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5327/Z2317-48892013000300004
ARTIGO
RESUMO: O Grupo Paranoá corresponde a uma sucessão psamo-pe- ABSTRACT: The Paranoá Group represents a psamo-pelitic-carbon-
lito-carbonatada depositada em condições plataformais. A estratigrafia ated succession deposited in shelf conditions. The stratigraphy of this
desse importante conjunto litoestratigráfico da Faixa de Dobramentos important lithostratigraphic sequence of the Brasília Fold Belt was
Brasília foi inicialmente proposta sob a designação de letras-código que originally proposed by letter-code designation that includes 11 units
inclui 11 unidades com o seguinte empilhamento estratigráfico: SM, R1, with the following stratigraphic stacking: SM, R1, Q1, R2, Q2, S, A,
Q1, R2, Q2, S, A, R3, Q3, R4 e PC. O presente trabalho formaliza tais R3, Q3, R4 and PC. The present paper formalizes these units and pro-
unidades e atribui a seguinte denominação às formações, da base para o poses the following denomination to the formations, named from base
topo: Ribeirão São Miguel, Córrego Cordovil, Serra da Boa Vista, Serra to top: Ribeirão São Miguel, Córrego Cordovil, Serra da Boa Vista,
Almécegas, Serra do Paranã, Ribeirão Piçarrão, Ribeirão do Torto, Ser- Serra Almécegas, Serra do Paranã, Ribeirão Piçarrão, Ribeirão do Tor-
ra da Meia Noite, Ribeirão Contagem, Córrego do Sansão e Córrego do to, Serra da Meia Noite, Ribeirão Contagem, Córrego do Sansão and
Barreiro. A deposição do Grupo Paranoá é interpretada como ocorrida Córrego do Barreiro. The deposition of the Paranoá Group is considered
no Mesoproterozoico (1.542 a 1.042 Ma). Essa idade é corroborada por to have been processed in the Mesoproterozoic (1,542 to 1,042 Ma).
sua posição estratigráfica (ocorre sobre sedimentos da fase pós-rifte do This age interpretation is supported by the stratigraphic position (as it
Grupo Araí e sob pelitos e carbonatos do Grupo Bambuí), pela presença occurs over the post-rift phase sediments of the Araí Group and under
de estromatólitos cônicos (conophyton) e por dados isotópicos. A sedi- slates and carbonates of the Bambuí Group), by the presence of conical
mentação foi controlada por ciclos transgressivos-regressivos, incluindo stromatolite (conophyton) and by isotopic data. The sedimentation was
processos trativos, suspensivos, fluxos de detritos, marés, ondas, tempes- controlled by transgressive-regressive cycles, including grading and trac-
tades e controle da paleogeografia de fundo. O conjunto foi afetado por tion processes, debris flows, tides, waves, storms and basin bottom pa-
metamorfismo de baixo grau e a deformação resultou na formação de leogeography. The sediments were affected by low-grade metamorphism
monoclinais, diferentes estilos de dobras (chevrons, em caixa e cilíndricas) and the deformation resulted in the formation of monoclines, different
e interferência de dobramentos formando domos e bacias estruturais. styles of folds (chevrons, in box and cylindrical ones) and folding inter-
A deformação regional do Grupo Paranoá é controlada principalmente ference resulting in domes and structural basins. The regional deforma-
pelos sistemas de cavalgamentos Paranã e Rio Maranhão, além da faixa tion of the Paranoá Group is mainly controlled by the Paranã and Rio
de transcorrência Ribeirão São Miguel. Maranhão thrust systems and by the Ribeirão São Miguel shear belt.
PALAVRAS-CHAVE: Grupo Paranoá; ciclos transgressivo-regressivos; KEYWORDS: Paranoá Group; transgressive-regressive cycles;
Mesoproterozoico. Mesoproterozoic.
Instituto de Geociências, Universidade de Brasília - UnB, Brasília (DF), Brasil. E-mails: eloi@unb.br; marcoc@unb.br
1
2
Companhia Vale, Santa Luzia (MG), Brasil. E-mail: flavio.freitas@vale.com
*Autor correspondente
Manuscrito ID 29931. Recebido em: 03/03/2013. Aprovado em: 20/08/2013.
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José Eloi Guimarães Campos et al.
São comuns as laminações cruzadas truncadas por ■■ Unidade S: é o pacote que apresenta maior variabilidade,
ondas, marcas onduladas assimétricas nos bancos de podendo alcançar espessuras superiores a 500 m. É sub-
quartzitos, quick sand e estruturas de fluidização. divido em cinco litofácies, sendo um conjunto de metas-
■■ Unidade Q2: composta por camadas decimétricas siltitos esverdeados homogêneos que podem conter in-
a métricas de quartzitos amarelo-ocres de granu- tercalações arenosas compondo metarritmitos ou lentes
lação média a grossa. Em direção ao topo da suces- de calcários e dolomitos (estas últimas bastante raras).
são, são comuns leitos e canais conglomeráticos finos ■■ Unidade A: apresenta contato transicional a partir da
feldspáticos, com grânulos e seixos subangulosos a ar- unidade anterior, sendo constituída por ardósias ho-
redondados. As estratificações cruzadas tabulares revi- mogêneas de cor cinza esverdeada, que passam a tons
radas e do tipo espinha de peixe são comuns. Sua es- vermelhos característicos com a alteração intempé-
pessura pode alcançar 150 m. rica. Neste conjunto, são observadas duas foliações
50ºW 46ºW
12ºS
Colinas do Sul
Niquelândia
Cabeceiras 16ºS
Unaí
Cristalina
Faixa Brasília
Caldas Novas
Arco Magmático
Zona Interna
Zona Externa
20ºS
AM - Cráton Amazonas
SF - Cráton São Francisco
FB - Faixa Brasília
1000 Km Província Tocatins
0 250 500 km
Figura 1. Distribuição do Grupo Paranoá nas porções interna e externa da Faixa de Dobramentos Brasília.
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penetrativas que representam clivagens ardosianas. Sua zircão detrítico e idade máxima de 1.542 Ma em função da
espessura é de difícil estimativa em virtude do inten- população de zircões mais jovens. Além desse intervalo de
so dobramento, sendo considerada da ordem de 70 m. idade, os autores apresentam ampla discussão sobre a geo-
■■ Unidade R3: corresponde a um metarritmito arenoso, logia da área fonte e proveniência dos sedimentos terríge-
caracterizado por intercalações de bancos decimétricos nos da bacia Paranoá.
a métricos de quartzitos e materiais pelíticos (compos- Os sistemas deposicionais, atribuídos ao Grupo
tos por metassiltitos e ardósias). Localmente, são obser- Paranoá, correspondem a condições marinhas platafor-
vados pacotes de até 10 m de espessura que destacam mais epicontinentais, sendo a variação das proporções
do conjunto rítmico. A espessura total deste conjunto de materiais arenosos e argilosos relacionada a variações da
pode alcançar 90 m. profundidade da lâmina d’água, em função de ciclos
■■ Unidade Q3: composta por quartzitos brancos, finos, transgressivos-regressivos.
bastante silicificados, ricos em estratificações cruzadas
tabulares, acanaladas e do tipo espinha de peixe, além
de marcas onduladas assimétricas. A máxima espessu- ESTRATIGRAFIA E DESCRIÇÃO DE
ra de 100 m é estimada na região do Distrito Federal. LITOFÁCIES
■■ Unidade R4: metarritmito argiloso, composto por in-
tercalações de materiais sílticos e argilosos, além de del- A proposta de Faria (1995) para o empilhamento es-
gados estratos de quartzitos finos rosados a avermelha- tratigráfico do Grupo Paranoá é considerada completa e
dos. Os níveis arenosos apresentam estruturas do tipo adequada, de forma que o presente trabalho definirá as
laminações cruzadas, laminações truncadas por ondas e áreas-tipos e holoestratótipos para cada unidade que de-
hummockys. Esta unidade apresenta espessuras varian- verá ser definida como formação, além de detalhar as con-
do de 100 a 150 m. dições de deposição de cada formação. A Fig. 2 apresenta
■■ Unidade PC: dominantemente pelítica, com ardósias a estratigrafia com as respectivas denominações das for-
cinzas e metassiltitos argilosos associados com lentes de mações e principais litofácies que as integram. A Fig. 3
mármores finos que podem conter estruturas algais do apresenta a localização das áreas-tipo de cada formação
tipo estromatólitos colunares e cônicos. São comuns os proposta. Na Tab. 1, é apresentada a correlação das uni-
níveis decimétricos a métricos, lenticulares ou não, de dades informais com as formações propostas, bem como
quartzitos médios, grossos e até conglomeráticos, apre- suas áreas-tipo de ocorrência.
sentando tonalidades escuras. Sua espessura varia de
120 a 150 m. Formação Ribeirão São Miguel
A área-tipo e o holoestratótipo são representados pela
A idade do Grupo Paranoá foi estabelecida em função localidade denominada Vale da Lua, ao sul do Parque
das relações estratigráficas com os grupos Araí e Bambuí Nacional da Chapada dos Veadeiros. Além do trabalho de
(respectivamente correspondentes à sua base e topo), por Faria (1995), Campos et al. (2005) apresentam detalha-
correlações regionais e principalmente em função das es- mento petrográfico e análise sobre o ambiente deposicio-
truturas estromatolíticas, presentes nas rochas carbonáti- nal desta unidade.
cas. Os estromatólitos (colunares e conophyton) e os dados A Formação Ribeirão São Miguel (conglomerado São
isotópicos disponíveis indicam idade para a sedimenta- Miguel – Dyer 1970) é representada essencialmente por
ção entre 1.000 e 1.300 Ma, o que posiciona a unidade conglomerados matriz-suportados, com matriz arenosa e
no Mesoproterozoico (Dardenne et al. 1972, Cloud & cimentos de carbonatos. Os clastos são de quartzitos fi-
Dardenne 1973, Dardenne 1979, Matteini et al. 2012). nos ou médios, metassiltitos, mármores finos, apresentan-
Informações isotópicas Sm/Nd (Santos et al. 2000, do diâmetros variáveis desde milimétricos até decimétricos;
2004, Pimentel et al. 2001, além de dados inéditos) indi- blocos com até 1 m são observados localmente. Na fá-
cam que as idades modelo para as diferentes unidades do cies mais comum, predominam clastos de 1 a 4 cm, com
Grupo Paranoá variam entre 1,81 e 2,27 Ga, o que mos- formas variadas, onde é possível verificar fragmentos desde
tra que as fontes dos detritos têm idade principalmente subarredondados até muito angulosos.
paleoproterozoica. Campos et al. (2005) dividiram esta formação nas se-
Matteini et al. (2012), a partir de estudos isotópicos guintes fácies: Rudito Médio a Grosso Maciço, Rudito
U-Pb e Hf sobre zircões detríticos, concluem sobre a ida- Fino, Brecha Maciça e pelítica. De forma geral, os ruditos
de mínima de deposição do Grupo Paranoá de 1.042 Ma são maciços, mas localmente fácies com acamamento difu-
baseado em sobrecrescimento diagenético de xenotima em so ou laminação podem ser observadas.
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1.500 m
1.300 m
Formação Córrego do Sansão
Ritmitos com quartzitos muito finos subordinados.
1.000 m
F
o Sublitofácies Metarritmito Argiloso
r
Lentes de quartzito fino.
m
a
900 m
ç
ã
o Sublitofácies Pelítica
Lentes de dolomito com estromatólitos.
R
800 m i
b
e
i Sublitofácies Metarritmito
r Alternância de quartzitos e metassiltitos argilosos.
700 m ã
o
A S AF AM AG C
A: Argila; S: Silte; AF: Areia Fina; AM: Areia Média; AG: Areia Grossa; C: Cascalho.
Figura 2. Coluna estratigráfica do Grupo Paranoá na área-tipo de Alto Paraíso de Goiás/Distrito Federal (modificada
de Faria 1995).
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Teresina
de Goiás
PNCV
São Jorge
1 Alto Paraíso
2 de Goiás
Colinas do Sul 3 4
Niquelândia
São João
D’Aliança
Goiás
GO-118
0
São Gabriel
-02
de Goiás
BR
Formosa
11
10
9
PNB
7
Brasília
DF
50 km
1: Formação Ribeirão São Miguel; 2: Formação Córrego Cordovil; 3: Formação Serra da Boa Vista; 4: Formação Serra Almécegas; 5: Formação Serra do
Paranã; 6: Formação Ribeirão Piçarrão; 7: Formação Serra da Meia Noite; 8: Formação Ribeirão do Torto; 9: Formação Ribeirão Contagem; 10: Formação
Córrego do Sansão; 11: Formação Córrego do Barreiro; PNB: Parque Nacional de Brasília; PNCV: Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros.
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Algumas estruturas interpretadas como clastos arre- É representada por quartzitos finos a médios e ra-
dondados são, na verdade, concreções carbonáticas forma- ramente com grãos grossos e grânulos de quartzo. Esses
das durante a diagênese e litificação da rocha. Além das quartzitos são brancos a cinzas em afloramentos frescos e
concreções, a cimentação por carbonatos resulta na preci- amarelados a rosados em exposições alteradas. Os grãos são
pitação de grandes cristais de calcita e dolomita arroxeadas arredondados e a rocha é bem selecionada e matura, tanto
que obliteram grande parte da porosidade primária. textural quanto mineralogicamente.
De forma subordinada, ocorrem intercalações pelíticas
Formação Córrego Cordovil que formam camadas métricas de metarritmitos.
A área-tipo e o holoestratótipo estão situados no baixo A associação de estruturas sedimentares é representada
curso do córrego Cordovil, ao sul do Parque Nacional da por: acamamento, laminação horizontal e ondulada, mar-
Chapada dos Veadeiros. As melhores exposições ocorrem cas onduladas assimétricas, estratificações cruzadas tan-
entre a cachoeira do Cordovil e a foz no ribeirão São Miguel. genciais, tabulares e acanaladas, além de flasers e diques de
A litofácies típica desta unidade é representada por um me- areia em fácies pelíticas intercaladas.
tarritmito caracterizado por intercalações regulares de quartzitos
micáceos, finos a médios, com camadas e lâminas de metassil- Formação Serra Almécegas
titos e metassiltitos argilosos. As espessuras das camadas variam O holoestratótipo e a área-tipo são situados nos cor-
de 1 a 27 cm e a laminação interna é uma feição muito comum. tes da rodovia GO-118, km 165, onde um amplo conjun-
Os quartzitos são, em geral, feldspáticos, o que é responsável to de metarrtimitos está exposto. Nessa região, também é
pela tonalidade rosada das amostras de rocha intemperizadas. evidente na paisagem o aspecto rítmico da rocha, onde se
Próximo à base, podem ocorrer, de forma descontínua, pode verificar o aspecto “em escada” sob o campo limpo,
fácies carbonatadas materializadas por camadas de meta- vegetação típica desta unidade.
margas intercaladas com metassiltitos e quartzitos finos. É composta por metarritmitos representados por
Além do acamamento e laminação plano-paralela, intercalações de lâminas, lentes e camadas de quart-
ocorrem marcas de cubos de sal, gretas de contração e di- zitos finos, metassiltitos argilosos e metagrauvacas
ques de areia na associação de estruturas sedimentares. quartzosas. As rochas são esverdeadas quando frescas e,
em função da presença de matriz e mica detrítica, ten-
Formação Serra da Boa Vista dem a ser pouco silicificadas. De forma geral, a gra-
A área-tipo é a seção da Serra da Boa Vista, ao sul do Vale nulometria é psamo-pelítica e apenas localmente são
da Lua, e o holoestratótipo pode ser encontrado na região das encontradas fácies com grânulos e pequenos seixos de
cachoeiras e corredeiras nos córregos São Bento e Cordovil. quartzo e quartzito.
Tabela 1. Formalização da estratigrafia do Grupo Paranoá para a área-tipo de Alto Paraíso de Goiás-Distrito Federal
Sigla da unidade
Nome informal Nome da formação Localidade da área-tipo/holoestratótipo
de mapeamento
Unidade PC Formação Córrego do Barreiro MNPpacb Cabeceira do Córrego do Barreiro, Brazlândia, DF.
Unidade R4 Formação Córrego do Sansão MNPpacs Cabeceira do Córrego do Sansão, Sobradinho, DF.
Unidade Q3 Formação Ribeirão Contagem MNPparc Cabeceira do Ribeirão Contagem, Brasília, DF.
Unidade A Formação Ribeirão do Torto MNPpart DF 003 próximo à ponte sobre o Ribeirão do Torto, DF.
Unidade Q1 Formação Serra da Boa Vista MNPpabv Serra da Boa Vista a sudoeste do Vale da Lua.
Unidade R1 Formação Córrego Cordovil MNPpacc Baixo Cordovil, Chapada dos Veadeiros, GO.
Unidade SM Formação Ribeirão São Miguel MNPparsm Vale da Lua, Chapada dos Veadeiros, GO.
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Este tipo litológico é o mais comum nesta formação, contri- ambientes marinhos com lâmina d’água variável, caracteri-
buindo com cerca de 85% do total da sucessão. zando ciclos transgressivos/regressivos.
Além dos metapelitos, ocorrem rochas carbonáticas e
quartzíticas. As rochas carbonáticas são representadas por Formação Ribeirão São Miguel
calcários pretos ou cinza escuros, micríticos ou intraclás- A associação faciológica, sua relação de interdigitação,
ticos (classificados como mudstones, grainstone intraclás- a análise petrográfica microscópica e as estruturas sedimen-
ticos, packstone intraclásticos e floatstones intraclásticos) e tares observadas permitem interpretar a deposição por le-
subordinadamente por dolomitos com tons cinza claros, ques aluvionares. A sucessão de fácies permite estabelecer
localmente estromatolíticos. Sua geometria lenticular é fa- uma arquitetura clássica de leque aluvial completo, com
cilmente interpretada em função do padrão de afloramen- ruditos mais grossos representando as porções proximais e
tos que mostra clara interdigitação com as fácies pelíticas. medianas do leque e as fácies laminadas e de grauvacas, as
As lentes apresentam diâmetros de centenas de metros, po- suas porções distais.
dendo as maiores alcançar mais de um quilômetro. Não ra- A grande quantidade de material matricial (matriz
ramente, os calcários e os dolomitos apresentam delgadas areno-silto-carbonática) indica que o processo deposicio-
lâminas de material argiloso, marcando o acamamento pri- nal por fluxos de detritos subaéreos foi o principal me-
mário. Brechas calcárias muitas vezes silicificadas são dis- canismo de transporte e sedimentação. As correntes su-
tribuídas sem controle estratigráfico definido, tendo sido baquosas foram subordinadas, o que é evidenciado pela
observadas próximo às bordas de algumas lentes ou em po- presença de fácies laminadas, contendo eventuais clastos
sições mais baixas topograficamente, possivelmente na base mais arredondados.
de ciclos carbonáticos. Na região de interdigitação entre as Esta formação marca o início da deposição do Grupo
lentes carbonáticas e as rochas pelíticas, são comuns as fá- Paranoá, em condições continentais, as quais foram substi-
cies de metamargas com aspecto maciço quando frescas e tuídas de forma rápida por uma transgressão marinha, dan-
poroso quando alteradas. do lugar à sedimentação plataformal.
Os estromatólitos observados nestes carbonatos são re- A fonte dos sedimentos da Formação Ribeirão São
lativamente abundantes e são compostos por estromatóli- Miguel é exclusivamente representada por fragmentos de
tos com laminações diversificadas: estromatólitos coluna- rochas do Grupo Araí, com maior contribuição das unida-
res, estromatólitos cônicos (conophyton) e estromatólitos des de metassiltito superiores, quartzitos e lentes de rochas
caracterizados por esteiras horizontais. carbonáticas. O carbonato presente em grande concentra-
Os quartzitos observados na Formação Córrego do ção na matriz dos conglomerados ou na forma de cimento
Barreiro ocorrem em lentes alongadas métricas até deca- é oriundo de lentes de calcários e mármores comumente
métricas ou em níveis centimétricos contínuos lateralmen- observados no topo do Grupo Araí.
te que podem apresentar certo ritmo. Trata-se de quartzitos
médios, grossos a conglomeráticos, mal selecionados, preto Formações Córrego Cordovil e
a cinza escuro (em função de uma película de matéria orgâ- Serra Almécegas
nica em torno dos grãos detríticos) e feldspáticos, com clas- Por se tratar de unidades muito similares em termos pe-
tos subangulosos a arredondados. Este tipo litológico não é trográficos e quanto à associação de estruturas primárias, o
comum em afloramentos, uma vez que são facilmente desa- ambiente deposicional é considerado o mesmo.
gregáveis; contudo, são muito comumente observados em A atuação cíclica de processos trativos e suspensivos,
amostras de calha de poços tubulares profundos. Os quartzi- a granulometria das litofácies e a presença abundante de
tos e conglomerados finos, muitas vezes, apresentam matriz muscovita detrítica são compatíveis com deposição em pla-
pelítica de coloração rosada ou ocre. A análise em lâminas nícies de marés. Nestes sítios amplos e rasos, há alternância
delgadas (apenas duas amostras) mostra grãos arredondados, de deposição por agradação vertical responsável pela for-
com contatos desde planares até suturados. mação das camadas de metassiltitos argilosos e filmes argi-
losos intercalados às camadas arenosas. As lentes arenosas
são resultantes do aumento de energia com erosão e retra-
SISTEMAS DEPOSICIONAIS balhamento de camadas arenosas contínuas.
A exposição ocasional da plataforma é materializada
O conjunto de estruturas sedimentares, os litotipos, pela presença de pseudomorfos de cubos de sal e gretas
variações e interdigitações, além da continuidade lateral de contração e mostra que a região tinha águas rasas asso-
das litofácies, permitem posicionar a sedimentação em ciadas a elevações paleogeográficas do substrato da bacia.
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Nesses casos, qualquer rebaixamento da lâmina d’água era Apesar do grande recuo da linha de costa, não foram obser-
responsável pela exposição subaérea de lamas. vadas situações de exposição subaérea.
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Os raros pacotes de metarritmitos são interpretados de profundidade da lâmina d’água, depois da sedimentação
como rápidos afogamentos das porções rasas da plataforma em ambiente continental associado a leques aluvionares.
interna (rápidas transgressões marinhas) com considerável A Fig. 4 ilustra de forma esquemática os limites das
aumento de profundidade da lâmina d’água. seis parassequências consideradas para a sequência deposi-
cional do Grupo Paranoá. O controle tectônico sin-depo-
Formação Córrego do Sansão sição é limitado, o que resulta em uma bacia de margem
Em função da ampla predominância de pelitos e da geo- passiva de mar epicontinental (substrato representado por
metria dos corpos arenosos, além das estruturas sedimen- crosta continental) e subsidência flexural predominante.
tares associadas, a unidade foi interpretada como deposita- Falhas sin-deposicionais ocorrem apenas na etapa inicial
da em uma planície de maré sob condições de intermaré. da deposição, funcionando como controle para a formação
Ocasionalmente, ocorriam retrabalhamentos por tempes- dos leques aluvionares responsáveis pela sedimentação da
tades como atestados pelas pequenas hummockys presentes Formação Ribeirão São Miguel.
em leitos arenosos. Truncamentos por ondas são evidencia- Quatro ciclos transgressivos e três regressivos podem
dos pelas climbing ripples e pelas marcas onduladas. ser delimitados a partir da litoestratigrafia observada na
A presença de lentes arenosas em meio a um conjunto porção marinha do Grupo Paranoá, sendo que os rápidos
pelítico, observadas em certos intervalos, indica condições afogamentos da plataforma representam o principal cri-
de águas mais profundas (intermaré). tério utilizado para a separação de tais ciclos. O primei-
ro ciclo transgressivo é evidenciado pelo aprofundamen-
Formação Córrego do Barreiro to da bacia durante a sedimentação da Formação Córrego
Ao contrário das demais unidades, a sedimentação des- Cordovil; nesta fase, é marcante o processo de exposição
te conjunto sofreu forte influência da paleogeografia de subaérea responsável pela formação de marcas de cubos de
fundo, correspondendo ao final do preenchimento da sais e gretas de contração.
Bacia Paranoá. Os sedimentos carbonáticos eram deposita- Em seguida, observa-se o raseamento da plataforma
dos nos altos, sob condições de águas rasas, quentes e lim- com migração da linha de costa em direção ao mar, quan-
pas, enquanto os pelitos sedimentavam nas águas mais pro- do são depositados os psamitos laminados da Formação
fundas abaixo da atuação de base de ondas. Serra da Boa Vista. A condição muito rasa das águas per-
Os depósitos carbonáticos com intraclastos evidenciam mite a preservação de gretas de ressecamento e marcas de
o retrabalhamento dos calcários micríticos. As lentes carbo- cubos de sais.
náticas, em situação de maior restrição, sofriam dolomiti- Nova rápida transgressão resulta em novo aprofunda-
zação eodiagenética. A presença dos estromatólitos também mento da plataforma e deposição de sedimentos psamo-pelí-
mostra se tratar de carbonatos de águas rasas com lâmina ticos da Formação Serra Almécegas. Ciclos de menor ordem
d’água de até 20 m para o crescimento das formas cônicas permitem que ocorra exposição subaérea em sítios isolados
ou ainda mais rasas para o crescimento das formas colunares. da plataforma. Em seguida, há aumento de entrada de ma-
A grande proporção de pelitos evidencia áreas fontes terial terrígeno mais grosso com areia grossa e grânulos, for-
já bastante arrasadas e deposição em águas mais profundas temente retrabalhados por marés em águas rasas a muito ra-
equivalente a condições inframaré. sas (plataforma dominada por marés, com planície e canais),
Os quartzitos são interpretados como canais de fun- preservados na Formação Serra do Paranã.
do que, aparentemente, recortavam a plataforma mista (sili- O ciclo seguinte representa o maior afogamento sofrido
ciclástica/carbonática) em direções variadas. O elevado grau pela plataforma e foi responsável pela deposição das forma-
de arredondamento e esfericidade indica tratar-se de material ções Ribeirão Piçarrão e Ribeirão do Torto. Neste estágio,
ressedimentado, possivelmente caracterizado pelo retrabalha- são marcantes dois ciclotemas regressivos próximo à base
mento de outros sedimentos grossos. O forte odor exalado de e ao topo da Formação Ribeirão Piçarrão. Os corpos are-
blocos de quartzitos recém-partidos deve corresponder a gás nosos ocasionalmente encontrados na Formação Córrego
oriundo de matéria orgânica dos calcários ou pelitos, armaze- do Torto são interpretados como eventos turbidíticos que
nado nestas litologias por possuírem maior porosidade. ocorrem em porções mais profundas da plataforma.
O ciclo regressivo seguinte é iniciado pela passagem
gradacional entre as formações Córrego do Torto e Serra
ANÁLISE DO TRATO DE SISTEMAS da Meia Noite e encerra no topo da Formação Córrego
Contagem. Rápidas transgressões (em ciclos de menor or-
A análise conjunta das várias litofácies mostra deposi- dem) são responsáveis pela deposição de metarritmitos in-
ção em condições plataformais com constantes variações tercalados na Formação Córrego Contagem. O último ciclo
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II
Formação Córrego do Sansão
ONDA
Formação Serra da Meia Noite
III
SUSPENSÃO
Formação Ribeirão Piçarrão
MARÉS
II
Formação Serra do Paranã
I
Formação Serra Almécegas
EXPOSIÇÃO SUBAÉREA I
REGRESSÃO TRANSGRESSÃO
I: trato de mar muito raso; II: trato de mar raso; III: trato de mar profundo.
Figura 4. Representação esquemática do trato de sistemas marinhos associado à deposição do Grupo Paranoá.
Os termos em caixas tracejadas representam ambientes deposicionais e os termos na elipse representam
processos/controles deposicionais.
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Geologia do Grupo Paranoá
regressivo inicia na base da Formação Serra do Sansão, após do Grupo Paranoá, uma litofácies denominada Nível
rápido afogamento da plataforma, culminando com os es- Arcoseano (Guimarães 1997), a qual não está presente na
tágios finais de sedimentação dos carbonatos de águas rasas seção tipo de Alto Paraíso, Distrito Federal. Esta litofácies
da Formação Serra do Barreiro. apresenta granulometria grossa, com presença comum de
O conjunto das litofácies descritas caracteriza uma úni- grânulos e pequenos seixos de quartzo, quartzito e felds-
ca sucessão deposicional denominada de Sequência Paranoá. pato. Esta unidade ocorre ainda no estado de Goiás, em
As passagens entre litofácies que marcam rápidos episódios Cristalina e ao norte de Formosa (distritos de JK e Bezerra).
de aumento da lâmina d’água definem os vários ciclos e são A presença desta litofácies é interpretada como resultante
consideradas como os limites de parassequências, pois carac- de soerguimentos localizados na área fonte, que propor-
terizam superfícies de máxima inundação lateralmente per- cionaram o transporte de material grosso até a plataforma.
sistentes e observadas por toda a extensão da Bacia Paranoá. No limite das porções interna e externa da Faixa
Brasília (região de Quebra Linha-Niquelândia), o Grupo
Paranoá apresenta a seção de topo bastante desenvolvida.
CORRELAÇÕES REGIONAIS Nessa região, Fuck et al. (1988) identificaram três unida-
des ricas em rochas carbonáticas (grandes lentes de meta-
O Grupo Paranoá apresenta algumas diferenças quan- calcários e metadolomitos) inseridas nas unidades F, G, H
do comparadas as diferentes áreas de exposição. Os prin- e I. Toda essa sucessão corresponde à Formação Córrego
cipais contrastes são relacionados a variações de granulo- do Barreiro, sendo que seu desenvolvimento mais amplo é
metria, presença de litofácies em áreas específicas, grau interpretado como condicionado à presença de altos de re-
metamórfico e desenvolvimento de sedimentação carboná- levo na paleogeografia de fundo da bacia.
tica (na seção de topo do grupo). Nas regiões dos domos de Caldas Novas e Cristalina, a
Na região de Cabeceiras-Unaí, no estado de Minas presença do Grupo Paranoá é inequívoca e a correlação é
Gerais, ocorre em posição estratigráfica da seção de topo associada à porção de topo da estratigrafia da área-tipo de
Figura 5. Correlação regional do Grupo Paranoá em diferentes áreas de ocorrência. Área-tipo de Alto Paraíso-Distrito
Federal com as áreas de Colinas-Niquelândia (Fuck et al. 1988); Cabeceiras-Unaí (Guimarães 1997); Cristalina (Faria
1995); Caldas Novas (Campos et al. 2009). Fm.: Formação.
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José Eloi Guimarães Campos et al.
Alto Paraíso de Goiás, Distrito Federal. Em Caldas Novas, informação geológica a pontos específicos, com a observa-
as unidades Ortoquartzito, Quartzito Argiloso e Pelito- ção de todo o conjunto de litofácies de cada unidade.
Carbonatada são correlacionáveis, respectivamente, às for- A deposição do Grupo Paranoá ocorreu em uma bacia
mações Ribeirão Contagem, Córrego do Sansão e Córrego de margem passiva, sob subsidência flexural, com forte in-
do Barreiro. Em Cristalina, são esperadas as seguintes corre- fluência de processos marinhos em regimes ora retrograda-
lações: Unidade Metarritmito Arenoso → Formação Serra cionais, ora progradacionais, resultando em um preenchi-
da Meia Noite; Unidade Quartzito → Formação mento sedimentar com ampla continuidade lateral.
Ribeirão Contagem; Unidade Metarritmito Argiloso → A associação de dados relativos à presença de cono-
Formação Córrego do Sansão; Quartzito Felsdspático → phyton do gênero Metulum (Cloud & Dardenne 1973,
sem correlação com a área-tipo e Unidade Metapelito → Dardenne et al. 1976) com os dados isotópicos em zir-
Formação Córrego do Barreiro. cões detríticos (Matteini et al. 2012) indica que o Grupo
A Fig. 5 mostra a correlação entre as principais seções Paranoá foi depositado no Mesoproterozoico entre 1.300
regionais do Grupo Paranoá. e 1.042 Ma.
A nomenclatura formal também deverá dar suporte a
estudos derivados da cartografia geológica, como os ma-
CONSIDERAÇÕES FINAIS pas hidrogeológico e de geodiversidade, os quais podem
aproveitar as designações apresentadas para as unidades hi-
A formalização da estratigrafia do Grupo Paranoá deve- droestratigráficas e de geotopos.
rá facilitar as correlações entre as diferentes áreas de ocor- Por fim, as denominações formais ajustam a proposta
rência do Grupo Paranoá. O uso de termos associados a de Faria (1995) ao código brasileiro de nomenclatura estra-
acidentes geográficos para a nomenclatura das áreas-tipo tigráfica e facilitam as correlações regionais relativas às dife-
permite o acesso de pesquisadores e demais usuários da rentes áreas de ocorrência do Grupo Paranoá.
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