Você está na página 1de 22

LEONARDO FRÓES

lt 0t 6t
leonardo fróes

anjo tigrado
petrópolis
Í97t
do ffaço aos pontos

.tf
um Proreto cte Peclra
t. J . I
âo, ao voltar do nunca, camrnhar pera casâ
sabendo que não tenho
trabalho nem teto, um corpo entre
outros mntos magros,
sabendo nem mesmo se fagulho no olhar
l. ,
ou se, paÍâdislaco, me erero em golfadas bucólicas
I t.
DOCaS asmatrcas
.t
trens mraculosos
tr.
geres desertas e anoarmes mambembes
onde, perdendo a vida, ganho esse lugar num uapézio
rente às brincadeiras divinas:
mulheres de milho

Milhares de mulheres de milho


brotam do meu olho calado como espigas

fortes. No ar elas se endireitam

como folhudas criaturas carnosas


que ao vento se transmudam, de fêmeas,
em formosos penachos machos.

Acho graça na cruze; penso nisso


que é ser mulher a pesso
de, sob a vertigem solar, virar confusa

hibridação. Abro-me. Brinco


de me dar. Rapto-me e opto-me
como se eu mesmo fosse me comer inteiro

enquanto as coisas simplesmente nascem.


k

prelábios

A manhã me unha mes a vida é doce.


§r
O

E comendo brasa que se manda brisa.

Minha cara-mânha gatominha e me estranha.

.i.

Montar montanhas, mas de alma na mão.

lc

Alegro porque me escasso


vendo a chuva chorindo.
pernoitório

Cisco de carne. Fingo de noite. Metralha.


O olho serye para brilhar no escuro.
A cura não há.

Há o pé já
- que vai havido -
a mão que pisa no palavreado
e outrâs eoisas normais: ois, alôs, ais e esbarros.

Há o dente carnívoro da frente.


Rente a eie há um crime
e, no creme do crime, certo medo.

Cedo eu fui. Mas o ido degenera


e a Eerra, discretamente, âgora brilha.
Há ilhas, baralhos, continentes, tinidos e plantas.

Há inclusive umi esquisita cauteia. Há a pele. O pelo


a essa altura
-.
-
rapado por toda ela. F{á o rnenino que eu invento
e Bouco â pouco se inicia à rnorte. Há, principalmente, â sorte

de ser n-resmo um pâu. tortc, que jamais endireita.


t';
t.
precrpmclplo

mo um nada mento elétrico no cor na carne


esse
um monada um corpo em desagr torto minto desagramento um
mortor sanguágua um nada a carnoficina e lembraços um cor
por desamorindo querente pedinte um nada a cariciência a
inexperiânsia

um derrape de renpe um nada çicatrazes no rasto


o rosto o restosto antipisre e pasta de dantes o pão dor
mido o eu-me um nadar no nada, passos, a posra sorrinte,
e cara sangritante porrada um beijo-te

T
jantando a famílía

ando noutra atrás de mim aos poucos


nesse instante

como os loucos que fui quando ninguém me era


por a mesrne onde caminho em cada
essâ estrada

e cada passo rneu é como um restro de todos


tosses, engasgos, e até um pouco de gosrna
nurna selva de estrelas,
Ando noutra Í'ia rnesa, quando eu mesmo me familiarizo
com pessoas cujas asas podadas cujas prendas
desprendern, sobre mim, urn bafejo bacana
como coxas,
-

Tais pessoas convirgem diversam


entre elas vareia urn rio de opiniões
e eu, que não tenho nenhuma, somente me travo nessas brancas águas imuncias
eu abuso de ser hurnano
e mesnlo assirn não me satisfixo.

Continuo entrementes nu, com meus dentes contínuos,


dentes dançantemente incisivos
corno uivos comensurados.
às vezes um passeio na hortamigos por amplo
um abraço com repolho fuimos
todos verfistamos
indora na horta salteu de migo
gaguejei-me sem me olhai os lírios arnai-vos âos troxos etc.
vinharnos vindo na horta rnultivêntrica linda
e tudo pau % do belo
tudo curvicertoprínceps funioso
rega não rega venta formiga
rudo isso vai indo
inso é ESSA com x
a esfinge da cabeça do Amigo tb. brota
sono livre

Cada vida na varanda


quando eu deito na morte
irmão das almas

Calmas caras caladas


olham pelo travesseiro de banda
queéaminhanuca

A calma das caras loucas


imprime sentido a tudo
olhos estrelados
piscam no travesseiro-cérebro

Durmo na grade
do princípio obscuro,
vou virando pedra e livre
vou virando um cisco
cristão de idade

a máquina cânsa disparada


nada um rio pelo quarto a harpt atola nos dedos
demos para isso ambos agoru a máquina-fragata

vai bêbadâ como o meu corpo na chuva.

Sujeito a isto
sou aquilo que me olha
quando se, nela se parte
uma qualquer coisa vítrea, uma garapa de aço:

a isto, subobjeto,
sujeito insubordinada-
mente,
com predicâncias;

sujeito, como um quisto no céu, a ser estrela


dizendo 33, eu que hoje anivercejo
entreolarnpiãoevocê
rock-rocinha

A gente rodava sobretudo no engenho:


a cana era uma água verde melada,
o açícar principalmente doce.

De manhã o banho pelado,


a gente se ensabonetando aos bambus.

Os sonhos suados
eram basicamente os mesmos,
havia, no teto em trança, urna povoação de morcegos.

Sobretudo um cavalo
cavalava a gente. IJma nuvem âvuâve
e d. ÍerÍa, farinha quente,
era ume delícia espojar-se.

Sobreudo era principalmente bom não {azer nada,


não mexer nem zumbir, apenâs enredar-se
no ar fugitivo.
secretovário

estou no estado tido como serei quando morto


perto e farto como estou não tenho tempo de ser
mas olho as coisas mansas como ursas sorrindo
quando não quero esse mundo nem mereço um ouffo
paviola
*

o que interessa tão pouco está no osso


- -
corno um ferro chiando enquânto voa
uma borboleta na sala;

o que inter-essa nío é nada disso


que esd em cada e cala e talvez passe
como em meu corpo desanda umâ avenida óssea

com suas luzes de carnificina;


estar na tetr\ ou isso
que há no osso um grão é o quanto posso
- -
quando longe de mim na borboleh que passa ?

O que interessa não, o que inreiriça


-
na dissolvência corno um sonho em brasa

é pensar que me ponho, estando em ierra,


num estado de brisa: e logo vejo
que mesmo isso é pura ilusão minha. I

lr
{ 1
,l
:-- a-..,!.o -,r,.6 ç:-T.,' .-_-_.,-- -- X{r
.['ui ",fl

vale
f
t

l
{
I

i
t 1

{
i
,]

j
I
I

I
I
i
1

fr
.!
à
.t' I
1

i
I
{
I
{
olha bem uma sobra olha só a sombra
tx
e seus reflexos encara*calados os anéis de eus que olham {
I

,fl
como bolhas dágua oiha a madre selva ruiva i

degludndo-se perfeicarnenre sozinha i


J

.* I
traduzido de rené daumal

se me eis morto é que me eis sem desejo


se me eis sem desejo é porque acho possuir
acho possuir porque não renro dar;
tentando dar e gente vê não rer nada
vendo nada ter e gente tenta se dar
tentando se dar a genre vê não ser nada
vendo não ser nada a gente renta devir
tentando devir, a genre invém e vive.
\i

anjo dgrado

poeta fino de temperamento participante muito impressionável


um dia dei de cara com o mundo
o mundo de quando eu era
um muleque avuador:
caí no poço, de novo,
e vi cenas-avenidas com camâs improvisadas num cânto
aos trinta e poucos anos dei para cair em poços
com a mesma naturalidadc com que eu chupava pitangas.

Yi dentes dantescos
no meu ombro aluado, já que então eu me via numa dança de cares,
e de cada lado meu tinha sobrado urn retrato
todos meus todos lindos todos sufocantemente sozinhos:

nurn retreto eu catave


bocas; noutro um trem me despetalava; havia uma pose
- essa menos fútil -
que me surpreendia no ato de ser orgânico em público.

Mas um dia cismei


juntei tudo e joguei fora:
fui pro mato
de onde só sairei como um tigre.
Composto e impresso na Qáftta SaataefuÍôaica bla-
Raa Viscondc do Bom Rairo t9g-t95, Puópahs RJ,
sob planejame*o Sr{Eo dc Tkdn* ffrba* C-zriç-

t$8 §Ne Capa: dtsenho dc Agn

Tirado cm ;.oa excrnpld


pclo aator.
*.
§,
I
{i
$
ü
tq

!
I
a
q

I
i
*
§

§
$
s
§
{,
ü
tI
Ê
*
{
t
1

{
§
§

§
'i
,i
E-

:
§
B
i
i
fr
§
s3
í

§
{
fr
f,
{
É

I
à

Você também pode gostar