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PEIXES FÓSSEIS DO GRUPO SANTANA (CRETÁCEO INFERIOR DA

BACIA DO ARARIPE) DA COLEÇÃO DE PALEONTOLOGIA DA UERJ:


ASPECTOS TAXONÔMICOS E TAFONÔMICOS

Letícia Paiva Belfort


Hermínio Ismael de Araújo-Júnior

10.18190/1980-8208/estudosgeologicos.v29n1p55-75
Laboratório de Paleontologia, Departamento de Estratigrafia e Paleontologia, Faculdade
de Geologia, UERJ, leticiapaivabelfort@hotmail.com, herminio.ismael@yahoo.com.br

RESUMO

A Bacia do Araripe é mundialmente conhecida pelo seu registro fossilífero, o que per-
mitiu classificá-la como uma fossillagestätte. Destacam-se os fósseis de vertebrados dos
estratos do Cretáceo Inferior da bacia que compõem o Grupo Santana, formações Crato
e Romualdo. Embora possua uma ampla associação de vertebrados fósseis da Bacia do
Araripe em sua coleção didático-científica, a Coleção de Paleontologia da Faculdade de
Geologia da UERJ necessita de uma reavaliação taxonômica de seus espécimes, especi-
almente os peixes fósseis. Além disso, por ser uma coleção prolífica em termos de
quantidade e diversidade de espécies, a mesma pode fornecer subsídios para estudos
tafonômicos. Este trabalho apresenta um estudo taxonômico e tafonômico dos espéci-
mes de peixes fósseis do Grupo Santana (formações Crato e Romualdo) depositados na
coleção didático-científica do Laboratório de Paleontologia (LABPALEO) da Faculdade
de Geologia da UERJ. A coleção de peixes fósseis é composta por 55 espécimes de 10
táxons distintos (Dastilbe crandalli, Notelops brama, Paraelops cearensis, Rhacolepis
buccalis, Tharrhias araripis, Vinctifer comptoni, Calamopleurus cylindricus, Cla-
docyclus gardneri, Neoproscinetes penalvai e Brannerion sp.), sendo mais abundante a
espécie Tharrhias araripis (21 de 55 espécimes, i.e. 40%). Em sua maioria, os espéci-
mes estão preservados dentro de nódulos carbonáticos espessos, relacionado a uma alta
disponibilidade de carbonato de cálcio no ambiente de sedimentação e/ou a uma necró-
lise prolongada das carcaças. Algumas espécies estão tridimensionalmente preservadas,
relacionada a uma rápida gênese dos nódulos carbonáticos, possivelmente influenciada
pela indução de microorganismos. A maioria dos espécimes apresenta-se articulada e
com preservação de partes moles, outros, parcialmente articulados. Alguns estão frag-
mentados diageneticamente, o que indica a ocorrência de compressão litostática sobre
os nódulos fossilíferos durante a fossildiagênese.
Palavras Chave: Formação Crato, Formação Romualdo, Teleosti fósseis, Taxonomia,
Tafonomia.

ABSTRACT

Araripe Basin is known worldwide by its fossil record, which allows its classifica-
tion as a fossillagestätte. Fossil vertebrates recovered from the Lower Cretaceous strata
stand out, particularly those from the Crato and Romualdo formations of the Santana
Group. Although diversified in terms of Araripe Basin fossil vertebrates, the Collection
of Paleontology of the Faculty of Geology of UERJ needs a taxonomic evaluation of its
fossil fishes. Furthermore, the large amount of fossil fishes in the collection can be use-
ful for several taphonomic analyses. This work presents the results of taxonomic and
taphonomic studies on the fossil fishes of the Santana Group (Crato and Romualdo for-

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mations) housed in the didactic-scientific collection of the Laboratory of Paleontology


(LABPALEO) of Faculty of Geology of UERJ. The collection of fossil fishes is com-
posed of 55 specimens and 10 distinct taxa (Dastilbe crandalli, Notelops brama, Parae-
lops cearensis, Rhacolepis buccalis, Tharrhias araripis, Vinctifer comptoni, Cal-
amopleurus cylindricus, Cladocyclus gardneri, Neoproscinetes penalvai and Branner-
ion sp.), and the species Tharrhias araripis (21 of 55 specimens, i.e. 40%) is the most
abundant. In general, the specimens are preserved inside thick carbonate nodules, re-
flecting high availability of calcium carbonate in the sedimentary environment and/or
prolonged necrolysis. Some species are tridimensionally preserved, whereas the other
remains are bidimensionally preserved. 3D preservation is related to a rapid genesis of
the carbonate nodules, possibly influenced by microorganisms. Most of the specimens
are associated; some are disarticulated or disassociated. Some fossils are diagenetically
fragmented, suggesting lithostatic compression on the nodules during the fossildiagene-
sis.
Keywords: Crato Formation, Romualdo Formation, Teleostei fossils, Taxonomy, Ta-
phonomy.

INTRODUÇÃO desta bacia (Kellner, 2002; Viana &


Neumann, 2002). Sua história sedimen-
A Bacia do Araripe é considerada tar inclui registros desde o Ordoviciano
a maior bacia sedimentar do Mesozoico Final até o final do Cenomaniano.
do nordeste do Brasil, compreendendo Mundialmente, é conhecida pelo seu
uma área de 12.000 km2 (Neumann et registro fossilífero, o que permitiu clas-
al., 2002) (Fig. 1). De uma maneira ge- sificá-la como uma konservatlagestätte
ral, essa bacia foi formada a partir dos e konzentrationlagerstätte Maisey
eventos tectônicos causadores da frag- (1991). O Grupo Santana, especialmen-
mentação do Gondwana e está particu- te as formações Crato e Romualdo,
larmente associado à abertura do Ocea- apresenta registro de grande diversidade
no Atlântico Sul. O rifteamento causado de animais e plantas nos estratos do
pela separação das placas continentais Cretáceo Inferior da bacia (Carvalho &
da América do Sul e da África influen- Santos, 2005; Polck et al., 2015).
ciaram a sedimentação e a evolução

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Figura 1 - Mapa geológico da Bacia do Araripe e aspectos estratigráficos da Formação


Santana (modificado de Prado et al., 2016).

A Formação Crato é composta por ção de espécies, de seu surgimento e


estratos de calcários laminados, interca- extinção e a correlação estratigráfica,
lados com folhelhos, siltitos e arenitos, permite entender quais grupos foram
depositados durante o Cretáceo Inicial. sincrônicos, quais competiam em rela-
Estudos estratigráficos, geoquímicos e ção ao habitat, entre outras interpreta-
paleontológicos associam a origem des- ções. Nesse sentido, os peixes fósseis
sas rochas a um ambiente lacustre fe- são essenciais para entendermos como
chado, com ampla variação dos níveis se apresentava o habitat em um deter-
de salinidade e espessura da lâmina minado período, a biodiversidade e as
d’água (Maisey, 1991; Neumann et al., possíveis causas de morte, além dos
2002; Polck et al., 2015). Foi, portanto, diversos tipos de fossilização que po-
um ambiente com condições excepcio- dem ter ocorrido. No caso deste traba-
nais para a preservação de fósseis de lho, um acervo bem diversificado pode
vertebrados, invertebrados e vegetais. ser analisado para compreender a Bacia
A Formação Romualdo, assim do Araripe durante o Cretáceo Inicial.
como a Formação Crato, destaca-se pelo Embora possua uma ampla asso-
prolífico registro de peixes – preserva- ciação de peixes fósseis da Bacia do
dos em nódulos carbonáticos que ocor- Araripe em sua coleção didático-
rem em níveis de folhelhos escuros. O científica, a Coleção de Paleontologia
provável paleoambiente dessa unidade da Faculdade de Geologia (FGEL) da
corresponde a um ambiente lagunar Universidade do Estado do Rio de Ja-
e/ou estuarino (Polck et al., 2015). neiro (UERJ) necessita de uma reavali-
A importância dos fósseis reside na ação taxonômica de seus exemplares,
possibilidade de entendermos os paleo- especialmente os peixes fósseis. Além
ambientes, bem como aspectos paleoe- disso, por ser uma coleção prolífica em
cológicos, paleoclimatológicos e paleo- termos de quantidade e diversidade de
geográficos. Além disso, a compreensão espécimes, a mesma pode fornecer sub-
do registro fossilífero associada à data- sídios para estudos tafonômicos. O ob-

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jetivo deste trabalho é contribuir para o guintes feições tafonômicas foram ava-
refinamento do conhecimento taxonô- liadas: (I) grau de articulação (articula-
mico e tafonômico sobre a diversidade do, associado ou desarticulado); (II)
fossilífera das unidades analisadas, bem grau de integridade física (completo,
como para o conhecimento dos aspectos parcial ou fragmento); (III) traços de
genéticos das acumulações fossilíferas atividade bacteriana (presença ou au-
do Grupo Santana (formações Romual- sência); (IV) forma de preservação dos
do e Crato). espécimes (bidimensional ou tridimen-
sional); (V) tipos de concreções quanto
MATERIAL E MÉTODOS ao número de espécimes fósseis nele
encontrados; (VI) grau de coloração. A
Os espécimes foram submetidos à interpretação das assinaturas tafonômi-
estudo macroscópico para auxiliar o cas foram baseadas em Lyman (1994),
reconhecimento de caracteres diagnósti- Holz & Simões (2002), Rogers et al.
cos para a identificação taxonômica. A (2007) e Araújo-Júnior & Bissaro-
identificação foi realizada a partir de Júnior (2017).
comparações com espécimes fósseis
figurados na literatura especializada, RESULTADOS
principalmente em Maisey (1991) e
Polck et al. (2015). Além disso, foram Paleontologia Sistemática
feitas consultas a especialistas em pei-
xes fósseis de instituições científicas O material analisado é composto
brasileiras. de 55 espécimes (Fig. 2) fósseis prove-
Para o estudo tafonômico, a coleta nientes das formações Crato e Romual-
de informações relacionadas às assina- do coletados ao longo das últimas déca-
turas tafonômicas foi adaptada do pro- das. Os exemplares encontram-se depo-
tocolo para coleta de dados tafonômicos sitados na Coleção do Laboratório de
macroscópicos proposto por Araújo- Paleontologia (LABPALEO) da Facul-
Júnior & Bissaro-Júnior (2017). As se- dade de Geologia (FGEL) da UERJ.

Figura 2 - Táxons da Bacia do Araripe na coleção do LABPALEO/UERJ.

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Classe Actinopteryigii Woodward, 1891


Infraclasse Actinopteri Cope, 1871
Divisão Teleostei Müller, 1845
Coorte Elopomorpha Greenwood et al., 1966
Ordem Albuliformes Greenwood et al., 1966
Gênero Brannerion Jordan, 1919
Brannerion sp. (Fig. 3a)

Material e proveniência: Espé- cicloides de tamanho moderado. Vérte-


cime completo com preservação de es- bras observáveis na parte dorsal do cor-
camas, UERJ PV-40; fragmento de na- po, divergindo morfologicamente de
dadeira caudal, UERJ PV-98A, UERJ outros táxons dessa unidade (e.g. Thar-
PV-98B; Formação Romualdo, Grupo rias araripis). Há espécimes encontra-
Santana (Cretáceo Inferior), Bacia do dos com moldes dentro de nódulos.
Araripe.
Comentários: As características
Descrição: Os espécimes aqui acima mencionadas são congruentes
atribuídos ao gênero Brannerion consis- com aquelas elencadas como diagnósti-
tem em peixes de médio porte e apre- cas do gênero Brannerion (Maisey,
sentam como características principais: 1991; Polck et al., 2015). Eram conside-
o opérculo é largo e convexo, com a rados peixes carnívoros tolerantes a
presença de uma sutura entre opérculo e variações de salinidade (Maisey, 1991).
pré-opérculo; as escamas marcadas são

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Figura 3 – Espécimes fósseis de A. Brannerion sp. (UERJ PV-40), B. Cladocyclus gar-


dneri (UERJ PV-88), C. Notelops brama (UERJ PV-104), D. Calamopleurus cylindri-
cus (UERJ PV-103), E. Elopomorpha indet. (UERJ PV-100), F. Tharrhias araripis
(UERJ PV-87). Escala = 3 cm.

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Ordem Ichthyodectiformes Bardack & Sprinkle, 1969


Família Cladocylidae Maisey, 1991
Gênero Cladocyclus Agassiz, 1841
Cladocyclus gardneri Agassiz, 1841 (Fig. 3b)
Material e proveniência: Frag-
mentos da coluna vertebral, UERJ PV- Comentários: As características
107 e UERJ PV-86; espécimes frag- dentárias e de escamas acima descritas
mentados apresentando parte das vérte- permitem a atribuição dos espécimes à
bras, UERJ PV-102 e UERJ PV-88. espécie Cladocyclus gardneri (Maisey,
Formação Romualdo, Grupo Santana 1991; Wenz et al., 1993; Leal & Brito,
(Cretáceo Inferior), Bacia do Araripe. 2004). Indivíduos dessa espécie poderi-
am atingir mais de 1 metro de compri-
Descrição: Os espécimes apresen- mento e eram predadores. São conside-
tam boca proeminente com dentes alon- rados os maiores e mais espetaculares
gados e pontiagudos e possuem escamas peixes do Cretáceo Inferior brasileiro
grandes, arredondadas e imbricadas. (Maisey, 1991).
Abundantes na Formação Romualdo.

Classe Actinopteryigii Woodward, 1891


Infraclasse Actinopteri Cope, 1871
Divisão Teleostei Müller, 1845
Ordem Crossognathiformes Taverne,1989
Família Notelopidae Forey, 1973
Gênero Notelops Agassiz, 1841
Notelops brama Agassiz, 1841 (Fig. 3c)

Material e proveniência: Frag- Comentários: As características


mento de nadadeira caudal, UERJ PV- acima descritas são similares àquelas
104. Formação Romualdo, Grupo San- observadas em Notelops brama (Taver-
tana (Cretáceo Inferior), Bacia do Ara- ne, 1976; Maisey, 1991; Wenz et al.,
ripe. 1993). Eram carnívoros e considerados
peixes tolerantes às variações de salini-
Descrição: Nadadeira caudal pro- dade (Maisey, 1991). São considerados
fundamente furcada, com pequeno enta- abundantes na Formação Romualdo
lhe na margem posterior. (Polck et al., 2015).

Superdivisão Neopterygii Regan, 1923


Subdivisão Halecomorphi Cope, 1872
Ordem Amiiformes Hay, 1829
Família Amiidae Bonaparte, 1837
Gênero Calamopleurus Agassiz, 1841
Calamopleurus cylindricus Agassiz, 1841 (Fig. 3d)

Material e proveniência: Frag- espécime completo preservado em nó-


mento preservado somente a cabeça, dulo de calcário, UERJ PV-34. Fm Ro-
UERJ PV-24, UERJ PV-88; espécime mualdo, Gr Santana (Cretáceo Inferior),
com preservação de sua coluna verte- Bacia do Araripe.
bral, UERJ PV-97A, UERJ PV-97B;

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Descrição: Peixe de grande porte,


atingindo até aproximadamente 140 cm Comentários: Eram predadores
de comprimento total; pode estar pre- com dentes em forma de cone geral-
servado de forma tridimensional, com mente expostos (Pough, 2015); carnívo-
aspecto triangular; vértebras bem carac- ros. Eram considerados peixes toleran-
terísticas pelo formato triangular e pelo tes a variações de salinidade. Facilmen-
tamanho grande. Dentes alongados e te confundidos com Notelops brama
geralmente expostos em forma de cone. devido a sua similaridade física, mas as
Comumente encontrados em concreções duas espécies não são sinônimas pois
isoladas na Grupo Santana e raramente Calamopleurus não possui sua nadadei-
encontrados na Formação Crato. ra caudal furcada (Maisey, 1991).

Coorte Elopomorpha Greenwood et al., 1966


Elopomorpha indet.

Material e proveniência: Frag- Comentários: As características


mento de nadadeira dorsal preservada acima mencionadas podem ser observa-
em nódulo de calcário, UERJ PV-100. das tanto em Notelops brama quanto em
Formação Romualdo, Grupo Santana Paraelops cearensis. As características
(Cretáceo Inferior), Bacia do Araripe. diagnósticas para ambas as espécies
residem na morfologia parietal, arranjo
Descrição: O espécime consiste infraorbital e dentição (Maisey, 1991),
em uma nadadeira dorsal pequena com os quais não estão preservados em
a base curta. UERJ PV-100. Portanto, atribui-se o
espécime apenas a Elopomorpha indet.

Classe Actinopteryigii Cope, 1887


Divisão Teleostei Müller, 1845
Ordem Gonorynchiformes Regan, 1909
Família Chanidae Jordan, 1887
Gênero Tharrhias Jordan & Branner, 1908
Tharrhias araripis Jordan & Branner, 1908 (Figura 2.f)

Material e proveniência: Espécime vertebral, UERJ PV-39; espécime


completa preservada em nódulo de completo com preservação de coluna
calcário, UERJ PV-96A, UERJ PV- vertebral, UERJ PV-23; espécime
96B; espécime completa, UERJ PV-26; fragmentado com preservação de
espécime completa preservada em escamas, UERJ PV-41; espécime
nódulo, UERJ PV-87A, UERJ PV-87B; fragmentado com somente cabeça e
espécime completa preservada em parte do corpo, UERJ PV-42; espécime
nódulo de calcário, UERJ PV-20A, completo no nódulo, UERJ PV-30;
UERJ PV-20B; espécime completo, espécime completo com preservação da
UERJ PV-22; espécime preservada com coluna vertebral e cabeça e visualização
somente falta da cabeça, UERJ PV-38; das nadadeiras caudal e dorsal, UERJ
espécimes completos inclusos em nódu- PV-33; espécime fragmentado com
los calcários, UERJ PV-101A, UERJ preservação da cabeça e parte do corpo,
PV-101B; espécime completo com UERJ PV-87; espécime preservado
pouca preservação de escamas e coluna juntamente com outra espécime de

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Tharrhias sp. num mesmo nódulo de Descrição: Corpo curto e robusto;


calcário, UERJ PV-106; espécime boca pequena, sem palato e sem dentes;
preservado em nódulo de calcário com opérculo grande, mais alto que largo
possivel visualização da cabeça e da (Blum, 1991b; Wenz et al., 1993). Bar-
coluna vertebral, UERJ PV-105; batana dorsal com 13 raios. Comumente
espécime fragmentado com preservação encontrados na Grupo Santana – For-
da coluna vertebral, cabeça e mação Romualdo. Tem forma sub-
nadadeiras, UERJ PV-31; espécime retangular, sendo mais alto do que lar-
completo com preservação de escamas e go. A borda anterior é quase reta, en-
nadadeiras, UERJ PV-28; espécime quanto as bordas posterior e dorsal pos-
completo com preservação da cabeça, suem um contorno convexo. Ventral-
coluna vertebral e nadadeiras, UERJ mente, o osso encontra o subopérculo.
PV-21; espécime fragmentado com
preservação somente da nadadeira Comentários: O gênero
caudal, UERJ PV-28; espécime Tharrhias inclui duas espécies:
completo com preservação da cabeça, Tharrhias araripis e Tharrhias rochae.
escamas e nadadeira caudal, UERJ PV- Os espécimes da FGEL-UERJ podem
32; espécime completo preservado com ser atribuídos à espécie Tharrhias
cabeça, coluna vertebral e nadadeiras, araripis por possuírem corpo fusiforme,
UERJ PV-27; espécime pouco preser- cabeça três vezes maior que o tamanho
vado com visualização somente do do corpo e escama tão largas quanto
opérculo, UERJ PV-106. Formação altas (Maisey, 1991). Eram carnívoros
Romualdo, Grupo Santana (Cretáceo com dentes. Considerados peixes
Inferior), Bacia do Araripe. marinhos litorâneos pelo seu tamanho e
tipo de alimentação (Maisey, 1991).

Subcoorte Osterioclupeomorpha Sagemehl, 1885


Ordem Gonorynchiformes Greenwood, Rosen, Weitzmann e Myers, 1966
Família Chanidae Jordan, 1887
Gênero Dastilbe Jordan, 1910
Dastilbe crandalli Jordan, 1910 (Fig. 4)

Material e proveniência: Espé- arredondada e marcada. Nadadeira cau-


cime completo bem preservado com dal bem furcada. Encontrado também na
visualização da cabeça, coluna vertebral Formação Romualdo.
e nadadeiras, UERJ PV-02. Espécime
completo, UERJ PV-05. Espécime Comentários: Atualmente consi-
completo, UERJ PV-110. Espécime dera-se válida apenas uma espé-
completo, UERJ PV-111. Espécime cie: Dastilbe crandalli, já que as carac-
completo, UERJ PV-112, Espécime terísticas utilizadas para diagnosticar
completo, UERJ PV-113, Espécime todas as espécies propostas são muito
completo, UERJ PV-114. Formação superficiais. Assim, as espécies Dastilbe
Crato, Grupo Santana (Cretáceo Inferi- elongatus e D. moraesi devem ser trata-
or), Bacia do Araripe. das como sinônimos-júnior de D. cran-
dalli. O diagnóstico de Dastilbe cran-
Descrição: Peixe pequeno, com dalli inclui várias características plesi-
cabeça, vértebras, nadadeiras caudal e omórficas de peixes da Super Ordem
dorsal marcada. Bem pequeno com a Ostariophysi, como um grande opércu-
coluna bem marcada e robusta. Cabeça lo, suspensório longo ou ângulo afiado

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do pré-opérculo. O número e arranjo de bem preservados em muitos espécimes
elementos na barbatana caudal são bons (Maisey, 1991).
caracteres para distinção, mas não são

Figura 4 – Dastilbe crandalli (A - UERJ PV-02), (B - UERJ PV-05). Escala = 3 cm.

Classe Actinopteryigii Woodward, 1891


Infraclasse Actinopteri Cope, 1871
Divisão Teleostei Müller, 1845
Ordem Crossognathiformes Taverne, 1989
Família Pachyrhizodontidae Cope, 1872
Gênero Rhacolepsis Agassiz, 1841
Rhacolepis buccalis Agassiz, 1841 (Fig. 5)

Material e proveniência: Espé- da cabeça corresponde a cerca de ¼ do


cime preservado tridimensionalmente comprimento total; parte anterior da
com visualização de todo o corpo e a cabeça pontuda; escamas pequenas e
cabeça, UERJ PV-84; espécime tridi- ovoides (Maisey, 1991; Wenz et al.,
mensional completo, UERJ PV-85; es- 1993). São comuns e abundantes na
pécime fragmentado com preservação Formação Romualdo.
da nadadeira caudal e parte do corpo,
UERJ PV-49; espécime completo tridi- Comentários: Possuem escamas
mensional, UERJ PV-09. Formação pequenas e ovoides. As escamas são
Romualdo, Grupo Santana (Cretáceo estendidas até a base da nadadeira cau-
Inferior), Bacia do Araripe. dal, dorsal e anal. Nadadeira pélvica se
origina atrás do nível da nadadeira dor-
Descrição: Corpo fusiforme, ci- sal. Nadadeira anal mais perto da nada-
líndrico, atingindo aproximadamente 25 deira caudal do que a pélvica. Possuem
cm de comprimento total; comprimento em média de 90 linhas laterais de esca-

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mas, aproximadamente 33 escamas em além de ter as barbatanas ventrais um


series transversais anteriormente a na- pouco antes do dorsal. Eram predadores
dadeira dorsal; escamas mais profundas com dentes e se alimentavam de cama-
e marcadas do que longas. Rhacolepis rões. Eram considerados peixes mari-
buccalis tem um corpo mais profundo e nhos litorâneos pelo seu tamanho e tipo
tronco proporcionalmente mais curto, de alimentação (Maisey, 1991).

Figura 5 – Rhacolepis buccalis (A - UERJ PV-85), (B - UERJ PV-09). Escala = 3 cm.

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Família Aspidorhynchidae Nicholson & Lydekker, 1889


Gênero Vinctifer Jordan, 1919
Vinctifer comptoni Agassiz, 1841 (Fig. 6)

Material e proveniência: Espé- mação Romualdo, Grupo Santana (Cre-


cime parcialmente preservada com ca- táceo Inferior), Bacia do Araripe.
beça, parte do corpo de nadadeira peito-
ral, UERJ PV-37; espécime completa Descrição: Atinge aproximada-
UERJ PV-35; espécime fragmentada mente 60 cm de comprimento total;
com parte posterior do corpo de nada- encontrados dentro de nódulos; rostro
deira caudal, UERJ PV-44; espécime alongado; lateralmente o corpo é cober-
fragmentada com somente a cabeça, to por três fileiras de escamas muito
UERJ PV-43; espécime fragmentado altas e retas (Brito 1997; Maisey, 1991;
com preservação da cabeça e parte do Wenz et al., 1993; Brito & Suárez,
corpo, UERJ PV-48; espécime fragmen- 2003). São comuns e um dos mais
tado com cabeça e parte do corpo, abundantes, em especial no Formação
UERJ PV-46; espécime fragmentado Romualdo da Grupo Santana.
com cabeça e parte do corpo, UERJ PV-
37; espécime fragmentado com cabeça e Comentários: O que o difere da
parte do corpo, UERJ PV-45; espécime sua Família Aspidorhynchidae é possuir
fragmentado preservado em nódulo com escamas com linhas laterais profundas.
visualização de escamas, UERJ PV- Eram herbívoros filtradores de material
99A, UERJ PV-99B; espécime comple- em suspensão. Eram considerados pei-
to tridimensional, UERJ PV-108. For- xes marinhos litorâneos (Maisey, 1991).

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Figura 6 – Vinctifer comptoni (A - UERJ PV-48), (B - UERJ PV-99A e UERJ PV-99B)


e (C - UERJ PV-108). Escala = 3 cm.

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Classe Actinopterygii Woodward, 1891


Subclasse Neopterygii Regan, 1923
Ordem Pycnodontiformes Berg, 1937
Subordem Pycnodontoidei Nursall, 1996
Família Pycnodontidae Agassiz, 1833
Subfamília Proscinetinae Wenz, 2002
Gênero Neoproscinetes Figueiredo & Silva Santos, 1987
Neoproscinetes penalvai Santos, 1987 (Fig. 7)

Material e proveniência: Espé- que o tamanho máximo esperado para


cime parcialmente preservadas com indivíduos de Iemanja e Araripicthys,
visualização de suas vértebras e coste- assemelhando-se em tamanho a N. pe-
las, UERJ PV-102. Formação Romual- nalvai. Por este motivo, atribuiu-se o
do, Grupo Santana (Cretáceo Inferior), espécime a N. penalvai. Descrito por
Bacia do Araripe. Santos (1987), essa espécie apresenta
indivíduos com formato do corpo acha-
Descrição: Espécime preservado tado e muito alto e com dentição alta-
juntamente a Elopomorpha indet. mente especializada. Os picnodontes
(UERJ PV-100) com visualização de são peixes altamente especializados,
suas vértebras e costelas. Percebe-se um encorpados e extintos que evidentemen-
corpo alto devido às suas costelas alon- te foram adaptados para capturar presas
gadas. protegidas, como moluscos com con-
chas (como bivalves e gastrópodes),
Comentários: Costelas alongadas equinodermos (ouriços-do-mar) e pro-
são comuns em Neoproscinetes penal- vavelmente artrópodes (como carangue-
vai, Iemanja e Araripichtys, no entanto, jos e camarões) (Maisey, 1991).
o espécime UERJ PV-102 é maior do

Figura 7 –Neoproscinetes penalvai (UERJ PV-102). Escala = 3 cm.

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PEIXES FÓSSEIS DO GRUPO SANTANA (CRETÁCEO INFERIOR...

Aspectos Tafonômicos gundo o grau de articulação (separação


ou não das estruturas esqueléticas. Já,
GRAU DE ARTICULAÇÃO na Formação Romualdo, a maioria dos
exemplares possui desarticulação e,
Entre as duas formações geológi- somente uma espécie apresenta nível
cas analisadas, os fósseis da Formação associado em sua fossilização Holz &
Crato possuem melhor preservação se- Simões (2002) (Fig. 8).

Figura 8 - Padrão de desarticulação dos táxons da Grupo Santana depositados na Cole-


ção da Paleontologia da FGEL/UERJ.

GRAU DE INTEGRIDADE FÍSICA os espécimes estão fragmentados e não


a concreção carbonática.
A maioria parte das espécies pos-
sui sua integridade física fragmentada GRAU DE PRESERVAÇÃO DOS ES-
(quebra dos elementos esqueléticos) e PÉCIMES
poucas espécies indicam uma integrida-
de física completa ou parcialmente Quase 90% dos espécimes foram
completada (Holz & Simões, 2002) preservados de forma comprimida, en-
(Fig. 9). A fragmentação ocorreu duran- quanto um pouco mais de 10% foram
te a fase bioestratinômica, pois, somente preservados de forma tridimensional
(Fig. 10).

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Letícia Paiva Belfort & Hermínio Ismael de Araújo-Júnior

Figura 9 - Grau de integridade física dos espécimes de peixes fósseis da Coleção de


Paleontologia da FGEL/UERJ.

Figura 10 - Morfologia de preservação (bidimensional ou tridimensional) dos espécimes


de peixes fósseis da Coleção de Paleontologia da FGEL/UERJ.

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PEIXES FÓSSEIS DO GRUPO SANTANA (CRETÁCEO INFERIOR...

GRAU DE COLORAÇÃO Formação Romualdo, a coloração me-


nos presente é o marrom moderado
O grau de coloração está bem di- amarelado, presente em somente dois
vidido, mas há o predomínio da cor la- espécimes (Fig. 11).
ranja escuro amarelado que está presen-
te tanto no Formação Crato. Quanto na

Figura 11 - Padrão de coloração dos espécimes fósseis do Grupo Santana depositados na


Coleção de Paleontologia da FGEL/UERJ.

TIPOS DE CONCREÇÕES QUANTO ra, ou seja, somente um espécime ocorre


AO NÚMERO DE ESPÉCIMES FÓS- em cada nódulo. Concreções multifossi-
SEIS NELAS CONTIDOS líferas – mais de um espécime e/ou es-
pécie no mesmo nódulo carbonático –
A maior parte dos espécimes se também ocorrem, no entanto, são raras
encontra classificado como unifossilífe- (Fig. 12).

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Figura 12 - Tipos de concreções quanto ao número de espécimes nelas encontrados.

DISCUSSÃO Paleontologia da FGEL-UERJ apresenta


representatividade fidedigna da paleo-
Paleobiodiversidade biodiversidade observada nos aflora-
mentos do Grupo Santana.
É possível notar que uma grande
diversidade de espécies e espécimes Aspectos paleoambientais
coletados nas formações Crato e Romu-
aldo está representada na Coleção de Considerando a grande diversida-
Paleontologia da FGEL/UERJ. São 55 de mostrada, é possível sinalizar que: (i)
espécimes coletados de 10 táxons dis- o paleoambiente era bastante heterogê-
tintos e que possuem uma grande diver- neo; ou (ii) as acumulações fossilíferas
sidade de padrões bioestratinômicos condensam faunas de momentos distin-
(variações nos graus de integridade físi- tos, culminando na super-representação
ca e articulação) e fossildiagenéticos faunística nos estratos do Grupo Santa-
(variações na coloração dos nódulos na.
carbonáticos). Segundo Maisey (1991), peixes
Verifica-se maior abundância das como Brannerion sp. e Notelops brama
espécies Tharrhias araripis e Vinctifer conseguiam se estabelecer em ambien-
comptoni, as quais também têm sido tes com grande variação de salinidade.
mais abundantes nos afloramentos do A presença de Tharrhias araripis – por
Grupo Santana (Voltani, 2011; Polck et sua alimentação – é sugestiva de um
al., 2015). Contrariamente, há uma es- ambiente marinho litorâneo, já que se
cassez das espécies Notelops brama e alimentava de outras espécies que utili-
Neoproscinetes penalvai, as quais têm zam do mesmo ambiente como habitat.
sido identificadas como as mais inco- Peixes como Vincifer comptoni e
muns nos afloramentos do Grupo San- Rhacolepsis buccalis são diferentes em
tana e em outras coleções científicas seu tipo de alimentação. Rhacolepsis
brasileiras (Voltani, 2011; Polck et al., buccalis era carnívoro e se alimentava
2015). Isso demonstra que a Coleção de de camarões, enquanto Vinctifer comp-

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PEIXES FÓSSEIS DO GRUPO SANTANA (CRETÁCEO INFERIOR...

toni era herbívoro e se alimentava de diferenças na composição química dos


material em suspensão. Apesar de am- nódulos e presença de inclusões.
bos também serem considerados peixes
marinhos litorâneos (Maisey, 1991). CONCLUSÕES

Aspectos tafonômicos Dez táxons distintos de peixes


fósseis do Grupo Santana da Bacia do
De acordo com Saraiva et al. Araripe estão representados na Coleção
(2007), estratos posicionados em níveis de Paleontologia da FGEL/UERJ: Das-
mais superiores do Formação Romualdo tilbe crandalli, Notelops brama, Rhaco-
apresentam fósseis tridimensionais, e os lepis buccalis, Tharrhias araripis, Vinc-
níveis mais inferiores, fósseis compri- tifer comptoni, Calamopleurus cylindri-
midos. Considerando essa afirmativa, é cus, Cladocyclus gardneri, Neoprosci-
possível que a maior parte dos espéci- netes penalvai, Brannerion sp. e Elo-
mes da Coleção de Paleontologia da pomorpha indet. A espécie Tharrias
FGEL seja proveniente de níveis mais araripis é a mais abundante na coleção
inferiores do Formação Romualdo, e em virtude da sua alta abundância nos
que a maioria dos espécimes de Rhaco- afloramentos da Formação Romualdo.
lepsis buccalis seja oriunda de estratos O único táxon observado em calcários
mais superiores dessa unidade. da Formação Crato consiste no táxon
Os fósseis articulados indicam um mais abundante nos afloramentos dessa
rápido soterramento e fossilização e, em unidade. As espécies mais raras na co-
contrapartida, os fósseis desarticulados leção são também aquelas mais raras
e desassociados indicam que houve um nos afloramentos da Formação Romual-
lento soterramento e fossilização (Holz do. A Coleção de Paleontologia da
& Simões, 2002). Segundo Holz & Si- FGEL/UERJ engloba majoritariamente
mões (2002), uma prolongada exposi- peixes fósseis oriundos dos estratos
ção à água ou sedimento interfere na mais inferiores da Formação Romualdo.
reorientação e desarticulação do fóssil, A maioria dos espécimes de Rhacolep-
principalmente em partes mais frágeis sis buccalis é proveniente dos estratos
como nadadeiras ou crânio (devido à mais superiores da Formação Romual-
alta mobilidade da junção atlas-áxis). É do. Um ambiente mais salinizado – pos-
possível que essa interferência tenha sivelmente um ambiente litorâneo –
ocorrido durante a história tafonômica pode ter sido o cenário paleoambiental
de muitos dos espécimes aqui estuda- dos peixes da Formação Romualdo. A
dos, visto que há somente uma pequena maioria dos espécimes experimentou
porcentagem de espécimes com grau e exposição na interface sedimento-água
articulação “articulado” ou mesmo “as- antes do soterramento. Essa pesquisa é
sociado”. Um ambiente de alta energia fundamental para que esses fósseis sir-
– a exemplo de ambiente litorâneo, in- vam de material didático para futuras
terpretado para a Formação Romualdo – análises e demonstrações em sala de
também auxilia na fragmentação e de- aula. Além disso, representam os aspec-
sarticulação. Possivelmente, a diversi- tos tafonômicos mais comuns nessa
dade de coloração dos nódulos carboná- bacia sedimentar, conferindo um enri-
ticos está relacionada à alta exposição quecimento prático do conteúdo de dis-
na interface água/sedimento, diferenças ciplinas relacionadas à Paleontologia,
na associação com material orgânico e permitindo uma aula mais dinâmica e
com níveis distintos de oxigenação e satisfatória.
eutrofização, o que pode refletir em
Agradecimentos

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Letícia Paiva Belfort & Hermínio Ismael de Araújo-Júnior

À Fundação Carlos Chagas Filho paleodistribution in South Ameri-


de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio ca. Revista Geológica de Chile,
de Janeiro (FAPERJ) pela concessão da 30(1): 117-127.
bolsa de Iniciação Científica a LPB Carvalho, M. S. S., Santos, M. E. C. M.,
(processo nº E-26/200.082/2018); a V. 2005. Histórico das Pesquisas Pa-
Gallo, P.M.M. Brito e M.A.R. Polck leontológicas na Bacia do Araripe,
pelo auxílio na identificação dos espé- Nordeste do Brasil. Anuário do
cimes fósseis; a R. Souza-Lima, L. An- Instituto de Geociências, 28: 15-
tonioli e L.M.A.K. Thiago pelas críticas 34.
e sugestões que permitiram o aprimo- Holz, M., Simões, M. G., 2002. Ele-
ramento deste trabalho; a M.F. Beleri- mentos Fundamentais de Tafono-
que e à Coleção de Paleontologia da mia. Editora da Universida-
FGEL-UERJ pelo auxílio durante a aná- de/UFRGS, Porto Alegre, 222 p.
lise do material e liberação dos espéci- Kellner, A. W. A., 2002. Membro Ro-
mes para análise, respectivamente. mualdo da Formação Santana,
Chapada do Araripe, CE. Um dos
REFERÊNCIAS mais importantes depósitos fossi-
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In: Horodyski, R. S., Fernando, E. Geológicos e Paleontológicos do
(Org) Tafonomia: Métodos, Pro- Brasil. DNPM/CPRM/SIGEP4 p.
cessos e Aplicação. Editora CRV 121-130.
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