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4º CONGRESSO LUSO-BRASILEIRO DE

MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEIS


9-11 de novembro de 2022
Salvador, Bahia, Brasil

ADIÇÃO DE AREIA EM SUBSTITUIÇÃO PARCIAL AO CIMENTO EM CONCRETO


PERMEÁVEL

EUGÊNIO L.A. FONSECA1*, CAMILA A.A. ROCHA 2

1: Graduado em Engenharia Civil, Universidade Federal Fluminense


Rua Passo da Pátria 156, São Domingos, Niterói – CEP: 24210-240
eugenioluiz@id.uff.br

2: Departamento de Engenharia Civil, Universidade Federal do Rio de Janeiro


Rua Passo da Pátria 156, São Domingos, Niterói – CEP: 24210-240
camilaabelha@id.uff.br

Resumo. Este artigo objetivou analisar os efeitos da adição de pequenos teores de areia em
substituição ao cimento nas propriedades do concreto permeável. Também foi verificado como esta
troca impactou na emissão dos chamados gases de efeito estufa onde, para isso, utilizou-se um índice
de desempenho ecológico-mecânico que representa a maior ou menor eficiência ecológica em termos
unitários de resistência mecânica. Feita a caracterização dos materiais utilizados (agregado graúdo,
agregado miúdo e cimento), caracterizou-se quanto à resistência à compressão, resistência à tração
indireta e ao módulo de elasticidade as dosagens de referência e as substituições parciais do cimento
por areia. Os casos estudados de substituição foram de 5%, 10% e 20%, que resultaram em perdas
progressivas nas propriedades mecânicas do material, sendo discutido como se relacionam as
substituições com estas propriedades. Foram também analisadas permeabilidade a água e a emissão
de CO2. O que se constatou foi que, à medida que maiores teores de substituição eram utilizados, a
resistência como um todo sofreu redução, indicando pouca ou nenhuma melhora no empacotamento
da mistura. Por outro lado, maiores teores de substituição foram benéficos para a permeabilidade do
material, porém estes estão limitados a valores que não promovam danos à coesão do concreto e,
consequentemente, à sua estrutura.

Palavras-chave: Concreto permeável, Areia, Sustentabilidade, CO 2

Abstract. This article aimed to analyze the effects related to small additions of sand replacing cement
in the properties of pervious concrete. Also was verified how this change has impacted in the emission
of the called green house gases where, for it, has been used a mechanical-ecological efficiency rate
that represents a bigger or smaller ecological efficiency in unitary terms of the mechanical resistance.
After the characterization of the materials (coarse aggregate, fine aggregate and cement), it was done
the characterization related to compression resistance, indirect tension resistance and elasticity module
for a benchmark dosage and for some dosages with partial substitution of the cement by sand. The
studied substitution cases were 5%, 10% and 20%, which resulted in progressive loss of the material ‘s
mechanical properties, being discussed how these substitutions are related to these properties. Also
were analyzed permeability to water and CO2 emission. It was found that as bigger substitutions values
were used, the general resistances are reduced, what indicates few or none enhancement of the mix
packaging. On the other hand, bigger substitution values were beneficial for the material’s permeability,
although them are limited to values that don’t promote damages to the concrete’s cohesion e, therefore,
to its structure.

Keywords: Pervious Concrete, Sand, Sustainability, CO2

ISBN: 978-65-00-55912-5 1255


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9-11 de novembro de 2022
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1. INTRODUÇÃO
A aplicação da tecnologia de concreto permeável vem ganhando destaque ao longo da última década
frente à problemática ambiental causada pelo revestimento de grandes áreas por superfícies
impermeabilizantes. Mudanças em aspectos hidrológicos e fenômenos ligados à variação de
temperatura são ocorrências onde o uso do concreto permeável aparece como solução.
O concreto permeável se difere do concreto convencional por possuir vazios interconectados em seu
interior, permitindo a passagem de água e ar através dele (HAN, ZHANG E OU, 2017). A matriz básica
é composta por pasta de cimento (ou asfalto), agregado graúdo e pouco ou nenhum agregado miúdo.
A pasta de cimento tem função de recobrimento e aglutinação, com fator água/cimento entre 0,28 e
0,40 e graduação descontínua ou uniforme do agregado graúdo. Esse tipo de concreto apresenta entre
15 e 25% de porosidade.
Sua gama de aplicação é imensa, com destaque para a área de estradas, onde sua utilização vai de
elemento para pavimentação e passa pelo caso de elemento drenante ou barreira de ruídos. No geral,
a aplicação como pavimento é a mais usual, sendo comum em residências, espaços urbanos e espaços
recreativos (TENNIS, LEMING E AKERS, 2004).
O concreto permeável traz diversos benefícios para o ambiente onde é aplicado. Além da óbvia
aplicação em sistemas drenantes, tem-se a diminuição das ilhas de calor em centros urbanos, maior
capacidade de filtragem (principalmente a água da chuva, recarregando recursos do solo), absorção
de ruídos e aumento da segurança nas estradas. Entretanto, esta tecnologia apresenta certas
desvantagens, como menor resistência, perda de capacidade drenante por conta da colmatação e
elevado consumo de cimento.
Do ponto de vista ambiental, a aplicação do concreto permeável traz inúmeras vantagens, mas esbarra
com a questão do elevado consumo de cimento. A produção do concreto permeável carrega em si as
emissões de CO2 decorrentes do processo de extração, produção e transporte de seus materiais, onde
há destaque para o cimento. Visedo e Pecchio (2019) salienta que o principal fator que contribui para
que o cimento apresente elevados teores de emissão de carbono referem-se a fase de produção do
clínquer, onde a queima de carbonato de cálcio libera altas quantidades de CO 2. Dessa forma, diminuir
o consumo de cimento em concretos permeáveis é uma estratégia poderosa para torna-lo um material
com maior capacidade de sustentabilidade ambiental.
Vale ainda ressaltar que, no Brasil, só em 2015 a aplicação do concreto permeável foi normatizada com
a NBR 16416 (ABNT, 2015), a qual trata da aplicação de pavimentos permeáveis. Nela são
estabelecidos certos requisitos para o material, tal como resistência e permeabilidade mínimas.
Diversos estudos partiram da variação de certo material na matriz do concreto permeável e
apresentaram como estas alteravam as propriedades do produto final. Shaerfer et al (2006) apresentou
o comportamento de diversas propriedades de concretos permeáveis, como resistência e
permeabilidade, ao alterar a dimensão do agregado graúdo e o tipo, acrescentar areia, látex ou sílica
ativa em substituição parcial ao agregado graúdo e variando a energia de compactação. Menegatti
(2018) ao aumentar o teor de pasta de cimento apresentou um material com maiores resistência à
compressão, resistência à tração e módulo de elasticidade, porém menor permeabilidade. Coelho
(2019) aumentou o diâmetro máximo da brita utilizada, o que se traduziu em manutenção da resistência
mecânica e maior permeabilidade, com alterações desprezíveis na resistência à compressão e no
módulo de elasticidade. Botteon (2017) realizou substituição de 7% da massa da brita por areia, o que
acarretou em maiores resistências à compressão e à tração, mas diminuição da permeabilidade.

ISBN: 978-65-00-55912-5 1256


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A partir dos trabalhos de Botteon (2017) e Shaerfer et al (2006), é conhecido que a utilização de areia
em concreto permeável em substituição ao agregado graúdo aumenta sua resistência
significativamente. No entanto, não há pesquisas que tratem de pequenas substituições do cimento por
agregado miúdo. Sendo assim, aqui se apresenta um estudo que busca compreender os efeitos
decorrentes deste tipo de substituição em concretos permeáveis.
Logo o objetivo desse trabalho é entender como se comportam as propriedades do concreto permeável
(resistência à compressão, resistência à tração indireta, módulo de elasticidade e permeabilidade)
frente a substituições de pequenos teores da massa de cimento por areia, observando também como
tais substituições impactam na pegada de carbono do produto final.

2. MATERIAIS E METODOLOGIA

2.1. Materiais

2.1.1. Agregado graúdo


Adotou-se como agregado graúdo rocha granítica britada (brita), o qual se apresentou na faixa
granulométrica que vai de 4,75 mm a 9,5 mm, com diâmetro máximo do agregado sendo 12,5 mm,
apresentando distribuição uniforme e módulo de finura de 5,83, seguindo a NM 248 (ABNT, 2003). A
massa específica da brita é de 2580 kg/m³ e a absorção é de 1,7%, ambas determinadas pela NM 53
(ABNT, 2009), e compacidade de 0,687. No Gráfico 1 se apresenta a curva granulométrica para o
agregado graúdo.
2.1.2. Agregado miúdo
Adotou-se como agregado miúdo areia natural, cujo diâmetro máximo é de 4,8 mm, se apresenta dentro
da zona ótima e módulo de finura de 2,70, também utilizando a NM 248 (ABNT, 2003). A massa
específica da areia é de 2620 kg/m³ e a absorção é de 0,63%, estas duas determinadas segundo a NM
52 (ABNT, 2009). No Gráfico 1 se apresenta a curva granulométrica para o agregado miúdo.
2.1.3. Cimento
O aglomerante utilizado foi o cimento Portland de Alta Resistência Inicial (CPV-ARI), o qual apresenta
massa específica de 2970 kg/m³, seguindo o procedimento da NBR 16605 (ABNT, 2000). No Gráfico 1
também se apresenta a curva granulométrica para o cimento.

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Gráfico 1 – Curva granulométrica para os materiais particulados

2.1.4. Água
A água utilizada para confecção do concreto advém da rede abastecimento pública de Niterói.

2.2. Dosagem
O procedimento de dosagem buscou otimizar a matriz que compõe o concreto permeável, do ponto de
vista mecânico e, principalmente, ambiental. Como referência, partiu-se de uma dosagem conhecida
(MENEGATTI, 2018) e foi feita a compatibilização dos materiais para este trabalho. A escolha da
dosagem de referência levou em consideração que este atendesse aos condicionantes expostos pela
NBR 16416 (ABNT, 2015) para aplicação de peças de concreto permeável em tráfego leve ou de
pedestres, com resistência mecânica à compressão mínima de 20 MPa e permeabilidade mínima de
0,10 cm/s.
Foram feitas substituições parciais da massa de cimento por massa de areia. A fim de auxiliar na análise
do processo de dosagem, desenvolveu-se o software PyConcreto, uma ferramenta para estudos da
tecnologia de concreto e confecção deste último, criado no Laboratório de Materiais de Construção da
Universidade Federal Fluminense (FONSECA, 2020). Este software foi disponibilizado de forma
gratuita e com código aberto, contando com parte da aplicação voltada para concretos permeáveis.
Partindo de uma dosagem de referência, na coluna referente à substituição do agregado graúdo (coluna
da direita na Figura 193) gerou-se uma dosagem com teor de substituição de 7% por areia (ponto de
partida). Variou-se, para a mesma dosagem de referência, o percentual de substituição de cimento por
areia de forma a encontrar uma dosagem onde a massa do material de substituição (areia, no caso)
fosse semelhante àquela da dosagem tomada como ponto de partida. O resultado foi de19% (coluna
da esquerda na Figura 193).

Figura 193 – Limite de dosagem de substituição. Fonte: Autores (2020)

Tendo em vista a busca realizada, três substituições foram determinadas no PyConcreto para
confecção de concretos permeáveis: 5%, 10% e 20% (limite de substituição considerando a busca
realizada), além do traço de referência. Elas se apresentam na Tabela 93, respectivamente, como TR,
T5, T10 e T20.

ISBN: 978-65-00-55912-5 1258


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Tabela 93 – Traços estudados para o volume de 1m³

Cimento por areia (%) Brita 0 (kg/m³) Cimento (kg/m³) Água (kg/m³) Areia (kg/m³) fa/c
0 1580 563 197 0 0,35
5 1594 540 189 28 0,35
10 1608 516 181 57 0,35
20 1637 467 163 117 0,35

ISBN: 978-65-00-55912-5 1259


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2.3. Confecção dos concretos

O preparo do concreto se deu de duas formas com certas semelhanças, seguindo o procedimento
apresentado por Menegatti (2018). A primeira, para o traço de referência, se deu com a adição da do
agregado graúdo, do cimento e da água (nesta ordem), misturando-se por 180 s na betoneira,
repousando a mistura por 180 s e com nova mistura por 120s. Para os traços de substituição o processo
foi o mesmo, sendo que uma mistura seca do cimento com a areia foi feita previamente em uma
embalagem plástica.

2.4. Caracterização do concreto

2.4.1. Resistência mecânica e módulo de elasticidade

Para cada traço estudado foram confeccionados 8 corpos de prova (4 para resistência a compressão
e 4 para resistência à tração) em moldes metálicos cilíndricos com 100 mm de diâmetro por 200 mm
de altura, tal como se observa na Figura 194. Os moldes metálicos foram preenchidos em três camadas
e compactados em mesa vibratória por 5 s por camada, tal como sugere Botteon (2017).

Figura 194 – Corpos de prova para ensaio de resistência mecânica e módulo de elasticidade.
Fonte: Autores (2020)

Ao final da moldagem, os corpos de prova foram cobertos por filme plástico para realização de cura ao
ar por 24 h sem que houvesse perda de umidade para o ambiente. Ao fim desse período, foi feito o
desmolde dos corpos de prova, levando-os para cura úmida em solução de água saturada com cal por
6 dias até o momento do ensaio.

Para o ensaio de resistência à compressão uniaxial foi realizado o capeamento dos corpos de prova
utilizando uma mistura de cinzas volante com enxofre na proporção 1:3, levada ao ponto de fusão.

Os ensaios de resistência mecânica foram o de compressão uniaxial e o de tração indireta por


compressão diametral. Para este primeiro, seguiu-se o que determina a NBR 5739 (ABNT, 2018), na
idade de 7 dias (fc7). A resistência aos 28 dias (f c28) foi estimada a partir da equação apresentada pela
NBR 6118 (ABNT, 2014) em seu item 12.3.3 para concreto convencional.

ISBN: 978-65-00-55912-5 1260


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Juntamente do ensaio de compressão uniaxial determinou-se o deslocamento linear dos corpos de


prova utilizando, para tal, o Linear Variable Differental Transformer (LVDT). Com a aplicação de tal
dispositivo pode-se obter a curva tensão versus deformação e, posteriormente, o módulo de
elasticidade (E). Este último foi determinando segundo a ASTM C469 (ASTM, 2014), utilizando a
equação (1).

𝜎 −𝜎 (20)
𝐸= 𝑥1000
𝜀 −𝜀

Onde σ2 é a tensão correspondente a 40% da tensão máxima atingida pelo concreto, dado em MPa;
σ1 é a tensão cujo correspondente é a deformação axial ε1; ε2 é a deformação axial que corresponde
ao valor da tensão σ2, dado em μe e ε1 é a deformação axial determinada por norma que vale 50 μe. A
configuração deste ensaio é observada na Figura 195.

Figura 195 – Corpo de prova no ensaio de compressão uniaxial. Fonte: Autores (2020)

Para o ensaio de resistência a tração(f ct,sp) indireta por compressão diametral seguiu-se o exposto na
NBR 7222 (ABNT, 2011). O valor desta propriedade mecânica é dado pela equação (2).

2000 (21)
𝑓 , =
𝜋𝐷ℎ

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2.4.2. Permeabilidade

Para o ensaio de permeabilidade foram confeccionados 4 corpos de prova para cada mistura em
moldes de PVC com 100 mm de diâmetro e de altura. Os moldes de PVC foram preenchidos em duas
camadas e compactados em mesa vibratória por 5 s por camada. Os moldes de PVC foram limitados
superior e inferiormente por placas de vidro por 24 h a fim de ser feita a cura ao ar. Após esse período,
as placas foram retiradas e os corpos de prova foram levados para cura úmida em recipiente contendo
água saturada com cal, sendo retirados apenas no momento do ensaio. Para tal, foi utilizado um
permeâmetro de carga hidráulica constante. O equipamento em questão consiste de um reservatório
de água com extravasor (a fim de manter o nível interno de água constante); um sistema de luvas que
permita o encaixe do molde de PVC contendo o corpo de prova; dois registros (um a montante e outro
a jusante do corpo de prova) para controlar o fluxo de água e uma mangueira flexível de extremidade
não fixa que permite regular a altura da saída da água.

No ensaio de permeabilidade se determina o coeficiente de permeabilidade (k) pela Lei de Darcy,


manipulada algebricamente para se ter a equação (22):

4𝑉𝐿 (22)
𝑘=
𝜋𝑑²ℎ𝑡

Onde a distância vertical (h) é a diferença entre o nível de água constante no reservatório e o nível de
saída determinado pela posição da extremidade da mangueira. A altura (L) e o diâmetro (d) são
referentes às propriedades geométricas das amostras sendo ensaiadas. O volume do recipiente (V) é
conhecido e o tempo médio (t médio) é obtido a partir do registro de tempo necessário para encher este
recipiente por cinco vezes.

2.4.3. Emissão de CO2

Para se calcular as emissões de CO2 para cada traço confeccionado, estabeleceu-se a quantidade de
CO2 característica do processo de obtenção e transporte individualmente de cada material que compõe
o concreto permeável.

Para o CP-V, o fator de emissão foi retirado do Inventory of Carbon and Energy (ICE database) (JONES,
2019) e tem valor de 910 kgCO 2/tcimento. Os fatores para os agregados foram obtidos do trabalho de
Santoro e Kripka (2016), onde se tem 4,59 kgCO 2/tagregado para brita e 27,4 kgCO 2/tagregado para a areia
natural. Por último, o fator de emissão para água também foi retirado do ICE database e tem o valor de
0,34 kgCO2/tágua.

Para cada traço de estudo, as massas individuais dos materiais foram convertidas para tonelada e
multiplicadas pelos seus respectivos fatores de emissão, somando-se estes valores para se obter a
emissão de CO2 por metro cúbico de concreto permeável. Este é admitido como um índice local de
emissão de CO2.

Ao se realizar a divisão da massa de CO 2 emitida por cada traço pela resistência à compressão dele,
tem-se uma razão que trabalha como indicador de desempenho ecológico-mecânico do material. Este
é admitido como um índice global de emissão de CO 2.

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3. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

3.1. Resistência à compressão e módulo de elasticidade

A Tabela 2 conta os resultados médios para a resistência à compressão uniaxial aos 7 dias, o desvio
padrão e a estimativa de resistência aos 28 dias para cada traço de estudo, bem como os valores
médios para módulo de elasticidade obtidos.
Tabela 94 – Resultados para o ensaio de compressão uniaxial e módulo de elasticidade

Resistência à compressão (MPa) Módulo de elasticidade


Traço
7 dias 28 dias Desvio
Módulo de
Padrão
Média Desvio padrão Média elasticidade (GPa)
TR 18,6 4,6 22,7 14,2 0,49
T5 16,9 4,1 20,7 13,7 3,06
T10 15,0 2,46 18,3 14,1 2,96
T20 8,4 1,60 10,3 13,2 2,58

Realizando a análise de variância pelo Teste F para a resistência à compressão, adotou-se um nível
de significância de 0,05 (que retorna um intervalo de confiabilidade de 95%), do qual se estabeleceu
um F crítico de 3,49 (NIST/SEMATECH, 2003). A análise retornou um valor F de 6,854, superior ao
valor crítico e que indica que há divergências entre os grupos estudados. Aplicando o Teste de Tukey,
observou-se que não há divergência entre TR e T5, mas que T20 é o traço divergente dos demais.
Outra constatação realizada é a de que T10 se aproxima mais das pequenas substituições. No geral,
a substituição, em pequenos teores, não é fator significante na propriedade de resistência à
compressão, embora em valores maiores se observe efeitos deletérios.
Realizando a análise de variância para o módulo de elasticidade pelo Teste F, adotou-se também um
nível de significância de 0,05 (que retorna um intervalo de confiabilidade de 95%), do qual se
estabeleceu um F crítico de 3,584 (NIST/SEMATECH, 2003). A análise retornou um valor F de 0,119,
inferior ao valor crítico. Estatisticamente isso se traduz na não ocorrência de variação do módulo de
elasticidade por conta das substituições realizadas. Ou seja, o impacto da substituição é, para o módulo
de elasticidade, desprezível.

3.2. Resistência à tração indireta

A Tabela 3 apresenta, para cada traço de substituição e para o traço de referência, o resultado médio
da resistência à tração indireta por compressão diametral aos 7 dias, o desvio médio e a relação entre
as resistências a tração e compressão.

Tabela 95 – Resultados para resistência à tração indireta

Resistência à tração Desvio Relação resistência


Traço
indireta (MPa) Padrão tração/compressão (%)

TR 1,65 0,21 8,84%

ISBN: 978-65-00-55912-5 1263


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T5 1,93 0,19 11,39%


T10 1,63 0,12 10,90%
T20 0,90 0,19 10,7%

Realizando a análise de variância pelo Teste F, adotou-se um nível de significância de 0,05, do qual se
estabeleceu um F crítico de 3,587 (NIST/SEMATECH, 2003). A análise retornou um valor F de 21,583,
indicando que há divergências entre os grupos estudados. Aplicando o Teste de Tukey, observou-se
que não há divergência entre os grupos TR, T5 e T10, mas que T20 é o traço divergente dos demais.
Tal como na resistência à compressão, a substituição em pequenos teores não é fator significante na
propriedade de resistência à tração indireta.

O efeito de substituições da massa de cimento por areia em teores superiores a 10% se mostrou
excessiva, impactando negativamente sobre as propriedades mecânicas do material. Se infere que a
ligação propiciada pela pasta de cimento começou a sofrer com a inclusão de areia, onde houve perda
de contato resistente entre os agregados graúdos revestidos.

No geral, tem-se para todos os traços uma razão entre resistência à tração e resistência compressão
próxima aos 10%, valor usual encontrado em diversas literaturas.

3.3. Permeabilidade

A Tabela 4 apresenta o coeficiente de permeabilidade médio para cada um dos traços de estudo, bem
como o desvio padrão. Para todos os casos se verifica que o material cumpre com o requisito de
permeabilidade estipulado pela NBR 16416 (ABNT, 2015), onde para revestimentos permeáveis recém-
construídos deve-se ter o coeficiente de permeabilidade igual ou maior a 10-3 m/s (0,1 cm/s).
Tabela 96 – Resultados para coeficiente de permeabilidade

Coeficiente de permeabilidade Desvio


Traço
médio (cm/s) padrão
TR 0,19 0,01
T5 0,21 0,04
T10 0,37 0,02
T20 0,50 0,03

Realizando a análise de variância pelo Teste F, adotou-se um nível de significância de 0,05, do qual se
estabeleceu um F crítico de 3,49 (NIST/SEMATECH, 2003). A análise retornou um valor F de 113,9,
superior ao valor crítico e que indica que há divergências entre os grupos estudados. Aplicando o Teste
de Tukey, observou-se que não há divergência entre TR e T5, mas que há divergência destes para os
traços TR10 e TR20, bem como há divergência entre estes dois últimos.

Na medida em que se elevam os teores de substituição, os traços apresentaram alguma melhoria nas
condições de permeabilidade do elemento, indicando que a interação pasta-agregado miúdo, ao alterar
o esqueleto do material, acabou por aumentar a capacidade de percolação de água. Esta modificação
observada no esqueleto do material é a elevação do índice de vazios neste, traduzido na elevação da
porosidade como um todo.

Logo, é mais comum que haja uma efetiva ligação entre estes poros e, por consequência, a elevação
da permeabilidade. Entretanto, estes mesmos poros são defeitos induzidos no material, o que impacta
na resistência deste, tal como observado em seções prévias relacionadas a esta propriedade.

ISBN: 978-65-00-55912-5 1264


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3.4. Emissão de CO2

Como exposto previamente, o cálculo de emissões de CO 2 partem da confecção de 1 m³ de concreto


permeável para cada traço de estudo. A Tabela 5 apresenta as emissões individuais dos materiais em
cada traço e o total de emissão deste último.

Tabela 97 – Emissão de CO2 para cada traço

kgCO2/m³
Material
TR T5 T10 T20
Cimento 512,7 491,3 469,6 424,8
Brita 7,3 7,3 7,4 7,5
Areia 0 0,8 1,6 3,2
Água 0,1 0,1 0,1 0,1
Total 520 499,5 478,6 435,6

O que se observa é que, localmente, as emissões de CO 2 caem linearmente com as substituições.


Dessa forma, quanto maior o teor de substituição, maior é o ganho ecológico relativo ao TR. Ou seja,
a estratégia de substituição do material cimento é aquela onde há maior efetividade do ponto de vista
de redução do impacto ambiental relacionada a emissão de CO 2.

Para se analisar globalmente as emissões de CO2, gerou-se o Gráfico 2, onde se relaciona o índice de
desempenho ecológico-mecânico (a razão de emissão) com as substituições. Sob esta óptica, se
observa que o melhor desempenho geral recai sobre TR que, embora localmente apresente maior
emissão, possui também maior resistência mecânica, tornando-o globalmente eficiente. Teores
elevados de substituição levam a perdas elevadas da eficiência do material.

Gráfico 2 – Razão de emissão versus teores de substituição

ISBN: 978-65-00-55912-5 1265


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Notou-se a partir dos dados experimentais que, embora houvesse proporcionalidade da queda de
emissão de CO2 devido à substituição, é a perda de resistência que ditava o rumo da razão de emissão,
a qual também se relaciona com os teores de substituição. Isso é, a variável substituição influencia
diretamente (emissão de CO 2) e também inversamente (resistência à compressão) na razão de mistura,
com a sensibilidade do indicador caindo quase que totalmente neste segundo. Ainda que interessantes
do ponto de vista da emissão local, as substituições por areia perdem a eficiência.

ISBN: 978-65-00-55912-5 1266


4º CONGRESSO LUSO-BRASILEIRO DE
MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEIS
9-11 de novembro de 2022
Salvador, Bahia, Brasil

4. CONCLUSÕES

A partir de um traço de referência para a confecção de concreto permeável criou-se uma estratégia de
substituição parcial do material com maior potencial poluente (no caso, o cimento) por um de potencial
poluente muito menor (neste caso, a areia). Resistência mecânica e permeabilidade foram ensaiados
para os quatro casos de estudo observando-se de forma particular o cumprimento dos pré-requisitos
estabelecidos pela NBR 16416 (ABNT, 2015). Em conjunto, foi feita a análise da emissão de CO 2
associada a cada dosagem de estudo.

Feito o tratamento dos dados obtidos, algumas observações são notórias:


• O tratamento estatístico mostrou que não há variação nas propriedades ensaiadas para TR e
T5. Isso implica que pequenos valores de substituição (em ordem próxima a 5%) não impacta
nas propriedades do concreto permeável;
• O processo de substituição de cimento por areia leva a reduções da resistência à compressão
e resistência à tração indireta, superando o efeito esperado de ganho de resistência observado
em outros trabalhos ao ser feita a inclusão de areia ao concreto permeável;
• A substituição de parte do cimento pela areia não provocou alteração no módulo de elasticidade
do produto gerado;
• Maiores valores de substituição contribuíram para o aumento da permeabilidade do material;
• As substituições, conforme os teores aumentavam, diminuíram o valor embutido de CO 2 do
material. Porém o indicador que racionaliza a emissão de gás carbônico pela resistência
unitária aponta o caminho inverso e
• O índice de desempenho ecológico-mecânico traduz um limiar de valores de substituição,
consolidando um modelo que virtualiza o ponto onde teores superiores de substituição não
levam a um sistema coeso.
Embora o índice de desempenho aponte que a ausência de substituição seja o valor que minimiza
emissões, verificou-se que pequenas substituições trabalharam no sentido de diminuir o embutimento
de CO2 no produto final. Como o tratamento estatístico mostrou, as principais propriedades não
variaram para este caso, o que gera como benefício direto a possibilidade de um menor consumo de
cimento e outros benefícios indiretos decorrentes deste primeiro.

ISBN: 978-65-00-55912-5 1267

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