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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO


INSTITUTO DE ECONOMIA
MASTER IN BUSINESS ECONOMICS
ECONOMIA E GESTÃO DA SUSTENTABILIDADE

COMPOSTAGEM NO CUMPRIMENTO DA POLÍTICA NACIONAL DE


RESÍDUOS SÓLIDOS

BRUNO SOARES POSES MOREIRA

Rio de Janeiro
2023
2
BRUNO SOARES POSES MOREIRA

Compostagem no Cumprimento da Política Nacional de Resíduos Sólidos

Monografia apresentada ao Instituto de


Economia, da Universidade Federal do
Rio de Janeiro, como parte dos requisitos
necessários à conclusão do Programa de
Pós-graduação em Master in Business
Economics de ECONOMIA E GESTÃO
DA SUSTENTABILIDADE.

Orientador(a): Prof. Pólita Gonçalves.

Rio de Janeiro
2023
3
BRUNO SOARES POSES MOREIRA

Compostagem no Cumprimento da Política Nacional de Resíduos Sólidos

Monografia apresentada ao Instituto de


Economia, da Universidade Federal do
Rio de Janeiro, como parte dos requisitos
necessários à conclusão do Programa de
Pós-graduação em Master in Business
Economics de ECONOMIA E GESTÃO
DA SUSTENTABILIDADE.

Aprovada em XX de XXXX de 20123

BANCA EXAMINADORA

--

_______________________________________
Prof.Pólita Gonçalves

________________________________________
Dra. Maria Gabriela von Bochkor Podcameni

________________________________________
DSc. Dalia Maimon Schiray
4
AGRADECIMENTOS

Muitas pessoas e instituições foram responsáveis por despertar meu interesse


pela sustentabilidade e aprofundar meu interesse na gestão de resíduos sólidos.
Dentre elas agradeço:
Ao Laboratório de Responsabilidade Social e Sustentabilidade da Universidade
Federal do Rio de Janeiro por abrir uma turma online no contexto da pandemia de
COVID. Com professores tão gabaritados e experientes, e todo o apoio técnico e
pedagógico, estou seguro de ter recebido o melhor conteúdo como base para uma
nova carreira em que poderei conciliar propósito à profissão. Dentre tantos
professores queridos, destaco a importância da orientação da professora Pólita
Gonçalves ao direcionar minha pesquisa e me dar feedbacks tão importantes.
Agradeço também a todos os colegas que tornaram essa experiência ainda mais rica
ao compartilhar suas experiências profissionais e pessoais relacionadas aos temas
que foram trabalhados durante o curso e por toda a conexão que criamos e que ainda
mantemos.
À minha família, pela compreensão sobre a importância desse curso para a
minha formação e por apoiar nos cuidados com o meu filho durante tantas horas
dedicadas à escrita desse trabalho final. Em especial, agradeço ao meu marido, Pedro
Ivo, por me encorajar a não desistir da formação e por usar sua bagagem acadêmica
para me dar sugestões que impulsionaram a escrita desse trabalho.
Às empresas de compostagem e prefeituras que se dispuseram a responder
ao formulário e, com isso, ampliaram o entendimento sobre como a compostagem tem
sido aplicado em diversos locais do Brasil.
À Priscilla Arruda pelas parcerias nas oficinas de compostagem e por me dar
aconselhamento para lidar com os problemas que aconteceram no início da minha
jornada com a compostagem doméstica.
Por fim, a todos os pesquisadores que investiram tempo e energia na pesquisa
sobre a compostagem! É a partir desse conhecimento que está sendo construída a
base para um meio ambiente mais limpo, um aproveitamento melhor dos recursos e
uma sociedade mais justa.
5

“Reciclagem é, na sua essência, uma forma de


educar e fortalecer nas pessoas o vínculo afetivo com
o meio ambiente, despertando o sentimento do poder
de cada um para modificar o meio em que vivem.”
(CALDERONI, 1996 apud RIBEIRO e LIMA, 2001)
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RESUMO

O crescimento populacional, o adensamento urbano e a geração crescente de


resíduos pressionam a sociedade a buscar alternativas à disposição final em aterros.
Como os orgânicos representam cerca de 50% dos resíduos sólidos, o tratamento
deles é revertido em um desvio significativo do volume destinado à disposição final
ambientalmente adequada. A compostagem é um processo de baixo custo e alta
eficiência para o tratamento dos orgânicos, além de reduzir as emissões de gases de
efeito estufa quando comparada à disposição em aterro. Após o tratamento via
compostagem, obtém-se um adubo que pode ser utilizado na agricultura, na
recuperação de áreas degradadas ou em parques e jardins.
A Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS – define que os titulares dos
serviços públicos de limpeza e manejo de resíduos sólidos são responsáveis por
realizar a destinação ambientalmente adequada aos resíduos, que inclui a
compostagem como uma das formas de reaproveitamento. O que observamos
atualmente é que o percentual da fração orgânica destinada a compostagem ainda é
pífio.
Para aumentar esse percentual e garantir que o composto gerado será de boa
qualidade, são necessários investimentos em infraestrutura, qualificação técnica e
educação ambiental. Dentre os mecanismos para possibilitar a universalização do
acesso e efetiva prestação dos serviços, a PNRS prevê que os municípios realizem a
cobrança pelo serviço, implementem gestão regionalizada, realizem concessões ou
parcerias público-privadas, recebam investimentos federais, além de outros
incentivos.

Palavras-chave: 1. Compostagem. 2. Resíduos Sólidos. 3. Adubo orgânico


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ABSTRACT

Population growth, urban densification and the growing generation of waste


pressure society to seek alternatives to final disposal in landfills. As organics represent
about 50% of solid waste, their treatment is reversed in a significant deviation from the
volume intended for environmentally appropriate final disposal. Composting is a low
cost and highly efficient process for treating organic matter, in addition to reducing
greenhouse gas emissions when compared to landfill disposal. After treatment via
composting, a fertilizer is obtained that can be used in agriculture, in the recovery of
degraded areas or in parks and gardens.
The National Solid Waste Policy – PNRS – defines that holders of public
services for cleaning and handling solid waste are responsible for carrying out the
environmentally appropriate disposal of waste, which includes composting as one of
the forms of reuse. What we currently observe is that the percentage of the organic
fraction destined for composting is still negligible.
To increase this percentage and guarantee that the compost generated will be
of good quality, investments in infrastructure, technical qualification and environmental
education are necessary. Among the mechanisms to enable universal access and
effective provision of services, the PNRS provides that municipalities charge for the
service, implement regionalized management, carry out concessions or public-private
partnerships, receive federal investments, in addition to other incentives.
Keywords: 1. Composting. 2. Solid waste. 3. Organic Fertilizer
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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Ciclo da Compostagem..................................................................................... 17


Gráfico 1 - Composição Global dos Resíduos................................................................... 18
Gráfico 2 - Tratamento e Disposição Global dos Resíduos............................................... 19
Gráfico 3 - Variação de temperatura na pilha em função do tempo de compostagem.... 20
Gráfico 4 - Número de patentes relacionadas a compostagem registradas no EPO-
Spacenet por período......................................................................................................... 26
Gráfico 5 - Autossuficiência financeira do órgão gestor com o manejo de RSU dos
municípios participantes do SNIS, segundo macrorregião geográfica.............................. 29
Gráfico 6 - Municípios participantes de consórcios intermunicipais para gestão de
resíduos sólidos................................................................................................................. 30
Gráfico 7 - Percentual de RSU recebidos em unidades de compostagem........................ 43
Gráfico 8 - Estados com ICMS Ecológico vigente em 30/06/2015.................................... 49
Figura 2: Cartões produzidos pelo Serviço de Limpeza Urbana do Distrito Federal para
conscientização sobre a separação correta de resíduos orgânicos e recicláveis............. 51
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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Assuntos de artigos publicados na Compost Science Utilisation entre 2012 e


2014................................................................................................................................... 25
Tabela 2 – Meta % da massa total destinada para tratamento biológico.......................... 32
Tabela 3: Quantidade de municípios com unidades de compostagem e fluxo de resíduos
recebidos em 2000 e 2020.................................................................................. 43
Tabela 4: Existência de Política e Plano Municipal de Saneamento Básico e de Plano de
Gestão de Resíduos Sólidos......................................................................................... 44
Tabela 5: Formas de cobrança pelos serviços de limpeza e manejo de RSU................... 45
Tabela 6: Operadores das unidades de compostagem..................................................... 45
Tabela 7: Contratos de PPP vigentes em 2020 com unidade de compostagem............... 52
Tabela 8: Padrão de cores para três fluxos, quando da existência de sistema de
compostagem..................................................................................................................... 55
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LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E CONVENÇÕES

ABRELPE Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Urbana


CIMVI Consórcio Intermunicipal do Vale do Itajaí
CSU Compost Science and Utilisation
GEE Gases de Efeito Estufa
ODS Objetivos do Desenvolvimento Sustentável
PNSB Pesquisa Nacional de Saneamento Básico
PNRS Política Nacional de Resíduos Sólidos
PLANARES Plano Nacional de Resíduos Sólidos
PMGIRS Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos
PSA Pagamento por Serviços Ambientais
RSU Resíduos Sólidos Urbanos
RDO Resíduo Domiciliar
RPU Resíduo Público
SNIS-RS Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento – Resíduos
Sólidos
UTC Usina ou Unidade de Triagem e Compostagem
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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................................. 13
1.1 Objetivos....................................................................................................... 13
1.2 Relevância.................................................................................................... 14
2 COMPOSTAGEM – CONCEITOS E PRÁTICAS............................................ 17
2.1 De lixo a resíduos sólidos............................................................................. 17
2.2 Transformação da matéria orgânica em composto....................................... 19
2.3 Métodos de compostagem............................................................................. 20
2.3.1 Enterramento............................................................................................. 21
2.3.2 Compostagem em caixas.......................................................................... 21
2.3.3 Compostagem termofílica em leiras estáticas com aeração passiva........ 22
2.3.4 Compostagem termofílica em leiras estáticas com aeração ativa............. 22
2.3.5 Acelerador de compostagem..................................................................... 23
2.3.6 Equipamentos para compostagem em larga escala.................................. 24
2.4 Pesquisas publicadas e patentes registradas em compostagem................. 24
2.5 Compostagem na legislação federal............................................................. 28
2.5.1 Sustentabilidade econômico-financeira..................................................... 28
2.5.2 Metas de recuperação de resíduos por tratamento biológico.................... 31
2.6 Contribuição aos objetivos do desenvolvimento sustentável........................ 32
3 METODOLOGIA DE PESQUISA.................................................................... 34
3.1 Tipo de pesquisa........................................................................................... 34
3.2 Seleção dos sujeitos..................................................................................... 34
3.3 Coleta e análise de dados............................................................................ 34
3.4 Dificuldades metodológicas.......................................................................... 35
3.5 Descrição dos dados.................................................................................... 35
3.5.1 Formulário de Pesquisa Destinado ao Serviço Público de Manejo de
RSU 35
3.5.2 Formulário de Pesquisa Destinado a Empresas de Compostagem 39
3.5.3 Dados Levantados a partir do SNIS 42
3.5.4 Dados Levantados a partir das Legislações Municipais 45
4 BOAS PRÁTICAS E LIÇÕES APRENDIDAS................................................. 48
4.1 Pagamento por serviços ambientais............................................................. 48
4.2 Educação ambiental .................................................................................... 50
4.3 Concessões e parcerias público-privadas.................................................. 51
12
4.4 Investimento de agentes federais................................................................. 53
4.5 Separação de resíduos recicláveis orgânicos na origem............................ 54
4.6 Estímulo a modelos descentralizados......................................................... 56
4.7 Gerenciamento adequado das usinas de compostagem.............................. 57
4.8 Participação social na definição da destinação do composto....................... 58
4.9 Uso compartilhado de infraestrutura entre municípios................................. 59
4.10 Qualidade e disponibilidade de informações históricas............................... 60
4.11 Intervenção do Ministério Público................................................................ 62
5 Conclusão........................................................................................................ 63
6 Referências bibliográficas............................................................................. 65
Anexo 1 – Formulários de pesquisa................................................................ 70
Anexo 2 – Gráfico 3 Ampliado.......................................................................... 73
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1 - INTRODUÇÃO

A escolha do tema deste trabalho de conclusão de curso (TCC) está


relacionada a uma mudança na estrutura de vida do pesquisador que, durante anos,
tinha um espaço em casa para compostar seus resíduos orgânicos e, com a venda da
casa onde morava e mudança para um apartamento menor, percebeu que precisaria
de alternativas para realizar a destinação correta dos seus resíduos orgânicos. Nesse
momento, foi possível constatar que, apesar de haver leis que defendem a valorização
dos resíduos, ainda são poucos os municípios no Brasil que de fato assumem esse
papel de realizar o tratamento adequado dos resíduos orgânicos.
A Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS (Lei 12.035/2010) definiu um
prazo para que seja dada disposição final ambientalmente adequada aos resíduos,
porém não delimitou um prazo para destinação final ambientalmente adequada, que
inclui a reutilização, a reciclagem, a compostagem, a recuperação, o aproveitamento
energético ou outras destinações admitidas pelos órgãos competentes. As metas de
longo prazo para destinação ambientalmente adequada foram incluídas no Plano
Nacional de Resíduos Sólidos – Planares, porém os investimentos necessários para
atingir essas metas estão consideravelmente abaixo dos necessários para que as
metas sejam atingidas.
Doze anos já se passaram desde a promulgação da PNRS e, na prática, ainda
temos 15% dos resíduos sólidos no Brasil sendo dispostos em lixões. Apenas 69
municípios brasileiros reportaram através do Sistema Nacional de Informações sobre
Saneamento (SNIS) possuir fluxos de resíduos destinados a unidades de
compostagem em 2020. Essas unidades de compostagem processaram 303 mil
toneladas de resíduos, o equivalente a 0,46% do total de resíduos sólidos produzidos
no mesmo ano. Levando em consideração que a parcela de resíduos orgânicos
representa cerca de 50% dos resíduos sólidos gerados no Brasil, o percentual
destinado à compostagem ainda é pífio.

1.1 - OBJETIVOS

De acordo com a PNRS, é responsabilidade do titular dos serviços públicos de


limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos implantar o sistema de compostagem
para resíduos sólidos orgânicos e articular com os agentes econômicos e sociais
14
formas de utilização do composto produzido. Dado que existe no Brasil um marco legal
que determina a valorização dos resíduos sólidos e orienta os municípios a
implementarem mecanismos de cobrança pelo serviço de manejo dos resíduos,
explicitaremos que as prefeituras podem criar os meios para atingir a sustentabilidade
financeira na implantação do tratamento dos resíduos orgânicos através da
compostagem, assim como o tratamento de outros tipos resíduos.
Visto que as municipalidades brasileiras apresentam uma grande diversidade
nas suas características sociais, climáticas e de adensamento urbano, a pesquisa
buscará identificar como a prática da compostagem está sendo realizada pelas
municipalidades que declararam possuir unidades de compostagem. Uma série de
questões permeia a investigação, dentre elas:
- Quais são os meios de implementação?
- Quais públicos estão sendo atendidos e como são atendidos?
- As prefeituras implementaram instrumentos de cobrança pelo serviço?

1.2 - RELEVÂNCIA

Essa pesquisa tem potencial para ampliar a discussão acadêmica sobre um


tema que envolve a preservação do meio ambiente, o crescimento econômico
sustentável e a qualidade de vida das pessoas e dos animais. Conforme ressaltado
em pesquisa divulgada pelo Banco Mundial:

“Resíduos mal gerenciados estão contaminando os oceanos do mundo,


entupindo ralos e causando inundações, transmitindo doenças por meio da
reprodução de vetores, aumentando problemas respiratórios por meio de
partículas transportadas pelo ar da queima de resíduos.”1 (KAZA, YAO,
BADHA-TATA e VAN WOERDEN, 2018, pág. 21)

Em função da disponibilidade limitada de recursos e de uma população que


cresce exponencialmente, precisamos fazer uma revisão constante da forma como
consumimos e descartamos. Conforme ressaltado por Leitão (2015), jogar “fora” é
jogar “dentro”. Vivemos em um planeta finito em recursos naturais e limitado em
capacidade de assimilar a poluição gerada pelo nosso desperdício. É urgente a
adoção de um novo paradigma em substituição ao modelo de desenvolvimento

1Esta tradução não foi criada pelo Banco Mundial e não deve ser considerada uma tradução oficial do Banco
Mundial. O Banco Mundial não será responsável por qualquer conteúdo ou erro nesta tradução.
15
econômico atual, que seja projetado para a Terra e não para atender ao mercado, e
que inclua práticas de gestão voltadas para a recuperação de resíduos e eliminação
de desperdícios.
O adensamento urbano e o crescimento populacional agravam o problema de
disponibilidade de terras para disposição final ambientalmente adequada, fazendo
com que os resíduos sejam transportados a longas distâncias. De acordo com Jacobi
e Besen (2011), os resíduos na cidade de São Paulo percorrem entre 15 e 30
kilômetros até a disposição final. Na compostagem, os resíduos são sanitizados,
passam pelo processo de maturação e depois são destinados para agricultura e
jardinagem. Com essa circularidade, reduz-se a necessidade de disponibilidade de
terras.

Uma usina de compostagem realiza processamento de resíduos, retendo-os


por um certo tempo e em seguida os enviando às áreas de utilização. Seu
impacto no meio ambiente é muito menor que um aterro sanitário, que estoca
grandes volumes de resíduos por longos períodos. (FERNANDES e SILVA,
1999, pág. 62)

A compostagem pode ser realizada nos domicílios, nas instituições, nos


condomínios, nas comunidades ou em estações descentralizadas em diversos pontos
da cidade, reduzindo a necessidade de deslocamento dos resíduos e,
consequentemente, reduzindo os gases de efeito estufa no transporte e também o
impacto no trânsito. O tratamento via compostagem também gera menos gases de
efeito estufa quando comparado com a disposição em aterros sanitários.
Os resíduos orgânicos, após o tratamento, geram um composto livre de
patógenos (FERNANDES e SILVA, 1999), com aparência e odor de terra úmida e rico
em elementos químicos “responsáveis pela melhoria da qualidade nutricional e
estrutura do solo” (Herbets, Coelho, Miletti e Mendonça, 2005). Quando utilizado o
composto orgânico em substituição aos adubos químicos, preservam-se as fontes
limitadas do mineral fosfato (STENTIFORD e SÁNCHEZ-MONEDERO, 2016) evita-
se a contaminação do lençol freático e dos cursos d’água, reduz a acidificação do solo,
aumenta-se a atividade biológica do solo (SANTOS, HENRIQUE,
SHHLINDWEIN,FERREIRA e STACHIW, 2014) e ainda possibilita ao agricultor
produzir um alimento orgânico.
Apesar de todos os benefícios previamente descritos, a grande maioria dos
municípios brasileiros ainda não implementou a prática da compostagem. Dentre os
motivos, um relatório de avaliação de desempenho do Banco Mundial constatou que
16
muitos municípios tem “baixa capacidade de planejamento, implementação e
supervisão dos serviços e infraestruturas envolvidas no gerenciamento de resíduos
sólidos” (WORLD BANK, 2018, pág. 10). Nesse sentido, o consorciamento de
municípios limítrofes, a participação do setor privado através de concessões ou
parcerias público-privadas, juntamente com a aplicação de taxas ou tarifas sobre o
serviço de limpeza urbana e manejo de resíduos apresenta um grande potencial para
reversão do cenário atual.
17
2 – COMPOSTAGEM: CONCEITOS E PRÁTICAS

A compostagem é definida pela ABNT NBR 13591/1996 como um “processo


de decomposição biológica da fração orgânica biodegradável dos resíduos orgânicos
efetuado por uma população diversa de organismos, em condição de aerobiose”. De
acordo com Proença, Rodrigues e Lana, nesse processo, macroorganismos (como
minhocas e insetos) e microorganismos (como fungos e bactérias) atuam para
acelerar a decomposição dos resíduos de alimentos, de áreas verdes e de madeiras.
Ao final do processo, esse resíduo reduz de volume e se transforma em um composto
orgânico que pode ser utilizado como “biofertilizante, substrato para produção de
cogumelos, produto de bioremediação, etc” (Herbets, Coelho, Miletti e Mendonça,
2005, pág. 3).
A compostagem é um processo que ocorre naturalmente, porém, com o
adensamento de áreas urbanas, é necessário fazer a destinação e o tratamento
controlado para transformar o que seria considerado lixo em um produto regenerador
de solos e capaz de substituir os fertilizantes químicos. A Figura 1 demonstra como
os restos de alimentos, após um tratamento adequado, se tornam nutrientes para o
ecossistema, fechando um ciclo virtuoso.

Figura1: Ciclo da Compostagem

Fonte: Lixo Zero Guarulhos

2.1 - De Lixo a Resíduo Sólido


18

A palavra lixo geralmente é associada a coisas sem valor ou utilidade e está


impregnada por estigmas sociais. É interessante notar que a palavra lixo nem mesmo
é citada na PNRS, ao invés disso, encontramos o termo resíduos sólidos. A PNRS
define resíduo sólido como “material, substância, objeto ou bem descartado resultante
de atividades humanas em sociedade”. Esses resíduos podem ser reutilizados,
reaproveitados, reciclados, tratados ou - quando se esgotarem as possibilidades de
tratamento ou recuperação através dos processos tecnologicamente disponíveis e
economicamente viáveis - deve-se proceder a disposição final ambientalmente
adequada.
O que presenciamos atualmente é um subaproveitamento desses resíduos,
especialmente em relação à fração orgânica. De acordo com dados divulgados pelo
Banco Mundial apresentados no Gráfico 1, 46% dos resíduos no mundo são
compostos por resíduos de alimentos, áreas verdes e madeira. Já a parcela dos
resíduos sólidos destinada à compostagem no mundo é de apenas 5,5%, conforme
Gráfico 2, o que representa um desperdício de 40,5% em relação à massa total que
poderia ter uma destinação capaz de valorizar esses materiais.

Gráfico 1 – Composição Global dos Resíduos

Fonte: KAZA, YAO, BHADA-TATA e WOERDEN (2018)

Gráfico 2 – Tratamento e Disposição Global dos Resíduos


19

Fonte: KAZA, YAO, BHADA-TATA e WOERDEN (2018)

Stentiford e Sánchez-Monedero (2016) comentam que o mineral fosfato, usado


na agricultura, é um recurso limitado e a previsão é de que sua disponibilidade seja
reduzida após 2035. Sendo assim, a aplicação de alternativas aos fertilizantes
químicos, como a compostagem, tem também a possibilidade de estender a vida útil
das fontes desse mineral.

2.2 - Transformação da matéria orgânica em composto

A compostagem pode ser realizada nos domicílios, nos condomínios, nas


indústrias, em estabelecimentos comerciais, em instituições, em pátios comunitários
ou em unidades ou usinas de compostagem. Para cada escala de produção, o método
de transformação da matéria orgânica em composto pode variar, porém os resíduos
passarão pelas mesmas fases até atingir a estabilização e estarem prontos para
utilização.
De acordo com Herbets, Coelho e Mendonça (2005), na primeira fase,
chamada de fase ativa ou de bioestabilização, ocorre o aumento da população de
bactérias e fungos. Nessa fase, a temperatura sobe até cerca de 70º C devido à
degradação da celulose e da lignina. O aumento da temperatura faz com que os
20
agentes patogênicos sejam sanitizados, porém é necessário controlar a aeração a fim
de evitar que um aumento excessivo da temperatura ou a falta de oxigênio provoque
a redução dos microorganismos decompositores. Com o arrefecimento gradual da
temperatura, o material em compostagem começa a ser colonizado por fungos e um
grupo específico de bactérias chamadas de actinomicetos. É nessa fase que os
compostos carbônicos mais simples que restaram da fase anterior são decompostos.

Gráfico 3 2: Variação de temperatura na pilha em função do tempo de compostagem.

Fonte: Brasil, 2017

Como a compostagem é um processo aeróbio, a aeração é um fator muito


importante para a qualidade do composto, pois ajuda a controlar a temperatura,
acelera a decomposição da matéria orgânica, evita a acidificação da pilha e evita
odores e insetos indesejados. A aeração pode ser obtida através do reviramento ou
volteio periódico da pilha ou também pode ser forçada por meio de ventiladores
instalados no interior da pilha. Outros fatores importantes para a atividade biológica
são o controle: a) da umidade; b) da relação carbono e nitrogênio; c) da granulometria
e; d) do ph.
Nas próximas seções conheceremos um pouco mais sobre os diferentes
métodos de compostagem.

2.3 - Métodos de compostagem

2 Veja o gráfico ampliado no Anexo 2


21
Existem diversas técnicas para transformação da matéria orgânica em
composto. A escolha da melhor técnica depende do espaço disponível, da
disponibilidade de recursos humanos e/ou tecnológicos e da escala de produção. Nos
próximos tópicos serão listados, de forma não exaustiva, alguns métodos comumente
utilizados nos processos de compostagem no Brasil.

2.3.1 - Enterramento

O método de compostagem mais simples é o enterramento. Ele é recomendado


para quem tem disponibilidade de espaço e, muitas vezes, o mesmo espaço utilizado
para a compostagem é utilizado para o plantio. O local deve ser isolado para evitar a
presença de animais domésticos e não se deve colocar carnes para evitar a atração
de vetores (BRASIL, 2017). Depois de colocar os resíduos orgânicos em uma vala
cavada no chão, adiciona-se matéria seca, como folhas ou serragem, para manter o
oxigênio no processo e adicionar carbono. Após completar o preenchimento da vala,
cobre-se com terra ou palha.

2.3.2 - Compostagem em caixas

Um método muito utilizado na compostagem doméstica é a compostagem em


caixas digestoras empilhadas. Ela é recomendada para quem mora em apartamentos
ou tem restrição de espaço. Quando adicionadas as minhocas para acelerar o
processo, ele também é chamado de vermicompostagem ou minhocário, mas a
eficácia do processo independe da adição de minhocas. Nesse tipo de processo é
necessário controlar o calor, a umidade e a quatidade de resíduos que podem ser
prejudiciais às minhocas, como cítricos, alimentos cozidos, excesso de condimentos
e restos de carne ou gorduras (PROENÇA, RODRIGUES e LANA, 2021). Geralmente
são montadas 3 ou mais caixas ou baldes com tampa na parte de cima para evitar a
entrada de líquidos em excesso e a saída de minhocas. A caixa que fica na base tem
a função de coletar os líquidos gerados durante o processo de compostagem e pode
ser colocada uma torneira para facilitar a drenagem desse líquido, conhecido como
chorume, e que pode ser diluído em água para produção de um excelente
biofertilizante. As caixas digestoras superiores vão receber os resíduos orgânicos, que
22
devem ser misturados com alguma matéria seca para manter o oxigênio no processo
e trazer carbono à mistura.

2.3.3 - Compostagem Termofílica em Leiras Estáticas com Aeração Passiva

Um método que tem sido testado há mais de 20 anos pelos professores e


pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina, também conhecido como
Método UFSC, é o da compostagem termofílica em leiras estáticas com aeração
passiva. Ele tem a grande vantagem de poder ser usado em pequena ou grande
escala, até mesmo em nível municipal, e por dispensar o uso de tecnologia para
aeração.Tamanha a sua relevância e simplicidade, o Ministério do Meio Ambiente
lançou em 2017 um manual de orientação em parceria com o SESC-SC e o
CEPAGRO, que tem sido o principal difusor do método.
No método UFSC, a preparação do terreno envolve a instalação de um sistema
de drenagem com reservatório para o biofertilizante e do excesso de água. Acima do
sistema de drenagem, forma-se uma base que facilite a entrada de ar, com materiais
mais grosseiros como galhos e podas. Em volta dos galhos, deve ser montada uma
parede de palha, que vai evitar diminuir a evaporação de água e evitar a proliferação
de moscas. Acima desta base, coloca-se um leito de folhas, serragem ou outros
materias secos processados no picador de podas. Finalmente, são colocados os
montes de resíduos misturados com matéria seca. Pode-se misturar um material
inoculante com esses resíduos para reduzir o tempo necessário para chegar à fase
termofílica, evitando com isso a atração de vetores. A pilha deve ser recoberta com
serragem e folhas e, acima, uma camada de palha fechando-a completamente. A cada
48 horas, a pilha pode receber uma nova camada de resíduos. Para isso, a camada
superior de palha deve ser transformada em uma parede, e no centro coloca-se mais
resíduos frescos misturados com serragem e folhas secas e recobertos por uma nova
camada de palha. É recomendado que a leira tenha uma altura de até 1,3 metros para
manejo residencial ou escolar e até 3 metros quando houver auxílio de máquinas.
Após concluir o preenchimento da leira, ela pode ser mantida sem revolvimento pois
a aeração ocorre naturalmente com a entrada do ar frio através da base permeável
da leira e saída do ar quente pelo topo. É recomendado que a leira tenha uma largura
máxima de dois metros para facilitar a circulação de ar e o comprimento pode chegar
até a vinte metros. Nesse processo, o composto fica pronto em seis meses.
23

2.3.4 - Compostagem Termofílica em Leiras Estáticas com Aeração Ativa

Stentiford e Sánchez-Monedero (2016) citam dois fatores fundamentais na


busca por melhorias no processo de compostagem: 1) garantir que o material seja
seguro para uso do ponto de vista sanitário, ou seja, livre de organismos patogênicos;
2) Decompor os componentes biodegradáveis de forma controlada e o mais rápido
possível. Nesse sentido, alguns métodos vêm sendo pesquisados em diversos países.
Um desses métodos é das pilhas estáticas com aeração por ventiladores
colocados em uma base porosa embaixo das leiras. Foram testados tanto a aeração
positiva (ventilação) quanto a negativa (sucção). A aeração positiva se apresentou
como uma forma mais eficiente para controlar a temperaturae gerou composto em um
tempo menor, já a aeração negativa atuou melhor no controle de odores e tratamentos
dos gases.

2.3.5 - Acelerador de compostagem

Com a finalidade de produzir um composto de qualidade no menor tempo


possível, foram desenvolvidas soluções como o acelerador de compostagem3. Trata-
se de um fluído, composto de bactérias e fungos, que promove aumento exponencial
da atividade microbiana relacionada à fermentação dos resíduos orgânicos. Seu uso
reduz significativamente a formação de amônia, a perda de nitrogênio, o mau cheiro
e a incidência de moscas.
Um acelerador de compostagem bastante conhecido atualmente foi
desenvolvido pelo Dr. Koji Takakura e pode ser produzido facilmente em casa.
Conforme manual divulgado pela Autoridade Municipal de Limpeza de São Paulo
(AMLURB), é necessário criar uma solução doce e outra salgada. A solução doce é
feita com 150 ml de água, 40 g de açúcar e 100 g de alimentos fermentados. os
ingredientes são misturados e guardados em um local escuro por 3 dias com a tampa
aberta para dar vazão aos gases da fermentação. A solução salgada é feita com 150
ml de água, 50 g de sal e 100 g de cascas de frutas. Os ingredientes são misturados
e guardados com a tampa fechada por 3 dias. Depois coloca-se em uma caixa uma

3https://korinagricultura.com.br/wp-content/uploads/2020/12/01.Ficha_Tecnica_EMBIOTIC-ACELERADOR.pdf
24
mistura de 300 g de serragem com 100 g de farinha branca e 50 a 100 g de composto
pronto. Adiciona-se a essa mistura as soluções doce e salgada em proporções iguais
até atingir uma umidade entre 40% e 60%. A caixa deve ser fechada e aguarda-se 3
dias para iniciar a alimentação com os resíduos orgânicos

2.3.6 - Equipamentos para compostagem em larga escala

Existem diversas soluções disponíveis no mercado para tratamento de resíduos


orgânicos em larga escala. De forma não exaustiva, citamos dois equipamentos que
podem ser utilizados para diferentes escalas de produção.
O reator de compostagem4 é um equipamento que pode ser implantado in loco
em grandes geradores, como restaurantes, universidades, escolas, refeitórios, hotéis,
supermercados, shoppings e outras instituições e empresas classificadas como
grandes geradores. O equipamento pode ser instalado no próprio estabelecimento e,
em até dois dias, os resíduos orgânicos sofrem uma redução do volume de cerca de
80%. Dessa forma, o estabelecimento reduz duplamente suas emissões de GEE: 1)
pela alteração da destinação dos resíduos que seriam destinados a aterros sanitários
e passam a ser compostados e; 2) pela compostagem no mesmo local onde os
resíduos são produzidos, reduzindo a necessidade de transporte para outros locais e,
consequentemente, a queima de combustíveis.
Um equipamento de grande porte, que pode ser usado em usinas,
agroindústrias e pátios de compostagem de prefeituras, é o Compostador5. Ele tem
capacidade para processamento de 1.270 m³/hora. Sua função é fazer a sulcagem
dos materiais orgânicos, padronizar a leira nas medidas recomendadas, aspergir
bactérias para acelerar o processo, revolver a leira, padronizar o composto e ainda
pode adicionar complementos minerais ao mesmo. Análises de solo subsequentes
demonstram que, à medida que o solo é recondicionado com composto orgânico, a
utilização de adubo mineral pode ser reduzida ou interrompida, mantendo os mesmos
níveis de produção.

2.4 - Pesquisas publicadas e patentes registradas em compostagem

4http://reatordecompostagem.com.br/

5https://civemasa.com.br/produto/detalhe/Compostador-de-Res%C3%ADduos-Org%C3%A2nicos-5/pt-BR
25
As pesquisas envolvendo processos de compostagem e produção
biofertilizante avançaram em um nível muito rápido nos últimos 50 anos, conforme
destacam Stentiford e Sánchez-Monedero (2016). No entanto, é fundamental que os
pesquisadores trabalhem de forma próxima aos governos e agências de fomento para
definir onde se devem concentrar esforços e determinar a agenda para trabalhos
futuros. Um levantamento realizado pelos autores acima citados sobre os temas
predominantes em artigos publicados entre os anos de 2012 e 2014 na Compost Cient
Utilisation (CSU) identificou que os esforços estavam concentrados principalmente no
uso do composto em plantas e solos específicos, seguido pelos efeitos dessa
aplicação, conforme apresentado na Tabela 1 abaixo.

Tabela 1: Assuntos de artigos publicados na Compost Science Utilisation entre 2012


e 2014.
Artigos
Assunto6
Número %
Uso do composto em plantas e solos específicos 24 33,8
Efeitos do composto e solos 14 19,7
Métodos de compostagem e trabalho com diferentes 13 18,3
resíduos
Mudanças de processo durante a compostagem 6 8,5
Patógenos e seu controle 3 4,2
Qualidade do composto 3 4,2
Avaliação de progresso do composto 2 2,8
Biofiltragem 1 1,4
Efeitos do composto na característica das plantas 1 1,4
Outros 4 5,6
Total 71 100
Fonte: Stentiford e Sánchez-Monedero (2016)

Através da pesquisa e desenvolvimento, é possível identificar melhorias de


processo que vão afetar a qualidade do composto, reduzir a liberação de odores
desagradáveis e acelerar a decomposição da matéria. Nesse sentido Araújo,

6Alguns artigos cobrem mais de uma especialidade e, nesses casos, o mesmo artigo
aparecerá em duas ou mais categorias.
26
Cerqueira e Carneiro (2020) fizeram um levantamento no banco europeu de patentes
EPO-Spacenet e identificaram através de palavras-chave a existência de “15.170
patentes relacionadas aos processos de compostagem depositadas por 57 países”. A
China lidera o ranking de registros de patentes, com quase 80% do total identificado
na pesquisa. O Gráfico 4 apresenta a quantidade de patentes registradas no banco
de dados supracitado desde o ano 1900 e possibilita observar como esse campo de
pesquisa foi intesificado nos anos recentes. As diferentes cores do gráfico
representam diferentes estratégias de pesquisa utilizadas pelas autoras.

Gráfico 4: Número de patentes relacionadas a compostagem registradas no EPO-


Spacenet por período.

Fonte: Araújo, Cerqueira e Carneiro (2020)

Dentre as aplicações específicas, a compostagem se apresenta como uma


tecnologia de interesse para a valorização do digestato resultante do processo de
digestão anaeróbia. A biodigestão anaeróbia tem sido cada vez mais aplicada no
tratamento de tratamento de esgoto doméstico e dejetos de animais na pecuária. O
processo de biodigestão anaeróbia tem como subprodutos o biogás, o biofertilizante
líquido e o digestato. Como o biodigestato pode conter agentes patogênicos, utiliza-
se o efeito da elevação de temperatura provocado na fase termofílica da
compostagem para sanitizar esses organismos e tornar viável a utilização do material
para a agricultura. Esses tratamentos podem exigir equipamentos de alto custo e/ou
mão de obra intensiva, porém esses custos são compensados através de benefícios:
a) Ambientais:
- redução dos efluentes lançados de forma inadequada em corpos d’água;-
redução dos gases de efeito estufa liberados durante o tratamento dos
resíduos
b) Econômicos:
27
- aproveitamento energético do biogás;
- utilização como biofertilizante agrícola.
Com tantas inovações, se tornaria exaustiva a descrição de todos os métodos,
técnicas e aplicações disponíveis. Sendo assim, daremos prosseguimento com a
análise da legislação brasileira e do panorama atual do Brasil em relação à
compostagem.

2.5 - A Compostagem na Legislação Federal

A Lei Federal nº 11.445/2007 estabelece as diretrizes nacionais para o


saneamento básico, o qual abrange “abastecimento de água, esgotamento sanitário,
limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos realizados de formas adequadas à
saúde pública, à conservação dos recursos naturais e à proteção do meio
ambiente” (Art. 2º § III). Seu primeiro princípio fundamental é a universalização do
acesso e efetiva prestação do serviço (Art. 2º § I). A Lei Federal nº 14.026/2020,
também conhecida como Novo Marco Legal do Saneamento Básico, trouxe
atualizações com a finalidade de aprimorar as condições estruturais do saneamento
básico e foi nela que os trechos destacados em negrito acima foram incluídos.
No Art. 3º-C é definido o escopo dos serviços públicos de limpeza urbana e a
compostagem é citada como uma das alternativas de tratamento para os resíduos
sólidos urbanos (RSU):

“Consideram-se serviços públicos especializados de limpeza urbana e de


manejo de resíduos sólidos as atividades operacionais de coleta, transbordo,
transporte, triagem para fins de reutilização ou reciclagem, tratamento,
inclusive por compostagem (grifo nosso), e destinação final dos: I - resíduos
domésticos; II - resíduos originários de atividades comerciais, industriais e de
serviços, em quantidade e qualidade similares às dos resíduos domésticos,
que, por decisão do titular, sejam considerados resíduos sólidos urbanos,
desde que tais resíduos não sejam de responsabilidade de seu gerador nos
termos da norma legal ou administrativa, de decisão judicial ou de termo de
ajustamento de conduta; e III - resíduos originários dos serviços públicos de
limpeza urbana” (Lei Federal 14.026/2020, Art. 3º-C)

De forma articulada com a Lei 11.445/2007, em 2010, foi criada a Política


Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) através da Lei 12.305/2010. Essa Política
“reúne o conjunto de princípios, objetivos, instrumentos, diretrizes, metas e ações [...]
com vistas à gestão integrada e ao gerenciamento ambientalmente adequado dos
resíduos sólidos” (Art. 4º). O oitavo princípio da PNRS preconiza o “reconhecimento
28
do resíduo sólido reutilizável e reciclável como um bem econômico e de valor social,
gerador de trabalho e renda e promotor de cidadania” (Art. 6º). Dentre as
responsabilidades do titular dos serviços públicos de limpeza urbano e manejo de
resíduos sólidos, o artigo 36 prevê a implantação de “sistema de compostagem para
resíduos sólidos orgânicos”. Considerando a responsabilidade dos titulares do serviço
e os benefícios ambientais, sociais e econômicos envolvidos no processo de
compostagem e utilização do composto, é crítico que existam apenas 74 unidades de
compostagem que representam 1,5% das unidades de processamento em RSU ativas
no Brasil (BRASIL, 2021b, p. 42).
Os titulares dos serviços públicos de saneamento básico são:

“I - os municípios, distrito federal, no caso de interesse local; II - o Estado, em


conjunto com os Municípios que compartilham efetivamente instalações
operacionais integrantes de regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e
microrregiões, instituídas por lei complementar estadual, no caso de interesse
comum.” (Lei Federal 14.026/2020, Art. 8º)

Eles são responsáveis por formular a política pública de saneamento básico,


incluindo os planos estaduais de resíduos sólidos e os Planos Municipais de Gestão
Integrada de Resíduos Sólidos (PMGIRS).

2.5.1 - Sustentabilidade Econômico-Financeira

Tendo em vista o princípio do poluidor-pagador, um dos conteúdos mínimos


que devem ser apresentados nos planos municipais de gestão integrada de resíduos
sólidos é a cobrança pelos serviços. Um estudo sobre universalização da limpeza
urbana realizado pela ABRELPE destaca a importância da aplicação dessa cobrança
pelos serviços prestados, assim como já ocorre com o fornecimento de água,
tratamento de esgoto e outros serviços:

“os avanços foram tímidos e bastante limitados, principalmente no tocante ao


encerramento de lixões, ampliação da reciclagem e disponibilização de
sistemas mais modernos e tecnológicos para tratamento e recuperação dos
resíduos, com vistas ao atendimento do prazo definido para que a disposição
final ambientalmente adequada se tornasse uma realidade.
De acordo com as diversas análises elaboradas, tal situação deve-se,
principalmente, pela falta de recursos (humanos e financeiros) por parte dos
titulares dos serviços de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos e pela
falta de segurança jurídica, para viabilizar soluções viáveis e de longo prazo
29
direcionadas a promover os avanços orientados pelas disposições da PNRS.”
(ABRELPE, 2021, pág.6)

O Novo Marco Legal do Saneamento Básico incluiu o prazo de 1 ano, ou seja,


até 15/06/2021, para proposição de cobrança pelo titular do serviço, incluindo
penalidades por descumprimento caso não seja comprovado que a renúncia fiscal
atende ao disposto no art. 14 da Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000.
Conforme dados do SNIS-RS 2020 divulgados no Diagnóstico Temático - Manejo de
Resíduos Sólidos Urbanos – Visão Geral, muitos municípios ainda não
implementaram a cobrança, podendo inclusive ser penalizados por improbidade
administrativa7.

“a cobrança pelos serviços ocorre em 1.851 municípios (40,3% dos 4.589


participantes). A taxa específica no boleto do IPTU é utilizada em 83,8%
desses municípios. Os demais cobram por meio de taxa no boleto de água
(11,8%), boleto específico (4,1%) e tarifa (0,3%).[Nesses municípios] a
receita cobre, em média, 56,4% das despesas totais.” (BRASIL, 2021, pág.
56)

O resultado da não implementação de cobrança é uma fragilidade na


sustentabilidade financeira do setor. Conforme Gráfico 5, há uma grande disparidade
entre o gasto das prefeituras com o manejo de resíduos sólidos e o valor arrecadado
que cobre apenas uma parte dos custos incorridos.

Gráfico 5: Autossuficiência financeira do órgão gestor com o manejo de RSU dos


municípios participantes do SNIS, segundo macrorregião geográfica

Fonte: Brasil, 2021b

7SILVA FILHO, Carlos R. SOLER, Fabricio. Gestão de resíduos no Marco do Saneamento. Valor Econômico,
06/08/2020, apud ABRELPE, 2021
30

A PNRS também estimula que, como conteúdo mínimo na elaboração dos


PMGIRS, que haja a “identificação das possibilidades de implantação de soluções
consorciadas ou compartilhadas com outros Municípios, considerando, nos critérios
de economia de escala, a proximidade dos locais estabelecidos” (Lei Federal
14.026/2020, Art. 19º). A alocação de incentivos federais e financiamentos da União
está condicionada à existência de um PMGIRS e privilegia a implementação de
infraestruturas e serviços comuns a municípios, mediante mecanismos de
cooperação, dando “prioridade para planos, programas e projetos que visem à
implantação e à ampliação dos serviços e das ações de saneamento básico integrado”
(Lei Federal 14.026/2020, Art. 48º). Dessa forma, é importante que os gestores
públicos avaliem, junto às prefeituras de municípios limítrofes, a possibilidade de
prestação do serviço regionalizado de um ou mais componentes do saneamento
básico para obter ganhos de escala, visando a cooperação técnica e financeira, assim
como o acesso a recursos federais.

Gráfico 6: Municípios participantes de consórcios intermunicipais para gestão de


resíduos sólidos

Fonte: BRASIL, 2021b

Importante ressaltar que incentivos federais e financiamentos da União não


podem ser aplicados para cobrir os custos operacionais envolvidos na prestação dos
31
serviços. Sua finalidade é apoiar a aquisição de bens de capital para implementação,
adequação ou modernização das infraestruturas

“enquanto o CAPEX pode ser financiado por diversas fontes de recursos


(internas e externas), como outras esferas de governo (Estados e União),
organismos internacionais (países e agências multilaterais), instituições de
fomento (Bancos de Desenvolvimento), os custos de operação (OPEX)
precisam ser subsidiados com o orçamento local, a partir da recuperação dos
valores necessários a tal custeio, mediante a adoção de instrumento de
remuneração com cobrança dos usuários. (ABRELPE, 2020, pág. 41)

2.5.2 - Metas de recuperação de resíduos por tratamento biológico

Um dos conteúdos mínimos previstos no PMGIRS é a apresentação de “metas


de redução, reutilização, coleta seletiva e reciclagem, entre outras, com vistas a
reduzir a quantidade de rejeitos encaminhados para disposição final ambientalmente
adequada” (Lei Federal 12.305/2010, Art. 19º). Assim como os titulares dos serviços
têm a obrigação de incluir essas metas em seus planos, o Planares representa a
estratégia de longo prazo em âmbito nacional para operacionalizar as disposições
legais, princípios, objetivos e diretrizes da Política. Aprovado através do Decreto no
11.043/2022, o Planares propõe metas, diretrizes, projetos, programas e ações
voltadas à consecução dos objetivos da Lei para um horizonte de 20 anos e deve ter
um papel norteador nos planos estaduais.
A partir de diagnósticos realizados na estrutura atual, nos cenários
macroeconômicos e nas tendências nacionais e internacionais no setor de resíduos,
foram identificados os seguintes marcos temporais em relação à reciclagem de
resíduos orgânicos resumidos abaixo:
a) 2021-2024:

“a reciclagem de orgânicos é utilizada como forma de redução do volume de


resíduos enviados para disposição final [...]. Observa-se o reconhecimento
gradativo dessa fração como reciclável e sua importância para reduzir as
emissões de GEE” (BRASIL, 2022, pág. 135).

b) 2025-2028:

“Os processos de compostagem estão consolidados e cada vez mais


integrados à agricultura por meio do composto e biofertilizante de RSU [...].
Há adesão dos grandes geradores na separação dos resíduos orgânicos na
32
fonte, com vistas ao seu posterior aproveitamento, e ampliação, ainda que
incipiente, da segregação na fonte em domicílios. (BRASIL, 2022, pág. 140)

c) 2029-2040:

“Há uma combinação de diferentes rotas tecnológicas para o tratamento e


valorização da fração orgânica dos resíduos de coleta seletiva, com
integração de unidades de compostagem; unidades de digestão anaeróbia
e/ou tratamento mecânico-biológico dos resíduos, em sua maioria, ainda
mistos. [...] Outros impactos positivos dessa valorização, como a mitigação
de emissões de gases de efeito estufa, passam a ter reconhecimento nas
estratégias governamentais que contribuem com os esforços mundiais de
mitigação e adaptação às mudanças climáticas, o que aumenta o acesso a
recursos financeiros internacionais. Há consensos obre a importância da
reciclagem de orgânicos para reduzir cada vez mais as emissões de GEE no
país e há grande diversidade de projetos para gestão de resíduos
incorporando medidas de mitigação de GEE.” (BRASIL, 2022, pág. 144)

A partir desses estudos de cenários e tendências foram estabelecidas as metas


percentuais descritas na tabela 2 para aumento gradual da fração orgânica de RSU
destinada para tratamento biológico, que incluem tanto a compostagem quanto a
biodigestão anaeróbia.

Tabela 2 – Meta % da massa total destinada para tratamento biológico

Fonte: Planares

2.6 – Contribuição aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável

Os objetivos do desenvolvimento sustentável (ODS) são o resultado de


experiências, debates e negociações globais que se traduziram na criação de 17
objetivos e 169 metas a serem atingidos até o ano 2030. Com o engajamento de
organizações da sociedade civil, do setor privado, de governos e da academia nessa
agenda mundial, espera-se acelerar o alcance desses objetivos.
33
O Panorama do Saneamento Básico no Brasil – SNIS – 2021 relaciona
universalização do acesso à limpeza e a destinação adequada dos resíduos com os
4 ODS a seguir:
1) ODS 3 - Saúde e bem-estar
2) ODS 11 - Cidades e comunidades sustentáveis
3) ODS 12 - Consumo e produção responsáveis
4) ODS 17 - Parcerias e métodos de implementação
34
3 - METODOLOGIA DE PESQUISA

3.1 - Tipo de Pesquisa

Essa é uma pesquisa descritiva que busca um aprofundamento sobre as


práticas de compostagem realizadas pelos titulares dos serviços de manejo de
resíduos sólidos e por empresas que prestam serviços particulares de compostagem.
Com isso, pretende-se apresentar um panorama atual dos serviços públicos e
privados de compostagem.

3.2 - Seleção dos Sujeitos

Foram criados dois formulários diferentes, sendo um deles direcionado a


prefeituras e o outro formulário direcionado para empresas particulares que prestam
o serviço de compostagem. As perguntas do formulário podem ser verificadas no
Anexo 1 – Formulários de pesquisa.
Foram selecionadas as 15 prefeituras com maior volume destinado à
compostagem na pesquisa Nacional de Saneamento Básico realizada no ano 2000.
As prefeituras convidadas foram as seguintes: Araraquara (SP), Araras (SP), Brasília
(DF), Cuiabá (MT), Ipatinga (MG), Itapema (SC), Navegantes (SC), Olinda (PE),
Osório (RS), Rio de Janeiro (RJ), São José do Rio Preto (SP), São José dos Campos
(SP), São Paulo (SP), Uberaba (MG) e Uberlândia (MG). A partir das respostas dessas
prefeiturar, almeja-se identificar se a prática se consolidou nesses municípios ou se
tratava-se apenas de um plano pontual de governo, ao invés de uma política de
Estado. Além das 15 prefeituras citadas, o questionário também foi enviado às
prefeituras de Manaus e Florianópolis, em função de práticas inovadoras em
compostagem implementadas e da legislação específica dos dois municípios.
As empresas particulares selecionadas eram de conhecimento prévio do
pesquisador por atuarem nas cidades de Niterói e do Rio de Janeiro.

3.3 - Coleta e Análise de Dados


35
A pesquisa utilizará dados publicados no SNIS, respostas a questionários
enviados para prefeituras e empresas de compostagem, além de leis municipais e
informações públicas para compor os estudos de caso.
O último diagnóstico anual de resíduos sólidos do SNIS é de 2021, com
informações do ano de referência 2020. Com isso, a descrição dos dados será
baseada principalmente nos dados referentes ao ano de 2020, exceto quando for de
interesse verificar a evolução histórica, nesse caso será apresentado também
informações dos diagnósticos de anos anteriores.

3.4 - Dificuldades Metodológicas

A principal dificuldade metodológica foi conseguir as respostas das prefeituras


aos questionários de pesquisa enviados. Foram realizadas ao menos três tentativas
de contato com cada uma das prefeituras, porém apenas três formulários foram
respondidos. Apesar dos três respondentes terem declarado que não realizam a
cobrança pelo serviço, um deles declara no SNIS que realiza a cobrança através de
taxa em boleto específico.
Outra dificuldade está relacionada à qualidade no preenchimento dos dados do
SNIS. Algumas prefeituras reportam possuir unidades de compostagem, mas não
informam fluxos de resíduos para essas unidades. No caso da Prefeitura de Manaus,
por exemplo, não foi citado no SNIS a existência de unidades de compostagem, porém
a prefeitura declara em seu website que possui usina de compostagem e que realiza
o serviço de compostagem desde 2005. Foi encaminhada pelo pesquisador uma
sugestão, através do Fala BR (Plataforma Integrada de Ouvidoria e Acesso à
Informação do Governo Federal), solicitando a segregação dos fluxos destinados
especificamente a unidades de compostagem. A sugestão foi acolhida pela prefeitura
de Manaus, a qual informou que a partir de maio/23 o sistema receberá dados
atualizados do SNIS.

3.5 - DESCRIÇÃO DOS DADOS

3.5.1 - Formulário de Pesquisa Destinado ao Serviço Público de Manejo de RSU


36
Para o questionário destinado ao serviço público de manejo de RSU, 17
entidades receberam o formulário, das quais 3 responderam à pesquisa. O cargo dos
respondentes varia entre educador ambiental, chefe de desenvolvimento ambiental e
diretor executivo de consórcio intermunicipal de gestão de resíduos sólidos. As
respostas resumidas são apresentadas a seguir:
37
38

Na seção aberta para esclarecimentos adicionais, os respondentes


adicionaram os seguintes comentários:
Resposta 1: Os participantes da coleta seletiva de orgânicos podem retirar
composto para seu uso domiciliar ou condominial. Comunicamo-nos também por
WhatsApp onde temos catálogo com recursos educativos. Nossos levantamentos são
em tempo real através de nosso de residuômetro:
39
https://www.pmf.sc.gov.br/entidades/residuos/index.php?cms=residuometro+em+tem
po+real&menu=0
Resposta 2: A Prefeitura de São José dos Campos possui uma iniciativa de
segregação e compostagem in situ dos resíduos orgânicos gerados no Paço Municipal
de São José dos Campos, com objetivo de contribuir para o atendimento de uma das
metas do PMGIRS, referente a segregação e compostagem de orgânicos gerados nos
próprios públicos. Esse projeto piloto coleta e trata cerca de 175kg/mês e possui 16
pontos de coleta. Atualmente, o projeto está em fase de expansão para todas as copas
(45) do Paço Municipal. Para sua viabilização, foram utilizados recursos do Fundo
Municipal de Meio Ambiente para a compra de materiais (composteiras, lixeiras, etc.)
e para a contratação de uma empresa especializada para o manejo das composteiras.
Durante a fase piloto, esse serviço era realizado pelos servidores do Departamento
de Gestão Ambiental. O município possui iniciativas públicas e privadas de
compostagem. Porém, não dispomos de uma estimativa de resíduos destinados a
compostagem. A exemplo, no município, há, ao menos três empresas que ofertam o
serviço de compostagem urbana, com a coleta e o tratamento de resíduos para a
população. Esse serviço é cobrado diretamente pelas empresas, não havendo
qualquer relação com o serviço público prestado pela Prefeitura. Além disso, os
resíduos orgânicos verde são destinados pela empresa contratada pela poda e
supressão de árvores. Quanto aos resíduos sólidos urbanos, de acordo com o estudo
gravimétrico realizado em 2018, estimou-se que 48,1% dos resíduos eram matéria
orgânica (https://www.urbam.com.br/atuacao_residuos_solidos). Esses resíduos
foram destinados para aterro sanitário do município.
Resposta 3: A destinação dos resíduos orgânicos (poda e capina) é realizada
pela concessionária que opera o aterro sanitário local.

A partir das respostas aos formulários é possível identificar que a coleta seletiva
de resíduos orgânicos ainda não é realizada por todos os municípios que realizam a
compostagem. Alguns municípios compostam uma parcela específica dos resíduos,
como poda e capina ou resíduos das copas de órgãos públicos, outros já conseguem
abranger também os resíduos domésticos.
Outro ponto relevante é a ausência de cobrança pelos serviços de limpeza e
manejo de RSU declarada pelos 3 municípios.

3.5.2 - Formulário de Pesquisa Destinado a Empresas de Compostagem


40

Na maioria das cidades, o serviço público não realiza a coleta seletiva de


resíduos orgânicos e destinação para compostagem, criando um espaço de mercado
para que empresas atendam à demanda por serviços de compostagem. A fim de
conhecer as práticas desse setor, duas empresas particulares que realizam serviço
de compostagem receberam o formulário, Roda Verde Compostagem e Ciclo
Orgânico. Ambas responderam à pesquisa na pessoa do sócio e autorizaram a
identificação da empresa. As respostas são apresentadas a seguir:

Caso tenha marcado Sim na questão anterior, para qual órgão público os dados são reportados?
• INEA,via Sistema de Manifestos
41

Quantas toneladas de resíduos orgânicos foram destinadas para tratamento no


último ano?
• 15
• 720

Quantas toneladas de composto foram geradas no último ano?


• 1.5
• 216

Qual é total de domicílios ou empresas atendidos atualmente?


• 250
• 4500

Qual é o total de funcionários/associados trabalhando na empresa?


• 3
42
• 30

Quantas estações de compostagem são administradas pela empresa?


• 1
• 2

Quais são os bairros de atuação?


• Niterói
• Zona Sul, Centro, Grande Tijuca, Barra, Recreio e Adjacências.

Dentre os respondentes, a Roda Verde Compostagem declara coletar apenas


resíduos domésticos e o Ciclo Orgânico coleta resíduos domésticos e de empresas.
Interessante notar que a coleta de resíduos em empresas atende a obrigatoriedade
legal de reportar ao INEA informações sobre os volumes de resíduos coletados, via
Sistema de Manifesto de Transporte de Resíduos.

3.5.3 - Dados Levantados a partir do SNIS

Inicialmente buscou-se identificar a evolução recente do volume de resíduos


recebidos em unidades de compostagem. Para isso, verificou-se a quantidade total
de resíduos recebidos nas unidades de processamento classificadas como “Unidade
de compostagem (pátio ou usina)” extraídos das tabelas de fluxos de resíduos sólidos
disponibilizadas pelo SNIS8. Em seguida, foi consultada a massa coletada estimada
de RSU no Painel de Manejo de Resíduos Sólidos Urbanos9 a cada ano, a fim de
identificar o percentual destinado à compostagem. O gráfico 7 apresenta as
informações do período de 2014 a 2020 em função do período em que há
disponibilidade de dados nas duas fontes. Embora o Painel de Manejo de Resíduos
Sólidos apresente dados consolidados em relação à recuperação estimada de
resíduos recicláveis secos, não há dados consolidados sobre o tratamento de
resíduos orgânicos.

Gráfico 7: Percentual de RSU recebidos em unidades de compostagem

8https://www.gov.br/mdr/pt-br/assuntos/saneamento/snis/diagnosticos-anteriores-do-snis/residuos-solidos-1
9https://www.gov.br/mdr/pt-br/assuntos/saneamento/snis/painel/rs
43

% RSU recebidos em unidades de


compostagem
1,00%

200 0,53% 0,50%


0,44% 0,44% 0,44% 0,47% 0,46%
0,20%
0 0,00%
2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020

Quantidade de resíduos recebidos em unidade de compostagem


(milhares de toneladas)
% RSU recebidos em unidade de compostagem

Fonte: SNIS. Elaboração própria

O Diagnóstico do Manejo de Resíduos Sólidos 2018 apresenta uma redução


significativa na comparação com os demais, em função de que “muitos municípios
brasileiros ainda não enviam as informações solicitadas, devido a razões que vão
desde dificuldades internas das prefeituras até desinteresse de alguns municípios
para obter e/ou disponibilizar seus dados” (BRASIL, 2019, pág. 34). Tendo em conta
o desvio apresentado em 2018, optou-se por desconsiderar as informações desse ano
a fim de obter a média do período, chegando então a um percentual médio dos RSU
destinados a compostagem de 0,46%.
Após a avaliação do cenário recente, buscou-se fazer uma comparação de
longo prazo da quantidade de municípios com unidades de compostagem e dos fluxos
de resíduos recebidos nessas unidades. Para isso, foram utilizados os dados
reportados no SNIS-RS 2020 e os dados da Pesquisa Nacional de Saneamento
Básico (PNSB) do ano 2000.Os resultados são apresentados no gráfico abaixo:

Tabela 3: Quantidade de municípios com unidades de compostagem e fluxo de


resíduos recebidos em 2000 e 2020
Ano 2000 2020

Fluxo de resíduos Fluxo de resíduos


Estado (toneladas) Municípios (toneladas) Municípios
AL 6 2 - -
AC - - 326 1
BA 11 2 10 1
DF 522 1 60.645 1
ES 14 1 - 1
MA 27 2 - -
MG 305 33 26.857 37
MT 164 1 - -
MS - - 1.474 1
PA 5 1 - -
44
PB 26 8 1.740 1
PE 43 3 7.756 2
PR 102 9 96.480 5
RJ 333 8 4.147 2
RN 1 1 3.007 2
RS 147 44 32.561 5
SC 96 8 3.171 3
SP 4.735 20 65.284 8
Total 6.535 144 303.458 70
Fonte: SNIS-RS 2020 e PNSB 2000. Elaboração própria

Na comparação entre os anos 2000 e 2020 houve uma redução em mais da


metade das UTCs. “A inviabilidade técnica, econômica e gerencial foi um dos
principais motivos pelo qual a maioria das UTCs foi desativada no Brasil desde a
década de 1980.”(BARREIRA et al., 2009, apud SIQUEIRA e ASSAD, 2015, pág.
250). Apesar da redução na quantidade de UTCs, o fluxo de resíduos recebidos nas
unidades foi 46 vezes maior em 2020. Minas Gerais concentra mais da metade das
unidades de compostagem e “se destaca pelos inúmeros estudos no tema e pelo
suporte técnico oferecido por pesquisadores da Universidade Federal de Viçosa para
implantação de usinas de compostagem, principalmente em cidades de pequeno
porte” (BARREIRA, 2005, pág. 84)
A fim de comparar os municípios que possuem unidades de compostagem
(amostra) com os demais municípios participantes do SNIS-RS 2020 em relação à
existência de política e plano municipal de Saneamento Básico e de Plano de Gestão
de Resíduos Sólidos, foi elaborada a tabela 4.

Tabela 4: Existência de Política e Plano Municipal de Saneamento Básico e de


Plano de Gestão de Resíduos Sólidos
% Sim % Sim
Amostra SNIS
O município possui Política de
Saneamento Básico Conforme a Lei
11.445/2007? 52% 54%
O município possui plano municipal
de saneamento básico, elaborado
nos termos estabelecidos na Lei
11.445/2007? 67% 63%
O Município possui Plano de Gestão
de Resíduos Sólidos conforme a Lei
nº 12.305/2010 que trata da Política
Nacional de Resíduos Sólidos? 57% 40%
Fonte: SNIS-RS 2020. Elaboração própria
45
Embora não existam grandes diferenças entre o percentual de municípios com
Política de Saneamento Básico e plano municipal de Saneamento Básico, observa-se
na amostra um percentual significativamente mais alto de municípios com Plano de
Gestão de Resíduos Sólidos.
Dentre os 69 municípios da amostra, 35 realizam cobrança pelo serviço de
limpeza e manejo de RSU. Dentre os municípios que realizam a cobrança pelos
serviços na amostra, o valor arrecadado cobre, em média, 48% da despesa total. As
formas de cobrança são apresentadas na Tabela 5:

Tabela 5: Formas de cobrança pelos serviços de limpeza e manejo de RSU


Formas de cobrança Municípios
Taxa específica no mesmo boleto do IPTU 29
Taxa específica no mesmo boleto de água 3
Taxa em boleto específico 2
Tarifas 1
Total 35
Fonte: SNIS-RS 2020. Elaboração própria.

Conhecer o operador dos serviços nas unidades de compostagem é o outro


aspecto interessante. Conforme tabela 6, atualmente os serviços são operados
predominantemente pela Prefeitura ou SLU, mas uma parcela é delegada para
empresas privadas e associação de catadores.

Tabela 6: Operadores das unidades de compostagem


Operador Municípios %
Prefeitura ou SLU 43 62%
Empresa privada 18 26%
Associação de catadores 7 10%
Não informado 1 1%
Total 69 100%
Fonte: SNIS-RS 2020. Elaboração própria.

3.5.4 - Dados Levantados a partir das Legislações Municipais


46
Duas prefeituras se destacam pelas metas ambiciosas de aproveitamento de
resíduos orgânicos através da compostagem: Florianópolis-SC e Manaus-AM.
A Prefeitura de Florianópolis instituiu o Programa Florianópolis Lixo Zero com
a meta de “alcançar o desvio de resíduos enviados ao aterro sanitário [...] até o ano
de 2030 [...] de 90% dos resíduos orgânicos” (Decreto 18.646/2018, art. 3º). Para isso,
foi formado um Grupo Interinstitucional, de caráter consultivo, que tem a função de ser
um fórum permanente de discussão e proposição de inovações nas políticas públicas
voltadas para gestão de RSU, auxiliando o poder público na tomada de decisão e
acompanhando a execução dos projetos. O Programa se caracteriza por:

“um conjunto de projetos, ações, atividades e técnicas, métodos e inovações


que objetivam incentivar a sociedade civil, a iniciativa privada e o poder
público a não produção ou redução da geração e/ou ainda, a valorização dos
RSU e sua reintrodução na cadeia produtiva.”(Decreto 18.646/2018, art. 1º, §
1º)

Dez meses após a instituição do Programa, foi criada a Lei 10.501/2019, que
dispõe sobre a obrigatoriedade da reciclagem de resíduos sólidos orgânicos no
município de Florianópolis, com a meta de destinação de 100% dos resíduos
orgânicos para compostagem até 2030.
Manaus (AM) também criou uma legislação específica a fim de instituir o
Programa Municipal de Compostagem de Resíduos Orgânicos, a Lei nº 2.971/2021,
com redação semelhante à lei aprovada em Florianópolis, porém com metas ainda
mais agressivas. Foram incluídas na lei as seguintes metas para desvio dos resíduos
orgânicos de aterros sanitários:

“I - até 31 de dezembro de 2021: vinte e cinco por cento dos resíduos


orgânicos devem ser obrigatoriamente destinados à compostagem;
II - até 31 de dezembro de 2022: cinquenta por cento dos resíduos orgânicos
devem ser obrigatoriamente destinados à compostagem;
III - até 31 de dezembro de cada ano subsequente: deverá aumentar em dez
por cento a meta de destinação obrigatória do resíduo orgânico à
compostagem, alcançando, em 2027, cem por cento.” (MANAUS, 2021, art.
4º)

Ambas as leis incluem a vedação à incineração dos resíduos sólidos orgânicos,


exceto em casos extraordinários, além de diretrizes, das quais destacam-se:
✓ Adoção de estratégias variadas;
✓ Estímulo a iniciativas comunitárias e de cooperativas;
✓ Descentralização no gerenciamento de resíduos sólidos;
47
✓ Incentivo à compostagem doméstica;
✓ Sistema de coleta domiciliar de resíduos orgânicos.
48

4 - Boas Práticas e Lições Aprendidas

Ao longo da pesquisa, foi possível identificar diversas ferramentas capazes de


estimular os municípios a alavancar a prática da compostagem, seja através do
acesso aos recursos financeiros para o manejo dos resíduos, de parcerias com o setor
privado, de doações ou financiamentos para aquisição dos bens de capital, assim
como do compartilhamento de infraestruturas entre municípios. Essas ferramentas,
aliadas com a educação ambiental, estimulam os agentes econômicos e sociais a
aprimorar a qualidade do composto, com a separação dos resíduos pelos geradores.
Além do aumento na quantidade e qualidade do composto, é importante pensar
no envolvimento dos agentes econômicos e sociais e em modelos que possibilitem a
redução da distância entre o gerador o local onde a compostagem e uma participação
ativa da comunidade nesse processo.
Tendo em vista um controle social efetivo sobre a execução da PNRS, é
importante que os municípios se preocupem em declarar informações acuradas
através do SNIS e que o Ministério Público defenda os interesses da sociedade em
relação ao tratamento adequado dos resíduos sólidos orgânicos. Esses temas serão
abordados de forma mais detalhada nos próximos tópicos.

4.1 - Pagamento por serviços ambientais

O pagamento por serviços ambientais (PSA) permite compensar o ônus


financeiro da conservação ou recuperação de ecossistemas. O atendimento a
determinados critérios é necessário para possibilitar a avaliação do benefício gerado
ao ecossistema. No caso dos créditos de carbono, por exemplo, são avaliadas as
toneladas de gás carbônico não emitido para atmosfera ou sequestrado.

O PSA representa uma forte estratégia ambiental e econômica, uma vez que
entra como renda adicional para ressarcir os custos das práticas
conservacionistas que permitem o fornecimento dos serviços ecossistêmicos.
Essa estratégia apresenta uma perspectiva mais otimista de conservação,
uma vez que o provedor do serviço ambiental encontra no pagamento o
estímulo para mudar seu comportamento diante das questões ambientais, e,
assim, garantir o equilíbrio ecológico de suas atividades econômicas (Jardim,
2010 apud Brito e Marques, 2017, pág. 361).
49
A lei complementar nº 63, de 11 de janeiro de 1990, define que 25% do valor
arrecadado com o Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) deve
ser repassado pelo Estado aos Municípios. Da parcela distribuída aos municípios,
75% são distribuídos proporcionalmente, de acordo com o valor adicionado pelo
município nas operações de circulação de mercadorias e serviços realizada em seu
território e os outros 25% são distribuídos de acordo com a determinação da lei
estadual. Cada estado tem liberdade para definir os indicadores e critérios que serão
aplicados para essa distribuição entre os municípios. Brito e Marques (2015) fizeram
um levantamento a partir das legislações estaduais e identificaram que dezesseis
estados faziam uso de critérios ambientais na distribuição do ICMS até 30/06/2015,
conforme Gráfico 7. Dos dezesseis estados citados abaixo, apenas o Ceará, Mato
Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pernambuco, Rio de Janeiro e Tocantins
incluem critérios relacionados ao saneamento ou especificamente à gestão de
resíduos sólidos, sendo que Pernambuco e Rio de Janeiro apresentam pontuação
específica relativa ao percentual destinado à compostagem.

Gráfico 8: Estados com ICMS Ecológico vigente em 30/06/2015

Fonte: Brito e Marques, 2016

No Estado do Rio de Janeiro, a lei 5.100/2007 inclui o critério de conservação


ambiental na repartição do percentual a ser distribuído aos municípios por
determinação de lei estadual e define um percentual de 2,5% para divisão entre os
municípios que pontuarem com a existência de unidades de conservação, com a
qualidade dos recursos hídricos e com a destinação final adequada dos resíduos
50
sólidos. O decreto 46.884/2019 estabelece as definições técnicas para alocação do
ICMS Ecológico. Diversos fatores são avaliados nesses critérios, entre eles, o
percentual destinado à reciclagem através de usinas de triagem e compostagem.

4.2 - Educação Ambiental

A PNRS se articula com a Política Nacional de Educação Ambiental, Lei nº


9.795, de 27 de abril de 1999, que define por educação ambiental:

“os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem


valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências
voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo,
essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.” (Lei no
9.795/1999, art. 1º)

Dado a baixa familiaridade da sociedade em geral com a compostagem, é


importante que o tema seja inserido de forma contínua e interdisciplinar no conteúdo
escolar e que possa ser acompanhado de forma prática pela comunidade escolar,
através de experimentação com recursos didáticos variados. Os meios de
comunicação de massa também podem ajudar a difundir o tema em programas e
campanhas educativas. Os titulares e prestadores de serviço de limpeza urbana e
manejo de resíduos sólidos podem ter um papel importante na orientação aos
usuários, com difusão de informações em web sites, redes sociais e campanhas
presenciais.
O Serviço de Limpeza Urbana do Distrito Federal é um exemplo nesse sentido,
pois faz ações de conscientização periódicas sobre a coleta seletiva, com
reconhecimento para os que separam adequadamente os resíduos recicláveis dos
orgânicos. De acordo com a Agência Brasília (2023), o programa foi lançado em
outubro de 2020 e distribuiu 7.169 cartões. A conscientização começa com visitas
domiciliares realizadas por uma equipe de orientação em residências selecionadas.
Em seguida, os garis avaliam o conteúdo dos sacos de lixo e adesivam as lixeiras e
contêineres com cartões nas cores verde, para quem faz a separação correta dos
recicláveis, amarelo para quem faz a separação, mas eventualmente mistura resíduos
orgânicos e vermelho para os moradores que não separam os recicláveis dos
orgânicos.
51
Figura 2: Cartões produzidos pelo Serviço de Limpeza Urbana do Distrito Federal para
conscientização sobre a separação correta de resíduos orgânicos e recicláveis

Fonte: Agência Brasília, 2023

4.3 - Concessões e PPPs

O Planares tem como uma de suas estratégias o incentivo a parcerias e


concessões ao setor privado no setor de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos.

“Uma das grandes vantagens é que as concessões e PPPs permitem aos


municípios concretizar projetos de grande impacto social, com menor
comprometimento de seu orçamento e contando com expertise qualificada à
medida em que será o parceiro privado o responsável pelo desenvolvimento
do projeto, captação do recurso e operação do sistema.” (ABRELPE, 2020,
pág. 42)

A Lei 14.026 alterou a Lei 13.529/2017 a fim de autorizar a União a participar


de fundo com a finalidade exclusiva de financiar serviços técnicos especializados, com
vistas a apoiar a estruturação e o desenvolvimento de projetos de concessão e
parcerias público-privadas. Dessa forma, foi criado o Fundo de Apoio à Estruturação
de Projetos de Concessão e PPP, administrado pela Caixa Econômica Federal (FEP
CAIXA). Esse fundo financia projetos nas áreas de saneamento básico, iluminação
pública e distribuição de gás canalizado. Os entes públicos interessados podem se
candidatar em plataforma eletrônica para o processo de seleção e, após seleção,
receberão o assessoramento de consultores especializados contratados pelo
52
FEPCAIXA para entender as expectativas do município em relação ao projeto, fazer
um mapeamento das características atuais do serviço e da situação fiscal,
administrativa, financeira e de recursos humanos do município para participar do
projeto. Os entregáveis associados são:

“o estudo e a preparação dos assuntos, procedimentos, documentos e


demais requisitos de engenharia, ambientais, jurídicos e econômico-
financeiros necessários para que o ente público venha a realizar a
contratação de um ente privado para realizar um projeto de concessão ou
PPP10.”

Um levantamento utilizando dados extraídos do Radar de Projetos


(www.radarapp.com) em 31 de dezembro de 2020 identificou 49 contratos de PPP e
concessões em resíduos sólidos no Brasil. Dentre os contratos assinados, foram
mapeados 2 contratos que, no seu escopo resumido, incluem unidade ou usina de
triagem e compostagem, conforme tabela abaixo.

Tabela 7: Contratos de PPP vigentes em 2020 com unidade de compostagem

10https://fundosdegoverno.caixa.gov.br/sicfg/fundos/FEP%20CAIXA/detalhe/sobre/
53
Concedente Escopo Resumido Ano de
assinatura
2014
ECOTRES – MG Concessão para operação, manutenção e
(Conselheiro Lafaiete, ampliação do aterro sanitário, usina de
Barbacena, triagem e compostagem; implantação,
Congonhas e Ouro manutenção e operação de unidade de
Branco) tratamento de resíduos de serviços de
saúde e de sistema de queima de biogás.

Paulista - PE 2013
PPP para serviços de coleta e destinação
final de resíduos sólidos, remediação e
encerramento do aterro controlado
municipal, implantação e operação de
estação de transbordo, de unidade de
beneficiamento de resíduos da construção
civil, de unidade de compostagem de
resíduos sólidos, bem como implantação e
operação de estação de tratamento de
efluentes.

Fonte: ABRELPE, 2020

4.4 - Investimento de Agentes Federais

O investimento de Agentes Federais inclui recursos do Orçamento Geral da


União e recursos de outras origens, gerenciados pelos agentes financeiros e de
fomento do Governo Federal, como o FGTS. De acordo com o Relatório de Avaliação
do PLANSAB 2020, a necessidade de investimentos por agentes federais na área de
resíduos sólidos para o período 2019 a 2023 é da ordem de 2,29 bilhões de reais. O
valor desembolsado no período de 2019 – 2020 foi aproximadamente 173 milhões de
reais, ou seja, 7,6% do previsto até 2023. Se o ritmo dos investimentos permanecer
constante, temos uma baixa probabilidade de atingir as metas do Planares. Sendo
assim, é importante que as metas de investimento sejam revisadas de forma a
compensar o déficit de investimentos no setor.
54
Também é possível captar recursos internacionais, como doações, venda de
créditos de carbono e financiamentos. Um exemplo nesse sentido foi uma parceria
com o Banco Mundial para gerenciamento integrado de resíduos sólidos e crédito de
carbono. O empréstimo foi aplicado na infraestrutura da Central de Tratamento de
Resíduos de Santa Rosa, em Seropédica, quando houve o encerramento dos lixões
de Itaguaí, Jardim Gramacho e Seropédica. Um dos objetivos do projeto era melhorar
as práticas no gerenciamento municipal de resíduos sólidos, objetivo que o Banco
Central considera que foi negligenciado por falta de interesse dos municípios e
ausência de suporte da CAIXA (WORLD BANK, 2018).

4.5 - Separação de resíduos recicláveis orgânicos na origem

As usinas ou unidades de triagem e compostagem (UTC) são centrais onde


geralmente os RSU são recebidos de forma indiferenciada, passam por uma esteira
de triagem na qual os materiais orgânicos recicláveis são separados dos inertes
recicláveis e dos rejeitos. Os rejeitos são destinados para aterros sanitários, enquanto
os recicláveis inertes são encaminhados para reciclagem e os resíduos orgânicos são
encaminhados para o pátio de compostagem.
Siqueira e Assad (2015) observaram que a coleta indiferenciada complexifica
o processo de compostagem e gera um composto de baixa qualidade, desestimulando
sua procura.

“a simplificação da forma de coleta, ou seja, coletar resíduos orgânicos e


inertes juntos, aumenta a complexidade do tratamento. A prestação de
serviços pela prefeitura ou por empresas terceirizadas, com coletas
convencionais, exime a população da responsabilidade de mudar hábitos e
concentra o trabalho da valorização dos resíduos em uma única central.
Muitas vezes os problemas nestas unidades alcançam dimensões tão difíceis
de serem administradas e revertidas, que culminam no fechamento da usina
ou na transformação do seu espaço em lixão.” (SIQUEIRA e ASSAD, 2015,
pág. 250)

Segundo Reis et al. (2000, apud SANTOS 2014), a separação dos RSU no
momento da geração é fundamental para o sucesso do tratamento dos resíduos
sólidos urbanos. A separação correta dos resíduos orgânicos é essencial para garantir
que seja gerado um composto de boa qualidade. De acordo com o artigo 9º da
Resolução CONAMA nº 481, de 3 de outubro 2017, os resíduos orgânicos originários
dos resíduos sólidos urbanos destinados ao processo de compostagem devem,
55
preferencialmente, ser originados de segregação na origem em, no mínimo, três
frações:
1) resíduos orgânicos;
2) resíduos recicláveis;
3) rejeitos.
No Estado do Rio de Janeiro, a Resolução CONEMA 55/2013 estabeleceu um
procedimento para diferenciação de cores para cada fração desses resíduos, o qual
deve ser usado na identificação de coletores e veículos transportadores, conforme
tabela abaixo:

Tabela 8: Padrão de cores para três fluxos, quando da existência de sistema de


compostagem
Tipo de resíduo Cor Especificação da cor
Resíduos recicláveis Azul CMYK: C=100 M=50 Y=0 K=50
RGB: R=0 G=64 B=113
Pantone: 2955C
Resíduos Orgânicos Compostáveis Marrom CMYK: C=0 M=60 Y=100 K=80
RGB: R=87 G=39 B=0
Pantone: 4625C
Rejeitos Cinza CMYK: C=0 M=0 Y=0 K=60
RGB: R=128 G=130 B=133
Pantone: 877C
Fonte: Resolução CONEMA nº 55, de 13/12/2013

Além de valorizar mais a parcela orgânica, a separação adequada pelo gerador


tem os benefícios de reduzir a parcela dos resíduos destinada a aterros, diminuir a
contaminação dos resíduos recicláveis secos, tornando a sua separação mais
higiênica e, consequentemente, melhorando a condição de trabalho dos catadores. A
separação manual expõe os trabalhadores a microorganismos e produtos tóxicos que
podem ser aspirados ou entrar em contato com a pele, causando problemas
“gastrintestinais, irritação da pele, dos olhos e das mucosas do nariz e das vias áreas
superiores, além de doenças pulmonares ocupacionais severas, provocados pelas
exposições a grandes quantidades de bactérias e de esporos de fungos” (VIMIEIRO,
PEREIRA e LANGE, 2009, pág. 101).
Stentiford e Sánchez-Monedero (2016) citam que não é incomum, em
visitações a fazendas que utilizaram o “composto” misturado com material inerte, ter
56
que utilizar óculos de sol para evitar incômodo ocular com o brilho provocado por
vidros que ficam na superfície do solo após a decomposição da matéria orgânica,
ressaltando a importância da separação dos resíduos na origem.
Dentre as experiências de práticas de coleta diferenciada para resíduos
orgânicos, a Prefeitura de Florianópolis é um modelo. A coleta porta a porta é realizada
em alguns bairros, destinada a condomínios e estabelecimentos que utilizem o
contentor de modelo europeu na cor marrom11. Além da coleta de porta a porta, alguns
bairros possuem Pontos de Entrega Voluntária (PEVs) com bombonas para
armazenamento de orgânicos.
A Prefeitura de São Paulo também realiza um projeto chamado Feiras e Jardins
Sustentáveis, onde os resíduos são separados nas fontes geradoras e são destinados
aos pátios de compostagem através de coleta seletiva de forma descentralizada. O
projeto conta com cinco pátios de compostagem localizados em área urbana, cada
um com capacidade para processamento de três mil toneladas/ano.

“as equipes de educação ambiental das empresas de varrição [...] orientam


os feirantes a participarem do projeto e deixarem os restos de frutas, verduras
e legumes que iriam para o lixo, dispostos em sacos da Prefeitura. Ao final
da feira, os agentes de limpeza passam para recolher esse material e os
encaminham para os pátios de compostagem da cidade.
Chegando no pátio, esses resíduos são misturados com restos de
poda de árvore picada e palha. Após isso, são dispostos em leiras
(canteiros) onde acontece o processo de compostagem,” (São Paulo, 2021)

4.6 - Estímulo a modelos descentralizados

Em um país com realidades locais tão diversas, não faz sentido pensar em uma
solução única e indistinta para tratar o problema dos resíduos sólidos. Embora as
usinas de triagem e compostagem tenham capacidade para processar grandes
volumes, essa solução envolve um maior gasto de combustível para seu transporte
em comparação com modelos descentralizados e tem um potencial educativo menor
para a população.

“os municípios brasileiros têm tido, de maneira geral, dificuldades em explorar


este potencial como política pública. A maior parte das iniciativas municipais
em compostagem no Brasil restringem-se a pátios centralizados, que
recebem resíduos de coleta mista (resíduos orgânicos misturados com
rejeitos) ou de apenas alguns grandes geradores de resíduos orgânicos.”
(BRASIL, 2017, pag.5)

11http://www.pmf.sc.gov.br/noticias/index.php?pagina=notpagina&noti=25058
57

Conforme classificação realizada pelo “Grupo Pró-Viabilização da


Compostagem na Cidade de São Paulo”, foram identificados quatro tipos de
experiências descentralizadas:
• compostagem doméstica: realizada dentro das residências com os
resíduos gerados pelos moradores, geralmente utilizando o composto
nas hortas e jardins do próprio domicílio. Para estimular a adoção dessa
prática, é possível realizar programas de capacitação ou projetos de
instalação de composteiras domésticas;
• compostagem comunitária: realizada em bairros, vilas ou condomínios e
o composto é revertido para os moradores da região ou instituições
locais;
• compostagem institucional: realizada em órgãos públicos, empresas
privadas, e instituições de ensino e educação;
• pátios de compostagem urbana.
A Prefeitura de Florianópolis inovou a prática de compostagem ao remunerar
quatro organizações que realizam a compostagem de forma descentralizada em
diferentes pontos da cidade. Após a assinatura das ordens de serviço para
processamento de 70 toneladas de resíduos orgânicos por mês, o secretário de meio
ambiente sinalizou a intenção de dobrar essa quantidade em novos pátios de
compostagem.

“Essas organizações recebem R$ 156,81 por tonelada recuperada, valor que


corresponde ao que a cidade deixa de gastar com transporte e aterramento
de rejeito, mais remuneração pelo serviço de responsável técnico para
acompanhamento, operação, licenciamento e elaboração de relatórios de
pátio de compostagem.” (Florianópolis, 2022)

4.7 - Gerenciamento adequado das usinas de compostagem

A forma como as usinas de compostagem são gerenciadas afeta o meio


ambiente, as populações do entorno e a qualidade do composto. A ausência de um
sistema de drenagem com reservatório para o chorume ou lagoas de estabilização,
pode causar o desperdício de biofertilizante e contaminação do solo e das águas
subterrâneas e dos rios. A falta de cobertura adequada nas leiras pode atrair vetores
e causar problemas de saúde pública. O excesso de umidade, a compactação da leira
e falta de aeração causam o aparecimento de larvas e geram odores ofensivos que
58
causam incômodo à vizinhança. Barreiras arborizadas no entorno das unidades de
compostagem funcionam como um cordão de isolamento acústico, visual e de odores,
além de gerar biomassa que pode ser utilizada nas leiras. Todos esses fatores
influenciam na forma como a população percebe as unidades de compostagem e
aceita ou rejeita sua presença.
Em São Paulo, havia uma Usina de Compostagem na Vila Leopoldina, que
“devido aos problemas de poluição, causados por odores e disposição inadequada do
lixo proveniente de residências e feiras, foi objeto de mais de 550 reclamações da
população vizinha e 25 autuações da CETESB” (SÃO PAULO, 2004). A usina teve
suas atividades encerradas em setembro de 2004 e os resíduos que eram
encaminhadas para tratamento por compostagem passaram a ser dispostos em
aterro.
Do ponto de vista agrícola, também são necessários cuidados com a qualidade
do composto, para que “contenha quantidades mínimas de componentes fitóxicos e
contaminantes, e seja livre de patógenos de plantas e animais” (BARREIRA, 2005,
pág. 44 e 45). Essas quantidades são determinadas pela legislação brasileira e
também devem atender às expectativas dos agricultores para que tenham valor de
mercado. Um composto muito úmido, com partículas grossas, com inertes como vidro,
plástico ou cerâmica, com odores desagradáveis, com resíduos que receberam
tratamentos com produtos químicos tóxicos ou não maturados pode propagar
microorganismos patogênicos, causar toxicidade para as plantas, contaminar o solo e
perder seu valor comercial. Dessa forma, é muito importante um controle eficiente na
triagem dos resíduos para eliminação de inertes e também controle sobre a
temperatura para eliminação de patógenos. Análises laboratoriais são essenciais para
monitorar se o composto atende as determinações da legislação e as expectativas
dos agricultores. Contudo, é importante diferenciar padrões de qualidade aplicáveis à
agricultura e horticultura dos padrões aceitos para condicionamento do solo e para
jardinagem.

4.8 - Participação Social na Definição da Destinação do Composto

O composto orgânico tem diversas aplicações, podendo ser usado na melhoria


de parques e jardins municipais, doado para particulares ou vendido ou outras
aplicações que sejam de interesse local. É importante haver um critério claro em
59
relação à destinação do composto, quando o titular dos serviços públicos de limpeza
urbana e manejo de resíduos sólidos realiza o tratamento dos resíduos orgânicos por
compostagem. A PNRS incentiva que haja articulação com os agentes econômicos e
sociais para decidir as formas de utilização do composto produzido.
O Distrito Federal (DF) conta com a maior UTC da América Latina, produzindo
20 mil toneladas de Composto Orgânico por mês no ano 202012, que são vendidas
para os interessados ou doadas para produtores rurais e instituições do Distrito
Federal e da Região Integrada de Desenvolvimento do DF e Entorno (RIDE). Os
critérios de valores máximos são claramente definidos no site do serviço de limpeza
urbana13, conforme detalhado abaixo, porém não foi possível identificar se houve
articulação com os agentes econômicos e sociais.
• 2.000 toneladas/ano são vendidas para produtores que não se encaixam
nos critérios de gratuidade;
• 500 toneladas/ano são vendidas para as prefeituras dos Municípios que
compõem a RIDE, quaisquer pessoas, produtores rurais, órgãos ou
entidades privadas de outros Estados da Federação;
• 800 toneladas/ano são doadas a entidades que possuem Declaração
Jurídica de aptidão ao PRONAF/DAP e aos órgãos e empresas públicas
da União e do Distrito Federal, com demanda comprovada por
recomendação técnica;
• 90 toneladas/ano são doadas para os produtores rurais. Para ter acesso,
o produtor deve apresentar uma recomendação técnica da EMATER;
• 50 toneladas/ano são doadas a associações ou instituições que
comprovem caráter de filantropia através do seu estatuto social;
• O restante da produção é vendido para os demais interessados.

4.9 - Uso Compartilhado de Infraestrutura entre Municípios

A PNRS incentiva a avaliação de soluções consorciadas ou compartilhadas


entre municípios. De acordo com o SNIS-2020, 1.404 participam de consórcios
intermunicipais para gestão de resíduos sólidos, ou seja, um quarto dos municípios
brasileiros.

12https://www.slu.df.gov.br/usina-de-compostagem-do-p-sul-comemora-35-anos/
13https://www.slu.df.gov.br/compostagem/
60
A aquisição de veículos específicos para coleta de resíduos orgânicos ou multi-
caçamba pode aumentar significativamente o custo inicial para implementação da
coleta seletiva e pode gerar subutilização do equipamento, especialmente em
municípios pequenos. Com isso, é possível estabelecer rotas de coleta envolvendo
mais de um município com a utilização do mesmo caminhão, reduzindo o investimento
de capital necessário para dar início à coleta seletiva. Analogamente, municípios
consorciados também teriam a possibilidade de compartilhar pátios para
compostagem, estações de transbordo, equipamentos e equipe técnica.

“cerca de 70% dos municípios brasileiros têm menos de 20 mil habitantes,


porte que inviabiliza a sustentabilidade de alguns serviços. Ademais, os
municípios de menor porte historicamente enfrentam dificuldades com a
insuficiente capacidade técnica, institucional e financeira para uma gestão
eficiente da limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos urbanos.”
(GIEGRICH, 2021, pág. 6-7)

Ressalte-se que os consórcios intermunicipais têm prioridade no acesso ao


investimento de agentes federais, o que possibilita acesso mais rápido aos recursos
necessários para aquisição dos bens de capital, tanto a fundo perdido quanto em
forma de empréstimos.

“o consorciamento intermunicipal pode possibilitar aos municípios atender à


demanda pela oferta de serviços públicos com economias de escala (um
maior volume de serviços públicos a um custo minimamente razoável) e
economias de escopo (ampliando e diversificando a oferta de serviços
públicos) e qualidade superior às ofertadas de forma individual por cada
município.” (Trindade e Piovezava, 2017, pág. 2)

Em Santa Catarina, o Consórcio Intermunicipal do Vale do Itajaí (CIMVI),


formado por 14 municípios, deve receber repasses na ordem de R$ 7 milhões além
de 14 milhões de investimentos da iniciativa privada14. Os recursos serão aplicados
em um parque que conta com biodigestores, que transformam resíduos orgânicos em
energia elétrica, além de realizar a compostagem do lodo proveniente da biodigestão
e transformar plásticos e tecidos em termoplásticos que serão reaproveitados pelas
prefeituras.

4.10 - Qualidade e Disponibilidade das Informações Históricas

14https://www.sde.sc.gov.br/index.php/noticias/3371-iniciativa-transforma-residuos-em-energia-eletrica-

compostagem-e-produtos-termoplasticos
61

O SNIS é um importante instrumento para produção de conhecimento e


transparência das ações sobre o saneamento básico no Brasil, com acesso público e
gratuito. “O SNIS consolida informações institucionais, administrativas, operacionais,
gerenciais, econômico-financeiras, contábeis e da qualidade da prestação de serviços
de saneamento básico” (BRASIL, 2021, pág. 15) Ele foi criado em 1994 para
disponibilização de informações dos serviços de água e esgoto e, desde 2002, passou
a contar também com dados sobre o manejo de resíduos sólidos. Essas informações
são essenciais para formulação de políticas públicas e para planejamento e gestão do
setor de RSU.
Além das séries históricas, em de 2021 (ano de referência 2020) a Secretaria
Nacional de Saneamento produziu um diagnóstico com a visão geral do manejo de
resíduos sólidos e, em 2022, produziu outros três cadernos temáticos sobre a gestão
administrativa e financeira, sobre a gestão técnica dos serviços e sobre a
infraestrutura. O Painel de Indicadores é outro recurso especialmente interessante por
apresentar os dados de forma consolidada, tornando mais simples a leitura das
informações pelos diversos públicos. Apesar de ser bastante didático, esse painel
ainda não apresenta dados sobre a destinação de resíduos para compostagem. Seria
interessante que fossem incluídos mais dados sobre a recuperação de resíduos
orgânicos, como a quantidade de unidades de tratamento, o volume destinado a essas
unidades e o volume de composto produzido.
Em relação aos dados que formam a base histórica, o preenchimento dessas
informações pelos municípios ocorre de forma voluntária. Dos 5.570 municípios que
existiam no Brasil em 2020, 4.589 participaram da coleta de dados referente a RSU.
Esse total de participantes representa um aumento de 23,6% em relação ao total de
respondentes do ano anterior.

“As informações do SNIS são fornecidas pelos prestadores de serviços de


saneamento básico de forma voluntária e a adimplência no sistema permite
que recursos sejam acessados pelos municípios, uma vez que os programas
de investimentos do MDR exigem o envio regular dos dados ao SNIS como
critério de seleção, de hierarquização e de liberação de recursos financeiros
para cada tipo de serviço prestado.”

Dada a relevância dessas informações para o planejamento do setor e para a


transparência dos titulares do serviço junto à sociedade, o governo federal poderia
62
incluir mecanismos legais para tornar o preenchimento de todos os municípios
obrigatório.
Em relação à qualidade no preenchimento das informações, temos alguns
exemplos negativos a destacar no SNIS-RS 2020. Quatro municípios informaram
possuir unidades de compostagem ativas, mas não reportam nenhum fluxo de
resíduos para essas unidades. Outro exemplo é o da Prefeitura de Manaus que,
apesar de informar em seu site15 que implantou o serviço de compostagem em 2005
e inaugurou uma nova usina em 2020, não reporta informação sobre fluxo de resíduos
para unidade de compostagem no SNIS. Adicionalmente, observamos 42% dos
municípios que reportaram que seu Plano de Gestão de Resíduos Sólidos é
intermunicipal, não informaram os demais municípios abrangidos pelo plano. A falta
de segregação das informações de fluxo para a usina de compostagem e o
preenchimento incompleto compromete a qualidade dos dados reportados ao SNIS e
o controle social adequado.

4.11 - Intervenção do Ministério Público

O Ministério Público, também chamado de Procuradoria-Geral, tem como um


de seus papeis a defesa dos interesses fundamentais da sociedade. Tendo em
consideração que a defesa do meio ambiente é um direito difuso, que envolve tanto
as gerações atuais quanto as gerações futuras, o Ministério Público pode ter um papel
central na promoção do desenvolvimento sustentável. Conforme art. 129, inciso 3 da
Constituição Federal de 1988, é função do Ministério Público: “promover o inquérito
civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio
ambiente e de outros interesses difusos e coletivos”.
Nesse sentido, o Ministério Público de Santa Catarina, criou o Programa Lixo
Nosso de Cada Dia, que foi lançado no ano de 2001 com foco no encerramento de
lixões a céu aberto e recuperação das áreas degradadas pela disposição irregular de
resíduos. Atualmente, o programa acompanha “a qualidade dos aterros sanitários em
operação no Estado e, [...]estão sendo desenvolvidas ações para a implementação
dos Planos Municipais de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos16”.

15https://www.manaus.am.gov.br/noticias/limpeza/aterro-usina-compostagem/
16https://www.mpsc.mp.br/programas/lixo-nosso-de-cada-dia
63
O Ministério Público de Santa Catarina também atuou, no período da licitação
para contratação da empresa responsável pela coleta e destinação de resíduos
sólidos no município de Xaxim17, recomendando a inclusão expressa no certame para
que a empresa ganhadora implantasse sistema de compostagem no aterro sanitário.
A recomendação foi acatada pela Prefeitura de Xaxim, que publicou um edital
retificado.
A atuação do Ministério Público em articulação com outros órgãos públicos e
com a sociedade civil tem grande potencial para acelerar o cumprimento da PNRS
pelos municípios. Essa atuação pode acontecer através de programas educativos,
termos de ajuste de conduta, diálogo com gestores municipais, capacitação técnica
de servidores ou, caso as práticas de resolução de conflitos consensual sejam
frustradas, até mesmo pela responsabilização administrativa, civil ou criminal.

17https://www.mpsc.mp.br/noticias/apos-recomendacao-do-mpsc-xaxim-tera-compostagem-do-lixo-organico-

coletado
64
5 - CONCLUSÃO

As recentes atualizações na PNRS criaram meios para que os municípios


avancem em direção à universalização do acesso e efetiva prestação do serviço de
manejo de resíduos sólidos. A compostagem é uma solução eficaz para tratamento
dos resíduos orgânicos prevista na PNRS, mas ainda não tem sido priorizada pela
maioria dos municípios brasileiros.
Um dos avanços da PNRS está relacionado à cobrança dos usuários para
sustentabilidade econômico-financeira dos serviços, mecanismo que foi
implementado por apenas 40% dos municípios. Mesmo entre os municípios que
realizam a cobrança, a receita cobre, em média, 56% das despesas totais. Para que
se consolidem os avanços previstos no Planares em relação à destinação
ambientalmente adequada, é urgência que os municípios implementem a cobrança
ou, aqueles que já implementaram, revisem as taxas tendo em conta os investimentos
necessários e os custos operacionais.
Outras formas de ampliar a capacidade técnica, institucional e financeira para
uma gestão eficiente dos serviços são a regionalização em municípios limítrofes e as
concessões ou PPP. Os municípios que constituem consórcios intermunicipais são
beneficiados com prioridade no acesso aos investimentos federais, além de poderem
compartilhar infraestrutura e pessoal, gerando ganhos de escala. No SNIS 2020, 25%
dos municípios declararam participar de consórcios intermunicipais. Quando o titular
dos serviços formaliza contratos de concessão ou PPP, o setor privado fica
responsável pelos investimentos e pela operação do sistema, enquanto o setor público
fiscaliza os serviços prestados. Em função da complexidade envolvida na elaboração
de projetos desse tipo, a Caixa Econômica Federal oferece consultoria para apoiar
municípios que tenham interesse em realizar concessões e PPPs.
Para que esses avanços se consolidem, a população tem um papel chave de
exercer o controle social, acompanhando as ações do governo e demandando que os
investimentos previstos no Planares sejam efetivados. Para que essa participação
popular se fortaleça e tenha capacidade de direcionar ações para aumentar o
tratamento dos resíduos orgânicos, é preciso que a educação ambiental seja mais
difundida, gerando consciência sobre os problemas ambientais que o atual modo de
consumo e descarte está gerando e, consequentemente, um desejo de participação
na mudança desse padrão. Levando em conta a importância da separação dos
resíduos pelos geradores para produção de um composto de boa qualidade, a
65
educação ambiental tem um papel central para que a construção de unidades de
compostagem cumpra seu objetivo de melhorar o meio ambiente, transformando o
que antes seria considerado lixo em solos férteis e abundantes.
66
6 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Report 123798. Washington, DC: World Bank. 2018.
70
ANEXO 1 - FORMULÁRIOS DE PESQUISA

Formulário 1 – Prefeituras

1) Qual é o nome do responsável pelo preenchimento desse formulário?

2) Qual é o cargo do responsável pelo preenchimento desse formulário?

3) As respostas desse formulário são relativas a qual(is) município(s)?

4) O respondente autoriza citar respostas desse formulário de forma desagregada


e que permitam identificar o município?
( ) Sim ( ) Não

5) Existe alguma iniciativa no município que visa destinar resíduos orgânicos


compostáveis para compostagem?
( ) Sim ( ) Não

6) O município possui estação de compostagem ativa?


( ) Sim ( ) Não

7) Existe coleta seletiva de resíduos orgânicos compostáveis no município?


( ) Sim ( ) Não

8) A destinação dos resíduos orgânicos para compostagem é realizada: Selecione


todas as opções aplicáveis.
o Pela própria Prefeitura
o Pela empresa contratada para coleta de resíduos sólidos em geral
o Por empresa especializada contratada para reciclagem de resíduos
orgânicos
o Pela população
o Pela indústria ou comércio
o Outros (detalhar na última questão da pesquisa)

9) A estação de compostagem recebe resíduos das seguintes fontes:


Selecione todas as opções aplicáveis.
o Estabelecimentos comerciais
o Restos de poda e jardinagem
o Domícilios
o Órgãos públicos
o Outros (detalhar na última questão da pesquisa)

10) Qual é o destino do composto produzido na estação de compostagem?


Selecione todas as opções aplicáveis.
o Parques e jardins municipais
o Agricultura
o Comércio varejista
o Outros (detalhar na última questão da pesquisa)
71
11) Como é realizada a comunicação sobre a coleta seletiva de resíduos orgânicos
compostáveis?
Selecione todas as opções aplicáveis.
o Folhetos ou cartazes
o Conteúdo fixo no site da Prefeitura
o Publicações esporádicas no site e/ou redes sociais da Prefeitura
o Campanhas presenciais com os geradores que podem destinar seus
resíduos às estações de compostagem
o Não existe comunicação institucional sobre coleta seletiva de resíduos
orgânicos
o Outros (detalhar na última questão da pesquisa)

12) Qual foi o ano do último levantamento sobre destinação de resíduos sólidos
realizado no município?

13) Quantas toneladas de resíduos orgânicos compostáveis foram destinados para


a compostagem no ano do útimo levantamento realizado?

14) Qual foi o total de resíduos gerados no ano do último levantamento realizado?

15) O município cobra taxas/tarifas dos usuários para recuperação dos custos
relativos ao manejo de resíduos sólidos?
( ) Sim ( ) Não ( ) Não sei

16) O município pontua com compostagem para o ICMS Ecológico?

17) Seção aberta para adicionar informações e, caso tenha marcado a opção
outros em alguma resposta, detalhar como é feito.

Formulário 2 – Empresas de Compostagem

1) Qual é o nome do responsável pelo preenchimento desse formulário?

2) Qual é o cargo do responsável pelo preenchimento desse formulário?

3) As respostas desse formulário são relativas a qual empresa?

4) O respondente autoriza citar respostas desse formulário de forma desagregada


e que permitam identificar a empresa?
( ) Sim ( ) Não

5) Possui alguma parceria, patrocínio ou recebe pagamento pelo serviço?


Selecione todas as opções aplicáveis.
o Sim, recebo repasses de verbas públicas
o Sim, recebo patrocínio de empresas
o Sim, recebo pagamento de empresas
o Sim, recebo pagamento de pessoas físicas
o Sim, tenho parceria ou sou patrocinado por outros (detalhar na última
questão da pesquisa)
o Não
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6) Reporta dados sobre o volume de resíduos coletados para algum órgão


público?
( ) Sim ( ) Não

7) Existe coleta seletiva de resíduos orgânicos compostáveis no município?


( ) Sim ( ) Não

8) Caso tenha marcado Sim na questão anterior, para qual órgão público os dados
são reportados?

9) Como é feito o transporte de resíduos do gerador até a estação de


compostagem?
Selecione todas as opções aplicáveis.
o O gerador entrega nos pontos de coleta
o Coleta em domicílio realizada pela empresa responsável pela estação
de compostagem
o Coleta em domicílio realizada pela empresa de limpeza urbana
o Outros (detalhar na última questão da pesquisa)

10) Qual é a destinação do composto?


Selecione todas as opções aplicáveis.
o Parques e jardins municipais
o Agricultura
o Comércio varejista
o Retorno ao gerador
o Outros (detalhar na última questão da pesquisa)

11) Quantas toneladas de resíduos orgânicos foram destinadas para tratamento no


último ano?

12) Quantas toneladas de composto foram geradas no último ano?

13) Qual é total de domicílios ou empresas atendidos atualmente?

14) Qual é o total de funcionários trabalhando na empresa?

15) Quantas estações de compostagem são administradas pela empresa?

16) Quais são os bairros de atuação?

17) Seção aberta para adicionar informações e, caso tenha marcado a opção
outros em alguma resposta, detalhar como é feito.
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ANEXO 2 – Gráfico 3 Ampliado

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