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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ

PRÓ-REITORIA DE ENSINO E GRADUAÇÃO


DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS
BACHARELADO EM ARQUITETURA E URBANISMO

RESENHA: Mudanças e saneamento básico: impactos, oportunidades e desafios para o


Brasil

MACAPÁ – AP
2020
MATHEUS FERREIRA MOREIRA

RESENHA: Mudanças e saneamento básico: impactos, oportunidades e desafios para o


Brasil

Trabalho apresentado a Universidade


Federal do Amapá como requisito
avaliativo referente à componente
curricular Saneamento Urbano do sétimo
período do Curso Bacharelado em
Arquitetura e Urbanismo, ministrada pela
professora.

MACAPÁ – AP
2020
O artigo analisado é de autoria do Engenheiro Sanitarista Leo Heller, que é
professor do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFMG, o texto faz
parte de uma das compilações teóricas para discussão no encontro RIO+20, que foi a
Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, realizada na cidade
do Rio de Janeiro, entre os dias 13 e 22 de Julho de 2012. O texto faz parte do segundo
volume de estudos que subsidiaram as discussões no evento, sendo esse volume composto
por estudos que tem como temática o Saneamento Básico.

O estudo, intitulado “Mudanças e saneamento básico: impactos, oportunidades


e desafios para o Brasil” se divide em cinco capítulos, além de introdução, considerações
finais e referências bibliográficas. No capitulo introdutório, o autor traz uma abordagem
do desenvolvimento do saneamento básico no Brasil, conceituando-o assim como “o
conjunto de serviços, infraestruturas e instalações operacionais de: abastecimento de água
potável; esgotamento sanitário; limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos; drenagem
e manejo das águas pluviais urbanas”, baseando-se para isso na Lei nº11.445/2007.

Neste capítulo ainda o autor introduz uma análise sobre os desafios das políticas
de saneamento básico entre resolver os problemas do presente e se preparar para situações
futuras, afirmando que há uma sobressalência do primeiro em reação ao segundo devido
a um “quadro de expansão econômica com indigência sanitária”. O autor realiza ainda
duras criticas às decisões tomadas na conferência Rio+20, descrevendo em alguns
momentos os compromissos adotados no evento como genéricos, tímidos, conservadores
e sem perspectivas a longo prazo, conforme no trecho destacado a seguir:

Nele, observaram-se resultados relativamente frustrantes, uma vez que as


recomendações aprovadas trazem ou proposição já consolidada – promover o
uso de resíduos como fonte de energia renovável em ambientes urbanos – ou
apelo genérico e dificilmente conversível em compromissos concretos –
planejar antecipadamente a sustentabilidade e a qualidade de vida nas
cidades – ou soluções de baixo efeito global – cada chefe de estado deve
identificar uma cidade sustentável visando desenvolver uma rede para
compartilhamento de conhecimentos e de inovação. Evidentemente, esses
diálogos vislumbraram o caminho para tornar concretas essas recomendações
– governos devem canalizar recursos para desenvolver cidades sustentáveis
centradas nas pessoas, com metas temporais e mensuráveis, de forma a
empoderar as sociedades locais, promover equidade e responsabilização –
entretanto, possivelmente, com muito baixa efetividade futura. (HELLER,
p.14, 2015)

No capítulo de número 2, intitulado “O quadro do saneamento no Brasil”, o autor


inicia trazendo, por meio de dados divulgados pelo Plano Nacional de Saneamento Básico
(Plansab) e pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), um preocupante
panorama do saneamento básico no país, apontando grandes déficits em relação ao
abastecimento de água, o esgotamento sanitário e o manejo de resíduos sólidos, aferindo
também a grande assimetria e discrepância no acesso a estes serviços, usando como
comparativo as cinco macrorregiões brasileiras, sendo a região Norte a menos favorecida
nesse aspecto.

O autor caracteriza ainda como críticos os desafios na gestão dos componentes


do Saneamento Básico, sejam eles na administração das esferas estaduais ou municipais,
encontrando em ambas uma série de limitações nas gestões, entre elas as destacadas a
seguir:

“... baixa capacidade de adequadamente planejar e executar as obras;


baixo nível de fiscalização quanto à correta e responsável aplicação de
recursos públicos; incapacidade de assegurar sustentabilidade às
intervenções realizadas; grande distância entre o caráter pontual das
intervenções e seu enquadramento em um planejamento de mais
longo alcance; modelos tarifários financeira e socialmente discutíveis;
regulações inexistentes ou ineficazes; incipiente controle social;
inadequadas e, muitas vezes, conflituosas relações interfederativas;
insuficientes relações intersetoriais. Tais limitações restringem a
efetividade da disponibilização de recursos para o setor,
frequentemente, implicando gastos com alcance aquém do desejável,
seja por ineficiência em sua aplicação seja por malversação de
recursos públicos.” (HELLER, p.17-18, 2015)

O Plansab, segundo o autor, indicava em suas projeções, à época da elaboração


do estudo, que haveria uma melhora a médio e longo prazo na universalização dos
serviços de abastecimento de água e de coleta de resíduos sólidos, contudo identificava
haver uma dificuldade nesse mesmo processo em outros aspectos, como a coleta e
tratamento de esgoto e redução de perdas no abastecimento, apontando também a
dificuldade nos serviços de saneamento voltados às zonas rurais.

O capitulo encerra com dados informando o acesso de recursos voltados ao


saneamento básico indicando uma inconsistência e oscilação nos mesmos, o que
compromete os planejamentos a longo prazo. De maneira geral o capitulo expões que
apesar de grandes os avanços, ainda existe muito o que avançar na gestão publica para
garantir um acesso digno ao saneamento básico por todas as parcelas da sociedade.

O terceiro capitulo, intitulado a “A atuação dos entes federados no saneamento


básico”, ao autor aborda as obrigações de cada uma das esferas administrativas, da
federal, da estatual e da municipal, cabendo a esta ultima, na maior parte das vezes a
maior reponsabilidade sobre as ações de saneamento básico, segundo o autor. O estudo
também traz as politicas de privatização dos serviços de saneamento, apresentando as
dificuldades de aceitação encontradas nesse modelo de gestão.

O quarto capitulo, denominado “Políticas públicas de saneamento básico:


permanências, mudanças e resiliências”, inicia apontando a fraqueza do setor de
Saneamento Básico em relação ao planejamento estratégico para “refletir sobre
mudanças, seus impactos e a preparação do setor para incertezas”, lidando com essas
mudanças as vezes de maneira “resiliente”. Então autor trás, divididos em tópicos as
principais mudanças que afetam as politicas de planejamento sanitário.

A primeira categoria de mudança abordada são as Mudanças Politico-


Institucionais, que de maneira geral podem se resumir em um conjunto de preocupações
com a não completa e eficiente divisão das funções entre os entes federativos além da
dificuldade de relações interinstitucionais.

A Segunda categorial de mudanças tragas pelo autor são as “Mudanças na


formulação e implementação das políticas públicas”, nesse tópico o autor aborda uma
preocupação com a não maneira não democrática em que as politicas de saneamento são
formadas, apontando “à ampliação das iniquidades pela exclusão da sociedade civil no
processo decisório e na vigilância quanto à implementação das políticas públicas”.

A terceira categoria engloba as “mudanças demográficas, ele trás uma serie


dedados do censo demográfico de 2010, que apresentam a redução no aumento da
população por meio da fecundidade, e aponta a migração como principal componente
demográfico que pode afetar o planejamento de infraestrutura de saneamento.

O quarto tópico de mudanças são as “mudanças tecnológicas”, onde o autor dá


um diagnóstico da atual condição dos serviços de saneamento da seguinte maneira:

“as técnicas de abastecimento de água, de esgotamento sanitário, de manejo de


resíduos sólidos e de drenagem pluvial hoje adotadas no País têm raízes no
século XIX e estão distantes de se sintonizar com as tendências
socioambientais contemporâneas” (HELLER, p.28, 2015)

O autor ao fim afirma que mudanças tecnológicas podem vir para fortalecer os
sistemas de saneamento, mas que quando mal geridas tecnicamente, apenas podem trazer
perturbações ao sistema e não serem bem absorvidas pela sociedade.
O próximo tópico de mudanças é o de “Mudanças climáticas” onde o autor
aponta que, nos impactos das mudanças climáticas sobre a prestação dos serviços,
identifica-se que o abastecimento de água pode ser afetado pela menor disponibilidade
dos mananciais, em função da redução das vazões de estiagem, levando à necessidade de
medidas emergenciais e também a expansões dos sistemas, o que pode ser muito crítico
para cidades de maior porte e para localidades do Semiárido. O testudo ainda apontam
uma série de estratégias que se contrapõe ao atual modelo de gestão e que podem
pressionar uma mudança no planejamento estratégico de saneamento básico.

O capitulo seguinte do estudo, intitulado “Políticas públicas de saneamento


básico: potencialidades e fragilidades para enfrentar processos de mudanças”, trás, dentro
de tudo o que já foi abordado anteriormente no estudo, três estudos de caso que remontam
a cenários específicos que são moldados pelas combinações de fatores das possíveis
mudanças no sistema. Sendo assim o autor resume a estrutura dos estudos de caso da
seguinte maneira:

“...(i) cenário em que um município não metropolitano disponha de serviço


de saneamento universalizado, com planejamento estrategicamente
elaborado, visando enfrentar situações futuras; que seja afetado por
mudanças de menor monta, perfeitamente capazes de ser assimiladas pelos
sistemas, mediante adaptações de implementação factível; (ii) cenário de
uma grande cidade, capital de estado localizada em região metropolitana, na
qual permanecem situações pendentes de equacionamento da infraestrutura
e em que o poder público municipal não detém completa autonomia
gerencial para prover as soluções; (iii) um grande empreendimento
econômico, com amplo e intenso impacto regional sobre a dinâmica
demográfica e socioeconômica, em sistemas de saneamento frágeis, com
gestão deficiente e sem planejamento para ações futuras.” (HELLER, p.33,
2015)

O sexto capitulo do livro se denomina “Possíveis caminhos”, nele o autor


apresenta um compilado de possíveis soluções para os presentes e futuros problemas na
rede de saneamento básico. O primeiro ponto adotado pelo capitulo é a “A finalização do
ciclo de implementação da nova política pública de saneamento”, nele se abordam
algumas medidas de fortalecimento da gestão de órgãos do Estado, principalmente do
Ministério das Cidades.

O tópico seguinte, ainda dentro do sexto capitulo é o da “A ênfase ao


planejamento” que afirma que deve haver um real interesse nos gestores de uma mudança
e melhoria nesse sistema, não apenas como uma obrigação burocrática e incerta. Esse
tópico dialoga com o seguinte, o “Pacto federativo do Saneamento”, em que o autor
aponta a necessidade de se discutir o papel de cada um dos entes gestores nas politicas de
saneamento, eliminando limbos e duvidas quanto a funções, fortalecendo assim a atuação
de cada um.

O tópico seguinte versa sobre a necessidade de entender o saneamento básico


como uma área de atuação multifacetada e interdisciplinar. Já os dois tópicos seguintes
tratem de questões econômicas onde o autor aborda, de maneira geral, uma melhor
distribuição dos recursos financeiros, facilitando o acesso das classes menos favorecidas
aos serviços de saneamento básico.

Os dois últimos pontos abordados nesse capitulo trazem reflexões sobre uma
necessidade de avaliação do sistema de saneamento, sendo isso uma avaliação constante,
fomentando sempre discussões técnicas e acadêmicas visando melhorias no setor.

O ultimo capitulo do estudo, as “considerações finais”, reforça o interesse do


autor em gerar uma reflexão sobre a atual gestão da politica de saneamento básico,
entendendo que esse é o caminho para o “avanço sustentável do setor de saneamento, na
direção de uma situação inclusiva e democrática”.

Conclui-se que o estudo apresenta de maneira rica uma visão realista, e em


alguns momentos realmente pessimista, do quadro atual do país quanto à gestão dos
componentes do saneamento básico. Mas ele também trás uma série de questionamentos
que podem realmente ajudar nesse processo de planejamento, sempre visando uma
integração democrática entre Estado e População, para que a longo prazo o sistema
consiga absorver com naturalidade expansões naturais da população além de sinistros e
situações adversas.

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