações de estudos futuros, primeiramente,
reitera-se o tipo de pesquisa que, por ser de cunho qualitativo, não permite sua
generalização. No que diz respeito à identificação das iniciativas, uma replicação do mesmo
estudo em outra região permitiria a análise de clusters e, dessa forma, comparar os achados
deste estudo com essas novas pesquisas.
Além disso, o mapeamento das barreiras e facilitadores carece de maior
aprofundamento. Isso decorre por conta da não triangulação das descobertas nessa
dissertação das barreiras de falta de incentivo financeiro na etapa da coleta e falta de
parceiros em reutilização e do facilitador rede de cooperação com ONGs e catadores
147
individuais envolvidos nas etapas de coleta. Para essa análise são necessárias mais
entrevistas.
Por fim, mensurar o impacto dos critérios identificados quantitativamente num
estudo de caso para avaliar se desempenho da gestão de resíduos é realmente afetada pelos
critérios entendidos como prioritários pelos tomadores de decisões, sendo também uma
oportunidade de trabalhos futuros.
148
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156
a) Métodos Aplicados
Dimensões dos temas Os estudos discutem quais dimensões: economia circular, desperdício têxtil ou resíduos
abordados têxteis no pós-consumo?
Destinação dos resíduos Os estudos abordam o reúso ou a reciclagem em seu contexto de reinserção do resíduo
têxteis no pós-consumo na cadeia produtiva
b) Análise Bibliométrica
Qtde. publicações %
publicações nos periódicos em geral. Os principais periódicos que publicaram sobre resíduos
têxteis foram o International Journal of Consumer Studies e Sustainability, com cinco
publicações cada e Journal of Cleaner Production com 4 artigos publicados.
Quanto à extensão dos estudos, as publicações têm se concentrado mais em aplicações
regionais (35 publicações), sendo que 23 publicações nesse contexto ocorreram nos últimos
cinco anos. As pesquisas do tipo nacional (18 publicações) e internacional (11), estão mais
espaçadas entre as publicações. Dos 35 estudos regionais, 15 tiveram aplicações sobre
economia circular, sendo 11 delas nos últimos cinco anos.
Isso vai ao encontro ao que foi observado por Ellen MacArthur Foundation (2017) e
Franco (2017) ressaltam a importância de aplicações regionais para temas mais recentes para
posterior escalabilidade das metodologias em escopos mais abrangentes.
De modo geral, os estudos se concentram em uma abordagem qualitativa (30
publicações), em especial os relacionados à área de marketing (8 publicações) e aplicações na
indústria (19 publicações). Há 25 estudos com abordagem quantitativa e apenas 9 publicações
que realizam abordagem combinada.
A área de engenharia concentra mais publicações quantitativas e é a que maior
concentra publicações com abordagem mista (5 publicações), todas compreendidas no período
entre 2016-2018. Para Franco (2017), há carência de estudos que quantifiquem as aplicações
práticas do modelo circular na indústria de vestuário.
As Figuras 15 e 16 apresentam, respectivamente, o tipo de pesquisa e os principais
instrumentos de coleta de dados utilizados, conforme indicado nos trabalhos. Os valores
apontados nas colunas referem-se a quantidade de cada tipo de abordagem e instrumento de
coleta aplicados em cada pesquisa em relação ao total de trabalhos.
160
50% Survey
19
10 Experimento
40%
Estudo de caso
30% Estudo de campo
20% 2
10% 4 9
0%
1975-2008 2010-2015 2016-2019
Fonte: elaborado pelo autor com base na análise descritiva (2020).
A Figura 17, por sua vez, apresenta os principais objetos de estudo da pesquisa
(classificados em indústria e consumidor). Verifica-se alta concentração de pesquisas focadas
na indústria em todos os períodos (47 publicações). Destacam-se também poucas publicações
que correlacionam os aspectos de consumo e indústria 4 publicações). As publicações na área
da indústria concentram-se mais nos aspectos de marketing (29 publicações), do que quanto à
operacionalização das atividades na gestão de resíduos têxteis (18 artigos).
162
80%
70%
60% 12
30 Indústria/Consumidor
50% 5
Indústria
40% Consumidor
30%
20%
6
10% 7
0%
1975-2008 2010-2015 2016-2019
Fonte: elaborado pelo autor com base na análise descritiva (2020).
2
90%
80%
23 2
70%
60%
Sustentabilidade
50%
4 Marketing
11 Engenharia
40%
1
30%
20% 20
1
10%
0%
Consumidor Indústria Indústria/Consumidor
Fonte: elaborado pelo autor com base na análise descritiva (2020).
70%
Resíduos têxteis no pós-
60% consumo
50% Resíduos têxteis
40% 36
5 19 Economia Circular
30%
20%
10%
10
0% 2
1975-2008 2010-2015 2016-2019
Nota: as publicações podiam estar dentro de uma ou mais categorias
Fonte: elaborado pelo autor com base na análise descritiva (2020).
21%
43% Reciclagem
Reuso
Reuso/Reciclagem
36%
Fonte: elaborado pelo autor com base na utilização do software Vosviewer® (2020)
Nota: a escala temporal é definida pelo software.
Por meio da comparação entre as Figuras 20 e 21 pode-se constatar que existe uma
tendência a pesquisas que envolvam desperdício de itens de vestuário pós-consumo desde
2016, com atual crescimento nas atividades de upcycling, lixo zero e slow fashion (2018-
2019).
A partir das observações realizadas na análise bibliométrica, algumas constatações
podem ser feitas. Primeiramente, há um crescimento sobre o tema de resíduos têxteis
principalmente no período entre 2018-2019, em especial, com enfoque nos estudos que
englobam práticas sustentáveis, desperdício têxtil e atividades de upcycling.
Destaca-se também que as publicações concentram suas pesquisas em abordagem
qualitativa (30 publicações), de extensão regional (35 publicações), do tipo estudo de caso (31
166
O que é circularidade?
O que é ciclo fechado?
Quais são os níveis de ação?
Qual a viabilidade econômica da
economia circular?
Principais características da economia circular
Qual a viabilidade ambiental da
economia circular?
material regeneration
From singular to plural: exploring organisational Journal of Fashion Marketing and
2019 Pedersen et al.
complexities and circular business model design Management
Evaluating the Environmental Performance of a
Product/Service-System Business Model for Merino
2019 Bech Sustainability
Wool Next-to-Skin Garments: The Case of
Armadillo Merino®
Fonte: Elaborada pelo autor (2020).
176
Automático (Técnologia
1 Palm et al., 2014
NIR)
Palm et al., 2014; Bukhari et al., 2018; Leal
Filho et al., 2019; Patora-Wysocka, Sułkowski,
2019; Binotto, Payne, 2017; Sugiura, 2018; Bly
Varejo de segunda-mão:
14 et al., 2015; Hu et al., 2014; Beh et al., 2014;
Brechó
Dissanayakea, Sinha, 2015; Pal, Paras, 2017;
Frasser, 2011; Gopalakrishnan; Matthews,
2018; Han et al., 2017
Palm et al., 2014; Bukhari et al., 2018; Karl,
Larsson, 2018; Burton, 2018; Gopalakrishnan;
Varejo de segunda-mão:
10 Matthews, 2018; Jun, Jing, 2014; Patora-
Reúso Outlets
Wysocka, Sułkowski, 2019; Beh et al., 2016;
Bly et al., 2015; Leal Filho et al., 2019
Binotto, Payne, 2017; Keith, Sillies, 2015;
Bukhari et al., 2018; James et al., 2016;
Restauração: upcycling 8
Dissanayakea, Sinha, 2015; Leal Filho et al.,
2019; Bukhari et al., 2018; Han et al., 2017
Bukhari et al., 2018; Dissanayakea, Sinha, 2015;
Restauração: downcycling 3
Leal Filho et al., 2019
Varejo de segunda-mão: Palm et al., 2014; Gopalakrishnan, Matthews,
4
Mercado de pulgas 2018; Binotto, Payne, 2017; Bukhari et al., 2018
Noman et al., 2015; Palm et al., 2014; Domina,
Técnicas especiais 6 Koch, 1997; Larney, Van Aardt, 2010; Bukhari
et al., 2018; Lund, 1975
Palm et al., 2014; Pal, Paras, 2018; Beh et al.,
Mecânica: Remanufatura 4 2016; Hu et al., 2014; Fraser, 2011; Bukhari et
al., 2018
Mecânica: transformação Leal Filho et al., 2019; Palm et al., 2014; Larney,
Reciclagem 4
em fibras Van Aardt, 2010; Lund, 1975
Palm et al., 2014; Noman et al., 2015; Lund,
Técnicas mistas 3
1975
Leal Filho et al., 2019; Palm et al., 2014; Lund,
Química 3
1975
Mecânica: transformação Leal Filho et al., 2019; Palm et al., 2014; Lund,
3
em fios 1975
Fonte: Elaborada pelo autor (2019).
181
Autores
Aspecto Critérios Palm et Bukhari Larney, Akbar,
Hu et al. Franco Noman et
al. et al. Van Aardt Ahsan
(2014) (2017) al. (2013)
(2014) (2018) (2010) (2019)
Consumo de energia
X X X
elétrica (CA1)
Consumo de agua (CA2) X X X
Suficiência dos recursos
Ambiental X X X X
coletados (CA3)
Geração de resíduos
X X
finais (CA4)
Rastreabilidade final do
X X X X
item (CA5)
Custo de mão-de-obra
X X X
qualificada (CE1)
Flexibilidade na
aplicação dos recursos
X X X X
financeiros, materiais e
humanos (CE2)
Padronização nos
X X X
processos (CE3)
Maturidade do negócio
X X X X X X
Economico (CE4)
Tecnologia envolvida
X X X X
(CE5)
Custo de transporte
X X X X
(CE6)
Auto-sustentabilidade da
X X X
organização (CE7)
Capacidade de
tratamento dos resíduos X
têxteis (CE8)
Parceria com
cooperativas,
X X X X
Associações e
Consórcios (CS1)
Social Disponibilidade de
participação de grupos X X X X
vulneráveis (CS2)
Segurança e saúde do X
trabalhador
182
2. Você conhece o termo "economia circular"? O que você entende por esse termo e como
entende que ele se aplica à indústria de vestuário no Brasil?
Descrição das atuais iniciativas utilizadas pelos experts nas etapas de coleta, separação,
reúso/reciclagem
2. Pensando nos processos de coleta, separação, reúso/reciclagem da sua empresa, como você
descreveria o seu atual modelo de gestão de resíduos têxteis?
3. Quais atores envolvidos no processo de gestão de resíduos você considera possuir relação com
as etapas de coleta, separação, reúso e reciclagem? Qual o motivo de você escolher esses atores?
4. Você utiliza algum tipo de tecnologia que facilita a sua gestão de resíduos têxteis? Se sim,
quais?
5. Quais outros recursos você considera fundamentais para o seu atual modo de operação na
gestão desses resíduos têxteis, e qual é a priorização entre eles ?
6. Para você, quais os critérios mais importantes para serem levados em consideração ao realizar
a gestão de resíduos têxteis no pós-consumo e qual é a priorização entre eles?
7. Levando em consideração os critérios discutidos anteriormente, você acredita que o seu atual
processo de gestão de resíduos têxteis no pós-consumo é o processo ideal? Se não, descreva seu
cenário ideal de gestão de resíduos têxteis no pós-consumo.
8. Pensando no cenário ideal escolhido, quais critérios você pensa ter levado em maior
consideração para escolha das iniciativas de coleta, separação, reúso e/ou reciclagem?
9. Quais você considera serem as barreiras e facilitadores para alcançar o processo ideal?
10. Pensando em toda cadeia produtiva de vestuário, quais benefícios você considera que uma
gestão de resíduos têxteis integrada entre os diversos elos no pós-consumo (grandes, médias e
pequenas empresas) poderia gerar?
Questionamentos finais
Ficou mais algum ponto ou consideração que gostaria de ter falado e naõ se recorda?
184
_____________________________ ____________________________
Assinatura do responsável pela pesquisa Assinatura do participante
186
n.
Perguntas Códigos
questão
Inovações no modelo de negócio
Maturidade do profissional no setor têxtil
Valores do negócio
Qual é a sua experiência
Desperdicio
1 com a indústria têxtil e de
Margem de lucro
vestuário no Brasil?
Flexibilidade
Padronização
Consumo consciente
Produção consciente
Vida util
Recursos texteis
Meio ambiente
Impacto ambiental
Resíduos
ecodesign
O que isso significa para produção mais limpa
você "economia circular" responsabilidade
2 e como ela se aplica à sem desperdicio
indústria têxtil e de compartilhamento
vestuário no Brasil? prevenção de desperdício
lixo zero
aterro sanitário
Design
Concepção do produto
longevidade do produto
Valor recuperado
Doação
187
Coletar pessoalmente
Transporte para separar
Pontos de coleta
Brechó
Revender
Coleta de grandes marcas
Separar manualmente
Tecnologia para separar
Outlets
Restaurar
Pensando nos processos
Remanufaturar
de coleta, separação,
Recuperar
reúso/reciclagem da sua
Remodelar
3 empresa, como você
Reutilizar o têxtil
descreveria o seu atual
Reciclar o tecido
modelo de gestão de
Transformar em fibra Transformar em têxtil
resíduos têxteis?
corte
costura
pós-produção
pré-produção
indústria
parceria
doação
caridade
Projeto de criação
Varejo
Poder Público
Grandes Varejistas
Pequenas e médias Empresas
Quais atores envolvidos
Fabricantes
no processo de gestão de
Designer
resíduos você considera
Empresas de Reciclagem
possuir relação com as
ONGs
4 etapas de coleta,
Força de decisão
separação, reúso e
Influencia
reciclagem? Qual o
Valores Sociais
motivo de você escolher
Condições financeiras
esses atores?
Conveniência de descarte
Estratégia de fabricação
Pontos de coleta
Área publica
Setor privado
Quais otros recursos você Malha de transporte
considera fundamentais Centro de Separação
para o seu atual modo de Próprio estabelecimento
6
operação na gestão desses Próprio transporte
resíduos têxteis, e qual e á Própria separação
priorização entre eles ? Mão de obra-qualificada
Tecnologia para separar
Codificação
Facilitar separação
Questões financeiras
Questões ambientais
Causas sociais
Custos
Sustentabilidade
Custo de mão-de-obra
Flexibilidade nos processos
Para você, quais os
Padronização nos processos
critérios mais importantes
Maturidade do negócio
para serem levados em
Tecnologia envolvida
7 consideração ao realizar a
Custo de transporte
gestão de resíduos têxteis
Auto-sustentabilidade da organização
no pós-consumo e qual e á
Capacidade de tratamento dos resíduos têxteis
priorização entre eles?
Consumo de energia elétrica
Consumo de agua
Quantidade dos recursos coletados
Quantidade de resíduos finais
Retorno do produto
Parceria com cooperativas, associações e consórcios
Participação de grupos minoritários
Sem padrão Meio ambiente
Levando em consideração Destino Manipulação Circular
os critérios discutidos desconhecido Custo de mao de Limitação
anteriormente, você Falta de obra tecnologica
acredita que o seu atual incentivo público Busca por brechó Limitação
processo de gestão de Lucro reduzido Vintages financeira
8 resíduos têxteis no pós- Consumidor Tendencia do Baixa qualidade
consumo é o processo consciente mercado Crescimento de
ideal? Se não, descreva ONGs Manter qualidade mercado
seu cenário ideal de Grandes Falta de incentivo Engajamento do
gestão de resíduos têxteis Varejistas público setor
no pós-consumo Risco de Sustentabilidade Engajamento do
contaminiação consumidor
Coletar
pessoalmente
Outlets
Transporte para
Restaurar
separar
Remanufaturar
Pontos de coleta
Quais você considera Recuperar
Brechó Apoio público
serem as barreiras e Reutilizar o têxtil
9 Revender Parceria
facilitadores para alcançar Reciclar o tecido
Coleta de Grandes Marcas
o processo ideal? Transformar em
grandes marcas
fibra
Separar
Transformar em
manualmente
têxtil
Tecnologia para
separar
189
baixa prioridade
Pensando no cenário ideal
alta prioridade
escolhido, quais critérios
media prioridade
você pensa ter levado em
questões pressão social
maior consideração para
10 financeiras pressao
escolha das iniciativas de
questões governamental
ecodesign, coleta,
ambientais
separação, reúso e/ou
causas sociais
reciclagem?
alinhamento
Captura de valor
Ajudar pequenas Falta de incentivo
Como você considera que empresas Fast fashion
uma gestão de resíduos Parcerias Reciclagem restrita Proatividade da
têxteis no pós-consumo Grandes Marcas Baixo custo industria
11
poderia beneficiar toda a Poder público Competição Baixo incentivo
cadeia produtiva de Vida util pós-uso Revenda
vestuário? União do setor pós-consumo
Baixa moda
qualificacao
Fonte: Elaborada pelo autor (2020).
190