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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS

HELENA PIRES MAIA

AVALIAÇÃO DA RESISTÊNCIA DO CONCRETO À PENETRAÇÃO DE ÍONS


CLORETO COM ADIÇÃO DE FIBRA DE PIAÇAVA

ILHÉUS – BAHIA
2022
HELENA PIRES MAIA

AVALIAÇÃO DA RESISTÊNCIA DO CONCRETO À PENETRAÇÃO DE ÍONS


CLORETO COM ADIÇÃO DE FIBRA DE PIAÇAVA

Trabalho de conclusão de curso para a


aprovação na disciplina CET 1070 –
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE
CURSO I, à Universidade Estadual de
Santa Cruz.
Orientador: Prof. José Renato de Castro
Pessôa

ILHÉUS – BAHIA
2022
1. REFERENCIAL TEÓRICO

A utilização de compósitos na engenharia civil ocupa um espaço de destaque


devido ao melhoramento dos materiais visando obter características específicas no
uso do conjunto. A união de elementos distintos com o intuito de adquirir melhores
aspectos para aplicação gera um movimento em torno de pesquisas em prol do
conhecimento destes materiais e suas aplicabilidades.

Materiais compósitos são aqueles formados por uma fase contínua e uma
dispersa, denominadas, respectivamente, matriz e reforço. Uma definição adequada
para um compósito é “qualquer material multifásico que exibe uma proporção
significativa das propriedades de ambas as fases constituintes, tal que é obtida melhor
combinação de propriedades” (Callister Jr. e Rethwisch, 2012).

O concreto é um dos materiais compósitos mais utilizados no mundo.


Apresenta diversas características que favorecem a sua escolha, como boa
resistência à compressão, resistência à água, custo benefício e facilidade de produção
(MEHTA; MONTEIRO, 2014). Juntamente com o aço que possui alta resistência à
tração, formam o concreto armado que pode ser encontrado na grande maioria das
construções atuais.

A função do concreto vai além do estrutural. Este exerce uma função de


proteção para o aço, onde o cobrimento é uma barreira física, protegendo contra
ataques externos superficiais e em torno do aço há a formação de uma camada
passivadora devido ao ambiente alcalino da matriz cimentícia. Manter essa camada é
a principal forma de evitar uma corrosão.

1.1. Penetração de íons cloreto

Segundo a Norma Brasileira NBR 6118 - Projeto de estruturas de concreto –


Procedimento (2014), a armadura de aço pode ser deteriorada por dois mecanismos:
despassivação por carbonatação e despassivação por elevado teor de íons cloreto. A
segunda é causadora de uma das corrosões mais agressivas. Para evitá-la, deve-se
produzir um concreto menos poroso e permeável, uma vez que os íons cloreto, em
sua maioria, estão presentes no ambiente externo, pela água ou pelo ar e penetram
no concreto pelos poros.
O aço que compõe o concreto armado é protegido fisicamente tanto pelo
concreto, que impede o contato direto da armadura com o meio externo, quanto
quimicamente pela fase aquosa contida nos poros, que garante elevado pH no
concreto e possibilita a formação de uma camada passivadora, formada por um filme
mais interno de óxido ferroso e outro mais externo de óxido férrico (MEHTA e
MONTEIRO, 2014). Esse processo de formação inicia-se concomitantemente com o
início da hidratação do cimento.

A penetração dos íons cloreto no concreto é determinada por alguns fatores


importantes: a estrutura da pasta de cimento hidratada e suas interfaces com os
agregados; as características químicas e físicas do concreto; a concentração de
substâncias agressivas na superfície do concreto e; as condições ambientais, como a
umidade e a temperatura (NEVILLE, 2015).

De acordo com Magalhães (2019, p.15):

Os íons cloreto penetram nos poros do concreto e, ao chegarem nas


proximidades da armadura, em conjunto com água e oxigênio, desestabilizam
pontualmente a capa passivadora, propiciando a instauração do processo
corrosivo. A maioria das teorias que procuram explicar esse fenômeno
consideram que a ruptura da capa passiva é algo dinâmico, com ciclos de
despassivação e repassivação até que a despassivação ocorra de forma
definitiva.

Durante essa penetração e deslocamento dos íons cloreto no concreto, a


substância potencialmente agressiva entra em contato com a armadura e dá-se início
as reações químicas descritas pelas equações (1) e (2).

2𝐶𝑙 − + 𝐹𝑒 ++ → 𝐹𝑒𝐶𝑙2 (1)

𝐹𝑒𝐶𝑙2 + 2𝑂𝐻 − → 𝐹𝑒(𝑂𝐻)2 + 2𝐶𝐿− (2)

Através das equações acima, é possível notar que os íons cloreto reagem com
os íons de ferro e formam o cloreto de ferro (FeCl2). O cloreto de ferro, que possui
alta instabilidade, reage com os íons hidroxila e libera novos íons cloreto.
(MAGALHÃES, 2019). Torna-se então um ciclo até que a despassivação seja
definitiva, podendo trazer consequências à peças estruturais.
1.2. Concreto Reforçado com Fibras

O concreto puro possui inúmeras características que o mantém no topo da lista


de material estrutural mais utilizado no mundo, mas ainda assim, apresenta algumas
limitações “como o comportamento marcadamente frágil e a baixa capacidade de
deformação apresentada antes da ruptura quando o material é tracionado.” (Antônio,
2011). Uma das alternativas utilizadas com o intuito de melhorar a qualidade do
concreto é o uso de fibras para reforço.

Uma importante característica do concreto reforçado com fibras é o


comportamento matriz-agregado após ocorrência de fissuras. As fibras funcionam
como ponte de transferência de tensões, de modo a reduzir a concentração de
tensões nas extremidades dos cortes. Aumentando o teor de fibras na mistura, obtém-
se maior distribuição das tensões no concreto, dificultando a propagação das fissuras
no mesmo (FUGII, 2008).

Figura 1 – Comportamento matriz-agregado após ocorrência de fissuras.

Fonte: (FUGII, 2008)

As propriedades de alta resistência mecânica fazem das fibras excelente opção


de complemento para diversas aplicações, melhorando as propriedades da matriz e
aumentando a segurança no seu uso. As fibras podem ser naturais ou sintéticas. As
fibras naturais possuem menor impacto ambiental em sua produção em relação as
fibras sintéticas. Além disso, possuem propriedades como boa rigidez mecânica, boas
propriedades de isolamento térmico e baixa densidade (IZQUIERDO, 2011)
A fibra de piaçava é uma fibra natural e, assim como as outras, possuem
algumas outras vantagens, tanto ambientais quanto socioeconômicos. No âmbito
ambiental, elas se tratam de um material obtido de fonte natural e é biodegradável.
Especificamente a piaçava, é definida como uma excelente opção de planta para
reflorestamento, pois a palmeira se desenvolve bem em solos degradados ou com
baixa fertilidade natural, e seu cultivo, na forma de reflorestamento, atuando direta e
indiretamente na proteção do solo e de nascentes. Socioeconomicamente, o cultivo
da piaçava traz uma opção de renda às comunidades e agricultores locais, sem a
necessidade de desmatar a vegetação natural, trazendo desenvolvimento e opções
de negócio aos arredores (Amaral, 2015).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMARAL, MARCELO MENDES. Construção de indicadores de sustentabilidade


da piaçava (Attalea funifera Martius) na Mata Atlântica. São Paulo: Conselho
Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, 2015.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118: Projeto de


estruturas de concreto – Procedimento. Rio de Janeiro, 2014.

CALLISTER JR, W. D.; RETHWISCH, D. G. Ciência e Engenharia de materiais:


uma introdução. Tradutor Sergio Murilo Soares. 8. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2012.

FIGUEIREDO, ANTONIO. Concreto com fibras. São Paulo: IBRACON - Instituto


Brasileiro de Concreto, 2011.

FUGII, Ana Paula. Avaliação de Tubos de Concretos Reforçados com Fibras de


Aço Segundo a NBR 8890. Ilha Solteira SP: Tese (Doutorado) – Curso de Engenharia
Civil, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, 2008.

IZQUIERDO, I. S. Uso de fibra natural de sisal em blocos de concreto para


alvenaria 25 estrutural. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Estruturas) –
Universidade de São Paulo, São Carlos, 2011.

MEHTA, P. K.; MONTEIRO, P. J. M. Concreto: Microestrutura, Propriedades e


Materiais. São Paulo: IBRACON - Instituto Brasileiro de Concreto, 2014.

NEVILLE, Adam Matthew. Propriedades do concreto. 5ª ed. São Paulo: PINI, 2015.
912 p.

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