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Por que devemos proteger os tubarões?

Mais de 400 espécies conhecidas de tubarões (Figura 4-1) De acordo com um estudo de 2009, feito pela União
habitam os oceanos do mundo. Eles variam muito em tama- Internacional para Conservação da Natureza (lnternational
nho e comportamento, do tubarão-anão, do tamanho de um Union for Conservation of Nature - IUCN), 32 o/o das espécies
peixinho-dourado, até o tubarão-baleia (Figura 4-1 , à esquer- em mar aberto do mundo estão ameaçadas de extinção. Uma
da), que pode chegar a um comprimento de até 18 metros e das mais ameaçadas é o tubarão-martelo-recortado (Figura
pesar o equivalente a dois elefantes africanos adu ltos. 4-1 , à direita). Os tubarões são especialmente vulneráveis a
Muitas pessoas, influenciadas por fi lmes, romances po- declínios populacionais, porque crescem lentamente, tornam-
pulares e pela grande atenção dada pela mídia aos ataques -se adultos tardiamente e têm apenas alguns descendentes
de tubarão, acreditam que esses an imais são monstros que se por geração. Hoje, estão entre os animais mais vulneráveis e
alimentam de pessoas. Na real idade, as três maiores espécies menos protegidos da Terra .
- o tubarão-baleia (Figura 4-1, à esquerda), o tubarão-frade Os tubarões existem há mais de 400 milhões de anos.
e tubarão-boca-grande - são gigantes gentis. Esses tubarões Como espécies-chave, alguns tipos desempenham um papel
herbívoros nadam na água com a boca aberta, fi ltrando e crucial para ajudar a manter seus ecossistemas em funciona-
engolindo grandes quantidades de f itoplâncton. mento. Como se alimentam em posições elevadas ou no topo
A cobertura da mídia sobre os ataques de tubarões exage- da cadeia alimentar, removem os animais feridos e doentes
ra o perigo que eles representam. Todos os anos, membros de do oceano. Sem esse serviço prestado pelos tubarões, o ocea-
algumas espécies, tais como o tubarão-branco, tubarão-touro, no estaria repleto de peixes e mamíferos marinhos mortos
tubarão-tigre, galha-branca-oceânico e tubarão-martelo (Figura e moribundos.
4-1, à direita), ferem entre 60 e 75 pessoas no mundo. De 1998 Além de ter importantes funções ecológ icas, os tubarões
a 2008, houve uma média de seis mortes por ano em conse- podem ajudar a salvar vidas humanas. Se pudermos apren-
quência de tais ataques. Alguns desses tubarões se alimentam der por que eles quase nunca têm câncer, seria possível usar
de leões-marinhos e outros mamíferos marinhos, e às vezes con- essa informação para combater esse mal em nossa própria
fundem nadadores e surfistas com suas presas habituais. espécie. Os cientistas também estão estudando seus sistemas
No entanto, para cada tubarão que fere ou mata uma imunológicos altamente eficazes, que permitem que neles
pessoa por ano, as pessoas matam cerca de 1,2 milhão de feridas se curem sem ser infectadas.
tubarões, o que equivale a 79-97 milhões de mortes a cada Muitas pessoas argumentam que devemos proteger os
ano, de acordo com o Instituto de Pesquisas de Tubarões da tubarões simplesmente porque, como qualquer outra espé-
Austrália. Muitos são capturados por suas barbatanas valio- cie, têm o direito de existir. No entanto, outra razão para a
sas, e depois jogados de volta na água ainda vivos sem elas, importância de sustentar essa parte da biodiversidade amea-
para sangrar até a morte ou se afogar, porque já não podem çada da Terra é que alguns tubarões são espécies-chave, o
mais nadar. Essa prática é chamada remoção das barbatanas, que significa que nós e outras espécies precisamos deles.
muito utilizadas na Asia como ingrediente de sopas e produto Neste capítulo, exploraremos o papel das espécies-chave e
farmacêutico cura-tudo. Os tubarões também são mortos para outras funções especiais desempenhadas pelas espécies na
a captura de fígado, carne, couro e maxilares, e também por- história da biod iversidade vital da Terra.
que temos medo deles. Alguns morrem ao ficarem presos em
linhas e redes de pesca.

Figura 4-1 O tubarão-baleia


ameaçado (à esquerda), que se
alimenta de plâncton, é o maior
peixe do oceano.
-t5
B O tubarão-martelo-recortado
~ ameaçado (à direita) está
a.
~ nadando em águas próximas às
Ilhas Galápagos, no Equador.
São conhecidos por comer
arraias, parentes dos tubarões.
82 Ecolog ia e sustentabilidade

4-1 O que é biodiversidade e por que 4-4 Como a especiação, a extinção e as


é importante? atividades humanas afetam a biodiversidade?
CONCEITO 4 - 1 A biodiversidade encontrada em genes, CONCEITO 4-4A Conforme as cond ições ambientais
espécies, ecossistemas e seus processos é vita l para a mudam, o equilíbrio entre a formação de novas espécies e a
manutenção da vida na Terra. extinção das existentes determina a biodiversidade da Terra.
4-2 Como a vida na Terra muda ao longo CONCEITO 4-4B Atividades humanas estão diminuindo
do tempo? a biodiversidade, causando a extinção de muitas espécies
e destruindo ou degradando hábitats necessários para o
CONCEITO 4 - 2A A teoria científica da evolução explica desenvolvimento de novas espécies.
como a vida na Terra muda ao longo do tempo por meio
de alterações nos genes das populações. 4-5 O que é a diversidade de espécies e por que
CONCEITO 4 - 2B As populações evoluem quando seus é importante?
genes sofrem mutações, conferindo a alguns indivíduos CONCEITO 4 - 5 A diversidade de espécies é um
características genéticas que aumentam suas habilidades componente importante da biodiversidade, que tende a
de sobreviver e produzir descendentes com essas aumentar a sustentabilidade de alguns ecossistemas.
mesmas características (seleção natural). 4-6 Que papel desempenham as espécies em um
4-3 Como processos geológicos e mudanças ecossistema?
climáticas afetam a evolução? CONCEITO 4 - 6A Cada espécie desempenha um papel
CONCEITO 4 - 3 Movimentos de placas tectônicas, ecológico específico, chamado nicho.
erupções vu lcân icas, terremotos e mudanças climáticas CONCEITO 4 - 6B Qualquer espécie pode desempenhar
alteraram os hábitats da vida silvestre, eliminaram um um ou mais entre cinco papéis importantes - nativa,
grande número de animais e criaram oportunidades para introduzida, indicadora, chave ou engenheira - em um
a evolução de novas espécies. ecossistema específ ico.
Obs.: Os suplementos 2, 4 e 5 podem ser utilizados com este capítulo.

Há grandiosidade nesta visão da vida ... que, enquanto este planeta tem orbitado... infinitas
formas as mais belas e mais maravilhosas evoluíram e estão evoluindo.
CHARLES DARWIN

4·1 O que é biodiversidade e por que é importante?


..... CONCEITO 4- 1 A biodiversidade encontrada em genes, espécies, ecossistemas e seus
processos é vital para a manutenção da vida na Terra.

Biodiversidade é uma parte crucial Cada organismo é um membro de determinada es-


pécie com certas características distintivas. Por exem-
do capital natural da Terra plo, todos os seres humanos são membros da espécie
Homo sapiens sapiens. Os cientistas desenvolveram um
Diversidade biológica, ou biodiversidade, é a varie- sistema para classificar e nomear cada espécie, como
dade de espédes da Terra, ou as variações de formas discutido no Suplemento 5.
de vida, os genes que elas contêm, os ecossistemas Não sabemos quantas espécies existem na Terra. As
em que vivem e os processos ecossistêmicos de fluxo estimativas variam de 8 a 100 milhões. O melhor palpi-
de energia e ciclagem de nutrientes que sustentam te é que há 10-14 milhões de espécies. Até agora, os bi-
toda a vida (Figura 4 -2). ólogos identificaram cerca de 1,9 milhão (Figura 4-3).
Para um grupo de organismos de reprodução Metade das espécies de plantas e animais do mundo vive
sexuada, espécie é um conjunto de indivíduos que em florestas tropicais que os seres humanos estão rapi-
podem se acasalar e produzir descendentes férteis. damente desmatando (veja a Figura 3-1, Capítulo 3 ).
CAPÍTULO 4 Biod iversidade e evolução 83

Diversidade Funcional Processos biológicos e químicos, Diversidade ecológica Variedade


tais como fluxo de energia e reciclagem de matéria de ecossistemas terrestres e
necessária para a sobrevivência das espécies, das aquáticos encontrados em uma
comunidades e dos ecossistemas. área ou na Terra.

JI
t
~~ Energia ·,.
~ solar
Calor

Calor Calor

Calor

Diversidade genética Variedade Diversidade de espécies Número e


de material genético em uma abundância de espécies presentes em
espécie ou uma população. diferentes comunidades.

Figura 4-2 Capital natural: Este diagrama ilustra os principais componentes da biodiversidade terrestre - um dos mais importantes recursos
renováveis da Terra e componente essencial do capital natural do planeta (veja a Figura 1-4, Capítulo 1). Pergunta: Qual papel você desempenha
nessa degradação?

Figura 4-3 Duas das mais de 1,9


milhão de espécies conhecidas
do mundo são o lírio Columbia
(esquerda) e a garça-branca-grande
(direita). Em 1953, a National
Audubon Society adotou uma
imagem dessa garça em pleno voo
como seu símbolo. A sociedade
foi formada em 1905, em parte
para ajudar a prevenir a matança
.2
generalizada desse pássaro para o e:
"'
:;;;)
uso de suas penas. X
84 Ecolog ia e sustentabilidade

CIÊNCIA EM FOCO
Você já agradeceu aos insetos hoje?

nsetos são uma parte importante do capital natural da Terra, o especialista em formigas e em biodiversidade E. O. Wilson,
1 apesar de, em geral, terem má reputação. Classificamos mui- se todos os insetos desaparecessem, os sistemas de suporte
tas espécies de insetos como pragas, porque competem co- da vida, para nós e outras espécies, seriam seriamente per-
nosco por comida, contribuem para a propagação de doenças turbados.
humanas, como a malária, nos picam ou ferroam e invadem Uma lição ambiental: apesar de os insetos não precisarem
nossos gramados, nossos jardins e nossas casas. Algumas pes- de espécies recém-chegadas, como os humanos, nós e outros
soas temem insetos e acham que o único inseto bom é aquele organismos terrestres precisamos deles.
morto. Elas deixam de reconhecer o papel vital que os insetos
desempenham ajudando a sustentar a vida na Terra. Pensamento crítico
Por exemplo, a polinização é um serviço natural que permi- Identifique três espécies de insetos não discutidas que benefi-
te que plantas florescendo se reproduzam sexualmente quando ciam sua vida.
os grãos de pólen são transf eridos da sua flor para uma par- Figura 4-A A importância
te receptiva de outra da mesma espécie. Muitas das espécies dos insetos: A borboleta-
vegetais do planeta dependem de insetos para polinizar suas .
-monarca, assim como as
flores (Figura 4-A, acima). abelhas e muitos outros
Insetos que se alimentam de outros insetos, como o louva- insetos, alimenta-se de
-deus (Figura 4-A, abaixo), ajudam a controlar as populações pólen de flor (esquerda)
de pelo menos metade das espécies que chamamos de pragas. e poliniza outras plantas
Esse serviço gratuito de controle de pragas é uma parte impor- ·e:
;;;;)
que servem de alimento
..'.S para muitos animais
tante do capital natural da Terra. Alguns também desempe- V>
Q)

E herbívoros, incluindo
nham um papel fundamental na flexibilização e renovação do ~
"' os seres humanos.
solo que sustenta a vida vegetal na terra. O louva-deus, que está
Os insetos têm existido por pelo menos 400 milhões de comendo um grilo
anos - cerca de 2 mil vezes mais que a versão mais recente doméstico (direita), e
da espécie humana. São formas incrivelmente bem-sucedidas muitas outras espécies
de vida. Alguns se reproduzem a uma velocidade espantosa e ajudam a controlar as
podem desenvolver rapidamente novos t raços genéticos, tais populações da maioria
como resistência aos pesticidas. Também têm uma excepcional das espécies de insetos
capacidade de evoluir para novas espécies quando confron- que classificamos
como pragas.
tados com mudanças nas condições ambientais, e são muito
resistentes à extinção, o que é muito bom, pois, de acordo com

Os insetos constituem a maioria das espécies conhe-


cidas no mundo (veja Ciência em foco). Os cientistas
acreditam que a maioria das espécies não identifica-
das vive nas florestas tropicais do planeta e nas gran -
des áreas inexploradas dos oceanos.
Cientistas estão criando a Endclopédia da Vida, site
dedicado a, eventualmente, conseguir resumir todas
as informações básicas sobre as espécies conhecidas e
nomeadas do mundo, que será atualizado continua-
mente conforme mais espécies estão sendo desco-
bertas (acesse http://www.eol.org/).
A diversidade de espécies é o componente mais ób-
vio, mas não o único, da biodiversidade. Discutire-
mos esse tema mais detalhadamente na Seção 4-5
deste capítulo. Outro componente importante é a
diversidade genética (Figura 4-4). A variedade de es-
pécies da Terra contém uma diversidade ainda maior
de genes. Essa diversidade genética permite que a
vida na Terra se adapte e sobreviva a dramáticas mu - Figura 4-4 A diversidade genética entre indivíduos em uma
danças ambientais. população de uma espécie de caracol do Caribe é refletida nas
variações na cor da casca e nos padrões de bandas. A diversidade
Diversidade de ecossistemas - a variedade de desertos, genética também pode incluir outras variações, tais como
pastagens, florestas, montanhas, oceanos, lagos, rios e pequenas diferenças na composição química, na sensibilidade a
zonas úmidas da Terra é outro componente importante vários produtos químicos e no comportamento.
CAPÍTULO 4 Biod ivers idade e evolução 85

da biodiversidade. Cada um desses ecossistemas é um fibras, energia que vem de madeira e biocombustíveis
armazém de diversidade genética e de espécies. e medicamentos. Ela também desempenha um papel
Os biólogos classificaram a parte terrestre da bios- fundamental na preservação da qualidade do ar e da
fera em biornas - grandes regiões, tais como florestas, água, mantendo a fertilidade do solo, decompondo,
desertos e pradarias, com climas distintos e certas reciclando resíduos e controlando populações de es-
espécies (principalmente de vegetação) a elas adap- pécies que humanos consideram pragas. Na execu-
tadas. A Figura 4 -5 mostra os principais biornas di- ção desses serviços ecológicos gratuitos, que também
ferentes ao longo do paralelo 39°, que abrange os são parte do capital natural da Terra (veja Figura 1-4,
Estados Unidos. Discutiremos esse tema mais deta- Capítulo 1), a biodiversidade contribui para susten-
lhadamente no Capítulo 7. tar a vida. Devemos muito do que sabemos sobre a
Outro componente importante da biodiversidade biodiversidade a um número relativamente pequeno
é a diversidade fu.ndonal - a variedade de processos, de pesquisadores, um dos quais é Edward O. Wilson
como o fluxo de energia e a ciclagem de matéria, que (veja o quadro "Pessoas fazem a diferença").
ocorrem dentro dos ecossistemas (veja a Figura 3-11, Dado que a biodiversidade é um conceito tão im-
Capítulo 3), conforme as espécies interagem umas portante e tão vital para a sustentabilidade, faremos
com as outras nas teias e cadeias alimentares. Parte da um passeio pela biodiversidade neste e nos próximos
importância de algumas espécies de tubarão EsTuoo sete capítulos. Este abrange a variedade de espécies da
DE CASO
(Estudo de caso principal) é seu papel na PRINCIPAL Terra, como evoluíram e os papéis principais que de-
manutenção desses processos dentro de seus ecossis- sempenham nos ecossistemas. O Capítulo 5 examina
temas, ajudando a manter outras espécies de animais como as diferentes interações entre espécies ajudam
e plantas que neles vivem. a controlar o tamanho das populações e promover a
A biodiversidade da Terra é uma parte vital do ca- biodiversidade. O Capítulo 6 usa os prinápios da dinâ-
pital natural que ajuda a nos manter vivos e apoia mica populacional desenvolvidos no 5 para examinar o
nossas economias. Com a ajuda da tecnologia, usamos crescimento da população humana e seus efeitos sobre
a biodiversidade para nos fornecer alimentos, madeira, a biodiversidade. Os capítulos 7 e 8 examinam os prin-
cipais tipos de ecossistemas terrestres e aquáticos, res-
PENSANDO SOBRE
ESTUDO
pectivamente, que são os principais componentes da
Tubarões e biodiversidade
DE CASO
PRINCIPAL biodiversidade. Então, nos próximos três, examinare-
Quais são as três maneiras pelas quais os tubarões mos as principais ameaças à biodiversidade de espécies
(Estudo de caso principal) mantêm um ou mais dos (Capítulo 9), à terrestre (Capítulo 10) e à aquática (Ca-
quatro componentes da biodiversidade em seu ambiente?
pítulo 11 ), e soluções para lidar com essas ameaças.

Montanhas Sierra Grande deserto Montanhas Grandes Vale do Rio Montes


.
costeiras Nevada americano rochosas planícies Mississippi Apalaches

Chaparral costeiro Florestas de Deserto Florestas de Pastagem de Floresta


e mato coníferas coníferas pradaria decídua

Figura 4-5 Os principais biornas encontrados ao longo do paralelo 39° nos Estados Unidos são mostrados neste diagrama. As diferenças entre
espécies de árvores e outras plantas refletem as mudanças no clima, principalmente as alterações na precipitação média anual e temperatura.
86 Ecolog ia e sustentabilidade

PESSOAS FAZEM A DIFERENÇA


Edward O. Wilson: um defensor da biodiversidade
inda menino crescendo no sudeste dos Estados Unidos, cada em 1992, na qual
-
e
QJ

A Edward O. Wilson (Figura 4-B) interessou-se por insetos


aos nove anos de idade. Ele disse: "Toda criança tem uma
estabeleceu os princí-
pios e as questões prá-
.e
w
E
e

>
e
QJ

fase de insetos. Eu nunca saí da minha" . t icas da biod iversidade -5


-
~

o
Antes de entrar para a faculdade, W ilson t inha decidido de forma mais com- ~

2e
que se especializaria no estudo das f orm igas. Depois que f i- pleta do que qualquer QJ
V
cou fascinado com esses minúsculos organ ismos, e por toda outro f izera até aq uele >,
·"~"
sua longa carreira constantemente amp liou seu foco para momento. _g/
e
:::,
incluir toda a biosfera. E, agora, passa a maior parte do seu Desde então, tor-
tempo estudando, escrevendo e falando sobre toda a vida nou-se profundamente
- a biodiversidade da Terra - e trabalhando com a Enciclopé- envolvido em escrever
dia da Vida da Universidade de Harvard, um banco de dados e fazer pa lestras sobre
on-line para as espécies conhecidas e classificadas do planeta a necessidade de es-
(acesse http://www.eol.org/). forços de conservação
Durante sua longa carreira de pesqu isas, artigos e ensino, globa l. W ilson já ga- Figura 4-b Edward O. Wilson
W ilson assumiu muitos desafios. Com outros pesquisadores, nhou mais de cem prêmios, incluindo a U.S. National Medal
descobriu como as formigas se comunicam por meio de fe- of Science, bem como outros prêm ios nacionais semelhan-
romôn ios. Também estudou o seu complexo comportamento tes de muitos outros países. Já escreveu 25 livros, dois dos
social e reun iu grande parte de seu traba lho no volume épico quais ganharam o Prêm io Pulitzer de não f icção geral. Sobre
The ants (As formigas), publicado em 1990. Sua pesquisa so- o estudo da biod iversidade, ele escreve:
bre form igas tem sido aplicada ao estudo e à compreensão
de outros organismos sociais. "Até que levemos a sério a exploração da diversidade biológi-
Em 1960, W ilson e outros cientistas desenvolveram ateo- ca (. ..) a ciência e a humanidade em geral estarão voando às
ria da biogeografia de ilhas (C iência em foco), que t rata de cegas no interior da biosfera. Como podemos compreender a
como a diversidade de espécies em ilhas é afetada pelas suas ecologia de uma trilha ou lagoa em uma floresta, sem o co-
dimensões e localizações, e tem sido aplicada a áreas que se nhecimento das milhares de espécies (. ..) os principais canais
assemelham a ilhas, como florestas de montanha, cercadas de materiais e fluxo de energia? Como podemos prevenir e
por áreas antropizadas. Esse estudioso também foi importan- controlar a propagação de novas doenças de cultivares e hu-
te na criação de áreas naturais proteg idas. manas, se não conhecemos a identidade do inseto e de outras
W ilson é por vezes creditado por ter cunhado o termo espécies que as transportam? E, f inalmente, como podemos
"biodiversidade". Não foi ele rea lmente o inventor do termo, salvar da extinção as formas de vida na Terra se não sabemos
mas sim o primeiro a usá-lo em um artigo científ ico, e, por- nem mesmo o que a maioria delas é?"
tanto, concretizou o significado do termo e, essencialmente,
batizou um novo campo da ciência. Outra de suas obras de Sa iba mais no site da Fundação de Biod iversidade de
referência é The diversity of life (A diversidade da vida), publi- Edward O. Wilson (www.eowilson.org).

4·:Z Como a vida na Terra muda ao longo do tempo?


A teoria científica da evolução explica como a vida na Terra muda ao longo
..... CONCEITO 4 - 2A
do tempo por meio de alterações nos genes das populações.
As populações evoluem quando seus genes sofrem mutações, conferindo a alguns
..... CONCEITO 4 - 2B
indivíduos características genéticas que aumentam suas habilidades de sobreviver e produzir
descendentes com essas mesmas características (seleção natural).

A evolução biológica por seleção de esqueletos, ossos, dentes, conchas, folhas e semen-
tes, ou impressões de tais itens encontradas em rochas
natural explica como a vida (Figura 4-6). Os dentistas também perfuram amostras
muda com o tempo de núcleos de gelo dos glaciares nos polos da Terra e no
topo de montanhas, e examinam os sinais de vida anti-
A história da vida na terra é colorida, profunda e com- ga encontrados em diferentes camadas nesses núcleos.
plexa. A maior parte do que sabemos dessa história Todo o conj unto de evidências recolhidas por
vem de fósseis, réplicas mineralizadas ou petrificadas esses métodos, chamado registro fóssil, é desigual e
CAPÍTULO 4 Biod ivers idade e evolução 87

incompleto. Algumas formas de vida não deixaram


fósseis, ou estes foram decompostos. Fósseis encon-
trados até agora, provavelmente, representam ape-
nas 1 °/o de todas as espécies que já viveram. Tentar
reconstruir o desenvolvimento da vida com tão pou-
ca evidência é o trabalho da paleontologia - um desa-
fiador jogo de detetive científico. Carreira Verde:
paleontólogo
.
Como conseguimos ter essa variedade surpreen- l::!
dente de espécies? A resposta científica envolve a evo-
lução biológica (ou simplesmente evolução), processo
pelo qual ocorreram as mudanças de vida na Terra
ao longo do tempo e por meio de alterações nas car-
acterísticas genéticas das populações (Conceito 4-2A).
De acordo com a teoria da evolução, todas as espé-
cies descendem de espécies anteriores, ou ancestrais. Figura 4-6 Este esqueleto fossilizado é parte dos restos mineralizados de um
Em outras palavras, a vida vem da vida. herbívoro que viveu durante a era Cenozoica, 26 a 66 milhões de anos atrás.
A ideia de que organismos mudam ao longo do
tempo e são descendentes de um único ancestral co-
mum tem existido, de uma forma ou de outra, desde por que a vida é tão diversa hoje em dia (veja a Figu-
os primeiros filósofos gregos. No entanto, ninguém ra 1, no Suplemento 5). No entanto, ainda existem
tinha desenvolvido uma explicação convincente muitas perguntas sem respostas que geram debates
de como isso teria acontecido até 1858, quando os científicos sobre os detalhes da evolução pela seleção
naturalistas Charles Darwin ( 1809-1882) e Alfred natural.
Russel Wallace ( 182 3-1913) propuseram, indepen-
dentemente, o conceito de seleção natural como um
mecanismo de evolução biológica. Foi Darwin quem
meticulosamente reuniu evidências para apoiar essa
A evolução pela seleção natural
ideia e publicou, em 1859, seu livro A origem dases- funciona por meio de mutações
pédes por meio da seleção natural. e adaptações
Darwin e Wallace observaram que os organismos
individuais devem lutar constantemente para obter
O processo de evolução biológica por seleção natural
comida, água e outros recursos suficientes, de modo
envolve mudanças na composição genética de uma
a evitar serem comidos e para se reproduzir. Tam-
população pelas sucessivas gerações. Observe que as
bém observaram que os indivíduos em uma popula-
ção com uma vantagem espeáfica sobre outros nes- populações - não os indivíduos - evoluem, tornando-se ge-
sa mesma população tinham maior probabilidade de
neticamente diferentes.
sobreviver e de produzir descendentes portadores da O primeiro passo nesse processo é o desenvolvi-
mesma vantagem. Essa vantagem era devida a uma mento da variabilidade genética, ou variedade na com-
característica ou traço possuído por esses indivíduos, posição genética dos indivíduos de uma população.
mas não por outros de sua espécie. Isso ocorre por intermédio de mutações, mudanças
Com base nessas observações, Darwin e Wallace aleatórias nas moléculas de DNA (veja a Figura 10,
descreveram um processo chamado seleção natural, no Suplemento 4) de um gene em uma célula que
pelo qual indivíduos com certos traços são mais pro- pode ser herdada pelos filhos. A maioria das muta-
pensos a sobreviver e se reproduzir em um deter- ções é resultado de mudanças aleatórias que ocor-
minado conjunto de condições ambientais do que rem nas instruções genéticas, codificadas quando as
aqueles sem os traços (Conceito 4-2B). Os cientistas moléculas de DNA são copiadas cada vez que uma
concluíram que esses traços que conferem sobre- célula se divide e quando um organismo se repro -
vivência se tornam mais prevalentes nas populações duz. Em outras palavras, esse processo de cópia está
futuras da espécie conforme os indivíduos seus por- sujeito a erros aleatórios. Algumas mutações tam-
tadores se tornam cada vez mais numerosos e pas- bém ocorrem pela exposição a agentes externos,
sam suas características aos descendentes. como radioatividade, raios X e substâncias químicas
Um enorme conjunto de evidências tem apoiado naturais e artificiais (chamadas agentes mutagênicos).
essa ideia. Como resultado, a evolução biológica pela As mutações podem ocorrer em qualquer célula,
seleção natural tomou-se uma importante teoria cien- mas apenas aquelas que acontecem em genes de cé-
tífica que explica, de maneira geral, como a vida tem lulas reprodutivas são transmitidas à descendência.
mudado ao longo dos últimos 3,5 bilhões de anos e Às vezes, essa mutação pode resultar em um novo
88 Ecolog ia e sustentabilidade

(a) (b) (e) (d)


Um grupo de bactérias, A maioria das bactérias As bactérias geneticamente No final, a cepa resistente
.
incluindo as geneticamente normais morre resistentes começam a se substitui toda ou a maior
resistentes, são expostas a um multiplicar parte da que é afetada
antibiótico pelos antibióticos

Bactéria Normal Bactéria resistente

Figura 4-7 Evolução por meio da seleção natural. (a) Uma população de bactérias é exposta a um antibiótico, que (b) mata todos os
indivíduos, exceto aqueles que possuem uma característica que os tornam resistentes à droga. (e) As bactérias resistentes se multiplicam
e, no final, (d) substituem todas ou a maioria das não-resistentes.

traço genético, chamado traço hereditário, que pode um produto químico em outros inofensivos. Outro
ser passado de uma geração a outra. Dessa maneira, exemplo importante de seleção natural é a evolução
as populações desenvolvem diferenças entre indiví- da resistência genética aos medicamentos ampla-
duos, incluindo a variabilidade genética. mente utilizados, ou antibióticos.
O próximo passo na evolução biológica é a seleção Médicos usam esses medicamentos para ajudar a
natural, pela qual as condições ambientais favorecem controlar as bactérias causadoras de doenças, mas eles
alguns indivíduos em detrimento de outros. Os favo- tem se tomado uma força de seleção natural. Quando
recidos possuem características hereditárias que lhes tal droga é usada, as poucas bactérias que lhe são ge-
oferecem alguma vantagem sobre outros numa dada neticamente resistentes (por causa de algum traço que
população. Essa característica é chamada adaptação, possuem) sobrevivem e rapidamente produzem mais
ou traço adaptativo, qualquer característica heredi- descendentes do que as que foram mortas pela droga
tária que aumenta a capacidade de um organismo in- poderiam ter produzido. Assim, o antibiótico acaba per-
dividual de sobreviver e se reproduzir em uma taxa dendo sua eficácia conforme bactérias geneticamente
superior à de outros de uma mesma população sob resistentes se reproduzem rapidamente, e aquelas que
as condições ambientais prevalescentes. Para que a são sensíveis à droga morrem (Figura 4-7).
seleção natural ocorra, o traço hereditário também Uma forma de resumir o processo da evolução
deve levar à reprodução diferencial, permitindo que biológica pela seleção natural é: os genes sofrem muta-
indivíduos com essa característica produzam mais ções, os indivíduos são seledonados e as populações evoluem
descendentes sobreviventes do que outros membros de forma que se tornem mais bem adaptadas para sobre-
da população. viver e se reproduzir nas condições ambientais existentes
Por exemplo, em razão da neve e do frio, alguns (Conceito 4-2B) .
lobos cinzentos que têm a pele mais grossa em uma Um exemplo notável de evolução de espécies por
população podem viver mais tempo e, assim, produ- seleção natural é o Homo sapiens sapiens. Evoluímos
zir mais descendentes do que aqueles sem essa pe- certos traços que nos permitiram conquistar boa par-
lagem mais grossa. Conforme esses lobos com mais te do mundo (veja o seguinte Estudo de caso) .
tempo de vida se acasalam, os genes para uma pele
mais grossa são espalhados por toda a população, e
os indivíduos com esses genes aumentam em núme-
ro e passam essa útil característica para os demais • ESTUDO DE CASO
descendentes. Assim, o conceito científico de sele-
Como os humanos se tornaram
ção natural explica como as populações se adaptam
a mudanças nas condições ambientais. uma espécie tão poderosa?
Resistênda genética é a capacidade, de um ou mais
organismos em uma população, de tolerar um pro- Como muitas outras espécies, os humanos sobrevi-
duto químico destinado a matá-lo. Por exemplo, o veram e prosperaram porque temos, em nós, alguns
organismo pode ter um gene que lhe permite quebrar traços que nos permitem adaptar e modificar partes
CAPÍTULO 4 Biod ivers idade e evolução 89

do meio ambiente para aumentar nossas chances de sistente aos efeitos nocivos da radiação UV (veja a
sobrevivência. Figura 2-11, Capítulo 2), ou que nossos pulmões
Os biólogos evolutivos atribuem nosso sucesso possam lidar com os poluentes do ar, e nossos fíga-
a três adaptações: fortes polegares opositores, que nos dos melhor desintoxicar os poluentes?
permitiram agarrar e utilizar ferramentas melhor do Segundo os cientistas nesse campo, a resposta é
que alguns outros animais que têm polegares; habili- não, por causa de duas limitações na adaptação pela
dade de caminhar ereto, que nos deu agilidade e liber- seleção natural. Primeiro, uma mudança nas condi-
tou nossas mãos para muitos usos; e cérebro complexo, ções ambientais pode levar a essa adaptação apenas
que nos permitiu desenvolver muitas habilidades, traços genéticos já presentes no conjunto de genes
incluindo a capacidade de utilizar a voz para trans- de uma população ou de características resultantes de
mitir ideias complexas. mutações que ocorrem aleatoriamente.
Essas adaptações têm nos ajudado a desenvolver Segundo, mesmo que um traço benéfico here-
ferramentas, armas, dispositivos de proteção e tec- ditário esteja presente em uma população, sua ca-
nologias que ampliam nossos limitados sentidos da pacidade de se adaptar pode ser limitada pelo seu
visão, audição e olfato, compensando algumas de potencial reprodutivo. Populações de espécies gene-
nossas deficiências. Assim, em um piscar de olhos na ticamente diversas que se reproduzem rapidamente
história de 3,5 bilhões de anos de vida na Terra, de- - como ervas daninhas, mosquitos, ratos, baratas e
senvolvemos tecnologias poderosas e apossamo-nos bactérias - muitas vezes se adaptam a uma mudança
de grande parte da produtividade primária líquida da nas condições ambientais em um curto período (dias
Terra para nosso próprio uso. Ao mesmo tempo, te- a anos). Por outro lado, aquelas que não produzem
mos degradado muito do sistema de suporte da vida um grande número de descendentes rapidamente
do planeta com o crescimento de nossa pegada eco- - como elefantes, tigres, tubarões e seres humanos
lógica (veja a Figura 1-13, Capítulo 1). - levam muito mais tempo (normalmente milhares
No entanto, as adaptações que fazem uma es- ou até mesmo milhões de anos) para se adaptar por
pécie ter sucesso durante um período de tempo meio da seleção natural.
podem não ser suficientes para garantir sua sobre-
vivência quando as condições ambientais mudam.
Isto não é menos verdadeiro para os humanos, e al-
gumas condições ambientais agora estão mudando Três mitos comuns sobre
rapidamente, em grande parte por causa das nossas a evolução pela seleção natural
,
propr1as -
. açoes.
Uma de nossas adaptações - nosso poderoso cé-
rebro - pode permitir que vivamos de forma mais De acordo com especialistas em evolução, há três equí-
sustentável pela compreensão e imitação das formas vocos comuns sobre a evolução biológica pela seleção
natural. Um deles é que a "sobrevivência do mais apto"
Pelas quais a natureza tem se sustentado há BOAS
bilhões de anos, apesar das principais mudan- Nonc,As significa a "sobrevivência do mais forte" . Para os bió-
ças nas condições ambientais. logos, aptidão é uma medida de sucesso reprodutivo, e
não de força. Assim, os indivíduos mais aptos são aque-
les que deixam a maioria dos descendentes.
PENSANDO SOBRE - - - - - - - - - --.._ Outro equívoco é o de que os organismos desen-
Adaptações humanas volvem certos traços porque precisam. Por exemplo,
Uma importante adaptação dos seres humanos são seus a girafa tem o pescoço muito longo pois precisa dele
fortes polegares opositores, que nos permitem agarrar e para se alimentar de vegetação no alto das árvores.
manipular objetos com as mãos. Faça uma lista das coisas Porém, mais propriamente dito, algum ancestral ti-
que você não poderia fazer se não os tivesse.
nha um gene de pescoços longos, que lhe deu uma
vantagem sobre os outros membros de sua popula-
ção na obtenção de alimentos, e essa espécie produ-
ziu mais descendentes com pescoços longos.
A adaptação pela seleção natural Um terceiro equívoco é de que a evolução por
tem limites seleção natural envolve um grande plano da nature-
za no qual as espécies se tornam mais perfeitamente
Em um futuro não muito distante, as adaptações adaptadas. Do ponto de vista científico, nenhum pla-
às novas condições ambientais por meio da seleção no ou objetivo de perfeição genética foi identificado
natural permitirão que nossa pele se torne mais re- no processo evolutivo.
90 Ecolog ia e sustentabilidade

4.3 Como processos geológicos e mudanças climáticas


afetam a evolução?
..... CONCEITO 4- 3 Movimentos de placas tectônicas, erupções vulcânicas, terremotos e mudanças
climáticas alteraram os hábitats da vida silvestre, eliminaram um grande número de animais
e criaram oportunidades para a evolução de novas espécies.

Processos geológicos Segundo, o movimento dos continentes permi-


te que as espécies se movam, se adaptem a novos
afetam a seleção natural ambientes e formem novas espécies por meio da se-
leção natural. Quando os continentes se juntam, as
A superfície da Terra mudou dramaticamente du- populações podem se dispersar para novas áreas e se
rante sua longa história. Os cientistas descobriram adaptar às novas condições ambientais. Quando se
que enormes fluxos de rocha fundida no seu interior separam e ilhas são formadas, as populações devem
quebram sua superfície em uma série de gigantescas evoluir em condições isoladas ou se tornam extintas.
placas sólidas, chamadas placas tectônicas. Por cente- Placas tectônicas adjacentes, que estão se movendo
nas de milhões de anos, elas se afastaram lentamen - lentamente próximas umas das outras, por vezes se
te no manto do planeta (Figura 4 -8). Esse fato de movem rapidamente. Tais movimentos bruscos podem
que placas tectônicas se afastam tiveram dois efeitos causar terremotos que, por sua vez, também podem afe-
importantes sobre a evolução e a distribuição da vida tar a evolução biológica, provocando fissuras na cro-
na Terra. Primeiro, as localizações (latitudes) dos con- sta terrestre, que eventualmente causam a separação
tinentes e bacias oceânicas têm grande influência so- e o isolamento de populações de espécies. Durante
bre o clima da Terra e, assim, ajudaram a determinar longos períodos de tempo, esse ciclo pode levar à for-
onde as plantas e os animais podem viver. mação de novas espécies à medida que cada população

225 milhões de anos atrás 65 milhões de anos atrás

120 1!0

135 milhões de anos atrás Presente

120 80

Figura 4-8 Durante milhões de anos, os continentes da Terra se moveram muito lentamente sobre várias e gigantescas placas tectônicas.
Esse processo desempenha um papel importante na extinção de espécies conforme as zonas continentais se separam, e também no
surgimento de novas espécies em regiões insulares isoladas, como as Ilhas do Havaí e as Galápagos. Rochas e evidências fósseis indicam
que, há 200-250 milhões de anos, todos os continentes que existem atualmente na Terra estavam conectados em um supercontinente
chamado Pangeia (esquerda acima). Cerca de 180 milhões de anos atrás, a Pangeia começou a se dividir conforme as placas tectônicas
da Terra se moveram, o que resultou na localização atual dos continentes (canto inferior direito). Pergunta: Como poderia uma área de
terra se separando causar a extinção de uma espécie?
CAPÍTULO 4 Biod ivers idade e evolução 91

CIÊNCIA EM FOCO
A Terra é adequada para a vida prosperar

vida na Terra, como a conhecemos, pode prosperar so- para isso é a evolução dos organismos que modificam os níveis
A mente dentro de determinada faixa de temperatura re-
lacionada às propriedades da água líquida que domina sua
atmosféricos do gás dióxido de carbono, regulador de tem-
peratura, como parte do ciclo do carbono (veja Figura 3-19,
superfície. A maioria da vida na Terra requer temperaturas mé- Capítulo 3).
dias entre os pontos de congelamento e ebulição da água. Por centenas de milhões de anos, o oxigênio tem sido
A órbita da Terra é a distância exata do Sol para fornecer responsável por cerca de 21 °/o do volume da atmosfera ter-
essas condições. Se a Terra estivesse muito mais próxima do restre. Se esse teor caísse para 15%, seria letal para a maioria
Sol, seria demasiado quente - como Vênus - para que vapor das formas de vida. Se aumentasse para 25°/o, esse gás na
de água se condensasse e formasse chuva. Se estivesse muito atmosfera provavelmente se acenderia em uma bola de fogo
mais distante, sua superfície seria tão fria - como Marte - gigante. O teor de oxigênio atual da atmosfera é, em grande
que a água existente seria somente gelo. A Terra também parte, resultado de organismos produtores e consumidores
gira rápido o suficiente para prevenir que o Sol superaqueça (especialmente fitoplâncton e certos tipos de bactérias) que
qualquer parte sua. Se não o fizesse, a maioria das formas de interagem no ciclo do carbono. Além disso, em virtude do
vida não poderia existir. desenvolvimento de bactérias fotossintetizantes que foram
O tamanho da Terra também é o correto para a vida. Tem acrescentando oxigênio à atmosfera por mais de 2 bilhões
massa gravitacional suficiente para manter a atmosfera - com- de anos, um protetor solar de moléculas de ozônio (03) na
posta de moléculas gasosas leves necessárias para a vida (tais estratosfera nos protege e a muitas outras formas de vida de
como N2, 0 2, (0 2 e vapor de H20) - presa à Terra. uma overdose de radiação ultravioleta.
Embora a vida na Terra tenha sido extremamente adaptá- Em suma, este planeta extraordinário em que vivemos é
vel, ela se beneficiou de um intervalo de temperatura favorável. adequado de maneira singular à vida como a conhecemos.
Durante os 3,5 bilhões de anos, desde que a vida surgiu, a
temperatura média da superfície terrestre tem permanecido Pensamento crítico
dentro da estreita faixa de 10-20 ºC, mesmo com um aumen- Suponha que o teor de oxigênio da atmosfera caísse para 13°/o.
to de 30°/o-40°/o na produção de energia solar. Uma razão Que tipos de organismos podem eventualmente surgir na Terra?

isolada muda geneticamente, em resposta às novas nível do mar, o que aumentou a área total coberta
condições ambientais. As erupções vulcânicas também por oceanos e diminuiu a da terra. Tais períodos al-
ocorrem ao longo dos limites das placas tectônicas e ternados de resfriamento e aquecimento levaram ao
podem afetar a evolução biológica ao destruir hábi- avanço e recuo das camadas de gelo em altas latitu-
tats e diminuir ou eliminar as populações das espé- des em grande parte do hemisfério norte mais recen-
cies (Conceito 4-3). temente, cerca de 18 mil anos atrás (Figura 4 -9).
Essas mudanças climáticas de longo prazo têm
um efeito importante sobre a evolução biológica
pela determinação dos locais onde plantas e animais
Alterações climáticas e catástrofes podem sobreviver e prosperar, e pela mudança da
afetam a seleção natural localização de diferentes tipos de ecossistemas, tais
como desertos, pradarias e florestas (Conceito 4-3).
Durante sua longa história, o clima da Terra mudou Algumas espécies foram extintas, porque o clima
drasticamente. Por vezes esfriou e cobriu boa par- mudou muito rapidamente para que se adaptassem
te da terra com gelo glacial. Em outras, aqueceu-se, e sobrevivessem, e novas espécies evoluíram para
derretendo o gelo e fazendo subir drasticamente o preencher suas funções ecológicas.

Figura 4-9 Estes mapas do hemisfério norte


mostram as mudanças em grande escala na
cobertura de gelo glacial durante os últimos
18 mil anos. Outras pequenas mudanças nas
geleiras glaciais em cadeias de montanhas,
como os Alpes europeus, não são mostradas.
Pergunta: Quais são duas características de
um animal e de uma planta que a seleção
natural teria favorecido à medida que essas
placas de gelo (à esquerda) avançassem?
(Dados do National Oceanic and Atmospheric
Administration)
92 Ecolog ia e sustentabilidade

Outra força que afeta a seleção natural são os temas e criaram oportunidades para a evolução de
, .
eventos catastróficos, tais como colisões entre a novas espeaes. _-0-P..e~
e;; z,
Terra e asteroides de grandes dimensões. Provavel- A longo prazo, os três princípios da sustenta- .ff~~~
mente houve muitas dessas colisões durante os 3,5 bilidade, em especial o da biodiversidade (Figura ~,
bilhões de anos de vida na Terra. Tais impactos cau- 4-2), permitiram que a vida na Terra se adaptasse às
saram grande destruição de ecossistemas e eliminaram mudanças drásticas nas condições ambientais (veja
um grande número de espécies. No entanto, também Ciência em foco e The Habitable Planet, Vídeo 1, em
causaram mudanças nas localizações dos ecossis- www.leamer.org/resources/series2 09 .html).

4.4 Como a especiação, a extinção e as atividades humanas


afetam a biodiversidade?
..... CONCEITO 4-4AConforme as condições ambientais mudam, o equilíbrio entre a formação de novas
espécies e a extinção das existentes determina a biodiversidade da Terra .
Atividades humanas estão diminuindo a biodiversidade, causando a extinção de muitas
..... CONCEITO 4-4B
espécies e destruindo ou degradando hábitats necessários para o desenvolvimento de novas espécies.

Como novas espécies evoluem? quando uma barreira ou a distância impedem o flu-
xo de genes entre duas ou mais populações de uma
espécie. Isso acontece em duas fases: primeiro, o iso-
Sob certas circunstâncias, a seleção natural pode le- lamento geográfico, e depois, o reprodutivo.
var a uma espécie inteiramente nova. Nesse processo, O isolamento geográfico ocorre quando dife -
chamado especiação, uma espécie divide-se em duas rentes grupos de uma mesma população se tornam
ou mais diferentes. Para organismos de reprodução fisicamente isolados uns dos outros por longo perío-
sexuada, uma nova espécie se forma quando uma po- do de tempo. Por exemplo, uma parte da população
pulação evoluiu ao ponto em que seus membros não pode migrar em busca de alimento e, em seguida,
podem mais se reproduzir e produzir descendentes começar a viver separada em outra área com dife -
férteis com membros de outra população que não se rentes condições ambientais. As populações também
alterou ou que evoluiu de forma diferente. podem ser separadas por uma barreira física (como
A forma mais comum na qual a especiação ocorre, uma cadeia de montanhas, rios ou rodovias), erupção
principalmente entre espécies de reprodução sexuada, é vulcânica, movimentos de placas tectônicas, ventos

Raposa Adaptada ao frio com


do ártico pelagem pesada, orelhas
curtas, pernas e nariz
curtos. Seu pelo branco
se camufla na neve.

População ......_ Distribui-se pelo Diferentes condições ambientais


inicial de ---,- norte e pelo sul e levam a diferentes pressões seletivas e
raposas se separa evolução em duas espécies diferentes.

Raposa cinza Adaptada ao calor


com pelagem leve e
orelhas, pernas e nariz
longos, que dissipam
mais calor.

Figura 4-10 O isolamento geográfico pode levar ao isolamento reprodutivo, divergência de conjuntos de genes e posterior especiação.
CAPÍTULO 4 Biod ivers idade e evolução 93

ou correntes de água que carregam alguns indivíduos Com base nos registros fósseis e análises de amostras
para uma área distante. de gelo, os biólogos estimam que a taxa de extinção
No isolamento reprodutivo, a mutação e as mu- de fundo média anual tem sido entre 1 e 5 espécies
danças por seleção natural operam de maneira in- para cada milhão de espécies na Terra.
dependente nos conjuntos genéticos de populações Em contraste, extinção em massa é um aumento
isoladas geograficamente. Se esse processo continuar significativo nas taxas de extinção acima do nível da
por tempo suficiente, os membros das populações de fundo. Em um evento catastrófico, generalizado
geográfica e reprodutivamente isoladas de espécies e, muitas vezes, global, grandes grupos de espécies
de reprodução sexuada podem se tornar tão diferen- (25°/o -95°/o de todas as espécies) são eliminados em
tes nas características genéticas que terminam por todo o mundo em alguns milhões de anos ou menos.
não poder produzir descendentes vivos e férteis caso Evidências fósseis e geológicas indicam que as espé-
voltem a entrar em contato e tentem procriar. Então, cies da Terra passaram por pelo menos três, e prova -
uma espécie transformou -se em duas, e a especiação velmente cinco, extinções em massa (20-60 milhões
ocorreu (Figura 4 - 1O). de anos entre uma e outra), durante os últimos 500
Para alguns organismos que se reproduzem rapi- milhões de anos.
damente, esse tipo de especiação pode ocorrer den- Alguns biólogos sustentam que a extinção em
tro de centenas de anos. Para a maioria das espécies, massa deve ser distinguida por uma baixa taxa de
leva de dezenas de milhares a milhões de anos - por especiação, assim como pela alta taxa de extinção.
isso é difícil a observação e documentação do apare- Sob essa definição mais restrita tivemos apenas três
cimento de uma nova espécie. extinções em massa. De qualquer maneira, há um
Os seres humanos têm um papel cada vez mais conjunto expressivo de evidências de que grandes
importante no processo de especiação. Aprendemos números de espécies foram extintas pelo menos três
a misturar genes de uma espécie em outra por meio vezes no passado.
da seleção artificial e, mais recentemente, da enge-
A extinção em massa fornece uma oportunidade
nharia genética (veja Ciência em foco) .
para a evolução de novas espécies, que podem ocu-
par os papéis ecológicos desocupados ou recente-
mente criados. Como resultado, evidências indicam
Extinção é para sempre que cada evento de extinção em massa foi seguido
por um aumento na diversidade de espécies. Ao
Outro processo que afeta o número e os tipos de es- longo de vários milhões de anos, novas espécies
pécies na Terra é a extinção, processo no qual uma têm surgido para ocupar novos hábitats ou explorar
espécie inteira deixa de existir (extinção biológica), ou novos recursos disponíveis. Conforme as condições
a população de uma espécie extingue-se em uma ambientais mudam, o equilfbrio entre a formação
grande região, mas não globalmente (extinção local). de novas espécies e a extinção de espécies existentes
Quando as condições ambientais mudam, a popula- determina a biodiversidade da Terra (Conceito 4-4A).
ção de uma espécie enfrenta três futuros possíveis:
adaptar-se às novas condições pela seleção natural,
mudar (se possível) para uma área com condições
mais favoráveis, ou tornar-se extinta.
Espécies encontradas em apenas uma área são
chamadas espécies endêmicas, e são especialmente
vulneráveis à extinção. Encontram-se em ilhas e em
outras áreas exclusivas, especialmente em florestas
tropicais, onde a maioria das espécies tem um papel
altamente especializado. Por essas razões, é imprová-
vel que sejam capazes de migrar ou se adaptar dian-
te das rápidas mudanças nas condições ambientais.
Exemplo é o sapo-dourado (Figura 4-11), que apa-
rentemente foi extinto em 1989, mesmo tendo vivido
na bem protegida Reserva de Floresta Nublada Mon-
teverde, nas montanhas da Costa Rica.
Todas as espécies eventualmente são extintas, mas
mudanças drásticas nas condições ambientais podem
eliminar grandes grupos de espécies em um período
relativamente curto de tempo. Durante a maior parte
Figura 4-11 Este sapo-dourado macho viveu nas grandes altitudes da
da longa história da Terra, as espécies têm desapare- Reserva de Floresta Nublada Monteverde na Costa Rica. A espécie foi extinta
cido a uma taxa baixa, chamada extinção de fundo. em 1989, aparentemente porque seu hábitat secou.
94 Ecolog ia e sustentabilidade

CIÊNCIA EM FOCO
Mudando as características genéticas das populações

emos utilizado a seleção artificial para mudar as caracterís-


T ticas genéticas de populações geneticamente semelhantes.
Nesse processo, selecionamos um ou mais traços genéticos de-
Traço desejado (cor) Figura 4-C
Seleção artificial
envolve o
sejáveis na população de uma planta ou animal, como em um
tipo de trigo, fruta (Figura 4-C) ou em um cão. Então, usamos
X cruzamento
de espécies
·-"'" Cruzamento
a reprodução seletiva, ou cruzamentos, para gerar populações Pera Maçã que estão
de espécies que contêm um grande número de indivíduos com geneticamente
as características desejadas. Prole próximas umas
Perceba que a seleção artificial envolve o cruzamento entre das outras. Neste
exemplo, frutas
variedades genéticas da mesma espécie ou entre espécies que
semelhantes
são geneticamente próximas umas das outras e, portanto, não
estão sendo
é uma forma de especiação. A maioria dos grãos, das frutas e Melhor cruzadas.
dos vegetais que comemos é produzida pela seleção artificial. resultado
Esse t ipo de seleção nos deu cult ivares alimentares com
rendimentos mais elevados, vacas que produzem mais leite,
árvores que crescem mais rápido e muitos t ipos diferentes de
X
cães e gatos. No entanto, o cruzamento tradicional é um pro-
cesso lento. Além disso, pode ser usado somente em espécies
que estão geneticamente próximas umas das outras. Prole nova
Agora, os cientistas estão utilizando técnicas de engenha-
ria genética para acelerar nossa capacidade de manipular ge-
nes. A engenharia genética é a alteração do material genético
de um organismo por meio da adição, exclusão ou alteração Resultado
de segmentos de seu DNA para produzir características desejá- desejado
veis ou eliminar as que são tidas como indesejáveis. Ela permi-
te que os cientistas transfiram genes entre espécies diferentes
que não se cruzam na natureza. Assim, a engenharia genética,
ao contrário da seleção artificial, pode combinar o material ge- e:-
"'e
·e:
nético de espécies muito diferentes. Por exemplo, podemos 2l
~
colocar os genes de uma espécie de peixe em uma planta de Figura 4-D Estes ratos õ
tomate para fornecer determinadas propriedades. õ
são um exemplo de o "'
.J;;. • -
u e
Os cientistas têm utilizado a engenharia genética para engenharia genética. V> ~
";::: -Gi'
QJ
desenvolver novas espécies agrícolas, novos medicamentos, O rato de 6 meses de E e
E [j
plantas resistentes a pragas e animais que crescem mais rá- idade, à esquerda, é "' o..
:e-
. o
pido (Figura 4-D), e também criaram bactérias geneticamente normal, o da mesma UJ ~
cr::: •vi
modificadas para extrair minerais, como cobre, de suas jazidas idade, à direita, teve um "O
e
~
QJ
"' •<!:
gene do hormônio de ~ e
subterrâneas e para limpar vazamentos de petróleo e outros QJ :::)
1,; .,-
crescimento humano e
~ ·-
poluentes tóxicos. ·- e
CD , U
inserido em suas ...J
. "O
QJ

células. Os ratos com o::: ~

Pensamento crítico este gene crescem duas a três vezes mais rápido e são duas
Quais serão alguns efeitos benéficos e prejudiciais para o pro- vezes maiores que os ratos sem ele. Pergunta: Como você
cesso evolutivo se a engenharia genética for amplamente apli- acha que a criação dessas espécies pode alterar o processo de
cada em plantas e animais? evolução por seleção natural?

A existência hoje de milhões de espécies significa


que a especiação, em média, se manteve à frente da
extinção e, portanto, a diversidade de espécies tem COMO VOCÊ VOTARIA? [J
aumentado ao longo do tempo. No entanto, há evi- Será que temos a obrigação ética de proteger ESTUDO
dências de que a taxa de extinção é agora maior do as espécies de tubarões da extinção provocada DE CASO
PRINCIPAL

que já foi em qualquer momento durante os últi- principalmente pelo nosso impacto ambiental
mos 65 milhões de anos, e muito dessa perda de (Estudo de caso principal)?
biodiversidade está relacionada às atividades huma-
nas (Conceito 4-4B). Vamos examinar isso com mais
profundidade no Capítulo 9.
CAPÍTULO 4 Biod ivers idade e evolução 95

4.5 O que é a diversidade de espécies e por que


é importante?
.... CONCEITO 4- 5 A diversidade de espécies é um componente importante da biodiversidade,
que tende a aumentar a sustentabilidade de alguns ecossistemas.

A diversidade de espécies inclui Figura 4-12 (direita), que possui um grande número
de álamos e outro relativamente baixo de indivíduos
sua variedade e sua abundância de outras espécies, tem baixa equidade de espécies.
em determinado lugar No entanto, a maioria das florestas tropicais tem alta
equidade de espécies, porque possui um número
semelhante de indivíduos de cada uma das m u itas
Uma característica importante de uma comunidade
espécies diferentes.
e do ecossistema a que pertence é sua diversidade
A diversidade de espécies das comunidades varia
de espécies, ou o número e a variedade de espécies
de acordo com sua localização geográfica. Para a maio-
que ela contém. Um componente importante da di- ria das plantas e animais terrestres, a diversidade de
versidade é a riqueza de espédes, o número de espécies espécies (principalmente a riqu eza delas) é maior
diferentes presentes. Por exemplo, uma comunidade nos trópicos, e vai diminuindo à medida que nos
biológica diversificada, tal como um recife de coral afastamos do equador em direção aos polos (veja a
(Figura 4-12, à esquerda), com um grande núme- Figura 5, no Suplemento 8). Os ambientes mais ricos
ro de espécies, tem grande riqueza, enquanto uma em espécies são florestas e grandes lagos tropicais,
comunidade da floresta de álamos (Figura 4-12, à recifes de coral e a zona do fundo do oceano.
direita) pode ter apenas dez tipos de plantas, ou uma Edward O. Wilson (Pessoas fazem a diferença)
baixa diversidade de espécies. e outros cientistas têm procurado saber mais sobre
Para qualquer comunidade, outro componente da a riqueza de espécies, estudando-as em ilhas (veja
diversidade é a equidade de espédes, os números compa- Ciência em foco, a seguir ), porque são boas áreas de
rativos de indivíduos de cada espécie presente. Quanto estudo por estarem relativamente isoladas e é mais
mais uniforme for o número de indivíduos em cada fácil nelas observar espécies chegando e desapare-
uma, maior é a uniformidade de espécies naquela cendo do que seria em um estudo desse tipo em ou-
comunidade. Por exemplo, a floresta de álamos na tros ecossistemas menos isolados.

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Figura 4-12 Estes dois tipos de ecossistemas variam muito em riqueza de espécies. Um exemplo de alta riqueza é um recife de coral (à
esquerda), com um grande número de espécies diferentes. No entanto, este bosque de árvores de álamo, em Alberta, Canadá (à direita),
tem um pequeno número de espécies diferentes, ou uma baixa diversidade.
96 Ecologia e sustentabilidade

CIÊNCIA EM FOCO
A riqueza de espécies em ilhas

a década de 1960, Robert MacArthur e Edward O. Wilson Um segundo fator é a distância da ilha em relação ao
N começaram a estudar as comunidades em ilhas para des-
cobrir por que as ilhas grandes tendem a ter mais espécies de
continente mais próximo. Suponha que temos duas ilhas mais
ou menos iguais em tamanho, taxas de extinção e outros fa-
determinada categoria, tais como insetos, aves ou samam- tores. De acordo com o modelo, a mais próxima a uma fonte
baias, do que as pequenas. continental de espécies imigrantes deve ter a maior taxa de
Para explicar essas diferenças na riqueza de espécies em imigração e, portanto, maior riqueza de espécies. Quanto
ilhas de diferentes tamanhos, MacArthur e Wi lson realizaram mais longe uma espécie colonizadora em potencial tem de
pesquisas e utilizaram esses resu ltados para propor o que é viajar, menor é a probabilidade de que chegue à ilha.
chamado modelo de equilíbrio de espécies, ou teoria da Esses fatores interagem para influenciar a riqueza relati-
biogeografia de ilhas. Segundo essa teoria científica am- va das diferentes ilhas. Assim, ilhas maiores e mais próximas
plamente aceita, o número de diferentes espécies (riqueza de de um continente tendem a ter maior número de espécies,
espécies) encontrado em uma ilha é determinado pela inte- ao passo que ilhas menores e mais distantes da terra firme
ração de dois fatores: a velocidade com que novas espécies tendem a ter menos espécies. Desde que MacArthur e Wil-
imigram para a ilha e a taxa em que se tornam extintas local- son apresentaram sua hipótese e fizeram seus experimen-
mente, ou deixam de existir, na ilha. tos, outros cientistas têm conduzido mais estudos científicos
O modelo prevê que, em algum ponto, as taxas de imi- que dela su rgiram, tornando-a uma teoria científica ampla-
gração e extinção de espécies devem se equ ilibrar para que a mente aceita.
taxa nem aumente nem diminua drasticamente. Esse ponto Os cientistas a têm usado para estudar e fazer previsões
de equ ilíbrio é o que determina o número médio de diferentes sobre a vida silvestre em ilhas de hábitat - áreas de hábitat na-
espécies (riqueza de espécies) da ilha ao longo do tempo. tural, tais como parques nacionais e ecossistemas de monta-
De acordo com o modelo, duas características de uma nha, cercados por terrenos urbanizados e f ragmentados. Esses
ilha afetam as taxas de imigração e de extinção, e, portan- estudos e essas previsões têm ajudado cientistas na preservação
to, sua diversidade de espécies. Uma delas é o tamanho da desses ecossistemas e a proteger a vida selvagem residente.
ilha. Ilhas pequenas tendem a ter menos espécies do que as
grandes, porque, por um lado, são alvos menores para colo- Pensamento crítico
nizadores potenciais que voam ou flutuam em sua direção. Suponha que temos dois parques nacionais, cercados por
Assim, têm menores taxas de imigração do que as ilhas maio- áreas de desenvolvimento, sendo um grande e outro muito
res. Além disso, uma ilha pequena deve ter uma taxa maior menor. Qual deles provavelmente terá a maior riqueza de es-
de extinção, pois geralmente tem menos recursos e menos pécies? Por quê?
diversidade de hábitats para sua espécie.

Ecossistemas ricos em espécies sistema seja mais estável e sustentável. Em outras


palavras, quanto maior a riqueza de espécies e sua
tendem a ser produtivos e correspondente teia alimentar e de interações bióti-
sustentáveis cas em um ecossistema, maior sua sustentabilidade,
ou sua capacidade de resistir às perturbações am-
Que efeitos a riqueza de espécies tem em um ecossis- bientais, tais como seca ou infestações de insetos.
tema? Ao tentar responder a essa questão, ecólogos De acordo com essa hipótese, um ecossistema com-
têm realizado pesquisas para responder duas questões plexo, com muitas espécies diferentes (alta rique -
relacionadas: Primeiro, a produtividade das plantas em za de espécies) e a variedade resultante de cadeias
ecossistemas ricos em espécies é maior? Segundo, a ri- alimentares, tem vários meios para responder à
queza de espécies melhora a estabilidade ou a sustenta- maioria dos estresses ambientais, porque não "co-
bilidade de um ecossistema? Pesquisas sugerem que a loca todos seus ovos na mesma cesta". Segundo o
resposta às duas perguntas pode ser positiva, mas mais biólogo Edward O. Wilson, "Há um componente de
pesquisas são necessárias antes que essas hipóteses bom-senso nisso: quanto mais espécies você tiver,
científicas possam ser aceitas como teorias científicas. mais provável será ter uma apólice de seguro para
De acordo com a primeira hipótese, quanto mais todo o ecossistema".
diversificado o ecossistema, mais produtivo ele será. Há exceções, mas muitos estudos apoiam a ideia
Ou seja, com maior variedade de espécies de pro- de que algum nível de riqueza de espécies e produti-
dutores, um ecossistema produz mais biomassa de vidade pode fornecer um seguro contra catástrofes. O
plantas, que, por sua vez, sustentarão uma maior ecólogo David Tilman e seus colegas da Universidade
variedade de espécies de consumidores. de Minnesota descobriram que as comunidades com
Uma hipótese relacionada a isso é que a maior ri- alta riqueza de espécies de plantas produziram certa
queza de espécies e produtividade fará que um ecos- quantidade de biomassa de forma mais consistente do
CAPÍTULO 4 Biod ivers idade e evolução 97

que comunidades com menos espécies, e foram me- estudos sustenta essa hipótese, embora haja alguns
nos afetadas pela seca e mais resistentes a invasões que não a corroboram.
por espécies de insetos. Em razão do seu alto nível Há um debate entre cientistas sobre quanta ri-
de biomassa, essas comunidades também consomem queza de espécies é preciso para ajudar a sustentar
mais dióxido de carbono e usam mais nitrogênio, e, diferentes ecossistemas. Alguns estudos sugerem que
assim, desempenham papéis mais importantes nos a média da produtividade primária líquida anual de
ciclos de carbono e nitrogênio. um ecossistema atinge seu pico com 10-40 espécies
Estudos de laboratório posteriores envolveram produtoras. Muitos ecossistemas contêm mais de 40
a criação de ecossistemas artificiais em câmaras de espécies produtoras, mas não necessariamente pro-
crescimento, nos quais os pesquisadores podem con- duzem mais biomassa ou alcançam um nível maior
trolar e manipular as variáveis-chave, como tempe- de estabilidade. Os cientistas continuarão tentando
ratura, luz e concentrações de gás atmosféricas. Esses determinar quantas espécies de produtores são ne-
estudos têm apoiado os resultados de Tilrnan. cessárias para aumentar a sustentabilidade dos ecos-
Ecólogos supuseram que em um ecossistema rico sistemas e quais são as mais importantes para pro-
em espécies, cada uma delas pode explorar uma par- porcionar essa estabilidade.
te diferente dos recursos disponíveis. Por exemplo, Conclusão: a riqueza de espécies parece aumen-
algumas plantas florescerão precocemente e outras, tar a produtividade e estabilidade, ou a sustentabili-
mais tarde. Algumas têm raízes superficiais para ab- dade, de um ecossistema (Conceito 4-5). Embora possa
sorver água e nutrientes no solo e outras, mais lon- haver algumas exceções, a maioria dos ecólogos agora
gas, para atingir solos mais profundos. Uma série de a aceita como uma hipótese válida.

4·& Que papel desempenham as espécies em um ecossistema?


..... CONCEITO 4-6A Cada espécie desempenha um papel ecológico específico, chamado nicho.
Qualquer espécie pode desempenhar uma ou mais das cinco funções
..... CONCEIT04- 6B
importantes - nativa, introduzida, indicadora, chave ou engenheira - em um ecossistema específico.

Cada espécie tem seu papel


em um ecossistema
Um prinópio importante da ecologia é que cada
espécie tem um papel específico a desempenhar no ecossis-
tema em que é encontrada (Conceito 4-6A). Os cien-
tistas descrevem o papel que uma espécie desem- Vl
o Espécies especialistas Espécies generalistas
penha em seu ecossistema como nicho ecológico, ::::,
"C
,_
>
com um nicho estreito com um nicho amplo
ou simplesmente nicho, a forma de vida em comu- "C
nidade de uma espécie, que inclui tudo o que afeta e Separação
O)

sua sobrevivência e reprodução, como a quantidade "C de nichos


2
de água e luz solar de que necessita, o espaço que O)
E
,::::,
ela exige, o que a alimenta, o que se alimenta dela z
e as temperaturas que pode tolerar. O nicho de
Amplitude
uma espécie não deve ser confundido com seu hábi-
do nicho
tat, que é o lugar onde vive. Seu nicho é seu padrão
de vida. Região de
Os cientistas usam os nichos das espécies para sobreposição
de nichos
classificá-las como generalistas ou especialistas. Espé-
cies generalistas têm nichos amplos (Figura 4-13,
Utilização de recursos
curva à direita). Podem viver em muitos lugares
diferentes, comer uma variedade de alimentos e Figura 4-13 Espécies especialistas, tais como o panda gigante,
muitas vezes tolerar uma ampla gama de condições têm um nicho estreito (esquerda), ao passo que as generalistas,
ambientais. Moscas, baratas (veja Estudo de caso), como o guaxinim, têm nicho amplo (à direita).
98 Ecolog ia e sustentabilidade

O pelicano-pardo A gaivota é
mergulha em direção um necrófago
incansável O vira-pedras busca
O talha-mar pesca aos peixes, que
. Alfa iates procuram sob as conchas e
peixes pequenos na localiza ainda no ar Os maçaricos buscam
na lama e águas de , ~,,,,; : pedrinhas pequenos
superfície da água no fundo da lama invertebrados
superfície pequenos .
crustáceos, insetos e caramuios, vermes
sementes marinhos e pequenos
crustáceos

O flamingo O zarro e outros A garça da O ostraceiro usa


---,-----
O maçarico pega
'
A batuíra alimenta-se
alimenta-se patos-mergulhões Louisiana seu bico estreito vermes e pequenos de insetos e pequenos
de pequenos se alimentam de caminha na água para se alimentar crustáceos deixados crustáceos nas praias
.
organismos na moluscos, crustáceos para capturar de moluscos, pelo recuo da maré arenosas
.
lama e plantas aquáticas pequenos peixes mexilhões e outros

Figura 4-14 Este diagrama ilustra os nichos alimentares especializados de diversas espécies de aves em zonas úmidas costeiras. Essa especialização
reduz a concorrência e permite o compartilhamento de recursos limitados.

camundongos, ratos, veados-de-cauda-branca, gua- anos, sobrevivendo até mesmo aos dinossauros. Uma
xinins e seres humanos são espécies generalistas. das mais bem-sucedidas histórias da evolução, elas
No entanto, espécies especialistas ocupam ni- prosperaram porque são generalistas.
chos estreitos (Figura 4-13, a curva à esquerda). As 3.500 espécies de baratas da Terra podem
Podem ser capazes de viver em apenas um tipo de comer quase tudo, incluindo algas, insetos mortos,
hábitat, utilizar apenas um tipo ou alguns poucos restos de unha, sais depositados pelo suor no tênis,
tipos de alimentos ou tolerar uma faixa estreita de cabos elétricos, papel, cola e sabão. Também podem
clima e outras condições ambientais. Por exemplo, viver e se reproduzir em quase todos os lugares, ex-
algumas aves marinhas ocupam nichos especializa- ceto nas regiões polares.
dos, alimentando-se de crustáceos, insetos e outros Algumas espécies podem passar um mês sem co-
organismos encontrados em praias e áreas alagadas mer, sobreviver por semanas com apenas uma gota
costeiras vizinhas (Figura 4 -14) . de água e resistir a doses maciças de radiação. Uma
Por causa de seus nichos estreitos, essas espécies espécie pode sobreviver congelada por 48 horas.
são mais propensas à extinção quando as condições As baratas geralmente conseguem escapar de seus
ambientais mudam. Por exemplo, o panda gigante da predadores - e de um pé humano em sua perseguição -
China está seriamente ameaçado em razão de uma porque a maioria das espécies tem antenas que podem
combinação de perda de hábitat, baixa taxa de nata- detectar pequenos movimentos de ar. Também têm
lidade e dieta especializada, que consiste principal-
mente de bambu.
É melhor ser uma espécie generalista ou espe-
cialista? Depende. Quando as condições ambientais
são relativamente constantes, como em uma floresta
tropical, os especialistas têm vantagem, porque têm
menos concorrentes. Mas, sob rápidas mudanças nas
condições ambientais, o generalista, em geral, tem
melhor desempenho.

a ESTUDO DE CASO
Baratas: as últimas
sobreviventes da natureza
Figura 4-15 Generalistas, as baratas estão entre as espécies
As baratas (Figura 4-15), insetos que muitas pessoas mais adaptáveis e prolíficas do planeta. Esta foto é de uma
amam odiar, têm existido por cerca de 350 milhões barata americana.
CAPÍTULO 4 Biod ivers idade e evolução 99

sensores de vibração em suas articulações no joelho,


e podem responder mais rápido do que você conse-
gue piscar o olho. Algumas têm até asas. Elas têm
olhos compostos que lhes permitem ver em quase
todas as direções ao mesmo tempo. Cada olho tem
cerca de 2 mil lentes, contra apenas uma em cada
um dos seus olhos.
E, talvez o mais significativo, elas têm altas ta-
xas de reprodução. Em apenas um ano, uma única
barata asiática e seus descendentes podem adicionar
cerca de 10 milhões de novas baratas no mundo. Sua
alta taxa reprodutiva também ajuda a desenvolver
rapidamente a resistência genética a quase qualquer
tipo de veneno que jogamos contra elas.
A maioria das baratas experimenta os alimentos
antes que entrem em suas bocas e aprendem a evitar
os venenos de gosto ruim. Limpam-se comendo seus
próprios mortos e, se o alimento for escasso o sufi- Figura 4-16 Abelhas selvagens africanas, conhecidas popularmente
ciente, comem também os vivos. como "abelhas assassinas", foram importadas para o Brasil. Essa espécie
Cerca de 25 espécies de baratas vivem em casas e introduzida causou problemas, como o deslocamento das abelhas nativas e
podem conter vírus e bactérias que causam doenças. a morte de pessoas e animais domésticos.
Por outro lado, elas desempenham um papel impor-
tante nas teias alimentares da natureza, porque são
uma saborosa refeição para aves e lagartos. competir e reduzir a abundância de espécies nativas,
provocando consequências não planejadas e ines-
PENSANDO SOBRE peradas. Em 1957, por exemplo, o Brasil importou
O nicho de um tubarão ESTUDO
DE CASO
abelhas selvagens africanas (Figura 4-16) para aju-
Você acha que a maioria dos tubarões (Estudo PRINCIPAi.
dar a aumentar a produção de mel. Em vez disso, as
de caso principal) ocupa nichos especializados ou africanas deslocaram as abelhas domésticas e reduzi-
generalistas? Explique. ram a oferta de mel.
Desde então, essa espécie de abelhas introduzida
- popularmente conhecida como "abelha assassina"
- expandiu-se para o norte, até a América Central
As espécies podem desempenhar e parte do sudoeste e sudeste dos Estados Unidos.
Abelhas silvestres africanas não são os assassinos ter-
cinco papéis principais dentro dos
ríveis retratados em alguns filmes de terror, mas são
ecossistemas agressivas e imprevisíveis. Já mataram milhares de
animais domésticos e um número estimado em mil
Nichos podem, ainda, ser classificados em termos dos pessoas no hemisfério ocidental, muitas das quais
papéis específicos que determinadas espécies desem- eram alérgicas a picadas de abelha.
penham nos ecossistemas. Os ecólogos descrevem As espécies introduzidas podem se espalhar ra-
espécies nativas, introduzidas, indicadoras, chave e enge- pidamente se encontrarem um novo local que seja
nheiras. Qualquer espécie pode desempenhar uma favorável. Em seus novos nichos, muitas vezes não
ou mais dessas cinco funções em determinado ecos- enfrentam os predadores nem as doenças presentes
sistema (Conceito 4-6B). em seus nichos nativos, ou podem excluir algumas
Espécies nativas são aquelas que normalmente espécies nativas em suas novas localidades. Exami-
vivem e prosperam em um ecossistema espeáfico. naremos essa ameaça ambiental mais detalhada -
Espécies imigrantes, deliberada ou acidentalmente mente no Capítulo 8.
introduzidas em um ecossistema, são chamadas de
espécies introduzidas, também conhecidas como
, . . " .
espeaes znvasoras ou exotzcas.
Espécies indicadoras servem de
Algumas pessoas tendem a pensar que espécies
introduzidas são uma ameaça. Na verdade, a maio- alarmes biológicos
ria das espécies vegetais introduzidas e domestica-
das, tais como alimentos e flores, e animais, como Espécies que fornecem avisos precoces de danos a
galinhas, gado e peixes de todo o mundo, é benéfica uma comunidade ou um ecossistema são chamadas
para nós. No entanto, algumas introduzidas podem espécies indicadoras. Os pássaros são excelentes
100 Ecolog ia e sustentabilidade

indicadores biológicos, porque encontrados em quase que ocorreram no ar, na água e na terra durante
toda parte e afetados rapidamente por mudanças am- as últimas décadas, mudanças estas resultantes, na
bientais, tais como a perda ou a fragmentação de seus maior parte das vezes, de atividades humanas.
habitats e a introdução de pesticidas químicos. As po- Desde 1980, as populações de centenas das quase 6
pulações de muitas espécies de aves estão em declínio. mil espécies de anfibios do mundo foram desaparecen-
As borboletas também são bons indicadores, por- do ou diminuindo em quase todo o planeta, mesmo em
que sua associação com diversas espécies de plantas as reservas naturais protegidas e parques (Figura 4-11).
torna vulneráveis à perda de hábitat e fragmentação. De acordo com uma avaliação de 2008 conduzida pela
Alguns anfíbios também são classificados como espé- União Internacional para Conservação da Natureza e
cies indicadoras (veja o seguinte Estudo de Caso). dos Recursos Naturais (Intemational Union for Con-
servation of Nature -IUCN), cerca de 32°/o das espécies
conhecidas de anfibios (e mais de 80°/o daquelas no
Caribe) estão ameaçadas de extinção, e as populações
a ESTUDO DE CASO de outras 43°/o das espécies, em declínio.
As rãs são especialmente sensíveis e vulneráveis
Por que os anfíbios estão
a perturbações ambientais em vários pontos do seu
desaparecendo? ciclo de vida. Enquanto girinos, vivem na água e co-
mem plantas; já adultas, vivem principalmente na
Anfíbios (sapos, rãs e salamandras) vivem parte de terra e se alimentam de insetos que podem expô-las
sua vida na água e parte em terra. As populações de a pesticidas. Os ovos das rãs não têm carapaças pro-
alguns anfi'bios, também consideradas espécies indi- tetoras para bloquear a radiação UV ou a poluição.
cadoras, estão em declínio em todo o mundo. Como adultas, elas absorvem água e ar por meio de
Eles foram os primeiros vertebrados (animais com suas finas e permeáveis peles, podendo facilmente
coluna vertebral) a pôr os pés na terra. Historicamen- absorver poluentes da água, do ar ou do solo. E não
te, têm sido melhores na adaptação às mudanças am- têm pelos, penas ou escamas para protegê-las.
bientais por meio da evolução do que muitas outras Nenhuma causa foi identificada para explicares-
espécies. Algumas espécies de anfi'bios não estão em ses declínios nas espécies dos anfibios. No entanto,
perigo (Figura 4 -17, à esquerda), mas muitas outras os cientistas identificaram uma série de fatores que
(Figura 4-17, à direita) enfrentam dificuldades para podem afetar as rãs e outros anfíbios em vários pon-
se adaptar a algumas das rápidas mudanças ambientais tos do seu ciclo de vida:

Figura 4-17 A conhecida rã-de-olhos-vermelhos (esquerda),


encontrada nas florestas tropicais do México e América Central,
não está ameaçada de extinção. No entanto, algumas espécies
de dendrobatídeos (à direita), encontradas nas florestas tropicais
do Brasil e sul do Suriname, estão, principalmente por causa de
um fungo infeccioso e da perda de hábitat para a exploração
madeireira e agricultura. Essa cor azul brilhante do sapo adverte
os predadores que ele é venenoso. As secreções tóxicas de
pelo menos três dessas espécies são usadas para envenenar as
pontas de dardos que povos nativos, compartilhando o hábitat
tropical das rãs, utilizam para a caça .
CAPÍTULO 4 Biod ivers idade e evolução 101

• Perda de hábitat e fragmentação, especialmente pela Segundo, anfibios adultos desempenham papéis
drenagem e ocupação de áreas alagadas, agricul- ecológicos importantes nas comunidades biológicas.
tura, desmatamento e urbanização. Por exemplo, eles comem mais insetos (incluindo
• Seca prolongada, que pode secar os corpos d' água, mosquitos) do que os pássaros. Em alguns hábitats, a
de forma que poucos girinos sobrevivem. extinção de determinadas espécies de anfibios pode
• Aumentos na radiação UV resultantes da redução levar à extinção de outras espécies, como répteis,
do ozônio estratosférico durante as últimas dé- aves, insetos aquáticos, peixes, mamfferos, anffbios e
cadas, causada por produtos químicos que co- outros que se alimentam deles ou de suas larvas.
locamos no ar e se acumulam na estratosfera. Terceiro, os anffbios são um armazém genético de
Maiores doses de radiação UV podem danificar produtos farmacêuticos esperando ser descobertos.
embriões de anffbios em lagoas rasas e adultos Por exemplo, compostos de secreções da pele de an-
que se expõem ao sol para se aquecer. fibios têm sido isolados e utilizados como analgésicos
• Parasitas, tais como vermes, que se alimentam de e antibióticos e em tratamentos para queimaduras e
ovos de anfibios depositados na água, parecem doenças cardfacas.
ter causado um aumento na proporção de nasci- Muitos cientistas acreditam que as chances cada
mentos de anfibios com membros amputados ou vez maiores da extinção global de uma variedade de
adicionais. espécies de anffbios são um alerta sobre os efeitos
• Doenças virais e fúngicas, especialmente o fungo nocivos de uma série de ameaças ambientais para a
quitrfdeo, que ataca a pele dos sapos, aparen- biodiversidade, principalmente resultantes da ativi-
temente reduzindo sua capacidade de absorver dade humana.
água, levando à morte por desidratação. Essas
doenças podem se espalhar porque os adultos de
muitas espécies de anfibios se reúnem em gran-
des grupos para se reproduzir.
Espécies-chave desempenham
• Poluição, em especial a exposição a pesticidas em papéis críticos em seus ecossistemas
lagoas e nos corpos dos insetos consumidos pelos
sapos, o que pode torná-los mais vulneráveis a Chave é como se chama a pedra em forma de cunha
doenças bacterianas, virais, fúngicas e a alguns colocada no topo de um arco de pedra. Remova
parasitas. essa pedra e o arco cai. Em algumas comunidades e
• Mudanças climáticas. Um estudo de 2005 revelou ecossistemas, os ecólogos partem da hipótese de que
uma aparente correlação entre as mudanças cli- certas espécies desempenham um papel semelhante.
máticas causadas pelo aquecimento atmosférico Espécies-chave são aquelas cujos papéis têm grande
e a extinção de cerca de dois terços das 11 O es- efeito sobre os tipos e abundância de outras espécies
pécies conhecidas do sapo-arlequim em florestas em um ecossistema.
tropicais nas Américas Central e do Sul. Alterações As espécies-chave muitas vezes existem em núme-
climáticas, ou pelo menos padrões climáticos de ros relativamente limitados em seus ecossistemas, mas
curto prazo como o El Nifío (Suplemento 7), de- os efeitos que exercem são muitas vezes bem maiores
sempenharam um papel importante na extinção do que sugerem esses números. E por causa de suas
do sapo-dourado da Costa Rica (Figura 4-11). populações muitas vezes menores, algumas são mais
• Caça excessiva, especialmente na Ásia e na França, vulneráveis à extinção do que outras espécies.
onde as pernas de rã são uma iguaria. Espécies-chave podem desempenhar várias fun-
• Imigração natural, ou a introdução deliberada de pre- ções essenciais para ajudar a preservar os ecossiste-
dadores e competidores exóticos (como algumas espé- mas. Uma delas é a polinização de espécies de plantas
cies de peixes). florescentes pelas borboletas (Figura 4-A), abelhas

A combinação de tais fatores, que variam de um lu-


CONEXÕES
gar para outro, é provavelmente responsável pela maior
O declínio dos tubarões e de outras espécies
parte do declinio e desaparecimento dos anfibios. Várias espécies de tubarões (Estudo de caso
Por que deverfamos nos importar que algumas principal) ajudam a manter as populações de ~~
espécies de anffbios estejam sendo extintas? Os cien- algumas espécies controladas, dando suporte às PRINCIPAL

tistas nos oferecem três razões. Primeiro, os anffbios de outras espécies. Em 2007, os cientistas relataram que
o declínio de determinadas populações de tubarões ao
são indicadores biológicos sensfveis a mudanças nas
longo da costa atlântica dos Estados Unidos levou a uma
condições ambientais, tais como perda e degradação explosão na de raias, espécies que normalmente servem
de hábitats, poluição do ar e da água, radiação UV e de alimento aos tubarões. Agora, as raias estão se alimen-
mudanças climáticas. As ameaças mais intensas para tando de vieiras, o que resulta em um declínio acentuado
sua sobrevivência sugerem que a saúde ambiental dessa população e também afetando os negócios da área
da baía que sobrevive da sua pesca.
está se deteriorando em muitas partes do mundo.
102 Ecolog ia e sustentabilidade

(Figura 4-16), beija-flores, morcegos e outras espé- começaram a matar um grande número desses ani-
cies. Além disso, espécies-chave predadoras-de-topo mais por sua carne exótica e pele macia de sua bar-
ajudam a regular as populações de outras espécies ao riga, usada para a confecção de sapatos, cintos e car-
se alimentarem delas. Exemplos são lobo, leopardo, teiras. Outros caçaram-nos por esporte ou simples
leão, algumas espécies de tubarão e o jacaré ameri- antipatia ao grande réptil. Na década de 1960, ca-
cano (veja o seguinte Estudo de caso). çadores e pescadores ilegais já haviam exterminado
A perda de uma espécie-chave pode levar ao co- 90°/o dos jacarés no Estado americano da Louisiana,
lapso de populações e a extinções de outras espécies e a população dos Everglades da Flórida também
em uma comunidade que delas depende para certos chegou perto da extinção.
serviços ecológicos. Por isso é tão importante que os Aqueles que não se importavam muito com os
cientistas identifiquem e protejam as espécies-chave. jacarés provavelmente não tinham consciência do
seu importante papel ecológico - seu nicho - em
PENSANDO SOBRE áreas alagadas subtropicais. Utilizando suas mandí-
bulas e garras, eles cavam depressões profundas, ou
Tubarões e biodiversidade ES1UDO

Por que algumas espécies de tubarão (Estudo


DECASO
PR1Nc 1PAL
buracos de jacaré, que seguram água doce durante
de caso principal) são consideradas espécies-chave? os períodos de seca e servem como refúgios para a
vida aquática e para abastecimento de água doce e
alimentação para peixes, insetos, cobras, tartarugas,
pássaros e outros animais. Os grandes assentamen-
• ESTUDO DE CASO tos de jacarés também proporcionam locais de nidi-
ficação e alimentação para algumas garças (Figura
O jacaré-americano - uma
4-3, direita), e cágados-de-barriga-vermelha utili-
espécie-chave que quase foi extinta zam ninhos de jacaré velhos para incubar seus ovos.
Além disso, eles comem grandes quantidades de pei-
O jacaré-americano (Figura 4 -18), o maior réptil da xe-lagarto, um predador, ajudando assim a manter
América do Norte, não tem predadores naturais, ex- as populações de robalos e dourados que esse peixe
ceto os seres humanos, e desempenha uma série de gosta de comer.
funções importantes nos ecossistemas em que são Ao criar buracos e montes de nidificação, os jaca-
encontrados. Essa espécie sobreviveu aos dinossau- rés ajudam a manter as margens e águas abertas li-
ros e a muitos outros desafios para sua existência. vres de vegetação. Sem esse serviço gratuito ao ecos-
No entanto, a partir de 1930, os jacarés nos Esta- sistema, as lagoas de água doce e as áreas alagadas
dos Unidos enfrentaram um novo desafio; caçadores costeiras onde eles vivem seriam preenchidas com
arbustos e árvores, e dezenas de espécies desapare -
ceriam desses ecossistemas.
Por essas razões, alguns ecólogos classificam o
jacaré-americano como uma espéde-chave em razão
de seu importante papel ecológico no auxílio à ma-
nutenção da sustentabilidade dos ecossistemas em
que se encontra.
Em 1967, o governo dos Estados Unidos colocou
o jacaré-americano na lista de espécies em perigo
de extinção. Protegidos de caçadores, em 1975 um
grande número de jacarés havia retornado para mui-
tas áreas - grande demais, de acordo com os proprie-
., . . , . .
tanos, que agora encontram Jacares em seus quintais
e piscinas, e para os caçadores de pato, cujos cães
retriever são às vezes comidos por jacarés.
Em 1977, o Serviço de Pesca e Vida Selvagem
Americano (Fish and Wildlife Service) reclassificou
o jacaré-americano como uma espécie ameaçada nos

Figura 4-18 Espécies-chave: O jacaré-americano desempenha um papel PENSANDO SOBRE


ecológico importante em seu hábitat de p.:3ntanos e brejos no sudeste dos O jacaré-americano e a biodiversidade
Estados Unidos. Desde que foi classificado como espécie em perigo de Quais são duas formas pelas quais o jacaré-americano
extinção, em 1967, recuperou-se o suficiente para ter seu estado alterado de sustenta um ou mais dos quatro componentes da
em perigo para ameaçado - uma história de sucesso notável na conservação biodiversidade (Figura 4-2) em seu ambiente?
da vida silvestre.
CAPÍTULO 4 Biod ivers idade e evolução 103

Estados americanos da Flórida, Louisiana e Texas, à noite e dormem durante o dia, o que ajuda a evitar
onde 90°/o dos animais vivem. Hoje, há bem mais de predadores.
um milhão de jacarés na Flórida, e o Estado agora Há outros exemplos de espécies engenheiras. Algu-
. . , . . ,
perrmte que propnetanos matem os Jacares que va- mas de morcegos e aves, por exemplo, ajudam a rege-
gueiam em suas terras. Para os biólogos da conserva- nerar as áreas desmatadas e espalham plantas frutíferas
ção, o retomo do jacaré-americano é uma história de pela dispersão de sementes nos seus excrementos.
sucesso importante na conservação da vida silvestre. As espécies-chave e engenheiras desempenham
papéis semelhantes. Em geral, a principal diferença
entre esses dois tipos é que as engenheiras ajudam a
criar hábitats e ecossistemas, por vezes, literalmente,
Espécies engenheiras ajudam a proporcionando as bases para o ecossistema (como
formar as bases de ecossistemas os castores, por exemplo) . No entanto, espécies-chave
podem fazer isso e muito mais. Elas às vezes desem-
Outro tipo importante em alguns ecossistemas é a penham o papel de engenheiras (como os jacarés),
espécie engenheira, que desempenha um papel im- mas também desempenham uma função ativa na
portante na formação de su as comunidades, criando manutenção e funcionamento do ecossistema.
e reforçando seus hábitats de forma que beneficiam Aqui estão as três grandes ideias deste capítulo.
outras espécies. Por exemplo, os elefantes empur-
ram, quebram ou arrancam árvores, criando aber- • As populações evoluem quando seus genes sofrem
turas nas savanas e florestas da África, promovendo, mutações, conferindo a alguns indivíduos caracte-
assim, o crescimento de gramíneas e outras plantas rísticas genéticas que aumentam suas habilidades
forrageiras que beneficiam pequ enas espécies de de sobreviver e produzir descendentes com essas
pastagem, como o antílope, acelerando também as mesmas características (seleção natural) .
taxas de ciclagem de nutrientes.
Castores (Figura 4- l 9a) são outro bom exemplo • As atividades humanas estão diminuindo a biodi-
de uma espécie engenheira. Agindo como "enge- versidade vital da Terra, causando a extinção de
nheiros ecológicos", constroem barragens (Figura muitas espécies e destruindo hábitats necessários
4- l 9b) em riachos para criar lagos e pântanos que para o desenvolvimento de novas espécies.
eles e outras espécies utilizam (Figura 4- l 9c). Seu s
grandes dentes incisivos lhes permitem cortar árvo- • Cada espécie desempenha um papel ecológico es-
res de tamanho médio, que usam para construir bar- pecífico (nicho ecológico) no ecossistema em qu e
ragens e abrigos onde vivem. Eles também trabalham se encontra.

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(a) (b) (e)


Figura 4-19 Espécie engenheira: castores (a) construíram uma barragem (b) para criar este lago no Canadá. Eles criam essas lagoas e
outras áreas alagadas para que possam construir seus próprios abrigos, chamados de tocas, na água (e), que ajuda a protegê-los dos
predadores. A lagoa também oferece uma "fundação" para muitas outras espécies de plantas, aves e outros animais que podem crescer
em ambientes aquáticos como esse. No entanto, os castores cortam um grande número de árvores em terrenos próximos aos córregos
para construir suas barragens e tocas, o que diminui a biodiversidade terrestre e pode aumentar a erosão do solo e a poluição por
sedimentos nos córregos. As inundações de represas de castores também podem prejudicar as culturas, estradas e edifícios.
104 Ecologia e sustentabilidade

REVISITANDO Tubarões e sustentabilidade ~


•} DE CASO
o
PRJl'ICIPAL

O Estudo de caso principal sobre tubarões no início des- científica da evolução biológica pela seleção natural. Jun-
te capítulo mostra que a importância de uma espécie nem tos, esses dois grandes ativos, biodiversidade e evolução,
sempre é igual a sua percepção pública. Embora muitas representam um capital natural insubstituível. Cada um
pessoas se preocupem com o destino dos ursos pandas depende do outro e da capacidade de os seres humanos
e polares (ambos ameaçados de extinção), a maioria tem respeitarem e preservarem esse capital natural.
medo dos tubarões e não os considera bonitinhos, fofi- Finalmente, examinamos a variedade de funções
nhos nem dignos de proteção. No entanto, eles não são desempenhadas por espécies nos ecossistemas. Por
menos importantes para os seus ecossistemas. Se desapa- exemplo, vimos que algumas espécies de tubarões, bem
recessem, os ecossistemas do oceano seriam severamente como outras são espécies-chave das quais seus ecossis-
danificados, alguns poderiam até mesmo entrar em co- temas dependem para sobrevivência e saúde. Quando
lapso, o que poderia atrapalhar em muito o clima e o su- espécies-chave são ameaçadas, ecossistemas inteiros
primento de alimentos para bilhões de pessoas na Terra. também o são.
E, como os ursos-polares, quase um terço dos tubarões do Os ecossistemas e a variedade de espécies que eles
mundo enfrenta sérias ameaças de extinção por causa das contêm são exemplos funcionais dos três princípios da
atividades humanas. sustentabilidade em ação, que dependem da energia
Neste capítu lo, estudamos a importância da biodiversi- solar e da ciclagem de nutrientes químicos. Os ecossis-
dade, especialmente os números e as variedades das espé- temas também ajudam a sustentar a biodiversidade em
cies encontradas em diferentes partes do mundo, com ou- todas as suas formas. No próximo capítulo nos aprofun-
tras formas de biodiversidade - genética, de ecossistemas daremos um pouco mais no modo como as espécies inte-
e diversidade funcional. Também estudamos o processo ragem e como essas interações resultam na regulação na-
pelo qual todas as espécies surgem, de acordo com a teoria tural das populações e na preservação da biodiversidade.

Tudo o que descobrimos até aqui é bem pouco em comparação com o


que está escondido na vasta tesouraria da natureza.
ANTOINE VAN LEEUWENHOCK

1. Revise as Questões e Conceitos principais deste capí- Descreva as condições na Terra que favorecem o de -
tulo. Descreva as ameaças de muitas das espécies de senvolvimento da vida como a conhecemos.
tubarões do m u ndo (Estudo de caso prin- ~ º 5. O que é especiação? Faça a distinção entre isolamen-
• al li d
crp ) e exp que por que evemos protege-
" ., PDERINCIP
CASO
AL to geográfico e isolamento reprodutivo e explique
los da extinção como resultado de nossas atividades. como podem levar à formação de uma nova espécie.
2. Quais são os quatro principais componentes da biodi- Faça a distinção entre seleção artificial e engenharia
versidade (diversidade biológica)? Qual é sua impor- genética, e dê um exemplo de cada.
tância? O que são espécies? Descreva a importância 6. O que é extinção? O que é uma espécie endêmica e
dos insetos. Defina e dê três exemplos de biornas. por que pode estar vulnerável à extinção? Faça a dis-
3. O que é um fóssil? Por que fósseis são importantes tinção entre extinção de fundo e extinção em massa.
para a compreensão da história da vida? O que é evo- 7. O que é diversidade de espécies? Faça a distinção
lução biológica? Resuma a teoria da evolução. O que entre riqueza de espécies e equidade de espécies. Dê
é seleção natural? O que é mutação e que papel as um exemplo de cada. Resuma a teoria da biogeogra-
mutações desempenham na evolução pela seleção fia de ilhas (modelo de equilíbrio de espécies). Se-
natural? O que é adaptação (traço adaptativo)? O gundo essa teoria, quais dois fatores afetam as taxas
que é reprodução diferencial e por que é importante? de imigração e de extinção de espécies em uma ilha?
Como nos tornamos uma espécie tão poderosa? Cite O que são ilhas de hábitat? Explique por que os ecos-
dois dos limites para a evolução pela seleção natural. sistemas ricos em espécies tendem a ser produtivos e
, .
Quais são os três mitos comu ns sobre a evolução por sustentaveis.
meio da seleção natural? 8. O que é nicho ecológico? Faça a distinção entre espécies
4. Descreva como os processos geológicos podem afetar a especialistas e generalistas. Dê um exemplo de cada.
seleção natural. Como as alterações climáticas e catás- Por que alguns dentistas consideram a barata como uma
trofes, como impactos de asteroides, podem afetá-la? das histórias de maior sucesso na evolução?
CAPÍTULO 4 Biod ivers idade e evolução 105

9. Faça a distinção entre espécies nativas, introduzidas ele foi trazido de volta de sua quase extinção. Descre-
e indicadoras e dê um exemplo de cada tipo. Quais va o papel dos castores como espécie engenheira.
são os principais papéis ecológicos que as espécies de 10. Quais são as três grandes ideias deste capítulo? Como os
anfibios desempenham? Llste nove fatores que amea- ecossistemas e a variedade de espécies que contêm
çam rãs e outros anfíbios de extinção. Quais são três são relacionados com os três princípios da susten-
razões para proteger os anfibios? Faça a distinção en- tabilidade?
tre espécies-chave e engenheira. Descreva o papel de
alguns tubarões como espécie-chave. Descreva opa-
pel do jacaré-americano como espécie-chave e como Obs.: Os termos-chave estão em negrito.

1. Como nós e outras espécies podemos ser afetados 6. A espécie humana é uma espécie-chave? Explique.
se todos os tubarões do mundo forem extintos? Se os seres humanos fossem extintos, quais três espé-
2. Que papel cada um dos seguintes processos de- cies também poderiam ser extintas e três cujas popu-
sempenha para ajudar a implementar os _.::-,..e,;,, lações provavelmente cresceriam?
ci; 0
três princípios da sustentabilidade: .ff ~ ~ 7. Como você responderia a alguém que dissesse que,
(a) a seleção natural, (b) a especiação e ~, como a extinção é um processo natural, não deve-
(e) a extinção? mos nos preocupar com a perda de biodiversidade
3. Como você responderia a alguém que diz: quando as espécies se extinguem como resultado de
(a) não acreditar na evolução biológica, pois é nossas atividades?
"apenas uma teoria"? 8. Liste três maneiras pelas quais você poderia aplicar o
(b) que não devemos nos preocupar com a polui- Conceito 4-4B para tomar seu estilo de vida ambien-
ção do ar porque a seleção natural permitirá talmente mais sustentável.
que os seres humanos desenvolvam pulmões 9. Parabéns! Você está no comando da futura evolução
que possam se desintoxicar dos poluentes? da vida na Terra. Quais são as três coisas que consi-
4. Descreva as p rincipais diferenças entre os ni- dera ser as mais importantes a fazer?
chos ecológicos de seres humanos e de baratas. 10. Liste duas questões que gostaria que tivessem sido
Essas duas espécies estão em competição? Se respondidas como resultado da leitura deste capítulo.
sim, como conseguem coexistir?
5. Como você pode determinar experimentalmen-
te se um organismo é (a) uma espécie-chave e
(b) uma espécie engenheira?

Este gráfico mostra os dados coletados por cientistas que


investigaram a biogeografia de ilhas. Mostra as medidas 0,4 •
para duas variáveis: a área em que as medidas foram to- •
madas e a densidade da população de uma determinada ........ 0,3
• •
espécie de lagarto encontrada em cada área. Observe que
as áreas estudadas variaram de 100 m 2 a 300 m 2 (eixo x).
N
E
......
e
._...

As densidades medidas variaram de 0,1 a 0,4 indivíduos
O)
"C
0,2 • •
rc
"C
por m 2 ( eixo y). Estude os dados e responda às seguintes
perguntas. o
e
Vl
O)

• •
1. Quantas medições abaixo de 0,2 indivíduos por m 2 fo-
ram feitas? Quantas foram feitas em áreas menores
que 200 m 2 ? Quantas em áreas maiores que 200 m 2 ?
O, 1 •
o ....'- - - - - - - - - - - - - - - - - - -
2. Quantas medições acima de 0,2 indivíduos por m 2 fo- 100 200 300
ram feitas? Quantas foram feitas em áreas menores Area (m 2)
que 200 m 2 ? Quantas em áreas maiores que 200 m 2 ?
3. Suas respostas apoiam a hipótese de que ilhas maiores
tendem a ter maior densidade de espécies? Explique.

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