Você está na página 1de 5

04/04/2018 Suporte On-line AltoQi - A deterioração das estruturas

A deterioração das estruturas


Eng.ª Silvia Santos 08/01/2010 Excelente (38 Avaliações) 10668 visualizações
Compartilhar
Aplica-se às

versões: EBv5, EBv5Gold, EBv6, EBv6Gold,EBv7 e EBv7Gold

Assunto
Este artigo trata sobre os mecanismos que geram a deterioração das estruturas de
concreto armado, como parte da discussão sobre a durabilidade das estruturas, que vem
sendo abordada pelos Professores Sílvia Santos e André Sagave. O artigo mostra
através de uma linguagem bem simples, os principais mecanismos que agem sobre o
concreto, aço e sobre a estrutura como um todo e provocam a redução de sua vida útil.

Artigo
Nos últimos tempos, a introdução do conceito de durabilidade das estruturas de concreto na fase de projeto faz com
que a resistência do material deixe de ser a única característica buscada pelos projetistas de estruturas. Quando todas
as fases da produção do concreto são conduzidas de forma adequada, o mesmo normalmente apresenta uma vida útil
longa. Porém, ainda assim, as falhas nas estruturas de concreto podem ocorrer, em detrimento da durabilidade das
mesmas. Cabe tirar lições destas ocorrências para melhor controlar os fatores que afetam a durabilidade das
estruturas.

Do ponto de vista científico, Neville (1997), divide as causas da durabilidade inadequada das estruturas de concreto,
em mecânicas, físicas e químicas. A deterioração mecânica pode ser por cavitação, erosão, abrasão ou impacto; a
física compreende a ação gelo-degelo, os efeitos de altas temperaturas e as diferenças de coeficiente de dilatação
térmica agregado/pasta; as causas químicas incluem as reações álcali-agregado e o ataque por íons agressivos
(cloretos, sulfatos e dióxido de carbono), bem como o ataque por certos tipos de líquidos e gases. Convém lembrar que
as armaduras precisam manter também sua integridade e por meio de ações que coíbam a instalação do processo
corrosivo é possível se atingir uma melhor durabilidade do conjunto. Qualquer um que se deteriore, concreto ou
armadura, causará a deterioração da estrutura.

Via de regra a deterioração do concreto está ligada à ação da água em todas as suas fases de produção/utilização e
muitas são as formas de atuação da mesma no material. De acordo com Mehta e Monteiro (1994), a capacidade
solvente da água é notável e esta propriedade é a responsável pelo grande número de íons e gases nela presentes.
Isto a torna responsável pela deterioração química de muitos sólidos, entre eles o concreto. Sendo o concreto um
material de natureza básica (pela presença dos compostos alcalinos de cálcio nos produtos de hidratação do cimento
Portland), as águas ácidas sempre representam um risco maior de deterioração. Outras formas de ação da água são
por meio da deterioração física e a físico-química, que estão diretamente ligadas à permeabilidade do material.

Por tudo isso é importante estabelecer as características do meio no qual o concreto estará inserido, uma vez que,
segundo Mehta e Monteiro (1994), “durabilidade sob um conjunto de condições, não significa necessariamente
durabilidade sob outro conjunto”. Desta forma, de acordo com Helene (2000), é preciso avaliar a agressividade do
ambiente para estabelecer a durabilidade do material. Por outro lado, também, é importante que se conheçam o
concreto e a geometria da estrutura. Assim, será possível estabelecer uma relação entre agressividade do meio e
durabilidade da estrutura de concreto, conforme o que propõe o texto da NBR 6118 (2007).

Causas da deterioração das estruturas

http://faq.altoqi.com.br/content/277/679/pt-br/a-deteriora%C3%A7%C3%A3o-das-estruturas.html 1/5
04/04/2018 Suporte On-line AltoQi - A deterioração das estruturas

De forma a abordar de maneira mais enfática a questão da durabilidade das estruturas, a NBR 6118 (2007) classifica
os mecanismos de envelhecimento e deterioração das estruturas de concreto, da seguinte forma:

Mecanismos de envelhecimento e deterioração relativos ao concreto


Dentre os mecanismos de envelhecimento e deterioração do concreto, destacam-se lixiviação, expansão por ação de
íons sulfato e reação álcali-agregado.

Entende-se por lixiviação a dissolução e o carreamento dos compostos hidratados do cimento Portland, por meio da
ação de águas puras ou não. Este fenômeno poderá ocorrer quando o concreto for mal adensado, estiver, por algum
motivo, fissurado ou apresentar juntas mal executadas, permitindo, desta forma, percolação da água através do
material. Quando isso ocorre, o concreto apresenta superfície arenosa ou com agregados expostos sem a pasta
superficial, eflorescências de carbonato e redução do pH do extrato aquoso dos poros (HELENE, 2000). Com isso,
além de problemas relacionados à estética da estrutura ou da peça, tem-se a redução da resistência mecânica do
concreto, o aumento da permeabilidade e, conseqüentemente, maiores possibilidades de corrosão das armaduras
(figuras 1 e 2).

Figura 1: Depósitos de cor branca na superfície do concreto de uma barragem nos Estados Unidos, como conseqüência da lixiviação (fonte: Profº
César Franco – UFSC)

Figura 2: Formação de estalactite no Reservatório Santa Efigênia – Curitiba – PR.

(fonte: http://direnserver.dainf.cefetpr.br, 2003)

A expansão por ação de sulfatos ocorre pela reação química entre os compostos da pasta de cimento hidratada e os
íons sulfatos trazidos pela água. Esta reação é expansiva, gerando grandes aumentos de volume da fase sólida
(formação de etringita). O aumento do volume gera tensões de tração no interior do concreto, resultando na
desagregação progressiva do material. Com isso, novamente tem–se acentuada a possibilidade de surgimento da
corrosão da armadura.

http://faq.altoqi.com.br/content/277/679/pt-br/a-deteriora%C3%A7%C3%A3o-das-estruturas.html 2/5
04/04/2018 Suporte On-line AltoQi - A deterioração das estruturas

Com relação às reações álcali-agregados, existem basicamente três tipos: reação álcali-sílica, álcali-silicato e álcali-
carbonato (FURNAS, 1997; HASPARIK, 1999).

A primeira ocorre quando a solução alcalina da pasta de cimento ou de uma fonte externa reage com alguns minerais
do grupo do quartzo (opala, calcedônia, cristobalita e tridimita) encontrados no agregado.

Já a reação álcali-silicato se manifesta quando da reação entre os álcalis disponíveis no cimento e determinados tipos
de silicatos presentes em rochas sedimentares, rochas metamórficas e ígneas (basalto). Essa reação é lenta e bem
mais complexa que a anterior, sendo a responsável pela deterioração de algumas obras no Brasil, como a Barragem
Apolônio Sales (Rio São Francisco), Barragem de Joanes (Salvador, BA) e Barragens de Billings/Pedra (São Bernardo
do Campo, SP) (SILVEIRA, 2001).

A reação álcali-carbonato ocorre entre agregados carbonáticos, como o calcário dolomítico argiloso, e os álcalis
disponíveis no cimento. No Brasil, não existem registros deste tipo de reação (HASPARIK, 1999).

O produto destas reações é um gel que se forma nos planos mais fracos ou poros do agregado ou ainda na sua
superfície, destruindo a aderência pasta/agregado. O gel é do tipo “reação ilimitada”, isto é só pára de ocorrer quando
faltar um dos reagentes. Ele consome água, aumenta de volume e, conseqüentemente, leva à desagregação do
concreto. (NEVILLE, 1997).

Mecanismos de envelhecimento e deterioração relativos à armadura


A deterioração das armaduras está ligada ao processo de corrosão. Para que a corrosão se instale é necessário e
indispensável a presença de um eletrólito (a água, por exemplo), de uma diferença de potencial (que pode ser gerada
por diferença de umidade, aeração e tensões no concreto ou no aço, entre outros) e a disponibilidade de oxigênio
(CUNHA E HELENE, 2001).

Como já foi citado, o concreto é um meio altamente alcalino (pH em torno de 12,5). Nestas condições, a armadura em
seu interior encontra-se protegida da corrosão pela formação de um filme passivador ao seu redor, de acordo com a
reação abaixo:

Sob estas condições, a taxa de oxidação da superfície do aço é da ordem de 0,1mm/ano, o que, em termos de vida útil
do concreto pode ser considerada desprezível (CASCUDO, 1997). A despassivação da armadura pode ocorrer por
ação de íons cloreto e/ou carbonatação do concreto.

Os íons cloreto não atacam o concreto, mas destroem a película passivadora e, em presença de água e oxigênio,
ocorre a corrosão. O poder de destruição destes íons é grande, exigindo um cuidado maior na execução de obras
litorâneas (figura 3).

Os íons cloreto podem vir tanto do meio externo, atingindo a armadura por difusão ou podem estar presentes no
próprio concreto, originados da água de amassamento, de agregados contaminados ou ainda provenientes de aditivos.
No primeiro caso, a qualidade o concreto, especialmente no que diz respeito ao controle da relação água/cimento e do
cobrimento da armadura, é essencial para impedir a ação dos íons cloretos. Já o segundo caso está ligado ao controle
da qualidade dos materiais constituintes do concreto.

http://faq.altoqi.com.br/content/277/679/pt-br/a-deteriora%C3%A7%C3%A3o-das-estruturas.html 3/5
04/04/2018 Suporte On-line AltoQi - A deterioração das estruturas

Figura 3: Corrosão de armadura por cloretos em estrutura de concreto em zona marítima

(fonte: HELENE, 1992)

A carbonatação do concreto ocorre em função da reação química entre os ácidos do meio ambiente e o líquido
intersticial existente nos poros do material. Este líquido encontra-se saturado por hidróxidos de cálcio, além de outros
compostos como hidróxido de sódio e potássio. O ácido carbônico (H2CO3), oriundo da reação entre gás carbônico e
água, age como desencadeador da carbonatação do concreto, reagindo principalmente com o hidróxido de cálcio,
dada a sua maior disponibilidade no material (CUNHA e HELENE, 2001). A reação se processa segundo a equação a
seguir:

A formação dos carbonatos reduz o pH do meio (concreto). Com isso, a película passivadora da armadura se desfaz e,
desde que estejam presentes o oxigênio e a umidade, o processo de corrosão poderá se instalar.

A corrosão surgida deste processo é do tipo generalizada, já aquela por ação de íons cloreto é do tipo localizada,
conforme ilustra a figura 4.

Figura 4: Diferentes manifestações de corrosão (CASCUDO, 1997)

A conseqüência da ação dos íons cloreto e da carbonatação é a corrosão da armadura (figura 5). Esta, por sua vez,
gera dois problemas à estrutura: a redução da seção transversal da barra, uma vez que o ferro é consumido durante a
reação de dissolução; e a desagregação do concreto, pois o produto da reação de dissolução do ferro, o óxido férrico
hidratado, ocupa um volume maior do que o aço original gerando tensões internas no material.

http://faq.altoqi.com.br/content/277/679/pt-br/a-deteriora%C3%A7%C3%A3o-das-estruturas.html 4/5
04/04/2018 Suporte On-line AltoQi - A deterioração das estruturas

Figura 5: Estrutura danificada por corrosão da armadura, oriunda do ataque de cloretos incorporados ao concreto. (fonte: CASCUDO, 1997)

Mecanismos de envelhecimento e deterioração relativos à estrutura propriamente dita


Com relação à estrutura, normalmente sua deterioração está associada à instalação de fissuração. Esta fissuração
pode ser originada por ações mecânicas, impactos, movimentação de origem térmica, ações cíclicas ou fluência. Uma
vez instalada, a fissuração irá facilitar o acesso de agentes agressivos ao concreto e/ou à armadura, levando à
degradação da estrutura por ação dos mecanismos já citados anteriormente.

Considerações Finais
Os casos aqui abordados, relativos aos mecanismos de deterioração das estruturas, são aqueles mais correntes na
realidade brasileira, sendo inclusive contemplados na NBR 6118 (2007). Outras formas de deterioração poderão
acontecer, todavia em menor incidência.

O concreto é suscetível às mais diferentes formas de ataque e sua deterioração está diretamente ligada à sua
porosidade, resultante de uma relação água/cimento alta e desaconselhável do ponto de vista da durabilidade, embora
compatível com a resistência especificada. Somado a isso, tem-se as espessuras de cobrimento, em geral muito
baixas, que facilitam a chegada de agentes agressores à armadura.

Mais uma vez fica caracterizada a importância do conhecimento do comportamento e das propriedades dos materiais
envolvidos na execução de estruturas, desde a fase do projeto, a fim de que se possa eliminar os agentes causadores
de sua deterioração e, com isso, aumentar a durabilidade da mesma.

Novamente é importante ressaltar que, desde que a qualidade do concreto seja adequada ao fim a que se destina,
considerando-se inclusive as condições do ambiente ao qual o mesmo estará exposto, a probabilidade de ocorrência
destas manifestações patológicas é bastante reduzida. Desta forma, acredita-se que a partir do momento que a nova
NBR 6118 entre em vigor, a qualidade das estruturas de concreto será, em muito melhorada. A partir do momento em
que o projetista de estruturas e o tecnologista do concreto passarem a considerar, à luz do novo texto, ainda na fase
de projeto, a agressividade do meio onde a peça estará inserida, a limitar valores para relação água/cimento e a
especificar cobrimentos maiores, a obtenção de estruturas duráveis será uma conseqüência natural.

http://faq.altoqi.com.br/content/277/679/pt-br/a-deteriora%C3%A7%C3%A3o-das-estruturas.html 5/5

Você também pode gostar