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MEDICINA DE RÉPTEIS

UNIDADE IV
MEDICINA DE QUELÔNIOS
(TESTUDÍNEOS)
E CROCODILIANOS
Elaboração
Rafael Prange Bonorino

Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração
SUMÁRIO

UNIDADE IV
MEDICINA DE QUELÔNIOS (TESTUDÍNEOS) E CROCODILIANOS..................................................5

CAPÍTULO 1
BIOLOGIA E CRIAÇÃO DE QUELÔNIOS................................................................................. 5
CAPÍTULO 2
CLÍNICA E CIRURGIA DOS QUELÔNIOS .............................................................................. 10
CAPÍTULO 3
CRIAÇÃO E MEDICINA DE CROCODILIANOS....................................................................... 29
REFERÊNCIAS.........................................................................................................................44
MEDICINA
DE QUELÔNIOS
(TESTUDÍNEOS)
UNIDADE IV
E CROCODILIANOS

Capítulo 1
BIOLOGIA E CRIAÇÃO DE QUELÔNIOS

1.1. Biologia
Quelônios são répteis anápsidos: crânio sólido, primitivo, sem aberturas temporais
(fenestrae temporalis) superior e inferior = cavidades do crânio associadas aos músculos
da mandíbula. São as tartarugas, os cágados, os jabutis e outros.

Aproximadamente 20% das 278 espécies de quelônios do mundo ocorrem na América


do Sul. Há atualmente 2 subordens (Cryptodira e Pleurodira), que compreendem 14
famílias, 90 gêneros, 319 espécies e 146 subespécies, totalizando 465 diferentes animais
(DUTRA, 2014).

Geralmente, os testudíneos têm oito vértebras cervicais (pescoço) e têm grande


mobilidade do pescoço. A forma como o recolhem determina a classificação em duas
subordens:

» Cryptodira: retrai pescoço para trás, em “S”. Ex.: jabuti tinga – Geochelone
denticulata.

» Pleurodira: recolhe pescoço lateralmente. Ex.: cágado de barbicha – Phrynops


geoffroanus.

Animais da ordem Testudines diferem de outras ordens dos répteis por terem a coluna
vertebral fixada à carapaça. Além disso, são os únicos répteis cuja escápula está localizada
ventralmente às costelas (DUTRA, 2014).

“Testudines” e “quelônios” são sinônimos, mas, no meio cientifico, é mais usado o termo
“Testudines”.

As tartarugas são os animais mais ameaçados entre os grupos de vertebrados, mais


que as aves, os mamíferos, os peixes cartilaginosos e os anfíbios (VAN DIJK et al., 2012).

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Segundo a lista vermelha de animais ameaçados de 2010 da International Union for


Conservation of Nature (IUCN), 134 espécies de tartarugas são consideradas globalmente
ameaçadas (categorias 'Criticamente em Perigo', 'Em Perigo' ou 'Vulneráveis'), com 76
espécies (33,3% das espécies listadas e 23% de todas as espécies existentes) consideradas
“Criticamente em Perigo” ou “Em Perigo”.

1.2. Anatomia e fisiologia


Bico córneo sem dentes, com placa queratinizada dura e afiada tanto no maxilar como
na mandíbula (FREITAS, 2011).

A cavidade nasal se comunica com a oral pela fenda palatina (coana). Esta ocorre em
todos os répteis, exceto crocodilianos.

Como em todos os répteis, a velocidade da digestão estará condicionada a fatores


ambientais e patologias presentes. Baixas temperaturas (4 a 5 ºC) inibem a secreção
gástrica.

Quanto à dieta, temos dois grupos alimentares, os herbívoros e os carnívoros, sendo


que o trato gastrintestinal dos herbívoros é maior que o dos carnívoros. Os herbívoros
são representados pelos jabutis, animais terrestres que se alimentam de frutas, vegetais
e pouca proteína animal. Não processam a comida na cavidade oral; realizam pequena
mastigação e engolem. Os gastrólitos (pedras) encontrados no estômago podem ajudar
na trituração. A decomposição simbionte de tecido vegetal ocupa papel no ceco e no
cólon. Entre os terrestres, podemos encontrar espécies como a tartaruga Galápagos
(G. nigra), que pode alcançar 1,80 m (DUTRA, 2014).

Quanto aos aquáticos, estes são carnívoros e representados pelas tartarugas marinhas,
cágados e tigres d’água.

1.2.1. Anatomia e fisiologia respiratória

Como todos os répteis, quelônios fazem a troca gasosa por pulmões. Uma característica
curiosa nos répteis em geral é a capacidade de fazer apneia, principalmente entre os
quelônios aquáticos, que mantêm uma reserva de ar em sacos aéreos para realizar a
troca gasosa nos pulmões. Essa hipóxia provocada não é um problema para esse grupo,
pois, primeiro, seu sistema nervoso central pode utilizar vias anaeróbicas e não ser
facilmente danificado por hipóxia; segundo, as tartarugas podem manter um volume
normal de oxigênio mesmo durante carência prolongada, isto é, possuem uma pressão
de oxigênio alveolar pouco crítica.

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O dióxido de carbono (CO2), devido à sua difusibilidade relativamente alta, é facilmente


eliminado por difusão por meio da pele úmida. Pela sua solubilidade relativamente
baixa, o oxigênio difunde-se muito mais vagarosamente do que o CO2 por meio da
pele queratinizada, e o volume de oxigênio aquático é sempre menor que o volume
de CO2 aquático.

Entretanto, pode haver uma pequena troca gasosa pela pele, pela orofaringe ou pela cloaca
em tartarugas aquáticas, resquício evolutivo de seus ascendentes anfíbios (DUTRA, 2014).
A anatomia e a fisiologia cardíaca apresentam as mesmas características das serpentes.

A frequência cardíaca de répteis está relacionada a temperatura, tamanho, metabolismo


e estado respiratório. Durante longos períodos de apneia, há uma tendência a baixas
razões cardíacas. A frequência cardíaca mais baixa é associada ao maior tamanho
corporal. O miocárdio de tartarugas pode trabalhar pela via anaeróbica, de acordo com
os estoques de glicogênio (PRITCHARD, 1979).

Em geral, os mergulhos são acompanhados por diminuição na frequência cardíaca,


menos que na respiração aeróbica. Na iminência de voltar à superfície, há um aumento
na frequência cardíaca. A bradicardia durante o mergulho é acompanhada de resistência
periférica vascular e pressão arterial central mantidas. Durante o mergulho, diminui-se
o débito cardíaco, o consumo de oxigênio, e ocorre vasoconstrição no leito vascular
periférico, tal como musculatura estriada esquelética. O metabolismo muda de uma via
oxidativa para anaeróbica, e o leito vascular é redistribuído para sistema nervoso central
e coração (MCARTHUR, 2004).

Quanto à fisiologia, o sistema renal pode variar de acordo com a espécie. Quelônios
terrestres de ambientes áridos tendem a ser uricotélicos (excretando nitrogênio
principalmente como ácido úrico e uratos) ou ureouricotélicos (excretando
uma combinação de ácido úrico e ureia), enquanto espécies semiaquáticas são
aminoureotélicas (FRYE, 1991).

1.2.2. Sistema esquelético motor

O casco protetor tem o formato de placas soldadas; é constituído por uma porção dorsal,
a carapaça, e por uma porção ventral, o plastrão, que fazem parte do exoesqueleto
dos quelônios. Lâminas córneas recobrem essa estrutura óssea e são trocadas
periodicamente, em partes.

O endoesqueleto é a porção interna do casco. A coluna está aderida à carapaça e é


composta por 40 a 50 vértebras, nas quais as únicas móveis são as cervicais e as caudais.
As costelas são curtas e soldadas na carapaça (FREITAS, 2011).

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T1. Nutrição
Uma tartaruga mantida em ambiente frio não pode manter um metabolismo ativo, o
que leva à diminuição do consumo de comida e água. A taxa metabólica em tartarugas
é de aproximadamente 25 a 35% da taxa metabólica de um mamífero (MILLER, 2008).
Sua necessidade alimentar compreende de 15 a 30% do seu peso vivo. As necessidades
aumentam com a atividade de predação, reprodução, crescimento e produção de
proteínas (cicatrização).

As tartarugas aquáticas começam suas vidas como carnívoras e terminam como onívoras
na vida adulta. Carnívoros verdadeiros incluem as tartarugas mordedoras (C. serpentina)
e tartarugas de casco mole (Apalone sp.), ainda que tenham sido encontrados materiais
vegetais no conteúdo gástrico dessas espécies. As tartarugas caixa (T. carolina) são
onívoras, alimentando-se de musgos, minhocas, frutos e pequenos invertebrados.

Os jabutis são primariamente herbívoros. Já as grandes tartarugas de terra alimentam-se


de grama, forragem e vegetais. Muitas tartarugas aquáticas e terrestres consomem
tanto material vegetal quanto animal. Por isso, ser carnívora ou herbívora dependerá
da predominância de material animal ou vegetal que elas ingerem, respectivamente.
Os representantes aquáticos podem se alimentar de ração comercial peletizada. Essas
dietas são ricas em proteína e gordura (FREITAS, 2011).

Carne de peixe é o ingrediente mais utilizado das rações peletizadas. Entretanto, são
carentes em vitaminas essenciais e minerais. As rações extrusadas perdem as vitaminas
no beneficiamento pelo calor. Por isso, o ideal é uma suplementação de alimentos
vegetais frescos. O erro mais comum é ofertar somente um pequeno crustáceo, o que
pode levar a distúrbios nutricionais (MCARTHUR, 2004).

1.3. Criação comercial de quelônios


A antiga IN n. 169, de 2008, do IBAMA, determinava que somente as espécies que
podem ser criadas comercialmente eram do gênero Podocnemis sp (tracajá, tartaruga
da Amazônia) e Kinosternon scorpioides (muçuã), exclusivamente com a finalidade de
abate, e só podiam ser criadas em determinadas regiões que tenham esses animais em
vida livre (anexo I e II). Em todas as criações, eram exigidos plano de manejo e detalhes
do ambiente criatório.

Entretanto, atualmente, a normativa se tornou mais branda, pois notam-se criações de


tigre-d’água nacional e jabuti sendo vendidas legalmente com registro do Ibama, como na
fazenda Reserva Romanetto no Paraná (nota do autor). Deve-se considerar sempre que a
legislação é dinâmica. Portanto, poderá haver mudanças e novas permissões ou proibições.

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Medicina de quelônios (testudíneos) e crocodilianos | UNIDADE IV

1.3.1. Criação de quelônios terrestres

São animais com expectativa de vida de mais de 80 anos, maturidade sexual por volta
dos 6 anos. O acasalamento pode ocorrer por todo o ano. A nidificação acontece durante
a primavera e o verão, colocando entre 2 e 15 ovos, podendo realizar mais de uma
postura por período de nidificação. Incubam seus ovos por um período muito longo,
variando de 4 a 10 meses, com uma média de 150 dias.

Em criação extensiva, o recinto deve ter no mínimo de 3x2x1 m. Utilizam-se como


substrato: terra, grama e plantas. Temperatura do ambiente deve ser de 26 a 32 ºC; acima
disso, pode induzir pneumonias. Deve-se evitar locais muito úmidos por propiciarem
fungos e bactérias e apodrecimento dos escudos córneos. Podem se alimentar de ração
para cães, frutas, vegetais, flores e eventualmente de carne (FREITAS, 2011).

O terrário pode albergar caixas plásticas, amianto ou madeira, com o substrato relatado.

1.3.2. Criação de quelônios aquáticos

Recintos com água com, no mínimo, 0,5 a 1,2 m, com rampa. Recinto para cria:
recebimento dos filhotes pode durar de seis meses a um ano, dependendo do
desenvolvimento dos animais. Comedouros devem ficar, de preferência, fora da água;
para evitar o desperdício, uso de ração peletizada. Sistema de proteção telada é usado
para evitar a predação.

Figura 78. Espécimes de tartaruga-da-Amazônia (P. expansa) em quelonário (Belém-PA).

Fonte: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/125987/1/CPAF-AP-2015-Quelonicultura.pdf.

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Capítulo 2
CLÍNICA E CIRURGIA DOS QUELÔNIOS

2.1. Introdução
Animais estão crescendo entre as criações e podendo ser vendidos de forma legalizada
com registro. Entretanto, muitos ainda são vendidos de forma ilegal.

Nos jabutis, o dimorfismo sexual é mais acentuado, e o macho apresenta um plastrão


côncavo, enquanto, na fêmea, o plastrão é reto. Quando muito jovens, essa diferença
ainda não é perceptível. A cauda dos machos é maior, e suas unhas costumam ser
maiores do que as das fêmeas. O formato da abertura caudal do plastrão é mais amplo
e em forma de “U” na fêmea (para facilitar a postura) e mais estreito no macho, em
forma de “V”.

2.2. Semiologia
Para os aquáticos, observa-se o seu movimento na água, como já mencionado. Em
animais terrestres, observa-se o andar em círculos ou claudicação. Deve-se observar
alimentação, defecação e prostração.

Entre os quelônios, a contenção mais cuidadosa é a da tartaruga-mordedora, contendo-


a nas laterais do casco, longe de seu bico córneo.

A inspeção dos olhos pode indicar hipovitaminose A, quando as pálpebras ficam


edemaciadas e os olhos fechados (blefaroespasmo e conjuntivite), além de abscessos
na pele por ressecamento por metaplasia escamosa. A pele, embora seja seca, não pode
descamar nem ter a aparência desvitalizada. O turgor cutâneo é mais lento do que nos
mamíferos. Narinas obstruídas podem significar alterações respiratórias.

A abertura da cavidade oral não é fácil. Os quelônios relutam em abri-la. Por isso, devem-
se usar espátulas ou pinças. Observe placas diftéricas, necroses e muco.

O casco é um dos principais locais para se observar. O casco desses animais deve
ser rígido, o que é verificado na pressão manual. Casco mole é sinal de problemas
alimentares, água com limo e algas, além de temperatura e umidade ambiental
inadequadas, bem como infecções bacterianas e fúngicas. Mordida por predadores,
entre eles, o cão, também é muito comum, principalmente nos filhotes de jabutis.

Queimaduras que expõem as porções ósseas ocorrem em animais de vida livre,


principalmente, e são uma causa comum de atendimentos de animais em Centros de
Triagem e Zoológicos.

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A pesagem deve ser feita para cálculos de medicamentos, além de ser um parâmetro
de doenças como a doença osteometabólica, que costuma atrofiar os animais. Deve-se
levar em consideração que os répteis crescem por toda a vida (WERTHER, 2014).

Radiografias são usadas para determinação de pneumonias, processo obstrutivo e outros.

Endoscopia, ultrassonografia e tomografia computadorizada são outras técnicas de


imagem que podem ser utilizadas para diagnóstico em quelônios, mas apresentam
algumas limitações.

A endoscopia tem um risco de contaminação, pois se trata de uma técnica invasiva, na


qual ocorre perfuração da cavidade celomática. Além disso, ainda há a necessidade de
anestesia local ou geral do animal, dependendo do seu tamanho.

A ultrassonografia tem acesso limitado em quelônios por causa do casco, podendo


acessar apenas pelas aberturas ao redor dos membros posteriores e anteriores.

A tomografia computadorizada ainda tem um limite de custo para se realizar rotineiramente,


além de também necessitar de uma anestesia geral para imobilizar completamente o animal.
A interpretação do exame depende de pessoas especializadas (FREITAS, 2011).

2.3. Anestesia em quelônios


Como todo o animal pecilotérmico, a resposta à anestesia, como para qualquer fármaco,
dependerá da temperatura ambiental. Por isso, para atingir o resultado, deve-se aclimatar
o ambiente para que os fármacos atinjam seus efeitos.

Havia um desconhecimento de que os répteis não sentiam dor, mas isso foi descartado
pelas reações demonstradas por apatia, inapetência e gemidos que os quelônios (melhor
do que os outros répteis) emitem.

Para eles, também são administrados opioides, principalmente quando a cirurgia envolve
correção de casco, que compromete estruturas ósseas.

Agentes injetáveis são necessários para intubação endotraqueal, sendo que os


benzodiazepínicos são pouco usados, pois induzem pouca sedação.

Outrora, a hipotermia foi erroneamente usada para anestesiar, o que é maléfico.


Achava-se que, pelo fato de o animal entrar em hibernação, entrava também em plano
anestésico. Esse método não promove analgesia nem anestesia, mas dor e diminuição
do metabolismo de forma tão acentuada, podendo provocar necrose cerebral por
hipoperfusão (DUTRA, 2014).

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Pelas diferentes vias de administração, a cetamina pode ser usada com doses que
variam de 20 a 50 mg/kg e, de preferência, combinada com algum fármaco sedativo.
Associada com xilazina e meperidina, diminui a dose da cetamina quando isolada e evita
o prolongamento da anestesia, o que já é comum nos répteis, visto seu metabolismo.
Tiletamina e zolazepan, na dose de 6 mg/kg, também têm bons resultados. Alguns
autores relatam depressão cardiorrespiratória, mas são casos isolados.

Embora os répteis sejam relativamente seguros para anestesiar e suas doses sejam um pouco
maiores se comparados aos mamíferos, são frequentes relatos de animais retornando do
efeito anestésico até 72 horas depois. Isso tem relação com a extensão da cirurgia/anestesia,
associada a um quadro de dor, o que os faz entrar em uma suposta prostração.

Propofol é um dos preferidos, pela ação curta e obrigatoriamente pelo acesso vascular,
que pode ser intraósseo. É um fármaco usado como indução (5-10 mg/kg) e por infusão
contínua como manutenção (0,3-0,5 mg/kg/min), sendo a apneia um efeito comum
quando aplicado de forma rápida. Pode ser usado para indução e após os agentes
inalatórios, como manutenção.

Agentes inalatórios devem ser usados. Vaporizador calibrado em fluxo de oxigênio


e sistema não circular reinalante são indicados em pequenos quelônios de até 10
kg. O isoflurano é usado para todos os animais por sua rápida indução e tempo de
recuperação e pouco efeito depressor; para indução, a 5%; e, para manutenção, a 2,5%
(SCHUMACHER, 2006).

Figura 79. Jabuti anestesiado com propofol, entubado com Baraka e monitorado.

Fonte: Dutra, 2014.

Por experiência pessoal, para animais ariscos, principalmente os aquáticos, costumo


usar fármacos injetáveis de forma intramuscular em membro torácico, uma vez que o

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acesso a alguns vasos pode se tornar exaustivo. A partir dos primeiros efeitos sedativos,
faz-se o acesso da veia jugular (nesse caso, o animal não estará mais retraído, manterá
a cabeça estendida e relaxada), assim como a intubação, pois facilitará a abertura do
bico córneo. Em aplicações musculares, pode-se levar de 15 a 20 minutos para os
primeiros efeitos.

Animais agressivos, como a tartaruga-mordedora (C. serpentina), requerem combinações


com doses altas de cetamina (20 a 40 mg/kg) + midazolan (2 mg/kg). Um autor usou a
via intracelomática em tigre-d’água, produzindo excelente relaxamento e plano cirúrgico
(SCHUMACHER, 2006).

Entubar répteis é mais fácil do que mamíferos, pois a glote se localiza na base da língua.
O traqueotubo não pode ter cuff, pois répteis possuem anéis traqueais completos, o
que pode levar ao rompimento, caso se insufle.

Há alguns estudos sobre anestesia peridural em répteis para cirurgias nos membros
pélvicos, a indicando como uma técnica segura. Para tanto, utiliza-se a dose de lidocaína
sem vasoconstritor 0,2 ml para cada 10 cm de carapaça, injetada entre 15º e 22º
coccígea. O período de latência para a anestesia da cauda é, em média, de 30 segundos.
A anestesia para os membros pélvicos varia em média de três a quatro minutos. O
período hábil anestésico, de relaxamento muscular e anestesia é de cerca de 56 minutos
para o membro pélvico e de 80 minutos para a cauda. Essa técnica é recomendada para
prolapsos de pênis, vagina e reto.

Obs.: para mais informações, procure o trabalho de dissertação de mestrado (CARVALHO,


2004) ao final, na bibliografia.

Os parâmetros anestésicos são pouco perceptíveis quando comparados aos mamíferos,


mas, durante o plano cirúrgico anestésico, o reflexo palpebral deve estar ausente. O
reflexo corneal pode estar presente, mas, se estiver ausente, indica que o plano cirúrgico
está profundo. Reflexos adicionais monitorados são os da cauda, dos dedos e cloacal
(CARVALHO, 2004).

O Doppler na forma de ponteira é colocado na entrada do tórax, próximo ao coração.


A cateterização arterial é bastante difícil e possível apenas na artéria carótida esquerda,
após incisão da pele e dissecção (SCHUMACHER, 2006).

Caso ocorra apneia, o paciente necessita de ventilação assistida ou intermitente por


pressão positiva durante a anestesia, podendo ser manual ou por ventiladores mecânicos.

A hemogasometria arterial não é prática em anestesia de quelônios, especialmente os


menores, pois o acesso vascular arterial é bastante difícil.

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2.4. Diagnóstico
Como já mencionado, os vasos com melhores acessos são: veias jugular, coccígea,
braquial e subcarapaciais. Entretanto, em alguns desses vasos, pode ocorrer
contaminação linfática, perceptível quando, no momento da coleta, o sangue coletado
se torna “pálido”. Já para as veias jugulares, há menor risco dessa contaminação.

Os exames sanguíneos mais solicitados são: hemograma, ácido úrico, AST, CK, albumina
e proteína total.

2.4.1. Lavados traqueobrônquicos e urinálise


Muito comum em muitos répteis, a pneumonia pode se tornar um problema de difícil
solução quando usados antibióticos ineficazes. Por isso, uma cultura e um antibiograma
obtidos por secreções do lavado traqueobrônquico-pulmonar se fazem necessários.
Esse exame tem o objetivo de coletar, por lavado e aspiração com solução fisiológica
estéril, material para cultura bacteriana e antibiograma propícia para o agente patógeno.

A urinálise é menos útil em répteis que em mamíferos. O rim reptiliano não concentra urina,
então a avaliação de densidade é limitada para avaliação da função renal. Além disso, a urina
passa através do uródeo da cloaca antes de entrar na bexiga e, desse modo, a urina vesical
não é estéril. Ocorrem alterações no eletrólito e na água por meio da mucosa vesical ou
cloacocolônica. A urina pode ser útil para avaliações citológicas de inflamação (DIVERS, 2006).

2.4.2. Diagnóstico por imagem


A radiologia será abordada em capítulo próprio.

A ultrassonografia é limitada pela presença do casco, mas pode ser direcionada em


regiões específicas, como na virilha e na entrada do tórax, que dá acesso à cavidade
celomática. O exame permite diagnosticar prenhez, tumores, corpo estranho e outros.

Figura 80. Ultrassonografia em tartaruga marinha.

Fonte: https://scontent-gru2-2.xx.fbcdn.net/v/t31.18172-
8/18700399_1943922459197721_3651951105942447033_o.jpg?_nc_cat=106&ccb=1-7&_
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2.5. Exame clínico


Palpação inguinal permite aferir tumores, prenhez, corpos estranhos, fecalomas e
outros. Percussão da carapaça permite suspeitar de pneumonias e da qualidade desta.
A auscultação é possível para indivíduos de pequeno porte e de casco mole, fazendo
uso de toalha úmida e um bom estetoscópio pediátrico.

Figura 81. (A) Palpação inguinal; (B) ausculta com toalha.

B
A
Fonte: Dutra, 2014.

Cavidade oral deve sempre ser examinada, particularmente procurando evidência de


inflamação, infecção, gota úrica e corpos estranhos. Nos quelônios, a mucosa oral deve
apresentar coloração rosa-clara. Mucosas hiperêmicas podem ser associadas a sepse
ou toxemia.

Icterícia não ocorre, mas sim biliverdinemia, resultante de doença hepática grave.
Membranas pálidas são frequentemente observadas nos casos de anemia. Depósitos
pálidos dentro de mucosas orais podem representar infecção ou urato associado à gota
visceral (DUTRA, 2014).

2.5.1. Fluidoterapia

Como resultado de sua taxa metabólica mais lenta, répteis sintetizam água muito mais
vagarosamente que mamíferos e aves. Fluidos cristaloides e coloides são usados para
fluidoterapia. A administração de um fluido hipotônico deve ser feita com extrema
atenção em animais cronicamente desidratados, porque causa rápido desvio de fluido
dentro da célula e pode produzir edema celular e ruptura.

Usam-se cristaloides de manutenção isotônicos para répteis, como lactato de ringer


(15 a 20 ml/kg). A dextrose é adicionada a 2,5% para fazer a manutenção de fluido
isotônico (DUTRA, 2014).

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2.6. Procedimento cirúrgicos


A cicatrização de feridas é mais lenta se comparada à dos mamíferos, podendo levar
de 4 a 6 semanas para acontecer, o que pode ser facilitado por condições ambientais.
As suturas devem ser feitas com fios não absorvíveis, como o nylon ou polipropileno,
pois os absorvíveis apresentam grande chance de infecção e deiscência.

Diferentemente das serpentes e outros répteis de pele mais seca, os quelônios não
têm tendência a apresentar inversão da pele pela sutura, uma vez que não apresentam
escamas na pele e as bordas do corte não estão em aposição, e, por isso, haveria um
retardamento no processo cicatricial. Portanto, não há necessidade de se realizar o
padrão invaginante.

O diferencial entre todos os animais é o acesso à cavidade celomática, que requer o uso
de serras oscilatórias (Dremel®) para se serrar o plastrão e seu osso adjacente, mediante
esterilização por gás do equipamento. Para o procedimento, é fundamental o uso de
irrigação com solução salina para evitar o superaquecimento do osso e consequente
necrose.

O posicionamento é de decúbito dorsal, e se coloca o animal em uma calha e toalhas


laterais para estabilizá-lo à mesa cirúrgica. Como as pinças de campo não são possíveis,
fixam-se os panos cirúrgicos com adesivos estéreis.

2.6.1. Celiotomia (com plastrotomia)

Para adentrar a cavidade celomática, o único acesso é pela abertura do plastrão.


Higieniza-se o local com clorexidina ou iodopovidona, e se usa a serra oscilatória. Para
esse procedimento, é fundamental um bom plano anestésico com uso de opioides.
Realiza-se uma abertura em quadrado mediante irrigação.

Figura 82. Plastrotomia em jabuti.

Fonte: Dutra, 2014.

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Observa-se, na Figura 82, que o corte deve ser feito em cunha para evitar que o retalho
de osso se desloque para dentro no momento do reposicionamento. O corte em ângulo
mantém o contato osso a osso e promove a consolidação óssea.

Após a osteotomia, eleva-se a seção do osso com a parte traseira do bisturi. Daí podem-se
visualizar dois grandes seios venosos, um de cada lado da linha mediana que não se
pode danificar.

Realiza-se uma incisão na membrana celomática (muitos confundem com peritônio,


mas os répteis não possuem esse órgão). A partir daí, tem-se acesso à cavidade
celomática.

O trato intestinal das tartarugas é curto e preso por um mesentério curto, o que faz
com que a exteriorização das vísceras, como é feita em mamíferos, com a finalidade de
percorrer todo o intestino, seja dificultada (MCARTHUR, 2004).

Quando a celiotomia acaba, a cavidade deve ser lavada com solução fisiológica morna,
removendo-se qualquer detrito de casco ou outras contaminações. Os líquidos mornos
também servem para fornecer aquecimento interno para o paciente.

A linha medioventral deve ser fechada com padrão simples contínuo ou simples com
fio de material absorvível. O retalho ósseo é cuidadosamente limpo e colocado de volta
no local da osteotomia.

Para se selar o retalho, usa-se resina epóxi de polimerização rápida. Alguns autores
também fixam com fios de cerclagem para firmar o retalho.

Figura 83. (A) e (B) Incisão e sutura da membrana celomática; (C) epóxi para vedação em
jabuti.

A B C

Fonte: Dutra, 2014.

Alguns autores preconizam uma celiotomia por acesso pré-femoral, escapando da


necessidade da osteotomia do plastrão. Entretanto, o acesso é limitado e somente
alguns órgãos posteriores podem ser manipulados, como a bexiga, gônadas femininas
e alças intestinais. Segue-se o mesmo padrão de fechamento.

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Figura 84. Vista ventral do plastrão. Isolado com resina epóxi e fibra de vidro.

Foto: Cubas, 2014.

Figura 85. Abordagem pré-femoral: (A) tartaruga gigante de Aldabra (Aldabrachelys


gigantea) em decúbito lateral, pronta para celiotomia pré-femoral; (B) após incisão na
pele, os tecidos moles são dissecados para revelar a aponeurose fibrosa da musculatura
abdominal; (C) encerramento cutâneo.

Fonte: Frye, 1991.

Cirurgias obstétricas são muito comuns quando as fêmeas não conseguem realizar
a postura. Alguns métodos como fraturar ou aspirar os ovos podem ser usados, mas
com cautela, pois poderão ocasionar contaminação celomática; caso se proceda a esses
métodos, após a sucção, realizar a lavagem com solução salina e Tergenvet® para retirar
todos os restos de casco que sobraram.

Presença de gema de ovo, um ovo ou um ovo rompido no interior da cavidade celomática


induz a uma grave reação inflamatória, com deposição de fibrina e espessamento da
superfície das vísceras. Geralmente, o prognóstico para esses pacientes é reservado.
O tratamento consiste na remoção do material irritante e irrigação abundante da
cavidade celomática. Antibioticoterapia sistêmica, manutenção da hidratação e equilíbrio
nutricional também são vitais (PESSOA, 2008).

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Medicina de quelônios (testudíneos) e crocodilianos | UNIDADE IV

2.6.2. Prolapso de pênis


O prolapso de pênis é muito comum na rotina dos jabutis, pois o falo desses animais
fica retraído à abertura em comum que dá acesso à cloaca. É frequente também em
animais com hiperparatireoidismo secundário nutricional. Outras causas são: constipação
intestinal ou esforço (tenesmo) associados a corpos estranhos gastrintestinais, tais como
cálculos vesicais, urólitos cloacais ou parasitas.

Defeitos neurogênicos na cloaca ou no músculo retrator do pênis, lesão medular e


rompimento do músculo retrator do pênis também podem ocorrer. Lesões no pênis podem
resultar da manipulação excessiva ou vigorosa ou coito interrompido (DUTRA, 2014).

O mais corriqueiro é a amputação do pênis quando este está com tecido desvitalizado.
Em animais cujo prolapso seja recente e o órgão esteja viável, procede-se à reposição,
gelo, lavagem com Furacin e sutura em bolsa de tabaco. Mantém-se a sutura por, no
mínimo, três semanas, somente com dieta por suco de laranja, antibióticos, analgésicos
por dez dias (nota do autor). Há relatos de prolapso em tartarugas machos por
masturbação ao roçar nas pedras.

Figura 86. Prolapso de pênis em jabuti.

Fonte: arquivo pessoal.

Figura 87. Doença osteometabólica. Nota-se diminuição do tamanho do casco, exoftalmia


(provável hipovitaminose A associada).

Foto: arquivo pessoal.

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UNIDADE IV | Medicina de quelônios (testudíneos) e crocodilianos

2.6.3. Ortopedia
Fraturas de casco são uma das situações ortopédicas mais comuns em quelônios, seja por
ataque de predadores, queda, atropelamento ou mesmo por doença osteometabólica.
Para fraturas patológicas, a consolidação óssea poderá vir em 6 a 18 meses, mas, para
fraturas por osteodistrofias, somente quando se estabilizarem os valores de cálcio e
fósforo na corrente sanguínea é que se dará o processo de osteossíntese.

Após a fratura, retiram-se os debris com uma escova cirúrgica e iodo Povidine. Procede-se
à osteossíntese com fios de aço transfixando o casco em forma de “X”, ou por parafusos
ortopédicos e fios de cerclagem por fora. Ao apertar os parafusos, aproximam-se os
bordos das fraturas. Usamos resina ou cimento epóxi, retalhos de vidro autoclavado.

A DOM (doença osteometabólica), já mencionada em lagartos, acomete com frequência


os quelônios, produzindo entortamento e diminuição do casco. Neles, a hipocalcemia
virá com a dieta inadequada, pouca incidência com raios UV ou doença renal.

Problemas ortopédicos associados à DOM incluem atraso no crescimento, osteodistrofia


fibrosa, casco piramidal, encurvamento dos ossos longos e fraturas patológicas do
esqueleto axial e apendicular. Essas fraturas são difíceis de estabilizar com fixação
interna, pois o osso é macio demais para suportar os implantes. Em alguns casos, pinos
intramedulares podem ser cuidadosamente inseridos para fornecer alinhamento axial,
mas a coaptação externa também deve ser aplicada (DUTRA, 2014).

Há de se considerar que fixadores externos ou mesmo pinos intramedulares são


complicados para animais aquáticos, pois pode haver contaminação da água no contato
do implante com a pele e o osso. Por isso, faz-se necessário o uso de placas de titânio.

Figura 88. Uso de parafusos odontológicos e fios de aço em x.

Foto: arquivo pessoal.

2.7. Clínica
2.7.1. Doenças infecciosas
Um fato curioso é que os répteis não são vacinados pelo simples fato de não produzirem
imunidade ativa. Mesmo assim, processos infecciosos em répteis não costumam ser

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contagiosos. Por experiência pessoal, trabalhando com populações de répteis, raramente


se percebiam situações de contágio bacteriano. Isso não quer dizer que devemos
negligenciar. Uma vez identificado algum agente patógeno, deve-se sempre isolar esse
animal dos outros em uma quarentena de tratamento.

Entre os agentes, os gram-negativos são os mais presentes. Pseudomonas, Aeromonas,


salmonelas e pasteurelas muitas vezes fazem parte da flora bacteriana, mas podem se
tornar oportunistas. Cultura bacteriana se faz necessária.

O abscesso nos répteis é caseoso pela ausência de lisozima. Portanto, deve ser incisado
como se fosse um processo cirúrgico. Quando se percebem abscessos em quelônios,
deve-se desconfiar de hipovitaminose A, além da possibilidade de pneumonias
concomitantes (nota do autor).

Doenças virais, como herpesvírus e iridovírus, acometem diversas espécies, produzindo


lesões das mais variadas e com sintomas inespecíficos, como: necrose hepática,
hemorragias, lesões orais e infecção bacteriana oportunista. O diagnóstico se baseia em
PCR, microscopia eletrônica de transmissão ou contraste e exames sorológicos (ensaio
imunossorvente ligado à enzima [ELISA]) (DUTRA, 2014).

O tratamento é de suporte com fármacos antimicrobianos, fluidoterapia e aciclovir na


dosagem de 80 mg/kg, ainda como teste.

Entre as mais diferenciadas espécies de fungo, temos: Fusarium, Peniclium, Mucor


sp. Com lesões: dermatites, pneumonias, lesões orais etc. O diagnóstico se baseia
em histopatologia, que pode levantar suspeita de agente fúngico, mas o ideal é a
micocultura.

Agentes parasitários, helmintos, protozoários e mesmo ectoparasitas – Amblyomma sp


e Ornithodoros sp. – podem veicular hematozoários com patogenia semelhante à dos
mamíferos, como inapetência, prostração, e, para os quelônios, mucosas hipocoradas
(DUTRA, 2014).

2.7.1.1. Pneumonia

O trato respiratório dos quelônios não oferece a mesma resistência a agentes patógenos
se comparado aos mamíferos. Seus pulmões são grandes e saculados, localizados junto
à carapaça, sobre os outros órgãos. Apresenta um epitélio mucociliar deficitário e, com
isso, a drenagem dos exsudatos se torna dificultada. Não tossem e não espirram, nem
apresentam bronquíolos, o que lhes dificulta a liberação de secreções.

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Figura 89. (A) Área pulmonar normal; (B) pneumonia em jabuti.

A B

Foto: arquivo pessoal.

Na rotina veterinária, doenças respiratórias são muito comuns em aves, roedores,


quelônios e serpentes. No caso dos répteis, os animais podem ficar muitos dias
doentes sem apresentar sinais evidentes a seus tutores. Secreções respiratórias nem
sempre são observadas. Entretanto, sons de sibilo ou estalido costumam ocorrer, e os
animais mantêm o bico córneo mais aberto a depender do desconforto respiratório. Na
mesma proporção, os animais esticam a cabeça na tentativa de “captar mais ar”. Sinais
inespecíficos de inapetência e prostração também estão presentes.

Épocas e regiões de seca propiciam essa patologia. Recintos com substrato em solo
poeirento e serragem ou mesmo maravalha produzem uma poeira que, ao ser inalada,
torna-se difícil de ser expectorada.

O diagnóstico, além dos sintomas clínicos característicos, é por radiografia (a técnica


será explicada em capítulo à parte). O hemograma poderá produzir ou não alterações.

O tratamento é demorado e muitas vezes ineficiente. Nebulização com soro fisiológico


e um agente antimicrobiano de amplo espectro é útil, fluidifica as vias aéreas, que
naturalmente são secas nesses pacientes, e ajuda no processo de liberação nasal.
Associados a isso, antibióticos injetáveis, a depender da gravidade, também são
necessários (nota do autor).

O prognóstico é variável e dependerá do estado de comprometimento pulmonar.

Atenção! Antibióticos orais não costumam ser usados em quelônios devido à


dificuldade em se tentar abrir o bico córneo.

Obs.: podem-se colocar antibióticos injetáveis na forma de cloridratos para nebulização,


e a máscara conectada à narina do animal. Ou colocá-lo em uma caixa fechada e com
o nebulizador, mantendo-se o vapor.

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Medicina de quelônios (testudíneos) e crocodilianos | UNIDADE IV

2.7.2. Processos não infecciosos

2.7.2.1. Queimaduras

São comuns em jabutis de vida livre em biomas que costumam ter uma época de seca
bem marcada (Nordeste e Centro-Oeste). Nessa situação, a lâmina de queratina se
descola do osso, expondo-o. A aparência é de um animal “albino” em uma observação
leiga. O tratamento é voltado à dor e à hidratação para evitar lesões renais. Não se
podem esquecer curativos diários com ou sem bandagem e, após o retorno da vitalidade
do casco, o fechamento das partes ósseas com eugenol.

Portanto, usam-se: morfina BID nos primeiros dias, curativo com clorexidine não
alcoólico diário, antibióticos não nefrotóxicos, anti-inflamatório SID (meloxican); quando
terminarem os curativos, isolamento do casco com pasta de eugenol (não produz reação
exotérmica) e acompanhamento por hemograma, ácido úrico, ureia e AST.

O prognóstico dependerá da extensão e da profundidade das lesões. Assim como


nas fraturas, as queimaduras podem promover necrose do casco, necessitando de
prótese.

Figura 90. Queimadura em jabuti, região caudal expondo a vascularização óssea.

Fonte: arquivo pessoal.

Figura 91. Uso de eugenol em jabuti queimado.

Fonte: arquivo pessoal.

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Tabela 5. Doses de medicamento para testudíneos.

Antibióticos Dose Comentários


Atb, infecções respiratórias,
Amicacina 5 mg/kg a cada 48 h
digestórias
22 mg/kg IM, SC, oral
Amoxicilina Atb, alt. respiratórias, digestórias
2 xdia, 3 a 4 semanas
Ampicilina 20mg/kg IM 1 xdia Doenças ulcerativas do casco
Azitromicina 10 mg/kg a cada 48 h VO Em hematozoários
Cefotaxima 20 a 40 mg/kg 1 x dia,IM Atb
ceftazidima 20 mg/ kg SC, IM a cada 72 h Contras Pseudomonas
Ceftiofur 2,2 mg/ kg as cada 24 h Infecção respiratória

Clortetraciclina 200 mg/ kg VO a cada24 h

Ciprofloxacina 10 mg /kg a cada 48 h

Clindamicina 5 mg/ kg 2 xdia

Doxiciclina 5 a 10 mg/ kg 1 x dia 45 dias Micoplasmose, hematozoário

Enrofloxacina 5 mg/ kg a cada 48 h

Gentamicina 6 mg/ kg a cada 72 h

Metronidazol 20 mg/ kg IV, VO a cada 24 h Anaeróbicos

Sulfametoxazol 45 – 90 mg / kg IM, 1 x dia

Antivirais

Aciclovir 80 mg/ kg a cada 24 h, 10 dias Herpesvírus

Antifúngicos

1 mg / kg 24 – 72 h 14 – 28 dias
Anfotericina B 0,1 mg/ kg intratraqueal ou intrapulmonar a Aspergilose, pneumonia fúngica
cada 24 h 4 semanas

Fluconazol 21 mg/ kg

Griseofulvina 20 a 40 mg/ kg Vo 72 h

Cetoconazol 25 mg/ kg VO a cada24 h 4 semanas

Antiparasitárias

Albendazol 50 mg/ kg VO Ascaridicida


Levamisole 10 a 20 mg/ kg Imunoestimulante
Praziquantel 8 a 10 mg/ kg Im,Sc Repetir em 14 dias

Anestésicos

Cetamina + butofarnol 10 a 30 mg + 0,15 mg/kg Procedimentos curtos


Cetamina+ midazolan 60 a 98 mg + 2 mg Anestesia
Cetoprofeno 2 mg / kg a cada 24 h Analgésico
Meloxican 0,1 a 0,2 mg/ Kg IM Analgésico

Fonte: Bretas, 2007.

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Medicina de quelônios (testudíneos) e crocodilianos | UNIDADE IV

Obs.: para pesquisa de outros fármacos, consulte o guia Bretas, 2007.

A ivermectina, tão extensamente usada em várias espécies, inclusive aves e outros


répteis, é tóxica aos quelônios, causando-lhes morte por ataxia e insuficiência
respiratória!

2.7.2.2. Desidratação

O consumo de água é marcadamente diminuído em répteis que trocaram a alimentação rica


em folhagens tenras por peletizadas, quando a umidade diminui ou quando são mantidos
a uma temperatura muito baixa. Pode ocorrer concomitantemente a outras doenças.

Temperaturas menores que as ótimas de manutenção diminuem a razão metabólica,


o que diminui a taxa de filtração glomerular e inibe o restabelecimento da função
glomerular.

Caso a ingestão de água seja ineficiente, deve ser feita a administração parenteral
por via intracelomática (na abertura da virilha), intraóssea (um pouco mais difícil, pela
cortical densa) ou intravenosa, que, no caso, pode ser pelas veias jugulares. Os quelônios
desidratados apresentam olhos fundos, pele seca, depressão e anorexia (FRYE,1986).

2.7.2.3. Distúrbios renais

Vários fatores podem desencadear distúrbios renais. Proteína de baixa qualidade leva
à excessiva excreção de nitrogênio, e excreção de nitrogênio não proteico derivado de
quitina (exoesqueleto de invertebrados) ocorre por via renal. A excessiva excreção de
potássio também causa precipitação de uratos. Tais fatores, somados a limitado consumo
de água e componentes secundários, como temperaturas frias e estresse crônico, podem
levar à insuficiência renal.

A chave para prevenir a insuficiência renal é dieta (alto conteúdo de água, proteína
de alto valor biológico, consumo cuidadoso de sódio, potássio e fibra, e controle de
ingredientes acidogênicos), fornecimento adequado de água e manejo alimentar (para
regular o pH urinário), de temperatura e de umidade. O manejo dietético de répteis
deve compreender ingestão de proteínas de alto valor biológico e restringir o consumo
de fósforo (FRYE, 1986).

2.7.2.4. Gota úrica

Decorre da deposição de urato nos órgãos e articulações, tendo como causa dietas com
níveis de proteína de baixa qualidade associadas à desidratação. O consumo hídrico

25
UNIDADE IV | Medicina de quelônios (testudíneos) e crocodilianos

está intimamente associado a essa patologia, em que muitas vezes não se tem a oferta
de água.

Qualquer distúrbio na excreção renal de ácido úrico predispõe a precipitação de cristais


de ácido úrico. O tratamento de gota inclui terapia, suporte e diurese. Podem-se
usar inibidores de ácido úrico como o alopurinol. Para o manejo da dieta, utilizam-se
alimentos com baixo índice de purinas e promove-se a acidificação (DONOGHUE, 2006).

2.7.2.5. Cálculos vesicais

Nutricionalmente, cálculos císticos se relacionam a excesso de vitamina D, vitamina C,


cálcio, sódio, fósforo e magnésio na dieta, baixa umidade de dietas peletizadas, retenção
urinária, anormalidades na excreção de cálcio, sódio ou fósforo, pH alterado (ácido para
oxalato de cálcio e alcalino para fosfato de cálcio) e baixa ingestão hídrica. O tratamento
visa corrigir os fatores predisponentes, além da cirurgia de cistotomia (DONOGHUE, 2006).

2.7.3. Jejum
O jejum pode ter várias causas, entre elas: doenças, temperatura inapropriada ou mesmo
populações em que alguns indivíduos se sobrepõem a outros e os impedem de se
alimentar. Isso pode levar a fígado esteatótico. Um dos tratamentos, além de corrigir
o fator etiológico, é aumentar a temperatura ambiental, e, caso o animal não queira se
alimentar de uma oferta variada de legumes e frutas frescas, realizar a esofagostomia,
em que se insere uma sonda nasogástrica 12 atrás da mandíbula e por ela se colocam
alimentos batidos com frutas e vitamínicos.

Figura 92. Sonda esofágica em jabuti.

Fonte: Dutra, 2014.

2.7.4. Casco piramidal

Essa enfermidade é evidenciada pela presença de torres no casco. Em muitos casos, os


animais não apresentam sintomas. As causas são alimentares e envolvem o consumo

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Medicina de quelônios (testudíneos) e crocodilianos | UNIDADE IV

excessivo de proteína, gordura, cálcio e fósforo. Em cativeiro, jabutis jovens mantidos


com excessiva comida no ambiente de baixa umidade são predispostos ao crescimento
piramidal (MCARTHUR, 2004).

Figura 93. (A) O jabuti da esquerda tem piramidismo, o da direita está normal; (B) detalhes
do piramidismo. Nota-se encurvamento do casco.

Foto: arquivo pessoal.

2.7.5. Hiperparatireodismo renal secundário

Como já relatado, as deficiências de cálcio ou vitamina D3, assim como baixa exposição
a raios solares, levam à doença osteometabólica.

Em carnívoros, a deficiência de cálcio é geralmente associada a dietas de musculatura


esquelética e vísceras sem ossos, dietas de presas neonatais, como camundongos e
pintinhos de um dia, ou dietas de insetos não suplementados.

Em herbívoros, a deficiência se origina de dietas desprovidas de legumes e suplementos


de cálcio. A absorção de cálcio é diminuída em dietas contendo fitatos (especialmente
ingredientes de soja), oxalatos (espinafre), alta concentração de gordura (rações de
desempenho) ou dietas ácidas (rações felinas) e em dietas deficientes em vitamina D3
(MCARTHUR, 2004). Na dieta, adicionar farinha de ossos ou fosfato de cálcio.

Para animais com paresia ou tremores hipotetânicos, administra-se cálcio endovenoso,


ou mesmo subcutâneo, além da hidratação. Cuidado com a excessiva administração de
vitamina D, pois poderá ocasionar toxicidade.

2.7.6. Hipovitaminose A

É um problema crônico muito comum e atribuído ao manejo alimentar errado.


Alguns animais são alimentados exclusivamente por alface, carne bovina e, na melhor
das hipóteses, ração para cães (no mercado, já existem rações próprias para quelônios
carnívoros e para herbívoros).

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UNIDADE IV | Medicina de quelônios (testudíneos) e crocodilianos

A queixa principal dos proprietários é o baixo crescimento, mas a mais evidente é o


blefaroespasmo (edema e fechamento de pálpebras). Essa hipovitaminose resulta em
metaplasia escamosa na pele, na qual a pele se torna seca e desvitalizada, produzindo
abscessos principalmente na face dos animais (aurais) e, em muitos casos, pneumonia
secundária à deficiência dessa vitamina no epitélio das mucosas (nota do autor).

O tratamento se direciona a retirar os abscessos e corrigir as causas, com: aplicação


de vitamina A injetável (Monovim A ® 200 UI/kg IM ou SC) 1 vez por semana e fontes
desta na alimentação, como em óleo de fígado de peixe, Emulsão Scott® e alimentos
vegetais, como pimentões verde e amarelo, muito apreciados pelos jabutis. A patologia
pode progredir para uma pneumonia.

Figura 94. Hipovitaminose A, blefaroespasmo e abscessos.

Foto: arquivo pessoal.

2.7.7. Hipovitaminoses B1 e E

Os répteis carnívoros aquáticos são suscetíveis a deficiências de tiamina, por causa da


tiaminase, e de vitamina E, por causa de altos níveis de ácidos graxos poli-insaturados
em peixes. Cuidados devem ser tomados para assegurar que os peixes sejam frescos (ou
congelados e descongelados em temperaturas frias) e sem evidência de peroxidação
lipídica (MCARTHUR, 2004). Sintomas incluem ataxia, tremores musculares, cegueira
e bradicardia. Sinais de deficiência de vitamina E incluem anorexia e crescimentos
nodulares dolorosos sob a pele (esteatite). Para tratamento, a tiamina pode ser dada
parenteral e oralmente.

28
Capítulo 3
CRIAÇÃO E MEDICINA DE CROCODILIANOS

3.1. Introdução
O surgimento dos crocodilianos ocorreu há mais de 200 milhões de anos, e eles formam,
atualmente, a ordem Crocodylia, pertencente à subclasse Archeosauria, a mesma dos
dinossauros e das aves (WALKER, 1972), o que torna muito próximas as características
entre aves e crocodilianos.

A reprodução desses animais costuma ocorrer no verão. As fêmeas dos crocodilianos são
as que possuem o melhor cuidado com seus filhotes, chocando os ovos e permanecendo
por mais tempo com a prole, ensinando, protegendo e alimentando. O ninho pode ser
construído com material vegetal ou mesmo um simples buraco na areia próximo ao rio.
São comuns posturas de 20 a 70 ovos (BASSETTI; VERDADE, 2014).

Esses predadores estão distribuídos por quase todo o clima tropical, podendo ser vistos
também em regiões subtropicais e em climas temperados. Na Ásia, Índia e Oceania,
encontramos uma espécie de aligátor (Alligator senensis), seis espécies de crocodilos
(Crocodylus johnstoni, Crocodylus minorensis, Crocodylus novaeguineae, Crocodylus
palustris, Crocodylus porosus e Crocodylus siamensis), uma espécie de gavial (Gavialis
ganeeticus) e uma de falso gavial (Tomistoma schlegelii). A África contém três espécies
de crocodilos (Crocodylus cataphractus, C. niloticus e Osteolaemus tetraspis). Já nas
Américas, há onze espécies de crocodilianos, sendo uma espécie de aligátor (Alligator
mississippiensis), seis espécies de jacarés (Caiman crocodilus, C. latirostris, C. yacare,
Paleosuchus palpebrosus, P. trigonatus e Melanosuchus niger) e quatro espécies de
crocodilos – Crocodylus acutus, C. intermedius, C. moreletii e C. rhombifer (BASSETTI;
VERDADE, 2014).

No Brasil, ocorrem os jacarés, que são animais menores do que os crocodilos.


São eles: jacaré-de-papo-amarelo (Caiman latirostris), jacaré-tinga (C. crocodilus),
jacaré-do-Pantanal (C. yacare), jacaré-coroa (Paleosuchus trigonatus), jacaré-paguá
(P. palpebrosus) e jacaré-açu (Melanosuchus niger). Os maiores são os jacarés-açus, que
podem passar de 3,5 metros e os coroas, que raramente passam de 1,8 m.

São animais que, na natureza, vivem em grandes ou pequenos grupos, próximos a rios,
lagos, várzeas e pântanos, e, por isso, sofrem grande pressão antrópica por questões
de agricultura, poluição das águas e drenagens de várzeas que promovem a perda de
habitat e diminuição das populações. Não podemos deixar de destacar a forte procura

29
UNIDADE IV | Medicina de quelônios (testudíneos) e crocodilianos

pela caça predatória e retirada de peles para curtimento, embora existam criadouros
legalizados de jacarés para abate no Brasil (MAGNUSSON; CAMPOS, 2010).

Quanto à legislação, a criação em cativeiro é regulamentada pela Portaria n. 118/1997,


que normatiza a implantação de criadouros comerciais, e a Portaria n. 117/1992, que
normatiza a comercialização de peles de jacarés brasileiros (GROOMBRIDGE, 1987).

Entre os grupos, alguns dos jacarés estão em menor risco, segundo a IUCN, como os
do papo-amarelo, o jacaré-anão, coroa e o jacaré-açu. Embora estejam em baixo risco,
dependem de conservação, considerando a estimativa de sua população – de 25 mil a
50 mil habitantes distribuídos na América do Sul.

Tabela 6. Diferenças entre crocodilo e jacaré.

Crocodilos Jacarés

Família Crocodilidae Alligatoridae

N° de espécies 14 8*

Cabeça Mais afilada Focinho largo e arredondado

Com poros
Escamas do ventre Ausentes
glandulares**

Dentes: Escondido dentro da


Hipertrofiado e encaixado numa cavidade lateral na parte
Quarto dente do boca
externa da boca (aparecem fora da boca)
maxilar inferior Alinhados com os
Desalinhados
Superiores inferiores

* Oito espécies – entre elas, estão as dos gêneros Caiman e Paleosuchus, aos quais pertencem os jacarés
brasileiros (não há crocodilos no Brasil).
**Os cientistas ainda não conhecem exatamente a função desses poros, mas especulam que possam servir para a
simples troca de calor e água com o ambiente.

Fonte: Freitas, 2011.

3.2. Anatomia e fisiologia


Apresentam pele de grande resistência composta de placas queratinizadas que
percorrem todo o tronco e a cauda, estando dispostas em fileiras. Em adultos, estão
presentes placas osteodérmicas, que são responsáveis pela defesa nas lutas, além de
captar e distribuir o calor dos banhos de sol aos capilares sanguíneos, aquecendo o
animal. Essas placas se trocam com menor periodicidade se comparadas às trocas dos
répteis.

Os crocodilianos possuem três pares de glândulas almiscaradas na parte interna da


cloaca, parte inferior da cabeça dentro da boca, que são estimuladas no momento do
cortejo do macho.

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Medicina de quelônios (testudíneos) e crocodilianos | UNIDADE IV

Figura 95. Diferenças entre jacaré e crocodilo.

Fonte: https://i0.wp.com/pontobiologia.com.br/wp-content/uploads/2018/02/jacare-e-crocodilo.
jpg?fit=640%2C384&ssl=1.

3.2.1. Sistema digestório


Consiste em língua achatada, presa ao assoalho da cavidade oral, que protrai, isola a
nasofaringe e, junto à prega palatina, possibilita ao animal respirar com a boca aberta
submersa na água, desde que a narina esteja em contato com o ar atmosférico. A
cavidade oral não apresenta fenda palatina como nos outros répteis, e os dentes têm
forma cilíndrica e são usados para apreensão do alimento, e não para corte, uma vez
que os animais separam a carcaça de presas grandes com movimentos bruscos laterais.
Os dentes são trocados periodicamente.
O estômago apresenta duas câmaras, ausência de ceco, e o trânsito intestinal
é termodependente, uma vez que o alimento pode permanecer por quatro dias a
uma temperatura ambiental de 30 ºC, que pode se prorrogar para uma semana se a
temperatura cair para 25 ºC (FOWLER, 2003).

Figura 96. (A) Prega palatina fechada; (B) prega palatina aberta.

Fonte: arquivo pessoal.

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UNIDADE IV | Medicina de quelônios (testudíneos) e crocodilianos

3.2.2. Sistema esquelético

A coluna vertebral é composta por vértebras cervicais, torácicas, lombares, sacrais e


caudais. Nas cervicais, existem costelas curtas e livres; as torácicas e o esterno estão
unidos com um prolongamento cartilaginoso ventral; e, entre o esterno e os ossos da
região púbica, há sete pares de costelas abdominais em forma de V, unidos por meio
de ligamentos (TROJANO, 1991).

Figura 97. Costelas em formato de V em jacaré-de-papo-amarelo (Caiman latirostris).

Fonte: Cubas, 2014.

3.2.3. Sistema nervoso

Apresentam dois lobos olfatórios alojados no encéfalo, ligados aos grandes hemisférios
cerebrais; atrás destes, ficam dois lobos óticos ovais. Na parte do cérebro anterior,
encontram-se as epífises, o hipotálamo, responsável pela regulação da temperatura e
atividade sexual, e o olho pineal, de função desconhecida. Em forma de pera, vem o
cerebelo mediano.

O mielencéfalo expande-se lateralmente por baixo do cerebelo, estreitando-se para


formar a medula espinal. Ventralmente, entre as bases dos hemisférios, estão os tratos e
nervos óticos, seguidos pelo infundíbulo e pela hipófise. Há 12 pares de nervos espinais
para cada somito do corpo, não ocorrendo presença da cauda equina, o que favorece
os procedimentos clínicos de venipunção caudal, cirurgias de cauda e colheita de fluido
cerebrospinal (FOWLER, 2003).

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Medicina de quelônios (testudíneos) e crocodilianos | UNIDADE IV

3.2.4. Órgãos dos sentidos

Os crocodilianos possuem órgãos sensitivos desenvolvidos, visão binocular e boa


acuidade visual noturna. Apresentam membranas nictitantes que servem de proteção
quando os animais estão submersos e com olhos abertos. Há glândulas lacrimais que
excretam o sal e fazem a osmorregulação, principalmente nas espécies de água salgada.

Possuem boa audição em terra ou quando submersos, possuem ouvidos perto dos
olhos, em formato de fenda, protegidos por membrana muscular que fecha a cavidade
auditiva quando submersos (FOWLER, 2003).

Figura 98. Ouvido externo caudal e próximo aos olhos.

Foto: arquivo pessoal.

3.2.5. Sistema circulatório

É o único entre os répteis que apresenta um coração com quatro cavidades cardíacas,
dois átrios e dois ventrículos, sendo que há uma pequena comunicação no músculo
interventricular, o forame de Panizza, o que propicia uma pequena mistura entre os
sangues oxigenado não oxigenado.

3.2.6. Sistema urinário

É composto por dois rins lobulados e achatados, que estão em contato com a parede
dorsal na região pélvica. Os glomérulos filtram o sangue, deixando passar somente água
e sais minerais, retendo células e outras moléculas grandes, que passam para os túbulos
renais, onde parte da água é reabsorvida. Os répteis não podem concentrar a urina muito
acima da osmolaridade plasmática. A urina e os uratos precipitados são transportados

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para a cloaca, e a água liberada é, então, reabsorvida. Essa condição de conservação da


água nos répteis processa-se por uma modificação na via do catabolismo de proteína e
pela capacidade da cloaca de funcionar como ponto de reabsorção (TROIANO, 1991).

Lembre-se! Os répteis usam o falo para ejaculação, e não para a micção, pois os
catabólitos urinários, no caso de crocodilianos e ofídios, saem dos rins e, pelos ureteres,
caem diretamente na cloaca. Os quelônios e lacertílios apresentam vesícula urinária.

3.2.7. Sistema reprodutor


São animais que não possuem dimorfismo sexual. As gônadas são visualizadas afastando
a cloaca, quando se pode observar o falo e as glândulas de feromônios no macho. Os
testículos são arredondados e estão localizados intracavitários em contato com a parede
dorsal do corpo, onde os ductos deferentes se unem à base do falo (pênis).

Nas fêmeas, na parte anterior de cada ovário, situa-se o funil do oviduto, que vai até a
cloaca. Os óvulos são formados no ovário, passam para dentro do funil, são fecundados
nos ovidutos e são, então, envolvidos por albumina, membrana da casca e casca antes
da ovipostura (TROIANO, 1991).

Figura 99. (A) Falo e glândula cloacal em A; (B) glândula cloacal abaixo e à direita.

A B

Foto: arquivo pessoal.

Esses animais são basicamente influenciados pela temperatura ambiente, o que afeta
até a incubação dos ovos e, assim, a determinação do sexo, que não se dá pela genética,
pois os crocodilianos não apresentam cromossomos sexuais heteromórficos. Essa
diferenciação sexual pode acontecer entre o 7º e o 21º dia de incubação dos ovos.
Verifica-se que o nascimento de fêmeas ocorre a temperaturas mais baixas (28 a 31
ºC – valores aproximados) e mais altas (33 a 34 ºC – valores aproximados), e que, a
temperaturas intermediárias (31 a 33 ºC – valores aproximados), ocorre nascimento de
machos. Sendo assim, controla-se, por regulação de temperatura das incubadoras, o
nascimento de mais fêmeas do que machos quando se tem uma criação comercial de
abate (BULL,1980).

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Medicina de quelônios (testudíneos) e crocodilianos | UNIDADE IV

Levando-se em consideração que esses animais precisam de pouca energia para sua
manutenção e produção de calor, a demanda fisiológica de energia está voltada para
crescimento e reprodução.

3.3. Exploração comercial


Os sistemas de criação visam ao aproveitamento econômico basicamente de carne e
couro. Normalmente, é explorada a espécie jacaré-de-papo-amarelo. A exploração pode
ser dividida em três modalidades:

» Harvesting ou cropping:

manejo extensivo ou caça controlada de populações selvagens. É a mais extensiva


das criações, mas não é permitida no Brasil pela proibição da caça e ameaça de
risco de extinção.

» Ranching:

retirada de ovos de ninhos provenientes da natureza e posterior criação dos


filhotes em cativeiro. Esse modelo pode ser praticado no Brasil somente com o
jacaré-do-Pantanal.

» Farming:

ciclo completo em cativeiro, incluindo reprodução. Nesse caso, o início da criação


deve ser por fornecimento de reprodutores e matrizes a criadores legalizados junto
ao IBAMA, evitando, assim, que animais selvagens sejam retirados da natureza
(VERDADE, 2001).

3.3.1. Rendimento de carcaça de jacaré-do-Pantanal


(Caiman yacare).

Animais mais leves (2,1-4,1 kg), têm aproveitamento de 62,45% da carcaça, enquanto
animais mais pesados (16,5-20,9 kg) têm rendimento de 59,37%. O aproveitamento
da pele é maior nos animais mais novos, porque ainda não formaram os osteodermos
ventrais (FREITAS, 2011).

O baixo percentual de gordura e a alta umidade da carne de crocodilianos tornam


esse produto delicado em textura, podendo sofrer danos de congelamento. A gordura
dessa carne apresenta um maior percentual de ácidos graxos insaturados, comparada
às carnes de boi e porco, sendo mais susceptível à rancidez oxidativa, que provoca
alterações de sabor.

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UNIDADE IV | Medicina de quelônios (testudíneos) e crocodilianos

3.3.2. Instalações conservacionistas e zoológicos


Como esses recintos não possuem a finalidade de reprodução, podem-se manter
quelônios e jacarés de mesmo porte em um só recinto. O Zoológico de Brasília mantém
quelônios aquáticos, jacarés-tinga e coroa juntos, e mantinha separado o único indivíduo
açu de 3,5 metros. A chamada “praia dos jacarés” contém um espaço de areia e outro
de água, além de uma rampa para facilitar o deslocamento.

Figura 100. Um ambiente aquático e outro de areia.

Foto: arquivo pessoal.

3.3.3. Instalações comerciais


Para os jacarés-de-papo-amarelo, formam-se pequenos grupos, com um só macho.
Segundo estudos ecológicos, trabalha-se com módulos de 10 m x 10 m, cada um
contendo um tanque de 4 m x 6 m de espelho d’água, com 1 m de profundidade
máxima e 5 abrigos de nidificação de 2 m x 2 m, utilizando a proporção de 1 macho
para 4 fêmeas (VERDADE, 2006).

Tanques em forma de círculo evitam abrasões por atrito nas maxilas dos animais e
na perda de dedos, problema tão comum em pisos abrasivos, o que pode propiciar
osteomielite nos animais. A água deve ser monitorada e reposta continuamente para
evitar disseminação de parasitas e doenças infecciosas.

Figura 101. Piscinas circulares construídas para evitar a abrasão por atrito na maxila.

Fonte: Cubas, 2014.

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Os ninhos são construídos com material vegetal, misturados à terra. Como já


mencionado, os ovos serão incubados a temperaturas desejadas caso se queira um maior
número de fêmeas ou machos. Ao recolher os ovos dos ninhos, coloque-os em bandejas
plásticas com vermiculita umedecida, o que proporciona conservação e manutenção de
calor e umidade, que deve ser superior a 90% dentro da incubadora (VERDADE, 2014).

Figura 102. Incubadora de isopor, vermiculita em bandejas de plástico.

Fonte: Cubas, 2014.

Na fase de desenvolvimento, os animais são colocados a um ambiente de estufa de


crescimento. Este conta com módulos e tanques de água com profundidade entre 70 cm
e 100 cm, para facilitar a abordagem. A densidade deve ser mantida em 0,1 m2/animal
no nascimento até 0,3 m2/animal na época de abate ou transferência para os recintos
de reprodução (JOANEN; McNEASE, 1987).

Figura 103. (A) Recinto de crescimento do Criatório Caiman (estufa plástica e alvenaria); (B)
visão interna do recinto.

A B

Fonte: Cubas, 2014.

3.3.3.1. Alimentação

A alimentação compreende 50 a 60% do custo total de uma criação, o que pode ser
minimizado com o uso de descarte de produção animal, como refugos avícolas.

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Consomem todo tipo de presa. Quanto aos filhotes, na natureza, consomem crustáceos,
gastrópodes, répteis menores, pequenos peixes e, principalmente, insetos. A quantidade
de alimento fornecida aos animas deve permanecer na faixa de 6,5 a 7,5% do peso vivo
por semana para animais adultos.

Em cativeiro, os filhotes começam a receber alimentação diária desde os primeiros dias


de vida, ainda dentro das incubadoras. Esse intervalo de alimentação continua por toda a
fase de crescimento ou enquanto esses animais estiverem alojados nas estufas plásticas.
Já os animais adultos, alojados em recintos a céu aberto, devem ser alimentados uma
única vez na semana, excetuando-se os meses mais frios do ano (VERDADE, 1992). A
oferta de alimentos em dias frios poderá produzir deterioração do alimento no estômago
e formação de gases, levando à morte os animais.

3.3.3.2. Contenção física e química

A contenção física já foi abordada na Unidade 2, Capítulo 2. Laça-se o animal no pescoço


e se posiciona ao lado do animal na eminência de “sentar sobre ele”, conforme se vê
na Figura 104.

Pode-se jogar uma toalha sobre os olhos do animal, alçar um cabo de aço e arrastá-lo até
uma caixa com aberturas na parte de cima e pressionar os olhos para produzir o efeito vagal.

Figura 104. Contenção física de jacaré americano (Alligator mississippiensis) utilizando tiras
de borracha no fechamento da boca.

Fonte: Cubas, 2014.

Tabela 7. Analgésicos, sedativos e anestésicos utilizados em crocodilianos.

Nome genérico Dosagem (mg/kg) Vias de administração


20 a 50 (sedação)
Cetamina IM ou IV
50 a 100 (anestesia)
Cetoprofeno 2 SC ou IM
Doxapran 4 a 12 IM ou IV
Flunixin
0,1 a 0,5 IM
meglumine

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Nome genérico Dosagem (mg/kg) Vias de administração


3 a 5 % (indução)
Isoflurano -
1 a 3 % (manutenção)
Lidocaína a 2 % 5 IM ou SC
Pentobarbital 8 IM
Propofol 5 a 10 IV
Tiletamina + zolazepan 1a2 IM ou IV
xilazina 0,1 a 1 IM

Fonte: Fowler, 2003.

3.4. Clínica e cirurgia


As situações mais corriqueiras são limpeza de feridas e reparação das amputações de
membros causadas por brigas, principalmente no período de acasalamento.

3.4.1. Doenças relacionadas com a reprodução

3.4.1.1. Ovos

A porosidade dos ovos permite a troca gasosa e de água entre o meio ambiente e
o embrião. Quando há alguma diferença nos níveis dessa porosidade, há a morte
embrionária e, consequentemente, a proliferação de bactérias e fungos no restante dos
ovos do ninho e na incubadora. A má formação da casca com pouca mineralização está
relacionada com a pouca oferta de cálcio na alimentação das matrizes.

3.4.1.2. Infertilidade

Na natureza, durante o período reprodutivo, as fêmeas podem ter várias cópulas com
diferentes machos, o que teoricamente faria com que todos os ovos fossem fertilizados.
Nas criações em cativeiro, principalmente em espécies mais agressivas, isso não ocorre.

Geralmente, a formação dos grupos reprodutores é feita seguindo modelo semelhante


a um harém, em que somente um macho é colocado com as fêmeas no recinto. Nesse
esquema, caso haja a incidência de ovos inférteis por várias fêmeas, é muito provável
que esteja ocorrendo infertilidade no macho.

Por outro lado, caso haja incidência de ovos férteis em um ninho e inférteis em outro, é
provável que possa estar ocorrendo problema nas fêmeas, sendo a infecção nos ovidutos
a principal causa de infertilidade, podendo ser ascendente da cloaca ou descendente
pelo infundíbulo. Entretanto, outros fatores também podem estar envolvidos nesse
processo, como distúrbios nutricionais, alta taxa de estresse, alta taxa de lotação, baixas
temperaturas etc. (VERDADE, 2014).

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UNIDADE IV | Medicina de quelônios (testudíneos) e crocodilianos

3.4.1.3. Infecção nos ovos e morte embrionária

A sobrevivência dos embriões está diretamente relacionada com o controle da umidade


e da temperatura nas incubadoras. Baixas temperaturas resultam em morte embrionária,
enquanto é comum que ovos expostos à alta umidade e temperatura se infectem com
fungos e bactérias, trazidos principalmente pela manipulação inadequada no momento
da colheita e pela passagem dos ovos pela cloaca, momento em que frequentemente
entram em contato com a microbiota bacteriana advinda do intestino da mãe. Essa
contaminação pode ser evitada com a utilização de luvas de procedimento para a
manipulação dos ovos e limpeza das cascas.

3.4.1.4. Onfalite

É uma das principais doenças em filhotes, e seu diagnóstico se faz pelo aumento de
volume abdominal e pelo não fechamento do umbigo. Basicamente, o processo consiste
no fechamento do canal vitelínico por uma infecção bacteriana vinda do saco da gema.
Assim, a gema contamina-se e não pode ser absorvida, afetando a nutrição do
recém-nascido. O conteúdo do saco da gema deixa de ser líquido e passa a ter consistência
endurecida, em grande parte das vezes por infecção ascendente, sendo necessária sua
remoção cirúrgica.

O animal vai a óbito por septicemia e choque endotóxico na maioria dos casos.
A desinfecção da incubadora com amônia quaternária antes da colocação dos ovos,
juntamente com a antissepsia da região umbilical com iodopovidona tópica e a utilização
de violeta de genciana na água da incubadora, ajuda a prevenir onfalites (VERDADE, 2014).

Figura 105. (A) Abertura umbilical; (B) desinfecção de umbigo com iodopovidona.

A B

Fonte: Cubas, 2014.

3.4.2. Doenças infecciosas


3.4.2.1. Poxvírus ou dermatite viral

Afeta animais jovens, é contagioso e forma portador assintomático. As lesões são


semelhantes a pequenos halos de coloração branco-acinzentada e podem persistir por

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Medicina de quelônios (testudíneos) e crocodilianos | UNIDADE IV

meses, às vezes levando o indivíduo à morte. Ocorre mais comumente nas pálpebras,
membranas nictitantes, interdigitais e timpânicas, na maxila, mandíbula e língua.
Em muitos casos, há a cura espontânea.

O tratamento consiste basicamente em isolar os animais doentes e na desinfecção de


piscinas e manutenção de um ambiente livre de estresse, além da antibioticoterapia
contra infecções secundárias (VERDADE, 2014).

3.4.2.2. Doenças gastroentéricas

Também ocorrem por se tratarem de animais cativos e muito presentes em plantéis.


Os agentes mais isolados são as coccidias (Eimeria spp., Isospora spp.). São doenças
marcadas por diarreia, sendo o tratamento à base de sulfametazina.

A Salmonella spp. pode estar presente de forma assintomática e quando os animais


estão imunodeprimidos ou com stress. Isso pode ser um problema quando a carne é
usada para consumo humano, sendo, assim, um problema de vigilância sanitária.

Quadros de diarreia, seguidos de anorexia e apatia, são os sinais clínicos mais observados;
em alguns casos, ocorre septicemia, com focos necróticos no fígado. A presença de
Salmonella nas fezes não pode ser considerada conclusiva, uma vez que o agente faz
parte da microbiota intestinal. Por isso, deve ser relacionado com os exames clínicos
(WALLACH, 1983).

3.4.2.3. Gota úrica

É a de maior incidência em jacarés de cativeiro. Embora se suspeite erradamente da


dieta hiperproteica, ela é secundária à falência renal, com o comprometimento da
desidratação promovendo a gota visceral.

Alguns fatores podem estar relacionados, como o uso de gentamicina e uma exposição
acentuada nas estufas, para os jovens na fase de crescimento.

Há distúrbios nervosos por intoxicação, pouca atividade física, anorexia, hiperplasia das
articulações e emagrecimento. É caracterizada pela deposição de cristais de sais de urato
em articulações, tecidos periarticulares, parênquima hepático, saco pericárdico e rins.

Como diagnóstico, mensura-se ácido úrico sanguíneo. A concentração normal de ácido


úrico sanguíneo em crocodilianos fica entre 1 e 4,1 mg/dl, sendo que animais com gota
chegam a apresentar níveis plasmáticos ao redor de 70 mg/dl (WALLACH, 1983).

O tratamento básico para a reversão do processo é a hidratação, que pode ser realizada
pela administração de fluidos por via intravenosa, intraperitoneal, intraóssea ou por via

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UNIDADE IV | Medicina de quelônios (testudíneos) e crocodilianos

oral, com o auxílio de sonda para animais de pequeno porte, embora o quadro seja
irreversível na maioria das vezes, principalmente pela demora no diagnóstico (SARKIS,
2005).

Figura 106. Colocação de tubo de PVC para passagem de sonda alimentar, endoscópio.

Fonte: Cubas, 2014.

3.4.2.4. Doença hepática

Hipoproteinemia em répteis é relacionada a má nutrição, má absorção, perda de


proteínas em enteropatias e em intensas perdas de sangue e doenças hepáticas ou renais
crônicas. Hiperproteinemia pode indicar desidratação, enquanto as hiperglobulinemias
indicam doenças inflamatórias (GOLDBERG, 2011).

Quanto aos lipídios, observou-se que tartarugas marinhas em jejum apresentam elevados
valores séricos de lipídios associados à mobilização de reservas energéticas (GOLDBERG,
2011).

O valor plasmático normal da glicemia de répteis varia entre 60 e 100 mg/dl.


Doenças hepatocelulares, desnutrição e septicemias são causas comuns de hipoglicemia
em répteis. O diabetes melito também é descrito nesses animais (NEVES, 1996).

A AST está presente no fígado e no músculo, e doenças generalizadas, como septicemia


ou toxemia, podem lesar esses tecidos e determinar elevações da atividade plasmática
dessa transaminase. Em testudíneos, lesões da carapaça podem elevar essa enzima
(GOLDBERG, 2011).

A lactato desidrogenase (LDH) está relacionada a vários órgãos, e a elevação de sua


atividade pode estar associada à lesão hepática, à musculoesquelética ou à cardíaca

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Medicina de quelônios (testudíneos) e crocodilianos | UNIDADE IV

(ALMOSNY, 2014). A fosfatase alcalina em répteis está relacionada à atividade


osteoblástica (THRALL, 2004).

Uma curiosidade é que o plasma dos crocodilianos apresenta-se fisiologicamente


lipêmico, e se observa uma capa de gordura misturada ao soro.

43
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Figuras
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Figura 18: https://biologiaentenderrespeitar.files.wordpress.com/2018/03/dentic3a7c3a3o.png.

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Figura 36: https://lh6.ggpht.com/b584uqBtcmKXzw5b9UrEdJFYPkiyYUwmMQGHac75naI9G1ibHHevcy8O_


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Figura 51: http://4.bp.blogspot.com/-GUqMOtx4xUM/USyo551el_I/AAAAAAAAAN8/r0e1P5x5I30/s1600/


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Figura 52: http://3.bp.blogspot.com/-QQywpOCnvDI/USyo9x9d43I/AAAAAAAAAOc/ndBcLNFO_1k/s1600/


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Figura 78: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/125987/1/CPAF-AP-2015-Quelonicultura.


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Figura 95: https://i0.wp.com/pontobiologia.com.br/wp-content/uploads/2018/02/jacare-e-crocodilo.


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