Você está na página 1de 8

O EFEITO DA UTILIZAÇÃO DE BIOMATERIAIS NA RESTAURAÇÃO

DE ESTRUTURAS DE CONCRETO EMPREGANDO BACTÉRIAS


COMO AGENTES DE CURA

Jéssica Wanderley Souza do Nascimento 1


Pós-Graduanda em Pavimentação de Estradas e Rodovias

RESUMO

Há alguns anos existem estudos para dar vida a matérias inanimadas visando o
desenvolvimento de uma nova classe de materiais com um mecanismo de cicatrização
incorporado para o concreto. Nas últimas décadas o avanço tecnológico permitiu um
desenvolvimento considerável na área com a ideia de que estes novos materiais possuam a
propriedade de se auto reparar, resultando em uma redução substancial de manutenção e
consequente reparação de estruturas, representando uma maior vida útil das mesmas. Vários
projetos de investigação concentram-se em materiais baseados concreto e asfalto. Um projeto
que será discutido aqui é o concreto baseado em bactérias. As bactérias que são adicionadas
à mistura de concreto são capazes de produzir minerais à base de carbonato de cálcio, um
processo que pode resultar em vedação de fissuras e selagem de água. Este e mais exemplos
mostram que a busca de novos materiais de construções concebidos para controlarem, em
vez de evitarem danos, com um mecanismo de cicatrização incorporado, poderia ser mais
econômico do que os tradicionais.

Palavras-chave: concreto; cicatrização; bactérias; vedação.

ABSTRACT

A few years ago there have been studies to bring inanimate materials to life in order to develop
a new class of materials with a healing mechanism incorporated into the concrete. In recent
decades, technological advances have allowed a considerable development in the area with
the idea that these new materials have the property of self-repair, resulting in a substantial
reduction of maintenance and consequent repair of structures, representing a longer service
life. Several research projects focus on concrete and asphalt based materials. One project that
will be discussed here is bacteria-based concrete. Bacteria that are added to the concrete mix
are capable of producing calcium carbonate based minerals, a process that can result in crack
sealing and water sealing. This and more examples show that finding new building materials
designed to control rather than prevent damage with a built-in healing mechanism could be
more economical than traditional ones.

Keywords: concrete; healing; bacteria; seal.

de Especialização do Amazonas – ESP, Departamento de Engenharia, Manaus-Amazonas,


1Instituto

jessica_wanderley144@yahoo.com.br

Anais do 1º Congresso online de Engenharia de Materiais – EngMatCon – 2019


2

INTRODUÇÃO

Atualmente, é cada vez maior a preocupação com a sustentabilidade, pois


passou-se a buscar o equilíbrio entre sociedade, economia e meio ambiente nas
atividades humanas. Na construção civil não é diferente, tornando-se comum os
lançamentos dos edifícios sustentáveis. Desta forma, o artigo tem como objetivo o
foco em uma das soluções sustentáveis para a construção: a escolha de materiais
mais corretos do ponto de vista do desenvolvimento sustentável com a possibilidade
de uso de biomateriais em sua composição.
A importância do uso de biomateriais na Engenharia não é tão desenvolvida,
uma vez que está limitado exclusivamente para produzir grandes estruturas de
concreto. Não se consegue usar a imaginação para perceber que na biologia pode ser
encontrada solução de patologias específicas das estruturas de concreto,
especialmente nas regiões onde o clima é um problema. Até agora, o problema está
focado na questão do rompimento dos elementos que compõem a massa homogênea
chamado concreto. Aqui, fatores como ciclos de cura e secagem desempenham um
papel vital na sua patologia e, especialmente nas fissuras devido a alterações
volumétricas da mistura e aos seus problemas associados com a carbonatação.
O concreto de cimento Portland é um dos materiais de construção mais
utilizados no mundo e seu uso continua a ser expandido em construções modernas.
Ele é um material barato, diversificado, com uma adaptabilidade à muitas formas e
que possui propriedades altamente desejáveis. A durabilidade das estruturas de
concreto armado é substancialmente afetada por fissuras. As fissuras no concreto
ocorrem devido a vários mecanismos, tais como retração, reações de congelamento
descongelamento e forças mecânicas de compressão e de tração. É necessário que
o material seja resistente à compressão, pois ele será submetido à altas cargas
distribuídas e não deve se romper sob hipótese alguma. O surgimento de fissuras,
nessas estruturas, contudo, é inevitável, o que nos leva a crer que o controle dessas
manifestações patológicas é de extrema importância.
Acredita-se que a inserção de bactérias específicas na composição do concreto
é suficiente para a reparação e interrupção de alguns tipos de fissura, algo que será
constatado visualmente, assim também como de porosidades interligadas, sendo que
haverá uma redução do índice de absorção de água com o passar do tempo.

Anais do 1º Congresso online de Engenharia de Materiais – EngMatCon – 2019


3

1 METODOLOGIA

O desenvolvimento do artigo foi baseado em dados coletados por meio da


análise de pesquisas bibliográficas, que tais apresentam-se em forma de textos,
jornais, documentários, arquivos públicos, entre outros.
Com base nisso, surgiu a ideia de implantação do efeito da utilização de
biomateriais na restauração de estruturas de concreto empregando bactérias como
agentes de cura, que aparecem devido a intemperes, e a própria degradação
estrutural. Idealizar um concreto que possua um autopoder regenerativo, traz
vantagens como custos com manutenção e vida útil não só da edificação como do
pavimento.
O concreto convencional, que é o segundo material mais utilizado na
construção civil, sendo o primeiro a água, evoluiu muito até chegar no que é hoje,
ganhando novas tecnologias e derivações, tanto no preparo quanto no material em si.
Uma dessas derivações é o bioconcreto, também conhecido por concreto vivo. O
nome vistoso deriva do seu método de confecção, que consiste em adicionar uma
espécie de bactéria e também seu alimento no fabrico do concreto convencional. Mas
por mais simples que pareça, a pesquisa exigiu anos de prática e atualmente se
encontra no final das fases de testes.

Figura 1 – Processo de calcificação do concreto

Fonte: Jonkers (2010)

A bactéria, bacillus pseudofirmus, é um bacilo que vive em ambientes


extremamente inóspitos como crateras de vulcões em atividade ou lugares com pH
acima de 10,0. Por possuir tal resistência, ela é adicionada ao concreto, para que

Anais do 1º Congresso online de Engenharia de Materiais – EngMatCon – 2019


4

possa agir e sanar as possíveis fissuras provenientes de alguma perturbação ou das


ações dos agentes naturais (Figura 1). Assim que as fissuras principiam, as bactérias
estão encapsuladas, “adormecidas”, e com o contato com a água, são despertadas.
Então, se alimentam do lactato de cálcio adicionado na produção do concreto e da
água que o estimulou. Após consumir tais elementos, o bacilo origina calcário como
produto da digestão, que fecha as fissuras previamente abertas.

2 UTILIZAÇÃO DE BACTÉRIAS COMO AGENTE DE CURA

O uso de bactérias na remediação de fissuras é um conceito pouco ortodoxo


na pesquisa de concreto atual. Ele representa, contudo, uma nova abordagem para
uma velha ideia de que a deposição microbial de minerais ocorre em ambientes
naturais. A calcita (CaCO3), especificamente, é inócua ambientalmente, quando
comparada a polímeros sintéticos usados para reparos de concreto atualmente.
Utilizar bactérias para a remediação de estruturas pode soar como uma ideia
estranha, mas isso já se tornou uma realidade e esse novo método pode estar pronto
para uso prático no futuro próximo. O concreto microbial, também conhecido como
bioconcreto, é feito a partir de micro-organismos que ocorrem naturalmente à
temperatura ambiente e, portanto, exigem menos energia para serem produzidos.
Os micro-organismos utilizados são não patogênicos e não nocivos ao meio
ambiente. Além disso, diferentemente do cimento, solos ou terras contaminadas
podem ser tratadas ou aprimoradas sem perturbar o terreno ou o ambiente, visto que
os micro-organismos podem penetrar e se reproduzir no solo ou em quaisquer
ambientes.
A coleta desse recurso natural e renovável pode resultar em uma nova
abordagem aos problemas geotécnicos ou de engenharia ambiental e trazer enormes
benefícios à indústria da construção. A aplicação da tecnologia microbial à construção
pode ainda simplificar alguns dos processos de construção e revolucionar as formas
de novos processos construtivos.
O uso do concreto microbial na engenharia tem se tornado cada vez mais
popular. Suas possíveis aplicações consistem em aprimoramento na durabilidade de
materiais cimentícios, reparo de monumentos de calcário, vedação de fissuras em
concreto e até mesmo na produção de tijolos com alta durabilidade. Estruturas

Anais do 1º Congresso online de Engenharia de Materiais – EngMatCon – 2019


5

construídas em lugares sujeitos à água, tais como túneis, construções subterrâneas e


ambientes marinhos são particularmente vulneráveis à corrosão do aço.
Procedimentos de reparo de estruturas de concreto convencionais geralmente
envolvem a aplicação de uma argamassa de reparo à superfície danificada (Figura 2).
Reparos podem ser demorados e caros devido à dificuldade de se acessar a estrutura
para reparo, principalmente quando elas são subterrâneas ou em grandes alturas.

Figura 2 – Andamento do processo de fechamento das fissuras

Fonte: Mortensen (2011)

O concreto está sujeito a vários fatores físicos e químicos que possa


comprometer suas características físicas e mecânicas ao longo do tempo, e estes
fatores faz com que apareça fissuras no concreto, tanto fatores externos quanto
internos. Fatores externos são as condições físicas do local, condições climáticas,
umidade e ação do vento. O interno tem o calor de hidratação, que é a fonte de
variação volumétrica ocasionada pela liberação de energia exotérmica, quanto maior
for o volume do concreto, maior o calor liberado pela mistura, e as vezes é dissipada
do concreto para atmosfera ou poder ser absorvida pela massa da mesma.
A variação de temperatura e por vez a grande geradora de fissuras, devido a
retração térmica, que é a ação que mais faz gerar fissuras, devido que sua superfície
perde mais calor que o seu centro e com isso há uma elevação na temperatura no seu
interior e com forme o calor se propaga para superfície tendo uma expansão, mas
como o concreto tem um modulo de elasticidade muito baixa e nisso com a

Anais do 1º Congresso online de Engenharia de Materiais – EngMatCon – 2019


6

propagação térmica para a superfície a massa ganhara um certa rigidez e o centro


contraindo mais que a superfície faz com que a capacidade do concreto de
deformação seja ultrapassada ocorrendo as fissuras (Figura 3). Já dilatação térmica
quando tem fissuras provocadas por levantamento quando não há juntas de dilatação
com o espaçamento adequado. As estruturas que possuem um volume muito grande
são as menos afetadas pelos efeitos das variações térmicas, enquanto as estruturas
de menor volumes (mais esbeltas) são as mais afetadas (Figura 4).

Figura 3 – Reservatórios para agentes de cura (bactéria mais produtos químicos)

Bactéria Comida

Fonte: Mortensen (2011)

Figura 4 – Concreto de autocura com base em bactérias

Fonte: Mortensen (2011)

Anais do 1º Congresso online de Engenharia de Materiais – EngMatCon – 2019


7

CONCLUSÃO

Tão sólidas e confiáveis quanto as estruturas de concreto possam parecer, elas


compartilham um inimigo comum: a tensão, conforme mencionado anteriormente. Ao
longo do tempo, o concreto se quebrará e se deteriorará, principalmente pela corrosão
da armadura. Assim, um bioconcreto capaz de autorregenerar está sendo
desenvolvido a fim de eliminar tais problemas. As vantagens desta nova tecnologia
sobre o concreto convencional são de aumentar o tempo de vida das estruturas, maior
capacidade de vedação, maior resistência além da redução dos custos de
manutenção. O conceito abre portas para um futuro mais verde para a construção
civil e o desenvolvimento de tecnologias em conjunto com elementos da natureza.
Diante o estudo realizado obteve-se que a implantação do bioconcreto
possibilitará redução de gastos em manutenção e reformas. Com relação ao custo,
até onde se sabe é que o concreto-vivo está começando a ser introduzido no mercado
na Europa com preços em média 40% acima do concreto convencional. Então para
uma total adesão às obras do mundo só falta baratear o produto e fazer com que ele
se firme no mercado antes que outras tecnologias o façam. E como se não bastasse
essa invenção, o cientista em conjunto com sua equipe adaptou o conceito do
bioconcreto para um líquido, que pode ser aplicado diretamente sobre paredes que
foram fabricadas com concreto tradicional, com intuito de curar possíveis fissuras já
existentes ou proteger a edificação.

Anais do 1º Congresso online de Engenharia de Materiais – EngMatCon – 2019


8

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5738: Concreto


Procedimento para moldagem e cura de corpos-de-prova. Rio de Janeiro: ABNT,2003.

JONKERS, Henk M. Bacteria-based self-healing concrete. Heron, v. 56, n. 1–2, p. 5–


16, 2011. Disponível em: <http://heronjournal.nl/56-12/1.pdf>.

JONKERS, Henk M.; SCHLANGEN, Erik. Crack Repair by Concrete-Immobilized


Bacteria. p. 7, 2007. Disponível em: <http://extras.springer.com/2007/978-1-4020-
62506/documents/9.pdf>.

MORTENSEN BM, HABER MJ, DEJONG JT, CASLAKE LF, NELSON DC. Effects of
environmental factors on microbial induced calcium carbonate precipitation. On.
library [internet]. 2011 [acesso em 2019 out 5]; 338-349. Disponivel em:
http://onlinelibrary. wiley.com/doi/10.1111/j.1365-2672.2011.05065.x/full.

RAMACHANDRAN, Santhosh K.; RAMAKRISHNAN, V.; BANG, Sookie S.


Remediation of concrete using micro-organisms. ACI Materials Journal, v. 98, n. 1, p.
3–9, 2001.

REDDY, M. Sudhakara; ACHAL, Varenyam; MUKHERJEE, Abhijit. Microbial concrete,


a wonder metabolic product that remediates the defects in building structures. In:
Microorganisms in Environmental Management: Microbes and Environment. [s.l.: s.n.],
2012, v. 9789400722, p. 547–568.

REPETTE, Wellington Longuini. Concretos de Última Geração e para Fins Especiais.


1a. ed. São Paulo: IBRACON, 2011.

TAKAGI, Emilio Minoru. Concretos autocicatrizantes com cimentos brasileiros de


escória de alto-forno ativados por catalizador cristalino. 2013. 130f. Dissertação de
mestrado em Engenharia de Infraestrutura Aeroportuária – Instituto Tecnológico de
Aeronáutica, São José dos Campos.

VEKARIYA, Mayur Shantilal; PITRODA, Jayeshkumar. Bacterial Concrete: New Era


for Construction Industry. International Journal of Engineering Trends and Technology,
v. 4, n. 9, p. 4128–4137, 2013. Disponível em:
<http://www.ijettjournal.org/volume4/issue-9/IJETT-V4I9P181.pdf>.

WIKTOR, Virginie; JONKERS, Henk M. Quantification of crack-healing in novel


bacteriabased self-healing concrete. Cement and Concrete Composites, v. 33, n. 7, p.
763–770, 2011. Disponível em: <http://fulltext.study/download/1455070.pdf>.

Anais do 1º Congresso online de Engenharia de Materiais – EngMatCon – 2019

Você também pode gostar