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Vitória
2022
RONEI DE ALMEIDA ARAGÃO
Vitória
2022
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
CDD 21 – 620.11
COMISSÃO EXAMINADORA
AGRADECIMENTOS
Figura 50 – Módulo de perda dos compósitos SMC com diferentes cargas .. 116
Figura 51 - Tan δ dos compósitos SMC com diferentes cargas ..................... 116
Figura 52 – Picos tan δ posicionados em relação a uma mesma linha de base
....................................................................................................................... 117
Figura 53 - Resistência ao impacto dos compósitos SMC ............................. 121
Figura 54 – Mecanismo de aumento da resistência ao impacto dos compósitos
SMC em função das cargas minerais. a) formulação contendo partículas
quebradiças na forma de HGM; b) formulação com partículas mais finas; c)
formulação de partículas rígidas mais grossas. ............................................ 123
AF – Anidrido ortoftálico
AM – Anidrido maleico
EG – Etileno glicol
Na(AlSi2O6)H2O – Analcime
PAAm – Poliacrilamida
PG – Propileno glicol
PMMA – Polimetilmetacrilato
PP – Polipropileno
Ps – Probabilidade de ocorrência de sítio
TDA – Tereftal-di-amida
G* - Módulo complexo
𝜂∗ - Viscosidade complexa
𝜂𝑟 – Viscosidade relativa
tan δ – Tangente de δ
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................... 22
2 OBJETIVO ........................................................................................... 24
1. INTRODUÇÃO
parâmetros de processo, sendo que o próprio processo pode variar em função das
cargas. Apesar disso, muitos trabalhos que lidaram com o SMC tenderam a avaliar
separadamente os efeitos das cargas ou de um aspecto operacional sobre as
propriedades finais do material. Torna-se, portanto, necessário um melhor
entendimento da relação processo-propriedade para formulações específicas de
compósitos SMC, especialmente em função da adição de diferentes cargas
particuladas.
Assim, este trabalho objetiva a avaliação do efeito de cargas, na forma de dois
carbonatos de cálcio de diferentes granulometrias e HGM, sobre as fases de
espessamento e cura das pastas SMC, e o efeito conjunto da carga, espessamento e
cura das pastas sobre as propriedades mecânicas dos compósitos SMC finais.
24
2. OBJETIVO
Obter pastas, em um misturador mecânico com haste Cowles, a partir das formulações
com as diferentes cargas e a mistura comercial de resinas poliéster insaturada,
composta por 50% de resina poliéster insaturada isoftálica oriunda de PET reciclado;
3. REVISÃO DE LITERATURA
Um compósito polimérico pode ser definido como um material de pelo menos duas
fases distintas; a fase contínua, ou matriz, é necessariamente um polímero
(geralmente termoplástico ou termorrígido), que recebe uma fase dispersa, ou carga,
gerando assim uma combinação única de propriedades, que não pode ser obtida
através dos materiais constituintes isoladamente (LEVY; PARDINI, 2006).
A seleção de uma carga deve ser um procedimento estudado segundo fatores como
custo, pureza, densidade, interações de superfície, dureza, abrasividade,
propriedades ópticas, propriedades térmicas e morfologia. No processo SMC, as
cargas minerais geralmente são selecionadas e incorporadas à resina poliéster
insaturado para desempenharem função de carga de enchimento, mas podem
apresentar alguma propriedade de reforço em proporção direta com o volume fracional
incorporado (ROTHTON, 2003). No caso da resina poliéster insaturado, o principal
efeito da incorporação das cargas minerais é o aumento de sua viscosidade.
a) b)
c)
Resistência Módulo
Densidade Diametro Elongação
Nome à Tração de Young
(g/cm³) (µm) (%)
(MPa) (GPa)
E-glass 2,60 <17 3400 73 3,4
S-glass 2,50 - 4580 85 4,6
Aramida 1,40 12 300 124 2,5
Carbono HS 1,80 8 2550 200 1,3
Carbono PAN 1,40 - 4000 230-240 1,4-1,8
Fonte: adaptado de Sanjay et. al. (2018)
Existe, ainda, uma variedade de fibras de vidro (Tabela 2), tal que determinado tipo
possa ser adequado em função da solicitação à qual o compósito será submetido. Por
exemplo, o E-glass é apropriado para utilização em compósitos que precisam de alta
resistência mecânica e resistividade elétrica; AR-glass apresenta alta resistência ao
ataque alcalino; S2-glass apresenta os maiores valores de resistência à tração e
módulo, sendo ideal para fabricação de peças de alto desempenho mecânico; C-glass
possui alta resistência à corrosão, podendo ser utilizado na fabricação de peças
sujeitas à intempéries (SATHISHKUMAR; SATHEESHKUMAR; NAVEEN, 2014).
34
nome sugere, é o estado mais denso do sólido granular, e pode ser obtido pelos
diversos meios de adensamento mecânico (e.g. impacto, compressão, vibração). Já
o empacotamento aleatório solto pode ser entendido como o empacotamento
apresentado pela carga em situação de manuseio e transporte. Para esferas
monodispersas, os fatores de empacotamento aleatórios denso e solto são de
aproximadamente 0,64 e 0,60, respectivamente, e podem ser obtidos segundo a razão
entre a densidade aparente e real do sólido granular (ROTHTON, 2003). A densidade
real do sólido granular pode ser obtida experimentalmente por picnometria, e
representa a densidade excluindo-se o volume de vazios (RUEDA et. al., 2017).
O composto é dosado por duas caixas, que permitem seu escoamento e deposição
segundo uma espessura desejada. O material depositado é conduzido por filmes de
termoplástico, enquanto fibras de vidro picadas são dispersas sobre o composto a
taxas específicas. Em seguida, rolos compressores promovem a impregnação das
fibras pelo composto, gerando assim um compósito, chamado folha de moldagem por
compressão. Esta, por sua vez, é submetida ao processo de espessamento, que
consiste no aumento da viscosidade do sistema, em um ambiente de temperatura
controlada, para se atingir uma faixa de viscosidade de 30.106 a 50.106 cP. Nesta
faixa, espera-se que o arrasto das fibras de vidro ocorra concomitante ao escoamento
da matriz, evitando assim uma separação de fases indesejável.
3.5.1.1. Espessamento
MgO, pelo meio reacional, de modo a proporcionar uma reação ácido-base entre o
óxido e as terminações hidroxila do poliéster, produzindo um sal básico, e depois, um
sal neutro (carboxilato de magnésio) de alta massa molecular (reações 1 e 2 na Figura
8 - a) com liberação de moléculas de água. Em função do aumento de massa
molecular proporcionado pelas reações, as cadeias tendem a apresentar uma
conformação mais enovelada, aumentando a viscosidade da resina poliéster
insaturado.
3.5.1.2. Cura
A cinética de cura de pastas SMC pode ser estudada via Calorimetria Diferencial
Exploratória (DSC), conforme descrito em Bistac (1999). Neste estudo, amostras de
pastas SMC de 15 a 30 mg, sem reforço em fibra de vidro, foram analisadas antes do
processo de moldagem por compressão, responsável por promover a reticulação das
folhas SMC. A varredura abrangeu as temperaturas de 20 a 200 °C, a uma taxa de 10
°C/min. O resultado foi um pico exotérmico, que é atribuído à copolimerização da
resina poliéster insaturado com o monômero de estireno na qual está diluída. Este é
o mecanismo que promove a cura do material. A autora reporta que a polimerização
inicia a uma temperatura de 110 ºC, e tem sua temperatura máxima em 134 ºC, com
uma duração total de 4 minutos. Sugere-se que as condições apropriadas para
promover a cura completa do material são 140 ºC e 4 minutos. A autora explica que,
durante o processo de moldagem por compressão, as folhas são cortadas, medidas e
colocadas dentro de um molde, e depois são submetidas à pressão de 100 bar. Se as
44
Kwon et. al. (2006) estudaram as propriedades térmicas e viscoelásticas, via DMA, de
epóxi reforçado com sílica, curado a frio, em função do fenômeno de empacotamento
de partículas. Todas as formulações foram obtidas com frações volumétricas de
sólidos fixas em 30%, e variou-se apenas as classes de partículas da distribuição
bimodal em função de seus tamanhos médios, de modo a obter-se misturas de classes
cujas razões de diâmetros de partículas pequenas para grandes variassem entre 0 e
1, denominado razão de composição. Relacionou-se os resultados experimentais de
DMA com as Tg para diferentes formulações e ao empacotamento de partículas.
Assim, para as formulações com maiores parcelas de partículas pequenas, ou seja,
maior razão de composição, os valores de Tg foram deslocados para temperaturas
menores em função da maior possibilidade de interação partícula-partícula causado
pela proximidade entre elas.
Lee et. al. (2015) estudaram o efeito de diferentes carbonatos de cálcio sob as
propriedades mecânicas de compósitos SMC. Os corpos de prova foram obtidos com
incorporação de carbonatos de cálcio com diferentes granulometrias. Os compósitos
foram obtidos com 60%vol de cada carbonato, sem adição de reforço na forma de
fibras, e curados a temperaturas de 220 – 225 °C e pressão de 4 MPa. Considerando
os desvios das formulações, observa-se que os resultados de resistência à flexão são
iguais, salvo uma diferença entre formulações SSM-50 e SSM-100. Os autores
atribuíram tal efeito à diferença da distribuição de tamanhos de partículas dos
47
carbonatos utilizado nas formulações. Observou-se que o efeito das cargas minerais
sobre as propriedades mecânicas dos compósitos foi de aumento da resistência à
flexão, quanto menor o d50 da distribuição de tamanhos, e maior a área superficial da
carga. Também foi reportado que a temperatura de moldagem por compressão variou
significativamente em função da área superficial das cargas presentes, sendo um fator
limitante para o processamento adequado dos compósitos. Os autores sugeriram que
os efeitos verificados para cargas, especialmente as de menor d50, seja o de
empacotamento de partículas, no qual partículas menores se empacotam nos
interstícios de partículas maiores, possibilitando assim maior densificação matriz,
portanto, aumentando sua rigidez e viscosidade.
Han e Lem (1983a) estudaram o efeito sob a viscosidade de diferentes cargas, com e
sem tratamento superficial, suspensas em resina poliéster insaturado. Assim, as
suspensões foram obtidas com a incorporação de CaCO3 de diferentes tamanhos
médios de partículas (3 e 6,5 µm), argila e fibras de vidro picadas (E-glass) à resina
51
partículas, denominados “sítios”, possam ser interligadas por “pontes”. No caso das
pastas SMC em espessamento, as referidas pontes são cadeias poliméricas
enoveladas e parcialmente adsorvidas à superfície das partículas. Cada sítio possui
certa probabilidade de ocorrer, ou seja, de ser preenchido por uma partícula, e cada
ligação possui certa probabilidade ocorrer também. Assim, para uma carga (ou
mistura de cargas), existe uma chance para que ocorra a formação de aglomerados
de partículas sem pontes, de modo que quanto menor a distância entre as partículas,
maior as chances de formação de aglomerados, tal que a distância entre partículas é
uma função do empacotamento de partículas. No entanto, tratando-se de sistemas
em que há partículas suspensas em polímeros, nos quais há a possibilidade de
adsorção de novelos de cadeias na superfície das partículas, existe também uma
probabilidade de formação de aglomerados por pontes poliméricas. Nestes casos, a
chance de formação de pontes poliméricas é uma função da massa molecular do
polímero da suspensão e do empacotamento de partículas. Para Otsubo (1994), o
diagrama de probabilidades críticas para as quais há formação de aglomerados em
uma suspensão foi para um sistema composto de sílica (20 nm) em PAAm
(5x106g/mol). No entanto, sugere-se que seja possível montar um diagrama como tal
para qualquer suspensão polimérica, inclusive, pastas SMC.
Kaully et. al. (2007) estudaram o efeito de carregamento de carbonato de cálcio nas
propriedades reológicas de compósitos polidimetilsiloxano (PDMS). Os autores
trabalharam com diferentes formulações, com razões de 0, 30, 50, 70 e 100% de
partículas grandes (d50 = 23 µm) para pequenas (d50 = 2,1 µm). Demonstrou-se que
o módulo de elasticidade foi o parâmetro mais afetado pela distribuição de partículas,
de modo que o valor mínimo do módulo de elasticidade foi obtido para a formulação
com 70% de partículas grosseiras, cuja suspensão em PDMS também apresentou a
menor viscosidade entre as formulações. Verificou-se também que a menor
viscosidade da suspensão diminui o módulo de elasticidade após a cura. Justificou-se
que quando a distância média entre partículas é menor ou igual a um limite, existirá
tensão de cisalhamento entre partículas vizinhas, que tenderão a se conectar com
outras regiões de concentração de tensão. Estes veios de transmissão de tensão
ocorrem por efeito de percolação, cujo efeito é percebido como o aumento do módulo
elasticidade. Já, nos casos de distribuições de tamanhos multimodais, tende-se a
favorecer o empacotamento de partículas mais eficiente, cujo efeito causa aumento
53
Kiehl et. al. (2012) estudaram a viscosidade de pastas SMC após incorporação de
carga mineral (CaCO3) em até 60% em volume. Análise granulométrica de CaCO3 foi
obtida por espalhamento de luz, em que se verificou uma distribuição bimodal de
tamanhos de partícula. Observou-se que a maior parte das partículas possuem
tamanho na faixa de 0,6 e 10 µm, e outra parcela menor na faixa de 20 a 40 µm. Os
autores sugeriram que as faixas de tamanhos maiores possam ser de aglomerados
de partículas. Adicionou-se carbonato de cálcio à resina poliéster insaturada e mediu-
se a viscosidade das suspensões (pastas SMC) até atingir o limite superior de 40.000
cP, conforme convencionado pela indústria SMC. Utilizou-se um viscosímetro
Brookfield DV-II Pro. Nas formulações contendo 0, 10, 20, 30, 40 e 50 % de carga,
verificou-se um aumento moderado de viscosidade, indo de 2000 cP com 0% de carga
para 10.000 cP com 50% de carga; de 50% para 60%, verificou-se um aumento
brusco, para 40.000 cP. Argumentou-se que tal comportamento tenha sido decorrente
de maior atrito entre as partículas em suspensão, conforme sua concentração
aumenta no fluido, que é então percebido como um aumento de viscosidade. Os
54
autores concluíram que o limite de 50% de carga não deve ser ultrapassado na etapa
de preparo das pastas SMC, pois a elevada viscosidade pode prejudicar o fluxo da
pasta pelo maquinário, e pode prejudicar o molhamento das fibras de vidro pela pasta.
Além disso, o autor estudou o efeito do espessamento sobre a cura dos compósitos.
Foram preparados compósitos com e sem conteúdo de carbonato de cálcio, que foram
submetidos a diferentes tempos de espessamento antes de serem curados.
56
4. MATERIAIS E MÉTODOS
4.1. MATERIAIS
Temperatura de
ºC 210 230 ASTM D2471
Exotermia
Dureza Barcol 40 ASTM D2583
Resistência à flexão MPa 70 ASTM D790
Módulo à flexão GPa 3,95 ASTM D790
Elongação à flexão % 1,70 ASTM D790
Resistência à tração MPa 40 ASTM D638
Módulo à tração GPa 3 ASTM D638
Elongação à tração % 1,3 ASTM D638
Temperatura de
ºC 190 220 ASTM D2471
Exotermia
Dureza Barcol 48 ASTM D2583
Resistência à tração MPa 60 ASTM D638
Módulo à tração GPa 3,5 ASTM D638
Elongação à tração % 3 ASTM D638
Microesferas de vidro ocas (HGM) são identificadas neste estudo como a carga
sintética. As HGM possuem uma densidade real de 0,46 g/cm³ e d50 de 20 µm. As
cargas foram utilizadas conforme recebidas.
4.2. MÉTODOS
Caracterização: Caracterização:
MEV; Misturador mecânico com Viscosidade inicial;
TGA; haste tipo Cowles Espessamento
DRX;
Análise
Granulométrica
Obtenção das pastas SMC
Caracterização:
Obtenção dos compósitos • DSC;
SMC
• TGA;
• Espessamento;
• Viscosidade inicial.
Moldagem por
compressão • Ensaio de tração;
• Análise dinâmico-mecânica
(DMA);
Caracterização dos • Dureza Barcol;
compósitos SMC
• Microscopia óptica.
60 40 - - C1
60 - 40 - C2
60 20 20 - C1C2
60 32 - 8 C1HGM
60 - 32 8 C2HGM
Fonte: Autor (2021).
62
Para obtenção dos compósitos, foi repetido o procedimento de obtenção das pastas.
As pastas foram misturadas ao agente espessante (suspensão de MgO) e postas
manualmente sobre a máquina de SMC nos respectivos boxes, e recebeu conteúdo
de cargas de reforço na forma de fibras de vidro picadas e distribuídas aleatoriamente.
O volume de fibras foi formulado para as especificações de um compósito SMC
estrutural da Novapol, e foi o mesmo para todas as formulações.
Formulação Dias
C1 1
C2 1
C1C2 1
C1HGM 5
C2HGM 5
Fonte: Autor (2021).
63
A distribuição de tamanhos de partículas das cargas (C1, C2 e HGM) foi obtida por
espalhamento de luz em um equipamento Malvern Instruments Mastersizer 2000. Os
ensaios foram feitos no Laboratório de Oceanografia Geológica da UFES, campus
Goiabeiras.
O mesmo procedimento foi realizado para uma formulação de controle, sem conteúdo
de cargas, contendo a mistura de resina poliéster insaturado e agente espessante.
4.2.3.4. Espessamento
O mesmo procedimento foi realizado para uma formulação de controle, sem conteúdo
de cargas, contendo a mistura de resina poliéster insaturado e agente espessante.
(a) (b)
O procedimento utiliza uma galga (Figura 13) com graduação em escala Hegman (0
a 8) e uma equivalência em micrometros. Uma pequena quantidade de pasta foi
colocada sobre a galga, e com a ajuda de uma lâmina posicionada
perpendicularmente à superfície da galga, a amostra foi espalhada seguindo o sentido
decrescente da escala Hegman. O grau de dispersão é o valor na escala Hegman
correspondente ao ponto imediatamente anterior à primeira falha de espalhamento de
pasta na galga (Figura 14). O procedimento foi realizado no Laboratório de Pesquisa
e Desenvolvimento da Novapol, em conformidade com a ASTM D 1210 (2014).
Micrografias das cargas (C1, C2 e HGM) foram obtidas via Microscopia Eletrônica de
Varredura em uma Zeiss EVO MA10, no Laboratório de Microscopia Eletrônica e
Microanálise do IFES campus Vitória. O equipamento operou a uma voltagem de 30
kV, e as amostras foram analisadas como recebidas.
5. RESULTADOS E DISCUSSÕES
5.1.1. Composição
600
500
400
Intensidade (u.a.)
300
200
100
0
5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 74 79 84 89
2θ
8000
c a c - CaCO3
7000 a - analcite
s - SiO2
6000
Intensidade (u.a.)
5000
4000
3000
2000
a cc
1000 c c
c c
s c cc cc cs
0
20 30 40 50 60 70
2θ
4500
c b c - CaCO3
4000 d - CaMg(CO3)2
s - SiO2
3500
3000
Intensidade (u.a.)
2500
2000 d
1500
1000
c c c cc
c d d
500
d s d dd c c cc
s
0
20 30 40 50 60 68
2θ
quartzo. Já em C2, pode-se observar picos de difração em 2θ de 31, 37, 41, 44, 50 e
51, que indica a presença de dolomita, que é uma substância comumente encontrada
com a calcita, em função das características geológicas das rochas de origem, seja
na forma de calcário ou mármore.
que esta diferença possa estar relacionada com os teores de SiO2 presentes nos
carbonatos C1 e C2.
a) b)
c)
Sabe-se que aditivos possuem distribuições de tamanhos, gerado por fatores como o
processo de cominuição das rochas de origem, como no caso dos carbonatos. Assim,
para um aditivo, pode-se obter a distribuição de tamanhos de partículas, por técnicas
como peneiramento ou espalhamento de luz. As Figuras 23 e 24 são as curvas
referentes à distribuição de tamanhos de partículas e o volume cumulativo do diâmetro
passante, respectivamente. A partir das curvas, foram tabelados os valores para cada
carga referentes ao diâmetro médio passante (d50), a moda (ou pico) e a área
superficial das cargas (Tabela 8).
79
C1 C2 HGM
35
30
Volume Fracional (%)
25
20
15
10
0
0,0 0,4 0,7 1,4 2,8 5,6 11,3 22,5 45,0
Diâmetro (µm)
C1 C2 HGM
100
90
80
Volume Cumulativo (%)
70
60
50
40
30
20
10
0
0,0 0,4 0,7 1,4 2,8 5,6 11,3 22,5 45,0
Diâmetro (µm)
Portanto, o valor de 0,3 m²/g em área superficial das HGM também é indicativo da
predominância de partículas grandes na distribuição.
40000
35000
25000
20000
15000
10000
5000
0
C1 C2 C1C2 C1HGM C2HGM Resina Pura
Figura 26 – Fineza Hegman (a) e diâmetro de aglomerado equivalente (b) das pastas
SMC.
a b
Diâmetro Médio (µm)
8,00 50
40
Fineza Hegman
6,00
30
4,00
20
2,00
10
0,00 0
C1 C2 C1C2 C1HGM C2HGM C1 C2 C1C2 C1HGM C2HGM
Com base em estudos viscosimétricos de cargas em suspensão (KIEHL, et. al., 2012;
LEE et. al., 2015), tem-se que cargas com maior área superficial apresentam maior
viscosidade, considerando as mesmas quantidades de carga. No entanto, verifica-se
que a pasta C1 possui uma viscosidade maior do que C2, sendo que a maior área
superficial dentre as cargas é de C2, conforme a Tabela 8. Isto sugere que o
comportamento relacionado com viscosidade das pastas SMC não pode ser explicado
somente com o parâmetro área superficial; de fato, o comportamento das pastas pode
assemelhar-se com aquele de suspensões floculadas (RUEDA et. al., 2017; OTSUBO,
1994).
a) HGM
CaCO3
CaCO3
b)
5.2.2. Espessamento
Ao adicionar MgO à resina poliéster insaturado, ocorre uma reação ácido-base entre
as terminações hidroxila de cadeias poliméricas e o óxido. Esta primeira reação causa
aumento de massa molecular, e consequentemente, aumento de viscosidade por
efeito de enovelamento. A segunda etapa envolve a formação de pontes de hidrogênio
entre os oxigênios dos grupos éster (da carbonila e da cadeia principal) com moléculas
de água. Este mecanismo é responsável pela maior parte do aumento de viscosidade
durante o espessamento. O terceiro estágio envolve a formação de complexos
metálicos via ligação coordenada entre o metal e o oxigênio do grupo éster (da
carbonila e da cadeia principal) de cadeias poliméricas. Este estágio apresenta
elevada viscosidade obtida no segundo estágio, e aumento lento de viscosidade.
100,000
Log Viscosidade (cP) .106
10,000
C1
1,000 C2
5 dias 7 dias
C1C2
2 dias
0,100 C1HGM
C2HGM
1 dia
Resina Pura
0,010
30 min
0,001
1 10 100 1.000 10.000
Log Tempo (Minutos)
Viscosidade (cP.106)*
Formulação Inicial 30 min 24 hr 48 hr 120 hr 168 hr
C1 0,037 ± 0 0,3 ± 0,01 30 ± 2 50 ± 5 87 ± 5 87 ± 6
C2 0,020 ± 0 0,1 32 ± 0,1 90 ± 16 133 ± 5 181 ± 6
C1C2 0,029 ± 0 0,24 ± 0,03 34 ± 2,5 66 ± 3 123 ± 8 173 ± 18
C1HGM 0,015 ± 0 0,11 ± 0,01 6 ± 0,2 26 ± 4 39 ± 2 67 ± 3
C2HGM 0,016 ± 0 0,045 3 ± 0,2 14 ± 3 39 ± 1 81 ± 8
Resina
1,2.103 ± 0 1,3.103 ± 0 1,6.103 ± 0 2,5.103 ± 0 6.103 ± 0 26.103 ± 0
Pura
*Exceto resina pura.
Tung (1991) relatou que a presença de carbonato de cálcio na forma de carga inerte
em formulações SMC pode ser responsável por acelerar o processo de
espessamento. Assim, pode-se justificar a obtenção de viscosidades mais elevadas
em 168 horas para C1, C2 e C1C2, em relação às formulações com substituição
88
parcial de carbonato com HGM e a formulação com resina pura, devido à maior
concentração de carbonato de cálcio em C1, C2 e C1C2. Também ao comparar as
formulações de pasta SMC com a resina pura, nota-se uma semelhança de
comportamento das pastas com as suspensões floculadas (OTSUBO, 1994), uma vez
que a resina pura, apesar de também sofrer espessamento por MgO (aumento de
massa molecular), não tem sua viscosidade alterada de maneira tão drástica, por falta
de sítios, ou partículas, para viabilizar a percolação de pontes poliméricas.
Assim, tem-se que além do espessamento por MgO, as pastas podem sofrer influência
no espessamento em função das características das cargas, como quantidade, área
superficial, distribuição de tamanhos, empacotamento, entre outros. Segundo Otsubo
(1994), estas características das cargas, por sua vez, podem afetar a disposição física
de partículas suspensas em relação às suas vizinhas, e em conjunto com a massa
molecular de polímeros solubilizados, pode causar o fenômeno de aglomeração por
percolação de pontes poliméricas. Assim, de acordo com o estudo, a formação de
aglomerados por fenômeno de percolação se dá por dois processos: cadeias
poliméricas adsorvidas na superfície das partículas e proximidade entre partículas. No
estudo, testes de sedimentação serviram de base para estipular a massa molecular
do polímero e a melhor condição de empacotamento de partículas para ocorrência do
fenômeno de percolação, e estes resultados foram plotados em um gráfico de
probabilidades. No caso das pastas SMC, sugere-se que o mesmo fenômeno de
percolação seja responsável pelo aumento excepcional de viscosidade de C2 e C1C2
a 168 horas, ocorrendo concomitante ao espessamento por MgO. Sugere-se que a
combinação da maior área superficial de C2, em conjunto com o aumento de massa
molecular inerente ao processo de espessamento, causou uma maior taxa de
formação de redes de aglomerados pela pasta, o que foi percebido como um aumento
rápido e substancial de viscosidade. Em relação a C1C2, nota-se que mesmo com
substituição parcial de C2 por C1, o efeito da carga C2 se mostrou dominante sobre o
espessamento da pasta, de modo que a formulação C1C2 também tenha atingido
elevada viscosidade em 168 horas, semelhante a C2. Tem-se, portanto, que metade
da quantidade de carga de maior área superficial (C2) seja suficiente para promover
a percolação de pontes poliméricas em níveis próximos à da com conteúdo exclusivo
da referida carga. Porém, nota-se que ao incorporar partículas de HGM de tamanhos
89
180
Log Viscosidade (cP) .106
160
5 dias 7 dias
140 2 dias
120 C1
100 C2
C1C2
80
1 dia C1HGM
60
C2HGM
40
20 30 min
0
1 10 100 1.000 10.000
Log Tempo (Minutos)
Assim, tem-se que como no caso da viscosidade inicial, as partículas grandes de HGM
tenham agido como nucleadoras de partículas de carbonato menores, formando
aglomerados grandes esparsos pelo fluido. Os aglomerados grandes, por sua vez,
necessitam de maiores segmentos de cadeias para se associar aos seus vizinhos por
intermédio de pontes poliméricas, ao passo que aglomerados menores se associam
com maior facilidade aos seus vizinhos por possuírem maior número de coordenação
e estarem mais próximos. Logo, a formação de uma rede de aglomerados no caso
dos aglomerados maiores é dificultada, porém com o espessamento por MgO,
eventualmente atinge-se níveis de enovelamento de cadeia e ganho de massa
molecular suficientes para a formação das estruturas em rede, sendo então
percebidas como aumento de viscosidade. Como exemplo, destaca-se a obtenção de
viscosidades próximos de 40.106 cP para C1HGM e C2HGM a partir de 5 dias, ao
90
passo que os mesmos níveis de viscosidade foram apresentados por C1, C2 e C1C2
em 2 dias.
Quanto à pasta C1, nota-se um comportamento diferente das outras formulações nos
tempos finais de espessamento. Em até 2 dias, C1 apresentou um espessamento
semelhante às outras formulações com conteúdo exclusivo de carbonato, de modo
que, assim como em C2 e C1C2, a presença do carbonato como carga inerte em C1
pode estar relacionada à aceleração do espessamento. No entanto, entre 3 e 5 dias
de espessamento, C1 apresentou aumento rápido de viscosidade, que pode estar
relacionado à percolação de pontes poliméricas, porém, em níveis menores em
relação a C2 e C1C2. Já entre 5 e 7 dias de espessamento, C1 apresentou uma
diminuição da taxa de aumento da viscosidade, ao passo que as outras formulações
continuaram apresentando taxas altas. Sugere-se que o comportamento de C1 seja
referente à diminuição das taxas de reação do segundo estágio de espessamento, ou
seja, à formação de carboxilato de magnésio e complexos metálicos, indicando,
portanto, o início do platô borrachoso do terceiro estágio de espessamento.
C1 72 80 83 90 85 91 86
C2 75 86 91 88 91 89 100
C1C2 64 74 69 76 80 80 88
Viscosidade (cP.106)
Formulação
Inicial 1 dia 2 dias 3 dias* 4 dias* 5 dias 7 dias
C1 0,037 ± 0 30 ± 2 50 ± 5 - - 87 ± 5 87 ± 6
*Não determinado.
99
Nas regiões denotadas por “α”, pode-se observar fibras de vidro com orientação
perpendicular ao plano de observação, e em “β” observa-se fibras de vidro paralelas
ao plano de observação. Isto está condizente com a característica da distribuição e
orientação aleatória de fibras de vidro picadas durante a fase de impregnação da pasta
no processo SMC.
Através das Figuras 42 - 43, pode-se observar dois modos de fratura, sendo o tipo 1
referente à fratura multipassos por puxamento de fibras, e o 2 à delaminação. As
fotografias referentes às outras formulações foram suprimidas, em virtude das Figuras
42 - 43 serem representativas de todas as formulações.
a)
1
5 cm
b)
1
2
Fonte: Autor (2021).
107
a)
2
5 cm
b)
2
2
Fonte: Autor (2021).
Sugere-se que a razão pelo qual a moldagem por compressão possa causar
fragilidade na região interlaminar esteja ligado aos parâmetros de moldagem por
compressão, definidos no item 4.2.2 deste trabalho. A pressão de moldagem da
prensa hidráulica foi fixada, assim como a temperatura do molde, de modo que a
viscosidade do compósito foi a variável de controle. Mediante o aquecimento do
molde, as folhas ganharam mobilidade para escoar conforme uma equação Williams-
Landel-Ferry (KIA, 1993). Esta equação WLF correlaciona a diferença da temperatura
do sistema em relação à sua Tg com o ganho em termos de volume livre que,
macroscopicamente, pode ser percebido como uma diminuição da viscosidade do
sistema com o seu aquecimento. Assim, possíveis inconsistências no escoamento do
compósito, durante a moldagem, podem surgir devido ao fato de que o modelo de
escoamento dado em função da equação WLF assume aquecimento por igual do
sistema polimérico pela fonte de calor, que é a superfície do molde. Porém,
realisticamente, sabe-se que há um gradiente de temperatura, possivelmente em
função da espessura do compósito (traduzido como número de lâminas) e a fonte de
calor. Supondo, portanto, tal gradiente de temperatura, o padrão de escoamento do
material pelo molde pode ser afetado, de modo a, por exemplo, causar taxas de
escoamento diferentes entre laminas em função de sua proximidade à fonte de calor,
podendo, então, gerar tensões internas após a cura na região interlaminar,
enfraquecendo-a. Este exemplo é uma dentre as diversas consequências de defeitos
que podem ser causados nos compósitos, em virtude de aspectos de processamento
inerentes ao SMC.
109
120
Resistência à Tração (MPa)
100
80
60
40
20
0
C1 C2 C1C2 C1HGM C2HGM
2,5
1,5
0,5
0
C1 C2 C1C2 C1HGM C2HGM
18
16
14
Módulo de Young (GPa)
12
10
0
C1 C2 C1C2 C1HGM C2HGM
Em relação à elongação na ruptura, verifica-se valores de 1,5 ± 0,2, 1,6 ± 0,6, 1,5 ±
0,4, 1,7 ± 0,3, 1,4 ± 0,1 % para C1, C2, C1C2, C1HGM e C2HGM, respectivamente,
sugerindo que as diferentes cargas não possuem efeito significativo sobre este
parâmetro. Este resultado encontra-se de acordo com os estudos de Lamond (1993),
Berman (2020) e Oldenbo, Fernberg e Berglund (2003), sendo que nestes estudos a
elongação na ruptura também não foi afetada pela pelas características
granulométricas das diferentes cargas. Novamente, sugere-se um efeito de
superposição da influência das fibras sobre àquela gerada pelas cargas particuladas.
Considerando-se que os volumes de fibra são idênticos, porém são suscetíveis a
mudanças em termos de orientação e dispersão ao longo do processo SMC, pode-se
justificar os grandes desvios.
Já os resultados de módulo de Young foram de 14,6 ± 1,2, 15,0 ± 0,7, 14,4 ± 0,6, 13,3
± 1,0, 13,0 ± 1,0 GPa para C1, C2, C1C2, C1HGM e C2HGM, respectivamente, e
considerando os desvios, os resultados são muito semelhantes, com exceção para as
formulações C2 e C2HGM. Neste caso, verifica-se que com a adição de HGM a C2, o
módulo de Young diminui de 15,0 ± 0,7 para 13,0 ± 1,0 GPa. Outros estudos
112
250,00
Resistência à Flexão (MPa)
200,00
150,00
100,00
50,00
0,00
C1 C2 C1C2 C1HGM C2HGM
16
14
Observa-se, novamente, assim como nos resultados para resistência à tração, que
alguns compósitos, apesar de apresentarem médias diferentes, ao considerar-se os
desvios padrões, tornam-se muito semelhantes. Assim, verifica-se que os resultados
para C1, C2, C1C2, C1HGM e C2HGM foram de 130 ± 17, 158 ± 16, 160 ± 31, 139 ±
8 e 128 ± 10 MPa, respectivamente.
Pode-se destacar uma diferença entre C2 e C2HGM, que sugere que as propriedades
granulométricas das cargas possuem efeito sobre a resistência à flexão. Lee et. al.
(2015) estudou a resistência à flexão de compósitos SMC com diferentes carbonatos
de cálcio que apresentaram entre si distribuições de tamanhos distintos. Verificou-se
que os compósitos com carbonato de cálcio com maior área superficial e menor d50
apresentaram melhores propriedades mecânicas à flexão, e sugeriu-se que as cargas
com tais características favoreçam o empacotamento de partículas, causando assim
aumento das propriedades mecânicas. Lamond (1993) obteve resultados
semelhantes ao incorporar carbonato de cálcio a formulações SMC com distribuição
de tamanhos mais estreitos e com menor d50. Larson et. al. (1998) adicionou HGM a
formulações SMC em substituição parcial a CaCO3, e observou diminuição da
resistência à flexão com o conteúdo de HGM. Os autores sugeriram que em função
das características granulométricas das HGM, especificamente a menor área
superficial, tem-se menor restrição à movimentação das cadeias poliméricas, o que é
percebido como aumento da flexibilidade do compósito, portanto, diminuição da
resistência à flexão. Resultados semelhantes aos de Larson et. al. (1998) foram
114
observados por Berman (2020). Portanto, assim como nos exemplos anteriores,
sugere-se que a adição de HGM pode estar relacionado com a diminuição da
resistência à flexão, verificado para C2HGM em relação a C2, mas não em função do
mecanismo supracitado. À luz dos resultados de DMA (a seguir), pode-se verificar que
após a cura, os compósitos exibem diferentes níveis de mobilidade de cadeias em
função das características granulométricas das cargas particuladas. No caso, as
formulações com HGM impõem maior restrição ao movimento, portanto, sugere-se
que a natureza quebradiça das HGM pode ser a explicação mais apropriada para o
enfraquecimento do compósito a solicitações por flexão.
Em relação ao módulo de flexão, os resultados para C1, C2, C1C2, C1HGM e C2HGM
foram de 9,56 ± 0,66, 10,75 ± 1,22, 11,71 ± 1,68, 9,00 ± 0,68 e 9,00 ± 0,50 GPa,
respectivamente. Observou-se que, considerando os desvios, as formulações C1, C2
e sua mistura apresentaram comportamentos semelhantes, porém uma diferença
pode ser identificada entre as formulações com HGM e C1C2. Atribui-se esta diferença
novamente à natureza quebradiça das HGM, diminuindo a rigidez do compósito.
Porém, tratando agora os resultados em termos médios, destaca-se que ao contrário
do observado para o módulo de Young nos ensaios de tração, há um efeito de reforço
do módulo de flexão de C1C2 em relação a C1 e C2. Sugere-se, portanto, que os
ensaios de flexão possam ser mais sensíveis à carregamentos particulados, em razão
de haver uma parcela do compósito que é efetivamente solicitado por compressão.
Sugere-se que no caso da região comprimida, as partículas de carbonato de cálcio
podem absorver tensões de maneira mais eficiente do que no caso tracionado,
atuando então como cargas de reforço em conjunto com as fibras.
Consequentemente, quanto maior o empacotamento das partículas de carbonato
nesta região, maior a eficiência de transmissão de tensões de compressão da matriz
para as partículas e fibras, que é percebido como diminuição de flexibilidade. Sugere-
se, portanto, que em decorrência de suas características granulométricas distintas, C1
e C2 quando misturados podem se empacotar, causando um efeito de reforço da
matriz polimérica na região comprimida da seção útil.
115
E’25°C E’’Tg
Formulação Tg (°C)
(GPa) (GPa)
15 0,94
C1 154
14 0,81
C2 150
9,4 0,65
C1C2 157
17 0,87
C1HGM 151
18 0,95
C2HGM 151
Kaully et. al. (2008) estudaram compósitos de PMMA com diferentes distribuições de
carbonato de cálcio, em que as características das cargas particuladas tiveram um
efeito primário no módulo de armazenamento das formulações, de tal forma que
quanto maior a área de superfície da carga, maior o módulo de armazenamento do
composto. Kwon et. al. (2006) estudaram compósitos epoxídicos com diferentes
distribuições de tamanho de sílica e observaram que o módulo de armazenamento
aumentou em proporção com as partículas mais finas no compósito. Ambos os
estudos apontam para o efeito direto da distribuição de tamanho das cargas e área de
superfície nas matrizes poliméricas, especificamente em termos da restrição de
movimento imposta pelas cargas. Os estudos sugeriram que maior empacotamento e
área superficial contribuíram para aumentar a imobilidade da matriz, refletindo-se no
aumento dos módulos de armazenamento e em menores curvas tan δ. No entanto, os
resultados do presente trabalho são diferentes dos encontrados pelos autores acima
mencionados, no sentido em que a área superficial de C1 foi de 2,5 m²/g e a de C2 foi
de 3,0 m²/g, e observa-se que o módulo de armazenamento do compósito com C1 foi
de 15 GPa e C2 foi de 14 GPa. Além disso, observa-se que o C1HGM e o C2HGM,
que têm uma menor área de superfície, tinham os módulos de armazenamento mais
119
A partir da Figura 51, pode-se observar os picos de tan δ, e a partir da Figura 52,
pode-se observar tais picos organizados em relação à mesma linha de base. As
temperaturas de transição vítrea (Tg) dos compósitos correspondem à temperatura de
pico do tan δ, que foram de 154, 150, 157, 151, e 151°C para C1, C2, C1C2, C1HGM,
e C2HGM, respectivamente. Por outro lado, a atenuação do pico do tan δ, como
mencionado anteriormente, pode estar diretamente ligada à restrição do movimento
de cadeias imposta pelas cargas. Portanto, a partir das magnitudes dos picos de tan
δ no presente trabalho, observa-se que as maiores restrições ao movimento das
cadeias de polímeros foram para as formulações C1HGM e C2HGM, que têm menor
área de superfície, enquanto que C1 e C2 apresentam os picos com maior magnitude,
e têm maior área de superfície. Isto sugere que as cargas misturadas podem ter
diferentes influências na mobilidade, que são independentes das áreas superficiais
das cargas constituintes. Uma explicação possível para este comportamento é que a
maior diferença no tamanho das partículas para os sistemas com cargas mistas, ou
seja, C1C2, C1HGM, e C2HGM, favorece um maior efeito de empacotamento da
camada de sólidos, podendo gerar um enclausuramento das cadeias de polímeros
devido à maior proximidade entre as partículas. Esta hipótese é apoiada pelos
resultados de fineza Hegman, e está de acordo com as discussões para a viscosidade
inicial, comportamento de espessamento e entalpias de cura deste trabalho.
Resistência ao
Formulação
Impacto (kJ/m²)
C1 54,5 ± 5,7
C2 80,0 ± 12,5
C1C2 51,8 ± 7,0
C1HGM 78,0 ± 16,6
C2HGM 101,4 ± 13,7
Fonte: Autor (2021).
140
120
Resistência ao Impacto
100
(kJ/m²)
80
60
40
20
0
C1 C2 C1C2 C1HGM C2HGM
O teste de dureza Barcol é uma medida que pode ser aplicado a resinas, com e sem
reforço, e ligas metálicas leves. O ensaio envolve a aplicação de força manual através
de um equipamento que possui um indentador, sendo que a medida de dureza,
segundo a escala Shore D, é dada no visor do equipamento. O equipamento registra
a profundidade de penetração do indentador na superfície e o converte para dureza,
portanto, quanto maior a facilidade de penetração do indentador, menos duro o
material.
Assim, foram obtidos resultados de dureza Barcol dos compósitos C1, C2, C1C2,
C1HGM e C2HGM conforme a Tabela 15. Os resultados podem ser analisados de
maneira gráfica pela Figura 55.
124
68
66
64
Dureza Barcol
62
60
58
56
54
52
C1 C2 C1C2 C1HGM C2HGM
Assim, observa-se valores iguais para os compósitos C1, C2, C1HGM e C2HGM,
considerando-se os desvios e média de 60 Barcol. A exceção está para a formulação
C1C2, cujo valor de dureza Barcol foi de 64. Sugere-se que o desempenho superior
desta formulação tenha sido em decorrência do maior empacotamento mútuo das
partículas de carbonato. Em sistemas com cargas melhor empacotadas, a interação
entre carga e matriz é otimizada, portanto, espera-se maior dependência da dureza
do compósito de uma regra de misturas entre carga e matriz, em detrimento a
mecanismos de reforço locais, como por exemplo ocorre no caso dos ensaios de
tração e flexão em relação à orientação de fibras.
6. CONCLUSÕES
Por fim, em relação aos resultados e discussões sobre DMA, o presente trabalho
aponta para uma proporcionalidade entre a entalpia de cura das pastas e o módulo
128
de estocagem dos compósitos, que à luz dos demais resultados e discussões, pôde
ser relacionado aos mecanismos de espessamento. Tal influência pode, inclusive, se
sobrepor aos efeitos gerados diretamente pelas cargas particuladas nos compósitos
documentados na literatura. Portanto, a linha de influência das características
granulométricas das cargas incorporadas, no tangente à resposta elástica dos
compósitos, abrange todo o processo SMC, pois se estende da viscosidade inicial,
para os mecanismos de espessamento, seguindo para a entalpia de cura, chegando
enfim ao módulo de estocagem.
129
O presente trabalho demonstrou com sucesso alguns dos efeitos das cargas minerais
sobre as propriedades térmicas e mecânicas dos compósitos SMC. No entanto, não
foi possível fazer afirmações categóricas acerca de alguns mecanismos pelos quais
estes efeitos ocorrem. Portanto, sugere-se que:
Micrografias via MEV da superfície de fratura dos compósitos sejam obtidas, para
identificar os mecanismos de fratura, bem como observar as condições de
molhamento das cargas;
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TUNG, I. C. Application of factorial design to SMC viscosity build-up. Polymer Bulletin, v.
25, n. 5, p. 603–610, 1991.
135
C1
100
90
80
70
Massa (%)
60
50
40
30
20
10
0
18 128 237 347 456 566 675 785 894
Temperatura (°C)
C2
100
90
80
70
60
Massa (%)
50
40
30
20
10
0
19 129 238 348 457 567 676 786 895
Temperatura (°C)
C1C2
100
90
80
70
60
Massa (%)
50
40
30
20
10
0
18 127 236 345 454 563 672 781 890
Temperatura (°C)
C1HGM
100
90
80
70
60
Massa (%)
50
40
30
20
10
0
19 128 238 347 457 566 676 785 895
Temperatura (°C)
C2HGM
100
90
80
70
Massa (%)
60
50
40
30
20
10
0
20 130 239 349 458 568 677 787 896
Temperatura (°C)
C1
EXO 1,2
0,8
DSC (mW/mg)
0,6
0,4
0,2
-0,2
120 130 140 150 160 170 180 190 200 210 220
Temperatura (°C)
C2
EXO
1,2
0,8
DSC (mW/mg)
0,6
0,4
0,2
-0,2
120 130 140 150 160 170 180 190 200 210 220
Temperatura (°C)
C1C2
EXO 1,2
0,8
DSC (mW/mg)
0,6
0,4
0,2
-0,2
120 130 140 150 160 170 180 190 200 210 220
Temperatura (°C)
C1HGM
EXO
1,2
0,8
DSC (mW/mg)
0,6
0,4
0,2
-0,2
120 130 140 150 160 170 180 190 200 210 220
Temperatura (°C)
C2HGM
EXO
1,2
0,8
DSC (mW/mg)
0,6
0,4
0,2
-0,2
120 130 140 150 160 170 180 190 200 210 220
Temperatura (°C)