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Universidade Federal Do Pará

Instituto De Tecnologia
Programa de Pós Graduação Em Arquitetura E Urbanismo
Disciplina: Materiais De Construção Tradicionais, Alternativos, E
Inovadores
Professora: Luciana De Nazaré Pinheiro Cordeiro
Aluna: Cecília Menezes Barra

TEMA: CONCRETO AUTOCICATRIZANTE

O concreto trata-se de um material construtivo amplamente


disseminado. É uma mistura homogênea de cimento, agregados miúdos e
graúdos, com ou sem a incorporação de componentes minoritários (aditivos
químicos e adições), que desenvolve suas propriedades pelo endurecimento da
pasta de cimento (PEDROSO, 2009, p. 15).
É no Império Romano, em 300 a.C, que nasce a primeira concepção do
concreto. O concreto romano é uma composição de agregados (cacos de
pedras calcárias como mármores), areia, cal, Pozolana e água (BUNDER,
2016). Diz-se que edifícios centenários sobreviveram durante séculos por
causa da capacidade inerente de autocura dos ligantes usados para cimentar
blocos de construção. Essa capacidade de autocura nunca foi denominada
assim; era apenas um fato bem conhecido que era visto como o perdão da
natureza, em vez de autocura de materiais de construção inerentemente
inteligentes (RILEM, 2005).
Uma característica de extrema imporância do concreto é a sua
durabilidade, que pode ser quantificada através de baixa permeabilidade; o
concreto é considerado durável quando sua estrutura original se mantêm
integra quando exposto a qualquer processo de degradação (LEMA et al.,
2015). Dentre os processos de degradação, ressalta-se a propensão do
concreto à formação de fissuras. Segundo Takagi (2009, p. 04), "quanto maior
a abertura da fissura, maior é o comprometimento da durabilidade do concreto,
sendo necessário o seu reparo".
A fissuração, por causar a perda de estanqueidade, desencadeia o
surgimento de manchas de umidade, eflorescências e formação de bolor,
causando desconforto estético aos usuários. Além disso, fissuras podem
contribuir para o aumento da deformabilidade das estruturas, havendo a
necessidade de realização de reparos (BIANCHIN, 2018).
Visando a questão da durabilidade, a introdução de propriedades
autocicatrizantes no concreto poderia ser altamente benéfica, "pois
representaria uma economia de custos diretos de produtos e mão de obra dos
serviços de reparo, e também de custos indiretos porque estas estruturas
necessitariam ficar em desuso durante o seu reparo e manutenção" (TAKAGI,
2009, p.05). É neste contexto que iniciam-se as pesquisas para o
desenvolvimento do chamado concreto autocicatrizante (CAC).
As primeiras pesquisas sobre o assunto no exterior foram feitas, em
1994, pela professora Carolyn Dry no departamento de Arquitetura da
Universidade de Illinois. Os estudos conduzidos por Dry (1994) propuseram o
uso de polímeros encapsulados para obter o concreto autocicatrizante,
indicando o primeiro estudo sistemático sobre o tema. Além disso, o trabalho
desenvolvido por ela propôs não apenas a descrição dos fenômenos
envolvidos e suas possíveis causas, mas também o uso intencional dessas
propriedades com a finalidade de obter um material mais durável (MOREIRA,
2016).
Ainda em contexto internacional, no ano de 2005, foi criado pela RILEM
(Réunion Internationale des Laboratoires et Experts des Matériaux, systèmes
de construction et ouvrages)1 um comitê técnico para o estudo dos
“Fenômenos de autocicatrização em materiais de base cimentícea”, inspirados
nas antigas estruturas centenárias que tem sobrevivido por séculos, devido à
capacidade de colmatação natural dos aglomerantes utilizados para cimentar
os blocos destas construções (Ibid, 2009).
O ITA (Instituto Tecnológico da Aeronautica) foi pioneiro no estudo do
concreto autocicatrizante no Brasil, em 2011, com a pesquisa que culminou
na dissertação de TAKAGI (2013). Há também estudos realizados pela
UnB, como a dissertação de Moreira (2016), UFRGS (2018), UFES (2018) e
UFPR (2019). Nota-se que os estudos em questão são ainda muito recentes
no Brasil.
1
União Internacional dos Laboratórios e Especialistas em Materiais de Construção, Sistemas, e
Estruturas. Tradução do original em francês.
Várias técnicas têm sido desenvolvidas para a produção de um concreto
impermeável e que apresente a capacidade de autocicatrizar as fissuras, como
a aplicação de aditivos redutores de permeabilidade (ARP). Com o aumento
das características impermeáveis o concreto armado torna-se menos
susceptível aos agentes agressivos, proporcionando uma maior durabilidade e
vida útil tanto de novas estruturas quanto de estruturas já existentes
(MOREIRA, 2016).
O concreto autocicatrizante (CAC) é dividido em dois grupos de
autocicatrização: a autógena e a autônoma; este material possui a capacidade
de selar as fissuras que eventualmente podem ser desenvolvidas ao longo do
tempo (NAKAYAMA, 2017).
As pesquisas que tratam da cicatrização autógena se fundamentam em
conhecimentos já bastante difundidos. Nesses trabalhos, geralmente, são
apresentadas reavaliações de modelos e programas experimentais acerca de
variáveis já relativamente dominadas no campo da engenharia dos materiais
cimentícios e objetivo principal proposto é o de melhor entender os fenômenos
da cicatrização em si. Ou seja, sua finalidade é traçar um melhor entendimento
de processos como a hidratação residual do cimento ou a carbonatação, e de
como tais processos promovem o preenchimento das fissuras em ambientes
com a presença de umidade (BIANCHIN, 2018).
Já os trabalhos que tratam da cicatrização autônoma tendem a ser mais
interdisciplinares, estendendo-se, muitas vezes, ao campo dos materiais
poliméricos, da mecânica dos fluidos e até mesmo da biologia. Nesse sentido,
os esforços se dão no sentido de prever um projeto especial ou o uso de
materiais complementares no concreto, como por exemplo, adições minerais,
aditivos expansivos, polímeros superabsorventes, cianobactérias, filamentos
ocos de fibra de vidro e entre outros( Ibid., 2018).
Focando na questão da sustentabilidade, o uso de subprodutos
industriais como as escórias de alto- forno na composição do cimento tem se
tornado uma tendência cada vez mais comum; aumentam-se os níveis de
substituição, sem afetar negativamente e até mesmo com o objetivo de
melhorar algumas das propriedades do concreto, como atuar como agente
cicatrizante (TAKAGI, 2013).
Além dos benefícios técnicos e econômicos, os materiais
autocicatrizantes também são promissores frente aos grandes desafios da
atualidade, no sentido de promover a sustentabilidade do planeta. Segundo
Schlangen e Joseph (2009), a melhoria do desempenho a ser potencialmente
alcançada com a autocicatrização deve reduzir a demanda por novas
estruturas, resultando na diminuição do consumo de matérias primas virgens e
em especial o consumo de cimento, cuja produção demanda grande
quantidade de energia além de responder por 5-7% das emissões totais de
CO2. Outra vantagem do concreto cicatrizante é a durabilidade. Ele dura cerca
de 20 a 30 anos mais do que o concreto tradicional, sendo assim, o custo inicial
acaba sendo diluído pela baixa necessidade de manutenção.
Por ser 30% mais caro do que o concreto convencional, o concreto
autocicatrizante não deve ser aplicado em qualquer tipo de obra. Ele é
recomendado para construções pesadas como reservatórios, estruturas de
saneamento, túneis e estações de metrô.
Concretos autocicatrizantes a partir da adição do ARP foram utilizados
durante a construção de uma laje de subpressão da nova sede do Museu de
Imagem e do Som (MIS), ícone arquitetônico para a cidade do Rio de Janeiro;
na reforma do complexo do Estádio Governador Magalhães Pinto, em Belo
Horizonte (MOREIRA, 2016); e na construção de uma laje de subpressão, com
30cm de espessura e volume de 750 m3 , de um edifício residencial misto,
situado no Setor Noroeste, Brasília, Distrito Federal, Brasil (SILVA et al., 2016).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BIANCHIN, F. H. Avaliação Da Autocicatrização Em Concretos Produzidos


Com Aditivo Cristalizante E Fissurados Nas Primeiras Idades.
Universidade Federal Do Rio Grande Do Sul. Escola De Engenharia
Departamento De Engenharia Civil. Monografia de Conclusão de Curso. Porto
Alegre, 2018. 102 f.

BUNDER, J. O concreto: sua origem, sua história. Universidade de São Paulo,


Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, 2016.

HELENE, P; G, GUINONE, G; VIEIRA, L; RONCETTI, L. Avaliação da


penetração de cloretos e da vida útil de concretos autocicatrizantes
ativados por aditivo cristalino. Rev. IBRACON Estrut. Mater. vol.11 no.3 São
Paulo Mai/Jun. 2018.

LEMA, D.; OURIVES, C. N.; MORAES, E. F. S. Durabilidade das estruturas


pela impermeabilização por cristalização integral do concreto, São Paulo,
55, 2015. 94-102.

MOREIRA, M. M. Efeito Do Aditivo Redutor De Permeabilidade Em


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de Brasília, 2016. 167 f.

NAKAYAMA, G. B. Concreto Autocicatrizante: Autocicatrização Autógena em


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Conclusão de Curso) - Faculdade de Engenharia de Sorocaba. Sorocaba, São
Paulo. 2017.

OLIVEIRA, T. A. Autocicatrização Autônoma De Concretos Com Adição De


Nanorreservatórios De Sílica E Ldhs De Nitrito Sujeitos À Ação De Íons
Cloreto Ou Sulfato. Dissertação de mestrado. Setor de Tecnologia,
Programa de Pós Graduação em Engenharia da Construção Civil. Curitiba,
2019. 191 f.

PEDROSO, F. L. Concreto: as Origens e a Evolução do material construtivo


mais usado pelo homem. Revista Concreto e Construções, n º 53, jan. fev. mar
2009. IBRACON, 2009.

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SCHLANGEN, E.; JOSEPH, C. Self-Healing Processes in Concrete. In:


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(Mestrado em Engenharia de Infraestrutura Aeroportuária) Instituto Tecnológico
de Aeronáutica. São José dos Campos, 2013. 130 f.

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