Você está na página 1de 12

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Paula de Oliveira Bezerra Diniz

DETERIORAÇÃO QUÍMICA

DO CONCRETO

POR REAÇÕES ÁLCALI AGREGADO

Rio de Janeiro
2022

1
1. REAÇÃO RAA

A reação álcali-agregado se dá a partir de uma reação química que ocorre entre


os constituintes minerais reativos presentes em alguns agregados e os hidróxidos
alcalinos da pasta hidratada do cimento, em presença de umidade, e,
consequentemente, a formação do gel higroscópico expandido.

Esse gel junto com a presença de umidade se hidrata e aumenta de volume,


provocando fissuras e perdas de resistência de elementos contaminadas.

A velocidade e a magnitude de deformação impostas pelo RAA dependem de


alguns fatores, tais como, a natureza e a quantidade de agregado reativos, teor de
álcalis no cimento, temperatura ambiente, teor de umidade e as eventuais restrições
físicas. (HELENE et al, 2019)

Os sintomas de uma estrutura com a RAA se apresentam através do


aparecimento da exsudação do gel na superfície do concreto, bordas ao redor dos
agregados, preenchimento de poros com material branco ou vítreo, fissuração e
descoloração do concreto.

As fissuras no concreto ocorrerão quando a pressão exercida em determinado


local pela reação expansiva exceder a resistência à tração da partícula de agregado
ou da pasta de cimento.

A deterioração do concreto por reação álcali agregado costuma ser desenvolvida


de forma imperceptível, por atingirem com maior frequência os elementos
enterrados, que estão submetidos a condições de umidade.

2. FATORES DO RAA

Os principais fatores que influenciam a reação álcali agregados são:

2.1. Agregados reativos

A reatividade dos minerais silícios amorfos é proporcionalmente incrementada a


partir da redução do tamanho da partícula e do aumento da superfície específica.

Segundo Helene (2019), esses minerais apresentam uma estrutura aberta,


imperfeita e de maior superfície específica.

2
Para Silva, 2019, a reatividade entre os minerais e os álcalis depende dos
seguintes fatores:

a) Da Granulação: quanto mais fino o agregado, maior a superfície de reação,


sendo, portanto, mais reativo;
b) Da estrutura cristalina: quanto mais desordenada e instável a estrutura, mais
reativa é a fase; as reatividades dos vidros (amorfa), da opala (amorfa), da
calcedônia (metaestável), do quartzo tensionado (deformado), são maiores
que a do quartzo bem cristalizado;
c) Do conteúdo de água de cristalização e dos grupos silanol (SiOH), que
conferem maior reatividade às fases, como por exemplo, as opalas e os
filossilicato sintemperizados (argilominerais como a ilita, a vermiculita e a
montmorilonita).

Quadro1 – Minerais reativos e seus constituintes

Fonte: Silva 2019

2.2. Cimento

A norma brasileira NBR 15577 (ABNT, 2018) define os álcalis (sódio e potássio)
que participam da reação álcali agregado como sendo solubilizáveis, provenientes

3
de qualquer fonte interna e externa ao concreto, como o cimento, os aditivos e a
água de adensamento.

Esses são os principais álcalis responsáveis pela alcalinidade da solução dos


poros do concreto, que ao participarem das reações de hidratação, formam produtos
como C-S-H e aluminatos, que liberam os íons hidroxila.

3. TIPOS DE RAA

Os ataques por reação álcali agregado podem ser classificados de três formas,
de acordo com a mineralogia dos agregados reativos envolvidos no processo,
sendo, reação álcali-sílica, álcali-silicato e álcali-carbonato.

Segundo Helene, (2019), os especialistas restringem a abordagem em apenas


dois processos, a reação álcali-sílica e álcali-carbonato, visto que a sílica e o silicato
são semelhantes e diferem apenas em relação a estrutura mineralógica das
partículas do agregado e o tempo de reação.

Dentre as três formas de reações, a álcali-sílica é a mais comum. Nessa reação a


sílica reativa dos agregados reage com os álcalis na presença de hidróxido de cálcio
originado na hidratação do cimento, formando o gel sílico alcalino expansivo.

O gel tem características de “expansão infinita”, pois absorve água com uma
tendência ao acréscimo de volume. Devido o gel está confinado na pasta, surgem
pressões internas que podem, eventualmente, causar expansão, fissuração e
desagregação da pasta de cimento hidratada. (NEVILLE, 2016)

As fissuras oriundas da reação álcali sílica podem variar de 0,1 até 10mm, em
casos extremos, e, raramente apresentadas com 25mm a 50mm.

A reação álcali carbonato difere das outras, pois o processo de reação se dá a


partir dos álcalis e agregados rochosos carbonáticos. Além disso o produto da
reação não forma o gel expansivo, mas sim compostos cristalizados .

A deterioração proporcionada pela reação álcali carbonato é a desdolomitização


da rocha e o consequente enfraquecimento da ligação pasta cimento.

4
Figura 1 – Processo da reação álcali agregado

Fonte: JÚNIOR, 2019

4. MANIFESTAÇÕES DO RAA

Segundo Silva (2019), as primeiras manifestações da reação álcali agregado


ocorreram na década de 30 em pavimentos de concreto na Califórnia (USA), que
tornou-se pesquisa por Thomas Edson Stanton em 1940.

Os primeiros relatos da reação álcali agregado, no Brasil, foram constatados


entre as décadas de 1960 e 1970 em três barragens, em Peti em Minas Gerais; em
Apolônio Sales, mais conhecida como Moxotó, entre os estados da Bahia e Alagoas;
e Pedras no estado de São Paulo. No Nordeste, foram encontrados cinco relatos de
barragens do sistema hidrelétrico do Rio São Francisco com a patologia (Moxotó,
Paulo Afonso I, II, III e IV) e barragens do sistema de abastecimento de água da
Região Metropolitana do Recife (Tapacurá) e de Salvador (Joanes II) (SILVA, 2019).

No Quadro 02 relatam-se 29 estruturas hidráulicas de usinas e barragens


recuperadas com a patologia, informando o ano de sua construção, o ano da
descoberta da RAA e o mineral reativo, encontrado na composição de seus
concretos.

No Recife, no ano de 1999 foi verificada a presença de fissuras nos 16 blocos de


fundação da ponte Paulo Guerra (figura 2), construída em 1977, que interliga o
Bairro do Recife a zona Sul. Para análise das fissuras foram realizados extração de
testemunhos dos blocos, e, assim constatou-se nos resultados a reação álcali
agregado.
5
Quadro 2 – Estruturas de concretos afetadas por RAA

Fonte: SILVA, 2019

Figura 2 – Processo da reação álcali agregado

Fonte: SILVA, 2019 apud Concrepoxi, 2000

6
Segundo Júnior, 2019 a constatação da reação álcali agregado em obras de
edifícios foi verificada pela primeira vez na Região Metropolitana do Recife (RMR),
estado de Pernambuco, devido ao interesse gerado na inspeção das fundações de
diversos edifícios habitacionais, após a queda do Areia Branca em 2004.

Figura 3 – Reação álcali agregado nas fundações dos edifícios

Fonte: JÚNIOR, 2019

O potencial de reatividade dos agregados miúdos e graúdos da Região


Metropolitana do Recife foram avaliados por Andrade et al., (2006), e concluíram
que a maioria dos agregados analisados apresentava fases potencialmente reativas
que efetivamente contribuíram para a ocorrência da reação, principalmente nos
blocos de fundação. (NOGUEIRA, 2010)

As primeiras observações da instalação da reação álcali-agregado na UHE


Furnas ocorreram em 1976, após cerca de 13 anos do término da construção, a
partir principalmente da observação de deslocamentos verticais nos marcos
altimétricos instalados nas estruturas. (HASPARYK, 2005)

As principais ocorrências que surgiram nas Furnas, de uma maneira geral, foram:
fissuração nos pilares do vertedouro, nos blocos de ancoragem dos condutos
forçados e na casa de força, bem como desnivelamento do coroamento entre o muro
central e os blocos adjacentes.

7
Figura 4 - Fissura em bloco de apoio do conduto forçado

Fonte: HASPARYK, 2005

Figura 5 - Fissuras na lateral de um pilar do vertedouro

Fonte: HASPARYK, 2005

Figura 6 – Fissuras no topo do pilar

Fonte: HASPARYK, 2005

A figura 7 representa a demolição da barragem Drum After Bay, nos EUA em


decorrência do diagnóstico da reação álcali agregado.

8
Figura 7 – Demolição da barragem Drum After

Fonte JÚNIOR, 2019

5. METÓDOS DE AVALIAÇÃO DO RAA

A norma brasileira foi subdividida em sete partes e contempla todas as


informações necessárias para o correto estudo da RAA. (JÚNIOR,2019)

5.1. NBR 15577-1

A NBR 15577 – 1 (ABNT, 2018) é responsável por guiar a avaliação da


reatividade potencial e medidas preventivas para uso de agregados em concreto.

5.2. NBR 15577-2

A NBR 15577 – 2 (ABNT, 2018) é responsável pela coleta, preparação e


periodicidade de ensaios de amostras de agregados para concreto.

5.3. NBR 15577-3

A NBR 15577 – 3 (ABNT, 2018) é responsável pela análise petrográfica para


verificação da potencialidade reativa dos agregados graúdos em presença de álcalis
do concreto, e para agregados miúdos serão vistas na NBR 7389 – 1.

5.4. NBR 15577-4

A NBR 15577 – 4 (ABNT, 2018) é responsável pela determinação da expansão


em barras de argamassa pelo método acelerado (30 dias).

9
5.5. NBR 15577-5

A NBR 15577 – 5 (ABNT, 2018) é responsável pela determinação da mitigação


da expansão em barras de argamassa pelo método acelerado (30 dias).

5.6. NBR 15577-6

A NBR 15577 – 6 (ABNT, 2018) é responsável pela determinação da expansão


em prisma de concreto pelo método de longa duração (365 dias).

5.7. NBR 15577-7

A NBR 15577 – 7 (ABNT, 2018) é responsável pela determinação da expansão


em prisma de concreto pelo método acelerado (20 semanas).

6. AÇÕES PREVENTIVAS

Algumas medidas preventivas podem ser tomadas para evitar a reação álcali
agregado, tais como:

a) Evitar utilizar agregados potencialmente reativos ou reativos: neste sentido, é


imprescindível realizar ensaios dos agregados para identificar o potencial
reativo; baixos teores de agregados reativos são permitidos se forem
empregados neutralizadores da RAA no concreto;

b) Limitar o teor de álcalis solúveis no concreto: a principal fonte de álcalis é o


cimento, que deve possuir teores abaixo de 0,4%, entretanto, é preciso
examinar a água de amassamento, e os aditivos, as adições minerais e até
mesmo os agregados, pois todos são fontes fornecedoras de álcalis;

c) Proteger o elemento estrutural contra o contato com o lençol freático;

d) Reduzir a relação água-cimento: o excesso de água, além do necessário para


a hidratação do cimento, é fonte de umidade e aumenta a porosidade do
concreto;

e) Reduzir o consumo de cimento: podem-se usar adições minerais com critério;

10
f) Aditivos (superplastificantes e redutores de água): esses compostos contêm
álcalis que se somarão aos outros, portanto, o uso de aditivos deve ser feito
com critério;
 

g) Usar cimento com baixo calor de hidratação: é uma tentativa de evitar a


elevação da temperatura;

h) Fôrma: evitar usar fôrma lateral com alvenaria, pois dificultam a dissipação do
calor e alteram a relação água-cimento nas faces dos blocos, podendo
ocorrer fissuras por ausência de cura.

11
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

HASPARYK, Nicole Pagan. Investigação de concretos afetados pela reação álcali-


agregado e caracterização avançada do gel exsudado. 2005

HELENE, Paulo et al. Patologia de estruturas. Oficina textos Editora, 2020.

NEVES, D. C. M. et al. Recovery procedures for foundation elements with


alkali/aggregate reaction problems. Documental research. Revista ALCONPAT, v.
11, n. 2, p. 124-145, 2021.

NEVILLE, A.M. Propriedades do concreto-5ª Edição. Bookman Editora, 2016.

NOGUEIRA, Kelso Antunes. Reação álcali-agregado: diretrizes e requisitos da ABNT


NBR 15577/2008. 2010.

SILVA JUNIOR, Marcelo Gomes da; CARNEIRO NETO, Mozart Mariano. Reação
álcali-agregado: seus efeitos e ações preventivas. 2020.

SILVA, Cristiane Santana da et al. Levantamento dos procedimentos de


recuperações em elementos de fundações por problemas de reação álcali agregado:
estudos de casos. 2019.

12

Você também pode gostar