Rómulo Vasco da Gama de Carvalho foi um químico e professor português nascido em 1906 em Lisboa, onde faleceu em 1997. Dedicou-se ao ensino secundário e à investigação histórica da ciência.
Rómulo Vasco da Gama de Carvalho foi um químico e professor português nascido em 1906 em Lisboa, onde faleceu em 1997. Dedicou-se ao ensino secundário e à investigação histórica da ciência.
Rómulo Vasco da Gama de Carvalho foi um químico e professor português nascido em 1906 em Lisboa, onde faleceu em 1997. Dedicou-se ao ensino secundário e à investigação histórica da ciência.
Rómulo Vasco da Gama de Carvalho, português, foi um
químico, professor de físico-química do ensino secundário no Liceu Pedro Nunes e Liceu Camões, pedagogo, investigador de História da ciência.
Nasceu a 24 Novembro 1906 (Lisboa, Portugal)
Morreu em 19 Fevereiro 1997 (Lisboa) Pedra Filosofal Eles não sabem que o sonho é uma constante da vida tão concreta e definida como outra coisa qualquer, como esta pedra cinzenta em que me sento e descanso, como este ribeiro manso em serenos sobressaltos, como estes pinheiros altos que em verde e oiro se agitam, como estas aves que gritam em bebedeiras de azul.
Eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento, bichinho álacre e sedento, de focinho pontiagudo, que fossa através de tudo num perpétuo movimento. Eles não sabem que o sonho é tela, é cor, é pincel, base, fuste, capitel, arco em ogiva, vitral, pináculo de catedral, contraponto, sinfonia, máscara grega, magia, que é retorta de alquimista, mapa do mundo distante, rosa-dos-ventos, Infante, caravela quinhentista, que é Cabo da Boa Esperança, ouro, canela, marfim, florete de espadachim, bastidor, passo de dança, Colombina e Arlequim, passarola voadora, pára-raios, locomotiva, barco de proa festiva, alto-forno, geradora, cisão do átomo, radar, ultra-som, televisão, desembarque em foguetão na superfície lunar.
Eles não sabem, nem sonham,
que o sonho comanda a vida. Que sempre que um homem sonha o mundo pula e avança como bola colorida entre as mãos de uma criança. Lágrima de Preta Encontrei uma preta que estava a chorar, pedi-lhe uma lágrima para a analisar.
Recolhi a lágrima com todo o cuidado num tubo de ensaio bem esterilizado.
Olhei-a de um lado, do outro e de frente: tinha um ar de gota muito transparente.
Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais, as drogas usadas em casos que tais. Ensaiei a frio, experimentei ao lume, de todas as vezes deu-me o que é costume:
nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio. Água (quase tudo) e cloreto de sódio. Gota de Água Eu, quando choro, não choro eu. Chora aquilo que nos homens em todo o tempo sofreu. As lágrimas são as minhas mas o choro não é meu.
Como será estar contente?
Como será estar contente? Lançar os olhos em volta, moderado e complacente, e tratar com toda a gente sem tristeza nem revolta? Sentir-se um homem feliz, satisfeito com o que sente, com o que pensa e com o que diz? Como será estar contente? Máquina do Mundo O Universo é feito essencialmente de coisa nenhuma. Intervalos, distâncias, buracos, porosidade etérea. Espaço vazio, em suma. O resto, é a matéria. Daí, que este arrepio, este chamá-lo e tê-lo, erguê-lo e defrontá-lo, esta fresta de nada aberta no vazio, deve ser um intervalo. Reflexão Total Recolhi as tuas lágrimas na palma da minha mão, e mal que se evaporaram todas as aves cantaram e em bandos esvoaçaram em tomo da minha mão. Em jogos de luz e cor tuas lágrimas deixaram os cristais do teu amor, faces talhadas em dor na palma da minha mão. Lição sobre a água Este líquido é água. Quando pura é inodora, insípida e incolor. Reduzida a vapor, sob tensão e alta temperatura, move os êmbolos das máquinas que, por isso, se denominam máquinas a vapor. É um bom dissolvente. Embora com excepções mas de um modo geral, dissolve tudo bem, ácidos, bases e sais. Congela a zero graus centesimais e ferve a 100, quando à pressão normal. Foi neste líquido que numa noite cálida de Verão, sob um luar gomoso e branco de camélia, apareceu a boiar o cadáver de Ofélia com um nenúfar na mão. Adeus, Lisboa Vou-me até à Outra Banda no barquinho da carreira. Faz que anda mas não anda; parece de brincadeira. Planta-se o homem no leme. Tudo ginga, range e treme. Bufa o vapor na caldeira. Um menino solta um grito; assustou-se com o apito do barquinho da carreira. Todo ancho, tremelica como um boneco de corda. Nem sei se vai ou se fica. Só se vê que tremelica e oscila de borda a borda.
Chapas de sol, coruscantes
como lâminas de espadas, fendem as águas rolantes esparrinhando flamejantes lantejoulas nacaradas. Sob o dourado chuveiro, o barquinho terno e mole, vai-se afastando, ronceiro, na peugada do Sol.
A cada volta das pás
moendo as águas vizinhas, nos remoinhos que faz, nos salpicos que me traz e me enchem de camarinhas, há fagulhas rutilantes, esquírolas de marcassites, polimentos de pirites, clivagens de diamantes,
Numa hipnose coletiva,
como um friso de embruxados, ao longe os olhos cravados em transe de expectativa, todos juntos, na amurada, numa sonolência de ópio, vemos, na tarde pasmada, Lisboa televisada num vasto cinemascópio. O sol e a água conspiram num conluio de beleza, de elixires que se evadiram de feiticeira represa. Fulva, no céu incendido, em compostura de pose, a cidade é colorido cenário de apoteose. Há lencinhos agitados nos olhos de todos nós, engulhos de namorados, embargamentos na voz. Nesta quermesse do ar, neste festival de tons, quem se atreve a acreditar que os homens não sejam bons?
Adeus, adeus, ribeirinha
cidade dos calafates, rosicler de água-marinha, pedra de muitos quilates. Iça as velas, marinheiro, com destino a Calecu. Oh que ventinho rasteiro! Que mar tão cheio e tão nu! Ó da gávea! Põe-te alerta! Tem tento nos areais. Cá vou eu à descoberta das índias Orientais. Não tenho medo de nada, receio de coisa nenhuma.
A vida é leve e arrendada
como esta réstea de espuma. Toda a gente é séria e é boa! Não existem homens maus! Adeus, Tejo! Adeus Lisboa! Adeus, Ribeira das Naus! Adeus! Adeus! Adeus! Adeus!