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VI ENCONTRO NACIONAL DE ÁGUAS URBANAS

CREA-MG – Belo Horizonte, 18 a 20 de maio de 2005

DIRETRIZES PARA O ESTABELECIMENTO DE LOTEAMENTOS


URBANOS SUSTENTÁVEIS
Christopher Freire Souza
Carlos Eduardo Morelli Tucci
César Augusto Pompêo

IPH/UFRGS - cfsouza@ppgiph.ufrgs.br, tucci@iph.ufrgs.br


UFSC - pompeo@ens.ufsc.br

RESUMO:

O desenvolvimento urbano tem alterado o ciclo hidrológico com aumento do


escoamento e impacto sobre o ambiente e a população. Inicialmente a “solução técnica”
era ampliar capacidade hidráulica do sistema de drenagem, concepção que apenas
agravou o problema. Uma abordagem posterior procurou corrigir estes “erros” com a
introdução do amortecimento, por intermédio das medidas compensatórias. No entanto,
para novos desenvolvimentos é necessário buscar soluções sustentáveis que recuperem
as funções do ciclo hidrológico, como a infiltração e os caminhos naturais de fluxo, sem
aumento de energia. Embora sejam notáveis os esforços empreendidos para que o
conceito de bacia hidrográfica seja incorporado ao planejamento urbano em suas
dimensões múltiplas, os princípios que devem orientar a concepção e projeto, por parte
do proponente, ou a análise e aprovação, por parte do Poder Público, não são evidentes
na escala do empreendimento imobiliário urbano. Este artigo discute uma metodologia
que incorpora a drenagem no planejamento de loteamentos urbanos, visando a
sustentabilidade, apresentando: (a) como novos desenvolvimentos podem incorporar a
sustentabilidade sobre o ciclo hidrológico para o escoamento pluvial; (b) avaliação do
funcionamento deste tipo de enfoque dentro da realidade de loteamentos urbanos. Além
do desempenho, os resultados da aplicação indicam redução no custo do
empreendimento.

Palavras-chave: drenagem urbana; sustentabilidade; low impact development

INTRODUÇÃO

O que vamos deixar para nossos descendentes? Nesta pergunta está implícita a
preocupação com a sustentabilidade.
No contexto da gestão dos serviços de infra-estrutura urbana, esta questão pode ser a
tratada pela via da integração do saneamento ao ambiente urbano em bases
ecossistêmicas, não apenas funcionalistas.
O tema adquire mais relevo ao considerarmos dois aspectos: (a) a maior parcela da
população humana vem se concentrando nas cidades e, (b) a formação de uma cidadania
ambiental, capaz de fazer incorporar à agenda política as respostas à questão acima
formulada, demanda recursos e instrumentos presentes no cotidiano das pessoas e
dotados de fortes poderes reflexivo e pedagógico.
Embora as referências ao saneamento impliquem dimensões diversas, no presente
trabalho estaremos nos limitando à questão do escoamento das águas de chuva, a
drenagem urbana, reconhecendo todavia, suas intrínsecas relações com as demais
dimensões, e destas com a qualidade de vida.
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Diante da discussão que o tema suscita, o foco deste artigo volta-se à busca de diretrizes
para orientar o estabelecimento de loteamentos urbanos no que concerne ao
escoamento de águas de chuva, sob um prisma de sustentabilidade. A discussão é
oportuna, tendo em vista o incipiente ordenamento legal urbano brasileiro, uma vez que
a maioria de seus municípios ainda não possui Plano Diretor. O Estatuto da Cidade
estabelece o ano de 2006 como limite para elaboração/ revisão dos Planos Diretores dos
municípios, simultaneamente, ao início da implantação da segunda fase da Agenda 21
do Brasil, incluindo elaboração e implementação da Agenda 21 local.

REFERENCIAL TEÓRICO

Sustentabilidade é um termo de inúmeras acepções numa amplitude de interpretações


que podem ser conflituosas. Na edição 2005/2006 do concurso da Caixa Econômica
Federal (2005), Melhores Práticas em Gestão Local, um dos critérios de seleção é a
sustentabilidade, a partir da “constatação de que a prática contribuiu significativamente
para o correto uso, de forma eficiente e eficaz, dos recursos econômicos, sociais e
ambientais disponíveis e de que há garantias formais para sua continuidade no tempo,
além da evidência de sua replicabilidade.”
No desenvolvimento analítico do presente trabalho, o conceito de sustentabilidade será
considerado a partir de quatro metas de projeto propostas por Alshuwaikhat & Nkwenti
(2002):
• A formulação de uma política de planejamento que possa ser continuada e
avaliada pelas futuras gerações de planejadores, administradores e cidadãos;
• A criação de uma estrutura socioeconômica viável, capaz de garantir equidade e
reduzir externalidades;
• A criação de uma estrutura sociocultural para conservar o legado e a cultura de
uma dada comunidade;
• O estabelecimento de uma infra-estrutura viável para restringir o impacto
ambiental negativo e encorajar o uso eficiente dos recursos.
Um detalhamento para a última meta é apresentado por Van Bohemen (2002) ao
destacar a importância de um equilíbrio entre sustentabilidade tecnológica e ecológica.
A primeira trata cada problema sob o ponto de vista do mercado, a outra opera junto à
natureza, integrando o homem aos padrões e processos naturais e cíclicos. Para tanto,
faz-se necessária uma estratégia capaz de valorizar as relações entre cultura, natureza e
projeto sob a forma de uma nova estética. Esta estratégia assenta-se em quatro
princípios:
1. Exibir e evidenciar claramente os conceitos pertinentes à obra física construída;
2. Permitir que processos naturais sejam visíveis e compreensíveis;
3. Expor sistemas e processos que estiveram previamente ocultos;
4. Enfatizar nossa conexão com a natureza.
Entendemos que são exatamente estes princípios que auxiliam a construção da
cidadania ambiental anteriormente mencionada, por serem dotados de forte sentido
pedagógico.
Por outro lado, o autor citado, em consonância com Niemczynowicz (1993), avança ao
sugerir que a relação entre técnica e ecologia, ou engenharia ecológica em sentido
amplo, deve considerar aspectos como:
• Os problemas devem ser tratados na origem, de acordo com o princípio da
prevenção, mitigação, compensação;
• A energia solar e outras fontes naturais devem ser privilegiadas;
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• Processos e sistemas com características multifuncionais e incorporados aos


sistemas naturais são capazes de limitar riscos e efeitos ambientais adversos;
• As soluções descentralizadas são preferíveis por facilitar o acesso dos
envolvidos ao planejamento e desenvolvimento;
• O uso de sistemas de reciclagem introduz os “rejeitos” em outros ciclos, como
no reaproveitamento;
• Incorporação no contexto social/cultural por intermédio do qual os princípios
ecológicos são igualmente considerados aos requisitos sociais e técnicos;
• Menor deslocamento dos problemas no tempo ou no espaço.
Niemczynowicz (1999) propõe ainda:
1. A adoção da bacia hidrográfica como unidade elementar de planejamento;
2. A seleção e estocagem segura de poluentes (incluindo metais pesados) em vez
de sua concentração e diluição, evitando que o problema seja transportado e
permitindo sua utilização futura;
3. Mensuração de consumo de água em diferentes níveis de qualidade e introdução
de um mecanismo compensatório, como precificação progressiva;
4. A avaliação da escala ótima de solução considerando solução próxima à fonte e
custos de transporte residual a locais de reuso, possuindo cada solução escala e
característica específicas.
Na presente discussão, é de interesse incorporar o termo Low Impact Development
(LID), originário dos Estados Unidos por intermédio do condado de Prince George, em
Maryland (Prince George’s County, 1999a). Em uma tradução livre, este conceito –
desenvolvimento urbano de baixo impacto – pode ser entendido como uma tecnologia
que atua no gerenciamento e controle do escoamento de águas pluviais incorporando as
propostas supracitadas. Este conjunto de técnicas agrega técnicas presentes nas Best
Management Practices (mais conhecidas como BMPs, apresentadas por Urbonas e
Stahre, 1993) e novas práticas, com tratamento mais integrador, conscientizador e com
foco aproximado à fonte geradora de impacto.
Em LID, a observação quanto às características naturais do local e do afluente são
consideradas para que danos ao meio sejam apropriadamente minimizados. O
planejamento de novas áreas desenvolvidas com a utilização desta técnica passa por um
processo diferenciado, sendo efetuado previamente à elaboração dos projetos
arquitetônico e estrutural, direcionando-os.
Seguindo o estudo elaborado por Souza (2005), a implantação desta orientação à
concepção no país se apresenta viável para a realidade nacional, podendo apresentar
ganhos paisagísticos, ambientais e econômicos. A metodologia a seguir descrita
fundamenta-se neste trabalho, adaptado dos manuais americanos de Prince George’s
County (1999a 1999b) e United States (2004).

METODOLOGIA

Para o desenvolvimento de loteamentos urbanos sustentáveis, projetistas podem iniciar


por se perguntar: “Quais são as funções hidrológicas essenciais de pré-
desenvolvimento, e como estas podem ser mantidas enquanto permitem o uso da
área?”. Estratégias e técnicas de planejamento providenciam os caminhos para alcançar
as metas e objetivos de gestão de águas pluviais; facilitam o desenvolvimento de planos
adaptados a restrições topográficas naturais; mantém o rendimento do lote – sua função
hidrológica local; providenciam o conforto estético, e, freqüentemente, o emprego de
controles de gestão de águas pluviais menos custosos.
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Para construção da resposta à questão formulada, é interessante destacar que as


dimensões da sustentabilidade (Sachs, 1986) estão presentes em conceitos fundamentais
que definem a essência da tecnologia de LID, devendo, portanto, ser integrados ao
processo de planejamento, incluindo:
a) Usar hidrologia como estrutura integradora;
b) Focalizar micro-gestão;
c) Controlar as águas pluviais na fonte;
d) Utilizar métodos rudimentares não-estruturais;
e) Criar uma paisagem multifuncional.
Focalizar micro-gestão consiste em mudar a perspectiva ou aproximação com respeito
ao tamanho da área sendo controlada, e.g., trabalhando com micro sub-bacias, e/ou com
respeito ao tamanho do controle, e.g., emprego de micro-técnicas. A utilização de
micro-gestão apresenta como vantagens (Prince George’s County, 1999a):
a) Providenciar um maior leque de práticas que podem ser utilizadas e adaptadas às
condições locais;
b) Permitir uso de práticas de controle que possam providenciar controle de volume
e manter as funções de recarga de pré-desenvolvimento, compensando alterações
significativas na capacidade de infiltração;
c) Permitir práticas de controle no lote a serem integradas à paisagem, a superfícies
impermeáveis e a características naturais do local;
d) Reduzir os custos de construção e manutenção por intermédio de projetos com
boa relação custo-efetividade, participação e aceitação civil.
Sistemas pequenos, distribuídos de micro-gestão também podem oferecer uma grande
vantagem técnica: um ou mais sistemas podem falhar sem comprometer a integridade
total da estratégia de controle local.
A seguir serão elucidadas as etapas para o procedimento do planejamento.
Etapa 1 – Identificar regulamentações de zoneamento, uso do solo e outras
aplicáveis. As regulamentações incidentes no desenvolvimento de empreendimentos
devem ser conhecidas e respeitadas para a aprovação do empreendimento por parte do
poder público.
Etapa 2 – Definir condições de desenvolvimento e áreas protegidas. Para determinar
os objetivos que fazem parte do anseio de conservar as condições naturais e definir as
condições de desenvolvimento, devem ser avaliadas as condições prévias, incluindo
topografia, tipo e cobertura do solo.
Etapa 3 – Reduzir limites de movimentação de terra. A redução de áreas de
movimentação de terra (Figura 1) auxilia por diminuir a necessidade de mitigação dos
impactos causados por estas a jusante.

Figura 1. Redução da movimentação de terra pela localização adequada do empreendimento.


(Adaptado de Geórgia, 2001)

Etapa 4 – Utilizar “digitais” locais. Observar as características naturais para buscar


utilizá-las (Figura 2), e.g., fazer uso do caminho natural de drenagem, usufruindo de
sistemas naturais em detrimento ao desenvolvimento de sistemas artificiais, surge como
sugestão importante para o desenvolvimento de um empreendimento de LID. A área de
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desenvolvimento de atividades de construção deve estar localizada em áreas menos


sensíveis a distúrbios ou que tenham menor valor em termos hidrológicos, e.g.,
impermeabilizar quando imprescindível em solos com baixa capacidade de infiltração.
Onde prático e possível, deve-se evitar solos com taxas muito altas de infiltração,
reduzindo, com isso, impactos hidrológicos.
Dentre as técnicas de distúrbios mínimos, incluem-se:
a) Redução da pavimentação e compactação de solos altamente permeáveis;
b) Minimização do tamanho dos dispositivos, da área de armazenamento e
localização de material de construção dentro das condições de desenvolvimento
durante a fase de construção do projeto;
c) Localização do layout, limpeza e nivelamento da construção para evitar a
remoção de árvores existentes;
d) Minimização da impermeabilidade pela redução da área total pavimentada;
e) Delineação e sinalização da menor área utilizável possível para minimizar a
compactação de solo e restringir o armazenamento temporário de equipamentos
de construção nestas áreas;
f) Desconexão ao máximo possível de áreas impermeáveis, aumentando as
oportunidades para infiltração e redução do fluxo de escoamento;
g) Manutenção da topografia existente e divisão da drenagem associada para
encorajar caminhos de fluxo dispersos.
Etapa 5 – Utilizar Drenagem/Hidrologia como elemento de projeto. Avaliação e
compreensão da hidrologia local são necessárias para criar a paisagem hidrológica
multifuncional que imite a natureza. Procedimentos de avaliação de melhoria do
potencial de escoamento e manutenção de suas características devem ser incorporados o
quanto antes ao planejamento, providenciando melhores resultados. O planejamento
local deve considerar as características do efluente e do local onde este será lançado.
A organização espacial do layout local também se mostra importante, sendo o estudo de
aptidão de áreas de grande relevância. Sistemas de drenagem aberta podem trabalhar
com formas naturais e usos da terra para figurar como um elemento de projeto
importante no planejamento, sugerindo até localizações ótimas para parques e áreas de
jogos, alinhamento de caminhos e locais potenciais de para construção. O sistema de
drenagem pode ajudar a integrar formas urbanas, dando ao desenvolvimento uma
relação integral esteticamente mais agradável às características naturais locais (ver
Figura 2).
Etapa 6 – Minimizar Impermeabilidade. A rede de distribuição de tráfego é a maior
fonte de áreas impermeáveis, sendo estimulado o emprego de:
a) Layout alternativo das ruas (Figura 3);
b) Estreitamento de seções de ruas;
c) Aplicação reduzida de calçadas a apenas um dos lados de vias vicinais;
d) Redução de acostamentos.
Para áreas impermeáveis no lote são estimulados:
• Telhados: O tipo de casa, forma e tamanho podem afetar a impermeabilidade do
telhado. Construções verticais (por reduzir a área de telhado) e uso de telhados
verdes auxiliam na manutenção de áreas verdes e no tratamento e captura de
água para posterior reuso;
• Garagens e vias privadas (ligam a rua à residência): O compartilhamento,
especialmente em áreas sensíveis a distúrbios, limitação de larguras,
minimização de recuos para reduzir o comprimento das vias e emprego de
materiais que reduzam o escoamento superficial e atenuem a velocidade do
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fluxo, incluindo áreas de estacionamento, como pavimentos permeáveis ou


pedregulhos.

Figura 2. Utilização das “digitais” do local no planejamento. (Adaptado de Geórgia, 2001)

Figura 3 Layout alternativo de rua projetada com LID. (Fonte: Natural Resources Defense Council, 2004)
Etapa 7 – Desenvolver planejamento integrado preliminar. As condições de
desenvolvimento (etapa 2) e a minimização de áreas impermeáveis (etapa 6)
providenciam a base para condução de análises comparativas de hidrologia de pré e pós-
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desenvolvimento (Figura 4), confirmando ou não o sucesso na criação de paisagem


hidrológica funcional. O planejamento integrado não somente complementa, mas
também pode economizar recursos, e.g., por minimizar gastos repetidos desnecessários
para controle de produção de sedimentos por efetuá-lo próximo à construção de práticas
de gestão integrada (integrated management practices, IMPs), bem como, por viabilizar
o reuso de águas.

Figura 4. Comparação preliminar das alterações do projeto. (Adaptado de Prince George’s County, 1999b)
Etapa 8 – Minimizar áreas impermeáveis diretamente conectadas. Esta meta pode
ser atingida através de:
a) Desconexão de calhas e direcionamento para áreas vegetadas (Figura 5);
b) Direcionamento de fluxos de áreas pavimentadas para áreas vegetadas
estabilizadas (baixo potencial erosivo);
c) Quebra de direções de fluxo de superfícies pavimentadas com grande largura;
d) Estímulo ao escoamento raso em áreas vegetadas;
e) Localização cuidadosa de áreas impermeáveis para que estas drenem para
sistemas naturais, proteções vegetais, áreas de recursos naturais ou zonas (solos)
infiltráveis.
Etapa 9 – Modificar/Aumentar os caminhos de fluxo. Técnicas que podem alterar e
controlar as características de duração do escoamento e da vazão de pico incluem:
a) Maximizar o fluxo raso de superfície;
b) Aumentar e alargar caminhos de fluxo;
c) Alongar e amenizar declividades locais e do lote;
d) Maximizar o uso de sistemas de canais naturais abertos (valos de infiltração);
e) Aumentar e melhorar vegetação do local e do lote (Figura 6).

Figura 5. Desconexão de áreas impermeáveis. (Low impact Development Center, 2004)


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Figura 6. Aumento dos caminhos de fluxo. (Adaptado de Georgia, 2001)


Etapa 10 – Comparar hidrologia de pré e pós-desenvolvimento. Neste ponto do
planejamento, o projetista pode avaliar a hidrologia de pré e pós-desenvolvimento
(Figura 7), quantificando o nível de controle providenciado pelo processo de
planejamento, bem como a necessidade remanescente de controle a ser efetuado pelo
uso de IMPs.

Figura 7. Comparação de hidrogramas. (Adaptado de Prince George’s County, 1999b)


Etapa 11 – Completar planejamento local de LID. Completar o planejamento local
envolve o desenvolvimento de um procedimento iterativo de projeto. Com base nos
resultados da avaliação hidrológica, a necessidade de controles adicionais é identificada,
sendo atingidas através do emprego de IMPs (Figura 8), que podem incluir dispositivos
que estimulem a infiltração (bio-retenções, telhados verdes, solo preparado, pavimentos
permeáveis, valos, planos e trincheiras de infiltração entre outros) ou o reuso de água
(cisterna, barril de chuva). Os IMPs auxiliam na engenharia de solução hidrológica para
as metas estabelecidas, mantendo um alto padrão paisagístico, com potencial para reuso,
mantendo os processos do ciclo hidrológico perceptíveis. Um procedimento iterativo de
tentativa-e-erro é efetuado até que todos os requerimentos de gestão sejam atingidos.
Caso IMPs não sejam suficientes (Figura 9), controles convencionais podem ser
empregados (bacias de detenção e retenção), caracterizando um sistema híbrido. A
solução, portanto, pode apresentar menor aproximação à sustentabilidade quanto à
manutenção das taxas naturais de abstração de chuvas (taxas de processos físicos que
evitam que chuva seja transformada diretamente em escoamento superficial, como
infiltração, evaporação e interceptação), mas deve satisfazer aos anseios de controle do
escoamento para os critérios exigidos pelas regulamentações locais.
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Figura 8. Lote convencional americano e lote típicode LID. (Adaptado de Prince George’s County, 1999a)

Figura 9. Efeito do emprego de IMPs. (Adaptado de Prince George’s County, 1999b)


O Quadro 1 apresenta a conexão existente entre as etapas comentadas, os conceitos
essenciais defendidos pela tecnologia de LID e as possíveis dimensões de
sustentabilidade provenientes de sua utilização.
Quadro 1. Efeitos da consecução das etapas sugeridas.
Etapas Ações Produtos (Sustentabilidade)
1 Identificar regulamentações CH, NE Soc, Env, Cul, Esp
2 Definir condições de desenvolvimento CH, NE, MF Env, Eco, Soc, Esp
3 Reduzir limites de movimentação de terras CH, NE Env, Eco, Esp
4 Utilizar "digitais" locais HI, NE Env, Eco, Esp
5 Hidrologia como elemento de projeto HI Env, Eco
6 Minimizar impermeabilidade CF, NE Env, Eco
7 Planejamento integrado preliminar CH obtenção da meta de controle
8 Desconectar áreas impermeáveis CF, NE Env, Eco
9 Aumentar caminhos de fluxo CF, NE Env, Eco
10 Comparar hidrologia CH obtenção da meta de controle
11 Completar planejamento CF, MG, MF Env, Eco, Soc
Legenda: CF: Controle na fonte, NE: Medida não-estrutural, MF: Paisagem multifuncional, HI: Uso de hidrologia na
integração de áreas, MG: Micro-gestão, CH: Comparação da hidrologia, Env: Ecológica, Soc: Social, Eco: Econômica, Cul:
Cultural, Esp: Espacial.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tendo em vista a falta de conhecimento quanto às opções existentes para o


desenvolvimento de projetos em drenagem urbana que apresentem maior foco na
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preservação dos processos naturais, este trabalho procurou apresentar uma metodologia
com maior aproximação à sustentabilidade.
Sua aplicação para loteamentos urbanos de alto padrão mostra-se possível, o que não
acontece claramente para loteamentos a serem desenvolvidos em áreas com grandes
restrições de espaço físico. No entanto, os potenciais resultados obtidos da utilização
desta metodologia possivelmente superam os que seriam extraídos do emprego das
técnicas conhecidas e empregadas no país. Caberia ao órgão regulador determinar áreas
de aptidão ao desenvolvimento urbano e fiscalizar com rigor.
Fundamentado nestas áreas de aptidão e visando auxiliar o próprio órgão regulador na
determinação das metas de controle a serem atingidas, estudos precisam ser elaborados
para a construção de uma base de dados consistente e acessível.
Possíveis melhorias sociais podem resultar da utilização desta metodologia, uma vez
que as regulamentações de zoneamento são obedecidas, as edificações mostram-se
menos custosas financeiramente e apresentam alto poder de mercado (U.S. Department
of Housing and Urban Development, 2003, U.S. Environmental Protection Agency,
2000 e Nahb Research Center, 2004). Diante destes, o estabelecimento adequado da
população residente em áreas de várzeas e nascentes em novas áreas passa a ser
favorecido, conduzindo à equidade e reduzindo as externalidades, pelos impactos não
serem propagados para jusante e o escoamento ser tratado ainda no loteamento. Outra
vantagem reside no fato de coleta e reciclagem de resíduos mostrar-se facilitada por não
ser o escoamento “escondido” da população.
Maiores avanços precisam ser realizados tanto na aplicação desta estratégia de controle,
bem como no desenvolvimento apropriado e aplicação de mecanismos para
conscientização da população e capacitação profissional, incluindo o corpo técnico do
órgão gestor.
Espera-se que este trabalho sirva de gatilho para o desenvolvimento de estudos locais,
avaliando o potencial de aplicação desta técnica, bem como da metodologia para as
distintas características topográficas, geomorfológicas, pluviográficas e paisagísticas do
país.

BIBLIOGRAFIA

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