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IX ENCONTRO NACIONAL,

VII ENCONTRO LATINOAMERICANO,


II ENCONTRO LATINO-AMERICANO E EUROPEU SOBRE EDIFICAÇÕES E
COMUNIDADES SUSTENTÁVEIS
De 10 a 13 de Maio de 2017

AVALIAÇÃO DO USO DE FIBRA CELULÓSICA CONTENDO POLÍMERO


SUPERABSORVENTE RESIDUAL COMO AGENTE DE CURA INTERNA
EM MATRIZ DE CIMENTO PORTLAND
KOPPE, Angélica*1(angelicakoppe@gmail.com); MANCIO, Mauricio1 (mancio@unisinos.br);
ROCHA, Tatiana L. A. C. 1 (tlavila@unisinos.br), BREHM, Feliciane1 (felicianeb@unisinos.br)
1
Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), Brasil
*Autor correspondente

RESUMO
Fissuras decorrentes de falta de cura e retração excessiva estão entre os principais responsáveis
pela redução da durabilidade em estruturas de concreto. Considerando a pressão cada vez maior
pelo aumento da velocidade de execução das obras, estas tendem a piorar uma vez que se têm
falhas no sistema de pós-concretagem, principalmente a falta da prática da cura úmida. Pesquisas
abordando o uso de cura interna, prática na qual se incorpora à matriz cimentícia materiais
capazes de reter água e liberá-la de forma gradativa ao logo do período de cura, vêm crescendo
principalmente para o uso de concretos de alto desempenho, contudo concretos convencionais
também são esquecidos na prática de cura úmida. Materiais como os polímeros superabsorventes
são capazes de reter grandes taxas de água em sua estrutura e liberar em meio a ambientes com
pH elevado, tornando-se promissores para a técnica de cura interna. Com o objetivo de avaliar o
uso de fibra celulósica contendo polímeros superabsorventes adquiridos de forma residual
(PSAR), como agentes de cura interna em matriz cimentícia convencional, o presente estudo
apresenta análises de resistência mecânica e controle de retração e fissuração inicial de
argamassas curadas a 100%, 60% e 30% de umidade relativa (UR). A partir dos resultados
alcançados observou-se que o uso de PSAR apresenta elevado potencial para ser utilizado como
agente de cura interna, visto que: (a) atua na diminuição da relação a/c, devido ao seu efeito
plastificante quando pré-saturado, (b) não prejudica a resistência mecânica quando dosado
corretamente, e (c) propicia uma diminuição considerável na retração e na fissuração de matrizes
cimentícias em idades iniciais. Com base nos resultados é possível afirmar que o uso de PSAR de
forma adequada proporciona efeito de cura interna, melhorando a matriz cimentícia e contribuindo
para uma melhor durabilidade das estruturas.
Palavras-chave: Cura do concreto; Cura interna, Polímero superabsorvente, Polímero
Superabsorvente residual.

EVALUATION OF THE USE OF CELLULOSIC FIBER CONTAINING


RESIDUAL SUPERABSORVENT POLYMER AS AN INTERNAL CURE
AGENT IN PORTLAND CEMENT MATRIX
ABSTRACT
Cracks due to lack of cure and excessive shrinkage are among the main factors responsible for the
reduction of durability in concrete structures. Considering the increasing pressure for the speed of
execution of the works, these tend to worsen since there are failures in the post-concreting system,
mainly the lack of humid cure practice. Research on the use of internal curing, a practice in which

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the cement matrix incorporates materials capable of retaining water and releasing it in a gradual
way at the time of the curing period, has been growing mainly for the use of high performance
concretes, however conventional concretes are also forgotten in the practice of damp healing.
Materials such as superabsorbent polymers are able to retain large water rates in their structure
and release in environments with high pH, making them promising for the internal curing technique.
In order to evaluate the use of cellulose fiber containing residual superabsorbent polymers (PSAR),
as internal curing agents in conventional cementitious matrix, the present study presents
mechanical resistance analysis and retraction control and initial cracking of cured mortars 100%,
60% and 30% relative humidity (RH). From the obtained results it was observed that the use of
PSAR presents high potential to be used as internal curing agent, since: (a) it acts in the decrease
of the a / c ratio, due to its plasticizing effect when pre-saturated, (B) does not impair mechanical
strength when dosed correctly, and (c) provides a considerable decrease in retraction and cracking
of cementitious matrices at early ages. Based on the results it is possible to affirm that the use of
PSAR in an adequate way provides internal curing effect, improving the cement matrix and
contributing to a better durability of the structures.
Keywords: Concrete curing; Internal cure, Superabsorbent Polymer, Residual Superabsorbent
Polymer.

1. INTRODUÇÃO
A necessidade de modernização de tecnologias na área da construção civil, vinculada à
preocupação de grandes impactos ambientais, tem impulsionado o setor a desenvolver,
principalmente, novos processos de execução, a fim de alcançar praticidade e, ao mesmo tempo,
sustentabilidade nas construções. Tal fato é impulsionado pelo cenário construtivo e ecológico
atual, não condizente com o cenário econômico que vem solicitando rapidez e versatilidade junto
à necessidade de adaptação e melhoria do modo como se extai, prepara e utiliza a matéria da
natureza.
O concreto, largamente utilizado em todo mundo, com uma produção anual de aproximadamente
33 bilhões de toneladas (MEHTA, MONTEIRO, 2014), atua na modernização, praticidade e na
agilidade da execução de obras. Sua utilização é vasta, podendo ser, principalmente, em obras
estruturais ou em obras de concreto massa. No entanto, independente da utilização, sofre com
manifestações patológicas recorrentes da falta de cuidados na execução e pós-execução.
Fissuras, expansibilidade, rachaduras, contrações térmicas são comuns quando há falhas no
sistema de pós concretagem, como a falta de cura, ainda mais quando envolve cimentos com
resistências e finuras elevadas (HELENE, LEVY, 2013; MEHTA, 2001).
A cura do concreto é responsável por manter a umidade necessária para a correta hidratação das
partículas de cimento, além de proteger a superfície dos elementos estruturais de temperaturas
elevadas, dessecação e desgaste prematuro (FIGUEIREDO et al., 2008). Mehta e Monteiro (2014)
atribuem melhores resistências mecânicas e melhores propriedades microestruturais às estruturas
de concreto quando se realiza uma cura adequada. Entretanto, se não realizada esta etapa, há
falhas na formação microestrutural e uma perda de percentual de ganho de resistência mecânica
de até 50%. Além disso, as características superficiais também são afetadas, acarretando em
porosidade na estrutura, e, consequentemente, gerando permeabilidade, carbonatação, fissuração
(HELENE, LEVY, 2013). No entanto, é comum encontrar obras que ignoram esta etapa, ou as
realizam de forma precária, ineficiente. Com isso, a técnica da cura úmida vem evoluindo para um
novo campo de pesquisa, a prática da cura interna, uma incorporação à matriz cimentícia de

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materiais capazes de gerar cura de dentro para fora. Sua pesquisa tem sido voltada basicamente
para o uso em concretos de alto desempenho, contudo, conforme mencionado, concretos
convencionais também são frequentemente negligenciados na prática de cura úmida e tendem a
evoluir para essa tecnologia.
O conceito de cura interna se deu somente em 1957, quando Paul Klieger atribuiu melhoras na
durabilidade das estruturas associados a um melhoramento na cura por reservatórios internos de
água gerados pelos agregados leves (BENTZ, WEISS, 2011). Em seus estudos, Paul Klieger
determinou que estes agregados absorvem taxas consideráveis de água durante a mistura e,
aparentemente, a liberam para a pasta durante a hidratação, realizando a cura de dentro para fora
(BENTZ, WEISS, 2011). A técnica se baseia na incorporação de materiais que apresentam a
capacidade de atuarem como reservatórios internos de água à matriz cimentícia, retendo água no
interior de sua estrutura, e, posteriormente, liberando-a de forma gradativa. Como consequência,
tem-se a contribuição para uma melhor hidratação de partículas de cimento, e auxílio no combate
a retração (JENSEN, 2007). A inserção destes reservatórios internos pode ser feitos com o uso de
agregados leves pré-saturados, por meio de polímeros superabsorventes, fibras de madeira pré-
saturada ou até por fibras de celulose (JENSEN, HANSEN, 2001; JENSEN, 2007; BENTZ,
WEISS, 2011; BENTCHIKOU et al., 2012; ACI, 2013).
Os polímeros superabsorventes (PSA) são materiais com grande capacidade de absorção de
água, retendo-a em sua estrutura (CALLISTER JR., 2002). São denominados como poliacrilatos
interligados por ligações covalentes cruzadas, e em função de sua estrutura interna, pode
absorver esta grande quantidade de água sem se dissolverem. Ou seja, ao entrarem em contato
com soluções aquosas resultam na formação de um hidrogel, e, após absorver sua capacidade
máxima de solução, formam partículas estáveis, assumindo a mesma forma física das partículas
em estado seco (CALLISTER JR., 2002; BENTZ, LURA, ROBERTS, 2005; DUDZIAK,
MECHTCHERINE, 2008; JENSEN, 2014). Por ser um material muito versátil, apresenta estudos
em diversas áreas, tendo seu ponto auge na indústria de higiene e agricultura. Somente para o
ano de 2016, a estimativa de produção mundial de PSA, por sete das principais empresas
produtoras - Nippon Shokubai; BASF; Evonik; Sumitomo Seika; San-Dia Polymers; LG Chem e
Taiwan Plastics – beira 2,7 milhões de toneladas, distribuídos para setores de construção,
medicina, eletricidade, agricultura, têxtil e tratamento de água (SANTOS, 2015). Contudo,
segundo o autor, uma parcela muito pequena é direcionada a construção civil, apenas 8,2%.
Como propriedades vantajosas como agentes de cura interna, alguns PSA’s apresentam forma
granular, resistência do polímero, módulo de deformação do gel inchado, além da alta capacidade
de absorção de água com a liberação do líquido sob ação de pressão moderada (KUMM, 2009,
KIATKAMJORNWONG, 2006). Tais propriedades atribuem ao PSA à vantagem de proporcionar
uma melhor hidratação das partículas de cimento, elevando a resistência mecânica das matrizes
cimentícias (JENSEN, 2014). Entretanto, estas mesmas propriedades atribuem a desvantagem de
gerar porosidade interna à matriz, gerado pela liberação de água do PSA, ficando os espaços
antes ocupados pelo PSA inchado os poros internos (MÖNNING, 2009; JENSEN, 2014; SANTOS,
2016).
Na prática da construção civil, como agentes de cura interna, os PSA’s já foram utilizados na
construção de pavilhões para a Copa do Mundo de 2006, na Alemanha, paredes de painéis
projetados em Lyngby e, mais atualmente, em diversas pontes na região da América do Norte, em
Nova York, Ohio e Indiana (DUDZIAK, MECHTCHERINE, 2008; MECHTCHERINE, REINHARDT,
2012). Entretanto, dentre os estudos e aplicações publicados até o momento não se tem registros

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do uso de PSA de origem residual na construção civil, em todos os casos, são estudados
polímeros nobres, de origem comercial, produzidos para tal finalidade.
Fiscalizado pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental (FEPAM), regido pela Lei Nº 12305
(BRASIL, 2016) que regulamenta as diretrizes relativas ao gerenciamento de resíduos, incluindo
manejo e disposição final, todos os setores do mercado são obrigados a redirecionarem seus
resíduos. Sendo assim, conseguir destinar estes rejeitos, dando-lhes um destino nobre, sem a
necessidade de despejo em aterros sanitários, passa a ser um trabalho conjunto do setor
empresarial e meio acadêmico. Vinculado ao cunho ambiental, com menor necessidade de
extração e deposição final de rejeitos, e a necessidade de evolução da prática de cura úmida,
surge a possibilidade da utilização de polímero superabsorvente adquirido de forma residual como
matéria promissora a técnica da cura interna.

2. OBJETIVO
O presente estudo visa avaliar o uso de fibra celulósica contendo polímeros superabsorventes
adquiridos de forma residual (PSAR), como agente capaz de gerar cura interna em uma matriz
cimentícia convencional.

3. MÉTODO DE PESQUISA
Com o intuito de se avaliar o potencial do PSAR como agente de cura interna, o presente estudo
foi realizado com uma argamassa composta de 60% de areia natural de leito de rio e 40% de areia
de britagem, com módulo de finura de 2,12 e 3,52 respectivamente, e cimento CP II F 40, moldada
conforme ABNT NBR 7215 (1997). O PSAR empregado consiste em um rejeito de empresas do
ramo de higiene, composto de 70% de fibra celulósica, 10% de PSA e outros 20% de polietileno
de baixa densidade, polipropileno, umidade entre outros materiais em menor quantidade
(GOMES, 2014). Sua forma física, após absorver água, se apresenta na forma de esferas de
hidrogel envoltas em fibra celulósica (KOPPE, MANCIO, ROCHA, 2016). Apresenta taxa de
absorção de água de 55 gramas de água por grama de PSAR, obtido segundo a ISO 17190-6
(2001). A dosagem de PSAR necessária para promover cura interna na matriz, com consumo de
500 kg/m³ de cimento Portland, foi calculada segundo o método de Bentz, Lura e Roberts (2005),
onde se obteve uma dosagem de 0,65 kg/m³ de PSAR. O material foi inserido na argamassa já
pré-saturado, no início da mistura, junto à água da mistura, o que o gera um efeito plastificante,
reduzindo a relação a/c de 0,54 para a argamassa referência, para 0,48 para a argamassa
contendo PSAR (KOPPE, MANCIO, ROCHA, 2016).
Para alcançar o objetivo proposto, foram realizados ensaios de resistência mecânica, controle de
retração, retração plástica e fissuração inicial. As argamassas foram submetidas a três condições
de cura – 100% UR a 23°C, 60% UR a 23°C e 30% UR a 40°C – com dois percentuais diferentes
de adição, um com dosagem calculada segundo método de Bentz, Lura e Roberts (2005) e outro
com dosagem estimada, utilizando-se o dobro da dosagem calculada pelo método, além da
argamassa referência, sem adição de PSA, identificados conforme Tabela 1.

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Tabela 1. Identificação das argamassas.


Traço Identificação Dados dos traços
A REF Traço referência, sem a adição de PSAR.
B PSAR Traço contendo PSAR, na dosagem de 0,65 kg/m³.
C PSAR+ Traço com o dobro de PSAR do traço B.

Para o controle de resistência à compressão (NBR 7215, 1997), foram moldados seis corpos de
prova para cada idade, com idades de rompimento fixadas em 1, 3, 14, 28 e 91 dias. Os
rompimentos foram realizados em uma prensa marca CONTROLS, modelo Sercomp 2 C80/ES,
classe I, com capacidade de carga de 2000 kN. Foi utilizado a velocidade de aplicação de carga
de 0,25 MPa/s até que o corpo de prova apresentasse ruptura.
Para a avaliação da retração realizou-se a moldagem de três barras de argamassa, com
dimensões de 2,5 x 2,5 x 28,5 cm, moldadas e submetidas à mesma condição de cura da análise
de resistência à compressão. As leituras foram realizadas nas idades de 24 h, 3, 7, 14, 28, 63 e 91
dias. O equipamento utilizado na leitura da retração consiste em um equipamento denominado
“aparelho de retração”, da marca Solotest, com um relógio comparador acoplado (KOPPE,
MANCIO, ROCHA, 2016). As leituras foram realizadas conforme procedimentos da ABNT NBR
15261 (2005).
O ensaio de retração plástica, medido durante as primeiras 24h, foi realizado com as argamassas
submetidas a 30% e 60% UR, pelo método proposto por Turcry, adaptado por Saliba et al. (2011)
e Girotto, Barbosa e Maciel (2014).O equipamento para a análise é formado por três partes
(Figura 1-A): (a) uma caixa retangular de aço, com dimensão de 75 x 75 x 305 mm (interno), com
perfurações em suas laterais (Figura 1 – B), por onde são inseridos os sensores LVDT para as
leituras de deformações horizontais; (b) um par de sensores LVDT com precisão de deformação
inferior a 2 mm e resolução inferior a 5 μm; (c) uma base de aço, onde são fixos os sensores
LVDT e a caixa retangular, impedindo a movimentação de ambos. Na caixa retangular,
internamente, são inseridas placas de PVC nas laterais com perfuração (75 x 75 mm). As placas
de PVC são utilizadas como base de apoio aos sensores LVDT durante o ensaio. A argamassa foi
moldada em duas camadas de 107 golpes e, em seguida nivelada. As leituras dos sensores LVDT
são realizadas, por um período de 24h, através de um módulo universal, que armazena dados de
minuto em minuto, transferindo-os a uma base de dados de um computador.

Figura 1. Equipamento para a medição de retração plástica.

1A– A) caixa de aço com a placa de PVC internamente; B) sensores LVDT; C) base de aço onde são
acoplados os sensores e a caixa de aço; 1B – perfuração na lateral na caixa metálica onde são inseridos os
sensores LVDT.

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Já a fissuração inicial foi realizada pelo método proposto por Girotto, Barbosa e Maciel (2014),
utilizando-se uma fôrma quadrada de 200 mm de lado e 10 mm de altura (Figura 2). A parte
interna da fôrma é formada por dentes simétricos, medindo 5 mm de altura, com ângulo de 60°
entre eles. A análise foi realizada com pasta, e somente na umidade relativa de 30%, uma vez
que, com temperaturas amenas e argamassa não se observa fissuração. A análise se dá no
período de 24h, onde, após 24h é realizado um levantamento fotográfico da placa fissurada.
Posteriormente, as imagens são avaliadas considerando-se as áreas totais de fissuração, em
fissuras com espessura superior a 0,01 mm, sendo estas analisadas e calculadas por meio do
programa “AutoCAD 2010”.

Figura 2. Forma quadrada de 200 mm, com 10 mm de altura e dentes simétricos internos de 5 mm.

4. RESULTADOS

4.1 Resistência à compressão


Na Figura 3 é apresentada a resistência à compressão das argamassas identificadas na Tabela 1.
Na Figura é possível observar que quanto maior a umidade relativa, melhor a resistência à
compressão, ou seja, quanto melhor a condição de cura, maior a resistência à compressão.
Contudo, o uso de cura interna, por meio do PSAR, não contribui para a melhora na resistência à
compressão.

Figura 3. Resultado potencial de resistência à compressão das argamassas ao longo de 91 dias.


55
50
Resistência à Compressão (MPa)

45
40
35
30
25 REF IIF 100%
REF IIF 60%
20 REF IIF 30%
15 PSAR IIF 100%
10 PSAR IIF 60%
PSAR IIF 30%
5
PSAR+ IIF30%
0
0 7 14 21 28 35 42 49 56 63 70 77 84 91
Idade (dias)

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De modo geral, as resistências à compressão não apresentam diferenças significativas ao longo


das idades com a adição de PSAR em dosagem calculada, comprovado por meio de análise de
variância (ANOVA). Isso se deve a da compensação das propriedades alcançadas com o uso de
PSAR onde, de um lado tem-se uma redução de relação a/c, de 0,54 para 0,48, atribuindo ao uso
de PSAR um efeito plastificante e, de outro, o surgimento de porosidade interna. Mesmas
propriedades são mencionadas por Mönning (2009) e Jensen (2014) com o uso de PSA
comerciais. Já a argamassa com dosagem estimada apresenta diferença significativa,
apresentando resistência à compressão 25% inferior à argamassa referência e 22% inferior à
argamassa contendo PSAR calculado, curada em mesma condição. Tal fato deve-se a dosagem
de PSAR ser excessiva, não atribuindo a cura interna um efeito suficiente para compensar a perda
de resistência gerada pela porosidade elevada deixada pelo uso de PSAR.

4.2 Retração das argamassas


A Figura 4 apresenta o resultado de retração das argamassas, medido de 24h até 91 dias.
Analisando-se o uso de PSAR nas argamassas, tem-se que, similar à resistência à compressão, a
retração observada para as argamassas com e sem adição de PSAR (calculado) não apresentam
variância significativa (ANOVA). A variação observada está diretamente ligada à condição de cura,
onde, quanto menor a umidade relativa, maior a retração encontrada. Ou seja, as argamassas
submetidas a 30% UR apresentam valores de retração elevados, enquanto que as argamassas
curadas a 100% praticamente não apresentam retração, sendo que, para esta condição, a idade
não passa a ser um fator significativo (ANOVA).

Figura 4. Retração das argamassas ao longo de 91 dias.


0 10 20 30 40 50 60 70 80 90

0,1
REF IIF 100%
Deformação (mm)

-0,1
REF IIF 60%
-0,3 REF IIF 30%
-0,5 PSAR IIF 100%
PSAR IIF 60%
-0,7
PSAR IIF 30%
-0,9 PSAR+ IIF30%
-1,1
-1,3 Idade (dias)

Entretanto, embora não apresentando efeito significativo no combate à retração ao longo de 91


dias, seu potencial pode ser observado na idade de três dias. Nesta idade, considerando-se a pior
situação em que uma argamassa possa ser submetida (30% UR), o uso de PSAR contribuiu para
uma redução de aproximadamente 44% da retração.

4.3 Retração plástica


A análise de retração plástica é observada na Figura 5, por meio do deslocamento linear das
argamassas medido durante as primeiras 24h. Os menores deslocamentos são observados para

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as argamassas contendo PSAR na dosagem calculada, atribuindo ao PSAR um efeito significativo


no combate à retração plástica. Para PSAR 30% e PSAR+ 30% UR há um efeito de expansão
provocado pela liberação de água do PSAR somado a água da mistura ainda presente e a alta
temperatura em que a matriz cimentícia se encontra. Segundo Shen et al. (2016), quanto mais
água há na mistura, maior será a expansão.

Figura 5. Deslocamentos lineares das argamassas submetidas a 60% e 30% de umidade relativa.
500
Deslocamento (adimensional)

400
REF IIF 60%
300
PSAR IIF 60%
200 PSAR+ IIF 60%

100 REF IIF 30%


PSAR IIF 30%
0
PSAR+ IIF 30%
-100
00:10
01:20
02:30
03:40
04:50
06:00
07:10
08:20
09:30
10:40
11:50
13:00
14:10
15:20
16:30
17:40
18:50
20:00
21:10
22:20
23:30

Tempo (h)

De modo geral, as argamassas REF 60%, REF 30% e PSAR+ 60% apresentam os valores mais
elevados de retração. Às referências atribuem o resultado a falta de cura, elevando a retração das
estruturas, sendo este efeito visualizado na retração ao longo de 91 dias. Já a PSAR+ 60% atribui
a elevada retração ao surgimento dos primeiros poros internos, gerando uma movimentação na
matriz cimentícia.

4.4 Fissuração Inicial


Na Figura 6 é apresentada a análise de fissuração das pastas, por meio de imagens, obtidas 24h
após a mistura, com o uso do software AutoCAD 2010.

Figura 6. Valores de fissuração inicial das argamassas na idade de 24h.


600
Retração (mm²)

400
200
0
REF PSAR PSAR+
IIF 560,5718 434,5645 271,1728

O uso de PSAR gera efeito significativo no combate à fissuração de pastas com 24h.
Considerando-se a área total da placa, 40000 mm², a pasta REF apresenta 1,4% da área
fissurada, sendo 1,09% para a pasta PSAR e apenas 0,68% para a pasta PSAR+. Ou seja, para a

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dosagem calculada tem-se uma redução de 22,5% do índice de fissuras na placa, já para a
argamassa PSAR+, a minimização das fissuras chega a 51%.

5. CONCLUSÃO
De modo geral, o uso de um polímero superabsorvente residual apresenta resultados similares
aos encontrados por diversos autores com PSA’s comerciais. O efeito visualizado é uma
compensação das propriedades, de um lado a redução da relação a/c, e de outro, a geração de
poros internos. Na resistência à compressão e no combate a retração, ambas ao longo de 91 dias,
o uso PSAR em dosagem calculada não apresenta efeito significativo, mantendo a argamassa
com PSAR similar à argamassa referência. Entretanto, os resultados satisfatórios são alcançados
em idades iniciais, principalmente até 24h. Nas argamassas e pasta PSAR obteve-se uma menor
retração plástica e uma redução de 22,5% no surgimento de fissuras na pior condição de
exposição (baixa umidade relativa). A dosagem estimada de PSAR (PSAR+) também apresentou
resultados satisfatórios no combate à retração plástica e fissuração inicial, entretanto, a perda de
resistência e o aumento da retração ao longo de 91 dias faz com que esta dosagem não seja
adequada.
Com isso, o uso de PSAR demonstra que sua incorporação na matriz cimentícia não contribui
para o ganho de resistência ao longo das idades, mas contribui significativamente para a
minimização da retração plástica e da fissuração inicial. Com o estudo foi possível comprovar que
PSA de origem residual propicia o mesmo efeito de cura interna encontrado em PSA’s comerciais.
Sendo assim, é gerado um valor comercial a um rejeito industrial, auxiliando o meio ambiente,
minimizando a necessidade de seu uso de forma indevida e o seu depósito em aterros sanitários.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ACI. American Concrete Institute. ACI Concrete Termmiunology, 2013, disponível em:
www.concrete.org/Technical/CCT/ACI-Terminology.aspx. Acessado em 26/07/2015.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7215: Resistência à compressão do
Cimento Portland. Rio de Janeiro, 1997.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15261: Argamassa para
assentamento e revestimento de paredes e tetos – Determinação da variação dimensional
(retração ou expansão linear). Rio de Janeiro, 2005.
BENTCHIKOU, M. GUIDOUM, A.; SCRIVENER, K.; SILHADI, K.; HANINI, S. Effect of recycled
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Building Materials 34, p. 451–456, 2012.
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IX ENCONTRO NACIONAL,
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