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u pesquisa e desenvolvimento

Aditivo cristalino para a


impermeabilização integral
por cristalização de estruturas
de concreto de pontes
EMILIO MINORU TAKAGI MARYANGELA GEIMBA LIMA – Professora Doutora FRANCISCO CARLOS MENDES LIMA
Doutorando do Instituto Tecnológico Departamento de Infraestrutura Aeronáutica Diretor de Impermeabilização – Associação Brasiliense
de Aeronáutica (ITA) do Instituto Tecnológico de Aeronáutica
(ITA) de Construtores de Brasília – ASBRACO
Diretor Técnico da Penetron International Diretor Regional do IBRACON no DF
Diretor Mendes Lima Engenharia

1. INTRODUÇÃO limpeza superficial e pinturas, de or- passou para a jurisdição da Prefeitura

A
maior parte das 185 prin- dem estética. Municipal de São Paulo. No período
cipais pontes e viadutos Em 1988, o trabalho apresentado do acidente, discutia-se qual órgão
da cidade de São Paulo, pelo engenheiro Catullo Magalhães era responsável pela sua inspeção
em concreto armado e protendido, (Magalhães et al., 1989), junto com e manutenção.
foi construída antes de 1984, apesar outros engenheiros da Prefeitura do A infiltração de água, a falta de es-
que o histórico de pontes e viadutos Município de São Paulo, já denuncia- tanqueidade e problemas no sistema
no Brasil e na própria cidade de São va o estado deplorável das pontes e de drenagem são as causas de gran-
Paulo é amplo e, ao longo dos anos, viadutos da cidade de São Paulo. No de parte das manifestações patológi-
se enriquece com as novas concep- relatório citado, consta que das 145 cas do concreto de pontes, colabo-
ções introduzidas permanentemente pontes vistoriadas, 86 tinham infiltra- rando diretamente para a redução de
pelos arquitetos e projetistas. Atual- ções nas juntas de dilatação (59,3%); seu desempenho e durabilidade.
mente as tecnologias das pontes se 83 apresentavam vigas e lajes com in- Para resolver problemas de infil-
encontram bastante disseminadas, filtrações de água e/ou armaduras ex- tração de água, além dos sistemas
desde as obras convencionais até as postas (57,2%); 11 com pilares com convencionais de impermeabilização,
pontes suspensas e as estaiadas com armaduras expostas e/ou corroídas, hoje existem métodos e sistemas de
sistema de aduelas ou balanços su- entre outras várias manifestações pa- última geração, mais eficazes e menos
cessivos, que dispensam escoramen- tológicas constatadas. onerosos, que garantem proteção do
tos e que vencem grandes vãos. Uma das razões desse descaso, concreto contra a ação de agentes e
Apesar dessas modernidades, a por incrível que pareça, como revelou ambientes agressivos. Essa proteção
verdade é que nessas mais de três o rompimento da ponte dos Remé- pode ser obtida por um mecanismo
décadas, segundo o que o Prof. Vi- dios ocorrido em 1997, passa pela de formação de cristais extras na mi-
tor Aly, secretário da PMSP, decla- identificação da instância responsá- croestrutura convencional do concre-
rou nesta edição, praticamente não vel pela manutenção dessas estrutu- to, induzidos pela adição dos aditivos
houve manutenção dessas estruturas ras. Até o final dos anos 1970, a ponte cristalinos para aumentar a chamada
antigas, nem sequer houve arquivo dos Remédios era de responsabilida- impermeabilização integral por cris-
adequado de projetos e intervenções de do Departamento de Estradas de talização, principalmente dos tabu-
ocorridas, sendo que as ações se Rodagem (DER), de âmbito estadual. leiros, mas também do concreto em
concentraram apenas em ações de Mas, na metade da década de 1980, geral de fundações, infraestrutura e

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mesoestrutura de pontes e viadutos,
que é o foco principal deste artigo.

2. IMPERMEABILIZAÇÃO
INTEGRAL POR CRISTALIZAÇÃO
Este artigo apresenta o concreto
autocicatrizante “engenheirado”, que
pos­
sui capacidade de autocicatriza-
ção autônoma, potencializadora do
mecanismo de colmatação natural
do concreto, por meio de um aditivo
cristalino que ativa os componentes
presentes na dosagem do concreto,
como os cimentos e as adições mine-
rais. Este método tem capacidade de
reparar fissuras passivas com abertu-
ra de até 0,5 mm. u Figura 1
Os aditivos cristalizantes moder- Excecução de laje de subpressão em edificação mista (residencial e
comercial), composta de três subsolos com forte presença do lençol freático,
nos, em sua quarta geração, perten-
localizada no primeiro bairro ecológico do Brasil – setor noroeste
cem à categoria de aditivos imperme- em Brasília – DF, Soul Housing & Shopping
abilizantes redutores da porosidade do
concreto,são amplamente emprega- concreto quanto à ação positiva de quantidade de artigos de pesquisa
dos no mercado de produtos quími- alguma adição “de engenharia”, como dedicou-se à autocicatrização autô-
cos da construção, sendo classificados os materiais cimentícios suplementa- noma “engenheirada”, em diferentes
como Permeability-Reducing Admixtures res, fibras e os aditivos cristalinos. aspectos de investigação, tais como,
exposed to Hydrostatic conditions O fenômeno da colmatação au- como a autocicatrização atua com
(PRAH), segundo a recomendação téc- tógena de fissuras em concreto já reforço de fibras, autocicatrização
nica americana ACI 212.3R-10 “Relatório teria sido reportado pela Academia produzida por bactérias produtoras
sobre Aditivos Químicos para Concreto”. Francesa de Ciências em 1836, sen- de minerais, autocicratização por
O consenso alcançado sobre o do atribuído à transformação do hi- polímero superabsorvente, por agen-
concreto autocicatrizante (CAC) entre dróxido de cálcio (Ca(OH)2) em cris- te cicatrizante contido em cápsulas
a comunidade internacional resultou tais de carbonato de cálcio (CaCO3) e, atualmente, por adição de aditivo
no relatório de estado da arte da RI- como consequência da sua exposi- cristalino especialmente desenvolvido
LEM “Fenômeno de autocicatrização ção ao dióxido de carbono (CO2) na para esse fim.
em materiais à base de cimento”, atmosfera. Mais tarde, também foram Como relatado, há várias pesqui-
publicado pelo Comitê Técnico 221- observadas muitas fissuras cicatriza- sas e estudos que demonstra a via-
SHC, criado em 2005. Nele, distin- das preenchidas com cristais de sili- bilidade e utilidade do emprego de
gue-se o mecanismo da colmatação cato de cálcio hidratado (C-S-H), de aditivos cristalizantes adicionados
“autógena” (ou natural), como sendo etringita (C6ASH32) e de carbonato de na massa do concreto, para uso em
o fechamento de fissuras devido ao cálcio (CaCO3) devido ao mecanismo obras e estruturas novas. Sua prin-
próprio concreto, e a autocicatriza- da autocicatrização por hidratação cipal função é reduzir o ingresso de
ção “autônoma” (ou de engenharia), contínua de partículas não hidratadas águas agressivas e colmatar peque-
como sendo o conjunto do selamen- de cimento e adições minerais, como nas fissuras. Com isso, reduzem
to de fissuras e da restauração de cinzas volantes (CV) e escória de alto substancialmente o risco de reações
propriedades mecânicas e de per- forno (EAF) residuais. deletérias, pois todas elas (AAR,
meabilidade, devido tanto ao próprio Na última década, uma grande sulfatos, carbonatação e cloretos)

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como uma pintura ou revestimento, bos de protensão foi observada uma
promovem a formação de novos cris- enorme abertura  na superfície supe-
tais nos poros do concreto endurecido. rior do tabuleiro, da ordem de 15 cm,
Quando as substâncias químicas em um trecho onde não deveria haver
ativas dos aditivos cristalinos reagem qualquer fissura. A falta de manuten-
com os compostos dos poros da pas- ção preventiva, aliada ao aumento
ta de cimento no concreto endureci- das cargas devido aos sucessivos
do, que contêm hidróxido de cálcio, recapeamentos, e a perda da efici-
alumínio, óxidos metálicos e a água, ência dos cabos de protensão devi-
u Figura 2 formam uma estrutura cristalina no in- do à relaxação do aço, deram origem
Impermeabilização por terior desses poros capilares, selando à abertura da junta de concretagem
cristalização por pintura em
permanentemente fissuras passivas inicial, que acabou transformando-
3.000 m2 no pavimento de
concreto da Ponte dos Remédios, com abertura de até 0,4 mm. Como -se em fissura no apoio intermediário
na cidade de São Paulo, resultado positivo, pode ser obtida da estrutura, no trecho hiperestático.
em 1999 uma vida útil adicional de vários anos, Com o passar tempo, a infiltração de
quando comparada ao concreto água de chuva ácida, associada a de-
dependem da presença de água. Bar- de referência. ficiente injeção de calda de nata de
rar o ingresso da água é a missão e A Ponte dos Remédios, sem ma- cimento nas bainhas própria daque-
propósito desses aditivos (Fig. 1). nutenção estrutural desde a sua les anos 60, acelerou o processo de
construção em 1968, entrou em pro- corrosão dos fios componentes dos
3. RECUPERAÇÃO DE PONTES cesso de colapso no dia 03 de junho cabos mais superficiais da seção,
COM O USO DE ADITIVO de 1997, após o rompimento das acarretando um processo progressivo
CRISTALINO NO BRASIL cordoalhas da primeira e segunda de ruptura dos cabos de protensão.
Na impermeabilização e recupe- camada dos cabos de protensão na Os procedimentos de emergência,
ração de pontes existentes, ou seja seção do apoio intermediário (Apoio recuperação e reforço estrutural da
concretos “velhos”, inclusive nos blo- 5.), provocando uma grande flecha Ponte dos Remédios foram a remoção
cos submersos da ponte, esses aditi- no vão central da ponte Sul (cerca de do pavimento original, para o alívio
vos, agora aplicados superficialmente 45 cm). Na seção de ruptura dos ca- das cargas, e a execução de um pavi-
mento alteado em concreto estrutural
de alto desempenho e incorporado à
laje do tabuleiro, através de colmeias
de concreto celular. Já nessa ocasião,
o aditivo cristalino foi utilizado para a
impermeabilização por pintura e para
o tratamento de fissuras de retração
de até 0,4 mm em 3.000 m2 do novo
pavimento em concreto de alto de-
sempenho da superestrutura do tre-
cho sul da Ponte Remédios no final de
1999 (Fig. 2).
A Ponte Hercílio Luz, localiza-
da em Florianópolis, é a maior pon-
te pênsil do Brasil, tendo 821 m de
u Figura 3
comprimento total, sendo um dos
Reforço dos blocos de fundação da Ponte Hercílio Luz, impermeabilizados
com aditivo cristalino, na cidade de Florianópolis, em 2018 principais símbolos do Estado. Teve
sua construção iniciada em 1922 e foi

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inaugurada em 13 de maio de 1926. com objetivo de reduzir riscos de fis- por constituírem centros de nuclea-
Durante as obras de restauração da suras, e evitar o acesso de água, re- ção para o hidróxido de cálcio (CH),
Ponte Hercílio Luz, em 2018, foi re- duzindo riscos de reações deletérias agindo como “cristais-semente”. O
alizado o processo de instalação das (Fig. 3). resultado é uma camada dupla difusa
novas rótulas do lado insular, sendo de íons em razão do aumento do po-
esse um passo fundamental para dei- 4. A EVOLUÇÃO DO tencial Zeta das cargas eletrostáticas
xar a ponte segura. As rótulas que ADITIVO CRISTALINO de íons positivos (Ca2+) e íons nega-
ligam as torres com os blocos de O aditivo cristalino consiste em tivos (OH-), originadas da hidratação
fundação permitem a movimentação uma mistura de cimento, areia e par- do grão de cimento Portland e adqui-
da ponte devido ao efeito da variação tículas cristalinas ativas de sílica e de ridas pelas partículas conforme a hi-
de temperatura. Após esse processo, carbonato. As partículas ampliadas dratação avança, com o consequente
foram instaladas 16 barras de olhais em microscopia eletrônica de varre- aumento da floculação e da taxa de
junto à torre insular e a concretagem dura (SEM) têm formas irregulares e precipitação de cristais de portlandita
do piso final da pista de rolamento, tamanhos de cerca de 1 a 20 μm, e (CH), gel de silicato de cálcio hidrata-
sobre o tabuleiro do viaduto, por onde sua morfologia é semelhante à dos do (C-S-H) e das fases etringita (AFt)
passarão os veículos após a entrega grãos de cimento. A análise de es- e monossulfoaluminato (AFm), confor-
da obra. pectroscopia de raios X por dispersão me diagrama traduzido de RAHHAL
Ao todo, a ponte recebeu cerca de em energia (EDS) confirma a presença (2012) e mostrado na Fig. 4.
2 mil toneladas de metal novo, o que de cálcio, oxigênio, silício, magnésio, A segunda geração do aditivo cris-
representa aproximadamente 40% do alumínio e potássio. Este espectro é talino, avança com a incorporação de
peso da atual estrutura, para retornar comparável ao de um cimento Por- ácidos carboxílicos (-COOH–) sobre
à ao seu desempenho original. Para tland comum, com exceção do pico a camada dupla difusa de nuvens de
suportar a nova carga, os blocos de de enxofre levemente maior. íons positivo (Ca2+) e íons negativo
fundação foram reforçados com con- Inicialmente, na primeira geração (OH-), em torno da estrutura do aditi-
creto dosado com aditivo cristalino, do aditivo cristalino mineral, estes vo cristalino de primeira geração. Essa
eram constituídos de partículas cris- inovação resultou em aumento signi-
talinas muito finas, hidraulicamente ficativo do potencial Zeta das cargas
inativas e não pozolânicas, de síli- eletrostáticas, aumentando a capa-
ca (teor de SiO2 cristalina maior que cidade de dupla troca catiônica dos
99% e superfície específica Blaine de seus íons. Estes, agora, são capazes
4.000 cm /g) e de carbonato (teor de
2

CaCO3 cristalino maior que 95% e


Blaine de 3.500 cm2/g), sendo utiliza-
das apenas como fillers para controlar
a exsudação em concretos com baixo
consumo de cimento. Estudos mos-
traram que essas partículas cristalinas
de sílica e carbonato possuem mui-
tas propriedades físicas e químicas
u Figura 5
surpreendentemente semelhantes à
Mecanismo do aditivo de
química dos “argilominerais”. cristalização e de dispersão, que
u Figura 4
Diagrama da hidratação do Ambas as partículas cristalinas provoca um efeito de dissolução
cimento Portland estimulado de sílica (com carga eletrostática ne- e recristalização dos subprodutos
por partículas cristalinas de da hidratação do cimento
gativa) e de carbonato (com carga
sílica e de carbonato (adaptado profundamente nas fissuras
eletrostática positiva) estimulam di- e porosidade do concreto
de Rahhal et al., 2012)
retamente as reações de hidratação,

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de intercalar o cálcio (Ca2+) por íons de uma faixa ampla de pH de 3 a 11, e e, também, através da formação de
sódio (Na ) ou potássio (K ), de forma
+ +
de cristais análogos à enstatita (Mg- um biofilme na superfície. Mas, esses
mais versátil e facilmente obtida, pro- SiO3), que são bastante estáveis em fenômenos de corrosão induzida por
porcionando ao novo aditivo cristalino larga faixa de temperatura permanen- microorganismos (MIC) ainda não fo-
maior capacidade para a cristalização. te a partir de -32°C até +130°C. ram completamente compreendidos.
Há também maior poder de disper- Essa estrutura cristalina integral A quarta geração do aditivo cris-
são das partículas do aditivo cristalino preenche profundamente os poros e talino (4G) adiciona propriedades an-
através da porosidade do concreto. as fissuras, tornando o concreto im- timicrobianas ao aditivo cristalino 3G.
Nesse processo, o novo aditivo cris- permeável e protegido quimicamente. Através de um mecanismo eletrofísi-
talino precipita uma reação química Agentes de cura química à base de co, baseado em uma nova química de
para provocar um efeito de dissolução fluorsilicatos de magnésio (MgSiF6) e “organosilano”, o aditivo cristalino 4G
e recristalização dos subprodutos da ácido málico (C4H6O5 com duas termi- se liga de forma molecular aos produ-
hidratação do cimento, formando uma nações –COOH ) são utilizados para

tos de hidratação de cimento e rompe
nova estrutura de cristais não solúveis acelerar o processo de cristalização a membrana celular de bactérias aeró-
de silicato de cálcio hidratado (C-S-H), e, também, como inibidores de eva- bicas (Escherichia coli e Staphylococ-
etringita (C6ASH32) e carbonato de cál- poração, pois cada molécula de Mg- cus aureus) e anaeróbicas (Thiobacilus
cio (CaCO3), profundamente alocada SiF6 retém 300 moléculas de água. novellus e Thiobacilus concretivo-
nas fissuras e porosidade do concreto, A terceira geração do aditivo cris- rus). A eficácia pode ser comprovada
conforme Fig. 5. talino (3G) incorpora agentes químicos através da metodologia modificada
A partícula cristalina de carbonato expansores à base de sulfoalumina- ISO 22.196 – “Medição da atividade
mais porosa do aditivo cristalino pode to de cálcio (CSA) ao aditivo cristalino antibacteriana em plásticos e outras
ser impregnada com uma solução 2G, de modo a obter uma capacidade superfícies não porosas”. A forma-
de sais de flúor, fósforo e magnésio. aprimorada de autocicatrização “enge- ção deste biofilme sobre o concreto
Com a presença de umidade, os sais nheirada” para fissuras com aberturas autocicatrizante do aditivo cristalino
de flúor difundem-se na matriz fissu- maiores que 0,4. Produtos de cicatriza- 4G antimicrobiano pode atuar como
rada para formar íons fluoreto. Estes ção no interior das fissuras foram ana- uma camada protetora contra a de-
íons reagem com produtos da hidra- lisados usando microscópio eletrônico terioração biológica. Antes do encer-
tação C-S-H e CH e da carbonatação de varredura ambiental (ESEM), equipa- ramento do Comitê Técnico 221-SHC
(CaCO3) para formações amorfas mais dos com EDS. Os resultados da análise - “Fenômenos de autocicatrização em
estáveis, análogas à apatita (CaF2), química mostraram que os produtos de materiais à base de cimento”, foi cria-
resultando em uma matriz mais densa autocicatrização são compostos por do, em 2013, o Comitê Técnico 253-
e mais resistente a ácidos, dentro de CaCO3, C-S-H e etringita. A proporção MCI da RILEM - “Interações entre mi-
dos compostos minerais cicatrizados croorganismos e materiais à base de
depende da condição de exposição na cimento”. O objetivo foi preencher a
cura e do tipo de materiais cimentícios lacuna do conhecimento da interação
utilizados. Condições de exposições de das bactérias com os concretos auto-
cura em ciclos úmidos / secos mostra- cicatrizantes e o estudo da biorecep-
ram a melhor recuperação mecânica, tividade dos biofilmes formados sobre
enquanto a condição de cura somente este tipo de concreto.
aérea não contribuiu com um fenôme-
u Figura 6 no visível de cicatrização 5. PROGRAMA EXPERIMENTAL
Fissuração intensa vista pelo Estruturas expostas a meios aquo- O estudo de TAKAGI et al. (1996)
lado inferior do pavimento em sos agressivos, que contêm micror- investigou os efeitos após 1 ano da
concreto, com aberturas entre
ganismos, podem sofrer deterioração aplicação do aditivo cristalino no lado
0,1 a 0,2 mm
Fonte: TAKAGI, et al., 1996 na matriz de cimento com a produ- inferior do pavimento em concreto
ção de ácidos biogênicos agressivos armado de uma ponte rodoviária que

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u Figura 7
u Figura 8
Amostras para o ensaio de resistência à compressão axial e ensaio de permeabilidade
A tendência à diminuição do
Fonte: acervo dos autores
volume de água passante das
amostras tratadas evidenciou a
capacidade de autocicatrização
apresentava fissuração intensa (Via- ção às amostras não tratadas, embo-
do aditivo cristalino de quarta
duto Kitagashira), devido aos carrega- ra não se julgue que a diferença seja Fonte: TAKAGI, et al., 1996, p. 345
mentos repetitivos do tráfego médio resultado do efeito exclusivo do aditi-
diário de 40.000 caminhões, configu- vo cristalino.
rando 40% do tráfego total na Rota Os resultados do ensaio de per- de cimento nos vazios das fissuras
Nacional 23 no Japão (Fig.6). meabilidade está apresentado na Fig. das amostras tratadas com o catali-
Foram extraídos testemunhos com 8, na qual se verifica que o grupo das sador cristalino (Fig. 10A). Nas amos-
Ø10 cm x 20 cm de altura do con- amostras tratadas com o catalisador tras não tratadas (Fig. 10B), apenas
creto do pavimento em duas seções, cristalino apresenta um volume inicial a parede do gel pode ser observada.
uma com aplicação do catalisador mais baixo do que as amostras não
cristalino e outra sem aplicação, para tratadas. Nela também se verifica a 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
fins de comparação. Desses testemu- a tendência à diminuição do volume Além das pesquisas recentes aqui
nhos, foram retiradas amostras para de água passante das amostras trata- relatadas que foram conduzidas no
os ensaios de resistência à compres- das, o que evidencia a sua capacida- ITA/CTA, em São José dos Campos/
são axial e ensaios de permeabilidade de de autocicatrização. SP, e das pesquisas no exterior tam-
(Fig. 7). Foram retiradas amostras para mi- bém relatadas, atualmente, no Brasil, o
Os resultados do ensaio de resis- croscopia eletrônica de varredura (Fig. grupo de pesquisa da NORIE/UFRGS
tência à compressão axial mostraram 9), que gerou micrografias com uma vem desenvolvendo estudos sobre
um aumento médio de 28% em rela- ampliação de 1.000 vezes. Pode ser o fenômeno da autocicatrização em
observado um crescimento de cristais matrizes cimentícias desde 2005.

u Figura 9
Amostras para o ensaio de u Figura 10
microscopia eletrônica de Micrografias de cristais nas fissuras tratadas com o catalisador cristalino (A)
varredura (MEV) e apenas a parede do gel nas amostras não tratadas (B)
Fonte: acervo pessoal de Emilio Takagi Fonte: TAKAGI, et al., 1996

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Já existem avanços na pesquisa sobre mais concentrada, que é empregada e validação do plano de concretagem
métodos de ensaio e avaliação da auto- com a metade da dosagem, entre 0,8 e na obra, de modo a ser visível à distân-
cicatrização do concreto nos seguintes 1,0%. Os aditivos cristalinos 3G podem cia, dado que a água de exsudação do
tópicos: avaliação de diferentes tipos ser fornecidos em embalagens de sacos concreto aditivado com aditivo cristali-
de cimento; influência do ambiente de hidrossolúveis para facilitar a mistura no no apresenta uma coloração amarelo
exposição; avaliação do emprego de concreto e minimizar os riscos de erros neon fluorescente.
adições minerais: análise da utilização na dosagem dos caminhões-betoneira Procedimentos de controle de qua-
de aditivos cristalizantes e influência de na usina ou no canteiro de obra. lidade recomendados em obra para a
polímeros superabsorventes (PSA). Pigmentos fotocrômicos – que mu- aceitação e conformidade do concreto
Os aditivos cristalinos são disponíveis dam de cor de forma reversível quando autocicatrizante “engenheirado“ de-
no mercado brasileiro em duas versões: expostos aos raios ultravioletas ou luz vem ser conduzidos seguindo os re-
a versão normal, que é dosada a 2,0% negra – podem ser adicionados ao adi- quisitos técnicos da norma ABNT NBR
sobre o peso de cimento; e a versão tivo cristalino. Isto permite a verificação 12.655: 2015.

u REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] Instituto Brasileiro do Concreto. Manifestação do IBRACON sobre o lamentável acidente na Capital Federal. IBRACON, fevereiro de 2018. Disponível em
http://marketing.arteinterativa.com.br/ver_mensagem.php?id=H|105|252678|149252256388359600.
[2] MAGALHÃES, Catullo P.; FOLLONI, R.; FURMAN, H. Análise da Patologia das Obras de Arte do Município de São Paulo. In: Simpósio Nacional de Reforços, Reparos
e Proteção das Estruturas de Concreto, São Paulo, maio 1989. Anais. São Paulo, EPUSP, 1989, p. 3-17.
[3] TAKAGI, E. et al. Repair of road bridge RC floor slab with advanced cracks from the floor underside. In: 51st Annual Meeting of Civil Engineering Society of Japan.
Tokyo: [s.n.]. 1996. Proceedings… p. 344-345.

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