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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CENTRO TECNOLÓGICO - CTC


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE
PRODUÇÃO

PEDRO SEOLIN DOS SANTOS

ANÁLISE DE INICIATIVAS PARA GESTÃO DE RESÍDUOS


TÊXTEIS NO PÓS-CONSUMO DA INDÚSTRIA DE VESTUÁRIO NO
CONTEXTO DA ECONOMIA CIRCULAR

FLORIANÓPOLIS
2020
Pedro Seolin dos Santos

ANÁLISE DE INICIATIVAS PARA GESTÃO DE RESÍDUOS


TÊXTEIS NO PÓS-CONSUMO DA INDÚSTRIA DE VESTUÁRIO NO
CONTEXTO DA ECONOMIA CIRCULAR

Dissertação submetida ao Programa de Pós-


Graduação em Engenharia de Produção da
Universidade Federal de Santa Catarina para a
obtenção do título de Mestre em Engenharia de
Produção
Orientador: Profa. Dra. Lucila Maria de Souza
Campos
Co-orientador: Prof. Dr. Diego A. Vazquez-
Brust

Florianópolis
2020
Pedro Seolin dos Santos
ANÁLISE DE INICIATIVAS PARA GESTÃO DE RESÍDUOS TÊXTEIS
NO PÓS-CONSUMO DA INDÚSTRIA DE VESTUÁRIO NO CONTEXTO DA
ECONOMIA CIRCULAR

O presente trabalho em nível de mestrado foi avaliado e aprovado por banca


examinadora composta pelos seguintes membros:

Prof. Moacir Godinho Filho, Dr.


Universidade Federal de São Carlos - UFSCar

Profa. Mônica Maria Mendes Luna, Dra.


Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC

Prof. Paulo Augusto Cauchick Miguel


Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC

Certificamos que esta é a versão original e final do trabalho de conclusão que foi
julgado adequado para obtenção do título de mestre em Engenharia de Produção.

____________________________
Coordenação do Programa de Pós-Graduação

____________________________
Profa. Lucila Maria de Souza Campos
Orientadora

Florianópolis, 2020
RESUMO

Nas últimas décadas, a eficiência e gestão dos recursos naturais tornaram-se uma área de
grande interesse para fechar os ciclos dos materiais e contribuir para transição à economia
circular. Na indústria de vestuário, o modo de utilização dos recursos têm ocasionado
problemas em níveis cada vez maiores, em especial devido ao fast fashion. Uma das
maneiras de reverter essa situação é a reinserção dos itens de vestuário já utilizados à
cadeia produtiva. Desse modo, à luz da economia circular, a presente pesquisa tem como
objetivo principal analisar as iniciativas para gestão de resíduos têxteis no pós-consumo
envolvendo as etapas de coleta, separação e reinserção de itens de vestuário no pós-
consumo. A metodologia foi estruturada em três fases e seis etapas. Na primeira fase, foi
realizada análise da literatura existente e identificado que a gestão de resíduos no setor
têxtil já possui novas abordagens embora careça de mais estudos num contexto prático para
que esses novos modelos de negócios emergentes saiam de seus estágios iniciais de
desenvolvimento. Já na Fase 2, as iniciativas de gestão de resíduos têxteis no pós-consumo
foram mapeadas e conceituadas com base na literatura identificada e analisada na Fase 1.
Por fim, a Fase 3 envolveu uma entrevista em profundidade com 11 experts da indústria
têxtil que analisaram sua atual gestão de resíduos têxteis em pequenas e médias empresas
pensando em critérios econômicos, sociais e ambientais. Essa análise serviu de
embasamento para a discussão dos resultados utilizando a corrente teórica Practice-Based
View (PBV). Os resultados alcançados identificaram onze iniciativas de coleta, três de
separação, cinco de reúso e seis de reciclagem. Tais iniciativas ainda que promovam a
circularidade como uma nova solução para os problemas ambientais, é puxada
principalmente a jusante, promovendo abordagens de gerenciamento de resíduos de curto
prazo, enquanto os elos iniciais da cadeia produtiva continuam a extrair e utilizar
quantidade de recursos não renováveis de maneira excessiva. enquanto no contexto prático,
a partir das entrevistas com os experts da indústria, se notou que existe maior preocupação
com a reinserção dos itens de vestuário por meio de reúso, a partir de separação manual e
coleta através de garimpo e ecopontos. Os recursos considerados essenciais foram a malha
de transporte e a mão-de obra qualificada enquanto os principais agentes envolvidos na
gestão de resíduos foram as MPEs (fornecedores), consumidores e a própria empresa. A
discussão frente à PBV permitiu validar que no momento a Economia Circular nos modelos
de negócio analisados é aplicada parcialmente, justamente devido ao modelo ser aplicado
em uma cadeia predominantemente linear. Soma-se a isso o fato de que o desempenho da
gestão de resíduos usualmente é determinado pelos entrevistados por critérios econômicos,
em especial, a qualidade do têxtil coletado e os valores do negócio enquanto os critérios
ambientais e econômicos são puxados de acordo com as iniciativas escolhidas em cada
etapa da gestão de resíduos. Concluiu-se, por fim, que embora os modelos de negócio
possam ter emergido com princípios sustentáveis em sua fundação, a gestão de resíduos
têxteis também é fortemente afetada pelo ambiente externo, principalmente pelos
consumidores.

Palavras-chave: Economia Circular, Resíduo Têxteis, Pós-Consumo, PBV.


ABSTRACT

In the last decades, the efficiency and management of natural resources have become an
area of great interest to close the material cycles and contribute for a transition to the
circular economy. In the clothing industry, the way resources are used has caused problems
at increasing levels, especially due to fast fashion way of production. One of the ways to
reverse this situation is to reinsert clothing post-consumer items in the production chain.
Thus, under circular economy model, the present research pretend to analyze the initiatives
for textile waste management in post-consumption involving the stages of collection,
sorting, reuse and recycling of post-consumer clothing items. The methodology was
structured in three phases and six stages. In the first phase, an analysis of the existing
literature was carried out and it was identified that textile waste management already has
new approaches although it needs further studies in a practical way for these new emerging
business models to come out of their early stages. In Phase 2, the textile waste management
initiatives in post-consumption were mapped and conceptualized based on the literature
identified and analyzed in Phase 1. Finally, Phase 3 involved an in-depth interview with 11
textile industry experts who analyzed its current management of textile waste on small and
medium enterprises with economic, social and environmental criteria. This analysis served
as a basis for the discussion of the results using the theoretical Practice-Based View (PBV).
The results achieved identified eleven collection initiatives, three sorting initiatives, five
iniciatives for reuse and six iniciatives for recycling. Such practices, although promoting
circularity as a new solution to environmental problems, are mainly drawn downstream,
promoting short-term waste management approaches, while the initial links in the
production chain continue to extract and use a number of non-renewable resources from
excessive way. while in the practical context, from the interviews with industry experts, it
was noted that there is greater concern with the reinsertion of clothing items through reuse,
from manual separation and collection through mining and ecopoints. The resources
considered essential were the transport network and qualified labor, while the main agents
involved in waste management were micro and small companies (MSEs), consumers and
the company itself. The discussion with the PBV allowed us to validate that at the moment
the circular economy in the analyzed business models is partially applied, precisely because
the model is applied in a predominantly linear chain. Added to this is the fact that the
performance of waste management is usually determined by respondents by economic
criteria, in particular, the quality of the textile collected and the values of the business while
the environmental and economic criteria are pulled according to the initiatives chosen at
each stage of waste management. Finally, it was concluded that although the business
models may have emerged with sustainable principles in their foundation, the management
of textile waste is also strongly affected by the external environment, especially by
consumers.

Keywords: Circular Economy, Textile Waste, Post-consumer, PBV


LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Fases da pesquisa ................................................................................................. 24


Figura 2 - Definição conceitual das iniciativas de coleta, separação, reúso e reciclagem de
resíduos têxteis no pós-consumo, sob perspectiva da Economia Circular ........................... 29
Figura 3 - Cronograma de identificação e abordagem dos entrevistados e realização das
entrevistas ............................................................................................................................. 35
Figura 4 - Cadeia produtiva linear da indústria de vestuário ................................................ 43
Figura 5 - Impactos ambientais através da cadeia produtiva de vestuário ........................... 44
Figura 6 - Principais fibras utilizadas na fabricação de têxteis ............................................ 46
Figura 7 - Classificação dos resíduos gerados nas etapas de produção, pré e pós-consumo 50
Figura 8 - Principais temas abordados nas publicações ....................................................... 53
Figura 9 - Oportunidades da pesquisa .................................................................................. 57
Figura 10 - Fluxo das iniciativas de gestão de resíduos têxteis no pós-consumo ................ 71
Figura 11 - Fluxo das iniciativas de coleta, separação, reúso e reciclagem de resíduos
têxteis no pós-consumo ........................................................................................................ 74
Figura 12 - Pré-requisitos e implicações de desempenho na gestão de resíduos têxteis .... 112
Figura 13- Modelo esquemático final da PBV baseado nos resultados do Capítulo 4 ....... 139
Figura 14 - Quantidade de publicações nos últimos 10 anos ............................................. 158
Figura 15 - Tipo de pesquisa .............................................................................................. 160
Figura 16 - Principais instrumentos de coleta de dados ..................................................... 161
Figura 17 - Principais objetos de estudo da pesquisa ......................................................... 162
Figura 18 - Distribuição dos estudos por área de conhecimento ........................................ 163
Figura 19 - Dimensões dos temas abordados ..................................................................... 164
Figura 20 - Destinação dos resíduos têxteis no pós-consumo ............................................ 164
Figura 21 - Rede de co-ocorrência dos termos pesquisados ............................................... 165
LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Atividades desenvolvidas e principais entregas na Etapa 1 - Análise da literatura


.............................................................................................................................................. 25
Quadro 2 - Atividades desenvolvidas e principais entregas na Etapa 3 - Aprofundamento na
literatura ................................................................................................................................ 27
Quadro 3 - Principais características dos stakeholders envolvidos na gestão de resíduos de
itens de vestuário no pós-consumo ....................................................................................... 32
Quadro 4 - Cronograma de realização das entrevistas ......................................................... 37
Quadro 5 - Materiais têxteis na cadeia produtiva e impactos ambientais identificados na
literatura ................................................................................................................................ 47
Quadro 6 – Aplicações práticas de gestão de resíduos têxteis identificados na literatura.... 54
Quadro 7 - Princípios gerais da economia circular .............................................................. 60
Quadro 8 - Descrição dos níveis de ação na economia circular ........................................... 61
Quadro 9 - Comparativo entre os processos de downcycling e upcycling............................ 63
Quadro 10 - Principais barreiras para coleta, separação, reúso e reciclagem na economia
circular .................................................................................................................................. 64
Quadro 11 - Principais facilitadores para coleta, separação, reúso e reciclagem na economia
circular .................................................................................................................................. 65
Quadro 12 - Principais características da economia circular ................................................ 66
Quadro 13 - Estratégias circulares na indústria vestuário .................................................... 69
Quadro 14 - Critérios para correto descarte de itens de vestuário pós-consumo ................. 76
Quadro 15 - Critérios para análise de iniciativas de separação, coleta, reúso e reciclagem. 82
Quadro 16 - Frequência de citação das iniciativas na literatura ........................................... 89
Quadro 17 - Iniciativas de coleta abordadas na literatura .................................................... 91
Quadro 18 - Iniciativas de separação abordadas na literatura .............................................. 94
Quadro 19 - Iniciativas de reciclagem abordadas na literatura ............................................ 97
Quadro 20 - Iniciativas de reúso abordadas na literatura ..................................................... 99
Quadro 21 - Definição conceitual das iniciativas para resíduos têxteis no pós consumo da
indústria de vestuário, sob perspectiva circular .................................................................. 102
Quadro 22 - Análise das iniciativas identificadas na literatura a partir de critérios
ambientais ........................................................................................................................... 105
Quadro 23 - Análise das iniciativas identificadas na literatura a partir de critérios
econômicos ......................................................................................................................... 106
Quadro 24 - Análise das iniciativas identificadas na literatura a partir de critérios sociais108
Quadro 25 - Principais barreiras e facilitadores para coleta, separação, reúso e reciclagem
de resíduos têxteis num contexto circular identificados na literatura ................................. 109
Quadro 26 - Caracterização dos negócios que atuam os entrevistados .............................. 113
Quadro 27 - Principais termos sobre Economia Circular citados pelos experts ................. 114
Quadro 28 - Caracterização das etapas de gestão de resíduos abordadas nas entrevistas .. 116
Quadro 29 - Principais recursos e agentes citados pelos entrevistados .............................. 124
Quadro 30 - Codificação dos critérios econômicos, ambientais e sociais .......................... 127
Quadro 31 - Codificação dos principais critérios econômicos citados pelos entrevistados 128
Quadro 32 - Codificação dos principais critérios ambientais citados pelos entrevistados . 129
Quadro 33 - Codificação dos principais critérios sociais citados pelos entrevistados ....... 131
Quadro 34 - Mapeamento das principais barreiras citadas pelos entrevistados ................. 132
Quadro 35 - Mapeamento dos principais facilitadores citados pelos entrevistados ........... 133
Quadro 36 - Seleção e delimitação dos artigos relacionados a resíduos têxteis ................. 157
Quadro 37 - Dimensões consideradas na avaliação descritiva ........................................... 157
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABIT Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção

C2C Cradle to Cradle

CNI Confederação Nacional da Indústria

EPR Extended Producer Responsability


Ellen MacArthur Foundation Ellen MacArthur Foundation

FIESP Federação das Indústrias do Estado de São Paulo

GEE Gases de Efeito Estufa

H&M Hennes and Mauritz AB

MGFI McKinsey Global Fashion Index

MPE Micro e pequenas empresas

ONG Organização Não-Governamental

PNRS Política Nacional de Resíduos Sólidos

P+L Produção Mais Limpa

PBV Practice-Based View

PSS Product-Service System

SEBRAE-SC Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas em Santa


Catarina

T&C Têxtil e Confecção

WRAP The Waste and Resources Action Programm

WTO World Trade Organization


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 15
1.1 OBJETIVOS ............................................................................................................... 17

1.1.1 Objetivo geral ........................................................................................................... 17

1.1.2 Objetivos específicos................................................................................................. 17

1.2 JUSTIFICATIVA ....................................................................................................... 18

1.3 DELIMITAÇÕES DA PESQUISA............................................................................ 22

1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO ............................................................................... 23

2 DELINEAMENTO DA PESQUISA E PROCEDIMENTOS


METODOLÓGICOS ............................................................................................................. 24
2.1 FASE 1 - ANÁLISE DA LITERATURA EXISTENTE E FORMULAÇÃO DAS
PERGUNTAS DE PESQUISA ................................................................................................ 25

2.1.1 Etapas 1, 2 e 3 - Análise da literatura, formulação da pergunta de pesquisa e


aprofundamento sobre resíduos têxteis na indústria de vestuário .................................... 25

2.2 FASE 2 – DEFINIÇÃO CONCEITUAL DAS INICIATIVAS E CRITÉRIOS DE


GESTÃO DE RESÍDUOS TÊXTEIS NO PÓS-CONSUMO .................................................. 28

2.2.1 Etapa 4 - Descrição conceitual das iniciativas de coleta, separação, reuso e


reciclagem e critérios para análise da gestão de resíduos têxteis ....................................... 28

2.2.1.1 Atividade 5 - Definição dos aspectos circulares para gestão de resíduos têxteis no
pós-consumo ............................................................................................................................. 30

2.2.1.2 Atividade 6 - Definição das iniciativas de coleta, separação e reinserção a serem


abordadas .................................................................................................................................. 31

2.2.1.3 Atividade 7 - Definição dos recursos e principais responsáveis necessários para as


iniciativas de coleta, separação e reinserção na cadeia produtiva ............................................ 31

2.2.1.4 Atividade 8 - Definição dos critérios para análise da gestão de resíduos têxteis ....... 32

2.3 FASE 3 – CONSULTA A ESPECIALISTAS E ANÁLISE DAS INICIATIVAS ... 33

2.3.1 Etapa 5 – Definição do método e procedimentos para analise das iniciativas .... 33

2.3.1.1 Atividade 9 - Definição do método para análise das iniciativas ................................ 33


2.3.1.2 Atividade 10 - Definição dos procedimentos para análise das iniciativas junto a
experts da indústria ................................................................................................................... 34

2.3.1.3 Atividade 11 – Construção e validação do instrumento para coleta de dados ........... 36

2.3.2 Etapa 6 - Consulta com experts da indústria e análise das iniciativas ................. 37

2.3.2.1 Atividade 12 - Aplicação do instrumento de coleta de dados .................................... 37

2.3.2.2 Atividade 13 - Análise dos dados e resultados alcançados e finalização do estudo .. 38

3 REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................... 40


3.1 CADEIA PRODUTIVA DA INDÚSTRIA DE VESTUÁRIO E RESÍDUOS
TEXTÊIS GERADOS .............................................................................................................. 40

3.1.1 Panorama global da indústria de vestuário ........................................................... 40

3.1.2 Panorama nacional da indústria de vestuário ....................................................... 41

3.1.3 Estruturação da cadeia produtiva da indústria de vestuário ............................... 42

3.1.3.1 Impactos ambientais na cadeia produtiva da indústria de vestuário .......................... 43

3.1.4 Caracterização dos resíduos têxteis na cadeia produtiva ..................................... 46

3.1.4.1 Materiais têxteis na cadeia produtiva e seus principais resíduos sólidos gerados...... 47

3.1.4.2 Geração e controle de resíduos têxteis na cadeia produtiva ....................................... 50

3.1.5 Estado da arte sobre resíduos têxteis na indústria de vestuário .......................... 52

3.1.5.1 Análise de Conteúdo: panorama e evolução da pesquisa sobre resíduos têxteis na


indústria de vestuário ................................................................................................................ 52

3.1.5.2 Síntese da literatura analisada .................................................................................... 55

3.2 ECONOMIA CIRCULAR NA INDÚSTRIA DE VESTUÁRIO .............................. 57

3.2.1 Economia Circular ................................................................................................... 58

3.2.1.1 Conceitos gerais relacionados à economia circular .................................................... 58

3.2.1.2 Princípios fundamentais, objetivos e facilitadores da economia circular .................. 59

3.2.1.3 Níveis de ação ............................................................................................................ 61

3.2.1.4 Características gerais da economia circular ............................................................... 62

3.2.2 Economia Circular na Indústria de vestuário ....................................................... 67

3.3 RESÍDUOS TÊXTEIS NO PÓS-CONSUMO DA INDÚSTRIA DE VESTUÁRIO 70


3.3.1 Caracterização das etapas de gestão de resíduos têxteis no pós-consumo .......... 71

3.3.1.1 Descarte ...................................................................................................................... 72

3.3.1.2 Coleta.......................................................................................................................... 72

3.3.1.3 Separação.................................................................................................................... 73

3.3.1.4 Reúso .......................................................................................................................... 74

3.3.1.5 Reciclagem ................................................................................................................. 75

3.3.2 Principais stakeholders envolvidos na gestão de resíduos têxteis no pós-


consumo ................................................................................................................................... 75

3.3.2.1 Consumidores e usuários ............................................................................................ 76

3.3.2.2 ONGs .......................................................................................................................... 77

3.3.2.3 Designers .................................................................................................................... 77

3.3.2.4 Poder Público ............................................................................................................. 78

3.3.2.5 Empresas .................................................................................................................... 80

3.3.3 Critérios de análise da gestão de resíduos têxteis no pós consumo frente à


economia circular ................................................................................................................... 80

3.4 PRACTICE-BASED VIEW (PBV) .............................................................................. 85

4 ANÁLISE DE INICIATIVAS PARA GESTÃO DE RESÍDUOS TÊXTEIS


NO PÓS-CONSUMO DA INDÚSTRIA DE VESTUÁRIO NO CONTEXTO DA
ECONOMIA CIRCULAR ..................................................................................................... 88
4.1 CARACTERIZAÇÃO DAS INICIATIVAS DE COLETA, SEPARAÇÃO,
REÚSO E RECICLAGEM NA CADEIA PRODUTIVA NA LITERATURA ....................... 88

4.1.1 Definição conceitual das iniciativas para gestão de resíduos têxteis no pós-
consumo da indústria de vestuário no contexto da Economia Circular .......................... 100

4.2 ANÁLISE DAS INICIATIVAS CONSIDERADAS PARA GESTÃO DE


RESÍDUOS TÊXTEIS POR EXPERTS DA INDÚSTRIA DE VESTUÁRIO ...................... 111

4.2.1 Descrição dos aspectos circulares na gestão dos resíduos têxteis na operação . 112

4.2.2 Descrição das atuais iniciativas utilizadas pelos experts nas etapas de coleta,
separação e reinserção dos itens de vestuário .................................................................... 116

4.2.3 Descrição dos recursos disponíveis e responsáveis pelas iniciativas .................. 121
4.2.4 Análise das iniciativas de gestão de resíduos têxteis no pós-consumo pelos
experts da indústria............................................................................................................... 126

5 DISCUSSÃO ........................................................................................................... 138


6 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 143
REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 148

APÊNDICE A – ANÁLISE BIBLIOMÉTRICA DA LITERATURA SOBRE


RESÍDUOS TÊXTEIS NA INDÚSTRIA DE VESTUÁRIO.............................. 156

APÊNDICE B - ARTIGOS SOBRE RESÍDUOS TÊXTEIS NA INDÚSTRIA


DE VESTUÁRIO.................................................................................................... 167

APÊNDICE C – PROTOCOLO PARA REVISÃO DA LITERATURA ......... 171

APÊNDICE D – ARTIGOS SOBRE ECONOMIA CIRCULAR NA


INDÚSTRIA DE VESTUÁRIO ............................................................................ 174

APÊNDICE E – PERIÓDICOS SEMINAIS SOBRE ECONOMIA


CIRCULAR ............................................................................................................ 176

APÊNDICE F – PROTOCOLO PARA AVALIAR AS INICIATIVAS


IDENTIFICADAS SOB ASPECTOS CIRCULARES ....................................... 177

APÊNDICE G – CARTA DE APRESENTAÇÃO AOS ENTREVISTADOS .. 178

APÊNDICE H – FREQUÊNCIA – CITAÇÕES DAS ETAPAS DE COLETA,


SEPARAÇÃO, REÚSO E RECICLAGEM ......................................................... 179

APÊNDICE I – CITAÇÕES DE CRITÉRIOS PARA ANALISE DE


INICIATIVAS DE RESÍDUOS TÊXTEIS NO PÓS-CONSUMO DA
INDÚSTRIA DE VESTUÁRIO ............................................................................ 181

APÊNDICE J – ROTEIRO DA ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA ...... 182

APÊNDICE K – CARTA DE ACEITE DE PARTICIPAÇÃO NA


ENTREVISTA ........................................................................................................ 184

APÊNDICE L - CÓDIGOS MAPEADOS PARA ANÁLISE DE CONTEÚDO


DAS ENTREVISTAS REALIZADAS ................................................................. 188
15

1 INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas, a eficiência e gestão dos recursos naturais tornaram-se uma
área de grande interesse para pesquisadores, fabricantes e profissionais para fechar os ciclos
dos materiais e contribuir para transição à economia circular (BUKHARI et al., 2018). A
abordagem circular busca promover a máxima utilização dos recursos e mitigar os impactos
ambientais durante os processos de produção e consumo (BECH et al., 2019).
Conforme Norris (2019), a indústria da moda ainda está identificando e adequando
iniciativas que de fato garantam a máxima utilização dos recursos e não apenas práticas que
apenas preservem a coleta e o descarte final dos itens de vestuário. A emergência dessas
iniciativas ocorre devido ao modo de utilização dos itens confeccionados, que têm
ocasionado problemas em níveis cada vez maiores, em especial devido ao fast fashion1.
Esse modelo econômico, pautado na economia linear, é caracterizado por
minimizar os custos de produção, incentivar o consumo em massa de produtos sazonais e
de baixo valor monetário (BRAY, 2017). Tal modelo tem gerado diversos impactos
ambientais negativos, como o alto consumo de água e energia elétrica, e a subutilização de
recursos (PAL, GANDER, 2018; ALLWOOD et al., 2006; NORRIS, 2019).
Tal subutilização provoca perdas financeiras substanciais em um mercado cada
vez mais competitivo. Para Burton (2018), indústria de vestuário está perdendo meio
trilhão de dólares por não ser circular devido à subutilização dos recursos, podendo
aumentar a perda de valor se consumidores de grandes países, incluindo o Brasil,
continuarem a adotar as atuais taxas de consumo.
A literatura já tem apontado que o descarte de itens de vestuário no pós-consumo
demanda constante atenção devido ao crescimento no descarte de grandes quantidades de
resíduos têxteis à aterros sanitários e estoque não vendido por meio de incineração (HU et
al., 2014, HVASS, 2014, BURTON, 2018). Além disso, embora boa parte dos têxteis
utilizados nos itens confeccionados poderem ser reutilizados ou reciclados, estima-se que
85% da produção global tenha sua destinação final em aterros já no primeiro ciclo de
utilização (MCKINSEY GLOBAL FASHION INDEX, 2016; BURTON, 2018).
Sendo assim, teóricos têm sugerido (PEDERSEN et. al, 2019; FRANCO, 2017;
MCNEILL, SNOWDON, 2019) novos modelos de negócio. Esses modelos a máxima

1
O fast fashion é um termo contemporâneo baseado no sistema produtivo puxado por tendências
onde se demanda grande volume de itens de vestuário para serem comercializados em um curto período de
tempo
16

utilização dos recursos, levando em consideração os aspectos da região onde as iniciativas


são desenvolvidas, a transparência na utilização dos resíduos têxteis no processo produtivos
e as características dos materiais coletados.
Conforme Ellen MacArthur Foundation (2017), na economia circular, a gestão de
resíduos têxteis deve priorizar a máxima utilização de roupas, redução do consumo e na
reciclagem dos recursos. Isso porque, ainda que a parcela de resíduos têxteis seja
relativamente pequena em termos de volume comparada à outros resíduos, o seu impacto
no meio ambiente e a saúde humana são elevados e tal impacto está aumentando devido ao
modelo fast fashion (BUKHARI et al, 2018).
Segundo o estudo de Bukhari et al. (2018), a França é o único país que
implementou o Extended Producer Responsability (EPR) para roupas e sapatos no pós-
consumo. Essa política de responsabilidade estendida contribuiu para um aumento de três
vezes nas taxas de coleta e reciclagem de têxteis pós-consumo desde 2006, podendo a taxa
de recuperação de material dos têxteis pós-consumo chegar a 90% (dos quais 50% podem
ser diretamente reutilizados) em 2019.
Já em outros países, a combinação das atividades de coleta, separação e reinserção
dos recursos na cadeia produtiva geralmente ocorre de modo disperso, deixando muitas
vezes de enfatizar os reais princípios da economia circular (FISCHER, PASCUCCI, 2017;
ALLWOOD et al., 2008; ELLEN MACARTHUR FOUNDATION, 2013). Isso se deve ao
fato da complexidade existente para fechar os ciclos dos recursos de maneira circular
(BOCKEN et al., 2017).
Somente nas etapas de coleta e separação dos itens de vestuário existe
considerável variação no tipo de tecnologia empregada, no grau de intensidade do recurso
utilizado e na quantidade de valor regenerado ao longo de múltiplos ciclos de opções de
recuperação do produto (NOMAN et al., 2018; PAL, GANDER, 2018; ABRAHAM, 2011).
Além disso, é necessário também o engajamento das partes interessadas (como
Organizações Não-Governamentais – ONGs, governo, designers, fabricantes, varejistas,
clientes) para soluções sustentáveis à destinação de peças de vestuário no pós-consumo
(HVASS, 2014; BUKHARI et al., 2018).
Por consequência, a análise prática de iniciativas de coleta, separação e reinserção
de itens de vestuário apresentam questões interessantes para pesquisas futuras na medida
em que possibilita demonstrar como são operados os atuais sistemas de coleta, separação e
reinserção na cadeia produtiva (BEH et al., 2016; NORRIS, 2019).
17

Ademais, a partir da análise de tais iniciativas, é possível destacar oportunidades e


barreiras que ocorrem no desenvolvimento das iniciativas, pensando numa visão sistêmica
que englobe os diferentes atores envolvidos no processo de gestão dos resíduos têxteis, para
que essas iniciativas sejam aprimoradas e difundidas cada vez mais no setor (HU et al.,
2014; BUKHARI et al., 2018; NORRIS, 2019).
Dessa forma, tendo em vista o atual modo de produção de vestuário, o crescente
aumento nos resíduos têxteis na fase pós-consumo, a escassez de recursos e as
oportunidades de novos modelos de negócios circulares (ELLEN MACARTHUR
FOUNDATION, 2017; NORRIS, 2019; MCKINSEY GLOBAL FASHION INDEX, 2016;
HVASS, 2014; MCNEILL, SNOWDON, 2019; FRANCO, 2017) apresenta-se a questão de
pesquisa: regionalmente, no contexto da economia circular, como determinadas empresas
de vestuário consideram as iniciativas para coleta, separação e reinserção na cadeia
produtiva de resíduos têxteis no pós-consumo?

1.1 OBJETIVOS

A seguir serão indicados os objetivos que irão nortear o estudo, tendo em vista as
considerações anteriormente apresentadas.

1.1.1 Objetivo geral

O objetivo geral do presente estudo é analisar regionalmente as iniciativas adotadas


por determinadas empresas da indústria de vestuário para coleta, separação e reinserção na
cadeia produtiva de resíduos têxteis no pós-consumo, no contexto da economia circular,
com base em critérios econômicos, ambientais.

1.1.2 Objetivos específicos

a) Identificar na literatura as atuais iniciativas de coleta, separação e reinserção de


resíduos têxteis no pós-consumo na indústria de vestuário que tenham enfoque no
uso reduzido de recursos na produção e na circularidade dos têxteis na cadeia de
suprimentos do setor.
18

b) Caracterizar as atuais iniciativas identificadas em relação aos recursos e


responsáveis necessários, sob a perspectiva de ciclo fechado, a partir do reúso
(preferencialmente) e a reciclagem dos resíduos têxteis coletados.
c) Identificar os critérios ambientais, econômicos e sociais envolvidos nas etapas de
coleta, separação e reinserção de resíduos têxteis no pós-consumo na indústria de
vestuário, com enfoque nos aspectos circulares nas atividades desenvolvidas.
d) Mapear as principais barreiras e facilitadores para gestão circular de resíduos têxteis
no pós-consumo nas etapas de coleta, separação e reinserção na cadeia de produção,
sob a perspectiva das organizações.
e) Analisar o impacto das iniciativas identificadas na literatura na gestão de resíduos
têxteis considerando critérios econômicos, ambientais e sociais sob a corrente
teórica da Practice-Based View.

1.2 JUSTIFICATIVA

O pós-consumo na indústria de vestuário tem sido uma área de interesse para


pesquisadores. Até 2018, se observou uma tendência às conceituações da destinação dos
itens de vestuário no pós-consumo com enfoque no comportamento do consumidor. Dentre
eles, os hábitos de utilização e descarte (BRACE-GOVAM, BINAY, 2010; MOOMBER et
al., 2012; CHOO et al., 2014) e consumo sustentável (RITCH, 2015; BLY et al., 2015),
incluindo aqueles que envolvem aspectos da economia circular (VEHMAS et al., 2018) e o
slow fashion2 (JUNG, JING, 2017).
No contexto empresarial, até 2017 a ênfase era no desperdício têxtil nas etapas de
produção (pré-consumo), avaliando os benefícios de reutilizá-los ou reciclá-los com as
justificativas destes resíduos fornecerem maior qualidade e confiabilidade em detrimento
dos têxteis no pós-consumo (HAN e al., 2017; MARUDHAMUTHU, KRISHNASWAMY,
2011).
A partir de 2018, foi identificado um crescimento na análise de novos modelos de
negócios numa perspectiva ambiental e social de itens de vestuário no pós-consumo. Como,
por exemplo, os Product-Service System (PSSs) aplicados no setor da moda (BECH et al.,
2019), as iniciativas de designers no processo de coleta e reutilização de itens de vestuário

2
O termo slow fashion é aquele que infere potencial de mudança na indústria de vestuário a partir de três
pilares sendo: a) valorizar o local; b) sistemas de produção transparente e; c) produtos sensoriais.
19

com o slow fashion (MCNEILL E SNOWDON, 2019) e as práticas de upcycling em


resíduos têxteis (DEO, 2018; MARQUES et al., 2019).
A percepção comum entre esses estudos é que iniciativas para coleta, separação e
reinserção de itens de vestuário precisam ser mapeadas e estudadas num contexto prático
para que esses novos modelos de negócios emergentes saiam de seus estágios iniciais de
desenvolvimento. Para Bech et al. (2019), essas iniciativas de gestão de resíduos são ainda
mais importantes se os modelos de negócios estão sendo analisados do ponto de vista da
economia circular.
Atualmente, os estudos relacionados a resíduos têxteis no pós-consumo têm
focado no modo como os processos de reciclagem e reúso de têxteis são realizados
(NOMAN et al., 2013, HVASS 2014, TELLI, ÖZDIL, 2015; AMARAL et al. 2018;), seu
impacto ambiental (ESTEVE-TURRILHAS, DE LA GUARDIA, 2017), econômico e
social (LEAL-FILHO et al., 2019).
Para Sandvik e Stubb (2019), o reúso e reciclagem de resíduos têxteis está
crescendo tanto na teoria quanto na prática. No entanto, ainda é necessário um maior
aprofundamento sobre como a tecnologia, a colaboração dos agentes e as mudanças
sistêmicas na indústria podem apoiar ou oferecer barreiras para gestão desses resíduos, num
contexo circular (SANDVIK, STUBB, 2019).
Conforme Dissanayake e Sinha (2015), para que sinergias e inovações possam
ocorrer quanto aos resíduos têxteis no pós-consumo, mais estudos precisam ser realizados
em relação à padronização das etapas de coleta, separação e reinserção dos itens de
vestuário e quanto às colaborações entre designers, varejistas de vestuário e coletores de
resíduos. Além disso, o papel de outras partes interessadas, tais como governo local e
brechós, também podem ser estudados, e suas implicações mensuradas (DURRANI, 2018).
Do ponto de vista da economia circular, isso implica na concepção de soluções que
levem em consideração as responsabilidades e interdependências criadas entre os agentes
relacionados à gestão dos resíduos têxteis e nos recursos necessários para coletar,
selecionar e reinserir os materiais à cadeia produtiva (FISCHER, PASCUCCI, 2017). Para
que seja possível o alcance da circularidade nesses processos, é necessário então que sejam
desenvolvidas iniciativas que possam guiar a gestão dos resíduos no pós-consumo (ELLEN
MACARTHUR FOUNDATION, 2017).
Na prática, as iniciativas poderiam auxiliar no aumento da coleta de roupas pós-
uso, além de apoiar o trabalho em conjunto entre coletores e selecionadores para realizar
20

oportunidades de captura de valor e também alinhar instalações de coleta e reciclagem


globalmente (ELLEN MACARTHUR FOUNDATION, 2017; THE WASTE AND
RESOURCES ACTION PROGRAMME, 2016).
Por exemplo, a política de Extended Producer Responsability (EPR) para itens de
vestuário na França arrecadou 17,2 milhões de euros de grandes varejistas de vestuário e
introduziu mais de 2,5 bilhões de peças reutilizadas e/ou recicladas para o mercado francês
em 2016 (BUKHARI et al., 2018).
O sucesso de implementação de práticas como o EPR têxtil dependem das
diferentes formas para coletar, selecionar e reutilizar os itens de vestuário no pós-consumo,
sendo consideradas atividades vitais para promoção da economia circular (BUKHARI et
al., 2018).
Conforme Ellen MacArthur Foundation (2017), a reutilização máxima dos itens de
vestuário através de reúso (brechó) ou os processos de remodelação das roupas combinada
com a reciclagem de outros têxteis não reutilizáveis, surgem como alternativas viáveis para
a substituição ao atual sistema econômico linear.
Já para Fischer e Pascucci (2017), a reciclagem não poderia ser considerada como
modelo para reinserção na cadeia de produção, pois o processo não leva a fluxos circulares
de materiais, devido ao fato do valor inerente retido no material diminuir. Para outros
estudos (AMARAL et al., 2018, BURTON, 2018) a reciclagem se faz necessária, pois o
alcance da circularidade ocorre justamente na intersecção entre diferentes processos de
reabsorção na cadeia produtiva.
No Brasil, já existem projetos e modelos de negócios relevantes que ilustram como
os modelos de reutilização e reciclagem de têxteis podem ter benefícios econômicos,
ambientais e sociais, capacitando consumidores, fornecedores e trabalhadores envolvidos,
bem como agregando valor a empresas e comunidades em situação de vulnerabilidade
(LEAL-FILHO et al., 2019). Isso é importante, tendo em vista que no país cerca de 5
milhões de toneladas de itens de vestuário são descartados anualmente, em nível domiciliar
(AMARAL et al., 2018).
A dificuldade, no entanto, é alinhar as expectativas do mercado às práticas
circulares, uma vez que a introdução de medidas sustentáveis para captação e utilização de
recursos ainda é organizada dentro de modelos lineares, podendo resultar na perda da
capacidade competitiva e na incompatibilidade às propostas de criação de valor ao cliente
(FRANCO, 2017; PAL, GANDER, 2018).
21

Isso está em consonância com outros estudos da área de economia circular


(GHISELLINI et al., 2016, FISCHER, PASCUCCI, 2017; KIRCHHERR et al., 2017) nas
quais entende-se que as ações adotadas nos processos de redução, reutilização e reciclagem
ocorrem de maneira dispersa, deixando muitas vezes de enfatizar os reais princípios da
economia circular.
Tal fato corrobora como justificativa ao presente trabalho na medida que ainda são
escassos os estudos que abordam as inter-relações entre os diferentes agentes e recursos
dentre os processos, numa perspectiva circular. Os estudos usualmente não têm uma
perspectiva integrativa e holística das partes interessadas (BUKHARI et al., 2018).
Consequentemente, para promoção da máxima utilização de recursos, é necessário
pensar em como essas iniciativas podem adequar-se num contexto regional (ELLEN
MACARTHUR FOUNDATION, 2017). Isso acarretaria compreender que as iniciativas
atuais ainda são pensadas num contexto reativo e que para alcançar o cenário ideal, é
necessário identificar quais as barreiras e facilitadores para adoção dessas iniciativas numa
perspectiva circular (TODESCHINI et al., 2017, BECH et al., 2019).
Sendo assim, outras investigações poderiam descobrir até que ponto tais iniciativas
de fato contribuem ativamente ao desempenho do negócio pensando num contexto
sustentável, a partir de critérios econômico, ambiental e social (BOCKEN et al., 2017;
DAHLBO et al., 2017; TODESCHINI et al. 2019; BUKHARI et al., 2018; MCNEILL E
SNOWDON, 2019).
Para Brömer et al. (2019), o conceito de sustentabilidade representa um objetivo
comum para todos os elos de uma cadeia produtiva sendo uma forte justificativa para as
empresas e seus tomadores de decisão implementarem e disseminar práticas relacionadas
que são fáceis de imitar e amplamente acessíveis ao invés de buscar vantagem competitiva
por meio de recursos altamente restritivos e difíceis de replicação.
Seguindo esta linha voltada ao desempenho da adoção dessas iniciativas e suas
particularidades, os autores (2019) compreendem que o uso do Practice-Based View (PBV)
possibilita não apenas analisar e identificar o atual modelo de gestão de resíduos mas
aprimorar as atuais práticas para melhor desempenho em um mercado cada vez mais
dinâmico e competitivo.
Assim também ocorre com iniciativas de gestão de resíduos, em especial as
adotadas num contexto circular que ainda apresentam um contexto reativo e adaptativo ao
22

meio no qual foram inseridos mais do que se preocupando com melhorias e ajustes nesses
processos (PALM et al., 2014; ELLEN MACARTHUR FOUNDATION, 2017).
Nesse sentido, a análise das iniciativas para gestão dos resíduos pós-consumo no
setor de vestuário seguirá como corrente teórica a PBV e se justifica como adequada para
endereçar as lacunas ao nível prático e teórico. Do ponto de vista prático, as iniciativas
permitiram oferecer um panorama no modo como essas são escolhidas pelas organizações e
como ocorre essa operacionalização (recursos e responsabilidades).
No contexto teórico, a identificação e mapeamento dessas iniciativas permitiria
fornecer novas soluções que podem ser testadas em outros contextos, conforme defende
Bech et al. (2019). Além disso, esta pesquisa permitirá aprofundar o entendimento do modo
como essas iniciativas de coleta, separação, reúso e reciclagem são tratadas num contexto
circular, a partir de critérios ambientais, econômicos e sociais.

1.3 DELIMITAÇÕES DA PESQUISA

O presente estudo visa identificar e analisar as atuais iniciativas de gestão de


resíduos têxteis no pós-consumo da indústria de vestuário. As etapas consideradas em
relação à gestão de resíduos têxteis são coleta, seleção e reinserção na cadeia produtiva.
Os resíduos têxteis considerados nesta análise são os itens de vestuário descartados
pós-consumo individual (excluindo-se os itens de cama, mesa e banho) e as etapas de
reinserção de resíduos têxteis na cadeia produtiva serão discutidas sob o enfoque dos
processos de reciclagem ou reúso. Não faz parte do escopo desta pesquisa desenvolver
soluções para novas iniciativas de coleta, separação, reúso ou reciclagem.
As etapas de coleta, separação, reúso e reciclagem são analisadas a partir da
comparação entre as iniciativas identificadas na literatura frente à consulta estruturada junto
a experts da indústria com enfoque em aspectos da economia circular. A análise terá como
enfoque aspectos econômicos, sociais e ambientais e será discutida de acordo com a
corrente teórica PBV.
As barreiras e facilitadores nas etapas de coleta, separação, reúso e reciclagem
também são consideradas com enfoque em aspectos da economia circular identificados na
literatura, sob a perspectiva restrita dos experts da indústria que participam de alguma etapa
da gestão de resíduos têxteis na cadeia de produção.
23

1.4 ESTRUTURA DO TRABALHO

A presente dissertação está estruturada em seis capítulos, compreendendo este


capítulo que contextualiza e apresenta o tema da pesquisa, elenca os objetivos, justifica o
estudo e indica as delimitações e modo de organização do trabalho.
O capítulo 2 apresenta os métodos aplicados à pesquisa. Nele são descritos as fases
e etapas da pesquisa, os métodos utilizados para desenvolvimento do estudo e os
procedimentos do trabalho para identificação e análise das iniciativas. O capítulo descreve
também as três principais fases da pesquisa, subdivididas em: (1) análise da literatura
existente e formulação das perguntas de pesquisa, (2) definição conceitual das iniciativas de
gestão de resíduos têxteis no pós-consumo, e (3) análise das iniciativas.
O Capítulo 3 expõe o estado da arte sobre resíduos têxteis na indústria de
vestuário, apresentando o atual panorama e evolução da pesquisa sobre o tema. O principal
resultado do capítulo é um panorama geral da literatura sobre resíduos têxteis e economia
circular na indústria de vestuário, síntese das atividades de coleta, separação, reúso e
reciclagem na cadeia produtiva de itens de vestuário pós-consumo e os aspectos circulares
que serão levados em consideração para análise das iniciativas (ambientais, econômicos e
sociais).
O capítulo 4 dedica-se aos resultados obtidos durante a pesquisa. Como resultados
finais apresentaram-se as iniciativas de coleta, separação, reúso e reciclagem identificadas
na literatura, a estrutura conceitual das iniciativas para gestão dos resíduos têxteis no pós-
consumo da indústria de vestuário e a análise regional das iniciativas realizada junto aos
experts da indústria na grande Florianópolis.
O Capítulo 5 trata de discutir os resultados do Capitulo 4 a partir do método
Practice-Based View (PBV). A discussão possibilitou compreender como as iniciativas de
coleta, separação, reúso e reciclagem são consideradas, levando em consideração os
aspectos econômicos, ambientais e sociais identificados no Capítulo 3. O último capítulo
(Capítulo 6) apresenta as considerações finais da pesquisa, bem como as limitações e
sugestões para trabalhos futuros, concluindo assim o trabalho.
24

2 DELINEAMENTO DA PESQUISA E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Foram propostas três fases para delineamento da pesquisa, sendo elas: (1) análise
da literatura existente e formulação das perguntas de pesquisa; (2) definição conceitual das
iniciativas e critérios para gestão de resíduos têxteis no pós-consumo; e (3) análise das
iniciativas. A Figura 1 apresenta a estrutura metodológica da pesquisa.
As fases foram segmentadas em etapas (cada etapa pode possuir uma ou mais
atividades para sua conclusão). A Fase 1 teve como propósito a verificação da literatura
existente, panorama do estado da arte sobre os temas propostos, identificação das principais
lacunas na literatura e formulação da oportunidade de pesquisa.
Já a Fase 2 teve como propósito identificar na literatura as iniciativas de coleta,
separação, reciclagem e reúso na indústria de vestuário no contexto da economia circular,
bem como os critérios para analisar a gestão de resíduos têxteis circular no pós-consumo.
Por fim, a Fase 3 traz uma análise regional das iniciativas.

Figura 1 - Fases da pesquisa

Fonte: elaborado pelo autor (2020).


25

2.1 FASE 1 - ANÁLISE DA LITERATURA EXISTENTE E FORMULAÇÃO DAS


PERGUNTAS DE PESQUISA

Nesta sessão serão apresentados os métodos aplicados as Etapas 1, 2 e 3 do


presente estudo. Para a Etapa 1, a revisão sistemática foi escolhida como procedimento
metodológico.
A Etapa 2 envolveu a formulação das perguntas da pesquisa e em seguida, na Etapa
3 foi realizado um aprofundamento na literatura para identificação das abordagens de
coleta, separação, reúso e reciclagem e os principais aspectos de economia circular
abordados no contexto da indústria de vestuário.

2.1.1 Etapas 1, 2 e 3 - Análise da literatura, formulação da pergunta de pesquisa e


aprofundamento sobre resíduos têxteis na indústria de vestuário

Para Etapa 1 foi realizada uma revisão sistemática na literatura sobre resíduos
têxteis na indústria de vestuário. Os passos da revisão sistemática foram adaptados dos
estudos de Hallinger (2013), Tranfield et al. (2003) e Levy e Ellis (2006) e o Quadro 1
sintetiza o procedimento metodológico aplicado, às atividades desenvolvidas e suas
principais entregas na Etapa 1.

Quadro 1 - Atividades desenvolvidas e principais entregas na Etapa 1 - Análise da literatura


Procedimento
Objetivo Entrega Principais entregas da atividade
Metodológico
Evolução do tema e
identificação das ISI Web of Science, Scopus,
lacunas de pesquisa Compendex e Elsevier
sobre resíduos têxteis
Revisão Revisão
Sistemática da Sistemática (1) não há restrição quanto ao
literatura da literatura período de publicação; (2) a busca
2 - Definição dos feita apenas no título, resumo e
critérios para busca palavras-chave; (3) estudos apenas
do tipo article ou review
publicados em inglês.
Continua
26

Quadro 2 - Atividades desenvolvidas e principais entregas na Etapa 1 - Análise da


literatura - Conclusão

Procedimento
Objetivo Entrega Principais entregas da atividade
Metodológico

3-
Definição waste AND fashion industry OR fashion retail OR
e uso das cloth industry OR cloth retail OR apparel retail OR
palavras- apparel industry OR garment industry OR garment
chave retail.
Evolução do 4 - (1) "waste” deve estar relacionado apenas à têxteis
tema e Definição
nos processos de produção e consumo; (2) os
identificação dos estudos devem abordar práticas de reúso ou de
Revisão
das lacunas critérios reciclagem em seu contexto de reinserção de
Sistemática da
de pesquisa para resíduos têxteis na cadeia produtiva
literatura seleção
sobre
resíduos 5-
têxteis Descrição dos aspectos gerais sobre os estudos
Análise
analisados
descritiva
6-
Análise Evolução sobre o tema de resíduos têxteis e as
de principais lacunas identificadas
conteúdo
Fonte: elaborado pelo autor, com base em Hallinger (2013), Tranfield et al. (2003) e Levy e Ellis (2006)

A análise da literatura (Etapa 1) envolveu as atividades de análise descritiva e de


conteúdo para selecionar e retirar informações relevantes sobre o tema proposto a partir da
seleção final de 64 artigos (Apêndice B). Tal seleção foi resultante da busca de 9 palavras-
chave e suas combinações em 4 bases de dados. A descrição detalhada das Atividades de 1
a 4 para a revisão sistemática podem ser visualizadas no Apêndice A.
Em relação a análise descritiva (Entrega 5), foi realizado levantamento dos
principais aspectos gerais das publicações, enquanto a análise do conteúdo (Entrega 6)
discutiu quais os principais assuntos são abordados sobre o tema e identificou quais as
principais lacunas na literatura. A partir disso, foi possível inferir as oportunidades de
pesquisa.
A Etapa 2 define as perguntas de pesquisa com base nas lacunas identificadas após a
leitura e síntese dos artigos selecionados. Já a Etapa 3 trouxe o aprofundamento na
literatura com o objetivo de fornecer descrição sobre o fenômeno estudado (resíduos
têxteis), e revelar parâmetros (iniciativas para gestão dos resíduos têxteis no pós-consumo)
que serão descritos na Fase 2 e validados na Fase 3.
27

O procedimento metodológico para aprofundamento da literatura foi a análise de


conteúdo adaptada de Elo e Kyngäs (2008) e utilizada em revisões de literatura sobre
economia circular (GEISSDOERFER et al., 2017; KIRCHHERR et al., 2017).
Inicialmente, os artigos foram lidos integralmente e analisados utilizando
protocolo de revisão de literatura (conforme Apêndice C). A análise de conteúdo
foi realizada por procedimentos de codificação manual e as informações coletadas foram
tratadas com auxílio da ferramenta Excel® e Word®.
Esse procedimento foi escolhido para estruturação do referencial teórico pois
auxilia a retirar o desvio de interpretações errôneas entre as diferentes temáticas inerentes
aos assuntos tratados (ELO, KYNGÄS, 2008). Além disso, também foram reunidas
definições de obras que não são revisadas por pares, por exemplo, documentos públicos e
relatórios, como os de Ellen MacArthur Foundation (2017) e SEBRAE-SC (2019).
A utilização de documentos não revisados aos pares é defendida por Ghisellini et
al. (2016), que entende que os termos analisados podem (incluindo modelos conceituais)
ser impulsionados por definições não acadêmicas. O Quadro 2 apresenta o procedimento
metodológico aplicado, às atividades desenvolvidas e suas principais entregas na Etapa 3.

Quadro 3 - Atividades desenvolvidas e principais entregas na Etapa 3 - Aprofundamento na


literatura
Procedimento
Objetivos Entregas Principais entregas da atividade
Metodológico
Identificação
na literatura
das iniciativas Documento para coleta e tratamento de
Elaboração do
de coleta, informações relevantes ao estudo (ver
protocolo de análise
separação, Apêndice C)
reúso e
reciclagem;
Análise de Identificação
conteúdo na literatura
dos principais
Referencial Teórico sobre indústria de
aspectos
Procedimentos de vestuário, resíduos têxteis e economia
relacionados a
codificação manual circular na indústria de vestuário
economia
(Capítulo 3)
circular na
indústria de
vestuário
28

Na sequência, foi observado a necessidade de identificar os aspectos sobre


economia circular na literatura aplicados no contexto da cadeia produtiva de têxtil. Dessa
forma, foi realizada uma segunda revisão na literatura, conforme as atividades realizadas na
Fase 1 (excluindo-se a análise descritiva e conteúdo)3.

2.2 FASE 2 – DEFINIÇÃO CONCEITUAL DAS INICIATIVAS E CRITÉRIOS DE


GESTÃO DE RESÍDUOS TÊXTEIS NO PÓS-CONSUMO

A Fase 2 teve como objetivo organizar e descrever as iniciativas para coleta,


separação, reúso e reciclagem de itens de vestuário no pós-consumo sob a ótica da
circularidade dos recursos e responsáveis pela ação. Além disso, também foram
identificados os critérios econômicos, ambientais e sociais para análise das iniciativas.
As descrições das iniciativas irão englobar os responsáveis pela atividade e quais os
recursos necessários para coletar e separar os itens de vestuário, conforme a frequência dos
termos ocorrem na literatura.
As definições dos aspectos de economia circular, iniciativas, responsáveis e
recursos foram dispostas no Capítulo 3 e serviram de base para a análise junto aos experts
da indústria na Fase 3.
Já os critérios para análise das iniciativas serão utilizados, num primeiro momento,
para discutir tais práticas num panorama teórico e, posteriormente, aplicar os mesmos
critérios num contexto práticos de modo a identificar possíveis divergências e
convergências entre realidade e conceituação.

2.2.1 Etapa 4 - Descrição conceitual das iniciativas de coleta, separação, reuso e


reciclagem e critérios para análise da gestão de resíduos têxteis

A Etapa 4 foi estruturada em 4 atividades (de 5 à 8) para definir os aspectos


circulares que irão nortear as iniciativas na gestão de resíduos têxteis no pós-consumo

3
Foram realizadas buscas em 4 bases de dados utilizando 9 palavras-chaves e suas combinações, sendo elas:
circular economy AND fashion industry OR fashion retail OR cloth industry OR cloth retail OR apparel retail
OR apparel industry OR garment industry OR garment retail. Após a conclusão da busca, foram selecionados
61 publicações das quais foram excluídas as duplicatas (6), totalizando 78 artigos para leitura do título,
palavras-chave e resumo, dos quais foram obtidos 28 artigos para leitura integral resultando num portfólio
final composto por 18 artigos. Os estudos que abordam ECONOMIA CIRCULAR na indústria têxtil e os
artigos seminais utilizados na pesquisa estão identificados nos Apêndices D e E, respectivamente.
29

(Atividade 5), a definição dos termos para designar as iniciativas (Atividade 6) e a sua
descrição em relação aos recursos e principais responsáveis (Atividade 7). Por fim, foram
descritos os critérios necessários para análise da gestão de resíduos têxteis circular no pós-
consumo.
A Figura 2 apresenta a estrutura conceitual que relaciona as características gerais da
gestão de resíduos têxteis no pós-consumo e as iniciativas organizadas na ordem sequencial
das etapas de (1) coleta, (2) seleção e (3) reinserção na cadeia produtiva (reúso ou
reciclagem).

Figura 2 - Definição conceitual das iniciativas de coleta, separação, reúso e reciclagem de


resíduos têxteis no pós-consumo, sob perspectiva da Economia Circular

Foram selecionados 5 aspectos em conformidade com os conceitos circulares, sendo


eles:

a) Lógica das atividades: diz respeito ao modo como os recursos devem circular
dentro da CS (retardar, reduzir ou fechar os ciclos);
b) Nível de ação: representa a perspectiva na qual as iniciativas foram estruturadas
do ponto de vista da economia circular (níveis micro, meso ou macro);
30

c) Tipo de resíduo: diz respeito a qual tipo de resíduo gerado as inciativas irão ser
aplicadas (resíduos do pós-produção, pré-consumo ou pós-consumo);
d) Premissa das iniciativas: diz respeito ao objetivo final do conjunto desenvolvido
(como exemplo, descarte correto, capturar valor ou imposição legal) e;
e) Stakeholders envolvidos: são aqueles que tenham relação direta com alguma das
etapas no pós-consumo (coleta, separação, reúso ou reciclagem).

Ainda em relação a Figura 2, as “Etapas” representaram as etapas da gestão de


resíduos de resíduos têxteis no pós-consumo consideradas nessa dissertação, sendo elas:
coleta, separação, reúso e reciclagem. Cada “Iniciativa” foi definida em relação aos
aspectos identificados na literatura (por exemplo, take-back como uma iniciativa para
coletar os itens de vestuário no pós-consumo e brechó como uma iniciativa para reúso dos
recursos).
Os “recursos” e “responsáveis” representaram a descrição de cada iniciativa
discutida. Por exemplo, para o take-back é necessário que as grandes varejistas
(responsável) disponham de coletores (recursos) em suas lojas para retorno do item de
vestuário.

2.2.1.1 Atividade 5 - Definição dos aspectos circulares para gestão de resíduos


têxteis no pós-consumo

A identificação e definição dos conceitos circulares foram realizadas para definir as


iniciativas que possuíam aderência com esse modelo econômico. Para isso foi desenvolvido
um protocolo (ver Apêndice F), para escolha das práticas. A partir desse protocolo,
iniciativas como a incineração para fins de recuperação energética foram excluídas.
Sendo assim, as descrições das iniciativas consideradas levaram em consideração
apenas as características que possuíam conformidade com os princípios da economia
circular. Por exemplo, a coleta seletiva de têxteis foi abordada como método de coleta de
municípios em parceria com microempreendedores para reuso (contexto circular), e
também utilizada apenas como método para coleta e destinação em aterro ou recuperação
energética (contexto não circular).
31

2.2.1.2 Atividade 6 - Definição das iniciativas de coleta, separação e reinserção a


serem abordadas

Devido à literatura utilizar diferentes terminologias para definir os mesmos


conceitos e, por vezes, não haver consenso entre os termos abordados (por exemplo,
remanufatura do têxtil ser considerada reúso ou reciclagem), a definição das iniciativas de
coleta, separação e reinserção a serem abordadas nesse estudo seguiram as nomenclaturas
definidas por Palm et al. (2014), Pal e Paras (2018) e Han et al. (2017).
A descrição das iniciativas levou em consideração os aspectos de economia
circular definidos na Atividade 5, e a sua descrição relacionou a operacionalização das
atividades, os agentes envolvidos nos processos.

2.2.1.3 Atividade 7 - Definição dos recursos e principais responsáveis necessários


para as iniciativas de coleta, separação e reinserção na cadeia produtiva

A descrição das iniciativas foi feita levando-se em consideração os recursos


necessários para sua aplicação e os principais responsáveis pela atividade. Foi observado
que os recursos abordados na literatura variam de acordo com o escopo da pesquisa.
Contudo, aspectos tecnológicos, de mão-de-obra qualificada e transporte dos têxteis são
comumente citados nos estudos que abordam a gestão dos resíduos têxteis no pós-consumo
(NOMAN et al., 2013; LARNEY, AARDT, 2015; BUKHARI et al., 2018).
Desse modo, os recursos foram discutidos sob enfoque das tecnologias adotadas
para operação das atividades (baixa, média ou alta automatização), da equipe necessária
para realização dos processos (alta, média ou baixa especialização) e para o transporte dos
itens entre as etapas (distância entre os diferentes locais de coleta, separação e destinação
dos itens de vestuário e as características da carga).
Em relação aos responsáveis, a análise foi limitada apenas aqueles agentes que são
comumente citados nesses processos e que possuem responsabilidade direta para
continuidade da atividade analisada. O Quadro 3 sintetiza as principais características dos
responsáveis:
32

Quadro 4 - Principais características dos stakeholders envolvidos na gestão de resíduos de


itens de vestuário no pós-consumo
Stakeholders Descrição Referência
Consumidores que utilizam e participam RITCH, 2015; BLY et al., 2015;
Consumidor dos processos de descarte e/ou reúso de BURTON, 2018
itens de vestuário
ONGs que doam, revendem ou BRACE-GOVAN, BINAY, 2010
transformam produtos doados ou
ONGs descartados por meio de processos de
coleta, seleção e reinserção na cadeia
produtiva
Profissionais autônomos que realizam BINOTTO, PAYNE, 2017, HAN
Designer processos de upcycling em itens de et al., 2016
vestuário pós-consumo
Agentes públicos (autarquias públicas e YANG et al., 2017
Poder
universidade) engajados em propostas
Público
para gestão de resíduos.
Empresas que reutilizam ou reciclam itens BUKHARI et al., 2018,
Empresas
de pós-consumo, preferencialmente MPEs BURTON, 2018

2.2.1.4 Atividade 8 - Definição dos critérios para análise da gestão de resíduos


têxteis

Os critérios foram identificados concomitantemente com as iniciativas


identificadas na literatura. Para essa atividade, não foram delimitadas frequência para
exclusão ou inclusão dos critérios econômicos, sociais ou ambientais para análise das
iniciativas. Ou seja, todos os critérios identificados na literatura e que possuíam aderência a
analise circular foram considerados.
O Apêndice I apresenta a frequência dos critérios identificados na literatura. Os
critérios identificados na literatura foram separados em econômicos, sociais e ambientais
por alinhar os esforços em diferentes escalas. Esse fator é importantes pois, conforme Ellen
MacArthur Foundation (2013), a transição para economia circular deve gerar oportunidades
econômicas que beneficiem o seu entorno social e ambientalmente.
Os critérios para análise da gestão de resíduos têxteis são utilizados para analisar
teoricamente e na prática as iniciativas identificadas na literatura. Teoricamente, os critérios
são utilizados para analisas as iniciativas a partir da escala comparativa de Palm et al.
(2014).
33

Essa escala é um método empírico e sua utilização pretende única e


exclusivamente comparar cada iniciativa aos pares no que define o seu desempenho
econômico, social e ambiental. Posteriormente, esses critérios foram utilizados na Fase 3 da
pesquisa, analisados sob a ótica dos experts da indústria.
Tanto a análise empírica quanto a analise prática serviram para a discussão das
iniciativas no Capítulo 5.

2.3 FASE 3 – CONSULTA A ESPECIALISTAS E ANÁLISE DAS INICIATIVAS

A Fase 3 foi subdivida em duas etapas: definição do métodos para análise das
iniciativas (Etapa 5) e consulta com experts da indústria (Etapa 6). A Fase 3 envolveu o
desenvolvimento de um roteiro semi-estruturado para consulta a experts da indústria que
atuem com reúso ou reciclagem de itens de vestuário e participem do processo de coleta e
separação.

2.3.1 Etapa 5 – Definição do método e procedimentos para analise das iniciativas

Nessa fase, foi definido o meio na qual as iniciativas identificadas na literatura


foram analisadas. A intenção nessa fase é estruturar um método que possibilite observar tais
fenômenos (iniciativas) no contexto prático e observar os significados que os experts da
indústria entendem por cada atividade de coleta, separação, reúso e reciclagem, dada a
realidade em que os fenômenos estão inseridos.

2.3.1.1 Atividade 9 - Definição do método para análise das iniciativas

A estratégia de investigação adotada no presente estudo foi a de natureza


qualitativa pois permite compreender com maior profundidade as razões e motivações que
levam os experts da indústria a adotarem as iniciativas utilizadas na gestão de resíduos
têxteis no pós-consumo (BURTON, 2018). A estratégia adotada contrasta com os estudos
quantitativos, que são limitados no que tange compreender com profundidade a
complexidade da realidade.
34

2.3.1.2 Atividade 10 - Definição dos procedimentos para análise das iniciativas


junto a experts da indústria

Ainda que consultar especialistas não consista em uma survey, Forza (2002)
entende que o procedimento metodológico com uma seleção de especialista precisamente
definida no que tange escopo e objetivo do estudo e a construção do instrumento para
coleta de dados validada com pré-teste, possibilita uma coleta e análise dos dados com
maior relevância aos aspectos analisados.
Para seleção dos experts da indústria, consideram-se profissionais que atuam no
setor de vestuário, com preferência por indivíduos que atuem em micro e pequenas
empresas, pois representam uma parcela significativa da indústria de vestuário e podem
contribuir significativamente para a transição a uma economia mais circular (TESTA et al.,
2017).
Para delimitação da amostra, foi levada em consideração a conceituação definida
por Ellen Macarthur Foundation (2017), que entende ser necessária a aplicação prática num
contexto regional para posterior ampliação desse estudo numa esfera mais ampla (ex.:
nacional).
Dessa forma, pensando na conveniência para captação dos dados e tendo em vista
o estado de Santa Catarina ser um dos principais polos produtivos de vestuário (SEBRAE-
2019), foram selecionados apenas empresas da grande Florianópolis.
Os participantes foram recrutados através das plataformas LinkedIn e Instagram.
Mitra e Buzzanell (2016) defendem a utilização da plataforma LinkedIn pois permite o
contato com participantes vinculados a grupos focais específicos (por exemplo,
profissionais que atuam com Economia Circular).
Para Gelinas et al. (2017), o Instagram e outras mídias sociais também tornam-se
atraentes nesse contexto, pois podem permitir que os pesquisadores alcancem segmentos
mais amplos da população e também permitem inferir sua elegibilidade para estudos
específicos, do que realizar buscas mais formais como bancos de dados científicos ou ações
presenciais.
Os autores (2017) entendem que a amostra do estudo possa ser extraída de mídias
sociais desde que respeitado dois aspectos principais:
35

a) Respeito pela privacidade e outros interesses: contato nas mídias sociais a grupos
vinculados ao tema proposto que demonstrem conhecimento e interesse pelo tema,
realizando primeira abordagem pautada na pessoalidade e responsabilidade do
pesquisador diante das informações solicitadas;
b) Transparência: honestidade no contato à amostra pretendida, isto é, buscar contato
em redes sociais com maior abertura (exemplo: Instagram), e não acessar grupos de
networking privados.

Desse modo, a amostra foi mapeada com usuários de LinkedIn e Instagram que
possuíam interesse em áreas de sustentabilidade, design de moda e economia circular.
Foram identificados 48 possíveis experts da indústria e 11 aceitaram participar da
entrevista, formando assim a amostra final da pesquisa.
A Figura 3 apresenta as etapas de identificação, primeiro contato e realização das
entrevistas num período de cinco semanas. Inicialmente, as duas primeiras semanas não
tiveram aplicação do instrumento de coleta de dados (Entrevista). Elas passaram a ocorrer
na terceira semana, em especial, devido a uma segunda tentativa de contato com a amostra
que aceitou participar da entrevista (11 experts entre os dias 06 de maio à 22 de maio).

Figura 3 - Cronograma de identificação e abordagem dos entrevistados e realização das


entrevistas
36

2.3.1.3 Atividade 11 – Construção e validação do instrumento para coleta de dados

Nessa etapa foi realizada a criação do protocolo da entrevista em profundidade


para examinar o modo como os profissionais levam em consideração as iniciativas de
gestão de resíduos têxteis. Para validação do roteiro de pesquisa, foi realizada 1 (uma)
entrevistas com expert da indústria com experiência de mercado e com passagens
profissionais no segmento de brechó.
O pré-teste teve por objetivo apontar a existência de perguntas ambíguas ou
supérfluas, o entendimento dos termos e expressões por parte dos entrevistados e se a
duração prevista para finalização da entrevista estava adequada ao público-alvo.
O pré-teste foi realizado em 05 de maio de 2020 e, após sua realização, foram
realizadas seis alterações no protocolo de entrevista. Após realizadas as alterações, o
protocolo de entrevista em profundidade final foi aplicado com os experts da indústria e
pode ser visualizado no Apêndice J dessa dissertação, junto aos códigos pré-definidos para
a posterior análise de conteúdo das iniciativas.
Conforme Mitra e Buzzanell (2016), o protocolo de entrevista começou com
perguntas mais gerais, que levam em consideração o perfil do entrevistado (escolaridade,
função na empresa, experiência no setor têxtil), visando incentivar maior proximidade e
participação gratuita do entrevistado.
Posteriormente, os participantes foram questionados sobre questões mais
abrangentes com relação à economia circular e sua compreensão sobre o tema e por fim,
foram realizadas perguntas sobre suas experiências diárias de trabalho, que tinham como
relação às etapas de coleta, separação, reúso ou reciclagem de resíduos têxteis no pós-
consumo.
Eles eram incentivados a elaborar suas respostas, fornecendo exemplos específicos
dessas atividades, para que fosse possível demonstrar como as iniciativas do ponto de vista
prático se aproximam ou não do seu significado teórico. No final da entrevista, foi
oferecido aos participantes incluírem comentários ou informações adicionais que o
protocolo possa ter perdido.
Por fim, frisa-se que para realização das entrevistas, os participantes precisavam
disponilizar seu consentimento em uma carta para coleta e uso de informações, o termo de
consentimento livre e esclarecido encontra-se disposto no Anexo K.
37

2.3.2 Etapa 6 - Consulta com experts da indústria e análise das iniciativas

Nesta etapa foram realizadas as entrevistas em profundidades com os experts da


indústria, a partir do protocolo criado na Etapa 5 do presente estudo. A intenção é as
questões permitiriam conhecer em profundidade como cada etapa da gestão de resíduos
têxteis no pós-consumo são interpretadas pelos experts da indústria e de que forma essas
etapas se operacionalizam no cotidiano do setor.
A partir dos dados coletados, foi realizada uma análise das iniciativas utilizadas
pelos experts da indústria. O objetivo desta etapa é de embasar os resultados da dissertação
e justificar os achados da Etapa 4 respondendo assim a seguinte pergunta de pesquisa:
regionalmente, no contexto da economia circular, como determinadas empresas de
vestuário consideram as iniciativas para coleta, separação e reinserção na cadeia
produtiva de resíduos têxteis no pós-consumo?.

2.3.2.1 Atividade 12 - Aplicação do instrumento de coleta de dados

Inicialmente os experts da indústria foram contatos por mensagem direta na rede


social Instagram e Linkedin. Foram contatados 48 experts da indústria de vestuário e,
dentre eles, 11 aceitaram a participação no estudo.
Logo após o aceite a participação, os experts eram convidados a disponibilizar um
contato por e-mail para contextualização da pesquisa. A carta-convite da pesquisa pode ser
visualizada no Apêndice G dessa dissertação.
O Quadro 4 apresenta o cronograma de entrevistas realizadas entre 30 de maio a
15 de junho, as entrevistas em profundidade foram conduzidas a partir de vídeo chamada,
gravadas e tiveram duração média de 45 minutos. Elas foram realizadas no período de
quatro semanas entre os meses de maio e junho de 2020.

Quadro 5 - Cronograma de realização das entrevistas

Entrevistado Data da entrevista Meio de interação Duração da entrevista

Entrevistado 01 30/05 Videochamada 37min

Entrevistado 02 05/06 Chamada Telefônica 42min


Continua
38

Quadro 6 - Cronograma de realização das entrevistas - Conclusão

Entrevistado 03 08/06 Videochamada 52min

Entrevistado 04 08/06 Videochamada 41min

Entrevistado 05 09/06 Videochamada 39min

Entrevistado 06 10/06 Videochamada 1h19min

Entrevistado 07 10/06 Videochamada 1h21min

Entrevistado 08 13/06 Chamada Telefônica 1h03min

Entrevistado 09 13/06 Videochamada 29min

Entrevistado 10 15/06 Videochamada 57min

Entrevistado 11 18/06 Videochamada 29min

Sem prejuízo para a qualidade da entrevista e para os resultados da pesquisa, as


Entrevistas 02 e 08 foram feitas por ligação telefônica, enquanto a Entrevista 02 foi
realizada sem gravação simultânea, por solicitação própria dos entrevistados. Além disso, a
Entrevista 06 foi feita com dois entrevistados por solicitação de ambos.
A aplicação do protocolo de entrevista foi organizada em 4 blocos temáticos
principais que se relacionam com o a definição conceitual das iniciativas identificadas na
literatura, formuladas na Fase 2 desse estudo. Os 4 blocos temáticos são: (a) descrição dos
aspectos circulares na gestão dos resíduos têxteis na operação, (b) descrição das atuais
iniciativas utilizadas pelos experts, (c) identificar a utilização dos recursos disponíveis e os
responsáveis, (d) análise das iniciativas de gestão de resíduos têxteis no pós-consumo.
O objetivo de cada bloco temático pode ser visualizado no Apêndice J. A próxima
seção apresenta os procedimentos adotados para análise dos dados coletados junto aos
experts da indústria.

2.3.2.2 Atividade 13 - Análise dos dados e resultados alcançados e finalização do


estudo

Nessa etapa a intenção foi extrair informações que pudessem responder em


profundidade a pergunta de pesquisa específica: regionalmente, como são consideradas as
diferentes iniciativas. Por meio das entrevistas, pretendeu-se coletar a visão da empresa
39

foco representada pelo responsável legal da companhia ou responsável pela gestão da


cadeia de suprimentos da organização.
O conteúdo das questões abertas foi analisado, seguindo procedimento adaptado por
Charmaz (2009), Bardin (2010) e Miltra e Buzzanell (2016), subdivido em:

a) Pré-análise: leitura flutuante do conteúdo e organização do material com base nos


códigos pré-definidos junto a criação do protocolo de entrevista.
b) Exploração do material: realização de recorte dos comentários e categorização
(conforme os blocos temáticos abordados na Etapa 12), identificação de novos
códigos nas sentenças categorizadas e reagrupamento dessas sentenças;
c) Tratamento dos resultados: interpretação do material identificado e agrupado por
cada bloco temático definido na Etapa 12.

Os códigos iniciais foram criados conforme Charmaz (2009) aponta como sendo as
expectativas de respostas advindas das perguntas da entrevista, isto é, o que o pesquisador
objetiva identificar nas respostas realizadas pelos entrevistados. A codificação criada é
embasada na teoria, focalizada no objeto de análise e feita de maneira axial, ou seja, como
um mesmo termo (categoria) pode ser abordado de diferentes maneiras (subcategorias)
(CHARMAZ, 2009).
Conforme Bardin (2010), as categorias podem emergir no momento exploratório
dos dados, desde que levado em consideração a saturação temática, isto é, o esgotamento de
categorias definidas. Nesse estudo a saturação temática ocorreu durante a análise da
Entrevista 09, que permitiu fornecer novos exemplos e contextos de aplicação que se
mostraram úteis para refinar ainda mais os códigos pré-existentes.
Após o mapeamento final dos códigos (ver Apêndice L) os trechos das entrevistas
foram alocados nas categorias definidas que englobavam os 5 blocos de conteúdo. A partir
dos resultados alcançados, a finalização do estudo deu-se por uma discussão dos resultados
teóricos com as análises do estudo de campo a partir da corrente teórica PBV.
A discussão a partir dessa corrente teórica pretendeu analisar as iniciativas de gestão
de resíduos a partir de critérios econômicos, ambientais e sociais a fim de compreender o
desempenho da gestão de resíduos têxteis na qual os experts da indústria atuam.
40

3 REFERENCIAL TEÓRICO

Neste capítulo serão discutidas as bases teóricas que irão sustentar os objetivos da
pesquisa. Inicialmente foi realizada uma revisão sistemática da literatura sobre resíduos
têxteis na cadeia produtiva da indústria de vestuário, englobando análise descritiva e de
conteúdo, bem como as principais lacunas de pesquisa sobre o tema.

3.1 CADEIA PRODUTIVA DA INDÚSTRIA DE VESTUÁRIO E RESÍDUOS


TEXTÊIS GERADOS

A produção global de fibras têxteis, o consumo de têxteis e a quantidade de


resíduos têxteis gerados estão em constante crescimento (DAHLBO et al., 2017). O
aumento do desperdício têxtil tem sido demonstrado em estudos de coleta e triagem em
contextos regionais, em especial os resíduos têxteis provenientes das fases pré e pós-
consumo (BUKHARI et al., 2018; NOMAN et al., 2013).
Isso decorre devido ao atual sistema linear de produção que, embora otimista com o
atual crescimento na demanda, está ficando sem recursos, causando volatilidade de preços,
incertezas e crises econômicas (GHISELLINI et al., 2016; ELLEN MACARTHUR
FOUNDATION, 2013).
Além do contexto econômico, a abordagem linear da produção e consumo tem
causando deterioração dos ecossistemas devido aos impactos ambientais negativos, como
poluição de águas remanescentes e emissões de gases de efeito estufa (GEE) (AVAGYAN
et al., 2015; FISCHER, PASCUCCI, 2017).
Inicialmente, apresenta-se o atual panorama global e nacional do setor para
posterior discussão do modo de produção vigente na indústria de vestuário, caracterizando
os impactos ambientais gerados e suas possíveis soluções, dentre elas o reúso e a
reciclagem de resíduos têxteis (HU et al., 2014).

3.1.1 Panorama global da indústria de vestuário

A indústria de vestuário é global por natureza, altamente lucrativa e contribui


significativamente para o desenvolvimento da economia de um país, detendo parcela
expressiva da economia mundial e estando entre os setores com maior valor percebido
41

(DISSANAYAKE, SINHA, 2015; MCKINSEY GLOBAL FASHION INDEX, 2019).


Somente em 2016, a indústria de vestuário foi projetada para alcançar um total de
US$ 2,4 trilhões (MCKINSEY GLOBAL FASHION INDEX, 2017). Em 2017, o valor
atual das exportações mundiais de têxteis totalizou US$ 296,1 bilhões e de vestuário US$
454,5 bilhões, representando um aumento de 4,2% e 2,8% em relação ao ano anterior
(WORLD TRADE ORGANIZATION, 2018).
Para 2019 a expectativa do setor foi um crescimento entre 3,5% e 4,5%,
impulsionado principalmente pelo segmento de roupas esportivas (crescimento de 7%),
aumento do mercado asiático nas exportações (China representa 35% de todas as transações
mundiais), consolidação da União Europeia na importação de têxteis (40,2% do total de
transações mundiais) e Índia como principal consumidor (WORLD TRADE
ORGANIZATION, 2018, MCKINSEY GLOBAL FASHION INDEX, 2019).
Atualmente, a produção na indústria de vestuário é puxada por grandes volumes,
facilitados pela rápida obsolescência, mudanças nas tendências e estilos (HU et al., 2014).
Dessa forma, o modo de operação exige o desenvolvimento de uma gama de produtos mais
diversificados, prazos de entrega mais curtos e ciclos de mercado mais rigorosos (BEH et
al., 2016; ESTEVE-TURRILLAS, DE LA GUARDIA, 2017).

3.1.2 Panorama nacional da indústria de vestuário

Atualmente, a indústria têxtil está entre as maiores indústrias de transformação no


Brasil, com o setor de artigos de vestuário e acessórios entre os três principais
empregadores em todo país (destacam-se os estados de Santa Catarina, Paraná e São Paulo)
(FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2019). As regiões
Sul e Sudeste representam 77% de todas as empresas abertas no país no período de 2007-
2017 (SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS,
2019).
De acordo com Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (2019),
a indústria têxtil e confecção é composta por diferentes segmentos, e ambos fazem parte da
indústria de transformação. Na indústria de vestuário, foram importados cerca de US$
1,794 bilhão, enquanto apenas US$ 138 milhões de itens de vestuário foram exportados
(SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS EM
SANTA CATARINA, 2019).
42

Atualmente, os principais fornecedores para a indústria de Têxtil e Confecção


(T&C) no Brasil são: (1) comércio (demanda de 18,5 bilhões); (2) transportes terrestres (6,8
bilhões); (3) intermediação financeira, seguros e previdência complementar (6 bilhões); (4)
fabricação de químicos orgânicos e inorgânicos, resinas e elastômeros (5 bilhões); (5)
agricultura (4,4 bilhões) e; (6) energia elétrica, gás natural e outras utilidades (4,1 bilhões)
(MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO, 2018).
Do lado do consumo, os itens de vestuário representaram 220,40 bilhões em
relação ao gasto total das famílias em 2017, sendo o segundo item mais importante
correspondendo a 5,3% das despesas das famílias no Brasil (MINISTÉRIO DA
AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO, 2018). Em relação a desempenho,
o segmento de vestuário catarinense teve melhor resultado em comparação aos demais
estados, obtendo um crescimento de 6,1% em 2018 (SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO
ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS EM SANTA CATARINA, 2019).
Em 2017, o polo estadual de T&C concentrava 9.243 empresas, com maioria na
região do Vale do Itajaí (59%), com predominância de micro e pequenas empresas (MPEs),
correspondendo a 88,4% dos estabelecimentos (SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO ÀS
MICRO E PEQUENAS EMPRESAS EM SANTA CATARINA, 2019). No contexto
nacional, a expectativa é de recuperação para a indústria de vestuário, com perspectiva de
crescimento de 11,5% no varejo de vestuário no país até 2022 (MINISTÉRIO DA
AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO, 2018).

3.1.3 Estruturação da cadeia produtiva da indústria de vestuário

A Figura 4 apresenta a cadeia produtiva da indústria do vestuário desde a obtenção


da matéria-prima até o descarte pelo consumidor final. Os fornecedores de segunda ordem
(máquinas e equipamentos, agricultura, química, agroquímica e prestadores de serviço) não
são apresentados na Figura 4.
Conforme Allwood et al. (2008), esses fornecedores participam perifericamente
durante todos os processos. Sendo assim, o primeiro passo a ser considerado é a preparação
e a geração das fibras naturais (de origem vegetal ou animal) e das fibras artificiais (fibras
celulósicas artificiais modificadas, fibras celulósicas artificiais regeneradas e fibras
sintéticas) para serem transformadas em fio.
43

Figura 4 - Cadeia produtiva linear da indústria de vestuário

Fonte: Próprio autor, baseado em FRANCO, 2017; ALLWOOD et al., 2008; AMARAL et al., 2018; DE
ALENCAR et al., 2015.

Conforme Burton (2018), a complexidade nos atividades de produção, as


tecnologias aplicadas aos têxteis, as diferentes combinações de fibras presentes nos
materiais, o número de atores envolvidos nas diferentes etapas de produção e o grau em que
esses atores são integrados devem ser levados em consideração para mensurar e propor
inovações no sistema.

3.1.3.1 Impactos ambientais na cadeia produtiva da indústria de vestuário

Ao longo de todo o ciclo de vida do produto, os itens de vestuário geram produtos


nocivos ao meio ambiente, desde emissões de carbono, poluentes no ar e na água, além da
geração de resíduos sólidos e materiais tóxicos (BOCKEN et al., 2019; ALLWOOD et al.,
2008).
44

A Figura 5 aponta os principais impactos ambientais causados por cada etapa da


cadeia de produção da indústria de vestuário. As áreas circundadas em vermelho apontam a
pegada de emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) durante os processos (quanto maior o
traçado, maior o impacto gerado), enquanto as áreas circundadas em amarelo apontam o
consumo de água durante os processos.

Figura 5 - Impactos ambientais através da cadeia produtiva de vestuário

Nota: o maior contribuinte para a pegada de carbono do vestuário é a produção de fibra através da extrusão de
polímeros ou da agricultura; e a maior utilização de quantidade de água também ocorre durante o crescimento
e produção de fibras, em especial no cultivo do algodão.
Fonte: Próprio autor, 2019 (baseado em FRANCO, 2017; ALLWOOD et al., 2008; AMARAL et al., 2018;
DE ALENCAR et al., 2015)

Estudos anteriores (SAVAGEAU, 2011; ESTEVE-TURRILHAS, DE LA


GUARDIA, 2017; THE WASTE AND RESOURCES ACTION PROGRAMME, 2017)
mostraram que o consumo de água, ocupação do solo, emissões e uso de produtos químicos
são os aspectos mais críticos a serem avaliados durante a etapa de produção das fibras.
45

Dentre as fibras utilizadas, destaca-se o algodão como a fibra natural mais


consumida nos têxteis da indústria, com uma produção mundial de 24,5 milhões de
toneladas (ESTEVE-TURRILHAS, DE LA GUARDIA, 2017).
Embora as etapas de fiação e tecelagem também exijam grande montante de água
nos processos, o processo de fabricação também demanda alto montante de recursos
hídricos. O processo de fabricação inclui o beneficiamento primário do tecido (desbaste,
limpeza, branqueamento e mercerização), o beneficiamento secundário (tingimento e
impressão) e o beneficiamento terciário (acabamento funcional como prensa durável,
resistência à chama, repelência à água).
O beneficiamento secundário é a etapa mais intensiva em consumo de energia e
água, com a etapa de tingimento consumindo sozinha mais de 100 litros de água por quilo
de tecido processado (AMARAL et al., 2018; FRANCO, 2017).
A maior quantidade de água é usada durante o crescimento e produção de fibras,
particularmente no cultivo do algodão, embora também seja bastante utilizada durante o
processo de fabricação (em especial, a etapa de tingimento) e lavagem doméstica.
Já o maior contribuinte para a pegada de carbono do vestuário é a produção de fibra
através da extrusão de polímeros e agricultura. Além disso, outras preparações e
processamento de fibras, tais como a fiação, estampas e tingimentos, também contribuem
para o aumento nas emissões de GEE (THE WASTE AND RESOURCES ACTION
PROGRAMME, 2017).
No caso das confecções, os resíduos são gerados a partir do processo produtivo
que cria subprodutos provenientes de aparas, retalhos têxteis, alfaiataria e outros materiais
de confecção. Para Alencar et al. (2015), a falta de gerenciamento de resíduos ocasiona os
impactos ambientais devido aos rejeitos não terem a correta destinação ou
reaproveitamento na cadeia produtiva.
A fase de uso, ou seja, quando a roupa está com o consumidor, também gera
impactos negativos, sobretudo nas lavagens. Tanto em questões de consumo de energia
quanto em questões de consumo de água (HU et al., 2014). Conforme indicado por Bukhari
et al (2018), o consumidor está mais ativo e consciente em relação aos cuidados com os
itens de vestuário.
Essa consciência de substituir o conceito do item de vestuário de descartável para
conservável têm apresentado mudanças nos cuidados com as roupas e no ciclo de uso e,
46

desse modo, reduzido os impactos ambientais desde 2012 (THE WASTE AND
RESOURCES ACTION PROGRAMME, 2017).
Conforme Hu et al. (2014), os benefícios ambientais podem ser criados pela
reinserção de roupas usadas no processo produtivo, uma vez que a reutilização de itens de
vestuário previne a produção de novos recursos, resultando em uma diminuição dos
impactos ambientais gerados.

3.1.4 Caracterização dos resíduos têxteis na cadeia produtiva

A primeira questão para identificar os resíduos têxteis é verificar a constituição das


fibras utilizadas e o modo de fabricação (LUND, 1975). As fibras (naturais ou químicas)
são as matérias primas que constituem o têxtil final (tecido ou malharia). A Figura 6 traz a
classificação das principais fibras têxteis utilizadas na cadeia produtiva da indústria de
vestuário.

Figura 6 - Principais fibras utilizadas na fabricação de têxteis

Fonte: elaborado pelo autor baseado em Amaral et al. (2018) e De Alencar (2015).
Nota: a diferença entre fibra sintética e artificial reside na composição do têxtil. Na fibra sintética, o filamento
é produzido totalmente a base de produtos químicos (e.g petróleo) enquanto na fibra artificial é utilizado
polímeros naturais (ex.: celulose).
47

3.1.4.1 Materiais têxteis na cadeia produtiva e seus principais resíduos sólidos


gerados

O Quadro 5 apresenta os principais têxteis abordados na literatura analisada, seu


processo de fabricação (levando-se em consideração as etapas de cultivo, tratamento, fiação
e tecelagem apenas) e os impactos ambientais devido aos resíduos gerados identificados na
literatura.

Quadro 7 - Materiais têxteis na cadeia produtiva e impactos ambientais identificados na


literatura
Resíduos
Impactos
Material gerados no
Processo produtivo ambientais Referência
têxtil processo
negativos
produtivo
(1) resíduos de
A produção de tecidos de couros e peles
couro (ex.: pele do gado não curtidos; (2) (a) corte tingido
Ozgunay
bovino) ocorre na retirada resíduos de despejado
H. et al.,
da pele do animal e no couro curtido; irregularmente perto
Couro 2007;
processo de curtume que (3) resíduos de da unidade fabril ou
Saikia et
insere as características couro tingido e encaminhado à
al., 2017
desejadas ao têxtil (ex. acabado aterro sanitário
utilização em botas) (guarnições de
couro)
A produção de tecido do
poliéster começa na (a) exposição
(1)
fabricação química do humana a produtos Telli,
Contaminação
oligômero tereftalato de químicos Ozdil,
no tecido de
Poliéster - bis(2-hidroxietileno), logo prejudiciais devido 2015; Ellen
derivados de
Tereftalato após esse polímero é ao contato com a Macarthur
benzotiazol e
de solidificado e transformado pele, (b) potencial Foundation
benzotriazol; (2)
polietileno em fibra. A fibra sintética é fonte de poluentes , 2017, De
é derivado de
então usualmente mistura a ambientais via Falco et al.,
matéria-prima
fibras naturais e usada para lavagem, e (c) 2018
não renovável
produção de camisas, microplásticos
calças, lençóis e cortinas
Continuação
48

Quadro 8 - Materiais têxteis na cadeia produtiva e impactos ambientais identificados na


literatura - Conclusão
Resíduos
Impactos
Material gerados no
Processo produtivo ambientais Referência
têxtil processo
negativos
produtivo
(a) exposição
A produção de algodão (1) A fabricação humana a produtos
ocorre com a colheita do algodão químicos
(manual ou mecânica), orgânico e não prejudiciais devido
Avagyan et
separação da semente e orgânico ao contato com a
al., 2015,
Algodão divisão em fardos para possuem a pele, (b) potencial
Yao et al.
envio das fibras que são mesma medida fonte de poluentes
2019
inseridas em bobinas que de componentes ambientais via
tecem a fibra para tornar o de benzotiazol e lavagem, e (c)
têxtil liso final benzotriazol liberação em águas
residuais domésticas
A produção do tecido de
Nylon inicia-se com o ácido
diamina (monômero) do
petróleo bruto que é
combinado com ácido
(a) exposição
adípico para criar o sal de
(1) humana a produtos
nylon. O polímero
Contaminação químicos
cristalizado é aquecido e (Ellen
no tecido de prejudiciais devido
depois passa por processo Macarthur
Poliamida derivados de ao contato com a
de extrusão que torna o Foundation
Sintética - benzotiazol e pele, (b) potencial
material em filamento para , 2017;
Nylon benzotriazol; (2) fonte de poluentes
ser carregado numa Avagyan et
é derivado de ambientais via
primeira bobina. Ela al., 2015)
matéria-prima lavagem, e (c)
alimenta um segundo
não renovável liberação em águas
processo do filamento para
residuais domésticas
aumentar sua força e
elasticidade e, em seguida,
torna-se o fio para
combinação com demais
têxteis
(a) exposição
A produção do tecido misto (1)
humana a produtos (Telli,
ocorre com a junção da Contaminação
químicos Özdil,
matéria prima (usualmente do tecido de
Tecidos prejudiciais devido 2015;
natural e sintética) que derivados de
mistos – ao contato com a Yasin,
combinadas tornam por unir benzotiazol e
Poliéster e pele, (b) potencial 2017; Palm
os diferentes aspectos de benzotriazol; (2)
Algodão fonte de poluentes et al., 2014;
ambas as fibras em especial dificuldade no
ambientais via Almroth et
moldagem e finalização das processo de
lavagem, e (c) al., 2018)
peças. reciclagem
microplásticos
49

Embora nem todos os têxteis e malhas estejam apresentados no Quadro 5, destaca-


se as fibras sintéticas, atualmente utilizadas em larga escala para aprimorar características
dos têxteis (ALLWOOD et al., 2008). A fabricação de fibras têxteis sintéticas é mais barata
e pode ser usada tanto para fins de confecção quanto para tecidos técnicos (MCKINSEY
GLOBAL FASHION INDEX, 2016).
Além disso, fibras como o elastano são utilizadas para darem melhor elasticidade
ao tecido, sendo comumente encontradas em tecidos com fibras misturadas. As
propriedades das fibras sintéticas permitem maior resistência ao uso, suavidade ao toque,
não transpiram, não absorvem umidade, possuem secagem rápida e têm maior flexibilidade
durante as atividades (MCKINSEY GLOBAL FASHION INDEX, 2019).
Devido a essas características e aos benefícios de qualidade e custos na produção -
usualmente as fibras sintéticas são utilizadas na fabricação de têxteis, principalmente no
segmento de roupas para a prática de exercícios físicos (item de vestuário com maior
previsão de demanda para 2019) - é importante avaliar medidas que mitiguem a produção
de fibras sintéticas tendo em vista serem provenientes de recursos naturais não renováveis
(petróleo) (FRANCO, 2017; TELLI, ÖZDIL, 2015; YASIN, 2017).
Em relação aos têxteis de fibras naturais, o estudo de Esteve-Turrillas e De la
Guardia (2017) evidenciou que o cultivo de algodão orgânico evita o uso de agrotóxicos e
produtos químicos, reduzindo os impactos ambientais, mas mantendo aqueles relacionados
às etapas de descaroçamento e tingimento, conforme apontado por Avagyan et al. (2015)
quanto aos compostos químicos encontrados em camisas 100% algodão orgânico.
O algodão também é matéria-prima para confecção do tecido do Brim (Denim
Jeans), um dos itens de vestuário mais populares do mundo (MCQUEEN et al., 2017).
Segundo os autores (2017), a sua produção consome mais de 3.000 litros de agua durante
seu ciclo de vida (geração da matéria-prima ao descarte final), sendo 23% desse consumo
apenas na lavagem da roupa durante o uso.
Segundo Bray (2017), é preciso pensar em formas de reduzir a pegada ambiental
cortando o consumo de recursos virgens ou reciclados, em especial do algodão, tendo em
vista que a pegada ambiental (impactos negativos) também é significativo. Para isso,
designers e varejistas podem puxar essa demanda do lado da indústria (reduzindo o
consumo dessa matéria-prima) e o consumidor precisa visualizar métodos que beneficie a
vida útil do jeans (ex.: reparos e redução nos ciclos de lavagem) (BRAY, 2017).
50

Em resumo, a introdução de mudanças sustentáveis nos processos de produção


têxtil é uma área de reconfiguração de recursos e de criação de valor, sendo a qualidade do
material considerada um fator crucial para a questão no setor têxtil e de vestuário, tendo em
vista este ser um dos principais fatores de escolha pelo consumidor (PATORA-
WYSOCKA, SULKOWSKI, 2019).
A indústria precisa encontrar maneiras de aliar as expectativas do consumidor com
novos modelos de negócios que modifiquem os atuais processos de obtenção dos recursos
têxteis a partir do reaproveitamento dos materiais subutilizados (DOMINA, KOCHI, 1997).

3.1.4.2 Geração e controle de resíduos têxteis na cadeia produtiva

A indústria de vestuário produz dois tipos de resíduos que podem ser classificados
como resíduos pós-produção, pré-consumo e pós-consumo. Os resíduos de pré-consumo
são criados pela indústria de vestuário antes do produto chegar ao consumidor, enquanto o
pós-consumo é criado pelos consumidores depois que o produto é usado (ENEZ, KIPÖZ,
2019). A Figura 7 apresenta os principais resíduos gerados dentro das duas categorias.

Figura 7 - Classificação dos resíduos gerados nas etapas de produção, pré e pós-consumo

Fonte: Elaborado pelo autor com base em Enez e Kipöz (2019).


51

Conforme Burton (2018), os resíduos de pós-produção são os restos de fios,


sucatas e resíduos têxteis gerados na primeira fase da produção de vestuário e têxteis pelos
produtores de fibras, tecelagem e confecção. Algumas empresas já possuem estratégias de
desvio de resíduos têxteis reciclados na fase de pós-produção como Patagônia, Levi Strauss
e Gap (DOMINA, KOCH, 1997).
Na fase pré-consumo os resíduos compreendem roupas e vestuário que são
fabricados, mas não são vendidos (estoque inativo) e produtos têxteis que são finalizados,
contudo não passam no processo de qualidade (BURTON, 2018). Conforme o estudo de
Burton (2018), as roupas podem integrar mercados de segunda-mão, como outlets,
instituições de caridade ou exportação para países em desenvolvimento.
Já na fase de pós-consumo inclui-se o item de vestuário ou têxtil que não é mais
utilizado. Seu destino basicamente resume-se ao valor agregado que a peça de roupa ainda
possui, começando seu processo nos consumidores finais e no acesso a canais de logística
reversa ou descarte em aterros e incineração por coleta municipal (PALM et al., 2014). Se
as roupas forem coletadas, geralmente existem 3 possibilidades de destino: (1) se possuírem
valor agregado, geralmente são vendidas; (2) se tiverem alguma reutilização restante, mas
não vendável no momento (fora de temporada ou fora de moda), elas são doadas a
instituições de caridade ou encaminhados a países em desenvolvimento; (3) se passarem do
estágio de reutilização, são reabsorvidas para corte, trituração e uso mecânicos, de limpeza,
e outros (BURTON, 2018).
Para Franco (2017), o crescimento de itens de vestuário no pós-consumo em
aterros municipais é fator preocupante do ponto de vista da subutilização dos recursos
têxteis. Conforme Burton (2018), na medida em que a indústria de vestuário aumente as
taxas de reciclagem de têxteis, acarretaria em uma redução de custos, pois a energia
necessária para coleta e reutilização de itens de vestuário estaria abaixo do necessário para
produzir novos itens.
Os desafios nessa área na composição do material para reciclagem. Isso ocorre
devido as tecnologias disponíveis atualmente não serem capazes de determinar com
precisão a composição exata de cada fibra no têxtil, tornando praticamente impossível a sua
separação (FRANCO, 2017). No final, longe de ser reciclada, a maioria dos tecidos passam
por processos de downcycling, transformando-se, por exemplo, em carpetes ou trapos.
52

3.1.5 Estado da arte sobre resíduos têxteis na indústria de vestuário

Os resíduos têxteis na indústria de vestuário têm sido analisados sob a abordagem


de diferentes áreas de conhecimento, com enfoque especial aos aspectos relacionados a
sustentabilidade (YANG et al., 2017; STAICU, POP, 2018; AGARWAL, 2019),
consumidor (VEHMAS et al., 2018; RITCH, 2015; DABIJA et al., 2017) e organizações
(WANG et al., 2019; JUNG, JING, 2017; ENEZ, KIPÖZ, 2019).
Entretanto, não foram encontrados estudos que sintetizem e apresentem quais as
principais iniciativas adotas para gestão dos resíduos têxteis na indústria de vestuário,
principalmente no modo como micro e pequenos empreendedores as utilizam e visualizam
a circularidade dos recursos no setor têxtil.
Desse modo, foi realizado um mapeamento e classificação da literatura, bem como
uma análise de conteúdo sobre os conceitos que descrevem os resíduos têxteis (e suas
características) nos processos de produção, uso e descarte visando identificar os principais
temas mencionados nos estudos analisados.
A revisão da literatura foi subdividida em análise bibliométrica (descritiva),
análise de conteúdo e síntese da literatura analisada. A análise bibliométrica pode ser
visualizada no Apêndice A enquanto a análise de conteúdo e síntese da literatura serão
apresentadas a seguir.

3.1.5.1 Análise de Conteúdo: panorama e evolução da pesquisa sobre resíduos


têxteis na indústria de vestuário

Tendo em vista que os estudos que abordam resíduos têxteis na indústria de


vestuário ainda ocorrem de maneira dispersa na literatura, observa-se a importância de
analisar seu surgimento e progresso antes de analisar sua relação com o tema de economia
circular. A Figura 8 apresenta os principais temas abordados nas publicações durante os
períodos analisados.
53

Figura 8 - Principais temas abordados nas publicações

Fonte: elaborado pelo autor com base na análise de conteúdo (2020).

Inicialmente, ressalta-se que o desperdício têxtil possui espaçamento de


publicações no primeiro período (1975-2009) e geralmente concentra seus esforços nas
fases pós-produção (etapas de corte e costura, em especial) (TENG, JARAMILLO, 2005) e
no lixo zero (CARPUS, 2008).
Além disso, destaca-se a publicação de Lund (1975), que descreve os processos de
reciclagem dos resíduos têxteis na pós-produção e observa a importância da etapa de
separação e a influência dos tipos de fibras e têxteis fabricados para a eficácia dos
processos.
No segundo período (2010-2014), surgem mais estudos relacionados à etapa de
pós-consumo (4 publicações), abordando qualitativamente as etapas de reúso e reciclagem
do ponto de vista do fabricante (SAVAGEAU, 2011; FRASE, 2011) e consumidor
(POWER, 2012).
54

A pesquisa de Hvass (2014) também discute as práticas de coleta dos itens de


vestuário no pós-consumo por parte dos grandes varejistas. A principal contribuição do
estudo é demonstrar a importância do EPR nas soluções de desperdício têxtil e nas
dificuldades para reinserção dos itens no processo produtivo por reciclagem ou reúso. Além
disso, o estudo de Hvass (2014) também foi o primeiro a englobar aspectos da economia
circular em sua pesquisa.
Nos últimos anos (2015-2019), existe maior concentração de estudos sobre
resíduos têxteis, principalmente aqueles relacionados a atividades de upcycling e
downcycling (KEITH, SILLIES, 2015; HAN et al., 2017). Também se observa que mais
estudos abordam aspectos de circularidade em suas análises (SUGIURA, 2018;
MARQUES et al, 2019; MCNEIL, SNOWDON, 2018).
Os estudos de economia circular geralmente são impulsionados pelo crescente
descarte de itens de vestuário em aterros sanitários e incineração (BURTON, 2018; DEO,
2018; GOPALAKRISHNAN, MATTHEWS, 2018). Especificamente em relação à gestão
de resíduos, algumas ferramentas foram abordadas no pós e pré-consumo e são
apresentadas no Quadro 6.

Quadro 9 – Aplicações práticas de gestão de resíduos têxteis identificados na literatura


Aplicação Local de Tipo de
Breve descrição Referência
prática aplicação resíduo
Sistema informal realizado por coletivo
de empresas têxteis que separam,
organizam e distribuem os resíduos
provenientes do processo produtivo para
Gestão Pós-
reciclagem dos têxteis (principalmente
municipal Faisalabad produção e Noman et
para fábricas de panos). Os principais
de resíduos , Paquistão pré- al., 2013
elementos que compõe esse processo
têxteis consumo
incluem as tecnologias para reciclagem e
os resíduos têxteis provenientes das
etapas de fiação, teares, tingimento e
confecção.
Continua
55

Quadro 2 - Aplicações práticas de gestão de resíduos têxteis identificados na


literatura – Conclusão
Aplicação Local de Tipo de
Breve descrição Referência
prática aplicação resíduo
Sistema formal interno de reciclagem dos
resíduos têxteis por parte das fábricas. O
processo carece de tecnologias
Gestão de Pós-
(identificar a composição do têxtil e
resíduos da África do produção e Larney,
tecnologias para retalho e extração da
indústria do sul pré- Aardt, 2015
fibra necessária), má qualificação da
vestuário consumo
equipe (principalmente para separação
dos itens) e os custos envolvidos nesses
processos.
Sistema formal nacional para coleta,
separação e destinação dos resíduos
Gestão de têxteis por parte dos grandes varejistas e
resíduos de fabricantes que possuam operação ou
Pós- Bukhari et
grandes produção na França. O sistema iniciou em França
consumo al., 2018
varejistas 2006 e em 2008 passou a ser gerido por
de vestuário uma fundação criada pelos grandes
varejistas e operacionalizada por ONG
exclusiva

É importante observar que atualmente existe apenas um modelo para coleta de


itens de vestuário no pós-consumo implementado pela França como parte de sua política de
responsabilidade estendida dos fabricantes sobre os produtos (BUKHARI et al., 2018). Os
outros dois estudos se concentram nas etapas de pós-produção.

3.1.5.2 Síntese da literatura analisada

Conforme abordado anteriormente, a revisão da literatura contribuiu para


identificação da pesquisa, delimitação do estudo e embasamento conceitual para construção
do trabalho. Inicialmente as pesquisas demonstram que, embora exista a consciência por
parte da indústria em relação aos resíduos têxteis, ainda são incipientes as publicações que
abordem a fundo como a indústria compreende as iniciativas de coleta, separação e
reinserção de itens de vestuário no têxtil no pós-consumo.
Foram encontrados trabalhos que discutem sobre o descarte de itens de vestuário,
contudo geralmente com foco no consumidor, dificultando sua mensurabilidade de
aplicação prática por parte dos produtores, em especial, na definição de quem implementa
as práticas (coleta, separação e reinserção do resíduo) e como as desenvolve.
56

As principais contribuições por parte dos estudos de gestão de resíduos no pós-


consumo dizem respeito aos recursos e stakeholders envolvidos nos processos de coleta,
seleção e destinação dos itens de vestuário descartados. As barreiras e dificuldades entre os
processos de reciclagem e reúso também são discutidas e geralmente envolvem os aspectos
tecnológicos.
Constatou-se também a diversidade nas possibilidades de reinserção dos itens de
vestuário (reúso e reciclagem), enquanto os processos de coleta e seleção são usualmente
realizados de maneira empírica, sem uma metodologia sistêmica que realmente absorva os
recursos em seu mais alto valor e possibilitem seu melhor aproveitamento.
Em relação à economia circular, os estudos que tratam desse tema geralmente o
insere em suas discussões de maneira abrangente, não trazendo contribuições em como o
desempenho dessas empresas podem, na prática, serem abordados na perspectiva desse
novo paradigma. Assim, como sugerido pelos estudos de Hvass (2014) e Bukhari et al.
(2018), isso abre caminhos para mais pesquisas práticas sobre a aplicabilidade da economia
circular quanto à circularidade de recursos na cadeia produtiva de vestuário.
Cabe ainda observar que embora na prática as etapas de coleta e separação sejam
realizadas de maneira dispersa, já existe literatura que aborde os principais modelos de
operação para essas atividades, usualmente em países nórdicos. O relatório de Palm et al.
(2014) contribuiu para a identificação e padronização dos diferentes termos existentes para
coleta e tratamento dos têxteis. Por fim, a Figura 9 sintetiza as principais etapas para
estruturação da presente pesquisa.
57

Figura 9 - Oportunidades da pesquisa

Fonte: elaborado pelo autor com base na análise de conteúdo (2020).

A partir da síntese da literatura discutida anteriormente, a proposta final do


trabalho foi definida e a sessão a seguir irá contextualizar o modelo econômico na qual as
iniciativas serão analisadas.

3.2 ECONOMIA CIRCULAR NA INDÚSTRIA DE VESTUÁRIO

Nos últimos anos, a economia circular tem recebido considerável atenção devido
às oportunidades oferecidas, a fim de otimizar e promover a produção e o consumo
sustentáveis, por meio de novos modelos baseados em crescimento contínuo e recursos
ilimitados (GOVIDAN, HASANAGIC, 2018).
Nesse trabalho, a economia circular será um dos temas abordados e, inicialmente,
será discutida a partir de artigos seminais. Em seguida, aplicações da economia circular na
indústria de vestuário serão discutidas para identificar e sintetizar os parâmetros necessários
para análise dos aspectos circulares na gestão de resíduos têxteis no pós-consumo.
58

3.2.1 Economia Circular

A seguir serão discutidas as principais características da economia circular do


ponto de vista seminal, em seguida apresenta-se a aplicação do modelo econômico no
contexto da indústria de vestuário.

3.2.1.1 Conceitos gerais relacionados à economia circular

O conceito de economia circular tem surgido como importante aliado a novos


paradigmas e estratégias industriais porque é visto como modo de operacionalização para as
empresas implementarem o desenvolvimento sustentável frente a outros conceitos como
economia verde (ELLEN MACARTHUR FOUNDATION, 2012; ELLEN MACARTHUR
FOUNDATION, 2013; GHISELLINI et al., 2016; KIRCHHERR et al., 2017).
Por ser um conceito com diferentes interpretações e que transita por diferentes
áreas, o termo economia circular pode usualmente ser empregado de maneira distinta,
sendo necessário um ponto de ligação para que as partes interessadas caminhem em
harmonia frente às estratégias de circularidade (KIRCHHERR et al., 2017; FRANCO,
2017).
Atualmente, a definição mais popularizada do termo foi proposta por Ellen
MacArthur Foundation (2013) que a caracteriza como sendo um sistema industrial
restaurativo e regenerativo por intenção e design. A ideia principal desse modelo
econômico é aproveitar ao máximo a utilização de produtos e matérias-primas para
minimizar o desperdício (GOVIDAN, HASANAGIC, 2018).
Para Ghisellini et al. (2016), a economia circular significa um modelo regulado de
acordo com as leis da natureza, isto é, redes de componentes em interação, troca de fluxos
de materiais e energia, padrões de reciclagem e mimetismo ambiental.
Isso corrobora com o elucidado por Geissdoerfer et al. (2017), que descrevem a
economia circular como um sistema regenerativo em que a entrada de recursos e resíduos,
emissões e transferência de energia são minimizados pela desaceleração, estreitamento e
fechamento dos ciclos de recursos.
Da mesma forma, os estudos de Todeschini et al. (2017) e Franco (2017) abordaram
a economia circular na cadeia de vestuário. O estudo de Todeschini et al. (2017) entendeu o
modelo como restaurador por design, que visa manter produtos, componentes e materiais
59

em sua mais alta utilidade e valor em todos os momentos, enquanto Franco (2017) a
descreve como sendo um sistema interconectado de objetivo específico, no qual o ciclo de
materiais ocorre de maneira fechada, a fim de promover a sustentabilidade.
Para Kirchherr et al. (2017), a economia circular vem como um sistema econômico
que substituiu o atual modelo baseado no fim de vida por ciclos fechados nos processos de
produção, distribuição e consumo, a partir da redução, reutilização, reciclagem ou
recuperação de materiais, nos níveis micro (produtos, serviços e consumidores), meso
(parques industriais) e macro (cidade, região, países e blocos econômicos)
Uma das críticas aos atuais métodos de economia circular é discutida por Lieder e
Rashid (2016), os quais argumentam que a maioria das análises e discussões sobre o
modelo negligencia os aspectos econômicos e operacionais pertinentes às micro e pequenas
empresas.
Embora algumas das estratégias à implementação da economia circular envolvam
aspectos de design, produção mais limpa, cooperação com clientes e gestão de resíduos,
poucos estudos têm dado atenção ao modo de implementação dessas estratégias em um
nível micro e em que medida elas necessitam ou afetam a propulsão da economia circular
no nível macro (GHISELLINI et al, 2016; FRANCO, 2017).
Com base nas características das definições expostas, o presente trabalho irá
considerar a economia circular como um sistema econômico que atua em ciclos fechados
para redução, reutilização, reciclagem ou recuperação dos recursos em sua mais alta
utilidade e valor a partir de iniciativas nos níveis micro, meso e macro, a fim de promover o
desenvolvimento sustentável.

3.2.1.2 Princípios fundamentais, objetivos e facilitadores da economia circular

Existem diferentes princípios associados à economia circular na literatura (Ellen


MacArthur Foundation, 2013; KIRCHHERR et al., 2017; GEISSDOERFER et al., 2017).
Em resumo, os conceitos giram em torno do ciclo fechado de recursos, eliminando as
entradas, geração de resíduos e emissões.
Para Ellen MacArthur Foundation (2013), a economia circular baseia-se em três
princípios fundamentais, sendo eles: (1) preservar e aumentar o capital natural; (2) otimizar
a produção de recursos; (3) fomentar a eficácia do sistema. Já Kirchherr et al. (2017)
60

distinguem os princípios entre os que se relacionam com as dimensões dos 4 Rs (reduzir,


reutilizar, reciclar e recuperar) e na perspectiva de sistemas (níveis de ação).
Em resumo, os princípios definidos por Ellen MacArthur Foundation (2013) são os
princípios gerais dentro de qualquer perspectiva industrial voltada à economia circular,
enquanto as dimensões abordadas por Kirchherr et al. (2017) englobam o modo como os
princípios podem ser operacionalizados.
O Quadro 7 descreve as características dos três princípios, com base nas
dimensões dos 4Rs e nos níveis de ação.

Quadro 10 - Princípios gerais da economia circular


Princípios
Descrição²
gerais¹
Preservar e Modo de desmaterialização do material (o uso é mais importante do que a
aumentar o posse) e os diferentes modelos de negócios no nível micro que
capital natural proporcionam a utilização plena dos recursos

Otimizar a Como os recursos e produtos podem ser reutilizados, reciclados e


produção de reformulados em constantes ciclos, fechando os fluxos produtivos, sem
recursos causar desperdício e gerando valor econômico na mesma medida.

Fazer circular em seu mais alto nível de utilidade os recursos técnicos e


Fomentar
biológicos, de modo que componentes e materiais circulam continuamente
eficácia do
em ciclos fechados (essas ações dependem de diversos agentes em níveis de
sistema
ação distintos)
Nota: ¹Ellen MacArthur Foundation (2013); ²Ellen MacArthur Foundation (2013); KIRCHHERR et al.
(2017); GEISSDOERFER et al. (2017).
Fonte: elaborado pelo autor com base na análise de conteúdo (2020).

Conforme Kirchherr et al. (2017), reduzir significa repensar os hábitos do ponto de


vista do consumidor e o redesenho por parte do fabricante (incluindo o prolongamento de
vida útil dos produtos), reutilizar significa fechar o ciclo produtivo através do reparo e
reabsorção dos recursos na cadeia produtiva, enquanto reciclar significa trazer os materiais
a sua formação original para obter a mesma qualidade (alta qualidade) ou inferior (baixa
qualidade).
A circularidade cresce na medida em que as estratégias passam dos estágios de
apenas utilização plena dos recursos (reciclagem e recuperação) para os estágios de
estender a vida útil do produto e suas partes (reutilizar) até o uso e fabricação mais
conscientes de produtos (reduzir) (KIRCHHERR et al., 2017).
61

3.2.1.3 Níveis de ação

Conforme Kirchherr et al. (2017) e Ghisellini et al. (2016), a transição total para a
economia circular precisa ocorrer em três níveis que podem ser interpretados como três
níveis do sistema, sendo eles: nível micro (produtos, empresas, consumidores), nível meso
(parques industriais) e macro (cidade, região, nação e blocos econômicos).
A transição a economia circular deve priorizar, simultaneamente, a qualidade
ambiental, prosperidade econômica e equidade social, para o benefício das gerações atuais
e futuras. O Quadro 8 apresenta breve descrição de cada um dos níveis divididos por focos
de estudo, conforme o trabalho de Ghisellini et al. (2016).

Quadro 11 - Descrição dos níveis de ação na economia circular

Nível Foco Descrição


Realizar diferentes estratégias para melhorar a circularidade de seu
Produtos e sistema de produção e cooperação com outras empresas ao longo da
serviços cadeia de abastecimento para a realização de um padrão circular
mais eficaz, focando no ecodesign e na produção mais limpa (P+L)
Micro Promover o senso de responsabilidade dos consumidores e
Consumidores
desenvolver novos hábitos voltados ao consumo consciente
Priorizar modelos de negócio que atuem como coletores capazes de
Gestão de resíduos recolher e extrair recursos sem desperdício, aplicando tecnologias
inovadoras para recuperação.
Organizar sistemas industriais que funcionam em redes produtivas
Sistemas relacionadas a partir das interações de troca de recursos (materiais,
Meso
industriais água, energia e subprodutos), com o objetivo de desenvolver
parques eco-industriais
Planejar associações conjuntas à longo prazo de centros urbanos e
Eco-cidades parques industriais com meta de plena utilização dos fluxos de
resíduos e benefícios no sistema económico
Modelos de
Viabilizar projetos de propriedade compartilhada de
Macro consumo
serviço/produto entre diversos consumidores
colaborativo
Programas de Desenvolver redes de prevenção, reciclagem ou recuperação (coleta
gestão de resíduos separada) com objetivo de reduzir substancialmente os impactos
e lixo zero ambientais ao descarte em aterros sanitários
Fonte: elaborado pelo autor com base em Ghisellini et al. (2016)

Uma outra crítica aos estudos da economia circular está no grau de análise e
discussões. Em sua revisão de literatura, Lieder e Rashid (2016) criticaram que as análises
62

negligenciavam ou limitavam os aspectos de operação e o retorno econômico pertinente ao


nível micro. Cabe frisar que várias empresas de diferentes setores atuantes no nível micro
expressaram as intenções de fechar o ciclo, implementando iniciativas de P+L e ecodesign
e em que medida tais estratégias afetam a materialização da economia circular no nível
macro (GHISELLINI et al., 2016).

3.2.1.4 Características gerais da economia circular

As aplicações práticas da economia circular nos sistemas econômicos e industriais


têm evoluído e incorporado diferentes características de diferentes áreas, mas que
compartilham a ideia de ciclos fechados (GEISSDOERFER et al., 2017). Os modelos de
negócios na economia circular podem buscar tanto fechar os ciclos (closing) quanto
retardar (narrowing) ou reduzir (slowing) (MANNINEN et al., 2018).
O retardo nos ciclos de recursos significa aumentar a eficiência no modo como os
recursos naturais são utilizados nos processos de produção e fabricação, enquanto reduzir é
usar, reutilizar e reparar os produtos de modo a diminuir os danos ambientais globais (PAL,
GANDER, 2018). As estratégias para reduzir o fluxo de recursos e, assim, reduzir danos
ambientais, envolvem a criação de itens com maior durabilidade, prolongando período de
uso e, assim, reduzindo a demanda geral pelo produto (FRANCO, 2017).
Por fim, o fechamento está ligado ao movimento mais amplo da economia circular.
A ideia de fechar os ciclos está principalmente alinhada com a teoria cradle-to-cradle
(C2C), que entende que o material não deve ser meramente reciclado, pois isso só vai adiar
seu inevitável declínio para aterro ou incinerador. Em vez disso, os produtos devem ser
reprocessados para uso em nível igual ou melhor de aplicação (BAKKER et al., 2010).
A C2C também está alinhada ao modo como os materiais devem fluir dentro dos
ciclos (FRANCO, 2017). Conforme Bakker et al., (2010), atualmente o fluxo de materiais
dividem-se em fluxos biológicos que absorvem os materiais biodegradáveis que podem
retornar com segurança aos sistemas naturais.
E fluxos técnicos que absorve nutrientes sintéticos ou minerais que possam ser
recuperados e reutilizados em ciclos de fabricação subsequentes (BAKKER et al., 2010).
Por fim, mais do que discussões sobre reúso e reciclagem de materiais, os estudos têm
aprofundado o modo como os processos internos podem aprimorar ou reduzir a função dos
63

itens coletados entre as atividades de downcycling4 ou upcycling5 (HAN et al., 2017;


DURRANI, 2018; GOPALAKRISHNAN; MATTHEWS, 2018).
O Quadro 9 apresenta o significado, os benefícios e as desvantagens desses
processos nos itens descartados na cadeia produtiva.

Quadro 12 - Comparativo entre os processos de downcycling e upcycling


Processo Downcycling Upcycling Referência
ELLEN
Reduz a necessidade de Pode ser reinserido no MACARTHUR
Vantagem extração de matéria-prima processo produtivo FOUNDATION
virgem em diversos ciclos 2017; HAN ET
AL., 2017
Atividade manual e ELLEN
altamente MACARTHUR
Usualmente só é reabsorvida especializada carece FOUNDATION
na cadeia produtiva uma de tecnologias que 2017, DURRANI,
Desvantagem
única vez e depois se torna auxiliem os processos 2018;
um resíduo não utilizável de criação e produção, GOPALAKRISHN
falta de incentivos AN; MATTHEWS,
públicos. 2018

É importante observar que as atividades de downcycling e upcycling podem


coexistir nos processos dentro da economia circular, conforme observado por Ellen
MacArthur Foundation (2017). A preferência é que os recursos sejam mantidos em seu
mais alto nível de uso dentro dos ciclos onde, nesse caso, o upcycling seria o modelo mais
adequado.
Contudo, conforme observa Kirchherr et al. (2017), nem sempre os recursos
podem ser inseridos novamente dentro da cadeia produtiva sem a perda de valor, inclusive
o próprio processo de reciclagem pode ser visto como uma atividade de downcycling na
medida que reduz a qualidade do material ao longo do tempo.
Já numa perspectiva mais ampla, estudos recentes têm abordado as barreiras e
facilitadores para aplicação de iniciativas circulares na indústria. O foco dos estudos têm
tido ênfase nas características do consumidor e modelos de negócio (KIRCHHERR et al.,
2017, TESTA et al., 2017), na relação dos stakeholders com a cadeia de suprimentos

4
Prática de reciclagem/reúso que envolve a desmontagem do item em seus componentes iniciais.
Quando os elementos constituintes ou materiais são recuperados, eles são reutilizados, se possível, mas como
um produto de menor valor.
5
Processo de transformação de itens descartados, não utilizados, materiais residuais ou indesejados
em novos materiais ou produtos de qualidade igual ou superior e geralmente possui um apreço ambiental.
64

(GOVIDAN, HASANAGIC, 2018) e os desafios para reduzir, reutilizar, reciclar e


recuperar (GHISELLINI et al., 2016).
Para Testa et al. (2017), as barreiras e restrições para a gestão de resíduos numa
perspectiva circular são decorrentes da falta de recursos técnicos, humanos e financeiros,
principalmente entre o micro e pequeno produtor, podendo ser superadas em virtude das
sinergias que emergem da cooperação.
O Quadro 10 descreve as principais barreiras para coleta, separação, reúso e
reciclagem na economia circular do ponto de vista do ambiente interno (organização),
embora também as ações estejam relacionadas a outros stakeholders (GOVIDAN,
HASANAGIC, 2018).

Quadro 13 - Principais barreiras para coleta, separação, reúso e reciclagem na economia


circular
Práticas Barreiras Referências
GOVIDAN E HASANAGIC
Falta de padronização para coletar e
(2018); KIRCHHERR ET
separar os materiais corretamente
AL. (2017)
Baixa adesão por parte do GOVIDAN E HASANAGIC
Coleta e consumidor, portanto, é difícil (2018); KIRCHHERR ET
Separação reutilizar ou reciclar produtos numa AL. (2017), TESTA ET AL.
perspectiva circular (2017)
Falta de incentivos públicos para
GOVIDAN E HASANAGIC
gestão de resíduos em determinados
(2018)
setores
GOVIDAN E HASANAGIC
Manter a mesma qualidade dos (2018); KIRCHHERR ET
produtos reutilizados AL. (2017), TESTA ET AL.
(2017).
GOVIDAN E HASANAGIC
Garantir reparo e uso secundário de (2018); KIRCHHERR ET
Reúso
produtos após seu uso original AL. (2017), TESTA ET AL.
(2017).
Deficiência do Poder Público em
KIRCHHERR ET AL.
beneficiar empresas que utilizam
(2017), TESTA ET AL.
energia renovável e mão-de-obra
(2017).
qualificada
GOVIDAN E HASANAGIC
Dificuldade de coleta de grandes
(2018); KIRCHHERR ET
Reciclagem volumes devido a mistura e
AL. (2017), TESTA ET AL.
contaminação
(2017).
Continuação
65

Quadro 14 - Principais barreiras para coleta, separação, reúso e reciclagem na economia


circular - Conclusão
Práticas Barreiras Referências
Limitações tecnológicas para KIRCHHERR ET AL.
rastrear os recursos utilizados para (2017), TESTA ET AL.
produção do item coletado (2017).
GOVIDAN E HASANAGIC
Baixa qualidade dos resíduos
Reciclagem (2018); TESTA ET AL.
coletados
(2017).
GOVIDAN E HASANAGIC
(2018); KIRCHHERR ET
Baixa produção
AL. (2017), TESTA ET AL.
(2017).

Já em relação aos facilitadores, Kirchherr et al. (2017) argumentam que os


facilitadores podem estar relacionados ao modelo de negócio, ou seja no modo de produção
e distribuição, e no consumidor, tendo em vista que não basta o retorno dos recursos na
cadeia produtiva, mas também o seu consumo em diversos ciclos. O Quadro 11 apresenta
os principais facilitadores identificados na literatura.

Quadro 15 - Principais facilitadores para coleta, separação, reúso e reciclagem na economia


circular
Práticas Facilitadores Referências
Os consumidores estão começando GOVIDAN E
a obter conhecimento sobre o HASANAGIC (2018);
impacto das indústrias e estão mais KIRCHHERR ET AL.
propensos a engajamentos em (2017), TESTA ET AL.
políticas de reciclagem e reúso (2017)
GOVIDAN E
Redes de cooperação entre os
HASANAGIC (2018);
Coleta e agentes envolvidos nas etapas de
KIRCHHERR ET AL.
Separação coleta, separação e reinserção na
(2017), TESTA ET AL.
cadeia produtiva
(2017)
GOVIDAN E
Crescimento na responsabilidade HASANAGIC (2018);
estendida do produto por parte dos KIRCHHERR ET AL.
grandes varejistas (2017), TESTA ET AL.
(2017)
Aumento da demanda do KIRCHHERR ET AL.
Reúso consumidor em relação à (2017), TESTA ET AL.
reutilização de produtos e materiais (2017).
Continuação
66

Quadro 16 - Principais facilitadores para coleta, separação, reúso e reciclagem na economia


circular - Conclusão
GOVIDAN E
Criação de valor por customização HASANAGIC (2018);
TESTA ET AL. (2017).
Reuso
Modelos de negócios com aspectos KIRCHHERR ET AL.
ambientais inseridos nos valores da (2017), TESTA ET AL.
empresa (2017).
GOVIDAN E
Crescimento na demanda de HASANAGIC (2018);
materiais reciclados por empresas KIRCHHERR ET AL.
existentes (2017), TESTA ET AL.
(2017).
Crescimento de novas empresas e
Reciclagem cooperativas para reciclagem de TESTA ET AL. (2017).
materiais
GOVIDAN E
Modelos de negócios com aspectos HASANAGIC (2018);
ambientais inseridos nos valores da KIRCHHERR ET AL.
empresa (2017), TESTA ET AL.
(2017).

Em resumo, cabe validar que independente das barreiras e facilitadores, o tipo de


resíduo desempenha um importante fator de escolha de qual iniciativa utilizar para
reinserção na cadeia produtiva (ELLEN MACARTHUR FOUNDATION, 2017).
Por fim, as principais características da economia circular na indústria de vestuário
discutidas nesta dissertação são expostas no Quadro 12.

Quadro 17 - Principais características da economia circular


Aspecto Descrição Referência
Preservar e aumentar o capital natural; otimizar
Princípios ELLEN MACARTHUR
a produção de recursos e fomentar eficácia do
Fundamentais FOUNDATION, 2013
sistema
Lógica de BAKKER ET AL., 2010;
produção e Preferencialmente ciclo fechado ELLEN MACARTHUR
utilização FOUNDATION, 2013
Hierarquia de
Redução, reúso, reciclagem e recuperação KIRRCHHER et al., 2017
resíduos
KIRRCHHER et al., 2017;
Níveis de ação Micro, meso e macro
GHISELLINI et al., 2016
Continuação
67

Quadro 18 - Principais características da economia circular - Conclusão


Aspecto Descrição Referência
Alcance do desenvolvimento sustentável a MANNINEN et al., 2018;
partir de ciclo fechado baseado no melhor GHISELLINI et al., 2016;
Objetivos
aproveitamento de recursos e evitando GEISSDOERFER et al.,
desperdícios (perspectiva de circularidade) 2017
Principais Principalmente empresas, ONGs e Poder GEISSDOERFER et al.,
stakeholders Público 2017

3.2.2 Economia Circular na Indústria de vestuário

O consumo excessivo de itens de vestuário é um fenômeno global crescente, com


sérios efeitos no meio ambiente e na sociedade (DIDDI et al., 2019; HVASS, 2014).
Conforme Allwood et al. (2008), devido ao atual padrão de consumo o nível de resíduos
têxteis tem aumentado exponencialmente por todo mundo. Contudo, o fim de uso de itens
de vestuário por parte do consumidor final não significa necessariamente a perda de sua
integridade estrutural ou utilidade física (FRASER, 2011).
Uma maneira de mudar essa perspectiva é apreciar o fluxo de materiais na cadeia
produtiva de vestuário nas etapas de produção, venda, utilização e eliminação a partir de
modelos circulares (PAL, GANDER, 2018). Para além das vantagens ambientais, existem
outros benefícios de natureza socioeconômica que podem auxiliar não apenas os impactos
causados pela indústria, como também as empresas inseridas nesses modelos, em especial,
as Micro e Pequenas empresas (MPEs) (BOCKEN et al., 2017; KOZLOWSKI et al., 2018).
Embora as MPEs frequentemente tenham restrições financeiras que as impedem de
adotar estratégias ambientais proativas, elas estão sendo cada vez mais pressionadas para
adotar um padrão de produção mais sustentável (TESTA et al., 2017). Conforme
Kozlowski et al. (2018), as MPEs representam uma parcela significativa da indústria de
vestuário e podem contribuir significativamente para a transição para uma indústria têxtil e
de vestuário mais sustentável.
O próprio entendimento de economia circular na indústria de vestuário vai contra
as tendências atuais de fast fashion e, num primeiro momento pode parecer a abordagem
mais difícil de ser seguida (BOCKEN et al., 2017). O estudo de Bocken et al. (2017)
demonstrou que o processo de experimentação por circularidade não necessariamente é de
exclusividade das MPEs. As habilidades e recursos necessários em contextos de grandes
varejistas de vestuários na economia circular foram analisados e foi concluído que a
68

diversidade de outros projetos paralelos (entre universidade ou outras empresas) continua a


ser um caminho promissor que pode desencadear novas atividades e práticas, que estão no
cerne das transições à circularidade (BOCKEN et al., 2017; DIDDI et al., 2019).
As conclusões do relatório da Ellen MacArthur Foundation (2017) sobre
circularidade na indústria de vestuário reforça a necessidade para as grandes varejistas
incorporarem elementos de design que garantam a reparação e a longevidade dos itens
produzidos. Aliado a isso, as novas gerações de consumidores são indivíduos cada vez mais
pró-ambientais e socialmente conscientes (DIDDI et al., 2019).
Convém também observar as atuais tecnologias para regeneração dos itens de
vestuário na cadeia de suprimentos, em especial as relacionadas com atividades de
reciclagem. Conforme Hvass (2014), a reciclagem clássica de material, que é possível no
setor manufatureiro, pode ser menos viável economicamente para o setor têxtil.
O estudo de Hvass (2014) discutiu que grandes varejistas, como o grupo H&M6,
experimentaram a conversão de peças coletadas junto aos consumidores como matéria-
prima para fabricação de novos itens de vestuário, entretanto, a ideia acabou sendo
abandonada devido às tecnologias para reciclagem ainda serem subdesenvolvidas.
De fato, se tais considerações fossem integradas aos processos iniciais de
concepção do produto, as oportunidades de construir estratégias circulares seriam melhor
trabalhadas ao estabelecer: (a) informações da composição do produto (importantes para
separação dos itens); (b) o impacto causado, (c) o modo de uso e, (d) as condições para
descarte do item de vestuário (LEAL-FILHO et al., 2019).
Conforme Franco (2017), fechar os ciclos de têxteis exigirá avanços tecnológicos e
operacionais na origem, produção e composição dos têxteis descartados. As novas
tecnologias teriam o potencial de facilitar o trabalho na triagem, classificação e reciclagem
(Ellen MacArthur Foundation, 2013; RÆBILD, BANG, 2017).
De todo modo, isso não significa que a reciclagem de itens de vestuário pós-
consumo ainda não seja possível, mas é importante o entendimento que tais oportunidades
ainda são restritas, em especial por não haver dados substanciais que apontem melhor
retorno econômico em comparação a extração de matéria-prima virgem (DAHLBO et al.,
2017).

6
Hennes & Mauritz AB (H&M) é uma empresa sueca multinacional de varejo de vestuário
conhecida pelo segmento fast fashion, com coleções para o público masculino, feminino e infantil.
69

Também existe o fato de estudos (ex.: FRANCO, 2017; FISCHER, PASCUCCI,


2017; TESTA, 2017) que entendem que no fluxo atual o valor econômico recuperado dos
itens de vestuário pode vir a ser baixo (ainda que coletados em grande quantidade). Isso
porque, especialmente no fast fashion, os têxteis são fabricados com materiais mistos, não-
recicláveis e de baixo custo.
O Quadro 13 sintetiza as principais características da economia circular na
indústria de vestuário, com base nos conceitos abordados no tópico 2.2.1.4.

Quadro 19 - Estratégias circulares na indústria vestuário


Etapa Estratégias Referência
Projetar produtos e materiais com o objetivo de retenção de
Concepção
valor a longo prazo
Produção e Alinhar aspectos de qualidade de material, produtividade e FISCHER,
uso longevidade do produto PASCUCCI, 2017
Pós-
Gerir os resíduos para capturar valor pós-consumo
consumo
Hierarquia dos resíduos
Tipos Principais iniciativas Referência
produção: tecnologias para recuperação e reciclagem de
têxteis subutilizados; consumidor: acessibilidade e BOCKEN et al.,
Redução
conscientização das informações de produção, uso e 2019
descarte de itens de vestuário
varejo de segunda-mão e remodelação
Reúso HAN et al., 2017;
(upcycling/downcycling)
LEAL-FILHO,
Reciclage
mecânica, química e mista 2019; BUKHARI et
m
al., 2018
Recuperaç BUKHARI et al.,
Incineração para geração de energia
ão 2018
Níveis de ação
Nível Principais ações Referência
MPEs: inovação nos modelos de negócios (principalmente
Micro reúso); Grandes varejistas: investimento de tecnologias para FRANCO, 2017
coleta, seleção e reciclagem de têxteis
Parceria entre empresas têxteis ou entre setores para criação TODESCHINI et
Meso
de redes de compartilhamento de recursos e tecnologias al., 2017
Continua
70

Quadro 9 - Estratégias circulares na indústria vestuário – Continuação


Nível Principais ações Referência
Parcerias coordenadas entre empresas do setor privado, FISCHER,
Poder Público e ONGs (em especial coleta seletiva, apoio PASCUCCI, 2017;
Macro
às MPEs, incentivos fiscais, taxação e responsabilização BUKHARI et al.,
sobre resíduos de grandes varejistas) 2018
Lógica de produção
Ciclo fechado de produção e consumo através do uso reduzido de BOCKEN et al.,
recursos na produção e na circularidade dos têxteis na CS através de 2019, PAL,
reúso (preferencialmente) e reciclagem GANDER, 2018
Principais stakeholders

Fabricantes, varejistas, especialistas em materiais têxteis, instituições de


STAICU, POP,
ensino, poder público, investidores, designers, conglomerados
2018
de produtos, grandes varejistas, MPEs, consumidores e usuários.
Fonte: elaborado pelo autor com base na análise de conteúdo (2020).

3.3 RESÍDUOS TÊXTEIS NO PÓS-CONSUMO DA INDÚSTRIA DE VESTUÁRIO

Os resíduos têxteis no pós-consumo têm crescido em importância na indústria de


vestuário na medida em que aumentam a frequência de compra, a má qualidade de roupas e
a redução nos níveis de preço (BIRTWISTLE, MOORE, 2007, HU et al., 2014).
Atualmente, a gestão dos resíduos têxteis no pós-consumo vem sendo cada vez mais
adotada nas iniciativas de grandes marcas, estando a reciclagem e a reutilização dentre as
principais estratégias-chave para regeneração dos recursos na cadeira produtiva
(SUGIURA, 2019).
Apesar das alternativas, para o alcance de um modelo econômico circular deve ser
levado em conta o desenvolvimento simultâneo das etapas de coleta, separação e
recuperação para que as operações organizacionais sejam otimizadas e os impactos
ambientais negativos mantidos ao mínimo (DAHLBO et al., 2017).
Tendo em vista os fatores expostos anteriormente, estudos indicam que a indústria
de vestuário deve dar maior atenção aos resíduos de pós-consumo uma vez que os sistemas
atuais desviam grande volume de têxteis usados para aterros sanitários (HVASS, 2014;
ALLWOOD et al., 2008; BIRTWISTLE, MOORE, 2007).
A seguir, será feita a contextualização das etapas de coleta, separação e reinserção
na cadeia produtiva, com enfoque em reciclagem e reúso, dos atuais modelos identificados
na literatura e dos principais stakeholders envolvidos nas atividades de pós-consumo.
71

3.3.1 Caracterização das etapas de gestão de resíduos têxteis no pós-consumo

Atualmente, a maneira como se projeta, se produz e se usa roupas têm


desvantagens que estão se tornando cada vez mais claras. Os princípios da economia
circular possuem o potencial para transformar a forma como os têxteis são produzidos,
consumidos e eliminados (STAICU, POP, 2018).
Considerando as características dos produtos de vestuário, têm surgido exemplos
de sistemas de logística reversa ou cadeias de fornecimento em ciclo fechado desenvolvidos
com o objetivo de melhorar a sustentabilidade dos itens descartados (HU et al., 2014;
LARNEY, VAN AARDT, 2010; LEAL FILHO et al., 2019). A necessidade de uma gestão
efetiva de resíduos de vestuário é motivada pelo custo crescente de produção, diminuição
dos recursos naturais e da disponibilidade de espaço em aterros sanitários (LARNEY, VAN
AARDT, 2010).
O estudo de Palm et al. (2014) aborda as diferentes formas de reinserção de têxteis
no pós-consumo em países nórdicos dividindo as etapas em coleta, separação, reutilização e
reciclagem de têxteis. A Figura 10 mostra como funciona o atual modelo de retorno dos
itens de vestuário no pós-consumo à cadeia produtiva.

Figura 10 - Fluxo das iniciativas de gestão de resíduos têxteis no pós-consumo

Fonte: elaborado pelo autor (2019), com base em Bukhari et al. (2018) e Palm et al. (2014).
72

Em síntese, a coleta indica o acúmulo dos itens de vestuário no pós-consumo, a


separação significa decidir o que fazer com cada produto e, por fim, a reinserção indica o
envio dos produtos ao desejado destino (BEH et al., 2016).

3.3.1.1 Descarte

O descarte é geralmente dividido em quatro comportamentos possíveis: descarte


comum, doação (a familiares ou caridade), revenda a terceiros ou a brechós (HA-
BROOKSHIRE, HODGES, 2009). O estudo de Momberg et al. (2012) identificou que os
consumidores possuem substancial conhecimento dos problemas ambientais recorrentes na
indústria de vestuário.
Todavia, o estudo (2012) observou que as práticas e atitudes de descarte podem
variar conforme a região e que o governo e grandes varejistas podem desempenhar
importante papel na divulgação dos meios de descarte de produtos pós-consumo. Por fim,
os modos de descarte devem privilegiar tanto os consumidores mais engajados quanto os
consumidores mais preocupados com a praticidade da atividade (como por exemplo, locais
de coleta mais próximos) (MOMBERG et al., 2012).

3.3.1.2 Coleta

Nas etapas de coleta é realizada a transferência do item de vestuário para o centro


de separação. A coleta de resíduos têxteis no pós-consumo geralmente é feita a partir de
diferentes canais tendo os coletores a atribuição de definirem e organizarem o modo como
irão comunicar, buscar e retirar os itens de vestuário para transportar esses produtos de
forma independente aos centros de triagem (PALM et al., 2014; FRANCO, 2017).
Na Dinamarca, as coletas são realizadas através de sistemas de captação realizados
por ONGs como a Cruz Vermelha, instituições filantrópicas e empresas do setor privado
(como a Trasborg que coleta 7.000 toneladas ao ano para reciclagem) (PALM et al., 2014).
Na França, há mais de 200 organizações cadastradas, entre organizações de caridade e
varejistas, para coletar e separar resíduos têxteis no pós-consumo, sendo que grande parte
das roupas coletadas é gerenciada por organizações sem fins lucrativos (BUKHARI et al.,
2018).
73

Em resumo, as atuais iniciativas de coleta devem ser adequadas aos diversos


cenários existentes e aos benefícios e barreiras existentes dentro de cada possibilidade
(PALM et al., 2014). Conforme o estudo (2014), a expansão das iniciativas de coleta pode
vir a gerar grandes fluxos têxteis, que possibilitam elevados níveis de contaminação, devido
à maior manipulação e contato dos materiais no transporte e triagem, fazendo com que o
custo de produção seja eficiente, mas podendo prejudicar sua regeneração na cadeia de
valor.

3.3.1.3 Separação

Uma vez coletados, os têxteis são separados e classificados de maneira


sistemática, dependendo de determinados critérios que definirão o destino do material e os
processos pelos quais os têxteis serão reprocessados (HU et al., 2014; BUKHARI et al.,
2018). Os fluxos de separação após a coleta podem ser direcionados conforme os canais
escolhidos pelo consumidor após uso do item de vestuário (revenda ou doação).
As questões principais quanto ao modelo de negócio de ONGs incluem a
competição por produtos descartados, o mix de mercadorias, a profissionalização do
pessoal, o planejamento da localização e o modo como as organizações transformam os
produtos doados, sendo a arrecadação de fundos seu objetivo principal (BRACE-GOVAN,
BINAY, 2010).
Por sua vez, no que se refere à reciclagem, a triagem e as tecnologias envolvidas
nos processos sofrem com o elevado custo e a ineficiência do sistema, ocasionando numa
limitação de mercados de têxteis e roupas recicláveis (usualmente downcycling)
(BUKHARI et al., 2018).
Já no caso do varejo de segunda mão, contrastando aos tradicionais modelos de
varejo, os clientes são os principais parceiros e fornecedores desses estabelecimentos. Essas
lojas mantêm lucros mínimos, dado um modelo de negócios que normalmente engloba o
compartilhamento de lucros com os clientes (GOPALAKRISHNAN, MATTHEWS, 2018).
As principais questões quanto ao modelo de negócio do varejo de segunda mão envolvem
preços acessíveis e identidade da marca (foco em grandes acervos ou em marcas
renomadas) (BEH et al., 2016).
74

3.3.1.4 Reúso

Os processos de reúso lidam com a coleta e separação de itens de vestuário pós-


consumo que usualmente não apresentam nenhum tipo de defeito, podendo ser usados após
triagem básica, lavação, acabamentos básicos ou restauração. Desse modo, as roupas
podem ser convertidas em uma forma utilizável por revenda direta, práticas de upcycling
(funções do item mantidas e aprimoradas) ou downcycling (funções inferiores ao item,
como tapetes e panos de chão) (PAL, PARAS, 2018; HAN et al., 2017).
A Figura 11 apresenta o modo como ocorre o processo de reúso de calças jeans
descartadas com aplicações de upcycling. É possível destacar que as matérias-primas nesse
caso antecedem ou estão sendo realizadas em conjunto com o projeto de criação, tendo em
vista que o fabricante precisa ter noção de quais recursos (calças jeans descartadas) terá
disponível para criação.

Figura 11 - Fluxo das iniciativas de coleta, separação, reúso e reciclagem de resíduos


têxteis no pós-consumo

Notas: o exemplo acima descreve o processo de upcycling de jeans podendo ser aplicado a outros têxteis
Fonte: elaborado pelo autor, com base em Han et al. (2016).
75

3.3.1.5 Reciclagem

A reciclagem de têxteis envolve a conversão dos materiais considerados resíduos


(itens de vestuário regenerados em tecidos e fibras) em um novo produto (PALM et al.,
2014). A reciclagem pode ser dividida com base nas técnicas de transformação (química e
mecânica) ou no tipo de resíduo (transformação em fibra ou transformação em fios)
(LARNEY, VAN AARDT, 2010; PALM et al., 2014).
O processo de reciclagem envolve a coleta dos têxteis recolhidos e classificados
com base nas suas condições e nos tipos de fibras utilizados. Os itens de pós-consumo
utilizáveis são vendidos ou doados, os demais itens são triturados e transformados em fibra
ou têxtil mediante os seguintes procedimentos.
Inicialmente passam pela usinagem (por exemplo, a separação dos itens têxteis por
cores é importante para evitar a geração de poluentes e permitir a economia de energia),
seguindo para trituração e extração (dependendo do uso final é necessário incorporar fibras
virgens), cardagem (limpeza e mistura de fios) e fiação, sendo as duas últimas etapas as
mesmas realizadas no modelo tradicional de vestuário para transformação da fibra em fio
(LEAL-FILHO et al., 2019; NOMAN et al., 2013).

3.3.2 Principais stakeholders envolvidos na gestão de resíduos têxteis no pós-


consumo

A necessidade de uma economia circular está se tornando amplamente abordada


por empresas, sociedade, governos, mídia e pesquisadores, de modo a alcançar um
crescimento sustentável (GOVIDAN, HASANAGIC, 2018). Segundo Patora-Wysock e
Sulkowski (2019), qualquer prática ambiental irá incluir diversas atividades desenvolvidas
coletivamente, com foco no uso de recursos e interações de modo holístico, na busca pela
inovação e respostas às demandas da sociedade.
Embora não tenha sido encontrada literatura que abordasse especificamente os
stakeholders nas etapas de coleta, separação e reinserção na cadeia produtiva da indústria
de vestuário, é possível observar que, em sua maioria, as atividades envolvem a relação
direta entre a empresa que irá reutilizar ou reciclar os itens de vestuário (seja o varejista,
fabricante ou empresa secundária) (KEITH, SILIES, 2015; HAN et al., 2017), os designers
(YASIN, 2017; BINOTTO, PAYNE, 2017) consumidor e usuário (MCQUEEN et al., 2017,
76

VEHMAS et al., 2018; KIM, 2019), as ONGs (BRACE-GOVAN, BINAY, 2010; HU et al.,
2014) e a gestão pública (DOMINA; KOCHI, 1997; LARNEY, VAN AARDT, 2010;
BURTON, 2018).
Sendo assim, nessa dissertação, os principais stakeholders que serão analisados
serão: consumidores e usuários, ONGs, designers, gestão pública e empresas. A seguir
apresenta-se uma descrição desses agentes envolvidos nos processos de coleta, separação,
reúso e reciclagem de itens de vestuário no pós-consumo.

3.3.2.1 Consumidores e usuários

O descarte e as possibilidades de reúso de itens de vestuário são altamente


dependentes das escolhas feitas pelo consumidor (MCQUEEN et al., 2017). Práticas de
descarte mais sustentável podem ser entendidas como reflexo do estilo individual do
usuário, cabendo as empresas potencializar sustentabilidade e moda, ao mesmo tempo em
que facilita o consumidor uma sensação de bem-estar não encontrado no consumo de
vestuário tradicional (BLY et al., 2015).
Há também evidências de que os consumidores possuem motivação a estender a
durabilidade de suas roupas em nome da sustentabilidade através de serviços de reparo ou
upcycling (KEITH, SILIES, 2015; KIM, 2019). Além disso, Ritch (2015) também indica
que características sócio demográficas dos participantes influenciam nos comportamentos
de uso sustentável de itens de vestuário pós-consumo.
O estudo de Burton (2018) identificou os três principais fatores que norteiam o
modo de descarte de itens de vestuário no pós-consumo. O Quadro 14 indica os principais
fatores explicitados por Burton (2018) com o quarto fator indicado por Bukhari et al.
(2018) que relacionou a influência do papel das ações de divulgação por empresas e ONGs
na correta destinação dos resíduos têxteis pós-consumo.

Quadro 20 - Critérios para correto descarte de itens de vestuário pós-consumo


Critérios Descrição Referência
Práticas de comunicação sobre descarte e uso
Comunicação ao consciente pode incentivar os consumidores a BUKHARI et al.,
consumidor doarem suas roupas em espaços especializados para 2018; BURTON, 2018
reúso ou reciclagem
Continuação
77

Quadro 21 - Critérios para correto descarte de itens de vestuário pós-consumo - Conclusão


Critérios Descrição Referência
Características BURTON, 2018;
Estilo de vida e personalidade do usuário
pessoais CHOO et al., 2014
Condições do Composição final do produto (possui defeitos,
BURTON, 2018
produto falhas)
Características sócio demográficas (valores sociais RITCH, 2015; BLY et
Fatores
e condições financeiras), conveniência para al., 2015; BURTON,
contextuais
descarte, afeição ao item de vestuário 2018
Fonte: elaborado pelo autor com base na análise de conteúdo.

3.3.2.2 ONGs

As ONGs revendem ou transformam produtos doados ou descartados por meio de


processos de coleta, seleção e reapresentação (BRACE-GOVAN, BINAY, 2010).
Conforme o estudo de Brace-Govan e Binay (2010), as peças de vestuário que foram
eliminadas através de doação podem ser redesenhadas ou apenas passarem por
procedimentos de limpeza, e depois compradas ou doadas aos consumidores com as verbas
destinadas aos objetivos da causa.
Segundo Hu et al. (2014), o censo de compartilhamento e de reciclagem do
consumidor é um forte facilitador para doações à caridade. Em alguns países é comum que
existam coletores distribuídos em áreas públicas ou em empresas parceiras dos projetos que
são destinadas a uma ou mais ONGs definidas para coletar, classificar e enviar aos
necessitados na comunidade ou vendidos por meio de lojas que gerem capital para financiar
problemas sociais (HU et al., 2014).
As ONGS são as instituições que dominam as atividades globais na coleta de
têxteis, abastecendo mercados internos (doação e varejo de segunda-mão) e mercados
estrangeiros (PALM et al., 2014).

3.3.2.3 Designers

O papel do designer na indústria de vestuário é coordenar e transformar o projeto


na prática a partir de determinados recursos. Atualmente, muitos designers têm valorizado e
mantido os resíduos têxteis em seus trabalhos, utilizando os desperdícios (do pré e pós-
78

consumo) como matéria-prima para novas concepções nas quais os têxteis são regenerados
dentro do processo produtivo (BINOTTO, PAYNE, 2017).
Conforme Yasin (2017), o alcance da redução de resíduos é possível através de
roupas que foram projetadas meio de recursos especializados e exclusivos (desenho,
modelagem e tecidos utilizados) e elevados padrões éticos garantidos desde o início. A
importância da customização e das adaptações dão margem e flexibilidade ao pequeno
produtor frente às grandes marcas, que podem considerar difícil de ajustar a partir de seus
modelos de negócios e hábitos estabelecidos (HAN et al., 2016).
Independente do uso de têxteis pré ou pós-consumo, existem limitações que o
designer deve considerar ao trabalhar com esses materiais, como o tipo da fibra, a
padronização (comprimentos e características distintas dos têxteis coletados), sendo que
para o sucesso no uso dos materiais, devem ser estabelecidas diferentes estratégias de
fabricação (KEITH, SILIES, 2015).

3.3.2.4 Poder Público

Na indústria de vestuário, a legislação e os regulamentos são relativamente


inadequados, e as leis atuais relevantes para a fabricação e descarte envolvem apenas
alguns elementos (como as restrições de emissão de carbono e poluição de águas
remanescentes) (YANG et al., 2017).
Atualmente, a França é o único país a implementar o EPR de produtos de vestuário
no pós-consumo e a política contribuiu para um aumento de três vezes nas taxas de coleta e
reciclagem de têxteis pós-consumo desde 2006, podendo atualmente chegar a 90% de itens
coletados, dos quais 50% podem ser diretamente reutilizados (BUKHARI et al., 2018).
No Brasil, através da Lei n. 12.305 de 2010, foi instituída a Política Nacional de
Resíduos Sólidos (PNRS) que impõe obrigações aos empresários, governos e aos cidadãos
no gerenciamento dos resíduos (BRASIL, 2010). A nova legislação foi apoiada na
responsabilidade compartilhada onde todos os stakeholders possuem responsabilidade para
a gestão dos resíduos sólidos urbanos.
Ao Poder Público compete prover os meios para realizar as atividades de coleta, ao
consumidor (pessoa física) cabe a devolução dos resíduos, as empresas (fabricantes,
distribuidores e comerciantes varejistas) compete o investimento em tecnologia que
beneficiem a reutilização, reciclagem e redução de resíduos e na rastreabilidade dos
79

materiais utilizadas que facilitem o processo de coleta, separação e reinserção na cadeia


produtiva (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDUSTRIA, ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DA INDÚSTRIA TÊXTIL E DE CONFECÇÃO, 2014).
A logística reversa no Brasil, conforme a PNRS, institui que os consumidores
precisam proceder à devolução dos materiais aos varejistas ou distribuidores, e deste canal
é encaminhado aos fabricantes, que assumem a responsabilidade pela destinação adequada
dos resíduos.
No caso dos resíduos têxteis, a principal dificuldade do setor em reciclar os itens de
vestuário está na falta de correta coleta e separação dos resíduos, sendo mais vantajoso para
a indústria importar o material têxtil para reciclagem de outros países tendo em vista que o
modo de separação é realizado de maneira correta (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA
INDUSTRIA, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA TÊXTIL E DE
CONFECÇÃO, 2014).
Na França, o sistema de logística reversa para têxteis se iniciou em 2006 sob
responsabilidade do Poder Público e passou a ser gerenciada por uma empresa privada sem
fins lucrativos em dezembro de 2008, constituída por 29 associados, organizados em cinco
grupos, sendo eles: (a) grandes varejistas gerais (exemplo: Carrefour); (b) grandes
varejistas de vestuário (exemplo: H&M); (c) vendas direta e online (Exemplo: Damart); (d)
fabricantes e conglomerados da moda (Exemplo: LVMH); (e) associações e sindicatos
estaduais e federais (Exemplo: Union des Industries Textiles) (FRANÇA, 2008; BUKHARI
et al., 2018).
Conforme Alencar et al. (2015), a responsabilidade compartilhada dos itens de
vestuário irá depender da forma como as atividades e responsabilidades dos diferentes
atores (empresas, Poder Público, associações e consumidores) são estabelecidas e
organizadas.
Desse modo, para que ocorra a efetiva gestão de itens de vestuário no pós-
consumo, a PNRS orienta o modo para estruturação e implantação de sistemas de logística
reversa por parte dos fabricantes, importadores, distribuidores e varejistas, dentre eles os
acordos setoriais (BRASIL, 2010; ALENCAR et al., 2015).
Os acordos setoriais vêm como ferramentas que auxiliam a compor as diferentes
responsabilidades e recursos para logística reversa de acordo com as particularidades de
cada cadeia produtiva, de modo a se adequar às condições regionais, que podem ser
especificados por legislação estadual e municipal (como o plano diretor), evitando práticas
80

dispersas entre os diferentes elos da mesma indústria ou em comparação a outros setores


(CNI, ABIT, 2014).

3.3.2.5 Empresas

Quando as marcas se tornam responsáveis por roupas e produtos têxteis pós-


consumo, elas podem se tornar mais interessadas em criar produtos com maior
durabilidade, sendo o EPR umas das medidas que fomentam a coleta e a responsabilização
por parte do fabricante sob os produtos comercializados (BURTON, 2018).
Na França, a política de EPR de têxteis no pós-consumo estabeleceu uma meta de
coleta de 50% (cerca de 300.000 toneladas equivalente a 4,6 kg/pessoa-ano) para as vendas
anuais de roupas, itens de cama, mesa e banho e calçados, com índice de recuperação de
95% para os têxteis coletados (BUKHARI et al., 2018).
Para Bel et al. (2016), ainda que não seja possível alternativas de cadeias reversas
em circuito fechado para coletar itens de vestuário e reciclar suas partes utilizáveis em
grandes escalas, modelo de negócios complementares que permitem a realização à geração
de valor igual ou superior aos têxteis recolhidos são uma alternativa viável para os itens
pós-consumo.
Aliado a isso, medidas auto regulatórias também têm surtido efeito na indústria de
vestuário, conforme evidenciado pelo programa de coleta e reciclagem lançado em 2016
pela varejista global H&M, com foco no processo de reciclagem química para itens de
vestuário com fibras misturadas, na qual é relevante para a indústria, já que muitas peças de
vestuário consistem em materiais misturados (LARSSON, 2018; BURTON, 2018).

3.3.3 Critérios de análise da gestão de resíduos têxteis no pós consumo frente à


economia circular

Atualmente, há uma diversidade de iniciativas de coleta, separação, reutilização e


reciclagem de itens de vestuário descartados. Segundo Burton (2018), é preciso
compreender quais os critérios levados em consideração pelos tomadores de decisão a
decidirem por utilizar determinada iniciativa. O autor (2018) ainda indica que apenas
compreendendo como cada iniciativa é escolhida que se pode inferir a correta
aplicabilidade dessas iniciativas num contexto mais amplo (tipo de modelo econômico).
81

O principal ponto quando discutidas as iniciativas de gestão de resíduos têxteis


numa perspectiva circular é sua adequação aos princípios do modelo econômico quanto à
preservação e controle do uso de recursos naturais finitos (critérios ambientais), a
otimização no uso de recursos em seu mais alto nível de utilidade (critérios econômicos) e a
fomentar um sistema eficaz que permita retirar possíveis externalidades negativas (critérios
sociais) (ELLEN MACARTHUR FOUNDATION, 2017; PALM, 2014).
Para Leal-Filho et al. (2019), tais critérios possibilitam não apenas indicar o modo
de escolha como também a performance de tal iniciativa num contexto ambiental,
econômico ou social. Segundo Savageau (2011), os critérios podem ser inesgotáveis mas se
padronizados possibilitam a comparação das iniciativas aplicadas em contextos (tipo de
empresa) e regiões distintas.
Além disso, Ellen MacArthur Foundation (2017) também defende tal análise num
contexto regional, tendo em vista que as taxas de coleta e o tipo de iniciativa adotado
variam significativamente, comparando-se regiões e países. Para Burton (2018) uma
investigação regional aprofundada permite mensurar com maior assertividade o
desempenho ambiental, econômico ou social de determinada iniciativa e comparar os
resultados obtidos entre as diferentes empresas analisadas.
Em relação ao contexto ambiental, os critérios identificados dizem respeito às
características de recursos hídricos, energia elétrica e, principalmente, a utilização dos
recursos coletados e a geração indireta de novos resíduos durante os processos avaliados. Já
o aspecto econômico engloba os critérios que dizem respeito às características de
implementação e operacionalização das iniciativas.
Ainda em relação ao contexto econômico, destacam-se os critérios que abordam
questões relacionadas à demanda (quantidade) de resíduos têxteis, a utilização dos recursos
coletados e a geração indireta de novos resíduos durante os processos avaliados.
Por fim, o contexto social engloba os critérios político-institucionais referente a
colaboração entre ONG, empresas e estrutura política municipal e/ou estadual, e aos
arranjos institucionais que favorecem a introdução de grupos minoritários para o ambiente
de trabalho como, por exemplo, projetos de inclusão de idosos em atividades de
remanufatura de materiais têxteis (DISSAMAYAKEA, SINHA, 2015).
O Quadro 15 traz os critérios identificados na literatura para análise das iniciativas
de separação, coleta, reúso e reciclagem.
82

Quadro 22 - Critérios para análise de iniciativas de separação, coleta, reúso e reciclagem

Contexto Critérios Definição


Custo de mão-
Considera o custo de mão de obra qualificada para a iniciativa
de-obra
pois exige conhecimento técnico específico
qualificada
Flexibilidade
na aplicação
Entende a necessidade de flexibilidade na aplicação dos
dos recursos
recursos, devido ao ambiente dinâmico, complexo e
financeiros,
imprevisível em que as iniciativas estão inseridas
materiais e
humanos
Econômico Padronização Mensura a existência de regras/procedimentos coerentes para
nos processos as organizações de coleta, separação, reúso e reciclagem
Maturidade do Mensura a maturidade do negócio no que define as atividades
negócio estratégica, gerenciais e operacionais
Tecnologia Identifica a tecnologia envolvida na iniciativa considera as
envolvida automações realizadas para aprimoramento dos processos
Mensura o custo de transporte com relação a capacidade
Custo de (km/t) para coletar os resíduos considerando a máxima
transporte vantagem econômica para o transporte em relação a
localização das centrais de separação e tratamento
Auto- Considera a destinação dos recursos financeiros para a
sustentabilidade execução da iniciativa, o montante deve ser suficiente para
da organização alcançar os resultados a que atividade se propõe
Econômico
Capacidade de
Considera a quantidade de itens de vestuário que a iniciativa é
tratamento dos
capaz de coletar, separar, reutilizar ou reciclar
resíduos têxteis
Consumo de Avalia o consumo de energia elétrica utilizada para a
energia elétrica iniciativa desenvolvida
Consumo de Avalia o consumo de recursos hídricos utilizada para a
agua iniciativa desenvolvida
Suficiência dos
Considera a utilização dos itens de vestuário em sua totalidade
Ambiental recursos
melhorando a economia de escala
coletados
Geração de Avalia a geração de subprodutos e/ou descartes de produção
resíduos finais encaminhados para aterro sanitário
Rastreabilidade Considera se a iniciativa possibilita a identificação e retorno
final do item posterior do item a cadeia produtiva
Parceria com
cooperativas, Considera e priorização de parcerias com cooperativas,
Social
associações e Associações e Consórcios nas regiões onde existem
consórcios
Continua
83

Quadro 15 - Critérios para análise de iniciativas de separação, coleta, reúso e


reciclagem - Conclusão

Contexto Critérios Definição

Disponibilidade
de participação Considera e prioriza parcerias com grupos vulneráveis nas
de grupos regiões onde existem
Social vulneráveis
Segurança e Considera iniciativas que priorizem a integridade física e
saúde do mental do funcionário no desempenho de suas atividades na
trabalhador empresa
Fonte: elaborado pelo próprio autor com base na literatura, 2020
Nota: o Apêndice I apresenta qual (ais) autores citaram determinado critério no quadro acima.

Uma das principais características da produção têxtil é sua demanda por grandes
quantidades de energia e água (FRANCO, 2017). Numa concepção circular, isso infere em
potencial insuficiência do sistema em lidar com a dependência desses recursos e,
possivelmente, tornar a iniciativa não viável do ponto de vista ambiental (FISCHER,
PASCUCCI, 2017).
A literatura também discute sobre a suficiência dos recursos coletados, ou seja, para
que seja possível a adoção da iniciativa os recursos inseridos novamente na cadeia
produtiva são ou não suficientes para completar o processo. O estudo de Palm et al. (2014),
compreende que, embora possa ser difícil que os recursos coletados sejam suficientes para
adoção de determinada iniciativa, eles devem ser a principal matéria-prima da fabricação,
cabendo ao projetista o conhecimento para adequar apenas os insumos compulsoriamente
necessários para finalização do projeto.
Além disso, se objetiva que os recursos inseridos novamente mantenham-se
circulando dentro da cadeia produtiva. Desse modo, é importante que a geração de resíduos
durante a iniciativa seja minimizada a partir do planejamento e controle das atividades
desenvolvidas. Para Noman et al. (2013), a geração de resíduos está diretamente atrelada a
mão-de-obra envolvida no processo.
Sendo assim, o custo de mão-de-obra qualificada é algo a ser considerado tendo em
vista que as iniciativas ainda operam de maneira artesanal e a frequente mudança de
funcionários pode dificultar na adoção de uma rotina ineficiente (PALM et al., 2014;
NOMAN et al., 2013).
84

A baixa padronização atinge principalmente as iniciativas de coleta e separação


(FRANCO, 2017; BUKHARI et al., 2018). Além disso, por ser uma área recente e com
diferentes peculiaridades, é necessário que as iniciativas possuam alto grau de flexibilidade
para aderirem a possíveis mudanças (NOMAN et al., 2013).
Essas mudanças impactam mais as empresas que ainda estão iniciando suas
atividades ou ainda possuem suas atividades de maneira menos estruturada (HU et al.,
2014). A expectativa é que as empresas possam criar medidas que possibilitem que a saúde
financeira do negócio seja impactada por possíveis ações externas as iniciativas
desenvolvidas.
Ocorre ainda discussões acerca da necessidade de viabilizar a logística entre as
etapas da gestão de resíduos têxteis. Nesse caso, os principais pontos destacados são a
distância entre os pontos de coleta e o arranjo físico necessário para o tratamento dos itens
de vestuário separados (PALM et al., 2014).
Desse modo, conforme entendimento de Bukhari et al. (2018), existe a necessidade
de entendimento dos custos envolvidos nos processos logísticos e arranjo físico tendo em
vista que cada iniciativa possui limitações de quantidade para recebimento e tratamento dos
itens de vestuário coletados.
Não obstante, cabe observar a possibilidade de integrar projetos sociais com as
iniciativas de gestão de resíduos têxteis. Para Hu et al. (2014), as iniciativas de doação de
roupa são um exemplo da possibilidade de auxiliar ONGs na geração de receita, como
brechós beneficentes e auxiliar a manter a circularidade dos itens de vestuário em seu mais
alto nível. Isso ocorre devido ao alto engajamento e possível fácil acesso do consumidor
aos pontos de coleta (HU et al., 2014).
No entanto, a maior preocupação em casos de doação ou outros projetos que
buscam a revenda de itens de vestuário secundários é a sua falta de rastreabilidade, ou seja,
a não possibilidade de identificar e retornar o item de vestuário a cadeia produtiva
(NOMAN et al., 2013, MEJIAS et al, 2019).
Além disso, Marques et al. (2019) pontua o contexto social de obtenção dessas
roupas, isto é, o acesso democrático da comunidade local à esse espaço de troca mais do
que um tipo de destinação final utilizada pela indústria para descarte de seus itens
inutilizados.
Ainda no contexto social, Akbar e Ahsan (2019) entendem que embora tenha
havido avanços na consecução de metas de sustentabilidade, incluindo em contexto social,
85

existem sérias limitações para garantir uma verdadeira melhoria contínua em iniciativas que
promovam a saúde e segurança do trabalhador. O estudo (2019) apresentou que métodos
que garantam a integralidade física e mental dos funcionários são afetados por
preocupações com custos de produção, pressão de compradores (principalmente entre
varejistas e fabricantes) e capacidade da fabrica (espaço da fabrica por número de
funcionários).
Por fim, cabe ressaltar que os critérios ambientais, econômicos e sociais
identificados foram selecionados de forma a serem genéricos o bastante para serem
analisados na perspectiva de qualquer iniciativa de gestão de resíduos têxteis. No entanto,
aspectos específicos podem ser acrescentados em análises mais aprofundadas, alinhadas à
cada situação específica.

3.4 PRACTICE-BASED VIEW (PBV)

A análise de práticas é discutida em um artigo seminal de Pentland (2011), que


indica que tal análise deve levar em consideração determinados critérios de performance
(ex.: financeiros), permitindo identificar variações entre as diversas formas de sua aplicação
e propor melhorias a partir daquela rotina já estabelecida e consolidada.
Ainda conforme Pentland (2011), o surgimento das teorias baseadas na prática
garante inferir a desempenho dessas iniciativas a partir de indicadores pré-definidos. Dentre
essas teorias, existe a Practice-Based View (PBV) que busca compreender quais empresas
utilizam essas práticas, para discutir o impacto de tais técnicas no desempenho da empresa
em suas atividades (BROMILEY, RAU, 2016).
Entretanto, tradicionalmente, pesquisas que tenham relação com sistemas
produtivos ou cadeia de suprimentos são baseadas no Resources-Based View (RBV)
(BRÖMER et al., 2019). Por definição, a RBV explica como as empresas podem obter
vantagem competitiva duradoura com recursos (ex.: ativos da organização, processos
organizacionais) que as capacitam a conceber e programar estratégias que melhoram sua
eficiência e eficácia (CARTER et al, 2017; BRÖMER et al., 2019).
Essa teoria se distingue, dentre outras perspectivas estratégicas, pelos nível de
análise intra-organizacional. De acordo com Carter et al. (2017), intra-organizacionais são
atividades ou conjuntos de atividades que empresas executam individualmente, enquanto
86

perspectivas interorganizacionais ampliam o foco para uma perspectiva mais ampla que
abrange várias organizações.
Assim como a RBV, a PBV se concentra principalmente no nível intra-
organizacional. Contudo, a RBV explica a vantagem competitiva de uma empresa por
recursos específicos, enquanto a PBV explica o desempenho de uma empresa a partir de
práticas conhecidas e acessíveis que as empresas (possam) executar (BROMILEY, RAU,
2016).
Essencialmente, a prática é definida como sendo uma atividade ou um conjunto dela
que empresas podem executar e são imitáveis sendo passíveis de transferência para outras
organizações (BROMILEY e RAU, 2014). Para os autores (2014), é a partir da
variabilidade na aplicação dessas práticas que se pode adequar e aprimorar as atividades já
realizadas, para que de fato seja promovida uma mudança no atual modo de operação.
Dessa forma, uma análise fundamentada na PBV busca explicar como práticas
desenvolvidas numa firma podem ser aplicáveis em outras empresas ao longo de uma
cadeia de suprimentos para contribuir com melhorias de desempenho (CARTER et al.,
2017). Esse desempenho então é explicado por essas atividades conhecidas e acessíveis
(práticas) e tornam-se a variável dependente de estudos nessa corrente teórica
(BROMILEY, RAU, 2016).
Por ser um constructo multidimensional, o desempenho podem ser pensado de
diferentes maneiras, desde um constructo mais abrangente como desempenho operacional
ou organizacional da organização, até constructos menos agrupados resultados da adoção
por nível ou unidades de negócio (BRÖMER et al., 2019; BROMILEY, RAU, 2016).
Outro ponto importante é que não necessariamente a PBV substitui a RBV, mas a
complementa, tendo em vista que a prática abordada pela PBV trata do compartilhamento e
absorção de iniciativas similares enquanto na analise da RBV as ações ocorrem em um
ambiente isolado e fortemente inimitável (BROMILEY, RAU, 2016).
Em um artigo que amplifica a compreensão acerca da PBV, Jarzabkowski et al.
(2016) entende que se não for levado em consideração o contexto no qual as práticas estão
inseridas a análise pode possuir um viés tendencioso, ou seja, o desempenho final é restrito
puramente a análise das práticas, atribuindo apenas efeito dessas quando, na verdade,
podem ser atribuídos a outros fatores.
Para Carter et al (2017), é necessário estender ao nível interorganizacional de
análise, tanto em termos de práticas quanto de desempenho. No momento em que essa
87

dissertação traz a perspectiva dos agentes envolvidos nesse processo, preenche-se, ainda
que de maneira qualitativa, a abrangência da análise e retira o possível viés que atribui o
efeito do desempenho apenas às iniciativas.
Esse entendimento vai de encontro com Brömer et al. (2019). Segundo os autores
(2019), considerar unicamente uma empresa-focal, considerando-se que as interações entre
empresas na rede de fornecedores e os recursos transferidos entre um elo da cadeia para
outro interferem no desempenho analisado.
Além do que, Jarzabkowski et al. (2016) também indica a necessidade de investigar
as maneiras com que essas práticas são desenvolvidas. Essa outra lacuna também será
elucidada na etapa qualitativa com exemplos de aspectos práticos que possibilitaram
identificar os diferentes meios e instrumentos que potencializam a realização dessas
iniciativas de gestão de resíduos têxteis.
Com base nesta discussão teórica e levando-se em consideração a necessidade de
analisar as iniciativas de gestão de resíduos num contexto circular, conforme exposto por
Franco (2017), o PBV será o fundamento teórico dessa discussão. Esse modelo será
construído levando-se em consideração as bases da PBV com os dois pontos defendidos por
Carter et al. (2017) e Jarzabkowski et al. (2016) anteriormente.
A variável dependente será o desempenho da gestão de resíduos das empresas
entrevistas, resultante da adoção de determinadas iniciativas de coleta, separação e
reinserção de itens de vestuário no pós-consumo. As variáveis exploratórias serão as
iniciativas (práticas) sobre as quais os entrevistados possuem conhecimento e propriedade
de discussão.
A questão-chave será discutir o que pode explicar as diferenças de desempenho
entre as diferentes gestões de resíduos analisadas, considerando além das práticas os pré-
requisitos de recursos e atores que, conforme Jarzabkowski et al. (2016), possibilita inserir
fatores que excedem os limites da empresa.
88

4 ANÁLISE DE INICIATIVAS PARA GESTÃO DE RESÍDUOS TÊXTEIS NO


PÓS-CONSUMO DA INDÚSTRIA DE VESTUÁRIO NO CONTEXTO DA
ECONOMIA CIRCULAR

Este capítulo apresenta os resultados utilizados para responder os objetivos


endereçados nesta dissertação, os quais tem-se:
(a) Identificar na literatura as atuais iniciativas de coleta, separação, reúso e
reciclagem para gestão de resíduos têxteis no pós-consumo da indústria de vestuário que,
além de atualizar o estado da arte da literatura acerca do tema, justifica o porquê do uso
dessas iniciativas no contexto da Economia Circular;
(b) Identificar os recursos e responsáveis utilizados em cada iniciativa, que
responde com maior robustez como se dá a aplicação prática dessas atividades;
(c) Listar as barreiras e facilitadores para a práxis de iniciativas de gestão de
resíduos têxteis num contexto circular, que analisa principalmente a aderência desse novo
modelo econômico no cenário atual do segmento de vestuário;
(d) Analisar as iniciativas identificadas na literatura a partir de critérios
ambientais, econômicos e sociais pré-definidos junto à experts da indústria que atuem em
MPEs, justificando a pergunta da pesquisa de como os achados teóricos identificados
anteriormente são considerados na prática.

4.1 CARACTERIZAÇÃO DAS INICIATIVAS DE COLETA, SEPARAÇÃO, REÚSO


E RECICLAGEM NA CADEIA PRODUTIVA NA LITERATURA

Inicialmente, será apontada a frequência de ocorrência das iniciativas para gestão


de resíduos têxteis na literatura. O Quadro 16 apresenta a frequência das iniciativas
organizadas por etapas (coleta, separação, reúso e reciclagem) em ordem decrescente de
citações.
Os mais citados na etapa de coleta foram as iniciativas de Ecopontos de caridade,
Brechó e Ecopontos de Reciclagem, enquanto na separação foi a iniciativa de separação
manual dos resíduos têxteis. Nas etapas de reinserção na cadeia produtiva, os mais citados
foram brechó no reúso (17) e Outlets (13).
89

Quadro 23 - Frequência de citação das iniciativas na literatura


Etapas Método Frequência
Ecopontos - caridade 18
Brechó 17
Ecopontos - reciclagem 12
Ecopontos - gestão
municipal 11
Take-Back 10
EPR 6
Coleta
Mercado de pulgas 5
Online 3
Campanhas Específicas 2
Coleta comunitária -
Kerbside - Individual 1
Coleta comunitária -
Kerbside - Empresa 1
Manual 7
Separação Semi-automático 3
Técnologia NIR 3
Varejo de segunda-
mão: Brechó 17
Varejo de segunda-
mão: Outlets 13
Restauração:
Reúso upcycling 7
Restauração:
downcycling 5
Varejo de segunda-
mão: Mercado de
pulgas 5
Mecânica:
Remanufatura 10
Técnicas mistas 9
Técnicas especiais 9
Reciclagem Química 7
Mecânica:
transformação em
fibras 4
Mecânica:
transformação em fios 3
90

O Apêndice H indica quais estudos citaram cada uma das iniciativas abordadas no
Quadro 16. Foi identificada uma maior diversidade de práticas na etapa de coleta (10).
Destaca-se também a agregação das iniciativas de coleta dos resíduos têxteis na discussão
dos estudos sobre as práticas de reúso e reciclagem.
Por exemplo, das 17 pesquisas que abordaram a iniciativa de brechó, todas
trataram de uma ou mais práticas para coletar os itens de vestuário com a finalidade de
reutilização. Conforme Burton (2018), as iniciativas podem coexistir dentro de um mesmo
modelo de negócio e, dessa forma, iniciativas de reinserção do tipo reúso podem fazer
utilização de iniciativas de coleta predominantemente utilizadas por empresas de
reciclagem e vice-versa.
Dos 64 estudos analisados, apenas 7 tiveram ênfase nas etapas de coleta, separação
e reinserção na cadeia produtiva, sendo 3 aplicadas como reúso (brechó e upcycling) e 4 em
reciclagem (ênfase em remanufatura). Além disso, houve também pouca discussão a
respeito das iniciativas de separação dos resíduos têxteis.
As pesquisas que abordaram diretamente a etapa de separação (7 estudos)
entendem que o processo de separação é realizado, na maioria dos casos, de maneira
empírica (PALM et al., 2014), e com alta necessidade de mão de obra qualificada para
manipulação dos itens coletados (BUKHARI et al., 2018).
Por fim, a recuperação térmica (processo de converter resíduos têxteis em energia)
pode ser considerada como uma alternativa também viável do ponto de vista econômico,
contudo, nesse estudo o escopo de sua atividade dar-se-á apenas nos casos em que os
resíduos têxteis não tiverem possibilidade de reúso ou reciclagem.
A seguir serão apresentadas iniciativas de coleta, separação e reinserção na cadeia
produtiva de resíduos têxteis pós-consumo identificadas na literatura. É importante apontar
que no modelo atual, a indústria de vestuário está em um estado de fluxo, já que a
qualidade está reduzindo e os volumes estão aumentando, criando desequilíbrio financeiro
(PALM et al., 2014).
Para Leal Filho et al. (2019), o sucesso na gestão de resíduos inicia-se com os
hábitos (e possível reeducação) no comportamento do consumidor. O correto descarte dos
itens de vestuário para doação ou revenda em lojas de segunda mão envolvem o
conhecimento e entendimento de reciclagem, reúso e sustentabilidade por parte do usuário
(HU et al., 2014).
91

O Quadro 17 apresenta uma breve descrição das iniciativas de coleta abordadas na


literatura, acompanhada dos responsáveis pela aplicação dessa atividade, benefícios e
desvantagens e principais regiões de implementação.
De modo geral, as iniciativas de coleta usualmente são escolhidas pensando nos
responsáveis pela atividade e recursos disponíveis (ex.: FRANCO, 2017; MÉJIAS et al.,
2019) por exemplo, coletas do tipo EPR se assemelham com Ecopontos embora os
recursos, responsáveis e objetivo final do processo sejam diferentes. Sendo assim, nesse
primeiro momento, elas serão classificadas separadamente.

Quadro 24 - Iniciativas de coleta abordadas na literatura

Iniciativa Descrição Responsável Benefício Desvantagem


O processo de coleta pode
ocorrer de duas maneiras:
(1) a gestão pública atua na
coleta dos itens de vestuário
com coletores dispostos em
vias públicas e o serviço é Alto fluxo de
subsidiado por empresas que coleta, risco
atuam e/ou possuem fábrica baixo de
Aumentar a
no país de comercialização; Varejistas, contaminação,
reciclagem dos
Coleta em ou fabricantes baixo custo de
produtos em
sistema (2) as empresas de vestuário de vestuário e implementação,
questão e não
EPR se organizam e formalmente Poder acessível para o
incentivar a
estabelecem um projeto de Público consumidor,
reutilização
coleta aprovado pela gestão adequado para
pública. todos os tipos
Em ambos, deve ser coletado de têxteis
ao menos 50% de todos seus
itens de vestuário, cama,
mesa e banho e calçados
descartados por cada
empresa
Caridade: os coletores são
dispostos na própria
instituição ou com empresas
Sujeito à
parceiras (exemplo: ONG
Ecopontos Baixo custo de depredação e
ecopontos nos (instituições
de coleta implementação furto em áreas
supermercados) para itens de caridade)
públicas
em bom estado (roupas,
cama, mesa e banho),
sapatos e acessórios
Continua
92

Quadro 17 - Iniciativas de coleta abordadas na literatura – Continuação

Iniciativa Descrição Responsável Benefício Desvantagem


Reciclagem: os coletores
são dispostos em vias
públicas, próximos de áreas
Elevada
residenciais e dentro de
quantidade de
supermercados para itens
resíduos para
(roupas, itens de cama, mesa
coletar
e banho) independente do Empresa de Acessível ao
manualmente,
seu estado de uso para serem reciclagem consumidor
sujeito à
vendidos em brechós,
depredação e
doados para instituições de
furto em áreas
caridade, encaminhados para
públicas
reciclagem ou, em último
caso, enviados para
recuperação energética
Take-back: os coletores são
dispostos dentro da loja e as
roupas coletadas são
Utilizar voucher
exclusivamente da marca
de desconto para
própria do varejista. Apenas
promover os
são aceitos se adequados
Certificação da resíduos têxteis
para reutilização em vendas Varejistas e
qualidade do pode gerar um
de outlets ou remodelação fabricantes
Ecopontos produto (uso maior aumento
do item. O consumidor de vestuário
de coleta prolongado) no nível de
entrega o produto a um
compras do que
vendedor que analisa a peça
a circularidade
e indica o coletor de
dos itens
descarte, ao passo que o
consumidor recebe um
voucher de desconto
Caixa coletora municipal:
os coletores podem ser
próprios para itens de
Concorrência
vestuário ou incluídos com
desleal com o
demais materiais para
varejo de
reciclagem. Os itens de Aumento da
segunda-mão
vestuário (independente do reutilização de
devido ao
estado) são encaminhados ao Poder itens de
financiamento
centro de reciclagem e os Público vestuário,
público,
demais processos (limpeza, acessível ao
incerteza quanto
separação e reutilização) são consumidor
à destinação e à
realizados por meio de
rastreabilidade
atividades sociais ou os
dos itens
têxteis podem ser coletados
individualmente por pessoas
que tenham interesse no uso
93

Quadro 17 - Iniciativas de coleta abordadas na literatura – Conclusão

Iniciativa Descrição Responsável Benefício Desvantagem


Os coletores são dispostos ONG
Aumento da Incerteza quanto
nas unidades parceiras da (instituições de
Campanhas reutilização à destinação e à
campanha e permanecem por caridade) ou
específicas de itens de rastreabilidade
um período limitado de Poder Público
vestuário dos itens
tempo ou varejistas
tipo individual: os coletores
Necessário
são dispostos nas áreas
grande
residenciais. Nesse caso, é
quantidade de
comunicado aos moradores Acessível ao
MPE coleta para
da região e coletado os consumidor
compensar o
têxteis (devidamente
transporte
Coleta empacotados) na frente das
despendido
comunitária residências
(kerbside) em parceria com coleta Alto fluxo de Necessário
seletiva: coletores dispostos coleta, grande
nas áreas residenciais e a acessível para quantidade de
MPE e Poder
ação de coleta ocorre por o consumidor, coleta para
Público
empresa terceirizada que adequado para compensar o
busca têxteis não utilizados todos os tipos transporte
nas residências de têxteis despendido
Brechó: os consumidores
disponibilizam as roupas
Aumento da
para seleção e revenda (com
reutilização Margens de
participação nos lucros), MPE
de itens de lucro reduzidas
podendo deixar os itens de
vestuário
Coleta vestuário na loja ou retirados
Individual em sua residência
Mercado de pulgas:
Aumento da
processo de garimpo em
reutilização Margens de
ONGs, Brechós ou usuários MPE
de itens de lucro reduzidas
por itens de vestuário
vestuário
exclusivos e/ou vintages
Necessário
Aumento da
grande
reutilização
Processo de coleta de itens quantidade de
Plataformas Consumidor de itens de
de vestuário em ambiente coleta para
Online e/ou empresas vestuário,
virtual compensar o
acessível ao
transporte
consumidor
despendido
Nota 1: o termo “alto risco de contaminação” refere-se à perda na qualidade dos têxteis devido a manipulação
dos materiais e a sua composição.
Nota 2: a conceituação de cada iniciativa baseou-se em diferentes autores e pode ser consultada no Apêndice
H.
94

O Quadro 18 apresenta as iniciativas de seleção abordadas na literatura. Nessa


etapa, a importância é identificar e selecionar os itens de vestuário coletados em boas
condições para garantir que não sejam vistos como resíduos, mas como recursos dotados de
alto valor de utilização (LARNEY, VAN AARDT, 2010). As iniciativas utilizadas também
irão variar conforme o objetivo final (reúso ou reciclagem) e a quantidade coletada.
Atualmente, a principal iniciativa utilizada na separação de resíduos têxteis
coletados é a seleção manual, em especial devido à dificuldade em realizar o rastreamento
dos materiais utilizados (PALM et al., 2014). Conforme Nayak et al. (2019), a separação
pode ocorrer em paralelo a coleta, como no caso de garimpos em mercados de pulgas e
brechós beneficentes.
A literatura ainda entende que os modelos semiautomáticos (ainda pouco
utilizados) são viáveis quando pensados no tempo total de separação, redução de mão-de-
obra qualificada e condições de trabalho (ex.: estresse e acidentes de trabalho) (AKBAR,
AHSAN, 2019; NAYAK et al., 2019).
Por fim, conforme observado por Palm et al. (2014), a tecnologia NIR já é
aplicada para separação de plástico e plástico misturado a outros materiais, entretanto, sua
aplicação em têxteis ainda é incipiente devido às complexas misturas de fibras e aditivos
que tornam a triagem mais complexa do que outros materiais.

Quadro 25 - Iniciativas de separação abordadas na literatura


Principais
Método Descrição Beneficio Desvantagem regiões de
implementação
A triagem inicial ocorre
mesmo antes do lote chegar à
instalação de
reúso/reciclagem para pré- Alta
selecionar os têxteis. Os itens disponibilidade Alto custo de
pré-selecionados sao de itens para implementação,
Manual direcionados ao centro de varejo de Exigente Global
triagem para separação segunda-mão, condições de
manual dos elementos para baixo risco de trabalho
reinserção (reúso ou contaminação
reciclagem) seguindo alguns
parâmetros de ordenação (ex.:
tipo, cor e condição do têxtil)
Continua
95

Quadro 18 - Iniciativas de separação abordadas na literatura – Conclusão


Principais
Método Descrição Beneficio Desvantagem regiões de
implementação
A triagem inicial
funciona de forma similar
à separação
manual. Assim que os
itens pré-selecionados
Reduz os
chegam ao centro de
requisitos de Médio risco de
distribuição, os
Semi- mão-de-obra contaminação e
funcionários dispõem-nos Global
automático e acelera o paradas não-
em esteiras pré-
tempo de programadas
estabelecidas por
processamento
critérios (ex.: tipo, cor e
condição do têxtil), as
quais separam esses itens
coletados
automaticamente
A triagem inicial
funciona de forma
equivalente à separação
manual.
Logo após, os itens pré-
selecionados na coleta
chegam ao centro de Alto risco de
triagem onde são contaminação e
dispostos em correias paradas não-
transportadoras que programadas, alto
levam-nos até uma Reduz os custo de
estação com scanner de requisitos de implementação,
Tecnologia tecnologia NIR para mão-de-obra alto custo de
Holanda
NIR cruzar os dados de e acelera o atualização das
composição do item tempo de medidas de
coletado com uma base processamento comparação
de dados de materiais (devido à
têxteis. Identificada o complexidade e
tipo de composição da diversidade das
fibra (pura ou misturada) fibras têxteis)
e a cor, a informação é
armazenando em um
sistema de gerenciamento
de operação e os itens
seguem para etapa de
reinserção
Nota: a conceituação de cada iniciativa baseou-se em diferentes autores e pode ser consultada no Apêndice H.
96

Com relação a etapa de reciclagem, usualmente os produtos feitos incluem tecidos


para isolamento, estofamento, bem como uma variedade de produtos absorventes
(LARNEY, VAN AARDT, 2010). Embora esse tipo de reciclagem mantenha os recursos
dentro dos ciclos produtivos, não faz máxima utilização do têxtil, acabando por transformá-
lo em um subproduto de uma indústria externa ao setor.
Para Ellen MacArthur Foundation (2017), as iniciativas de reciclagem que
processam os resíduos em subprodutos de menor valor agregado devem ser utilizadas
naquelas situações em que outras iniciativas de reúso ou reciclagem não possam ser
aplicadas ou quando aplicação acarreta alto impacto ambiental.
Já existem iniciativas, como a reciclagem química e a remanufatura, que mantêm
os itens de vestuário coletados próximos a sua função original, embora ainda careçam de
novas tecnologias que reduzam o consumo de água e energia para total reciclagem do
material (ÜTEBAY et al., 2019).
Como exemplo, a empresa Patagônia já recicla qualquer peça de vestuário feita de
poliéster a partir de processamento químico, enquanto na Turquia, o polipropileno reciclado
é misturado junto a resíduos de seda e algodão, resultando em um têxtil com propriedades
mecânicas e físicas aprimoradas (LARNEY, VAN AARDT, 2010).
Embora dificulte sua posterior rastreabilidade ou nova utilização, determinadas
iniciativas de reciclagem que envolvem mistura do têxtil com outras fibras torna-se
vantajosa quando combinam propriedades que garantam a maior durabilidade do produto
reciclado (ELLEN MACARTHUR FOUNDATION, 2017). Desse modo, ao garantir maior
durabilidade do item de vestuário, o produto não necessariamente precisa retornar à cadeia
produtiva para reciclagem, mas para reutilização.
Por fim, é importante indicar que, independente da iniciativa de reciclagem, todos
ainda precisam de mão-de-obra qualificada para a desmontagem mecânica do item de
vestuário para retirada de alfaiataria (ex.: botões, zíperes). O motivo é porque as mecânicas
de trituração e processamento não possuem tecnologias aptas a desmantelar esses itens do
têxtil final de maneira assertiva (ÜTEBAY et al., 2019).
O Quadro 19 apresenta as iniciativas de reciclagem abordadas na literatura.
97

Quadro 26 - Iniciativas de reciclagem abordadas na literatura

Método Descrição Beneficio Desvantagem Responsável


Remanufatura: o item de
Custo baixo,
vestuário é desmontado
menor uso de
mecanicamente e o têxtil é Processo artesanal
energia e
planado em partes para e alta dependência
menor número
processo de redesenhos de de especialização
de impactos
novos produtos, como
ambientais
carteiras ou chinelos
Transformação em fibra: o
item de vestuário passa por
um processo de recorte Baixa demanda, os
Custo baixo,
mecânico para obtenção do produtos finais de
menor uso de
têxtil puro. Em seguida, têxteis reciclados
energia e
segue para um funil para com baixa
menor número
desfiar o têxtil e obter as qualidade são
Mecânica de impactos
fibras brutas Após limpeza, geralmente fibras
ambientais
as fibras recicladas são sintéticas
regeneradas e misturadas com
fibras virgens
Os fios feitos deste Empresa de
Transformação em fios: o
tipo de fibras são reciclagem
item de vestuário é lavado e e/ou varejista
Custo baixo, principalmente
recortado mecanicamente
menor uso de escuros ou
para obtenção do têxtil plano.
energia e cinzentos,
Subsequentemente é
menor número portanto,
derretido e transformado em
de impactos geralmente são
fios descontinuados, os quais
ambientais utilizados para
são inseridos novamente no
funções em outras
processo de fiação
indústrias
Maior opções
de tipos de
O item de vestuário é rasgado
fibras
mecanicamente e processado
desejadas,
em uma solução química que Exige maior uso
menos
filtra a celulose a partir de um de energia para
Química impurezas no
fluxo lento. O material obtido regeneração das
processo e
é capaz de produzir novas fibras
podem ser
fibras dos têxteis pelo
recicladas com
processo de re-polimerização
mais
frequência
Continua
98

Quadro 19 - Iniciativas de reciclagem abordadas na literatura - Continuação

Método Descrição Beneficio Desvantagem Responsável


O item de vestuário é
desmontado
Depende das Depende das
mecanicamente e o
tecnologias tecnologias
processo de obtenção
empregadas, empregadas, mas
da matéria-prima
Tecnologias mas é indicado faltam Empresa de
pode ser a união de
mistas para têxteis com desenvolvimentos de reciclagem
diferentes
qualidade alinhamento entre as
subprocessos de
semelhante ao diferentes tecnologias
reciclagem mecânica
original aplicadas
com reciclagem
química
O item de vestuário é
Indicado para
compactado em
resíduos têxteis Empresa de
cortes pequenos,
com baixa Usado reciclagem e
triturado e então
qualidade final exclusivamente para outros setores
Técnicas granulado para ser
ou poucas outros setores a partir (como
especiais transformado em
informações de processos de automotivo e
nova fibras de
sobre a downcycling construção
filamento usada para
composição do civil)
fazer novos tecidos
têxtil (sobras)
de poliéster
Fonte: baseado em Palm et al. (2014)
Nota: a conceituação de cada iniciativa baseou-se em diferentes autores e pode ser consultada no Apêndice H.

Finalmente, as iniciativas de reúso, quando comparadas à reciclagem, são mais


importantes do ponto de vista da garantia de circularidade dos recursos na cadeia produtiva.
Isso ocorre porque nos processos de reúso, a funcionalidade básica do material é mantida,
conservando-o em seu mais alto valor dentro dos ciclos de recursos (PAL, PARAS, 2018).
As roupas coletadas e selecionadas podem ser convertidas em uma forma
utilizável por duas opções: (1) revenda de roupas ou (2) restauração. O brechó é,
atualmente, um dos mais citados na literatura dentre as iniciativas de varejo de segunda-
mão (houve 16 estudos que abordaram a iniciativa).
Usualmente, é na restauração que ocorre o processo de downcycling. Embora não
seja a melhor opção do ponto de vista circular, o processo é vantajoso quando os materiais
passam por reprocessamento, produzindo sobras e retalhos. A premissa do downcycling no
reúso é a mesma que nos métodos de reciclagem, ou seja, manter prolongado o uso do
têxtil.
99

A diferença entre o downcycling no reúso e do downcycling na reciclagem é no


modo como o resíduo têxtil é tratado. No reúso, o item de vestuário não volta a ser têxtil ou
fibra para sua restauração, enquanto na reciclagem o item de vestuário retorna à cadeia
produtiva ou como têxtil ou como fibra (HAN et al., 2017).
Já o Quadro 20 apresenta as iniciativas de reúso abordados na literatura. Dentre
essas, o varejo de segunda-mão e a restauração por upcycling são as mais citadas nas
pesquisas com 30 e 10 citações, respectivamente.

Quadro 27 - Iniciativas de reúso abordadas na literatura

Método Descrição Beneficio Desvantagem Responsável


Destinação e
Outlets: iniciativa rastreamento
Baixo custo de
desenvolvida por final incerto
implementação,
grandes varejistas que dos itens de Varejistas
preços atrativos
desejam finalizar os vestuário
ao consumidor
estoques expostos mas
não vendidos
Brechó: iniciativa de
revenda ou Alta rotatividade
empréstimo de itens de itens, preços
de vestuário com atrativos ao Baixa Microempreended
Varejo de
características consumidor, uso padronização or ou ONGs
segunda-mão
diversas com fins prolongado dos
lucrativos ou itens
filantrópicos
Mercado de pulgas:
iniciativa de revenda
Demanda
itens de vestuário com
exclusividade do incerta,
características Microempreended
item atrativa ao trabalho
específicas (ex.: itens or ou ONGs
consumidor manual e
vintages, tecidos
específico
diversos, acervos de
vestimentas nativas)
Upcycling: iniciativa Auxilia
de remodelação de desenvolvimento
itens de vestuário de Difícil de se
descartados em novos microempreended realizar em
Restauração Designer
produtos com mesma ores, baixo custo, alta escala de
função ou semelhante possibilidade de produção
(ex.: transformar calça parcerias com
em bolsa) grandes varejistas
100

Quadro 20 - Iniciativas de reúso abordadas na literatura - Conclusão

Método Descrição Beneficio Desvantagem Responsável


Downcycling:
iniciativa de
desmontagem
Geralmente
mecânica do item de Destinação e
utilizado com as
vestuário (não rastreamento
sobras de outros Designer ou
convertidas em final incerto,
Restauração processos (como empresas de
fibras/fios) para baixa
upcycling), reciclagem
produção de qualidade do
prolongamento no
subprodutos (panos e item
uso do têxtil
flanelas de chão, sacas
de lixo, guarda-chuva,
etc.)
Fonte: baseado em Mejias et al. (2019), Pal e Paras (2018) e HAN et al. (2017)
Nota: a conceituação de cada iniciativa baseou-se em diferentes autores e pode ser consultada no Apêndice H.

As iniciativas identificadas neste tópico servirão de base para o tópico


subsequente, no qual se definem conceitualmente as iniciativas identificadas na literatura
para gestão de resíduos têxteis no pós-consumo da indústria de vestuário no contexto
circular.

4.1.1 Definição conceitual das iniciativas para gestão de resíduos têxteis no pós-
consumo da indústria de vestuário no contexto da Economia Circular

A definição conceitual foi descrita conforme as iniciativas identificadas na literatura


(ver Tópico 4.1) e aborda os recursos necessários para sua aplicação e os stakeholders
responsáveis no contexto circular. A descrição conceitual serve como base para análise das
iniciativas de coleta, separação, reúso e reciclagem para os resíduos têxteis pós-consumo
num contexto prático junto a experts da indústria.
A definição conceitual não levou em consideração a recuperação energética, embora
aponte como solução final nos casos em que nenhum outro método de reúso ou reciclagem
possa ser aplicado.
Além disso, levando-se em consideração a existência de iniciativas que não
necessariamente limita-se a uma única etapa da gestão de resíduos têxteis (ex.: brechó) e a
presença de iniciativas que se assemelham em relação ao escopo das atividades (ex.:
ecopontos), foram unificadas as seguintes iniciativas:
101

a) Ecopontos de caridade, reciclagem, gestão municipal e coleta comunitária: a


disposição dos coletores e os responsáveis são os mesmos em tais iniciativas, o que
difere entre elas é a destinação final do resíduo;
b) Brechó, mercado de pulgas e plataforma online: as atividades de coleta, separação e
reutilização ocorre de maneira concomitante nessas iniciativas, não necessariamente
Brechó (reúso) coleta a partir de Brechó (coleta), assim como quem compra em
mercado de pulgas (coleta) não precisa obrigatoriamente revender itens com
características diferenciadas;
c) Take-back e EPR: o take-back é uma forma de grandes varejistas coletarem seus
produtos para retornar à cadeia produtiva ou dar uma destinação final correta. Dessa
forma, se encaixa como um dos processos de coleta para a iniciativa de EPR
d) Restauração e Remanufatura: a iniciativa de remanufatura, embora indicada como
um processo de reciclagem se entende como um reúso do têxtil, pois em nenhum
momento há retorno do material em fio ou fibra.
e) Outlet: a iniciativa foi suprimida devido ao entendimento de que, embora a retenção
e liquidação de estoque não vendido por parte de varejistas seja uma prática
responsável, a intenção final da iniciativa não se propõe em circular o material
diversas vezes dentro da cadeia produtiva, restringindo-se apenas a critérios
econômicos.

Os tópicos que tratam sobre economia circular especificamente foram baseados nos
estudos de Ellen MacArthur Foundation (2013), Ellen MacArthur Foundation (2017),
Kirchherr et al. (2017), Geissdoerfer et al. (2017) e Ghisellini et al (2016). Enquanto a
descrição das iniciativas de coleta, separação, reúso e reciclagem foram baseadas de Palm
et al. (2014), Han et al. (2017), Pal e Paras (2018) e Mejias et al. (2019).
O Quadro 21 apresenta a definição conceitual, conforme procedimentos
metodológicos indicados no tópico 2.2.1 do Capítulo 2.
102

Quadro 28 - Definição conceitual das iniciativas para resíduos têxteis no pós consumo da
indústria de vestuário, sob perspectiva circular

Características gerais
Modelo econômico Economia Circular
Manter os recursos têxteis em ciclos
fechados dentro dos processos de
Lógica das atividades
produção e consumo em seu mais alto
nível
Nível de ação Micro com influência no macro
Etapa do ciclo de vida Pós-consumo
Formas de capturar valor após o
Premissa das iniciativas
consumo dos itens de vestuário
Empresa, ONGs, designer,
Stakeholders envolvidos na etapa
consumidor e usuário e gestão pública
Descrição das iniciativas para gestão de resíduos têxteis na indústria de vestuário
Iniciativa Descrição da Iniciativa Recursos Responsáveis
Pontos de coleta para captação de
itens de vestuário (roupas, itens
de cama, mesa e banho), sapatos
e acessórios para serem
Pontos de coleta em Poder Público
encaminhados a centros de
áreas públicas, malha e/ou Empresa
Ecopontos separação e, dessa forma, serem
de transporte, centro Terceirizada,
vendidos em brechós, doados
de triagem MPEs,ONGs
para instituições de caridade,
encaminhados para remodelagem
ou reciclagem ou, em último
caso, enviado para incineração
Atividade de garimpo e coleta
Pontos de coleta,
com cliente para revenda ou
espaço para
empréstimo de itens de vestuário
armazenamento,
Brechó/Mercado com características diversas
transporte para MPE
de pulgas (brechós de luxo ou brechós
coletar, transporte
tradicional) com fins lucrativos
para envio do
ou filantrópicos, a partir de loja
produto
própria ou plataforma online
Continua
103

Quadro 21 - Definição conceitual das iniciativas para resíduos têxteis no pós consumo da
indústria de vestuário, sob perspectiva circular – Continuação

Iniciativa Descrição da Iniciativa Recursos Responsáveis


Pontos de coleta em seu
Pontos de coleta em áreas
estabelecimento ou em
públicas e rede parceira e
redes parceiras ao menos Grande
EPR malha de transporte para
50% de todos seus itens de varejista/Fabricante
encaminhamento ao centro
vestuário, cama, mesa e
de separação
banho e calçados
Processo artesanal e
altamente dependente de
Separação Mão de obra-qualificada MPE (baixo volume
mão-de-obra qualificada
Manual em separação de têxteis de separação)
para manipular e separar os
itens de vestuário
Processo de separação Mão de obra-qualificada
Separação semi-automático de itens em separação de têxteis, MPE (baixo/médio
Semi- de vestuário para triagem tecnologias NIR para pré- volume de
automática dos itens de separação na etapa de separação)
vestuário/tecidos na coleta coleta
Processo de separação com
Mão de obra-qualificada
alta mão de obra-
em tecnologia da
qualificada em tecnologia MPE (grande
Separação informação, tecnologias
da informação, tecnologias volume de
Automática NIR para pré-separação,
NIR para pré-separação, separação)
separação e destinação dos
separação e destinação dos
têxteis
têxteis
Atividade que remodela ou
transforma roupas usadas
ou têxteis de alta qualidade Tecnologias para
Restauração e em novos produtos com remodelar os itens de Designer/Empresas
remanufatura mesma função ou vestuário previamente de reciclagem
semelhante (ex.: coletados
transformar calça em
bolsa)
Continua
104

Quadro 21 - Definição conceitual das iniciativas para resíduos têxteis no pós consumo da
indústria de vestuário, sob perspectiva circular – Conclusão

Iniciativa Descrição da Iniciativa Recursos Responsáveis


Atividade de utilizar roupas
usadas e têxteis (não convertidas
Tecnologias para
em fibras/fios) como matéria-
desmontagem dos itens
Downcycling prima para produção de Designer
de vestuário previamente
subprodutos (panos e flanelas de
coletados
chão, sacas de lixo, guarda-
chuva, etc.)
Atividade que mistura têxteis a
Tecnologias para
partir de tecnologias distintas. A
rastreamento das fibras
matéria-prima recuperada é Empresas de
de alta qualidade,
Reciclagem - utilizada para produzir um reciclagem/
Tecnologias para redução
Mista polímero (nas fibras sintéticas) e Grande
no desperdício de têxtil
é processado em um mesmo Varejista
durante o processo de
produto com qualidade
reciclagem
semelhante
Atividade onde as fibras dos Tecnologias para
têxteis são quimicamente rastreamento das fibras
Empresas de
quebradas dos têxteis a nível de alta qualidade,
Reciclagem - reciclagem/
molecular e a matéria-prima é Tecnologias para redução
Química Grande
re-polimerizada em novo têxtil no desperdício de têxtil
Varejista
com material igual ou superior durante o processo de
em qualidade reciclagem
Tecnologias para corte,
Atividade onde os têxteis à base
afunilamento e
de poliéster são cortados em
derretimento dos têxteis,
pequenos cortes, triturados e Empresas de
tecnologia para limpeza
Reciclagem - então granulados para serem reciclagem/
das fibras, Tecnologias
Mecânica transformados em novas fibras Grande
para redução no
de filamentos usadas para fazer Varejista
desperdício de têxtil
novos tecidos de poliéster a
durante o processo de
partir do fio ou filamento obtido
reciclagem
Atividade que mistura têxteis a
Tecnologias para
partir de tecnologias distintas
rastreamento das fibras
onde a matéria-prima recuperada Empresas de
Reciclagem - de alta qualidade,
é utilizada para produzir um reciclagem/
Técnicas Tecnologias para redução
polímero (nas fibras sintéticas) e Grande
Especiais no desperdício de têxtil
processado em um mesmo Varejista
durante o processo de
produto com qualidade
reciclagem
semelhante.
Fonte: elaborado pelo autor com base em Palm et al., 2014; Bocken et al., 2017; Ellen MacArthur Foundation,
2017, Bukhari et al., 2018.
Nota: a conceituação de cada iniciativa baseou-se em diferentes autores e pode ser consultada no Apêndice H.
105

A partir das iniciativas definidas no Quadro 21 para gestão de resíduos têxteis no


contexto da Economia Circular, foi realizada uma análise a partir dos benefícios e
desvantagens apresentados no tópico 4.1 com base nos critérios definidos no tópico 3.3.3
do Capítulo 3. A intenção é validar, do ponto de vista teórico, o quão as iniciativas estão
alinhadas com critérios que viabilizem sua aplicação num contexto circular.
O Quadro 22 apresenta a análise ambiental das iniciativas identificadas na literatura,
no contexto da Economia Circular. A classificação é subjetiva e definida de "-", "--" e "---"
(pouco desvantajoso, desvantajoso, muito desvantajoso) à "+", "++", "+++" (pouco
benéfico, benéfico e muito benéfico) em comparação com outras iniciativas, conforme
Palm et al. (2014). Também foi levado em consideração uma classificação neutra, todavia,
na análise ambiental nenhuma prática foi neutra em comparação as demais.

Quadro 29 - Análise das iniciativas identificadas na literatura a partir de critérios


ambientais
Critérios CA1 CA2 CA3 CA4 CA5
Ecopontos +++ +++ ++ + -

Brechó/Mercado de pulgas + + +++ +++ --

EPR -- -- +++ --- +++


Separação Manual +++ - +++ + -

Separação Semi-automática --- -- +++ - +

Separação Automática --- -- +++ - +++

Outlets + + +++ +++ ---

Restauração e remanufatura + + ++ - -

Downcycling - - +++ - ---


Reciclagem - Mista -- -- + --- ---

Reciclagem - Química --- --- ++ --- ++

Reciclagem - Mecânica - - --- --- ---

Reciclagem - Técnicas
- - ++ --- ---
Especiais
Nota: Consumo de energia elétrica (CA1); Consumo de agua (CA2); Suficiência dos recursos coletados
(CA3); Geração de resíduos finais (CA4); Rastreabilidade final do item (CA5)
106

A partir da análise ambiental, se pode notar que as iniciativas de coleta (ex.:


ecopontos) e reúso (ex.: brechó) possuem um melhor desempenho. O problema de isolar a
análise apenas aos ecopontos é que a atividade não é autossuficiente, ou seja, é um processo
de meio e seu fim é quem define se o impacto ambiental negativo será maior ou não.
Além disso, as iniciativas de reciclagem sofrem principalmente de desvantagens
quando considerados os critérios de consumo de água e energia. Isso deve-se ao fato de
atualmente a indústria de vestuário ainda não possuir tecnologias capazes de recuperar o
têxtil com menor quantidade de água e energia durante o processo.
Quando analisados sob o ponto de vista de critérios ambientais, as iniciativas de
reciclagem apresentaram mais benefícios se comparadas com iniciativas de reúso. Isso
decorre justamente pelas iniciativas de reciclagem possuírem capacidade de trabalhar
volumes maiores de resíduos têxteis.
Conforme discutido no Capítulo 3, as iniciativas de reúso ainda carecem de
tecnologias que aprimorem as atividades e facilitem os processos que são realizados, em
sua maioria, de maneira manual. Essa característica demanda uma mão-de-obra mais
qualificada e torna o processo de coleta (entrada da matéria-prima) e produto final (reúso)
mais custoso tanto do ponto de vista financeiro quanto do ponto de vista de tempo de
produção.
O Quadro 23 apresenta a análise econômica das iniciativas identificadas na
literatura, no contexto da Economia Circular. A classificação é subjetiva e definida de "-",
"--" e "---" (pouco desvantajoso, desvantajoso, muito desvantajoso) à "+" (neutro), "++",
"+++" (benéfico, muito benéfico) em comparação com outras iniciativas, conforme Palm et
al. (2014). Também foi levada em consideração uma classificação neutra, todavia, na
análise econômica nenhuma prática foi neutra em comparação as demais.

Quadro 30 - Análise das iniciativas identificadas na literatura a partir de critérios


econômicos

Critérios CE1 CE2 CE3 CE4 CE5 CE6 CE7


Ecopontos - +++ --- - --- +++ ++

Brechó/Mercado de pulgas --- --- --- -- --- -- ++

EPR --- -- +++ -- -- +++ ---


Separação Manual --- --- --- - +++ ++ +++
Continua
107

Quadro 23 - Análise das iniciativas identificadas na literatura a partir de critérios


econômicos - Conclusão

Critérios CE1 CE2 CE3 CE4 CE5 CE6 CE7

Separação Semi-
-- -- ++ --- + +++ ---
automática

Separação Automática - -- +++ --- --- +++ ---

Outlets --- --- + - +++ +++ +++


Restauração e
--- --- --- - ++ +++ +++
remanufatura
Downcycling --- --- --- - -- -- --
Reciclagem - Mista + +++ +++ - +++ + --

Reciclagem - Química - ++ +++ -- +++ +++ --

Reciclagem - Mecânica + ++ +++ - +++ + +++

Reciclagem - Tecnicas
+ + +++ -- +++ + +++
Especiais
Notas: Custo de mão-de-obra qualificada (CE1); Flexibilidade na aplicação dos recursos financeiros,
materiais e humanos (CE2); Tecnologia envolvida (CE3); Custo de transporte (CE4); Auto-sustentabilidade
da organização (CE5); Capacidade de tratamento dos resíduos têxteis (CE6); Maturidade do negócio (CE7).

Outro aspecto observado é o custo de transporte. Durante a análise da literatura, esse


critério foi abordado diretamente por 4 autores (Larney, Van Aardt, 2010, Noman et al.,
2013, Palm et al., 2014, Bukhari et al., 2018). A justificativa para que nenhuma das práticas
tenha vantagem entre as demais com relação a esse critério reside na alta complexidade nas
ações envolvidas durante esse processo.
Para Noman et al. (2013), ainda que o volume possa ser maior em coletas de têxteis
para reciclagem, a maioria dos contratos para captar tais itens de vestuário não estipula
claramente os critérios na qualidade do item coletado podendo causar um volume alto para
separação mas que tem pouca ou nenhuma usabilidade.
Conforme Bukhari et al. (2018), o sistema de EPR na França também demonstrou
que a distância entre os pontos de coleta e os centros de triagem ou descarte final não
compensavam o volume coletado, ainda que alto.
Já quando analisadas sob critérios sociais, todas as iniciativas demonstram precisar
de melhorias no contexto de práticas de segurança e saúde do trabalhador. Por ainda
108

estarem num estágio reativo, as iniciativas mais atendem à demanda externa latente (seja
por pressões do consumidor ou gestão pública) do que necessariamente aprimorando suas
atividades num ambiente mais controlado.
Esse processo acaba tornando os ajustes também reativos, ou seja, é preciso que
uma ação extrema ocorra para que as devidas precauções sejam tomadas. Essa questão foi
bastante visualizada em processo macros, como sistemas de EPR ou gestão de resíduos
têxteis municipais que englobam um maior número de funcionários. Os estudos nessa área
surgem com maior intensidade no período entre 2018 e 2019 (4 artigos identificados),
demonstrando ser uma preocupação emergente.
A disponibilidade de participação de grupos vulneráveis também depende do escopo
do negócio. Isso porque existem iniciativas que demandam uma especialização mais técnica
(iniciativas de reciclagem). Usualmente, a participação de grupos de vulneráveis ocorre
mais na etapa de coleta, que permite inserir até mesmo associações de coletores individuais,
dotados de conhecimento necessário para realizar uma melhor triagem.
O Quadro 24 apresenta a análise social das iniciativas identificadas na literatura, no
contexto da Economia Circular. A classificação é subjetiva e definida de "---" para muito
desvantajoso à "+++" que indica muito benéfico em comparação com outras iniciativas.
Também foi levada em consideração uma classificação neutra, todavia, na análise social
nenhuma prática foi neutra em comparação as demais.

Quadro 31 - Análise das iniciativas identificadas na literatura a partir de critérios sociais

Critérios CS1 CS2 CS3


Ecopontos +++ +++ -

Brechó/Mercado de pulgas +++ +++ ---

EPR +++ +++ ---


Separação Manual +++ +++ -

Separação Semi-automática + + +

Separação Automática + + +

Outlets +++ --- --


Continua
109

Quadro 24 - Análise das iniciativas identificadas na literatura a partir de critérios


sociais – Conclusão

Critérios CS1 CS2 CS3

Restauração e remanufatura +++ +++ ---

Downcycling +++ +++ ---


Reciclagem – Mista ++ --- --

Reciclagem – Química ++ --- --

Reciclagem – Mecânica ++ --- ---

Reciclagem - Tecnicas Especiais ++ --- ---


Nota: Parceria com cooperativas, associações e consórcios (CS1), Participação de grupos minoritários (CS2),
Segurança e Saúde do Trabalhador (CS3)

Por fim, embora a literatura entenda as especificidades de cada iniciativa (ex.:


Franco, 2017; Bocken et al. 2017), compreende-se que a aplicação de qualquer inovação
num contexto circular identifique barreiras e facilitadores similares com relação as etapas
do processo de gestão de resíduos.
Desse modo, foram descritas as principais barreiras e facilitadores discutidos na
literatura para gestão de resíduos têxteis no pós-consumo da indústria de vestuário no
Quadro 25 por etapas de coleta, separação, reúso e reciclagem.

Quadro 32 - Principais barreiras e facilitadores para coleta, separação, reúso e reciclagem


de resíduos têxteis num contexto circular identificados na literatura
Etapa Barreira Facilitador
Falta de padronização para coletar Consumidor mais consciente e engajado em
os itens de vestuário iniciativas sustentáveis de descarte
Incerteza quanto a destinação e Rede de cooperação com ONGs e catadores
Coleta rastreabilidade dos itens individuais envolvidos nas etapas de coleta
Falta de incentivo público Crescimento das ações de grandes varejistas
Margens de lucro reduzidas para coleta de itens de vestuário
Continua
110

Quadro 25 - Principais barreiras e facilitadores para coleta, separação, reúso e reciclagem


de resíduos têxteis num contexto circular identificados na literatura - Continuação
Etapa Barreira¹ Facilitador²
Rede de cooperação com ONGs e
Falta de padronização para separar
catadores individuais envolvidos nas
os itens de vestuário
etapas de coleta para reúso e reciclagem
Alto risco de contaminação dos
Separação
itens de vestuário na coleta e Aumento do varejo de segunda-mão
manipulação
Alto custo de mão de obra Consumidor mais consciente e engajado
qualificada em iniciativas sustentáveis de consumo
Manter a mesma qualidade dos
produtos reutilizados
Alta rotatividade de itens de vestuário
Falta de incentivo público as
MPEs
Falta de incentivo público as
empresas que desenvolvem Modelos de negócios com aspectos
Reúso
práticas sustentáveis ambientais inseridos nos valores da
empresa
Baixa padronização das atividades
Incerteza de demanda
Aumento no consumo de itens de
Destinação e rastreamento final vestuário de segunda-mão
incerto
Dificuldade de coleta de grandes Crescimento de novas empresas e
volumes devido a mistura e cooperativas para reciclagem de
contaminação na coleta materiais
Limitações tecnológicas para Modelos de negócios com aspectos
rastrear os recursos utilizados para ambientais inseridos nos valores da
produção do item coletado empresa
Reciclagem Crescimento da demanda por têxteis para
Baixa qualidade dos têxteis
outras indústrias (ex.: automotiva,
coletados
isolamento)
Limitações do tipo de reciclagem Engajamento de grandes varejistas em
conforme os resíduos têxteis políticas de reciclagem de resíduos
coletados têxteis
¹Fonte: elaborado pelo autor com base em Palm et al., 2014; Bocken et al., 2017; Ellen Macarthur Foundation,
2017, Bukhari et al., 2018.
² Fonte: Elaborado pelo autor com base em Ellen Macarthur Foundation, 2017 e Bukhari et al., 2018.

Em resumo, a definição conceitual das iniciativas de gestão de resíduos têxteis no


pós-consumo permitiu concluir que a circularidade, ainda que promovida como uma nova
solução para os problemas ambientais da indústria de vestuário, é puxada principalmente a
jusante, promovendo abordagens de gerenciamento de resíduos de curto prazo, como a
reciclagem de resíduos têxteis descartados pós-industrial e pós-consumo, enquanto os elos
111

iniciais da cadeia produtiva continuam a extrair e utilizar quantidade de recursos não


renováveis de maneira excessiva.
Embora a economia circular seja frequentemente vislumbrada como uma
alternativa ambiental superior ao modelo de economia linear, é preciso compreender que
tais iniciativas dependem das contribuições de vários stakeholders com os modelos de
negócios.
Dessa forma, aprimorar cada vez mais os atuais modelo de negócios do ponto de
vista de responsáveis e recursos (em especial tecnologias), permite que os estudos
comecem a sair do estado micro das atividades e englobem municípios, regiões, estados e
assim sucessivamente.
Finalmente, a teoria indicou que cabem novas análises nas iniciativas vigentes
pensando no movimento para economia circular frente à: valorização do regional, sistemas
de coleta e produção transparentes e produtos rastreáveis (ex.: MCNEIL, SNOWDON,
2019; BUKHARI, 2018). A sessão a seguir apresenta a análise dos trechos que compõem
os cenários contributivos à contextualização dos resultados teóricos da dissertação,
ressaltando que todas as conclusões descritas referem-se a resultados de campo.

4.2 ANÁLISE DAS INICIATIVAS CONSIDERADAS PARA GESTÃO DE


RESÍDUOS TÊXTEIS POR EXPERTS DA INDÚSTRIA DE VESTUÁRIO

Conforme descrito na seção 3.3.1 do Capítulo 3, foram produzidas entrevistas em


profundidade com experts da indústria com o objetivo de analisar as iniciativas atualmente
utilizadas para gestão de resíduos têxteis no pós-consumo. Essa análise, conforme
delimitado no capítulo 3 restringe-se em um contexto regional e leva em consideração
apenas experts que atuam em MPEs.
A partir das respostas obtidas, foi realizada uma leitura inicial conforme descrito
na seção 3.3.2 do Capítulo 3.
Posteriormente, avaliou-se o conteúdo das respostas, com o objetivo de analisar as
iniciativas no contexto da Economia Circular, com base em critérios ambientais,
econômicos e sociais. Tais citações foram provenientes da categorização das entrevistas, e
cada contexto é explicado via análise de conteúdo.
112

Os resultados apresentados nos sub tópicos desta sessão estão agrupados em pré-
requisitos, iniciativas e implicações de desempenho da gestão de resíduos têxteis em
relação à critérios econômicos, ambientais e sociais, conforme indicado na Figura 12.

Figura 12 - Pré-requisitos e implicações de desempenho na gestão de resíduos têxteis

Fonte: Próprio autor, baseado em Brömer et al. (2019).

4.2.1 Descrição dos aspectos circulares na gestão dos resíduos têxteis na operação

Este subcapítulo aborda as considerações circulares as quais os entrevistados


levam em consideração, ainda que de maneira subjetiva. A intenção aqui é compreender
como esse modelo econômico é entendido na indústria de vestuário e, se existe um
pensamento sistêmico por parte dos experts da indústria, referente às ações desenvolvidas
dentro das etapas de coleta, separação, reúso ou reciclagem.
O entendimento da literatura por modelos de negócios circulares usualmente é
pensado para melhorar o desempenho ambiental, quando comparado aos modelos de
negócios convencionais, enraizados na economia linear. Quando analisada num contexto
prático, a economia circular também é definida dentro de um contexto ambiental.
No total, dos 11 entrevistados, 7 afirmaram conhecer o termo Economia Circular.
Ainda assim, mesmo os que não conheciam o termo (4 entrevistados), entendiam que a
economia circular poderia melhorar o desempenho ambiental em detrimento do
desempenho econômico.
Aliado a isso, encontra-se o fato de que, embora apenas 6 entrevistados tenham
iniciado seu negócio com um viés sustentável em seus valores, todos os experts da indústria
indicaram que atualmente a sustentabilidade está integrada à estratégia da empresa e
pensada em sua aplicação no contexto de coleta, separação, reúso ou reciclagem dos itens
de vestuário do pós-consumo.
O Quadro 26 apresenta o escopo de negócio das empresas onde os experts da
indústria na presente dissertação atuam. Observa-se que dentre os 11 entrevistados, 10
113

tinham alguma iniciativa de reúso em seu modelo de negócio (dentre esses, 8


microempreendedores) enquanto apenas 1 expert trabalhava diretamente com reciclagem de
têxtil (média empresa).

Quadro 33 - Caracterização dos negócios que atuam os entrevistados


Tempo de
Entrevistado Breve descrição do negócio Tipo de negócio
Atuação
Coleta itens de vestuário para
reutilização do tecido,
Entrevistado 01 predominantemente jeans, para 5 anos Microempreendedor
confecção de mochilas e acessórios,
a partir de técnicas de upcycling
Coleta itens de vestuário e têxtil
industrial para reciclar
mecanicamente e produzir fios
regenerados. Tem por finalidade,
Entrevistado 02 15 anos Média Empresa
predominantemente, a
comercialização voltada a outras
indústrias externas ao setor de
vestuário.
Coleta de acessórios de vestuário e
reutiliza tecidos de guarda-chuva
Entrevistado 03 para confecção de pochetes e 5 anos Microempreendedor
acessórios a partir de técnicas de
upcycling
Coleta de itens de vestuário por meio
Entrevistado 04 de doação para reutilização do têxtil 5 anos Cooperativa
na confecção de itens diversos
Coleta de itens de vestuário por meio
Entrevistado 05 de doações e garimpo para revenda 1 ano Microempreendedor
do item de vestuário
Coleta de itens de vestuário por meio
Entrevistado 06 de doações e garimpo para revenda 7 anos Microempreendedor
do item de vestuário
Coleta de itens de vestuário por meio
Entrevistado 07 de doações e garimpo para revenda 10 anos Microempreendedor
do item de vestuário
Ecopontos de coleta para disposição
Entrevistado 08 e troca de itens de vestuário (e outros 5 anos Microempreendedor
itens) entre usuários da região
Coleta de itens de vestuário por meio
Entrevistado 09 de doações e garimpo para revenda 8 anos Microempreendedor
do item de vestuário
Continua
114

Quadro 26 - Caracterização dos negócios que atuam os entrevistados – Conclusão

Tempo de
Entrevistado Breve descrição do negócio Tipo de negócio
Atuação
Coleta de itens de vestuário por meio
Entrevistado 10 de doações e garimpo para revenda 7 anos Microempreendedor
do item de vestuário
Coleta de itens de vestuário
excedentes em ecopontos para
Entrevistado 11 reutilização do têxtil, em especial 10 anos Projeto
jeans, para confecção de itens
diversos por métodos upcycling

Em relação ao entendimento do termo Economia Circular por parte dos experts da


indústria de vestuário, foram identificados e categorizados os termos mais citados durante
as entrevistas para posterior construção empírica de uma categoria que se sintetiza o termo
em relação aos entrevistados. O Quadro 27 traz os principais termos e sua frequência de
citação.

Quadro 34 - Principais termos sobre Economia Circular citados pelos experts


Categoria Analítica E1 E2 E3 E4 E5 E6 E7 E8 E9 E10 E11 Termos Entrevistas
Revender S N N N N N N S S N N 1 3
Lixo Zero N N N S N S N N N N S 1 3
Contrário a atual
S N N N S N N N S N N 1 3
economia
Contribuir S N N N N S N S N N S 2 4
Circular peças N N N N S S N N S N S 1 4
Compartilhar N N S N N S N N S N S 1 4
Movimento N S N S N S S N S S S 2 7
Resíduos S N S N S S N S S N S 6 7
Upcycling S N S N S S N S S N S 5 7
Reduzir S N S N S S N S S N S 6 7
Ciclo fechado S N S N S S N S S N S 3 7
Reutilizar S S S N S S N S S N S 3 8
Girar o material S S S N S S N S S N S 3 8
Futuro S S S N S S N S S N S 2 8
Descarte S S S N S S N S S N S 4 8
Recursos Naturais S S S S N N S S S S S 7 9
Nota: os termos foram unificados se citados no mesmo contexto
115

Tendo em vista os termos expostos acima e pensando num contexto prático,


identifica-se que a maioria dos entrevistados compreende a economia circular como sendo
um movimento de materiais em ciclo fechado. Nesse sentido, têm o entendimento sobre a
sua total utilização a partir de reúso, para evitar o descarte e consequente acúmulo de
resíduos gerados, promovendo assim a suficiência de recursos naturais no futuro.
No que diz respeito a sua aplicação no contexto nacional, foi observado que os
argumentos para justificar a aplicação da economia circular na região eram experiências
vividas pelos próprios experts da indústria. De acordo com um desses experts da indústria:

“acredito muito na economia circular e eu espero muito que as grandes empresas


comecem a se atentar a isso, que comecem a oferecer logística reversa, a gente é
muito questionadora sobre essa questão da logística reversa nas grandes
empresas, e eu já questionei várias, principalmente quando eu recebo peças no
brechó que chegam novas, com etiqueta, mas já estão com defeito (sic) pergunto -
como eu devolvo isso? porque eu não consigo devolver isso? o que eu vou fazer
esse material? vocês (grandes empresas) produziram um material que não é de
qualidade, que se tornou rapidamente um lixo, que se a responsabilidade é de
vocês o que nós vamos fazer a respeito e geralmente sou ignorada [...] se você
produz, se você faz a oferta desse produto você tem que ser responsável por ele
também né” (Entrevistado 07)

Essa percepção de que existe uma falta de responsabilização por parte dos
fabricantes em educarem o consumidor e receberem esses produtos novamente também é
citada por outro experts que contribui com a seguinte afirmação:

“[...] O que eu vejo da economia circular é que as empresas e lojas estão


perdendo uma oportunidade incrível de trazer o seu cliente de volta, justamente
pra ele devolver aquela peça que um dia ele comprou, é uma oportunidade de até
avaliar um produto com defeito, mas assim, vamos supor, de que daqui há uns
anos eu vou receber alguma peça de volta e eu vou entender porque que a pessoa
não quis mais, ou onde que essa peça estragou, onde puiu, o que foi que fez com
que a pessoa não quisesse essa peça mais. Então isso é de uma riqueza tão grande
que eu realmente não entendo porque a loja, e todo tipo de indústria não chamam
o seu cliente de volta pra quando ele não quer mais esse produto” (Entrevistado
08).

Quando analisada num contexto de micro e pequenas empresas, alguns experts (3)
citaram que a reinserção de itens de vestuário pode ser vista tanto sob a ótica de brechós,
que coleta e revendem esses itens, quanto das empresas que reusam esse resíduo têxtil para
um novo produto. Isso vai ao encontro com as atuais técnicas de upcycling e downcycling
que visam o lixo zero discutidas na literatura. No relato a seguir, o entrevistado sintetiza
essa ponderação:
“[...] eu acredito que tenham duas formas que a economia circular no vestuário
consegue ter bastante espaço, que é no mercado de segunda mão, em que a gente
116

pega uma peça de roupa, a gente garimpa [...] sendo vendidas a um preço bem
baixo (sic), ou porque estavam empoeiradas, ou faltando botão, ou rasgadas, ou
de qualquer forma são peças que as pessoas deixaram de enxergar valor nelas.
Então são essas peças que a gente pega [...] A outra forma que a gente consegue
fazer isso, que a gente ainda não faz no (cita o nome da empresa), mas que existe
já, alguns brechós fazem esse trabalho, que é o trabalho de upcycling (sic), que é
pegar uma de roupa e reconstruir essa peça, então eu posso pegar uma amostra de
tecido de sofá e costurar ela de alguma forma que vire uma bolsa, e entra essas e
outras possibilidades que o upcycling possibilita” (Entrevistado 10)

Em resumo, levando-se em consideração as distinções acerca da aplicação da


Economia Circular na indústria de vestuário no país, é importante ressaltar que os experts
da indústria focam no momento atual numa análise de como coletar e reinserir esses itens
de vestuário pensando, em especial, nos atores envolvidos nesse processo de gestão de
resíduos têxteis.
Uma vez que o contexto circular foi abordado e considerado pelos experts da
indústria, a seção a seguir apresenta uma síntese das práticas de coleta, separação e
reinserção dos itens de vestuário pós-consumo nas empresas em que atuam para análise do
desempenho de tais iniciativas, com base em critérios ambientais, econômicos e sociais.

4.2.2 Descrição das atuais iniciativas utilizadas pelos experts nas etapas de coleta,
separação e reinserção dos itens de vestuário

O objetivo de identificar as atuais iniciativas para coleta, separação, reúso ou


reciclagem por parte dos experts da indústria foi elaborado pensando em compreender
como é feita atualmente o modo de gestão de resíduos têxteis no pós-consumo. O Quadro
28 sumariza as iniciativas desenvolvidas por cada experts nas etapas de coleta, separação e
reinserção dos itens de vestuário na cadeia produtiva.

Quadro 35 - Caracterização das etapas de gestão de resíduos abordadas nas entrevistas

Entrevistado Coleta Separação Reinserção


Separação manual dos itens
Coleta pequeno volume de
para doação ou reutilização, Atividade que
itens de vestuário mal
Entrevistado lavagem com produtos transforma calças
conservados através de
01 padronizados de limpeza e jeans em
garimpo em brechós e
transferência para processo de mochilas e bolsas
transporte para atelier
reúso
Continua
117

Quadro 28 - Caracterização das etapas de gestão de resíduos abordadas nas entrevistas –


Continuação

Entrevistado Coleta Separação Reinserção


Atividade
onde os
têxteis à base
de poliéster
Coleta alto volume de são
resíduos têxteis de pré e Separação manual dos itens para compactados,
Entrevistado pós-consumo através de doação ou reciclagem, recorte triturados e
02 fornecedores manual e transporte para correias então
e transporte para centro transportadoras granulados
de triagem para serem
transformados
em novas
fibras para
nova fiação
Atividade que
Coleta pequeno volume
Separação manual dos itens para transforma
de itens de vestuário
Entrevistado revenda, lavagem com produtos lona de
através de garimpo em
03 padronizados de limpeza e guarda-chuva
itens de descarte ou
transporte ao cliente em bolsas e
doações
pochetes
Atividade que
transforma
roupas e
Coleta médio volume de
têxteis de alta
resíduos têxteis através Separação manual dos itens para
Entrevistado qualidade em
de clientes e doações de reutilização e transporte para
04 novos
outras entidades no atelier
produtos com
próprio local
mesma
função ou
subprodutos
Atividade de
revenda de
Coleta pequeno volume
itens de
de itens de vestuário Separação manual dos itens para
Entrevistado vestuário em
através de garimpo em doação ou reutilização, lavagem
05 bom estado, a
acervo pessoal e outros com produtos de limpeza padrão
partir de
usuários
plataforma
online
Continua
118

Quadro 28 - Caracterização das etapas de gestão de resíduos abordadas nas entrevistas –


Continuação

Entrevistado Coleta Separação Reinserção

Atividade de
revenda de
Coleta pequeno volume
itens de
de itens de vestuário em Separação manual dos itens para
Entrevistado vestuário em
bom estado através de doação ou reutilização, lavagem
06 bom estado, a
garimpo em brechós com produtos de limpeza padrão
partir de
próprios
plataforma
online
Atividade de
revenda de
Coleta pequeno volume itens de
de itens de vestuário em Separação manual dos itens para vestuário em
Entrevistado
bom estado através de doação ou reutilização, lavagem bom estado, a
07
garimpo em brechós com produtos de limpeza padrão partir de
próprios ou ONGs plataforma
online e loja
física
Atividade que
transforma
Posto de coleta para
Separação manual dos itens para calças jeans
Entrevistado disposição de médio
doação ou reutilização, lavagem excedentes
08 volume de itens de
com produtos de limpeza padrão dos pontos de
vestuário em bom estado
coleta em
acessórios
Atividade de
revenda de
Coleta pequeno volume itens de
Separação manual dos itens para
Entrevistado de itens de vestuário em vestuário em
doação ou reutilização, lavagem
09 bom estado através de bom estado, a
com produtos de limpeza padrões
garimpo em ONGs partir de
plataforma
online
Continua
119

Quadro 28 - Caracterização das etapas de gestão de resíduos abordadas nas entrevistas –


Conclusão

Entrevistado Coleta Separação Reinserção

Atividade de
revenda de
itens de
Coleta pequeno volume
Separação manual dos itens para vestuário em
Entrevistado de itens de vestuário em
doação ou reutilização, lavagem bom estado, a
10 bom estado através de
com produtos de limpeza padrão partir de
garimpo em ONGs
plataforma
online e loja
física
Atividade que
Coleta pequeno volume transforma
de itens de vestuário Separação manual dos itens para calças jeans
Entrevistado
para reutilização através doação ou reutilização, lavagem excedentes
11
de garimpo em brechós e com produtos de limpeza padrão dos pontos de
feiras coleta em
acessórios

Na exploração do material, observou-se que a coleta e separação ainda ocorrem, em


sua maioria, em pequeno volume e de maneira manual. Usualmente, as justificativas para
aplicação desses tipos de iniciativas eram indicadas devido à capacidade de tratamento
desses itens de vestuário ou por conta da própria maturidade do negócio, tendo em vista que
a média de tempo de funcionamento das empresas que os experts da indústria de vestuário
atuavam é de 2 anos.
O exemplo a seguir resume diretamente o contexto de coletar o material e dar uma
destinação a ele, ainda que esta represente um custo maior de aquisição. Logo, supõe-se
que num primeiro momento a capacidade de coletar esse material interfere diretamente na
escolha do fornecedor.

“a gente não tem parceiros que fossem utilizar esse material, e atualmente (sic)
não tem um volume de materiais suficientes pra fazer isso valer a pena [...] nós
preferimos simplesmente comprar retalho, se (sic) precisar de algo novo
procuramos uma empresa responsável” (Entrevistado 07)

Em relação à separação, houve um consenso na utilização da separação manual. Foi


notado que o próprio volume da coleta (pequeno volume) interfere na preferência por uma
separação manual. Isso porque é a partir dela que os experts apontam a possibilidade de
120

analisar se aquele item de vestuário poderá ser reutilizado ou não. Inclusive, a separação em
alguns casos (3) ocorre no próprio garimpo (etapa de coleta).
No relato seguinte, por exemplo, percebeu-se que a separação manual é utilizada
pois possui o intuito de justamente coletar e reutilizar os itens que de fato os clientes da
marca se identificam. A necessidade aqui é evitar os custos decorrentes de uma matéria-
prima que não será de fato utilizada, ainda que os entrevistados entendam que seja
necessário sua reinserção.

“é um processo bem manual e intuitivo inclusive, de também até hoje a gente ter
visto que também esta dentro do nosso público alvo, o que as nossas clientes vão
gostar, vão se interessar, e o que a gente acredita que consegue reformar, muitas
vezes pra aumentar esse valor dessa peça e a vida útil da peça, como tinha
comentado (Entrevistado 06)”

Há um único caso sobre a aplicação de automatização na etapa de separação, que é


na reinserção do resíduo têxtil no processo de reciclagem. A atividade consiste na
transferência do resíduo separado pela mão-de-obra qualificada para as extrusoras por meio
de correias transportadoras.

“(sic) na separação é assim, chega o material já etiquetado e separado por cor


(que ocorre na coleta) porque o acordo é que o fornecedor já repasse o material
separado por cor, nós pagamos a mais fazendo isso [...] e também se o têxtil está
liso ou com alfaiataria, se separam isso também pagamos a mais, ai caso
contrario a gente separa aqui mesmo [...] manual, mas é rápido também porque o
processo de separação de cor ajuda o fio gerado ter qualidade e a cor sair no
padrão pedido pelo cliente [...] Na reciclagem a gente pega esses têxteis já
separado na cor e sem os itens pra passar na correia que joga na extrusora e que
fragmenta o têxtil (sic) e são desfiados e fragmentados e (sic) essa fibra gera o fio
lá naquele processo [...] (refere-se a fiação open-end)” (Entrevistado 02)

Ainda sobre a reciclagem, o entrevistado observou que os itens coletados são


categoricamente impossibilitados de novo reúso (no caso de uniformes industriais, por
exemplo). Além disso, as roupas coletadas e reutilizáveis, são separadas durante o processo
manual e doadas a ONGs da região. Segundo o entrevistado, esse montante é pequeno e
não inviabiliza o negócio.
Por fim, ele pondera que esses itens de vestuário também poderiam ser reciclados
mas que desde a criação da empresa, por valores dos próprios fundadores, não havia sentido
em desfiar uma roupa que ainda não teve total utilização.
121

Em relação à reinserção, foi observado que quatro experts da indústria utilizavam


material jeans em seus produtos, dentre esses, três utilizavam essencialmente o jeans. Os
entrevistados observavam que o jeans é um material resistente, abundante e de fácil
descarte, ou seja, um produto de alto consumo e com alta incidência de primeiro descarte.

“nós escolhemos o jeans, pois uma vez ao conversar com (parceira do projeto)
num encontro de fashion revolution, a gente conversou e o jeans é um material
assim de boa aceitação, muito resistente e que em geral ele tem o primeiro pós-
consumo, que é esse quando minha calça jeans puiu quando aconteceu algo com
ela que eu não sei como reparar mas ele pode se transformar em outra coisa como
essas peças [...] e escolhemos os jeans por eles serem tão resistentes.”
(Entrevistado 11)

Em resumo, quanto aos experts entrevistados pode-se notar que as iniciativas de


coleta são fortemente puxadas pelo tipo de reinserção do item de vestuário à cadeia
produtiva, enquanto a separação manual segue sendo a iniciativa mais difundida por todos
os entrevistados, usualmente relacionada à aceitação do consumidor. Na sessão seguinte,
tais iniciativas irão ser descritas no contexto dos recursos e responsáveis por sua execução,
que são os pré-requisitos para a sua aplicação prática e consequente análise do seu
desempenho.

4.2.3 Descrição dos recursos disponíveis e responsáveis pelas iniciativas

A descrição dos recursos visa endereçar o entendimento e disseminação de


tecnologias, mão-de-obra qualificada e transporte entre as etapas de coleta, separação, reúso
e reciclagem por parte dos experts da indústria. Já a descrição dos responsáveis busca
identificar a percepção dos entrevistados quantos os agentes que participam desse processo
ativamente. Assim, esta seção explica, por meio de relatos, como os recursos e responsáveis
são abordados pelos experts da indústria.
De maneira geral, observou-se nas entrevistas que o nível de utilização e
compreensão de tecnologias é baixo, também justificando-se pelo volume de coleta e
produção ser pequeno e o processo de automatização despender um custo que não cabe no
momento atual do negócio. Dentre as tecnologias que os experts citaram serem
interessantes futuramente, destacam-se as de corte que possibilitam utilizar da melhor
maneira possível o resíduo têxtil coletado.
122

Em paralelo a isso, a seguir, há um entrevistado que compreende a importância de


novas tecnologias, como tecnologias para desmanche, embora aponte ressalvas quanto a
sua aplicação prática.

“Quer dizer, eu tenho conhecimento [sobre tecnologias para reúso de têxteis], eu


acho que seria muito legal de criar uma máquina que desmanchasse roupas (sic),
mas como cada roupa também tem uma modelagem diferente [...]”. (Entrevistado
08)

Isso se conecta com o exposto por outro expert da indústria, o qual trouxe a
perspectiva da tecnologia para o contexto dos materiais integrantes do item de vestuário.
Isto é, esse entrevistado compreendeu os recursos como sendo os resíduos têxteis
reutilizados e a forma como a criação de um novo produto gera preocupações quanto a sua
destinação final.

“Então, uma das perguntas que a gente tem feito em relação aos recursos é o mix
de materiais, eu desenhei algumas necessaires (com o ziper) porque eu acho que
facilita no dia-a-dia, mas quando a gente mistura um jeans com mais um forro
com mais um ziper então eu acho que a gente tem um problema futuro nele, a
gente tem uma etiqueta em cada peça indicando que quando a pessoa não quiser
mais aquela peça ela pode retornar pra gente porque dai a gente pode dar o
descarte correto pra ele, então a gente tem pensado em cada recurso, etapa, novo
ou não a gente tem pensado com bastante carinho.” (Entrevistado 11).

Com relação a mão-de-obra, todos citaram de maneira direta ou indireta, que uma
alta especialização é essencial para o sucesso das iniciativas de reinserção dos itens de
vestuário na cadeia produtiva. Ainda nesta questão, observa-se até mesmo uma forte
relação entre as tecnologias vigentes para reciclagem com a necessidade de uma mão de
obra qualificada.

“eu não diria que é o mais importante (critério para separar manualmente), mas é
hoje o que toca a (nome da empresa), ainda que as maquinas façam basicamente
todo o processo, a alimentação delas depende muito dessas pessoas que precisam
ser qualificadas em saber separar, saber mexer no maquinário, tem que ser multi
função pra trabalhar nisso.” (Entrevistado 02)

Desse modo, se observa que o posicionamento quanto ao nível de especialização na


mão-de-obra não varia em nenhuma das iniciativas. Enquanto isso, é notório que as
características da carga e a distância entre os diferentes locais de coleta afetam diretamente
as iniciativas discutidas.
123

O caso a seguir, é se há algum recurso imprescindível para as ações da marca que o


expert atua.

“[...] transporte com certeza, porque muitas vezes eu tenho que ir até o cliente,
porque as vezes são sacolas pesadas e tudo mais, e as vezes só de ônibus eu não
consigo, tendo em vista que nem todas as linhas aqui em Florianópolis ligam uma
coisa a outra.” (Entrevistado 01)

Já nessa outra situação, o critério ambiental é um forte indicativo para realizar a


logística levando-se em consideração a distância entre os pontos coletores.

“Então quando a gente chega nesses armários, a gente recolhe o que tem ali, a
gente também tira muita coisa, leva pra outros armários ou encaminha direto pra
pessoas que a gente sabe que vão reutilizar essas coisas, ou ONGs, enfim, então a
gente faz essa logística sim, mas a gente não faz tipo ‘ah, tem um dia da semana’,
é quando eu estou indo pra lagoa, quando eu já estou movendo o meu carro
praquele lado, eu passo no armário e faço, então esse também é um jeito
sustentável da gente fazer essa logística, senão não há dinheiro que abasteça carro
e gasolina e que mantenha tudo isso pra ir atrás só pra arrumar a bagunça dos
outros, então é assim que a gente faz a logística [...]” (Entrevistado 08)

Quanto aos responsáveis pelas iniciativas, se notou que as indicações estão


relacionadas ao modelo de negócio e não somente às iniciativas de coleta, separação, reúso
ou reciclagem. Um indicativo disso é que, apesar da importância do Poder Público indicada
na literatura, apenas um expert da indústria citou diretamente o seu impacto como um
moderador na gestão de resíduos têxteis no pós-consumo.
Isso ocorreu porque o modelo de negócio na área de atuação do entrevistado é uma
cooperativa executora de ações em parceria direta com a prefeitura, conforme observado no
trecho abaixo:

“Sim, a prefeitura, mas através da prefeitura a gente tem (cita nome de uma das
Secretarias Administrativas da Prefeitura de Florianópolis) que é da geração de
empregos, que está tudo um pouco parado mas eles continuam (sic) e tem as
universidades. Por exemplo, ali a gente tem um apoio [...] até nós repaginamos
todo o (cita o nome da empresa), porque nós somos incubados pela (cita nome de
uma universidade privada na Grande Florianópolis) [...] então em 2018 a gente
teve uma incubação deles, que foi muito bom, com reuniões, muito focado nessa
coisa do reúso e nas feiras, a gente até ganhou móveis, mudamos todo o ambiente
[...]” (Entrevistado 04)

Já em relação as ONGs, houveram citações que relacionavam fortemente a etapa de


coleta. Os entrevistados compreendem o papel social da ONG e também visualizam não
124

apenas um melhor desempenho econômico (devido aos preços mais acessíveis), como
também um melhor desempenho ambiental tendo em vista que tais ONGs são beneficiadas
por grandes varejistas de fast fashion com peças reprovadas no teste de qualidade ou itens
de fim de coleção e, caso não fossem revendidas, seriam simplesmente incineradas.

“[...] para elas (ONGs) o que é mais importante é ter dinheiro em caixa logo,
porque até o próprio trabalho que elas tem dentro do brechó de vender, entregar
pra cliente (sic) elas conseguem focar em outras coisas que são importantes pra
instituição [...] (sic) as vezes quem esta consumindo de brechó inclusive, e talvez
principalmente porque quer consumir de uma moda que venha da economia
circular, as vezes vê ali que a gente esta vendendo peça nova e pode ficar
contraditório, então até pra levantar isso pras nossas clientes é uma coisa
importante, porque acaba fazendo sentido pra gente né? Apesar de estar vendendo
essas peças novas, elas vieram de uma fonte de descarte de uma empresa de fast
fashion e (sic) ainda consegue beneficiar todo mundo que esta dentro desse ciclo,
que é uma das premissas da (cita o nome da empresa) desde o início, que é que
todos os envolvidos, que estejam nesse ciclo possam ser beneficiados, então tanto
a empresa que esta ali [...] doando peças de descarte, quanto a instituição que
consegue ter esse dinheiro em caixa, a gente que consegue vender pras nossas
clientes, e as nossas clientes que ficam felizes e assim por diante” (Entrevistado
10)

Esse trecho contribui para a perspectiva de que tais iniciativas não necessariamente
são espaçadas dentro do modelo de negócio e que seu impacto pode estar atrelado tanto ao
desempenho econômico quanto ao desempenho social, pensando na perspectiva de quais
fornecedores escolhe-se para coletar os resíduos têxteis. Por fim, todos os atores e recursos
indicados por cada entrevistado foram compilados no Quadro 29.

Quadro 36 - Principais recursos e agentes citados pelos entrevistados

Entrevistado Recursos Atores Envolvidos


MPEs e usuário
Entrevistado 01 Malha de transporte
final

Tecnologias para corte, funilamento e derretimento Grandes varejistas,


Entrevistado 02 dos têxteis, tecnologia para limpeza das fibras, Fabricantes e
correias de transporte e malha de transporte ONGs

MPEs e usuário
Entrevistado 03 Malha de transporte e mão-de-obra qualificada
final
MPEs e usuário
Entrevistado 04 Malha de transporte e mão-de-obra qualificada
final
Continuação
125

Quadro 29 - Principais recursos e agentes citados pelos entrevistados – Conclusão

Entrevistado Recursos Atores Envolvidos


MPEs e usuário
Entrevistado 05 Malha de transporte
final
MPEs e usuário
Entrevistado 06 Malha de transporte e mão-de-obra qualificada
final
ONGs e usuário
Entrevistado 07 Malha de transporte e mão-de-obra qualificada
final
Pontos de coleta em áreas públicas, malha de ONGs, MPEs e
Entrevistado 08
transporte, centro de triagem, mão-de-obra qualificada usuário final
ONGs e usuário
Entrevistado 09 Malha de transporte, tecnologia de etiquetagem
final
ONGs, MPEs e
Entrevistado 10 Malha de transporte, mão-de-obra qualificada
usuário final
Pontos de coleta em áreas públicas, malha de MPEs e usuário
Entrevistado 11
transporte, centro de triagem, mão-de-obra qualificada final

Sendo assim, observa-se que a percepção dos entrevistados para com os recursos
utilizados variam de acordo com o modelo de negócio da organização, mais do que
necessariamente as etapas de coleta, separação e reinserção dos itens de vestuário à cadeia
produtiva. Como pontuado anteriormente, existe muitas vezes conflitos para escolher a
iniciativa ideal para a gestão de resíduos têxteis nas empresas analisadas.
Isto é, buscar alinhar as iniciativas de gestão de resíduos para coletar os itens de
vestuário que atendam as expectativas do cliente, com aspectos sociais ou ambientais.
Outra ação de integração também acontece é quando pensado o transporte entre etapas da
gestão de resíduos, uma vez que também interfere nos custos do negócio e nos valores
sustentáveis defendidos pela organização.
Dessa forma, as iniciativas eram definidas por esses experts da indústria
fortemente desempenhadas por uma mão de obra qualificada a partir da escolha de pontos
de coleta, considerando a distância e tipo de material, com participação de outros MPEs e
ONGs em determinadas etapas, em especial, na coleta.
A sessão a seguir analisa as iniciativas de gestão de resíduos têxteis no pós-
consumo da indústria de vestuário dos pontos de vista a partir de critérios econômicos,
ambientais e sociais.
126

4.2.4 Análise das iniciativas de gestão de resíduos têxteis no pós-consumo pelos


experts da indústria

Na sessão anterior foram endereçados os resultados da etapa qualitativa relativos


aos recursos e responsáveis pelas iniciativas, que são pré-requisitos para desenvolvimento e
desempenho das iniciativas de coleta, separação e reinserção de itens de vestuário no pós-
consumo na cadeia produtiva.
Atualmente, no cenário analisado, os recursos focados são malhas de transporte
baseada em distância e tipo de material coletado (ex.: item de vestuário com defeito, item
de vestuário em bom estado), mão-de-obra altamente qualificada e características técnicas
do têxtil coletado (para conhecimento das possibilidades de utilização e descarte do têxtil).
Já os principais agentes envolvidos nos processos são as micro e pequenas
empresas desenvolvedoras das iniciativas, clientes e ONGs. Dessa forma, conhecendo os
requisitos para o desempenho das iniciativas, a seguir são abordados os resultados obtidos
junto aos experts da indústria com relação aos critérios levados em consideração para
escolha das iniciativas de gestão de resíduos têxteis no pós-consumo da indústria de
vestuário.
Na maior parte dos casos, os critérios observados não necessariamente são focados
em uma única etapa, isto significa que os entrevistados analisam pela totalidade do
processo pensando na integração das etapas de coleta, separação e reinserção desses itens
de vestuário. Logo, os critérios podem ser levados em consideração por etapas, mas
também podem ser impostos pensando na gestão de resíduos de maneira mais ampla.
Devido ao fato elencado anteriormente, nesta seção a análise das iniciativas dar-se-
á focada na gestão de resíduos têxteis em sua totalidade, mas também ponderando as
particularidades e todas essas possíveis extensões que foram observadas em campo em
alguma etapa específica.
O Quadro 30 apresenta quais tipos de critérios são mais priorizados para o
desenvolvimento das iniciativas de gestão de resíduos têxteis no pós-consumo da indústria
de vestuário.
127

Quadro 37 - Codificação dos critérios econômicos, ambientais e sociais

Resposta das entrevistas de experts da indústria de vestuário


Categoria Analítica
E1 E2 E3 E4 E5 E6 E7 E8 E9 E10 E11 Termos Entrevistas

Critérios Econômicos S S S S S S S S S S S 60 11

Critérios Ambientais S P S P P S S S P S S 11 11

Critérios Sociais S P P S X S S S S S P 7 10
Legenda: S: A categoria analítica atinge fortemente a empresa. N: A categoria analítica não atinge a empresa.
P: A categoria analítica atinge parcialmente a empresa de forma limitada. X: O entrevistado não forneceu
informações claras sobre essa categoria analítica.

Os resultados apontaram os critérios econômicos como os únicos considerados em


sua integralidade quando pensado no processo de gestão de resíduos têxteis no pós-
consumo da indústria de vestuário. Em geral, foi constatado nas entrevistas que o nível de
influência do cliente e a desmaterialização do item de vestuário coletado dependem, em
muitos casos, do modo como esse item poderá ser reutilizado (ou reciclado) e do quanto a
outra parte (consumidor) está interessada nesse produto final.
Nesse sentido, os aspectos econômicos podem ser tanto uma decisão interna
quanto uma imposição pelo ambiente da cadeia de gestão de resíduos no qual as empresas
encontram-se inseridas. Desse modo, não necessariamente os aspectos ambientais e sociais
passam a ser considerados primeiramente, mas puxados pelos critérios econômicos
atrelados a essas iniciativas.
Em relação aos critérios econômicos, os que tiveram maior frequência de citação
foram: custo de transporte e flexibilidade nos processos. Além disso, surgiram outros dois
critérios não-mapeados pela literatura mas que foram citados em todas as entrevistas e
elucidam as decisões por determinada iniciativa, sendo eles: qualidade dos resíduos
coletados e aceitação e participação do consumidor.
Os entrevistados afirmam que o custo de transporte desempenha um forte critério
de decisão, tanto na questão de coleta quanto para entrega das mercadorias aos clientes. A
distância afeta diretamente o modo como esses experts da indústria buscam esses itens de
vestuário que, por consequência acaba afetando a flexibilidade de alocar os recursos e mão-
de-obra (já escassas) para outras atividades.
128

O Quadro 31 sintetiza a frequência de citação dos critérios econômicos pelos


experts da indústria.

Quadro 38 - Codificação dos principais critérios econômicos citados pelos entrevistados


Resposta das entrevistas de experts da indústria de vestuário
Categoria Analítica
E1 E2 E3 E4 E5 E6 E7 E8 E9 E10 E11 Termos Entrevistas
Custo de transporte S S S P P S S S P S P 7 11
Flexibilidade nos
S P S S S S S S S S S 11
processos 7
Qualidade dos resíduos
S S S S S S S S S S P 11
coletados 4
Aceitação e participação
S S S S S S S S S S S 11
do consumidor 8
Auto-sustentabilidade
S N S S S S S S S S S 10
da organização 6
Custo de mão-de-obra S S P P N N P S X P P 3 8
Maturidade do negócio X S S N P P S S S S X 5 8
Valores do negócio S S S S X X S S N S S 4 8
Padronização nos
S N S S S S N N S S X 7
processos 1
Capacidade de
tratamento dos resíduos S P S S X X S N S S X 7
têxteis 7
Tecnologia envolvida X S X X X X X N X X X 8 1
Legenda: S: A categoria analítica atinge fortemente a empresa. N: A categoria analítica não atinge a empresa.
P: A categoria analítica atinge parcialmente a empresa de forma limitada. X: O entrevistado não forneceu
informações claras sobre essa categoria analítica.

Ainda com relação ao Quadro 31 apesar de muitas empresas possuírem princípios


ambientais dentro de seu conjunto de valores, a categoria valores de negócio foi também
criada após a pesquisa de campo pois está relacionada às práticas organizacionais da
instituição e, por isso, foi associada aos critérios econômicos do modelo de negócio.
Um exemplo de que os valores de negócio desempenham um critério importante
de decisão e não necessariamente possuem relação com aspectos ambientais é o caso a
seguir, onde o expert da indústria colocou isso como um posicionamento da empresa
quando questionado se a empresa possuía uma visão ambiental para escolha das iniciativas
de gestão de resíduos:
129

“[...] Acredito que sim, mas não do modo como hoje a gente se posiciona,
naquela época tudo era muito novo e na verdade os (cita nome dos fundadores da
empresa) estavam saindo da faculdade e viram nesse resíduo apenas uma forma
de gerar dinheiro, ate porque na região (sic) do vale (referindo-se a região do vale
do Itajaí) esse setor ainda era pequeno mas a demanda era alta.” (Entrevistado 02)

Anteriormente já havia sido mencionado que os critérios ambientais existem num


nível estratégico, mais relacionado ao modo como o negócio pretende se apresentar ao
mercado. O Quadro 32 também justifica a afirmação, haja vista que nenhum dos critérios
ambientais foi citado por todos os entrevistados. Isso demonstra que embora todos os
experts da indústria tenham consciência ambiental, o desempenho da gestão de resíduos
não necessariamente os leva em consideração.

Quadro 39 - Codificação dos principais critérios ambientais citados pelos entrevistados


Resposta das entrevistas de experts da indústria de vestuário
Categoria Analítica
E1 E2 E3 E4 E5 E6 E7 E8 E9 E10 E11 Termos Entrevistas
Geração de resíduos finais S N N X X P S S X S S 7 6
Rastreabilidade final do
X X P X X X S S N S S 3 5
item
Consumo de agua X S X X X X P P X X X 2 3
Consumo de energia
X S X X X X X X X X X 1 1
elétrica
Suficiência dos recursos
P X X X X X X X X X X 2 1
coletados
Legenda: S: A categoria analítica atinge fortemente a empresa. N: A categoria analítica não atinge a empresa.
P: A categoria analítica atinge parcialmente a empresa de forma limitada. X: O entrevistado não forneceu
informações claras sobre essa categoria analítica.

Foi observado que a pressão externa, em especial, do consumidor faz os


entrevistados priorizarem iniciativas que tenham um melhor desempenho econômico num
curto prazo, como na citação abaixo:

“Eu vou fazer uma coisa que é de outra coisa usada (sic) não faz sentido, as
pessoas não vão gostar disso (sic) porque eu tinha que pensar no cliente também,
em como atingir o cliente, porque (sic) também tem que pensar nessa parte de
vender, no dinheiro em si. Eu pensava ‘mas será (sic)?’ reciclagem me lembra
aquelas coisas de vó, sabe? Até a gente mesmo tirar esse pensamento. É você
pensa: ‘ah, vou reciclar aqueles tapetinhos, ou aquelas bolsas assim cheias de
flores, com vários tecidos diferentes’ e (sic) até a gente entender que pode
realmente fazer algo realmente que dure e que esteja consumindo nessa época,
pra pessoas dessa época, porque a moda infelizmente é a moda, ela vem e ela vai,
e não tem muito o que fazer, ou tu vai junto ou tu apanha muito por ir contra [...]”
(Entrevistado 01).
130

Esse desempenho em curto prazo tem relação direta com a forma como esse item
de vestuário será coletado, separado e reinserido na cadeia produtiva da maneira mais
rápida possível. Para os entrevistados o importante é que, nesse momento, o ciclo seja
fechado sem grandes interrupções entre uma etapa e outra. Inclusive, não foi notada relação
entre influência do consumidor com o tempo de funcionamento do negócio.
Desse modo, pensando apenas nas entrevistas realizadas, infere-se que o modelo
linear de consumo pressiona e influencia diretamente as decisões dos experts da indústria
por critérios econômicos em detrimento dos demais.
Em essência, para o bom desempenho da gestão de resíduos têxteis critérios
econômicos tornam-se mais relevantes, entretanto, quando o modelo de negócio possui
princípios ambientais dentro de seus valores, estes também são considerados ainda que
afete seu desempenho final.
A citação abaixo ilustra a afirmação anterior:

“[...] tanto custo quanto princípios dentro do (cita o nome da empresa). Quando a
gente percebeu que a gente conseguia fazer algo que seria muito bom pra gente e
que a gente ainda ia conseguir beneficiar quem estava vendendo, fez muito bem
pra gente, e eu acredito que (sic) aí, eu vou até um pouco longe, (sic)? Eu vou
falar aqui, não queria sair do gancho mas vou aproveitar aqui o que eu pensei. É
que até uma coisa que a gente sente também é que as próprias clientes sentem
quando compram da gente, que é a sensação de estar comprando, mas sabendo
que estão fazendo bem pra um movimento, sabe? [...]” (Entrevistado 10).

Na sequência, cabe ressaltar que todos os critérios sociais encontrados na literatura


tiveram alguma citação nas entrevistas com os experts da indústria. Enquanto as parcerias
com cooperativas, associações e consórcios e segurança e saúde do trabalhador são
fortemente associadas à etapa de coleta. A participação de grupos minoritários foi
observada como um critério para reinserção do item, garantindo acessibilidade desses
produtos a outros grupos majoritariamente menos favorecidos.
Ressalta-se aqui uma relação entre dois critérios econômicos: valores do negócio e
custo de transporte com o critério social Parceria com cooperativas, associações e
consórcios. Isso decorre da visão de 6 entrevistados que compreendem as colaborações com
ONGs como um valor do negócio e, por isso, ainda que levem em consideração o custo de
transporte (deslocamento até a coleta) a prioridade dos fornecedores são essas associações
que possuem uma finalidade filantrópica.
131

O Quadro 33 apresenta os principais critérios sócias citados pelos entrevistados.

Quadro 40 - Codificação dos principais critérios sociais citados pelos entrevistados


Resposta das entrevistas de experts da indústria de vestuário
Categoria Analítica
E1 E2 E3 E4 E5 E6 E7 E8 E9 E10 E11 Termos Entrevistas
Parceria com cooperativas,
X X X X X X X P S S x 1 3
associações e consórcios
Participação de grupos
S X X X X X X X X X X 1 1
minoritarios
Segurança e Saúde do
X X X X X X X P X P X 4 2
Trabalhador
Legenda: S: A categoria analítica atinge fortemente a empresa. N: A categoria analítica não atinge a empresa.
P: A categoria analítica atinge parcialmente a empresa de forma limitada. X: O entrevistado não forneceu
informações claras sobre essa categoria analítica.

Já quando questionados se estavam atuando em um cenário ideal, apenas quatro


entrevistados entenderam que a atual gestão de resíduos têxteis atendia aos resultados
esperados. Ainda assim, todos foram interpelados sobre quais barreiras e facilitadores
existiam para alcançarem o cenário ideal (para os entrevistados que entenderam não
estarem atuando em um) ou para o crescimento do negócio (aos entrevistados que
entenderam já estarem atuando num cenário ideal).
Os Quadros 34 e 35 demonstram o mapeamento das barreiras e facilitadores
nomeados pelos experts da indústria para o alcance de um cenário ideal de gestão de
resíduos têxteis.
As seguintes barreiras foram citadas por apenas um ou dois entrevistados e, dessa
forma, não fizeram parte do mapeamento final por não possuírem saturação teórica
suficiente para representarem uma descoberta do estudo, sendo elas: falta de incentivo
financeiro na etapa da coleta (entrevistado 08) e falta de parceiros em reutilização
(entrevistado 07).
Já em relação aos facilitadores, na etapa de coleta, a rede de cooperação com ONGs
e catadores individuais envolvidos nas etapas de coleta foi citada apenas pelo entrevistado
11.
132

Quadro 41 - Mapeamento das principais barreiras citadas pelos entrevistados

Etapas E1 E2 E3 E4 E5 E6 E7 E8 E9 E10 E11


Falta de Falta de Falta de
padronização padronização padronização
Coleta para coletar para coletar para coletar
os itens de os itens de os itens de
vestuário vestuário vestuário
Falta de Falta de
padronização padronização
Alto custo de
para para
Separação mão de obra
armazenar os armazenar os
qualificada
itens de itens de
vestuário vestuário
Limitações Manter a
tecnológicas mesma
Alto custo de
para auxiliar qualidade
mão de obra
no processo dos Incerteza de
Baixa Baixa qualificada, , Baixa Baixa
de utilização produtos demanda, Destinação e
padronização padronização Manter a padronização padronização
Reinserção do item de reutilizados, Destinação e rastreamento
das das mesma das das
vestuario Incerteza de rastreamento final incerto
atividades atividades qualidade dos atividades atividades
coletado, demanda, final incerto
produtos
Consumidor Consumidor
reutilizados
mais mais
exigente exigente
133

Quadro 42 - Mapeamento dos principais facilitadores citados pelos entrevistados

E1 E2 E3 E4 E5 E6 E7 E8 E9 E10 E11
Consumidor Consumidor mais
mais consciente consciente e
e engajado em engajado em
Coleta
iniciativas iniciativas
sustentáveis de sustentáveis de
descarte descarte
Aumento no
Crescimento de novas
consumo de Aumento no
empresas e
itens de Aumento no consumo de itens
cooperativas para
Consumidor vestuário de consumo de itens de vestuário de
Crescimento Aumento no parcerias, aumento no
mais consciente segunda-mão, de vestuário de segunda-mão, Crescimento de
da demanda consumo de consumo de itens de
e engajado em Consumidor segunda-mão, Consumidor mais novas empresas e
Reinserção por têxteis itens de vestuário de segunda-
iniciativas mais Crescimento de consciente e cooperativas para
para outras vestuário de mão, Consumidor
sustentáveis de consciente e novas empresas e engajado em parcerias
indústrias segunda-mão mais consciente e
descarte engajado em cooperativas para iniciativas
engajado em
iniciativas parcerias sustentáveis de
iniciativas sustentáveis
sustentáveis de descarte
de descarte
descarte
134

Nas barreiras, apareceram outros três pontos de atenção para o alcance de um


cenário ideal, sendo eles: falta de incentivo financeiro, consumidor mais exigente e falta de
parceiros para reinserção. A deficiência de incentivo financeiro foi identificada na seguinte
afirmação:

“Na verdade a maior dor hoje dos (cita o nome dos pontos de coleta) é a
financeira, porque a gente precisa de dinheiro pra fazer a logística, e
principalmente pagar a dupla que trabalha com isso. A parte ambiental, a parte
social, a parte estrutural (sic) na verdade funciona como um todo, a gente ainda
esta “capenga” porque não consegue se sustentar financeiramente no sentido de
(sic) a gente não consegue crescer. Hoje o retorno que o (cita o nome dos pontos
de coleta) dá, a gente consegue fazer o que a gente esta fazendo, mas a gente não
consegue crescer, é bem triste [...]” (Entrevistado 08)

Já considerações quanto ao consumidor mais exigente foi identificado no seguinte


trecho:
“[...] eu acho que o que poderia melhorar é um pouco a qualidade dos produtos, e
pensarem um pouco mais também [...] conforme a época, o que as pessoas
precisam, e não continuar na mesma tecla, mudar um pouco o produto pra
acompanhar a demanda que a gente tem hoje [...] então eu acho que elas tem que
tomar mais cuidado com isso, com esse tipo de qualidade, porque por exemplo eu
não ponho pra vender online um produto desse, já descarto, e eu acho que se eu
não ponho online, a pessoa pode até ir comprar, mas não perceber que tem uma
diferença.” (Entrevistado 04).

Por fim, em um outro contexto, determinado expert da indústria também citou a


carência de parcerias com microempreendedores na reinserção dos itens coletados pelo
entrevistado. Como sua empresa também comercializa produtos de terceiros, o entrevistado
compreende ser possível reaproveitar os itens de vestuário junto à designers locais.
Desse modo, o brechó poderia servir como um banco de tecidos para
microempreendedores reutilizarem e comercializarem no brechó num modelo de parceria.

“[...] se tivesse pessoas, artesãos interessados em fazer esse upcycling, se a gente


só desse o material (coletado) pra eles a gente já estaria ganhando [...] fizesse um
upcycling e retornasse esses produtos pra revender nas lojas deles, eu tenho
certeza que seria extremamente benéfico, porque isso resolve um problema, não é
só porque é bonito, não é só porque pode dar dinheiro e retorno positivo no ponto
de vista do cliente dele, resolve um problema e a gente precisa revolver isso, o
desperdício precisa diminuir, claro, mas a gente também precisa começar a ser
mais inteligente nessa gestão né?” (Entrevistado 07)

Esses aspectos são relevantes pois se inserem justamente no modo como os


entrevistados compreendem o impacto dessas barreiras no atual desempenho das iniciativas
desenvolvidas. Existe ainda uma preocupação maior com a reinserção dos itens de
135

vestuário na cadeia produtiva, embora também sejam visualizadas barreiras nas etapas de
coleta e separação.

Em relação aos facilitadores, foi citado principalmente o aumento no consumo do


varejo de segunda-mão e consumidor mais consciente e engajado em iniciativas
sustentáveis de descarte nas etapas de coleta e reinserção enquanto na etapa de separação
não houveram citações diretas.
Houve ainda adição de um novo facilitador denominado “Crescimento de novas
empresas e cooperativas para parcerias” decorrente de entrevistados cientes do bom
desempenho de suas práticas e possíveis de evolução em detrimento das parcerias
realizadas junto a outras instituições. Essas parcerias eram visualizadas tanto do ponto de
vista das ONGs, já discutido anteriormente, quanto sob a ótica dos grandes varejistas de
fast fashion.
Essa questão conecta-se com o último ponto discutido com os entrevistados,
correspondente aos benefícios de uma gestão integrada de resíduos entre os diferentes elos
dessa cadeia produtiva. Todos os entrevistados citaram o entendimento dos benefícios,
embora existam ressalvas quanto à aplicação prática disso.
Como no relato a seguir, o entrevistado entende ser uma interação positiva a
integração com grandes varejistas, ainda que delimite os interesses dessas empresas como
recentes e superficiais, as relações e vínculos estão em formação, o que pressupõe uma
mudança de pensamento nesse elo (grandes varejistas) da indústria de vestuário:

“Na verdade as pessoas que eu converso são as que tomam decisões e enfim, pra
eles tanto faz, pagar pra enterrar, que já esta nesse fluxo mesmo do que
encaminhar. Inclusive nós (refere-se a grupos ambientais) somos um empecilho
(sic) porque a gente não quer que eles enterrem, a gente esta falando sobre isso,
[...] e por mais que são pessoas que querem um mundo melhor (sic) a maioria dos
acionistas são internacionais e são business mesmo (sic) [...] Nós somos um
incomodo que eles tratam bem porque mais vale ter a gente como “amiguinho”
[...] nós que eu digo (sic) todos os ambientalistas e todas as pessoas que fazem
esse movimento de realmente utilizar. Eu acredito que a gente esteja perto dessa
virada de chave, que eles realmente mudem e encaminhem isso pras pessoas.
Aqui no centro de distribuição eles doam, doam no sentido de doação mesmo [...]
então é esses brechós de igreja (sic) que vendem as roupas, as vezes até com as
etiquetas. E daí entra nós como não sendo doação, porque a gente não quer essas
roupas pra vender como estão, a gente quer transformar em outras coisas, então é
isso assim, a gente ainda ‘esta estudando esse jogo’ (sic) é tudo muito novo, mas
eu acho que vai dar certo.” (Entrevistado 08).
136

O tom de crítica também é reverberado no discurso de outro expert da indústria,


especialmente na integração de grandes varejistas com ONGs, sendo considerado por ele
um problema de responsabilidade dos itens de vestuário.

“A questão das ONGs é uma coisa que a gente vem acompanhando há anos,
quem gosta de brechó sabe que atualmente as ONGs elas são grandes centros de
depósitos de roupas descartadas, que não são corretamente descartadas, que não é
uma boa vontade das pessoas, é realmente não saber o que fazer com a roupa [...]
mas a gente sabe que é uma responsabilidade da indústria ter tanto excesso de
tecido pra descartar, e a gente vê, uma das coisas que a gente percebe quando
começa a garimpar em brechó são as falhas da indústria (sic), aqui na região a
gente tem o depósito da (cita o nome de grande varejista), então a gente vê
muitos produtos da (cita o nome de grande varejista) com pequenos defeitos que
eles distribuem nas ONGs, e a maioria desses defeitos a maioria das vezes é
causado pela própria (cita o nome de grande varejista) pra ocultar a marca deles
(sic) e eles vão distribuindo pelas ONGs, que nem falo, virou um grande depósito
de roupa descartável, que é um absurdo (sic), porque a ONG só aceita porque ela
precisa gerar renda pra ela, então é muito complicado essa situação”
(Entrevistado 07)

Outro expert também observou que não apenas o acesso é importante mas o que
fazer com o material coletado. Para esse entrevistado, a latência atual da gestão de resíduos
têxteis na indústria de vestuário é encontrar nesses resíduos uma utilização total do recurso,
sem que haja algum tipo de resíduo final gerado.

“[...] eu não costumo jogar nada fora, a calça (jeans) é reutilizada 100%, o que
sobra de retalhos pequenos eu vou juntando até que se formem retalhos grandes
pra fazer uma nova mochila ou um novo material. Eu geralmente faço
carteirinhas pra dar de brinde, ou algum chaveiro, tudo isso reutilizando esse
mesmo jeans, pra que nada vá pro lixo. E os pequenos resíduos, os menores, que
não tem como juntar, que não vale muito a pena, eu guardo [...] mas esse resíduos
pequenos, já entra outro projeto que eu estou tentando fazer. Eu estou guardando
eles porque eles servem de enchimento, esses menorzinhos. E com esses
enchimentos eu estou pensando em fazer caminhas pra cachorro” (Entrevistado
01)

Assim, com a condução da análise das iniciativas abordadas pelos experts da


indústria de vestuário na gestão de resíduos têxteis no pós-consumo, foi identificada a
priorização de critérios econômicos. Observou-se uma dependência desses critérios para o
desempenho positivo das iniciativas utilizadas. Houve uma observação de que, embora os
recursos e responsáveis executem as atividades das iniciativas, o ambiente externo exerce
uma influência direta na tomada de decisão, por escolher uma iniciativa em detrimento das
demais.
Além disso, não necessariamente o desempenho da gestão de resíduos têxteis
depende de maneira isolada a partir de critérios ambientais. O seu escopo relaciona-se mais
aos valores do negócio que, por sua vez, exercem poder na tomada de decisão entre as
137

iniciativas possíveis. Destaca-se que esse impacto indireto nas tomadas de decisão é
visualizado pelos entrevistados na tentativa de equilibrar os valores da marca (usualmente
com princípios ambientais) com os critérios econômicos.
Em síntese, para os experts da indústria entrevistados, ainda que a preocupação
esteja no meio (critérios econômicos), o peso dos valores da marca precisam ser somados e
visualizados na ação final dessa iniciativa, do contrário perde-se a razão em sua utilização.
Por fim, o capítulo seguinte apresenta a discussão dos resultados obtidos neste capítulo com
a revisão da literatura abordada no Capítulo 3.
138

5 DISCUSSÃO

A principal pergunta de pesquisa desta dissertação foi “regionalmente, no contexto


da economia circular, como determinadas empresas de vestuário consideram as iniciativas
para coleta, separação e reinserção na cadeia produtiva de resíduos têxteis no pós-
consumo?”. Ou seja, compreender as aplicações práticas de iniciativas circulares adotadas
num contexto regional de modo a analisa-las pensando em critérios econômicos, ambientais
e sociais.
A ideia de pesquisar iniciativas de gestão de resíduos têxteis não é inédita (PALM
et al., 2014; FRANCO, 2017; LEAL-FILHO et al., 2019). Nesta dissertação, a proposta de
se investigar como tais iniciativas são consideradas regionalmente no setor de vestuário
justificou-se, inicialmente, para assimilar até que ponto tais iniciativas de fato contribuem
ativamente ao desempenho econômico, ambiental e social dos atuais modelos de negócios
num contexto circular (BUKHARI et al., 2018; MCNEILL e SNOWDON, 2019).
Além disso, embora existam estudos da área que abordem modelos circulares de
gestão de resíduos no setor de vestuário (JUNG, JING, 2017; VEHMAS et al., 2018), há
carência de estudos para averiguar a correlação destes conceitos com a prática e avaliar
qual impacto em adotar determinada iniciativa, tendo em vista que, conforme Bukhari et al.
(2018), as decisões podem ser influenciadas por fatores externos ao modelo de negócio.
A escolha da PBV como corrente teórica justificou-se como adequada por buscar
concentrar o desempenho da atual gestão de resíduos as iniciativas (práticas) adotadas pelos
experts da indústria. Nessa dissertação, levando-se em consideração os resultados
alcançados junto à pesquisa de campo, a PBV é definida esquematicamente conforme a
Figura 13.
139

Figura 13- Modelo esquemático final da PBV baseado nos resultados do Capítulo 4

Fonte: próprio autor, com base em Carter et al. (2017); Jarzabkowski et al. (2016) e Bromiley e Rau (2016)

Nesta dissertação, a estruturação do estudo em questão combina um forte


componente dedutivo com elementos indutivos derivados da análise de dados primários.
Este último pode ser visto como uma validação preliminar da estrutura. No entanto, estudos
futuros são necessários para o aperfeiçoamento, validação e teste da estrutura conceitual
visualizada na Figura 13.
Os pré-requisitos para as iniciativas de coleta, separação e reinserção são
categorizados são as condições que englobam as ferramentas que operacionalizam as
iniciativas (recursos), os agentes envolvidos nesse processo (que excedem os limites da
própria organização) e os aspectos circulares que possibilitam a análise num contexto de
ciclo fechado.
Todos os pré-requisitos foram identificados em estruturas anteriores na literatura e
foram confirmadas pelos entrevistados. No contexto circular, os entrevistados entenderam
a circularidade como um modelo de itens de vestuário num ciclo fechado, voltado a
máxima utilização dos materiais e no baixo índice de descarte final para conservação de
recursos naturais.
Para Kozlowski et al. (2018), o surgimento de modelos de negócio em qualquer
indústria dentro de uma perspectiva circular não necessariamente nasce do desejo intrínseco
por meios mais sustentáveis de produção, mas, indiretamente, esses modelos de negócio
também pertencem a esse grupo, ainda que não tenham ciência disso.
140

Desta maneira, o resultado principal acerca da compreensão da Economia Circular


na indústria de vestuário do Brasil por parte dos entrevistados é a persistência de distinções
quanto à aplicação desse modelo. O foco atual consiste em como coletar e reinserir esses
itens pensando, em especial, nos agentes envolvidos nesse processo de gestão de resíduos
têxteis.
Tais agentes representam para os entrevistados aqueles executores de função direta
nas atividades e que influenciam no poder de decisão. Desse modo, os experts restringiram
sua análise, em resumo entre empresa foco, ONGs (usualmente no processo de coleta) e
clientes. Este último constitui um dos atores com maior poder de influência na definição de
escolha por determinada iniciativa.
O próprio referencial teórico já havia apontado que pressões externas, em especial,
demandas de clientes, influenciaram diretamente o modo como as empresas buscam e
reinserem os itens de vestuário à cadeia produtiva (DIDDI et al., 2019; LEAL-FILHO et al.,
2019).
Sendo assim, a busca por itens de vestuário que atendam o atual modelo de negócio
e, por conseguinte às expectativas dos clientes, influenciam principalmente no modo como
os entrevistados coletam esse material, dependendo de uma mão-de-obra qualificada e
alinhada ao objetivo final de reúso desse resíduo têxtil (FRANCO et al., 2017).
A mão-de-obra qualificada inclusive foi abordada por todos os entrevistados.
Segundo os experts da indústria, não há um melhor aproveitamento do resíduo têxtil
coletado. Por diversas vezes, inclusive, as ações de coleta e separação ocorrem dentro do
próprio garimpo, tendo em vista que domina em algumas iniciativas a coleta por itens de
vestuário de qualidade (LEAL-FILHO et al., 2019).
Já ao analisar as iniciativas identificadas na literatura junto à experts indústria de
vestuário, considerando critérios econômicos, ambientais e sociais pode-se inferir que, na
coleta foca-se em garimpar (mercado de pulgas) ou coletar por pontos pré-definidos
(coleta). Em seguida, prioriza-se a separação manual do material coletado, reinserindo-o de
três formas principais: reutilizando a partir de brechó, restaurando (com técnicas de
upcyling) ou reciclando mecanicamente.
Do ponto de vista ambiental, com base na análise da literatura, as iniciativas de
ecopontos, mercado de pulgas/brechó e separação manual garantem uma baixa geração de
resíduos têxteis, entretanto, ainda carecem de melhorias na rastreabilidade dos itens
reinseridos. Isso também foi identificado na pesquisa de campo, onde esses dois tópicos
141

foram citados para defender os valores do negócio ou na decisão por escolher determinada
iniciativa de coleta.
Ainda na pesquisa de campo, identificou-se a maior influência desempenhada pelos
critérios econômicos na decisão dos entrevistados. Tal constatação justifica-se pelo atual
modelo desempenhado por essas iniciativas, mais reagentes a pressões do ambiente
externo, ao invés de necessariamente enfatizar os reais princípios da economia circular
(FISCHER, PASCUCCI, 2017; BOCKEN et al, 2017).
Seguindo essa premissa, para outras empresas que atuem no mesmo cenário que as
empresas analisadas, o desempenho precisara levar em consideração critérios econômicos
essencialmente ligados ao custo de transporte, a flexibilidade nos processos, a qualidade
dos resíduos coletados e a aceitação e participação do consumidor.
Para Pal e Gander (2018) essa preocupação quanto aos critérios econômicos deve-
se, em parte, devido aos modelos de negócio circulares estarem inseridos num fluxo linear
de produção. Conforme Bocken et al. (2017), o processo de experimentação por
circularidade é importante para deteção do que precisa ser aprimorado nas atuais
iniciativas.
Além disso, também destaca-se o alto grau de flexibilidade para aderirem a
possíveis mudanças. Isso porque a maior parte dos entrevistados (8) atuam em empresas
que possuem tempo de funcionamento médio de 2 anos. Para Hu et al. (2014), empresas
que ainda estão iniciando suas atividades ou ainda possuem suas atividades de maneira
menos estruturada são mais impactadas por mudanças externas ou internas.
Essas considerações auxiliaram a compreender a atual variabilidade na aplicação
dessas iniciativas e endereçar quais barreiras e facilitadores para que ocorresse uma
unificação e melhoria no desempenho da gestão de resíduos têxteis que empresas que as
executam. Para Todeschini et al. (2017), apenas mapeando essas barreiras e facilitadores
torna-se possível alcançar iniciativas inerentes aos aspectos circulares.
Como barreiras para o cenário ideal, foram identificados, principalmente, a falta de
incentivo financeiro, consumidor mais exigente e carência de parceiros para reinserção. Os
pontos de melhoria concentraram análise justamente na etapa de reinserção caracterizada,
conforme observa Burton (2018), como o momento de maior contato com o consumidor e
com as possibilidades de reúso do material coletado.
Os facilitadores também tiveram maior enfoque na etapa de reinserção, sugerindo o
aumento no consumo do varejo de segunda-mão e consumidor mais consciente e engajado
142

em iniciativas sustentáveis de descarte, conectando com a literatura atual (MCNEILL,


SNOWDOWN, 2019). Sendo assim, iniciativas num contexto circular precisam
proporcionar uma experiência de compra diferente dos atuais canais padrões de consumo,
além de também atenderem às expectativas por produtos de alta qualidade.
Embora a percepção comum dos entrevistados seja relacionada a modelos de
negócio voltados ao reúso e reutilização para melhoria do desempenho ambiental,quando
comparado aos modelos de negócios convencionais enraizados na economia linear, ainda é
necessário promover abordagens de gerenciamento de resíduos em uma escala maior. A
ciclagem dos materiais constituintes dos itens de vestuário, em especial o jeans, foi
embasada justamente na qualidade desse têxtil para reutilização e abundância do material
em pontos de descarte.
O entendimento dos experts é de que precisa-se alinhar muito bem as expectativas
dos clientes com os tipos de materiais necessários para o processo produtivo e, dessa forma,
não apenas os valores da empresa sejam atendidos (pensando em empresas que atuam com
um mindset sustentável) como também o modelo de negócio possua um desempenho
economicamente vantajoso.
Em resumo, conforme Norris (2019), modelos de negócios em circulo fechado
necessitam garantir recursos em um mercado cada vez mais competitivo e focado no
crescimento. Além disso, a análise de um modelo de negócio circular (singular) não é
assertiva, pois as soluções de economia circular dependem das contribuições de vários
stakeholders com os modelos de negócios (PEDERSEN et al., 2019)
Assim, associando o embasamento teórico aos resultados práticos decorrentes da
pesquisa de campo para aprimorar tais iniciativas e, consequentemente, melhoria no
desempenho da gestão de resíduos têxteis de resíduos no pós-consumo é preciso a
valorização regional, no que define a distância entre os elos de coleta e reinserção.
Também é necessário foco em sistemas enxutos de produção, no que possibilita a
qualificação da mão-de-obra e o acesso a itens de vestuário de qualidade. Finalmente, a
educação do consumidor, para progressão e criação de um pensamento voltado cada vez
mais ao retorno desse item a cadeia produtiva (em especial, devido a rastreabilidade final
do item produzido).
143

6 CONCLUSÃO

Embora as iniciativas de gestão de resíduos têxteis no pós-consumo da indústria de


vestuário tenham sido discutidas como alternativa para mudar o atual modelo linear de
extração, produção e descarte da economia linear, os modelos de negócio ainda são
visualizados de maneira única, sem levar em consideração as diferentes dinâmicas entre os
atores e recursos existentes nesses processos.
Nesse sentido, esta dissertação teve por objetivo endereçar tais lacunas de pesquisa,
para o alcance de uma gestão de resíduos têxteis circular no pós-consumo. A intenção foi
analisar as iniciativas pensando em critérios econômicos, ambientais e sociais, pretendendo
compreender como a gestão de resíduos ocorre na prática. A dissertação foi desenvolvida
em três fases, subdivididas em treze etapas. A partir de uma análise da literatura sobre
resíduos têxteis e economia circular realizada na primeira fase, a oportunidade de pesquisa
foi identificada.
Foi constatado que os estudos sobre o tema da economia circular em iniciativas de
gestão de resíduos no setor têxtil geralmente insere o modelo econômico em suas
discussões de maneira abrangente, não trazendo contribuições em como tais iniciativas
podem, na prática, serem abordadas na perspectiva desse novo paradigma. Isto abre
caminhos para mais pesquisas sobre a aplicabilidade de uma gestão de resíduos que
englobe aspectos circulares em seu desenvolvimento.
Para endereçar a oportunidade de pesquisa, uma segunda análise da literatura sobre
resíduos têxteis e economia circular foi desenvolvida e identificou-se que a análise das
práticas já adotadas (ex.: coleta) podem gerar melhorias e alcançar novos patamares que de
fato auxiliem no desempenho de todo o processo (gestão de resíduos). Desse modo, a
Practice-Based View foi escolhida entre as correntes teóricas por ser adequada na análise
das iniciativas identificadas na literatura e discutidas junto aos resultados obtidos no estudo
de campo.
A partir da literatura, conclui-se que os resíduos têxteis no pós-consumo têm
crescido em importância na indústria de vestuário na medida em que aumentam a
frequência de compra, a má qualidade de roupas e a redução nos níveis de preço. Quando
pensado num contexto circular, isto significa um ciclo fechado de produção e consumo dos
têxteis pelo uso reduzido de recursos na produção e através de reúso (preferencialmente) e
reciclagem após o primeiro consumo.
144

Ainda com base na literatura, foram mapeadas e organizadas as iniciativas de coleta,


separação e reinserção de itens de vestuário no pós-consumo que possuíam aderência a
economia circular. Essa identificação visava responder o primeiro objetivo específico da
pesquisa, tendo sido encontrados onze iniciativas de coleta, três de separação, cinco de
reúso e seis de reciclagem.
Observou-se também que as iniciativas não necessariamente limitam-se à uma única
etapa da gestão de resíduos têxteis (ex.: brechó), além de existirem iniciativas semelhantes
ao escopo das atividades (ex.: ecopontos). Analisando as iniciativas do ponto de vista
teórico, conclui-se que a circularidade, ainda que promovida como uma nova solução para
os problemas ambientais, é puxada principalmente a jusante, promovendo abordagens de
gerenciamento de resíduos de curto prazo, enquanto os elos iniciais da cadeia produtiva
continuam a extrair e utilizar quantidade de recursos não renováveis de maneira excessiva.
Tais iniciativas foram analisadas a partir de seis critérios ambientais, oito critérios
econômicos e três critérios sociais, todos sendo encontrados no referencial teórico. Dentre
eles, destacam-se a suficiência dos recursos coletados, redução na geração de resíduos pós-
produção e a mão-de-obra envolvida no processo.
Além disso, por ser uma área recente e com diferentes peculiaridades, é necessário
que as iniciativas possuam alto grau de flexibilidade para aderirem a possíveis mudanças.
Não obstante, cabe observar a distância entre os diversos elos da gestão de resíduos,
também levado em consideração.
Já em relação às barreiras e facilitadores para execução e aprimoramento das
iniciativas de gestão de resíduos têxteis, se concluiu que a aplicação de qualquer inovação
num contexto circular cria barreiras e facilitadores similares por etapas (ex.: coleta,
separação e reinserção). A concentração das barreiras foi na baixa padronização dos
processos, falta de rastreabilidade dos itens que serão reinseridos na cadeia produtiva e
manutenção da qualidade no item de vestuário coletado.
Enquanto os facilitadores foram mais puxados pela aceitação e participação do
consumidor em modelos de negócio circulares e novas parcerias com associações e
coletivos (em especial, as ONGs).
Tendo em vista o exposto até o momento e levando em consideração o último
objetivo específico que é analisar, num contexto prático, como tais iniciativas são
compreendidas em relação aos recursos e agentes envolvidos nos processos, o estudo de
145

campo busca explicar como isto ocorre regionalmente junto a experts da indústria. Essa
análise limita-se, contudo, nas conclusões.
Sendo assim, as considerações acerca desse objetivo não podem ser associadas a
outras amostras, embora o estudo possa ser replicado e comparado com o resultado obtido
junto à esse grupo de experts da indústria.
Quanto a compreensão do termo economia circular e sua aplicação na indústria de
vestuário do Brasil, os resultados demonstraram que os entrevistados entendem a
circularidade como um modelo de itens de vestuário num ciclo fechado, pensando em sua
máxima reutilização e baixo índice de descarte final para conservação dos recursos naturais
e que sua aplicação no Brasil é feita de maneira dispersa.
As iniciativas circulares mais utilizadas são os ecopontos e mercado de pulgas na
etapa de coleta, a manipulação manual na etapa de separação e na reinserção geralmente é
realizada a reciclagem mecânica dos têxteis coletados ou sua reutilização por meio de
brechós ou restauração (upcycling).
Posteriormente, foi identificado que os critérios prioritários quanto à decisão pela
utilização de determinada iniciativa são os econômicos, ainda que os valores da
organização possuam princípios ambientais inclusos. Nesse sentido, critérios ambientais
que afetam o desempenho do modelo de negócio são predominantemente puxados pelos
critérios econômicos definidos, sobretudo a geração de resíduos finais e a rastreabilidade
dos itens produzidos.
A análise das iniciativas também permitiu identificar uma forte pressão do ambiente
externo, principalmente por parte dos clientes, que demandam uma experiência
diferenciada mas exigem, ao mesmo tempo, uma alta qualidade em comparação aos itens
de vestuário adquiridos de modelos de negócios voltados à produção linear.
Ainda com relação às iniciativas, embora no contexto teórico os recursos
tecnológicos despontem como principal item para assertividade na aplicação das iniciativas,
na práxis, os recursos mais citados foram o transporte e a mão de obra qualificada. Segundo
os experts da indústria, mais do que conceber tecnologias para reúso e reciclagem, é preciso
pensar nos recursos que compõem o item de vestuário para seu posterior descarte, retorno e
desmontagem. Isso corrobora com os achados teóricos indicativos da complexidade dos
têxteis (composição) em criar novas tecnologias.
Essa característica inclusive foi uma das barreiras mais citadas durantes as
entrevistas. Em outras palavras, existe uma preocupação maior com a reinserção dos itens
146

de vestuário na cadeia produtiva, apesar de também serem visualizadas barreiras nas etapas
de coleta e separação. Já em relação aos facilitadores, foi citado principalmente o aumento
no consumo do varejo de segunda-mão e consumidor mais consciente e engajado em
iniciativas sustentáveis de descarte.
Essa questão conecta-se com o último ponto discutido com os entrevistados que
seria os benefícios de uma gestão integrada de resíduos entre os diferentes elos dessa cadeia
produtiva. Mesmo que haja ressalvas com grandes varejistas, todos entenderam a existência
de benefícios numa maior integração entre diferentes elos da cadeia produtiva.
Todavia, a análise das iniciativas ainda é feita pelos experts da indústria de maneira
micro, visando alinhar muito bem as expectativas dos clientes com os tipos de materiais
necessários para o processo produtivo. Logo, não apenas os valores da empresa sejam
atendidos (pensando em empresas que atuam com princípios ambientais) como também a
gestão de resíduos possibilite um desempenho economicamente vantajoso.
Sendo assim, no contexto da economia circular, as empresas consideram as
iniciativas de gestão de resíduos têxteis no pós-consumo pensando num contexto micro,
levando em consideração aspectos econômicos. Os critérios ambientais e sociais são,
usualmente, dependentes dos critérios econômicos definidos.
Portanto, o desempenho da empresa concilia as demandas do mercado (ambiente
externo) principalmente as exigências definidas pelos clientes e as expectativas com os
valores do negócio com os recursos e responsáveis pelas iniciativas.
Em termos de contribuições do trabalho, do ponto de vista teórico, foram
identificadas novas barreiras e facilitadores favoráveis a análise em outros contextos.
Enquanto, do ponto de vista prático, a abordagem realizada permitiu identificar quais os
recursos e agentes envolvidos que de fato participam diretamente nas iniciativas.
Entre as limitações do trabalho e recomendações de estudos futuros, primeiramente,
reitera-se o tipo de pesquisa que, por ser de cunho qualitativo, não permite sua
generalização. No que diz respeito à identificação das iniciativas, uma replicação do mesmo
estudo em outra região permitiria a análise de clusters e, dessa forma, comparar os achados
deste estudo com essas novas pesquisas.
Além disso, o mapeamento das barreiras e facilitadores carece de maior
aprofundamento. Isso decorre por conta da não triangulação das descobertas nessa
dissertação das barreiras de falta de incentivo financeiro na etapa da coleta e falta de
parceiros em reutilização e do facilitador rede de cooperação com ONGs e catadores
147

individuais envolvidos nas etapas de coleta. Para essa análise são necessárias mais
entrevistas.
Por fim, mensurar o impacto dos critérios identificados quantitativamente num
estudo de caso para avaliar se desempenho da gestão de resíduos é realmente afetada pelos
critérios entendidos como prioritários pelos tomadores de decisões, sendo também uma
oportunidade de trabalhos futuros.
148

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APÊNDICE A – ANÁLISE BIBLIOMÉTRICA DA LITERATURA SOBRE


RESÍDUOS TÊXTEIS NA INDÚSTRIA DE VESTUÁRIO

A revisão sistemática da literatura compreendeu as seguintes etapas: (1) análise


bibliométrica (descritiva); (2) análise de conteúdo; e (3) síntese da literatura. Nesse
documento serão detalhados os métodos aplicados nas etapas de coleta, seleção e tratamento
dos artigos identificados e a análise descritiva dos estudos analisados.

a) Métodos Aplicados

Inicialmente se procedeu com a busca e seleção dos artigos para composição do


portfólio. Para a localização dos artigos foram utilizadas as bases de dados ISI Web of
Science, Scopus, Compendex e Elsevier, disponíveis no portal de Periódicos Capes e
utilizadas em outros estudos sobre economia circular (GEISSDOERFER et al., 2017;
GOVIDAN, HASANAGIC, 2018). Para importação e organização das publicações
selecionadas foi utilizado o software EndNote®.
Os critérios definidos para pesquisa nas bases de dados foram: (1) não há restrição
quanto ao período de publicação; (2) a busca foi feita apenas no título, resumo e palavras-
chave; (3) foram considerados apenas os estudos do tipo article ou review publicados em
inglês. A coleta do material foi realizada no mês de janeiro de 2020, compreendendo
publicações até então.
Para busca dos artigos foram selecionadas 9 palavras-chaves e suas combinações,
sendo elas: waste AND fashion industry OR fashion retail OR cloth industry OR cloth retail
OR apparel retail OR apparel industry OR garment industry OR garment retail. A definição
das palavras-chaves inicialmente ocorriam com os termos “textile waste” ou “textile post-
consumer waste”, contudo, as combinações não traziam elementos suficientes para análise.
Desse modo, se observou que a maioria dos artigos selecionados para a pesquisa na literatura
traziam o termo “waste” para designar os resíduos têxteis no título, resumo e palavras-chaves,
passando a considerar este termo como palavra-chave nas buscas.
Para seleção do material foi definido que os critérios para inclusão ou exclusão de
conteúdo seriam: (1) o termo “waste” deve estar relacionado apenas à têxteis nos processos de
produção, não sendo levado em consideração outros resíduos sólidos ou desperdícios de
outras fontes de recursos como água e energia; (2) os estudos que tratam de pós-consumo
devem abordar práticas de reúso e/ou de reciclagem.
157

Após a conclusão da busca das 9 palavras-chave nas 4 bases de dados, foram


selecionados 382 publicações. O Quadro 36 resume as etapas de seleção e delimitação dos
artigos analisados.

Quadro 43 - Seleção e delimitação dos artigos relacionados a resíduos têxteis

Seleção para leitura do


Base de Seleção inicial Artigos sem Seleção para Seleção
título, palavras-chave e
dados (sem duplicatas) acesso leitura integral Final
resumo

382 364 102 19 71 64

Para a etapa de bibliometria, as dimensões descritivas para avaliação das publicações


foram definidas conforme Cauchick-Miguel et al. (2012) e podem ser visualizadas no Quadro
37. A etapa de análise descritiva das publicações foi realizada com o auxílio das ferramentas
Excel® e VOSviewer®.

Quadro 44 - Dimensões consideradas na avaliação descritiva


Dimensão Descrição
Discussão quanto a origem dos tipo dos dados coletados (se regional, nacional ou
Extensão dos estudos
internacional)

Características quanto a forma de condução de a pesquisa ser qualitativa, quantitativa


Abordagem dos estudos
ou combinada

Características quanto ao tipo de pesquisa ser conduzida no campo teórico-conceitual,


Tipo de pesquisa
survey, experimento, pesquisa de campo, estudo de caso ou pesquisa ação.

Documentos utilizados para coleta dos dados, divididos em: entrevista em


Instrumento de coleta
profundidade, observação, análise de dados secundários ou primários (quando não
de dados
indica documento de coleta mas descreve a forma de análise dos dados)

Objeto de estudo O foco do estudo está na indústria ou no consumidor?

Os estudos focam mais em aspectos sustentáveis, de engenharia (modo de operação) ou


Aspectos de observação
marketing (divulgação, análise de mercado ou percepção do consumidor)
158

Dimensões dos temas Os estudos discutem quais dimensões: economia circular, desperdício têxtil ou resíduos
abordados têxteis no pós-consumo?

Destinação dos resíduos Os estudos abordam o reúso ou a reciclagem em seu contexto de reinserção do resíduo
têxteis no pós-consumo na cadeia produtiva

Fonte: elaborado pelo autor, baseado em Cauchick-Miguel et al. (2012).

b) Análise Bibliométrica

Primeiramente, é apresentada uma análise descritiva das publicações que compõem o


portfólio final. A busca bibliográfica resultou em 64 artigos para análise (conforme Apêndice
A) provenientes de buscas nas seguintes bases de dados: Web of Science, Scopus, Compendex
e Science Direct. A Figura 14 compreende as publicações nos últimos 10 anos, que
representam 90% de todo o portfólio analisado. O intervalo 2017-2019 representa o maior
número de publicações no período, compreendendo 62% de todas as pesquisas sobre o tema
nos últimos 10 anos, sendo 2019 o ano com maior números de publicações (16).

Figura 14 - Quantidade de publicações nos últimos 10 anos


18 30%
16
25%
14
12 20%
10
15%
8
6 10%
4
5%
2
0 0%
2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019

Qtde. publicações %

Fonte: elaborado pelo autor com base na análise descritiva (2020).

O portfólio final é formado por artigos publicados em 37 periódicos diferentes.


Observou-se que 24% dos periódicos concentram mais de um artigo sobre o tema no período
analisado (1975 - 2019), indicando que o tema ocorre de maneira dispersa entre as
159

publicações nos periódicos em geral. Os principais periódicos que publicaram sobre resíduos
têxteis foram o International Journal of Consumer Studies e Sustainability, com cinco
publicações cada e Journal of Cleaner Production com 4 artigos publicados.
Quanto à extensão dos estudos, as publicações têm se concentrado mais em aplicações
regionais (35 publicações), sendo que 23 publicações nesse contexto ocorreram nos últimos
cinco anos. As pesquisas do tipo nacional (18 publicações) e internacional (11), estão mais
espaçadas entre as publicações. Dos 35 estudos regionais, 15 tiveram aplicações sobre
economia circular, sendo 11 delas nos últimos cinco anos.
Isso vai ao encontro ao que foi observado por Ellen MacArthur Foundation (2017) e
Franco (2017) ressaltam a importância de aplicações regionais para temas mais recentes para
posterior escalabilidade das metodologias em escopos mais abrangentes.
De modo geral, os estudos se concentram em uma abordagem qualitativa (30
publicações), em especial os relacionados à área de marketing (8 publicações) e aplicações na
indústria (19 publicações). Há 25 estudos com abordagem quantitativa e apenas 9 publicações
que realizam abordagem combinada.
A área de engenharia concentra mais publicações quantitativas e é a que maior
concentra publicações com abordagem mista (5 publicações), todas compreendidas no período
entre 2016-2018. Para Franco (2017), há carência de estudos que quantifiquem as aplicações
práticas do modelo circular na indústria de vestuário.
As Figuras 15 e 16 apresentam, respectivamente, o tipo de pesquisa e os principais
instrumentos de coleta de dados utilizados, conforme indicado nos trabalhos. Os valores
apontados nas colunas referem-se a quantidade de cada tipo de abordagem e instrumento de
coleta aplicados em cada pesquisa em relação ao total de trabalhos.
160

Figura 15 - Tipo de pesquisa


100%
2
3 1
90% 1
1 7
80%
2 1
70%
Teórico-conceitual
60% 2 Survey/Estudo de caso

50% Survey
19
10 Experimento
40%
Estudo de caso
30% Estudo de campo
20% 2

10% 4 9

0%
1975-2008 2010-2015 2016-2019
Fonte: elaborado pelo autor com base na análise descritiva (2020).

A partir da Figura 15 observa-se que o estudo de caso foi a abordagem metodológica


mais adotada nos períodos analisados (31 publicações). Destacam-se as surveys e estudos de
campo no período entre 2016-2019. Também se observa publicações que foram classificadas
com abordagem mista quanto ao tipo de pesquisa, tais como nas situações de survey seguida
por estudo de caso.
Em relação aos instrumentos de coleta de dados (Figura 16), foi observado que as
documentações que envolvem aspectos mais qualitativos (entrevistas em profundidade e
revisão bibliográfica) ocorrem mais nos dois primeiros períodos (1975-2009 e 2010-2014).
Enquanto no período de 2016-2019 as documentações qualitativas ocorreram em maior
quantidade quando acompanhadas de outros instrumentos para coleta de dados. Nesse
período, destacam-se aplicações de questionário e uso conjunto de entrevista em profundidade
observação (ambos representam 17,24% cada do total, no período).
Em relação a todas as publicações, a entrevista em profundidade ocorre em maior
frequência (31 publicações) e é mais utilizada em estudos de caso (14 publicações) e estudos
de campo (6 publicações). Em contraponto a Franco (2017), Sandvik e Stubbs (2019)
entendem que pesquisas exploratórias que levem em consideração aspectos qualitativos (ex.:
161

entrevista em profundidade) podem contribuir mais para compreender a gestão de resíduos no


pós-consumo dentro da indústria de vestuário no contexto atual.

Figura 16 - Principais instrumentos de coleta de dados


100% 1
1
2 Questionário/Observação
1
90% 1
2
7 Questionário/Entrevista semi-
80%
estruturada
2
70% 1 Questionário
5

60% 2 Observação/Entrevista semi-


2 estruturada
7
50% 1
Observação/Análise de dados
secundários
40%
11
Entrevista semi-
30% 1 2 estruturada/Revisão
Bibilográfica
1 Entrevista semi-
20% 2
1 estruturada/Análise de dados
1 secundários
3
10% 1 Entrevista semi-estruturada
4
1 1
0%
1975-2008 2010-2015 2016-2019

Fonte: elaborado pelo autor com base na análise descritiva (2020).

A Figura 17, por sua vez, apresenta os principais objetos de estudo da pesquisa
(classificados em indústria e consumidor). Verifica-se alta concentração de pesquisas focadas
na indústria em todos os períodos (47 publicações). Destacam-se também poucas publicações
que correlacionam os aspectos de consumo e indústria 4 publicações). As publicações na área
da indústria concentram-se mais nos aspectos de marketing (29 publicações), do que quanto à
operacionalização das atividades na gestão de resíduos têxteis (18 artigos).
162

Figura 17 - Principais objetos de estudo da pesquisa


100%
2
2
90%

80%

70%

60% 12
30 Indústria/Consumidor
50% 5
Indústria
40% Consumidor

30%

20%
6
10% 7

0%
1975-2008 2010-2015 2016-2019
Fonte: elaborado pelo autor com base na análise descritiva (2020).

A Figura 18 apresenta a distribuição por áreas de conhecimento. A partir dela


observa-se que os estudos na indústria concentram-se mais nos aspectos sustentáveis de suas
atividades (23 publicações), do que necessariamente no modo de operacionalização dos
resíduos têxteis (20 publicações). Já os estudos que envolvem o consumidor, tratam mais das
pesquisas de mercado e prospecção do setor de reúso/reutilização (11 publicações).
163

Figura 18 - Distribuição dos estudos por área de conhecimento


100%

2
90%

80%
23 2
70%

60%
Sustentabilidade
50%
4 Marketing
11 Engenharia
40%
1

30%

20% 20

1
10%

0%
Consumidor Indústria Indústria/Consumidor
Fonte: elaborado pelo autor com base na análise descritiva (2020).

Em relação às dimensões abordadas nos estudos, conforme Figura 19, o desperdício


têxtil é mais estudado em seu contexto amplo (pré-produção, pós-produção, pré-consumo e
pós-consumo) (60 publicações no total), com crescimento de estudos nas áreas de economia
circular (12 publicações) e desperdício têxtil no pós-consumo (37 publicações),
principalmente no período entre 2016-2019 (23 publicações).
Há também apenas 2 publicações focando apenas em resíduos têxteis no pós-
consumo e 100% das publicações sobre economia circular também focam nos itens de
vestuário pós-uso, podendo indicar uma relação de dependência entre as dimensões. A forte
incidência de estudos sobre resíduos têxteis pode ser justificada pois, em diferentes estudos
(ex.: LEAL FILHO et al., 2019; PARAS, PAL, 2018) o pós-consumo é atrelado como uma
forma de conter os resíduos gerados no processo produto a partir de seu reúso.
164

Figura 19 - Dimensões dos temas abordados


100%
90%
2 23
80% 12

70%
Resíduos têxteis no pós-
60% consumo
50% Resíduos têxteis
40% 36
5 19 Economia Circular
30%
20%
10%
10
0% 2
1975-2008 2010-2015 2016-2019
Nota: as publicações podiam estar dentro de uma ou mais categorias
Fonte: elaborado pelo autor com base na análise descritiva (2020).

As publicações relacionadas a resíduos têxteis no pós-consumo (37 publicações)


sugerem os processos de reúso e reciclagem em conjunto para gestão de resíduos no pós-
consumo de itens de vestuário (46%). O reúso é a segunda atividade mais discutida nas
publicações (38%) em especial em relação a atividades que envolvam upcycling (15
publicações), conforme Figura 19.

Figura 20 - Destinação dos resíduos têxteis no pós-consumo

21%

43% Reciclagem
Reuso
Reuso/Reciclagem

36%

Fonte: elaborado pelo autor com base na análise descritiva (2020).


165

Além disso, a Figura 21 apresenta a rede de co-ocorrência das principais palavras-


chaves extraídas do resumo das publicações analisadas. Foram selecionados os principais
termos citados duas ou mais vezes, sendo que cada círculo indica uma palavra-chave e seu
diâmetro indica a frequência com que o termo ocorre nas publicações.

Figura 21 - Rede de co-ocorrência dos termos pesquisados

Fonte: elaborado pelo autor com base na utilização do software Vosviewer® (2020)
Nota: a escala temporal é definida pelo software.

Por meio da comparação entre as Figuras 20 e 21 pode-se constatar que existe uma
tendência a pesquisas que envolvam desperdício de itens de vestuário pós-consumo desde
2016, com atual crescimento nas atividades de upcycling, lixo zero e slow fashion (2018-
2019).
A partir das observações realizadas na análise bibliométrica, algumas constatações
podem ser feitas. Primeiramente, há um crescimento sobre o tema de resíduos têxteis
principalmente no período entre 2018-2019, em especial, com enfoque nos estudos que
englobam práticas sustentáveis, desperdício têxtil e atividades de upcycling.
Destaca-se também que as publicações concentram suas pesquisas em abordagem
qualitativa (30 publicações), de extensão regional (35 publicações), do tipo estudo de caso (31
166

publicações) e alta concentração de pesquisas no desperdício têxtil em seu contexto amplo


(pré-produção, pós-produção, pré-consumo e pós-consumo) (60 publicações no total).
Em relação aos resíduos têxteis no pós-consumo, as publicações focam na aplicação
dos processos de reúso e reciclagem em conjunto para gestão de resíduos nesta fase. Soma-se
a isso o fato de que os estudos sobre economia circular também focam nos itens de vestuário
pós-uso, podendo indicar uma relação de dependência entre as dimensões.
167

APÊNDICE B - ARTIGOS SOBRE RESÍDUOS TÊXTEIS NA INDÚSTRIA DE


VESTUÁRIO
Artigo Autores Ano Periódico
Recycling in the garment industry Lund 1975 R&D Management
Linking tactical and operational decision-making International Journal of Logistics
Teng, Jaramillo 2005
to strengthen textile/apparel supply chains Systems and Management
Development of a flexible composite from
Cleaner Technological
leather industry waste and evaluation of their Saikia et al. 2017
Environmental Policy
physico-chemical properties
Polish Journal of Environmental
Characterization of Leather Industry Wastes Ozgunay et al. 2007
Sutdies
Ecological management for textile wastes Environmental Engineering and
Carpus 2008
processing Management Journal
Case study: Apparel industry waste management:
Larney, Van Aardt 2010 Waste Management & Research
a focus on recycling in South Africa
Benzothiazole, benzotriazole, and their derivates
Environmental Science and
in clothing textiles—a potential source of Avagyan et al. 2015
Pollution Research
environmental pollutants and human exposure
Sustainable Fashion Education in changing European Journal of Sustainable
Agarwal 2019
World Scenario Development
Consumer Textile Recycling as a Means of Solid Family and Consumer Sciences
Domina; Kochi 1997
Waste Reduction Research Journal
The Development Of Green Environment
Marudhamuthu; ARPN Journal of Engineering and
Through Lean Implementation In a Garment 2011
Krishnaswamy Applied Sciences
Industry
Research Journal of Textile and
Textile Waste and Sustainability: A Case Study Savageau 2011
Apparel
The International Journal of
ReFashioning New Zealand: A Practitioner’s Environmental, Cultural,
Fraser 2011
Reflection on Fast fashion Implications Economic and Social
Sustainability
Beauty and the Waste: Fashioning Idols and the Fashion Theory: The Journal of
Kim 2019
Ethics of Recycling in Korean Pop Music Videos Dress, Body and Culture
International Journal of Business
Sustainable Developments in Knitting Power 2012
and Globalisation
Application of Markov chain for LCA: a study International Journal of Advanced
Paras, Pal 2018
on the clothes ‘reuse’ in Nordic countries Manufacturing Technology
The role of environmental knowledge in young
International Journal of Consumer
female consumers’ evaluation and selection of Momberg et al. 2012
Studies
apparel in South Africa
Exit from the high street: an exploratory study of International Journal of Consumer
Bly et al. 2015
sustainable fashion consumption pioneers Studies
Performance Analysis of the Capability
Subic et al. 2013 Sustainability
Assessment Tool for Sustainable Manufacturing
The effect of consumers’ involvement and
International Journal of Consumer
innovativeness on the utilization of fashion Choo et al. 2014
Studies
wardrobe
A theoretical investigation of slow fashion: International Journal of Consumer
Jung, Jing 2017
sustainable future of the apparel industry Studies
168

Reducing laundering frequency to prolong the International Journal of Consumer


McQueen et al. 2017
life of denim jeans Studies
Economic and employment potential in textile
Noman et al. 2013 Waste Management & Research
waste management of Faisalabad
Fashion Practice-the Journal of
Fashion Design Industry Impressions of Current
Palomo-Lovinski 2014 Design Creative Process & the
Sustainable Practices
Fashion Industry
Journal of Fashion Marketing and
Post-retail responsibility of garments – A fashion
Hvass 2014 Management: An International
industry perspective
Journal
Consumers interpreting sustainability: moving International Journal of Retail &
Ritch 2015
beyond food to fashion Distribution Management
A Review of the socio-economic advantages of
Leal Filho et al. 2019 Journal of Cleaner Production
textile recycling
Consumption of disposed goods for moral
Brace-Govan,
identities: a nexus of organization, place, things 2010 Journal of Consumer Behaviour
Binay
and consumers
Effect of Recycled PET Fibers on the Journal of Engineered Fibers and
Telli, Ozdil 2015
Performance Properties of Knitted Fabrics Fabrics
New life luxury: upcycled Scottish heritage International Journal of Retail &
Keith, Silies 2015
textiles Distribution Management
An examination of the product development Dissanayakea, Resources, Conservation and
2015
process for fashion remanufacturing Sinha Recycling
The environmental effects caused by solid waste
Revista Eletrônica em Gestão,
industries clothing in polo fashion of Maringá- De Alencar et al. 2015
Educação e Tecnologia Ambiental
PR
Turkey Fashion Industry’s Cut-and-Sew Waste
Enes, Kipöz 2019 Journal of Textiles and Engineer
Problem and Its Waste Management Strategies
Mapping the interactions between the
Management & Marketing:
stakeholders of the circular economy ecosystem
Staicu, Pop 2018 Challenges for the Knowledge
applied to the textile and apparel sector in
Society
Romania
Transforming the sequential process of fashion International Journal of Fashion
production: where zero-waste pattern cuttin takes James et al. 2016 Design, Technology and
the lead in creative design Education
Second-life retailing: a reverse supply chain Supply Chain Management: An
Beh et al. 2016
perspective International Journal
Fashion Practice: The Journal of
Standard vs. Upcycled Fashion Design and
Han et al. 2017 Design, Creative Process & the
Production
Fashion Industry
Fashion Practice: The Journal of
The Poetics of Waste: Contemporary Fashion
Binotto, Payne 2017 Design, Creative Process & the
Practice in the Context of Wastefulness
Fashion Industry
Environmental impact of Recover cotton in Esteve-Turrillas, De Resources, Conservation and
2017
textile industry la Guardia Recycling
Creating a Slow Fashion Collection – A
Bray 2017 Scope
Designer–Maker’s Process
An Exploratory Study of the Mechanism of
Sustainable Value Creation in the Luxury Yang et al. 2017 Sustainability
Fashion Industry
Petit Pli: Clothes that Grow Yasin 2017 Utopian Studies
169

Cross-cultural Investigation Of Consumers'


Generations Attitudes Towards Purchase Of Studies in Business and
Dabija et al. 2017
Environmentally Friendly Products In Apparel Economics
Retail
The mass consumption of refashioned clothes:
Sugiura 2018 Business History
Re-dyed kimono in post war Japan
Sustainable Rent-Based Closed-Loop Supply
Hu et al. 2014 Sustainability
Chain for Fashion Products
Reducing textile waste in the apparel industry:
Burton 2018 Clothing Cultures
Examining EPR as an option
Case study: Swat Valley Guild peace-building
initiative and Artisan enterprise for community Deo 2018 Clothing Cultures
empowerment and sustainable development
Potential Risks and Their Analysis of the
Fibres and Textiles in Eastern
Apparel & Textile Industry in Turkey: A Erdil, Taçgın 2018
Europe
Quality-Oriented Sustainability Approach
Journal of Fashion Marketing and
Consumer attitudes and communication in
Vehmas et al. 2018 Management: An International
circular fashion
Journal
Journal of Fashion Marketing and
Collaborative consumption: a business model Gopalakrishnan;
2018 Management: An International
analysis of second-hand fashion Matthews
Journal
Digital innovation for sustainable apparel
Research Journal of Textile and
systems: Experiences based on projects in textile Larsson 2018
Apparel
value chain development
“People Gather for Stranger Things, So Why Not
This?” Learning Sustainable Sensibilities Durrani 2018 Sustainability
through Communal Garment-Mending Practices
Developing a national programme for textiles
Bukhari et al. 2018 Waste Management & Research
and clothing recovery
Sustainable Incremental Organizational
Patora-Wysocka;
Change—A Case of the Textile and Apparel 2019 Sustainability
Sułkowski
Industry
Sustainable fashion index model and its
Wang et al. 2019 Journal of Business Research
implication
Knowledge, skills and organizational capabilities 2019 Structural Change and Economic
Khan
for structural transformation Dynamics
Workplace safety compliance implementation 2019
Akbar, Ahsan Journal of Cleaner Production
challenges in apparel supplier firms
From waste to fashion – a fashion upcycling 2019
Marques et al. CIRP
contest
Slow fashion – Balancing the conscious retail 2019
McNeil, Snowdon Australasian Marketing Journal
model within the fashion marketplace
Traceability management systems and capacity 2019
building as new approaches for improving International Journal of
Mejías et al.
sustainability in the fashion multi-tier supply Production Economics
chain
Recent sustainable trends in Vietnam's fashion 2019
Nayak et al. Journal of Cleaner Production
supply chain
Innovation catalysts for industrial waste 2019
Park et al. Procedia Manufacturing
challenges: Sri Lankan and Thai cases
170

Effects of cotton textile waste properties on 2019


Ütebay et al. Journal of Cleaner Production
recycled fibre quality
Improvement of polylactic acid film properties
International Journal of Biological
through the addition of cellulose nanocrystals Yao et al. 2019
Macromolecules
isolated from waste cotton cloth
171

APÊNDICE C – PROTOCOLO PARA REVISÃO DA LITERATURA

SELEÇÃO DE ARTIGOS SIM NÃO


Trata sobre resíduos têxteis?
A publicação está em inglês?
A publicação é de periódico?
A versão completa está disponível?

O texto contribui para os temas abordados (ECONOMIA CIRCULAR, resíduos


têxteis no pós-consumo)?

*"SIM" = Continua; "NÃO" = descarte


Fonte: elaborado pelo próprio autor, com base em Hallinger (2013), Tranfield et al. (2003) e Levy e Ellis
(2006).

ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS CONTEÚDOS ANALISADOS


TEMAS SUBTEMAS QUESTÕES
O que é a indústria de vestuário?

Qual seu valor para economia


global?

Estruturação da cadeia produtiva da indústria de Como funciona a cadeia produtiva?


vestuário

Quais as etapas da cadeia produtiva?

Quais os impactos ambientais


gerados?

Qual seu valor para economia


nacional?
Resíduos têxteis na
cadeia produtiva- Qual seu impacto nas
importações/exportações?
Características do setor de vestuário no Brasil
Quais os maiores polos do setor de
vestuário?

Quais os produtos mais fabricados no


setor nacional?

O que caracteriza resíduos no


vestuário?

Caracterização dos resíduos têxteis na cadeia


O que caracteriza os resíduos têxteis?
produtiva

Quais materiais compõem os têxteis?

Economia circular na Conceitos gerais relacionados a economia


O que é economia circular?
Indústria de vestuário circular
172

Quais são seus princípios?

O que é circularidade?
O que é ciclo fechado?
Quais são os níveis de ação?
Qual a viabilidade econômica da
economia circular?
Principais características da economia circular
Qual a viabilidade ambiental da
economia circular?

Quem são os principais facilitadores


envolvidos?

Quem são os principais stakeholders


envolvidos?
Como se aplica a ECONOMIA
CIRCULAR na indústria de
vestuário?
Quais as principais ações estão sendo
realizadas?
Aplicação da economia circular na indústria de Quais as principais ações estão sendo
vestuário realizadas?

Quais as barreiras para reciclagem e


reúso?

Quem são os principais stakeholders


envolvidos?

O que são as etapas?

Caracterização das etapas de descarte, coleta,


separação e reinserção na cadeia produtiva Como elas funcionam?

Quais agentes participam?

Principais stakeholders envolvidos nas fases de


Resíduos têxteis no Quem são e quais suas funções
coleta, separação e reinserção na cadeia
pós-consumo nesses processos?
produtiva

Qual modo de operação?


Quem são os responsáveis?
Caracterização dos atuais modelos de coleta, Quais os benefícios ambientais e
separação e reinserção na cadeia produtiva operacionais?

Quais as desvantagens de operação e


ambientalmente?
173

Onde está sendo implementado?


Fonte: elaborado pelo próprio autor, com base em Ello e King (2008).
174

APÊNDICE D – ARTIGOS SOBRE ECONOMIA CIRCULAR NA INDÚSTRIA DE


VESTUÁRIO

Artigo Ano Autores Periódico


Innovative and sustainable business models in the
Todeschini et
fashion industry: Entrepreneurial drivers, 2017 Business Horizons
al., 2017
opportunities, and challenges
Fashion Practice: the Journal of
Standard vs. Upcycled Fashion Design and Han et al.,
2017 Design Creative Process & the
Production 2017
Fashion Industry
A review of the socio-economic advantages of
2019 Leal, 2019 Journal of Cleaner Production
textile recycling
Rethinking the Fashion Collection as a Design
2017 Raebild Design Journal
Strategic Tool in a Circular Economy
Mapping the interactions between the stakeholders Management & Marketing-
of the circular economy ecosystem applied to the 2018 Staicu, Pop Challenges for the Knowledge
textile and apparel sector in Romania Society
Slowing resource loops in the circular economy: An Smart Innovation, Systems and
2019 Bocken
experimentation approach in fashion retail Technologies
Increasing textile circulation—Consequences and Sustainable Production and
2017 Dahlbo
requirements Consumption
Exploring young adult consumers’ sustainable
Sustainable Production and
clothing consumption intention-behavior gap: A 2019 Diddi
Consumption
Behavioral Reasoning Theory perspective
Institutional incentives in circular economy
Fischer,
transition: The case of material use in the Dutch 2017 Journal of Cleaner Production
Pascucci
textile industry
Circular economy at the micro level: A dynamic
view of incumbents’ struggles and challenges in the 2017 Franco Journal of Cleaner Production
textile industry
The reDesign canvas: Fashion design as a tool for
2018 Kozlowski Journal of Cleaner Production
sustainability
Modelling environmental value: An examination of
sustainable business models within the fashion 2018 Pal, Gander Journal of Cleaner Production
industry
A decoupling perspective on circular business
model implementation: Illustrations from Swedish 2018 Stal Journal of Cleaner Production
apparel
Removing obstacles to the implementation of LCA
among SMEs: A collective strategy for exploiting 2017 Testa Journal of Cleaner Production
recycled wool
Evaluating the Environmental Performance of a
Product/Service-System Business Model for Merino
2019 Bech Sustainability
Wool Next-to-Skin Garments: The Case of
Armadillo Merino®
Circular fashion supply chain through textile-to- Sandvik, Journal of Fashion Marketing and
2019
textile recycling Stubbs Management
Waste, dirt and desire: Fashioning narratives of 2019 Norris The sociological review
175

material regeneration
From singular to plural: exploring organisational Journal of Fashion Marketing and
2019 Pedersen et al.
complexities and circular business model design Management
Evaluating the Environmental Performance of a
Product/Service-System Business Model for Merino
2019 Bech Sustainability
Wool Next-to-Skin Garments: The Case of
Armadillo Merino®
Fonte: Elaborada pelo autor (2020).
176

APÊNDICE E – PERIÓDICOS SEMINAIS SOBRE ECONOMIA CIRCULAR


Artigo Ano Autores Periódico
Geissdoerfer et Journal of Cleaner
The Circular Economy - a new sustainability paradigm 2017
al. Production
A systematic review on drivers, barriers, and practices Govidan, International Journal of
2018
towards circular economy: a supply chain perspective Hasanagic Production Research
A review on circular economy: the expected transition to a Journal of Cleaner
2016 Ghisellini et al.
balanced interplay of environmental and economic systems Production
Conceptualizing the circular economy: An analysis of 114 Resources, Conservation &
2017 Kirchherr et al.
definitions Recycling
International Journal of
Designing cradle-to-cradle products: a reality check 2010 Bakker et al.
Sustainable Engineering
Fonte: Elaborada pelo autor (2019).
177

APÊNDICE F – PROTOCOLO PARA AVALIAR AS INICIATIVAS


IDENTIFICADAS SOB ASPECTOS CIRCULARES

ETAPA QUESTÃO SIM NÃO

(a) Possibilita a circularidade do recurso?


(b) Coleta qualquer tipo de resíduo têxtil?
(c) Possui métodos claros de coleta?
Coleta
(d) É acessível ao consumidor?
(e) Pode ser realizado em grandes quantidades?
(f) Possui baixo custo de implementação?

(a) Possui métodos claros para separação dos materiais utilizados?

(b) Possui tecnologias para auxiliar na separação dos materiais


Separação utilizados?

(c) Pode ser realizado em grandes quantidades?


(d) Possui baixo custo de implementação?
(a) Mantém as mesmas funções do produto?
(b) Garante o reúso e o reparo do produto novamente?
Reúso (c) Privilegia o uso de energias renováveis?
(d) Possui baixo custo de implementação?
(e) Pode ser realizado em grande escala?
(a) Mantém as mesmas funções do têxtil ou fibra?
(b) Possui tecnologias que auxiliem os processos de reciclagem?
Reciclagem (c) Privilegia o uso de energias renováveis?
(d) Possui baixo custo de implementação?
(e) Pode ser realizado em grande escala?
178

APÊNDICE G – CARTA DE APRESENTAÇÃO AOS ENTREVISTADOS

Análise das iniciativas de gestão de resíduos têxteis no pós-consumo no contexto da economia


circular por parte de experts da indústria

Prezado (a) nome do expert,

Meu nome é Pedro Seolin e estou conduzindo minha pesquisa de mestrado em


iniciativas de coleta, separação, reúso e reciclagem de itens de vestuário no pós-consumo. A
pesquisa é desenvolvida dentro do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção
na Universidade Federal de Santa Catarina, sob a supervisão da Profa. Dra. Lucila Maria de
Souza Campos.
Minha pesquisa está focada nos aspectos circulares das iniciativas, buscando analisar o
modo como os itens de vestuário podem retornar a cadeia produtiva da indústria de vestuário
para reutilização ou reciclagem no contexto nacional.
Os itens de vestuário pós-consumo, ou seja, as roupas que foram utilizadas pelo
consumidor final, têm sido um aspecto crítico para indústria têxtil tendo em vista o
crescimento no consumo e rápido descarte dos produtos, não garantindo a sua máxima
utilização e rapidamente tornando-se resíduo têxtil no pós-consumo.
A economia circular busca soluções ao longo do ciclo de vida desses produtos para
total utilização dos recursos que compõe o item de vestuário, buscando manter sua máxima
circularidade na cadeia produtiva. A literatura tem apontado que embora existam iniciativas,
elas são escassas e ocorrem de modo disperso dentro do setor têxtil.
Estudos têm apontado que é preciso pensar essas iniciativas de maneira integrativa,
pensando nos processos de coleta, separação, reúso e reciclagem de maneira conjunta para
apoiar o processo de gestão de resíduos têxteis no pós-consumo de modo que as empresas
possam aplicar tais atividades no dia-a-dia.
Nesse sentido, minha pesquisa visa propor uma análise das iniciativas de gestão de
resíduos têxteis no pós-consumo com base na utilização prática dessas atividades junto a
experts da indústria para oferecer um panorama baseado num contexto regional das diferentes
formas de coletar, separar, reutilizar ou reciclar os itens de vestuário descartados.
Como vocês trabalham numa área alinhada ao escopo da pesquisa, ficaria muito grato
se pudesse contribuir com o estudo realizando uma entrevista sobre o seu atual modo de
gestão de coleta, separação e reúso dos itens de vestuário. Como experts da indústria a
contribuição de vocês será extremamente valiosa.

Obrigado antecipadamente pelo seu tempo e consideração.


Atenciosamente,
Pedro Seolin
179

APÊNDICE H – FREQUÊNCIA – CITAÇÕES DAS ETAPAS DE COLETA,


SEPARAÇÃO, REÚSO E RECICLAGEM

Etapas Método Frequência


Palm et al., 2014; Bukhari et al., 2018; Burton,
2018; Keith, Silies, 2015; Gopalakrishnan;
Matthews, 2018; Durrani, 2018; Frasser, 2011;
Paras, Pal, 2017; McQueen et al., 2017; Ritch,
Ecopontos - caridade 17
2015; Dissanayakea, Sinha, 2015; Yang et al.,
2017; Beh et al., 2016; Hu et al., 2014; Bly et al.,
2015; Leal Filho et al., 2019; Larney, Vann
Aardt, 2009;
Gopalakrishnan; Matthews, 2018; Dissanayakea,
Sinha, 2015; Palm et al., 2014; Bukhari et al.,
2018; Han et al., 2017; Durrani, 2018; Frasser,
Brechó 14 2011; Paras, Pal, 2017; Binotto, Paine, 2017;
Patora-Wysocka, Sułkowski, 2019; Beh et al.,
2016, Hu et al., 2014; Bly et al., 2015; Leal
Filho et al., 2019; Larney, Vann Aardt, 2009;
Lund, 1975; Palm et al., 2014; Bukhari et al.,
2018; Noman et al, 2013; Burton, 2018; Keith,
Silies, 2015; Durrani, 2018; Dissanayakea,
Ecopontos - reciclagem 14
Sinha, 2015; Hu et al., 2014; Leal Filho et al.,
2019; Noman et al., 2013; Beh et al., 2016,
Coleta Ritch, 2015; Larney, Van
Bukhari et al., 2018; Leal Filho et al., 2019; Hu
Ecopontos - gestão et al., 2014; Patora-Wysocka, Sułkowski, 2019,
8
municipal Savageau, 2011; Paras, Pal, 2017, Burton, 2018,
Palm et al., 2014
Bukhari et al., 2018; Palm et al., 2014; Burton,
Take-Back 7 2018; Dissanayakea, Sinha, 2015; Leal Filho et
al., 2019; Bly et al., 2015; Sugiura, 2018
Burton, 2018; Bukhari et al., 2018; Durrani,
EPR 5
2018; Palm et al., 2014; Leal Filho et al., 2019
Palm et al., 2014; Gopalakrishnan, Matthews,
Mercado de pulgas 4
2018; Binotto, Payne, 2017; Bukhari et al., 2018
Plataforma Online 2 Palm et al., 2014; Burton, 2018
Campanhas Específicas 1 Palm et al., 2014
Coleta comunitária -
1 Palm et al., 2014
Kerbside - Individual
Coleta comunitária -
1 Palm et al., 2014
Kerbside - Empresa
Palm et al., 2014; Bukhari et al., 2018;
Dissanayakea, Sinha, 2015; Sugiura, 2018; Han
Manual 7
Separação et al., 2017; Larney, Van Aardt, 2010, Noman et
al., 2015
Semi-automático 1 Palm et al., 2014
180

Automático (Técnologia
1 Palm et al., 2014
NIR)
Palm et al., 2014; Bukhari et al., 2018; Leal
Filho et al., 2019; Patora-Wysocka, Sułkowski,
2019; Binotto, Payne, 2017; Sugiura, 2018; Bly
Varejo de segunda-mão:
14 et al., 2015; Hu et al., 2014; Beh et al., 2014;
Brechó
Dissanayakea, Sinha, 2015; Pal, Paras, 2017;
Frasser, 2011; Gopalakrishnan; Matthews,
2018; Han et al., 2017
Palm et al., 2014; Bukhari et al., 2018; Karl,
Larsson, 2018; Burton, 2018; Gopalakrishnan;
Varejo de segunda-mão:
10 Matthews, 2018; Jun, Jing, 2014; Patora-
Reúso Outlets
Wysocka, Sułkowski, 2019; Beh et al., 2016;
Bly et al., 2015; Leal Filho et al., 2019
Binotto, Payne, 2017; Keith, Sillies, 2015;
Bukhari et al., 2018; James et al., 2016;
Restauração: upcycling 8
Dissanayakea, Sinha, 2015; Leal Filho et al.,
2019; Bukhari et al., 2018; Han et al., 2017
Bukhari et al., 2018; Dissanayakea, Sinha, 2015;
Restauração: downcycling 3
Leal Filho et al., 2019
Varejo de segunda-mão: Palm et al., 2014; Gopalakrishnan, Matthews,
4
Mercado de pulgas 2018; Binotto, Payne, 2017; Bukhari et al., 2018
Noman et al., 2015; Palm et al., 2014; Domina,
Técnicas especiais 6 Koch, 1997; Larney, Van Aardt, 2010; Bukhari
et al., 2018; Lund, 1975
Palm et al., 2014; Pal, Paras, 2018; Beh et al.,
Mecânica: Remanufatura 4 2016; Hu et al., 2014; Fraser, 2011; Bukhari et
al., 2018
Mecânica: transformação Leal Filho et al., 2019; Palm et al., 2014; Larney,
Reciclagem 4
em fibras Van Aardt, 2010; Lund, 1975
Palm et al., 2014; Noman et al., 2015; Lund,
Técnicas mistas 3
1975
Leal Filho et al., 2019; Palm et al., 2014; Lund,
Química 3
1975
Mecânica: transformação Leal Filho et al., 2019; Palm et al., 2014; Lund,
3
em fios 1975
Fonte: Elaborada pelo autor (2019).
181

APÊNDICE I – CITAÇÕES DE CRITÉRIOS PARA ANALISE DE INICIATIVAS DE


RESÍDUOS TÊXTEIS NO PÓS-CONSUMO DA INDÚSTRIA DE VESTUÁRIO

Autores
Aspecto Critérios Palm et Bukhari Larney, Akbar,
Hu et al. Franco Noman et
al. et al. Van Aardt Ahsan
(2014) (2017) al. (2013)
(2014) (2018) (2010) (2019)
Consumo de energia
X X X
elétrica (CA1)
Consumo de agua (CA2) X X X
Suficiência dos recursos
Ambiental X X X X
coletados (CA3)
Geração de resíduos
X X
finais (CA4)
Rastreabilidade final do
X X X X
item (CA5)
Custo de mão-de-obra
X X X
qualificada (CE1)
Flexibilidade na
aplicação dos recursos
X X X X
financeiros, materiais e
humanos (CE2)
Padronização nos
X X X
processos (CE3)
Maturidade do negócio
X X X X X X
Economico (CE4)
Tecnologia envolvida
X X X X
(CE5)
Custo de transporte
X X X X
(CE6)
Auto-sustentabilidade da
X X X
organização (CE7)
Capacidade de
tratamento dos resíduos X
têxteis (CE8)
Parceria com
cooperativas,
X X X X
Associações e
Consórcios (CS1)
Social Disponibilidade de
participação de grupos X X X X
vulneráveis (CS2)
Segurança e saúde do X
trabalhador
182

APÊNDICE J – ROTEIRO DA ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA

1. Introdução/Apresentação da pesquisa: a entrevista se inicia com a apresentação da proposta do estudo,


onde o pesquisador pode realizar levantamento das características gerais da instituição - visão, missão,
escopo do negócio e trocar informações sobre a problemática da pesquisa. Nessa etapa, o pesquisador
solicita autorização ao entrevistado para que a entrevista seja gravada, para posterior transcrição e
análise. Além disso, também é afirmado o compromisso com a confidencialidade dos dados, uma vez
que a intenção é a analise das discussões obtidas por meio da entrevista, sem necessidade da
identificação direta de quem as expressou.
2. Descrição dos aspectos circulares na gestão dos resíduos têxteis na operação: a segunda parte contempla
questões relacionada à experiência do entrevistado no setor têxtil, o seu conhecimento sobre economia
circular, além das perspectivas que o entrevistado possuía em relação a gestão de resíduos têxteis na
cadeia produtiva da indústria de vestuário. O objetivo do pesquisador aqui era identificar os diferentes
aspectos que cada entrevistado possui correlacionando economia circular e a gestão de resíduos têxteis
com o pensamento enquanto cadeia ou isoladamente em suas operações.
3. Descrição das atuais iniciativas utilizadas pelos experts nas etapas de coleta, separação,
reúso/reciclagem: na terceira etapa foi solicitado ao entrevistado que descrevesse o modo como
realizava suas atividades de coleta, separação, reúso e reciclagem. Essa questão visava descrever o atual
modo da gestão de resíduos têxteis no pós-consumo no contexto prático, isto é, como os entrevistados
consideravam as iniciativas de coleta, separação, reúso e reciclagem.
4. Identificar a utilização dos recursos disponíveis e o conhecimento dos responsáveis necessários nas
atuais iniciativas utilizadas pelos experts nas etapas de coleta, separação, reúso ou reciclagem: nessa
etapa, os entrevistados são perguntados sobre os stakeholders envolvidos nas etapas de coleta,
separação, reúso e reciclagem, além dos recursos que consideram utilizar nas iniciativas indicadas no
bloco de perguntas anterior. Desse modo, seria possível identificar as tensões existentes entre as
diferentes iniciativas adotadas pelos entrevistados no que define a operacionalização dessas iniciativas
(Franco, 2017).
5. Análise das iniciativas de gestão de resíduos têxteis no pós-consumo: Por fim, através de perguntas
abertas, os entrevistados eram questionados sobre quais os critérios eles consideravam para adotar essas
iniciativas, se o cenário atual era o ideal para a gestão dos resíduos têxteis e citar possíveis barreiras e
facilitadores que eles identificavam nesse processo. O objetivo aqui foi identificar convergências e
divergências com as iniciativas mapeadas na literatura e analisar como a circularidade dos recursos era
considerada em detrimento da estratégia adotada para gestão desses resíduos têxteis.

Aspectos gerais do negócio e do expert

 Tempo de atuação no setor de vestuário


 Tempo de funcionamento do atual negócio
 Formação profissional
 Faixa etária
183

Descrição dos aspectos circulares na gestão dos resíduos têxteis na operação

1. Qual é a sua experiência com a indústria têxtil e de vestuário no Brasil?

2. Você conhece o termo "economia circular"? O que você entende por esse termo e como
entende que ele se aplica à indústria de vestuário no Brasil?

Descrição das atuais iniciativas utilizadas pelos experts nas etapas de coleta, separação,
reúso/reciclagem

2. Pensando nos processos de coleta, separação, reúso/reciclagem da sua empresa, como você
descreveria o seu atual modelo de gestão de resíduos têxteis?

Identificar a utilização dos recursos disponíveis e o conhecimento dos responsáveis necessários


nas atuais iniciativas utilizadas pelos experts nas etapas de coleta, separação, reúso/reciclagem

3. Quais atores envolvidos no processo de gestão de resíduos você considera possuir relação com
as etapas de coleta, separação, reúso e reciclagem? Qual o motivo de você escolher esses atores?

4. Você utiliza algum tipo de tecnologia que facilita a sua gestão de resíduos têxteis? Se sim,
quais?

5. Quais outros recursos você considera fundamentais para o seu atual modo de operação na
gestão desses resíduos têxteis, e qual é a priorização entre eles ?

Análise das iniciativas de gestão de resíduos texteis no pós-consumo

6. Para você, quais os critérios mais importantes para serem levados em consideração ao realizar
a gestão de resíduos têxteis no pós-consumo e qual é a priorização entre eles?

7. Levando em consideração os critérios discutidos anteriormente, você acredita que o seu atual
processo de gestão de resíduos têxteis no pós-consumo é o processo ideal? Se não, descreva seu
cenário ideal de gestão de resíduos têxteis no pós-consumo.

8. Pensando no cenário ideal escolhido, quais critérios você pensa ter levado em maior
consideração para escolha das iniciativas de coleta, separação, reúso e/ou reciclagem?

9. Quais você considera serem as barreiras e facilitadores para alcançar o processo ideal?

Descrição dos aspectos circulares na gestão dos resíduos têxteis na operação

10. Pensando em toda cadeia produtiva de vestuário, quais benefícios você considera que uma
gestão de resíduos têxteis integrada entre os diversos elos no pós-consumo (grandes, médias e
pequenas empresas) poderia gerar?

Questionamentos finais

Ficou mais algum ponto ou consideração que gostaria de ter falado e naõ se recorda?
184

APÊNDICE K – CARTA DE ACEITE DE PARTICIPAÇÃO NA ENTREVISTA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO - TCLE
Este TCLE respeita a resolução 466/2012

Sr.(a) foi selecionado(a) e está sendo convidado(a) para participar da pesquisa


intitulada de “ANÁLISE DE INICIATIVAS DE GESTÃO DE RESÍDUOS TÊXTEIS NO
PÓS-CONSUMO DA INDÚSTRIA DE VESTUÁRIO NO CONTEXTO DÀ ECONOMIA
CIRCULAR”, coordenada pela Profa. Dra. Lucila Maria de Souza Campos. Após receber os
esclarecimentos e as informações a seguir, no caso de aceitar fazer parte do estudo, este
documento deverá ser assinado em duas vias, sendo a primeira de guarda e confidencialidade
do Pesquisador responsável e a segunda ficará sob sua responsabilidade para quaisquer fins.
Fica frisado que no caso de recusa ou desistência durante a entrevista, você não será
penalizado (a) de forma alguma. Em caso de dúvida sobre a pesquisa, você poderá entrar em
contato com o pesquisador responsável PEDRO SEOLIN DOS SANTOS através do telefone:
(48) 98473-6085 ou através do e-mail pedroseolin@gmail.com.
O objetivo desta entrevista é compreender como atualmente são realizadas as etapas
de coleta, separação e reutilização de itens de vestuário descartados no pós-consumo, bem
como mapear os facilitadores e barreiras que possam auxiliar no processo de gestão desses
resíduos.
A fim de evitar ou reduzir efeitos e condições adversas os pesquisadores garantem
que as informações coletadas ficarão de posse dos pesquisadores responsáveis e sua
identidade será mantida no mais rigoroso sigilo. Serão omitidas todas as informações que
permitam identificá-lo. Sua imagem não será utilizada no trabalho, apenas seu depoimento
será transcrito. Os dados coletados serão utilizados apenas nessa pesquisa e os resultados
serão divulgados em eventos e/ou revistas científicas.

Ciente e de acordo com o que foi anteriormente exposto, eu


_____________________ estou de acordo em participar da pesquisa intitulada “ANÁLISE
DE INICIATIVAS DE GESTÃO DE RESÍDUOS TÊXTEIS NO PÓS-CONSUMO DA
185

INDÚSTRIA DE VESTUÁRIO NO CONTEXTO DA ECONOMIA CIRCULAR”, de


forma livre e espontânea, podendo retirar a qualquer meu consentimento a qualquer momento.
____________, de _____________ de 2020

_____________________________ ____________________________
Assinatura do responsável pela pesquisa Assinatura do participante
186

APÊNDICE L - CÓDIGOS MAPEADOS PARA ANÁLISE DE CONTEÚDO DAS


ENTREVISTAS REALIZADAS

1. Descrição do negócio e do entrevistado – questões 1, 2


2. Definição de aspectos circulares – questões 1, 2, 11
3. Descrição das iniciativas utilizadas na gestão de resíduos no pós-consumo – Questões 3 e 8
4. Identificação dos recursos e agentes que participam da gestão de resíduos no pós-consumo
– Questões 4, 5 e 6
5. Análise das iniciativas utilizadas na gestão de resíduos no pós-consumo (critérios, barreiras
e facilitadores) – 9, 10, 7, 11

n.
Perguntas Códigos
questão
Inovações no modelo de negócio
Maturidade do profissional no setor têxtil
Valores do negócio
Qual é a sua experiência
Desperdicio
1 com a indústria têxtil e de
Margem de lucro
vestuário no Brasil?
Flexibilidade
Padronização

Consumo consciente
Produção consciente
Vida util
Recursos texteis
Meio ambiente
Impacto ambiental
Resíduos
ecodesign
O que isso significa para produção mais limpa
você "economia circular" responsabilidade
2 e como ela se aplica à sem desperdicio
indústria têxtil e de compartilhamento
vestuário no Brasil? prevenção de desperdício
lixo zero
aterro sanitário
Design
Concepção do produto
longevidade do produto
Valor recuperado
Doação
187

Coletar pessoalmente
Transporte para separar
Pontos de coleta
Brechó
Revender
Coleta de grandes marcas
Separar manualmente
Tecnologia para separar
Outlets
Restaurar
Pensando nos processos
Remanufaturar
de coleta, separação,
Recuperar
reúso/reciclagem da sua
Remodelar
3 empresa, como você
Reutilizar o têxtil
descreveria o seu atual
Reciclar o tecido
modelo de gestão de
Transformar em fibra Transformar em têxtil
resíduos têxteis?
corte
costura
pós-produção
pré-produção
indústria
parceria
doação
caridade
Projeto de criação
Varejo
Poder Público
Grandes Varejistas
Pequenas e médias Empresas
Quais atores envolvidos
Fabricantes
no processo de gestão de
Designer
resíduos você considera
Empresas de Reciclagem
possuir relação com as
ONGs
4 etapas de coleta,
Força de decisão
separação, reúso e
Influencia
reciclagem? Qual o
Valores Sociais
motivo de você escolher
Condições financeiras
esses atores?
Conveniência de descarte
Estratégia de fabricação

Tecnologia para coleta


Transporte
Estoque
Tecnologia para separar
Organizar e classificar
Desmontagem
Você utiliza algum tipo de Remanufatura
tecnologia que facilita a Reciclagem
5
sua gestão de resíduos Redesign
têxteis? Se sim, quais? Rastrear
Corte
Funilamento
Limpeza
Reduzir desperdício
Reciclar
188

Pontos de coleta
Área publica
Setor privado
Quais otros recursos você Malha de transporte
considera fundamentais Centro de Separação
para o seu atual modo de Próprio estabelecimento
6
operação na gestão desses Próprio transporte
resíduos têxteis, e qual e á Própria separação
priorização entre eles ? Mão de obra-qualificada
Tecnologia para separar
Codificação
Facilitar separação
Questões financeiras
Questões ambientais
Causas sociais
Custos
Sustentabilidade
Custo de mão-de-obra
Flexibilidade nos processos
Para você, quais os
Padronização nos processos
critérios mais importantes
Maturidade do negócio
para serem levados em
Tecnologia envolvida
7 consideração ao realizar a
Custo de transporte
gestão de resíduos têxteis
Auto-sustentabilidade da organização
no pós-consumo e qual e á
Capacidade de tratamento dos resíduos têxteis
priorização entre eles?
Consumo de energia elétrica
Consumo de agua
Quantidade dos recursos coletados
Quantidade de resíduos finais
Retorno do produto
Parceria com cooperativas, associações e consórcios
Participação de grupos minoritários
Sem padrão Meio ambiente
Levando em consideração Destino Manipulação Circular
os critérios discutidos desconhecido Custo de mao de Limitação
anteriormente, você Falta de obra tecnologica
acredita que o seu atual incentivo público Busca por brechó Limitação
processo de gestão de Lucro reduzido Vintages financeira
8 resíduos têxteis no pós- Consumidor Tendencia do Baixa qualidade
consumo é o processo consciente mercado Crescimento de
ideal? Se não, descreva ONGs Manter qualidade mercado
seu cenário ideal de Grandes Falta de incentivo Engajamento do
gestão de resíduos têxteis Varejistas público setor
no pós-consumo Risco de Sustentabilidade Engajamento do
contaminiação consumidor
Coletar
pessoalmente
Outlets
Transporte para
Restaurar
separar
Remanufaturar
Pontos de coleta
Quais você considera Recuperar
Brechó Apoio público
serem as barreiras e Reutilizar o têxtil
9 Revender Parceria
facilitadores para alcançar Reciclar o tecido
Coleta de Grandes Marcas
o processo ideal? Transformar em
grandes marcas
fibra
Separar
Transformar em
manualmente
têxtil
Tecnologia para
separar
189

baixa prioridade
Pensando no cenário ideal
alta prioridade
escolhido, quais critérios
media prioridade
você pensa ter levado em
questões pressão social
maior consideração para
10 financeiras pressao
escolha das iniciativas de
questões governamental
ecodesign, coleta,
ambientais
separação, reúso e/ou
causas sociais
reciclagem?
alinhamento
Captura de valor
Ajudar pequenas Falta de incentivo
Como você considera que empresas Fast fashion
uma gestão de resíduos Parcerias Reciclagem restrita Proatividade da
têxteis no pós-consumo Grandes Marcas Baixo custo industria
11
poderia beneficiar toda a Poder público Competição Baixo incentivo
cadeia produtiva de Vida util pós-uso Revenda
vestuário? União do setor pós-consumo
Baixa moda
qualificacao
Fonte: Elaborada pelo autor (2020).
190

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