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Mais de 400 espécies conhecidas de tubarões (Figura 4-1) De acordo com um estudo de 2009, feito pela União
habitam os oceanos do mundo. Eles variam muito em tama- Internacional para Conservação da Natureza (lnternational
nho e comportamento, do tubarão-anão, do tamanho de um Union for Conservation of Nature - IUCN), 32 o/o das espécies
peixinho-dourado, até o tubarão-baleia (Figura 4-1 , à esquer- em mar aberto do mundo estão ameaçadas de extinção. Uma
da), que pode chegar a um comprimento de até 18 metros e das mais ameaçadas é o tubarão-martelo-recortado (Figura
pesar o equivalente a dois elefantes africanos adu ltos. 4-1 , à direita). Os tubarões são especialmente vulneráveis a
Muitas pessoas, influenciadas por fi lmes, romances po- declínios populacionais, porque crescem lentamente, tornam-
pulares e pela grande atenção dada pela mídia aos ataques -se adultos tardiamente e têm apenas alguns descendentes
de tubarão, acreditam que esses an imais são monstros que se por geração. Hoje, estão entre os animais mais vulneráveis e
alimentam de pessoas. Na real idade, as três maiores espécies menos protegidos da Terra .
- o tubarão-baleia (Figura 4-1, à esquerda), o tubarão-frade Os tubarões existem há mais de 400 milhões de anos.
e tubarão-boca-grande - são gigantes gentis. Esses tubarões Como espécies-chave, alguns tipos desempenham um papel
herbívoros nadam na água com a boca aberta, fi ltrando e crucial para ajudar a manter seus ecossistemas em funciona-
engolindo grandes quantidades de f itoplâncton. mento. Como se alimentam em posições elevadas ou no topo
A cobertura da mídia sobre os ataques de tubarões exage- da cadeia alimentar, removem os animais feridos e doentes
ra o perigo que eles representam. Todos os anos, membros de do oceano. Sem esse serviço prestado pelos tubarões, o ocea-
algumas espécies, tais como o tubarão-branco, tubarão-touro, no estaria repleto de peixes e mamíferos marinhos mortos
tubarão-tigre, galha-branca-oceânico e tubarão-martelo (Figura e moribundos.
4-1, à direita), ferem entre 60 e 75 pessoas no mundo. De 1998 Além de ter importantes funções ecológ icas, os tubarões
a 2008, houve uma média de seis mortes por ano em conse- podem ajudar a salvar vidas humanas. Se pudermos apren-
quência de tais ataques. Alguns desses tubarões se alimentam der por que eles quase nunca têm câncer, seria possível usar
de leões-marinhos e outros mamíferos marinhos, e às vezes con- essa informação para combater esse mal em nossa própria
fundem nadadores e surfistas com suas presas habituais. espécie. Os cientistas também estão estudando seus sistemas
No entanto, para cada tubarão que fere ou mata uma imunológicos altamente eficazes, que permitem que neles
pessoa por ano, as pessoas matam cerca de 1,2 milhão de feridas se curem sem ser infectadas.
tubarões, o que equivale a 79-97 milhões de mortes a cada Muitas pessoas argumentam que devemos proteger os
ano, de acordo com o Instituto de Pesquisas de Tubarões da tubarões simplesmente porque, como qualquer outra espé-
Austrália. Muitos são capturados por suas barbatanas valio- cie, têm o direito de existir. No entanto, outra razão para a
sas, e depois jogados de volta na água ainda vivos sem elas, importância de sustentar essa parte da biodiversidade amea-
para sangrar até a morte ou se afogar, porque já não podem çada da Terra é que alguns tubarões são espécies-chave, o
mais nadar. Essa prática é chamada remoção das barbatanas, que significa que nós e outras espécies precisamos deles.
muito utilizadas na Asia como ingrediente de sopas e produto Neste capítulo, exploraremos o papel das espécies-chave e
farmacêutico cura-tudo. Os tubarões também são mortos para outras funções especiais desempenhadas pelas espécies na
a captura de fígado, carne, couro e maxilares, e também por- história da biod iversidade vital da Terra.
que temos medo deles. Alguns morrem ao ficarem presos em
linhas e redes de pesca.
Há grandiosidade nesta visão da vida ... que, enquanto este planeta tem orbitado... infinitas
formas as mais belas e mais maravilhosas evoluíram e estão evoluindo.
CHARLES DARWIN
JI
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~~ Energia ·,.
~ solar
Calor
Calor Calor
Calor
Figura 4-2 Capital natural: Este diagrama ilustra os principais componentes da biodiversidade terrestre - um dos mais importantes recursos
renováveis da Terra e componente essencial do capital natural do planeta (veja a Figura 1-4, Capítulo 1). Pergunta: Qual papel você desempenha
nessa degradação?
CIÊNCIA EM FOCO
Você já agradeceu aos insetos hoje?
nsetos são uma parte importante do capital natural da Terra, o especialista em formigas e em biodiversidade E. O. Wilson,
1 apesar de, em geral, terem má reputação. Classificamos mui- se todos os insetos desaparecessem, os sistemas de suporte
tas espécies de insetos como pragas, porque competem co- da vida, para nós e outras espécies, seriam seriamente per-
nosco por comida, contribuem para a propagação de doenças turbados.
humanas, como a malária, nos picam ou ferroam e invadem Uma lição ambiental: apesar de os insetos não precisarem
nossos gramados, nossos jardins e nossas casas. Algumas pes- de espécies recém-chegadas, como os humanos, nós e outros
soas temem insetos e acham que o único inseto bom é aquele organismos terrestres precisamos deles.
morto. Elas deixam de reconhecer o papel vital que os insetos
desempenham ajudando a sustentar a vida na Terra. Pensamento crítico
Por exemplo, a polinização é um serviço natural que permi- Identifique três espécies de insetos não discutidas que benefi-
te que plantas florescendo se reproduzam sexualmente quando ciam sua vida.
os grãos de pólen são transf eridos da sua flor para uma par- Figura 4-A A importância
te receptiva de outra da mesma espécie. Muitas das espécies dos insetos: A borboleta-
vegetais do planeta dependem de insetos para polinizar suas .
-monarca, assim como as
flores (Figura 4-A, acima). abelhas e muitos outros
Insetos que se alimentam de outros insetos, como o louva- insetos, alimenta-se de
-deus (Figura 4-A, abaixo), ajudam a controlar as populações pólen de flor (esquerda)
de pelo menos metade das espécies que chamamos de pragas. e poliniza outras plantas
Esse serviço gratuito de controle de pragas é uma parte impor- ·e:
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que servem de alimento
..'.S para muitos animais
tante do capital natural da Terra. Alguns também desempe- V>
Q)
E herbívoros, incluindo
nham um papel fundamental na flexibilização e renovação do ~
"' os seres humanos.
solo que sustenta a vida vegetal na terra. O louva-deus, que está
Os insetos têm existido por pelo menos 400 milhões de comendo um grilo
anos - cerca de 2 mil vezes mais que a versão mais recente doméstico (direita), e
da espécie humana. São formas incrivelmente bem-sucedidas muitas outras espécies
de vida. Alguns se reproduzem a uma velocidade espantosa e ajudam a controlar as
podem desenvolver rapidamente novos t raços genéticos, tais populações da maioria
como resistência aos pesticidas. Também têm uma excepcional das espécies de insetos
capacidade de evoluir para novas espécies quando confron- que classificamos
como pragas.
tados com mudanças nas condições ambientais, e são muito
resistentes à extinção, o que é muito bom, pois, de acordo com
da biodiversidade. Cada um desses ecossistemas é um fibras, energia que vem de madeira e biocombustíveis
armazém de diversidade genética e de espécies. e medicamentos. Ela também desempenha um papel
Os biólogos classificaram a parte terrestre da bios- fundamental na preservação da qualidade do ar e da
fera em biornas - grandes regiões, tais como florestas, água, mantendo a fertilidade do solo, decompondo,
desertos e pradarias, com climas distintos e certas reciclando resíduos e controlando populações de es-
espécies (principalmente de vegetação) a elas adap- pécies que humanos consideram pragas. Na execu-
tadas. A Figura 4 -5 mostra os principais biornas di- ção desses serviços ecológicos gratuitos, que também
ferentes ao longo do paralelo 39°, que abrange os são parte do capital natural da Terra (veja Figura 1-4,
Estados Unidos. Discutiremos esse tema mais deta- Capítulo 1), a biodiversidade contribui para susten-
lhadamente no Capítulo 7. tar a vida. Devemos muito do que sabemos sobre a
Outro componente importante da biodiversidade biodiversidade a um número relativamente pequeno
é a diversidade fu.ndonal - a variedade de processos, de pesquisadores, um dos quais é Edward O. Wilson
como o fluxo de energia e a ciclagem de matéria, que (veja o quadro "Pessoas fazem a diferença").
ocorrem dentro dos ecossistemas (veja a Figura 3-11, Dado que a biodiversidade é um conceito tão im-
Capítulo 3), conforme as espécies interagem umas portante e tão vital para a sustentabilidade, faremos
com as outras nas teias e cadeias alimentares. Parte da um passeio pela biodiversidade neste e nos próximos
importância de algumas espécies de tubarão EsTuoo sete capítulos. Este abrange a variedade de espécies da
DE CASO
(Estudo de caso principal) é seu papel na PRINCIPAL Terra, como evoluíram e os papéis principais que de-
manutenção desses processos dentro de seus ecossis- sempenham nos ecossistemas. O Capítulo 5 examina
temas, ajudando a manter outras espécies de animais como as diferentes interações entre espécies ajudam
e plantas que neles vivem. a controlar o tamanho das populações e promover a
A biodiversidade da Terra é uma parte vital do ca- biodiversidade. O Capítulo 6 usa os prinápios da dinâ-
pital natural que ajuda a nos manter vivos e apoia mica populacional desenvolvidos no 5 para examinar o
nossas economias. Com a ajuda da tecnologia, usamos crescimento da população humana e seus efeitos sobre
a biodiversidade para nos fornecer alimentos, madeira, a biodiversidade. Os capítulos 7 e 8 examinam os prin-
cipais tipos de ecossistemas terrestres e aquáticos, res-
PENSANDO SOBRE
ESTUDO
pectivamente, que são os principais componentes da
Tubarões e biodiversidade
DE CASO
PRINCIPAL biodiversidade. Então, nos próximos três, examinare-
Quais são as três maneiras pelas quais os tubarões mos as principais ameaças à biodiversidade de espécies
(Estudo de caso principal) mantêm um ou mais dos (Capítulo 9), à terrestre (Capítulo 10) e à aquática (Ca-
quatro componentes da biodiversidade em seu ambiente?
pítulo 11 ), e soluções para lidar com essas ameaças.
Figura 4-5 Os principais biornas encontrados ao longo do paralelo 39° nos Estados Unidos são mostrados neste diagrama. As diferenças entre
espécies de árvores e outras plantas refletem as mudanças no clima, principalmente as alterações na precipitação média anual e temperatura.
86 Ecolog ia e sustentabilidade
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Antes de entrar para a faculdade, W ilson t inha decidido de forma mais com- ~
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que se especializaria no estudo das f orm igas. Depois que f i- pleta do que qualquer QJ
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cou fascinado com esses minúsculos organ ismos, e por toda outro f izera até aq uele >,
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sua longa carreira constantemente amp liou seu foco para momento. _g/
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incluir toda a biosfera. E, agora, passa a maior parte do seu Desde então, tor-
tempo estudando, escrevendo e falando sobre toda a vida nou-se profundamente
- a biodiversidade da Terra - e trabalhando com a Enciclopé- envolvido em escrever
dia da Vida da Universidade de Harvard, um banco de dados e fazer pa lestras sobre
on-line para as espécies conhecidas e classificadas do planeta a necessidade de es-
(acesse http://www.eol.org/). forços de conservação
Durante sua longa carreira de pesqu isas, artigos e ensino, globa l. W ilson já ga- Figura 4-b Edward O. Wilson
W ilson assumiu muitos desafios. Com outros pesquisadores, nhou mais de cem prêmios, incluindo a U.S. National Medal
descobriu como as formigas se comunicam por meio de fe- of Science, bem como outros prêm ios nacionais semelhan-
romôn ios. Também estudou o seu complexo comportamento tes de muitos outros países. Já escreveu 25 livros, dois dos
social e reun iu grande parte de seu traba lho no volume épico quais ganharam o Prêm io Pulitzer de não f icção geral. Sobre
The ants (As formigas), publicado em 1990. Sua pesquisa so- o estudo da biod iversidade, ele escreve:
bre form igas tem sido aplicada ao estudo e à compreensão
de outros organismos sociais. "Até que levemos a sério a exploração da diversidade biológi-
Em 1960, W ilson e outros cientistas desenvolveram ateo- ca (. ..) a ciência e a humanidade em geral estarão voando às
ria da biogeografia de ilhas (C iência em foco), que t rata de cegas no interior da biosfera. Como podemos compreender a
como a diversidade de espécies em ilhas é afetada pelas suas ecologia de uma trilha ou lagoa em uma floresta, sem o co-
dimensões e localizações, e tem sido aplicada a áreas que se nhecimento das milhares de espécies (. ..) os principais canais
assemelham a ilhas, como florestas de montanha, cercadas de materiais e fluxo de energia? Como podemos prevenir e
por áreas antropizadas. Esse estudioso também foi importan- controlar a propagação de novas doenças de cultivares e hu-
te na criação de áreas naturais proteg idas. manas, se não conhecemos a identidade do inseto e de outras
W ilson é por vezes creditado por ter cunhado o termo espécies que as transportam? E, f inalmente, como podemos
"biodiversidade". Não foi ele rea lmente o inventor do termo, salvar da extinção as formas de vida na Terra se não sabemos
mas sim o primeiro a usá-lo em um artigo científ ico, e, por- nem mesmo o que a maioria delas é?"
tanto, concretizou o significado do termo e, essencialmente,
batizou um novo campo da ciência. Outra de suas obras de Sa iba mais no site da Fundação de Biod iversidade de
referência é The diversity of life (A diversidade da vida), publi- Edward O. Wilson (www.eowilson.org).
A evolução biológica por seleção de esqueletos, ossos, dentes, conchas, folhas e semen-
tes, ou impressões de tais itens encontradas em rochas
natural explica como a vida (Figura 4-6). Os dentistas também perfuram amostras
muda com o tempo de núcleos de gelo dos glaciares nos polos da Terra e no
topo de montanhas, e examinam os sinais de vida anti-
A história da vida na terra é colorida, profunda e com- ga encontrados em diferentes camadas nesses núcleos.
plexa. A maior parte do que sabemos dessa história Todo o conj unto de evidências recolhidas por
vem de fósseis, réplicas mineralizadas ou petrificadas esses métodos, chamado registro fóssil, é desigual e
CAPÍTULO 4 Biod ivers idade e evolução 87
Figura 4-7 Evolução por meio da seleção natural. (a) Uma população de bactérias é exposta a um antibiótico, que (b) mata todos os
indivíduos, exceto aqueles que possuem uma característica que os tornam resistentes à droga. (e) As bactérias resistentes se multiplicam
e, no final, (d) substituem todas ou a maioria das não-resistentes.
traço genético, chamado traço hereditário, que pode um produto químico em outros inofensivos. Outro
ser passado de uma geração a outra. Dessa maneira, exemplo importante de seleção natural é a evolução
as populações desenvolvem diferenças entre indiví- da resistência genética aos medicamentos ampla-
duos, incluindo a variabilidade genética. mente utilizados, ou antibióticos.
O próximo passo na evolução biológica é a seleção Médicos usam esses medicamentos para ajudar a
natural, pela qual as condições ambientais favorecem controlar as bactérias causadoras de doenças, mas eles
alguns indivíduos em detrimento de outros. Os favo- tem se tomado uma força de seleção natural. Quando
recidos possuem características hereditárias que lhes tal droga é usada, as poucas bactérias que lhe são ge-
oferecem alguma vantagem sobre outros numa dada neticamente resistentes (por causa de algum traço que
população. Essa característica é chamada adaptação, possuem) sobrevivem e rapidamente produzem mais
ou traço adaptativo, qualquer característica heredi- descendentes do que as que foram mortas pela droga
tária que aumenta a capacidade de um organismo in- poderiam ter produzido. Assim, o antibiótico acaba per-
dividual de sobreviver e se reproduzir em uma taxa dendo sua eficácia conforme bactérias geneticamente
superior à de outros de uma mesma população sob resistentes se reproduzem rapidamente, e aquelas que
as condições ambientais prevalescentes. Para que a são sensíveis à droga morrem (Figura 4-7).
seleção natural ocorra, o traço hereditário também Uma forma de resumir o processo da evolução
deve levar à reprodução diferencial, permitindo que biológica pela seleção natural é: os genes sofrem muta-
indivíduos com essa característica produzam mais ções, os indivíduos são seledonados e as populações evoluem
descendentes sobreviventes do que outros membros de forma que se tornem mais bem adaptadas para sobre-
da população. viver e se reproduzir nas condições ambientais existentes
Por exemplo, em razão da neve e do frio, alguns (Conceito 4-2B) .
lobos cinzentos que têm a pele mais grossa em uma Um exemplo notável de evolução de espécies por
população podem viver mais tempo e, assim, produ- seleção natural é o Homo sapiens sapiens. Evoluímos
zir mais descendentes do que aqueles sem essa pe- certos traços que nos permitiram conquistar boa par-
lagem mais grossa. Conforme esses lobos com mais te do mundo (veja o seguinte Estudo de caso) .
tempo de vida se acasalam, os genes para uma pele
mais grossa são espalhados por toda a população, e
os indivíduos com esses genes aumentam em núme-
ro e passam essa útil característica para os demais • ESTUDO DE CASO
descendentes. Assim, o conceito científico de sele-
Como os humanos se tornaram
ção natural explica como as populações se adaptam
a mudanças nas condições ambientais. uma espécie tão poderosa?
Resistênda genética é a capacidade, de um ou mais
organismos em uma população, de tolerar um pro- Como muitas outras espécies, os humanos sobrevi-
duto químico destinado a matá-lo. Por exemplo, o veram e prosperaram porque temos, em nós, alguns
organismo pode ter um gene que lhe permite quebrar traços que nos permitem adaptar e modificar partes
CAPÍTULO 4 Biod ivers idade e evolução 89
do meio ambiente para aumentar nossas chances de sistente aos efeitos nocivos da radiação UV (veja a
sobrevivência. Figura 2-11, Capítulo 2), ou que nossos pulmões
Os biólogos evolutivos atribuem nosso sucesso possam lidar com os poluentes do ar, e nossos fíga-
a três adaptações: fortes polegares opositores, que nos dos melhor desintoxicar os poluentes?
permitiram agarrar e utilizar ferramentas melhor do Segundo os cientistas nesse campo, a resposta é
que alguns outros animais que têm polegares; habili- não, por causa de duas limitações na adaptação pela
dade de caminhar ereto, que nos deu agilidade e liber- seleção natural. Primeiro, uma mudança nas condi-
tou nossas mãos para muitos usos; e cérebro complexo, ções ambientais pode levar a essa adaptação apenas
que nos permitiu desenvolver muitas habilidades, traços genéticos já presentes no conjunto de genes
incluindo a capacidade de utilizar a voz para trans- de uma população ou de características resultantes de
mitir ideias complexas. mutações que ocorrem aleatoriamente.
Essas adaptações têm nos ajudado a desenvolver Segundo, mesmo que um traço benéfico here-
ferramentas, armas, dispositivos de proteção e tec- ditário esteja presente em uma população, sua ca-
nologias que ampliam nossos limitados sentidos da pacidade de se adaptar pode ser limitada pelo seu
visão, audição e olfato, compensando algumas de potencial reprodutivo. Populações de espécies gene-
nossas deficiências. Assim, em um piscar de olhos na ticamente diversas que se reproduzem rapidamente
história de 3,5 bilhões de anos de vida na Terra, de- - como ervas daninhas, mosquitos, ratos, baratas e
senvolvemos tecnologias poderosas e apossamo-nos bactérias - muitas vezes se adaptam a uma mudança
de grande parte da produtividade primária líquida da nas condições ambientais em um curto período (dias
Terra para nosso próprio uso. Ao mesmo tempo, te- a anos). Por outro lado, aquelas que não produzem
mos degradado muito do sistema de suporte da vida um grande número de descendentes rapidamente
do planeta com o crescimento de nossa pegada eco- - como elefantes, tigres, tubarões e seres humanos
lógica (veja a Figura 1-13, Capítulo 1). - levam muito mais tempo (normalmente milhares
No entanto, as adaptações que fazem uma es- ou até mesmo milhões de anos) para se adaptar por
pécie ter sucesso durante um período de tempo meio da seleção natural.
podem não ser suficientes para garantir sua sobre-
vivência quando as condições ambientais mudam.
Isto não é menos verdadeiro para os humanos, e al-
gumas condições ambientais agora estão mudando Três mitos comuns sobre
rapidamente, em grande parte por causa das nossas a evolução pela seleção natural
,
propr1as -
. açoes.
Uma de nossas adaptações - nosso poderoso cé-
rebro - pode permitir que vivamos de forma mais De acordo com especialistas em evolução, há três equí-
sustentável pela compreensão e imitação das formas vocos comuns sobre a evolução biológica pela seleção
natural. Um deles é que a "sobrevivência do mais apto"
Pelas quais a natureza tem se sustentado há BOAS
bilhões de anos, apesar das principais mudan- Nonc,As significa a "sobrevivência do mais forte" . Para os bió-
ças nas condições ambientais. logos, aptidão é uma medida de sucesso reprodutivo, e
não de força. Assim, os indivíduos mais aptos são aque-
les que deixam a maioria dos descendentes.
PENSANDO SOBRE - - - - - - - - - --.._ Outro equívoco é o de que os organismos desen-
Adaptações humanas volvem certos traços porque precisam. Por exemplo,
Uma importante adaptação dos seres humanos são seus a girafa tem o pescoço muito longo pois precisa dele
fortes polegares opositores, que nos permitem agarrar e para se alimentar de vegetação no alto das árvores.
manipular objetos com as mãos. Faça uma lista das coisas Porém, mais propriamente dito, algum ancestral ti-
que você não poderia fazer se não os tivesse.
nha um gene de pescoços longos, que lhe deu uma
vantagem sobre os outros membros de sua popula-
ção na obtenção de alimentos, e essa espécie produ-
ziu mais descendentes com pescoços longos.
A adaptação pela seleção natural Um terceiro equívoco é de que a evolução por
tem limites seleção natural envolve um grande plano da nature-
za no qual as espécies se tornam mais perfeitamente
Em um futuro não muito distante, as adaptações adaptadas. Do ponto de vista científico, nenhum pla-
às novas condições ambientais por meio da seleção no ou objetivo de perfeição genética foi identificado
natural permitirão que nossa pele se torne mais re- no processo evolutivo.
90 Ecolog ia e sustentabilidade
120 1!0
120 80
Figura 4-8 Durante milhões de anos, os continentes da Terra se moveram muito lentamente sobre várias e gigantescas placas tectônicas.
Esse processo desempenha um papel importante na extinção de espécies conforme as zonas continentais se separam, e também no
surgimento de novas espécies em regiões insulares isoladas, como as Ilhas do Havaí e as Galápagos. Rochas e evidências fósseis indicam
que, há 200-250 milhões de anos, todos os continentes que existem atualmente na Terra estavam conectados em um supercontinente
chamado Pangeia (esquerda acima). Cerca de 180 milhões de anos atrás, a Pangeia começou a se dividir conforme as placas tectônicas
da Terra se moveram, o que resultou na localização atual dos continentes (canto inferior direito). Pergunta: Como poderia uma área de
terra se separando causar a extinção de uma espécie?
CAPÍTULO 4 Biod ivers idade e evolução 91
CIÊNCIA EM FOCO
A Terra é adequada para a vida prosperar
vida na Terra, como a conhecemos, pode prosperar so- para isso é a evolução dos organismos que modificam os níveis
A mente dentro de determinada faixa de temperatura re-
lacionada às propriedades da água líquida que domina sua
atmosféricos do gás dióxido de carbono, regulador de tem-
peratura, como parte do ciclo do carbono (veja Figura 3-19,
superfície. A maioria da vida na Terra requer temperaturas mé- Capítulo 3).
dias entre os pontos de congelamento e ebulição da água. Por centenas de milhões de anos, o oxigênio tem sido
A órbita da Terra é a distância exata do Sol para fornecer responsável por cerca de 21 °/o do volume da atmosfera ter-
essas condições. Se a Terra estivesse muito mais próxima do restre. Se esse teor caísse para 15%, seria letal para a maioria
Sol, seria demasiado quente - como Vênus - para que vapor das formas de vida. Se aumentasse para 25°/o, esse gás na
de água se condensasse e formasse chuva. Se estivesse muito atmosfera provavelmente se acenderia em uma bola de fogo
mais distante, sua superfície seria tão fria - como Marte - gigante. O teor de oxigênio atual da atmosfera é, em grande
que a água existente seria somente gelo. A Terra também parte, resultado de organismos produtores e consumidores
gira rápido o suficiente para prevenir que o Sol superaqueça (especialmente fitoplâncton e certos tipos de bactérias) que
qualquer parte sua. Se não o fizesse, a maioria das formas de interagem no ciclo do carbono. Além disso, em virtude do
vida não poderia existir. desenvolvimento de bactérias fotossintetizantes que foram
O tamanho da Terra também é o correto para a vida. Tem acrescentando oxigênio à atmosfera por mais de 2 bilhões
massa gravitacional suficiente para manter a atmosfera - com- de anos, um protetor solar de moléculas de ozônio (03) na
posta de moléculas gasosas leves necessárias para a vida (tais estratosfera nos protege e a muitas outras formas de vida de
como N2, 0 2, (0 2 e vapor de H20) - presa à Terra. uma overdose de radiação ultravioleta.
Embora a vida na Terra tenha sido extremamente adaptá- Em suma, este planeta extraordinário em que vivemos é
vel, ela se beneficiou de um intervalo de temperatura favorável. adequado de maneira singular à vida como a conhecemos.
Durante os 3,5 bilhões de anos, desde que a vida surgiu, a
temperatura média da superfície terrestre tem permanecido Pensamento crítico
dentro da estreita faixa de 10-20 ºC, mesmo com um aumen- Suponha que o teor de oxigênio da atmosfera caísse para 13°/o.
to de 30°/o-40°/o na produção de energia solar. Uma razão Que tipos de organismos podem eventualmente surgir na Terra?
isolada muda geneticamente, em resposta às novas nível do mar, o que aumentou a área total coberta
condições ambientais. As erupções vulcânicas também por oceanos e diminuiu a da terra. Tais períodos al-
ocorrem ao longo dos limites das placas tectônicas e ternados de resfriamento e aquecimento levaram ao
podem afetar a evolução biológica ao destruir hábi- avanço e recuo das camadas de gelo em altas latitu-
tats e diminuir ou eliminar as populações das espé- des em grande parte do hemisfério norte mais recen-
cies (Conceito 4-3). temente, cerca de 18 mil anos atrás (Figura 4 -9).
Essas mudanças climáticas de longo prazo têm
um efeito importante sobre a evolução biológica
pela determinação dos locais onde plantas e animais
Alterações climáticas e catástrofes podem sobreviver e prosperar, e pela mudança da
afetam a seleção natural localização de diferentes tipos de ecossistemas, tais
como desertos, pradarias e florestas (Conceito 4-3).
Durante sua longa história, o clima da Terra mudou Algumas espécies foram extintas, porque o clima
drasticamente. Por vezes esfriou e cobriu boa par- mudou muito rapidamente para que se adaptassem
te da terra com gelo glacial. Em outras, aqueceu-se, e sobrevivessem, e novas espécies evoluíram para
derretendo o gelo e fazendo subir drasticamente o preencher suas funções ecológicas.
Outra força que afeta a seleção natural são os temas e criaram oportunidades para a evolução de
, .
eventos catastróficos, tais como colisões entre a novas espeaes. _-0-P..e~
e;; z,
Terra e asteroides de grandes dimensões. Provavel- A longo prazo, os três princípios da sustenta- .ff~~~
mente houve muitas dessas colisões durante os 3,5 bilidade, em especial o da biodiversidade (Figura ~,
bilhões de anos de vida na Terra. Tais impactos cau- 4-2), permitiram que a vida na Terra se adaptasse às
saram grande destruição de ecossistemas e eliminaram mudanças drásticas nas condições ambientais (veja
um grande número de espécies. No entanto, também Ciência em foco e The Habitable Planet, Vídeo 1, em
causaram mudanças nas localizações dos ecossis- www.leamer.org/resources/series2 09 .html).
Como novas espécies evoluem? quando uma barreira ou a distância impedem o flu-
xo de genes entre duas ou mais populações de uma
espécie. Isso acontece em duas fases: primeiro, o iso-
Sob certas circunstâncias, a seleção natural pode le- lamento geográfico, e depois, o reprodutivo.
var a uma espécie inteiramente nova. Nesse processo, O isolamento geográfico ocorre quando dife -
chamado especiação, uma espécie divide-se em duas rentes grupos de uma mesma população se tornam
ou mais diferentes. Para organismos de reprodução fisicamente isolados uns dos outros por longo perío-
sexuada, uma nova espécie se forma quando uma po- do de tempo. Por exemplo, uma parte da população
pulação evoluiu ao ponto em que seus membros não pode migrar em busca de alimento e, em seguida,
podem mais se reproduzir e produzir descendentes começar a viver separada em outra área com dife -
férteis com membros de outra população que não se rentes condições ambientais. As populações também
alterou ou que evoluiu de forma diferente. podem ser separadas por uma barreira física (como
A forma mais comum na qual a especiação ocorre, uma cadeia de montanhas, rios ou rodovias), erupção
principalmente entre espécies de reprodução sexuada, é vulcânica, movimentos de placas tectônicas, ventos
Figura 4-10 O isolamento geográfico pode levar ao isolamento reprodutivo, divergência de conjuntos de genes e posterior especiação.
CAPÍTULO 4 Biod ivers idade e evolução 93
ou correntes de água que carregam alguns indivíduos Com base nos registros fósseis e análises de amostras
para uma área distante. de gelo, os biólogos estimam que a taxa de extinção
No isolamento reprodutivo, a mutação e as mu- de fundo média anual tem sido entre 1 e 5 espécies
danças por seleção natural operam de maneira in- para cada milhão de espécies na Terra.
dependente nos conjuntos genéticos de populações Em contraste, extinção em massa é um aumento
isoladas geograficamente. Se esse processo continuar significativo nas taxas de extinção acima do nível da
por tempo suficiente, os membros das populações de fundo. Em um evento catastrófico, generalizado
geográfica e reprodutivamente isoladas de espécies e, muitas vezes, global, grandes grupos de espécies
de reprodução sexuada podem se tornar tão diferen- (25°/o -95°/o de todas as espécies) são eliminados em
tes nas características genéticas que terminam por todo o mundo em alguns milhões de anos ou menos.
não poder produzir descendentes vivos e férteis caso Evidências fósseis e geológicas indicam que as espé-
voltem a entrar em contato e tentem procriar. Então, cies da Terra passaram por pelo menos três, e prova -
uma espécie transformou -se em duas, e a especiação velmente cinco, extinções em massa (20-60 milhões
ocorreu (Figura 4 - 1O). de anos entre uma e outra), durante os últimos 500
Para alguns organismos que se reproduzem rapi- milhões de anos.
damente, esse tipo de especiação pode ocorrer den- Alguns biólogos sustentam que a extinção em
tro de centenas de anos. Para a maioria das espécies, massa deve ser distinguida por uma baixa taxa de
leva de dezenas de milhares a milhões de anos - por especiação, assim como pela alta taxa de extinção.
isso é difícil a observação e documentação do apare- Sob essa definição mais restrita tivemos apenas três
cimento de uma nova espécie. extinções em massa. De qualquer maneira, há um
Os seres humanos têm um papel cada vez mais conjunto expressivo de evidências de que grandes
importante no processo de especiação. Aprendemos números de espécies foram extintas pelo menos três
a misturar genes de uma espécie em outra por meio vezes no passado.
da seleção artificial e, mais recentemente, da enge-
A extinção em massa fornece uma oportunidade
nharia genética (veja Ciência em foco) .
para a evolução de novas espécies, que podem ocu-
par os papéis ecológicos desocupados ou recente-
mente criados. Como resultado, evidências indicam
Extinção é para sempre que cada evento de extinção em massa foi seguido
por um aumento na diversidade de espécies. Ao
Outro processo que afeta o número e os tipos de es- longo de vários milhões de anos, novas espécies
pécies na Terra é a extinção, processo no qual uma têm surgido para ocupar novos hábitats ou explorar
espécie inteira deixa de existir (extinção biológica), ou novos recursos disponíveis. Conforme as condições
a população de uma espécie extingue-se em uma ambientais mudam, o equilfbrio entre a formação
grande região, mas não globalmente (extinção local). de novas espécies e a extinção de espécies existentes
Quando as condições ambientais mudam, a popula- determina a biodiversidade da Terra (Conceito 4-4A).
ção de uma espécie enfrenta três futuros possíveis:
adaptar-se às novas condições pela seleção natural,
mudar (se possível) para uma área com condições
mais favoráveis, ou tornar-se extinta.
Espécies encontradas em apenas uma área são
chamadas espécies endêmicas, e são especialmente
vulneráveis à extinção. Encontram-se em ilhas e em
outras áreas exclusivas, especialmente em florestas
tropicais, onde a maioria das espécies tem um papel
altamente especializado. Por essas razões, é imprová-
vel que sejam capazes de migrar ou se adaptar dian-
te das rápidas mudanças nas condições ambientais.
Exemplo é o sapo-dourado (Figura 4-11), que apa-
rentemente foi extinto em 1989, mesmo tendo vivido
na bem protegida Reserva de Floresta Nublada Mon-
teverde, nas montanhas da Costa Rica.
Todas as espécies eventualmente são extintas, mas
mudanças drásticas nas condições ambientais podem
eliminar grandes grupos de espécies em um período
relativamente curto de tempo. Durante a maior parte
Figura 4-11 Este sapo-dourado macho viveu nas grandes altitudes da
da longa história da Terra, as espécies têm desapare- Reserva de Floresta Nublada Monteverde na Costa Rica. A espécie foi extinta
cido a uma taxa baixa, chamada extinção de fundo. em 1989, aparentemente porque seu hábitat secou.
94 Ecolog ia e sustentabilidade
CIÊNCIA EM FOCO
Mudando as características genéticas das populações
Pensamento crítico este gene crescem duas a três vezes mais rápido e são duas
Quais serão alguns efeitos benéficos e prejudiciais para o pro- vezes maiores que os ratos sem ele. Pergunta: Como você
cesso evolutivo se a engenharia genética for amplamente apli- acha que a criação dessas espécies pode alterar o processo de
cada em plantas e animais? evolução por seleção natural?
que já foi em qualquer momento durante os últi- principalmente pelo nosso impacto ambiental
mos 65 milhões de anos, e muito dessa perda de (Estudo de caso principal)?
biodiversidade está relacionada às atividades huma-
nas (Conceito 4-4B). Vamos examinar isso com mais
profundidade no Capítulo 9.
CAPÍTULO 4 Biod ivers idade e evolução 95
A diversidade de espécies inclui Figura 4-12 (direita), que possui um grande número
de álamos e outro relativamente baixo de indivíduos
sua variedade e sua abundância de outras espécies, tem baixa equidade de espécies.
em determinado lugar No entanto, a maioria das florestas tropicais tem alta
equidade de espécies, porque possui um número
semelhante de indivíduos de cada uma das m u itas
Uma característica importante de uma comunidade
espécies diferentes.
e do ecossistema a que pertence é sua diversidade
A diversidade de espécies das comunidades varia
de espécies, ou o número e a variedade de espécies
de acordo com sua localização geográfica. Para a maio-
que ela contém. Um componente importante da di- ria das plantas e animais terrestres, a diversidade de
versidade é a riqueza de espédes, o número de espécies espécies (principalmente a riqu eza delas) é maior
diferentes presentes. Por exemplo, uma comunidade nos trópicos, e vai diminuindo à medida que nos
biológica diversificada, tal como um recife de coral afastamos do equador em direção aos polos (veja a
(Figura 4-12, à esquerda), com um grande núme- Figura 5, no Suplemento 8). Os ambientes mais ricos
ro de espécies, tem grande riqueza, enquanto uma em espécies são florestas e grandes lagos tropicais,
comunidade da floresta de álamos (Figura 4-12, à recifes de coral e a zona do fundo do oceano.
direita) pode ter apenas dez tipos de plantas, ou uma Edward O. Wilson (Pessoas fazem a diferença)
baixa diversidade de espécies. e outros cientistas têm procurado saber mais sobre
Para qualquer comunidade, outro componente da a riqueza de espécies, estudando-as em ilhas (veja
diversidade é a equidade de espédes, os números compa- Ciência em foco, a seguir ), porque são boas áreas de
rativos de indivíduos de cada espécie presente. Quanto estudo por estarem relativamente isoladas e é mais
mais uniforme for o número de indivíduos em cada fácil nelas observar espécies chegando e desapare-
uma, maior é a uniformidade de espécies naquela cendo do que seria em um estudo desse tipo em ou-
comunidade. Por exemplo, a floresta de álamos na tros ecossistemas menos isolados.
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Figura 4-12 Estes dois tipos de ecossistemas variam muito em riqueza de espécies. Um exemplo de alta riqueza é um recife de coral (à
esquerda), com um grande número de espécies diferentes. No entanto, este bosque de árvores de álamo, em Alberta, Canadá (à direita),
tem um pequeno número de espécies diferentes, ou uma baixa diversidade.
96 Ecologia e sustentabilidade
CIÊNCIA EM FOCO
A riqueza de espécies em ilhas
a década de 1960, Robert MacArthur e Edward O. Wilson Um segundo fator é a distância da ilha em relação ao
N começaram a estudar as comunidades em ilhas para des-
cobrir por que as ilhas grandes tendem a ter mais espécies de
continente mais próximo. Suponha que temos duas ilhas mais
ou menos iguais em tamanho, taxas de extinção e outros fa-
determinada categoria, tais como insetos, aves ou samam- tores. De acordo com o modelo, a mais próxima a uma fonte
baias, do que as pequenas. continental de espécies imigrantes deve ter a maior taxa de
Para explicar essas diferenças na riqueza de espécies em imigração e, portanto, maior riqueza de espécies. Quanto
ilhas de diferentes tamanhos, MacArthur e Wi lson realizaram mais longe uma espécie colonizadora em potencial tem de
pesquisas e utilizaram esses resu ltados para propor o que é viajar, menor é a probabilidade de que chegue à ilha.
chamado modelo de equilíbrio de espécies, ou teoria da Esses fatores interagem para influenciar a riqueza relati-
biogeografia de ilhas. Segundo essa teoria científica am- va das diferentes ilhas. Assim, ilhas maiores e mais próximas
plamente aceita, o número de diferentes espécies (riqueza de de um continente tendem a ter maior número de espécies,
espécies) encontrado em uma ilha é determinado pela inte- ao passo que ilhas menores e mais distantes da terra firme
ração de dois fatores: a velocidade com que novas espécies tendem a ter menos espécies. Desde que MacArthur e Wil-
imigram para a ilha e a taxa em que se tornam extintas local- son apresentaram sua hipótese e fizeram seus experimen-
mente, ou deixam de existir, na ilha. tos, outros cientistas têm conduzido mais estudos científicos
O modelo prevê que, em algum ponto, as taxas de imi- que dela su rgiram, tornando-a uma teoria científica ampla-
gração e extinção de espécies devem se equ ilibrar para que a mente aceita.
taxa nem aumente nem diminua drasticamente. Esse ponto Os cientistas a têm usado para estudar e fazer previsões
de equ ilíbrio é o que determina o número médio de diferentes sobre a vida silvestre em ilhas de hábitat - áreas de hábitat na-
espécies (riqueza de espécies) da ilha ao longo do tempo. tural, tais como parques nacionais e ecossistemas de monta-
De acordo com o modelo, duas características de uma nha, cercados por terrenos urbanizados e f ragmentados. Esses
ilha afetam as taxas de imigração e de extinção, e, portan- estudos e essas previsões têm ajudado cientistas na preservação
to, sua diversidade de espécies. Uma delas é o tamanho da desses ecossistemas e a proteger a vida selvagem residente.
ilha. Ilhas pequenas tendem a ter menos espécies do que as
grandes, porque, por um lado, são alvos menores para colo- Pensamento crítico
nizadores potenciais que voam ou flutuam em sua direção. Suponha que temos dois parques nacionais, cercados por
Assim, têm menores taxas de imigração do que as ilhas maio- áreas de desenvolvimento, sendo um grande e outro muito
res. Além disso, uma ilha pequena deve ter uma taxa maior menor. Qual deles provavelmente terá a maior riqueza de es-
de extinção, pois geralmente tem menos recursos e menos pécies? Por quê?
diversidade de hábitats para sua espécie.
que comunidades com menos espécies, e foram me- estudos sustenta essa hipótese, embora haja alguns
nos afetadas pela seca e mais resistentes a invasões que não a corroboram.
por espécies de insetos. Em razão do seu alto nível Há um debate entre cientistas sobre quanta ri-
de biomassa, essas comunidades também consomem queza de espécies é preciso para ajudar a sustentar
mais dióxido de carbono e usam mais nitrogênio, e, diferentes ecossistemas. Alguns estudos sugerem que
assim, desempenham papéis mais importantes nos a média da produtividade primária líquida anual de
ciclos de carbono e nitrogênio. um ecossistema atinge seu pico com 10-40 espécies
Estudos de laboratório posteriores envolveram produtoras. Muitos ecossistemas contêm mais de 40
a criação de ecossistemas artificiais em câmaras de espécies produtoras, mas não necessariamente pro-
crescimento, nos quais os pesquisadores podem con- duzem mais biomassa ou alcançam um nível maior
trolar e manipular as variáveis-chave, como tempe- de estabilidade. Os cientistas continuarão tentando
ratura, luz e concentrações de gás atmosféricas. Esses determinar quantas espécies de produtores são ne-
estudos têm apoiado os resultados de Tilrnan. cessárias para aumentar a sustentabilidade dos ecos-
Ecólogos supuseram que em um ecossistema rico sistemas e quais são as mais importantes para pro-
em espécies, cada uma delas pode explorar uma par- porcionar essa estabilidade.
te diferente dos recursos disponíveis. Por exemplo, Conclusão: a riqueza de espécies parece aumen-
algumas plantas florescerão precocemente e outras, tar a produtividade e estabilidade, ou a sustentabili-
mais tarde. Algumas têm raízes superficiais para ab- dade, de um ecossistema (Conceito 4-5). Embora possa
sorver água e nutrientes no solo e outras, mais lon- haver algumas exceções, a maioria dos ecólogos agora
gas, para atingir solos mais profundos. Uma série de a aceita como uma hipótese válida.
O pelicano-pardo A gaivota é
mergulha em direção um necrófago
incansável O vira-pedras busca
O talha-mar pesca aos peixes, que
. Alfa iates procuram sob as conchas e
peixes pequenos na localiza ainda no ar Os maçaricos buscam
na lama e águas de , ~,,,,; : pedrinhas pequenos
superfície da água no fundo da lama invertebrados
superfície pequenos .
crustáceos, insetos e caramuios, vermes
sementes marinhos e pequenos
crustáceos
Figura 4-14 Este diagrama ilustra os nichos alimentares especializados de diversas espécies de aves em zonas úmidas costeiras. Essa especialização
reduz a concorrência e permite o compartilhamento de recursos limitados.
camundongos, ratos, veados-de-cauda-branca, gua- anos, sobrevivendo até mesmo aos dinossauros. Uma
xinins e seres humanos são espécies generalistas. das mais bem-sucedidas histórias da evolução, elas
No entanto, espécies especialistas ocupam ni- prosperaram porque são generalistas.
chos estreitos (Figura 4-13, a curva à esquerda). As 3.500 espécies de baratas da Terra podem
Podem ser capazes de viver em apenas um tipo de comer quase tudo, incluindo algas, insetos mortos,
hábitat, utilizar apenas um tipo ou alguns poucos restos de unha, sais depositados pelo suor no tênis,
tipos de alimentos ou tolerar uma faixa estreita de cabos elétricos, papel, cola e sabão. Também podem
clima e outras condições ambientais. Por exemplo, viver e se reproduzir em quase todos os lugares, ex-
algumas aves marinhas ocupam nichos especializa- ceto nas regiões polares.
dos, alimentando-se de crustáceos, insetos e outros Algumas espécies podem passar um mês sem co-
organismos encontrados em praias e áreas alagadas mer, sobreviver por semanas com apenas uma gota
costeiras vizinhas (Figura 4 -14) . de água e resistir a doses maciças de radiação. Uma
Por causa de seus nichos estreitos, essas espécies espécie pode sobreviver congelada por 48 horas.
são mais propensas à extinção quando as condições As baratas geralmente conseguem escapar de seus
ambientais mudam. Por exemplo, o panda gigante da predadores - e de um pé humano em sua perseguição -
China está seriamente ameaçado em razão de uma porque a maioria das espécies tem antenas que podem
combinação de perda de hábitat, baixa taxa de nata- detectar pequenos movimentos de ar. Também têm
lidade e dieta especializada, que consiste principal-
mente de bambu.
É melhor ser uma espécie generalista ou espe-
cialista? Depende. Quando as condições ambientais
são relativamente constantes, como em uma floresta
tropical, os especialistas têm vantagem, porque têm
menos concorrentes. Mas, sob rápidas mudanças nas
condições ambientais, o generalista, em geral, tem
melhor desempenho.
a ESTUDO DE CASO
Baratas: as últimas
sobreviventes da natureza
Figura 4-15 Generalistas, as baratas estão entre as espécies
As baratas (Figura 4-15), insetos que muitas pessoas mais adaptáveis e prolíficas do planeta. Esta foto é de uma
amam odiar, têm existido por cerca de 350 milhões barata americana.
CAPÍTULO 4 Biod ivers idade e evolução 99
indicadores biológicos, porque encontrados em quase que ocorreram no ar, na água e na terra durante
toda parte e afetados rapidamente por mudanças am- as últimas décadas, mudanças estas resultantes, na
bientais, tais como a perda ou a fragmentação de seus maior parte das vezes, de atividades humanas.
habitats e a introdução de pesticidas químicos. As po- Desde 1980, as populações de centenas das quase 6
pulações de muitas espécies de aves estão em declínio. mil espécies de anfibios do mundo foram desaparecen-
As borboletas também são bons indicadores, por- do ou diminuindo em quase todo o planeta, mesmo em
que sua associação com diversas espécies de plantas as reservas naturais protegidas e parques (Figura 4-11).
torna vulneráveis à perda de hábitat e fragmentação. De acordo com uma avaliação de 2008 conduzida pela
Alguns anfíbios também são classificados como espé- União Internacional para Conservação da Natureza e
cies indicadoras (veja o seguinte Estudo de Caso). dos Recursos Naturais (Intemational Union for Con-
servation of Nature -IUCN), cerca de 32°/o das espécies
conhecidas de anfibios (e mais de 80°/o daquelas no
Caribe) estão ameaçadas de extinção, e as populações
a ESTUDO DE CASO de outras 43°/o das espécies, em declínio.
As rãs são especialmente sensíveis e vulneráveis
Por que os anfíbios estão
a perturbações ambientais em vários pontos do seu
desaparecendo? ciclo de vida. Enquanto girinos, vivem na água e co-
mem plantas; já adultas, vivem principalmente na
Anfíbios (sapos, rãs e salamandras) vivem parte de terra e se alimentam de insetos que podem expô-las
sua vida na água e parte em terra. As populações de a pesticidas. Os ovos das rãs não têm carapaças pro-
alguns anfi'bios, também consideradas espécies indi- tetoras para bloquear a radiação UV ou a poluição.
cadoras, estão em declínio em todo o mundo. Como adultas, elas absorvem água e ar por meio de
Eles foram os primeiros vertebrados (animais com suas finas e permeáveis peles, podendo facilmente
coluna vertebral) a pôr os pés na terra. Historicamen- absorver poluentes da água, do ar ou do solo. E não
te, têm sido melhores na adaptação às mudanças am- têm pelos, penas ou escamas para protegê-las.
bientais por meio da evolução do que muitas outras Nenhuma causa foi identificada para explicares-
espécies. Algumas espécies de anfi'bios não estão em ses declínios nas espécies dos anfibios. No entanto,
perigo (Figura 4 -17, à esquerda), mas muitas outras os cientistas identificaram uma série de fatores que
(Figura 4-17, à direita) enfrentam dificuldades para podem afetar as rãs e outros anfíbios em vários pon-
se adaptar a algumas das rápidas mudanças ambientais tos do seu ciclo de vida:
• Perda de hábitat e fragmentação, especialmente pela Segundo, anfibios adultos desempenham papéis
drenagem e ocupação de áreas alagadas, agricul- ecológicos importantes nas comunidades biológicas.
tura, desmatamento e urbanização. Por exemplo, eles comem mais insetos (incluindo
• Seca prolongada, que pode secar os corpos d' água, mosquitos) do que os pássaros. Em alguns hábitats, a
de forma que poucos girinos sobrevivem. extinção de determinadas espécies de anfibios pode
• Aumentos na radiação UV resultantes da redução levar à extinção de outras espécies, como répteis,
do ozônio estratosférico durante as últimas dé- aves, insetos aquáticos, peixes, mamfferos, anffbios e
cadas, causada por produtos químicos que co- outros que se alimentam deles ou de suas larvas.
locamos no ar e se acumulam na estratosfera. Terceiro, os anffbios são um armazém genético de
Maiores doses de radiação UV podem danificar produtos farmacêuticos esperando ser descobertos.
embriões de anffbios em lagoas rasas e adultos Por exemplo, compostos de secreções da pele de an-
que se expõem ao sol para se aquecer. fibios têm sido isolados e utilizados como analgésicos
• Parasitas, tais como vermes, que se alimentam de e antibióticos e em tratamentos para queimaduras e
ovos de anfibios depositados na água, parecem doenças cardfacas.
ter causado um aumento na proporção de nasci- Muitos cientistas acreditam que as chances cada
mentos de anfibios com membros amputados ou vez maiores da extinção global de uma variedade de
adicionais. espécies de anffbios são um alerta sobre os efeitos
• Doenças virais e fúngicas, especialmente o fungo nocivos de uma série de ameaças ambientais para a
quitrfdeo, que ataca a pele dos sapos, aparen- biodiversidade, principalmente resultantes da ativi-
temente reduzindo sua capacidade de absorver dade humana.
água, levando à morte por desidratação. Essas
doenças podem se espalhar porque os adultos de
muitas espécies de anfibios se reúnem em gran-
des grupos para se reproduzir.
Espécies-chave desempenham
• Poluição, em especial a exposição a pesticidas em papéis críticos em seus ecossistemas
lagoas e nos corpos dos insetos consumidos pelos
sapos, o que pode torná-los mais vulneráveis a Chave é como se chama a pedra em forma de cunha
doenças bacterianas, virais, fúngicas e a alguns colocada no topo de um arco de pedra. Remova
parasitas. essa pedra e o arco cai. Em algumas comunidades e
• Mudanças climáticas. Um estudo de 2005 revelou ecossistemas, os ecólogos partem da hipótese de que
uma aparente correlação entre as mudanças cli- certas espécies desempenham um papel semelhante.
máticas causadas pelo aquecimento atmosférico Espécies-chave são aquelas cujos papéis têm grande
e a extinção de cerca de dois terços das 11 O es- efeito sobre os tipos e abundância de outras espécies
pécies conhecidas do sapo-arlequim em florestas em um ecossistema.
tropicais nas Américas Central e do Sul. Alterações As espécies-chave muitas vezes existem em núme-
climáticas, ou pelo menos padrões climáticos de ros relativamente limitados em seus ecossistemas, mas
curto prazo como o El Nifío (Suplemento 7), de- os efeitos que exercem são muitas vezes bem maiores
sempenharam um papel importante na extinção do que sugerem esses números. E por causa de suas
do sapo-dourado da Costa Rica (Figura 4-11). populações muitas vezes menores, algumas são mais
• Caça excessiva, especialmente na Ásia e na França, vulneráveis à extinção do que outras espécies.
onde as pernas de rã são uma iguaria. Espécies-chave podem desempenhar várias fun-
• Imigração natural, ou a introdução deliberada de pre- ções essenciais para ajudar a preservar os ecossiste-
dadores e competidores exóticos (como algumas espé- mas. Uma delas é a polinização de espécies de plantas
cies de peixes). florescentes pelas borboletas (Figura 4-A), abelhas
tistas nos oferecem três razões. Primeiro, os anffbios de outras espécies. Em 2007, os cientistas relataram que
o declínio de determinadas populações de tubarões ao
são indicadores biológicos sensfveis a mudanças nas
longo da costa atlântica dos Estados Unidos levou a uma
condições ambientais, tais como perda e degradação explosão na de raias, espécies que normalmente servem
de hábitats, poluição do ar e da água, radiação UV e de alimento aos tubarões. Agora, as raias estão se alimen-
mudanças climáticas. As ameaças mais intensas para tando de vieiras, o que resulta em um declínio acentuado
sua sobrevivência sugerem que a saúde ambiental dessa população e também afetando os negócios da área
da baía que sobrevive da sua pesca.
está se deteriorando em muitas partes do mundo.
102 Ecolog ia e sustentabilidade
(Figura 4-16), beija-flores, morcegos e outras espé- começaram a matar um grande número desses ani-
cies. Além disso, espécies-chave predadoras-de-topo mais por sua carne exótica e pele macia de sua bar-
ajudam a regular as populações de outras espécies ao riga, usada para a confecção de sapatos, cintos e car-
se alimentarem delas. Exemplos são lobo, leopardo, teiras. Outros caçaram-nos por esporte ou simples
leão, algumas espécies de tubarão e o jacaré ameri- antipatia ao grande réptil. Na década de 1960, ca-
cano (veja o seguinte Estudo de caso). çadores e pescadores ilegais já haviam exterminado
A perda de uma espécie-chave pode levar ao co- 90°/o dos jacarés no Estado americano da Louisiana,
lapso de populações e a extinções de outras espécies e a população dos Everglades da Flórida também
em uma comunidade que delas depende para certos chegou perto da extinção.
serviços ecológicos. Por isso é tão importante que os Aqueles que não se importavam muito com os
cientistas identifiquem e protejam as espécies-chave. jacarés provavelmente não tinham consciência do
seu importante papel ecológico - seu nicho - em
PENSANDO SOBRE áreas alagadas subtropicais. Utilizando suas mandí-
bulas e garras, eles cavam depressões profundas, ou
Tubarões e biodiversidade ES1UDO
Estados americanos da Flórida, Louisiana e Texas, à noite e dormem durante o dia, o que ajuda a evitar
onde 90°/o dos animais vivem. Hoje, há bem mais de predadores.
um milhão de jacarés na Flórida, e o Estado agora Há outros exemplos de espécies engenheiras. Algu-
. . , . . ,
perrmte que propnetanos matem os Jacares que va- mas de morcegos e aves, por exemplo, ajudam a rege-
gueiam em suas terras. Para os biólogos da conserva- nerar as áreas desmatadas e espalham plantas frutíferas
ção, o retomo do jacaré-americano é uma história de pela dispersão de sementes nos seus excrementos.
sucesso importante na conservação da vida silvestre. As espécies-chave e engenheiras desempenham
papéis semelhantes. Em geral, a principal diferença
entre esses dois tipos é que as engenheiras ajudam a
criar hábitats e ecossistemas, por vezes, literalmente,
Espécies engenheiras ajudam a proporcionando as bases para o ecossistema (como
formar as bases de ecossistemas os castores, por exemplo) . No entanto, espécies-chave
podem fazer isso e muito mais. Elas às vezes desem-
Outro tipo importante em alguns ecossistemas é a penham o papel de engenheiras (como os jacarés),
espécie engenheira, que desempenha um papel im- mas também desempenham uma função ativa na
portante na formação de su as comunidades, criando manutenção e funcionamento do ecossistema.
e reforçando seus hábitats de forma que beneficiam Aqui estão as três grandes ideias deste capítulo.
outras espécies. Por exemplo, os elefantes empur-
ram, quebram ou arrancam árvores, criando aber- • As populações evoluem quando seus genes sofrem
turas nas savanas e florestas da África, promovendo, mutações, conferindo a alguns indivíduos caracte-
assim, o crescimento de gramíneas e outras plantas rísticas genéticas que aumentam suas habilidades
forrageiras que beneficiam pequ enas espécies de de sobreviver e produzir descendentes com essas
pastagem, como o antílope, acelerando também as mesmas características (seleção natural) .
taxas de ciclagem de nutrientes.
Castores (Figura 4- l 9a) são outro bom exemplo • As atividades humanas estão diminuindo a biodi-
de uma espécie engenheira. Agindo como "enge- versidade vital da Terra, causando a extinção de
nheiros ecológicos", constroem barragens (Figura muitas espécies e destruindo hábitats necessários
4- l 9b) em riachos para criar lagos e pântanos que para o desenvolvimento de novas espécies.
eles e outras espécies utilizam (Figura 4- l 9c). Seu s
grandes dentes incisivos lhes permitem cortar árvo- • Cada espécie desempenha um papel ecológico es-
res de tamanho médio, que usam para construir bar- pecífico (nicho ecológico) no ecossistema em qu e
ragens e abrigos onde vivem. Eles também trabalham se encontra.
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O Estudo de caso principal sobre tubarões no início des- científica da evolução biológica pela seleção natural. Jun-
te capítulo mostra que a importância de uma espécie nem tos, esses dois grandes ativos, biodiversidade e evolução,
sempre é igual a sua percepção pública. Embora muitas representam um capital natural insubstituível. Cada um
pessoas se preocupem com o destino dos ursos pandas depende do outro e da capacidade de os seres humanos
e polares (ambos ameaçados de extinção), a maioria tem respeitarem e preservarem esse capital natural.
medo dos tubarões e não os considera bonitinhos, fofi- Finalmente, examinamos a variedade de funções
nhos nem dignos de proteção. No entanto, eles não são desempenhadas por espécies nos ecossistemas. Por
menos importantes para os seus ecossistemas. Se desapa- exemplo, vimos que algumas espécies de tubarões, bem
recessem, os ecossistemas do oceano seriam severamente como outras são espécies-chave das quais seus ecossis-
danificados, alguns poderiam até mesmo entrar em co- temas dependem para sobrevivência e saúde. Quando
lapso, o que poderia atrapalhar em muito o clima e o su- espécies-chave são ameaçadas, ecossistemas inteiros
primento de alimentos para bilhões de pessoas na Terra. também o são.
E, como os ursos-polares, quase um terço dos tubarões do Os ecossistemas e a variedade de espécies que eles
mundo enfrenta sérias ameaças de extinção por causa das contêm são exemplos funcionais dos três princípios da
atividades humanas. sustentabilidade em ação, que dependem da energia
Neste capítu lo, estudamos a importância da biodiversi- solar e da ciclagem de nutrientes químicos. Os ecossis-
dade, especialmente os números e as variedades das espé- temas também ajudam a sustentar a biodiversidade em
cies encontradas em diferentes partes do mundo, com ou- todas as suas formas. No próximo capítulo nos aprofun-
tras formas de biodiversidade - genética, de ecossistemas daremos um pouco mais no modo como as espécies inte-
e diversidade funcional. Também estudamos o processo ragem e como essas interações resultam na regulação na-
pelo qual todas as espécies surgem, de acordo com a teoria tural das populações e na preservação da biodiversidade.
1. Revise as Questões e Conceitos principais deste capí- Descreva as condições na Terra que favorecem o de -
tulo. Descreva as ameaças de muitas das espécies de senvolvimento da vida como a conhecemos.
tubarões do m u ndo (Estudo de caso prin- ~ º 5. O que é especiação? Faça a distinção entre isolamen-
• al li d
crp ) e exp que por que evemos protege-
" ., PDERINCIP
CASO
AL to geográfico e isolamento reprodutivo e explique
los da extinção como resultado de nossas atividades. como podem levar à formação de uma nova espécie.
2. Quais são os quatro principais componentes da biodi- Faça a distinção entre seleção artificial e engenharia
versidade (diversidade biológica)? Qual é sua impor- genética, e dê um exemplo de cada.
tância? O que são espécies? Descreva a importância 6. O que é extinção? O que é uma espécie endêmica e
dos insetos. Defina e dê três exemplos de biornas. por que pode estar vulnerável à extinção? Faça a dis-
3. O que é um fóssil? Por que fósseis são importantes tinção entre extinção de fundo e extinção em massa.
para a compreensão da história da vida? O que é evo- 7. O que é diversidade de espécies? Faça a distinção
lução biológica? Resuma a teoria da evolução. O que entre riqueza de espécies e equidade de espécies. Dê
é seleção natural? O que é mutação e que papel as um exemplo de cada. Resuma a teoria da biogeogra-
mutações desempenham na evolução pela seleção fia de ilhas (modelo de equilíbrio de espécies). Se-
natural? O que é adaptação (traço adaptativo)? O gundo essa teoria, quais dois fatores afetam as taxas
que é reprodução diferencial e por que é importante? de imigração e de extinção de espécies em uma ilha?
Como nos tornamos uma espécie tão poderosa? Cite O que são ilhas de hábitat? Explique por que os ecos-
dois dos limites para a evolução pela seleção natural. sistemas ricos em espécies tendem a ser produtivos e
, .
Quais são os três mitos comu ns sobre a evolução por sustentaveis.
meio da seleção natural? 8. O que é nicho ecológico? Faça a distinção entre espécies
4. Descreva como os processos geológicos podem afetar a especialistas e generalistas. Dê um exemplo de cada.
seleção natural. Como as alterações climáticas e catás- Por que alguns dentistas consideram a barata como uma
trofes, como impactos de asteroides, podem afetá-la? das histórias de maior sucesso na evolução?
CAPÍTULO 4 Biod ivers idade e evolução 105
9. Faça a distinção entre espécies nativas, introduzidas ele foi trazido de volta de sua quase extinção. Descre-
e indicadoras e dê um exemplo de cada tipo. Quais va o papel dos castores como espécie engenheira.
são os principais papéis ecológicos que as espécies de 10. Quais são as três grandes ideias deste capítulo? Como os
anfibios desempenham? Llste nove fatores que amea- ecossistemas e a variedade de espécies que contêm
çam rãs e outros anfíbios de extinção. Quais são três são relacionados com os três princípios da susten-
razões para proteger os anfibios? Faça a distinção en- tabilidade?
tre espécies-chave e engenheira. Descreva o papel de
alguns tubarões como espécie-chave. Descreva opa-
pel do jacaré-americano como espécie-chave e como Obs.: Os termos-chave estão em negrito.
1. Como nós e outras espécies podemos ser afetados 6. A espécie humana é uma espécie-chave? Explique.
se todos os tubarões do mundo forem extintos? Se os seres humanos fossem extintos, quais três espé-
2. Que papel cada um dos seguintes processos de- cies também poderiam ser extintas e três cujas popu-
sempenha para ajudar a implementar os _.::-,..e,;,, lações provavelmente cresceriam?
ci; 0
três princípios da sustentabilidade: .ff ~ ~ 7. Como você responderia a alguém que dissesse que,
(a) a seleção natural, (b) a especiação e ~, como a extinção é um processo natural, não deve-
(e) a extinção? mos nos preocupar com a perda de biodiversidade
3. Como você responderia a alguém que diz: quando as espécies se extinguem como resultado de
(a) não acreditar na evolução biológica, pois é nossas atividades?
"apenas uma teoria"? 8. Liste três maneiras pelas quais você poderia aplicar o
(b) que não devemos nos preocupar com a polui- Conceito 4-4B para tomar seu estilo de vida ambien-
ção do ar porque a seleção natural permitirá talmente mais sustentável.
que os seres humanos desenvolvam pulmões 9. Parabéns! Você está no comando da futura evolução
que possam se desintoxicar dos poluentes? da vida na Terra. Quais são as três coisas que consi-
4. Descreva as p rincipais diferenças entre os ni- dera ser as mais importantes a fazer?
chos ecológicos de seres humanos e de baratas. 10. Liste duas questões que gostaria que tivessem sido
Essas duas espécies estão em competição? Se respondidas como resultado da leitura deste capítulo.
sim, como conseguem coexistir?
5. Como você pode determinar experimentalmen-
te se um organismo é (a) uma espécie-chave e
(b) uma espécie engenheira?
• •
1. Quantas medições abaixo de 0,2 indivíduos por m 2 fo-
ram feitas? Quantas foram feitas em áreas menores
que 200 m 2 ? Quantas em áreas maiores que 200 m 2 ?
O, 1 •
o ....'- - - - - - - - - - - - - - - - - - -
2. Quantas medições acima de 0,2 indivíduos por m 2 fo- 100 200 300
ram feitas? Quantas foram feitas em áreas menores Area (m 2)
que 200 m 2 ? Quantas em áreas maiores que 200 m 2 ?
3. Suas respostas apoiam a hipótese de que ilhas maiores
tendem a ter maior densidade de espécies? Explique.