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Materiais de Construção Civil C

Docente: Profa. Dra. Adriana Faganello


Curso: Engenharia Civil

A influência da adição de fibras de cana-de-açúcar em relação a


tração por flexão em concretos

The influence of the addition of sugarcane fibers in relation to


flexural strength in concrete
Gabriela Alves Medeiro1, Maria Eloize Siqueira Barbosa2, Maria Vitória3, Pedro
Gregório4, Adriana Faganello5

RESUMO

Diante do grande problema do excesso de fibras do bagaço da cana-de-açúcar, proveniente da


produção de etanol e açúcar, que é um dos maiores setores da produção nacional, nota-se a
viabilidade de incorporação desse resíduo ao concreto, possibilitando sua utilização na construção
civil, que é um dos setores que mais cresce no país. Atualmente, a pesquisas que utilizam resíduos
agroindustriais como fonte de matéria-prima para a construção civil tem se mostrado uma prática
eficiente e sustentável. Objetivou-se investigar a potencialidade de utilização do bagaço da cana-de-
açúcar para a produção de concreto, que possui propriedades granulométricas que permitem
adicioná-lo como adições, podendo ser transformado em reforço e com grande potencial de
sustentabilidade. Com base nos ensaios, conclui-se que a adição do bagaço da cana-de-açúcar não
resultou em um aumento de resistência em pavers com fibra, porém, os mesmos tiveram uma fissura
gradual, permitindo uma falha mais controlada.

Palavras-chave: Adição. Cana-de-açúcar. Concreto.

ABSTRACT

Faced with the great problem of excess sugarcane bagasse fibers, from the production of ethanol and
sugar, which is one of the largest sectors of national production, one notes the feasibility of
incorporating this residue into concrete, enabling its use in civil construction, which is one of the
fastest growing sectors in the country. Currently, research using agro-industrial waste as a source of
raw material for civil construction has proven to be an efficient and sustainable practice. The objective
was to investigate the potential use of sugarcane bagasse for the production of concrete, which has
granulometric properties that allow its addition as an addition, which can be transformed into
reinforcement and with great potential for sustainability. Based on the tests, it was concluded that the
addition of sugarcane bagasse did not result in an increase in strength in pavers with fiber, however,
they had a gradual cracking, allowing a more controlled failure.

Keywords: addition. Concrete. sugar cane.

1
Gabriela Alves Medeiro. Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Apucarana, Paraná, Brasil.
E-mail: gabrielamedeiro@alunos.utfpr.edu.br. RA:2388987
2
Maria Eloize Siqueira Barbosa. Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Apucarana, Paraná,
Brasil. E-mail: mariaeloize@alunos,utfpr.edu.br. RA:2408554
3
Maria Vitória Brenda de Almeida. Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Apucarana, Paraná,
Brasil. E-mail: mariavitoriaalmeida@alunos.utfpr.edu.br. RA: 2429640
4
Pedro Gregório. Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Apucarana, Paraná, Brasil. E-mail:
Pedro.030903@alunos.utfpr.edu.br. RA: 2419718

Este é um documento de acesso aberto sob os termos da Licença Creative Commons Atribuição, Não Comercial,
Não para Obras Derivadas (CC BY NC ND), que permite o uso e distribuição em qualquer meio, desde que o
trabalho original seja devidamente citado, o uso não seja comercial e nenhuma modificação ou adaptação seja
feita.
1. INTRODUÇÃO

O Brasil é um país onde grande parte da população ainda carece de energia e


moradia. Para minimizar a escassez de energia, investimos fortemente na geração
de energia elétrica a partir de fontes renováveis, como o etanol de cana-de-açúcar.
(Savastano, 2003). No entanto, o cultivo da cana-de-açúcar no país não tem
recebido a devida atenção com destinos de subprodutos. O resíduo mais obtido é o
bagaço, que representa 1/3 do total da cana-de-açúcar. Ao mesmo tempo, o alto
custo dos materiais de construção e da mão de obra vem dificultando o crescimento
da indústria da construção civil. Outro fator importante é que a extração de
agregados naturais como cascalho, areia e amianto pode causar danos irreparáveis
ao meio ambiente. Consequentemente, muitos setores da sociedade, tanto públicos
como privados, estão sempre procurando ativamente por soluções para reduzir os
custos de desenvolvimento e minimizar o impacto ambiental.
A cana-de-açúcar é uma das principais culturas cultivadas em mais de 110
países e sua produção total é superior a 1500 milhões de toneladas. A indústria
brasileira gera cerca de 270 quilos de bagaço para cada tonelada de cana moída e a
maior parte desse material é queimada em usinas termelétricas. Segundo a
Companhia Nacional de Abastecimento - CONAB (2018), a cana-de-açúcar é a
principal fonte na produção de açúcar e de álcool e o seu processo de produção
gera, entre outros resíduos, grande volume de bagaço, alguns dos quais utilizados
como combustível para alimentar as caldeiras que produzem vapor para a
cogeração de eletricidade.
O uso de materiais e concreto especiais na construção civil é crescente. A
composição do concreto especial contém ligantes além de agregados naturais e
água, insumos especiais como aditivos, materiais alternativos, subprodutos, etc.,
com propriedades e características específicas que, em geral, complementam,
reforçam e/ou melhoraram as propriedades do concreto de acordo com a finalidade
desejada.
A produção do concreto especial com o bagaço da cana-de-açúcar como adição
analisado neste trabalho, está intimamente relacionada ao conceito de enchimento
de partículas. Este tema tem aumentado em diferentes áreas da engenharia nos
últimos anos, e o interesse é justificado pelo fato de que a maioria dos materiais são
partículas de diferentes formas e tamanhos. A trabalhabilidade inicial do concreto
depende de vários aspectos, um dos quais são as propriedades físicas do agregado.
Portanto, a distribuição de tamanho de partícula apropriada é de fundamental
importância.
O presente trabalho pretende proporcionar práticas sustentáveis em conjunto
com o desenvolvimento tecnológico de materiais de construção, que além de
promover reuso e reciclagem de um resíduo abundante, pode melhorar o
desempenho de concreto.

2
2. MATERIAIS E MÉTODOS

A metodologia adotada nesta pesquisa foi definida em três etapas:


A primeira etapa refere-se à obtenção do bagaço de cana-de-açúcar e
caracterização física das mesmas, já a segunda consiste na definição dos corpos de
prova e o cálculo dos traços. A terceira etapa por sua vez, consiste no teste de
tração dos pavers para checar sua resistência comparado a um paver sem adições.
Deste modo, bagaço de cana-de-açúcar utilizado neste trabalho foi adquirido
na empresa Alto Alegre, usina de produção de açúcares e álcool na região de
Londrina/PR, um local com elevada concentração de usinas açucareiras.

2.1 PREPARAÇÃO DAS FIBRAS DE CANA-DE-AÇÚCAR

O processo de preparação das fibras constituiu-se em peneiramento, pré-


lavagem, lavagem com água corrente e secagem em estufa. Inicialmente, o resíduo
foi selecionado com auxílio de peneiras de 4,8mm, 2,4mm e 1,2mm, descartando o
material retido nas peneiras anteriores e posteriores, conforme apresentado nas
figuras 1 e 2:

Figura 1 – Peneiras Figura 2 – Fibras selecionadas

Fonte: Autoria própria, 2023. Fonte: Autoria própria, 2023.

Logo em seguida foi realizado a separação das fibras em duas partes, sendo
uma parte deixada da maneira que foi coletada na usina e a outra parte sendo
retirado todo o resíduo de açúcar através de lavagem, com o intuito de comparar as
diferenças que o açúcar pode causar na resistência do concreto. O processo de pré-
lavagem constituiu em despejar as fibras em baldes e submergi-las na água,
trocando a água por duas vezes, com o intuito de reduzir consideravelmente a
quantidade de material fino presente na amostra (Figuras 3 e 4).

3
Figura 3 – Pré lavagem das fibras Figura 4 – Separação fibras secas e levadas

Fonte: Autoria própria, 2023. Fonte: Autoria própria, 2023.

A lavagem foi realizada logo após 2 dias que as fibras ficaram de molho nos
baldes com o objetivo de retirar quaisquer substâncias provenientes do processo
industrial as quais as fibras foram submetidas e também do açúcar próprio do
material.
Em seguida, as fibras de cana-de-açúcar foram colocadas em bandejas e
levadas para a estufa por 7 dias, sendo monitorado frequentemente para não haver
perda do material.
Após a secagem foi utilizado formas plásticas para pavers com dimensões de
10 x 20 x 6cm utilizando a norma ABNT 9781:2013 para a produção dos corpos de
prova, conforme a Figura 5.
Figura 5 – Pavers

Fonte: Autoria própria, 2023.

2.2 CIMENTO PORTLAND

No presente trabalho, foi utilizado o cimento Portland composto com escória,


CP II E – 32, porém o material cedido para o estudo já estava com sua validade
expirada, no entanto foi utilizado para todas as amostras, inclusive para a referência,
resultando em valores comparativos válidos.
4
2.3 DOSAGEM DOS CONCRETOS

Através dos cálculos realizados foi definido a utilização de 6 corpos de prova,


sendo eles, 2 de referências, 2 com fibras lavadas e 2 com fibras com resíduos, os
traços para o concreto foi de 1:2:3 (1 parte de cimento por 2 partes de areia e 3
partes de brita) com 5% de adição de fibra de acordo com a norma ABNT NBR
11768:2019.

Figura 6 – Cimento Figura 7 – Areia Figura 8 – Brita

Fonte: Autoria própria, 2023. Fonte: Autoria própria, 2023. Fonte: Autoria própria, 2023.

A relação água cimento (a/c) foi ajustada de acordo com a trabalhabilidade do


traço e com isso, observou-se que a quantidade de água foi necessariamente maior
para corpos de prova que possuíam fibras de cana-de-açúcar (Figuras 9, 10, 11 e
12).

Figura 9 – Relação a/c para concreto de


referência Figura 10 – Concreto de referência

Fonte: Autoria própria, 2023. Fonte: Autoria própria, 2023.

5
Figura 11 – Relação a/c para concreto com Figura 12 – Concreto com adição de fibras
adição de fibras

Fonte: Autoria própria, 2023. Fonte: Autoria própria, 2023.

2.4 MOLDAGEM E CURA DOS CORPOS DE PROVA

Os corpos de prova eram em formatos de pavers de 10x20x6cm e seguiu a


normativa ABNT NBR 9781:2013. Cabe destacar que antes de moldar o corpo de
prova deve-se revestir os mesmo com uma fina camada de óleo mineral para o
desenforme correto do concreto.
O procedimento de moldagem dos corpos ocorreu de forma mecanizada e
manual, ou seja, foi utilizado o peneirador de britas como forma de vibrador para
adensar os concretos no paver enquanto forçávamos para baixo com nossas mãos.
O processo de desmoldagem, por sua vez, ocorreu 48 horas após a moldagem dos
corpos e o procedimento de cura 7 dias submerso em uma balde de água. As
Figuras 13, 14 e 15 mostram alguns procedimentos executados.

Figura 14 – Processo de
Figura 13 – Pré adensamento adensamento Figura 15 – Pós adensamento

Fonte: Autoria própria, 2023. Fonte: Autoria própria, 2023. Fonte: Autoria própria, 2023.

6
Vale ressaltar que os corpos de prova após a desmoldagem foram
devidamente identificados antes de serem colocados para cura submersa.

2.5 ENSAIO DE RESISTÊNCIA À TRAÇÃO POR FLEXÃO

A execução do ensaio de resistência à tração por flexão ocorreu de acordo


com a norma ABNT NBR 12142:2010 com 7 dias de cura. Para a execução do
ensaio, os apoios foram preparados definindo a largura, altura e comprimento exato
do corpo na máquina e uma força foi aplicada no centro do material.
As Figuras 16 e 17 refere-se ao posicionamento do corpo de prova na prensa
e em seguida o resultado do rompimento de tração por flexão:

Figura 16 – Posicionamento do paver Figura 17 – Resultado do rompimento

Fonte: Autoria própria, 2023. Fonte: Autoria própria, 2023.

O cálculo para a determinação da resistência à tração na flexão depende do


local de ruptura do corpo de prova, e nesse caso, a resistência foi dada pela
equação:

𝑃. 𝐿 (1)
𝜎=
𝑏. ℎ2

Onde:
P = Força exercida
L = Distância entre os apoios
b = Base do paver
h = Altura da base

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3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Para determinar os valores de resistência à tração foi utilizada a equação


anterior, uma vez que todas as amostras investigadas apresentaram ruptura no seu
terço médio.

Os resultados obtidos com o ensaio de resistência à tração por flexão, estão


expressos por meio da Tabela 01 e Figura 18.

Tabela 01 – Resistência à tração por flexão


Resistência à tração Perda de resistência
Concreto (Mpa) (%)

Referência 1 0,180 100

Referência 2 0,128 71

Adição de 5% limpo 0,078 43,3

Adição de 5% limpo 0,080 44,4

Adição de 5% com açúcar 0,082 45,5

Adição de 5% com açúcar 0,082 45,5


Fonte: Autoria própria, 2023

Figura 18 – Gráfico de perda de resistência

PERDA DE RESISTÊNCIA (%)


120

100

80

60

40

20

0
R1 R2 S/A S/A C/A C/A

Fonte: Autoria própria, 2023

Ao verificar o gráfico é possível notar que houve uma queda nos valores da
resistência para os pavers com adição se comparado com os de referência. O
concreto de referência atingiu o valor médio de 0,154 MPa para à tração na flexão,
8
enquanto o pavers sem açúcar e com açúcar atingiram 0,079 MPa e 0,082 MPa
respectivamente.
Com isso, o bagaço de açúcar não apresentou impacto positivo na resistência
a tração e o açúcar não exerceu uma influência significativa nos testes realizados,
pois os corpos de prova produzidos com as fibras que passaram pelo processo de
lavagem não demonstraram valores significativos diferentes das amostras com fibras
lavadas.

Figura 19 – Gráfico de ruptura do paver com Figura 20 – Gráfico de ruptura do paver sem
cana-de-açúcar cana-de-açúcar

Fonte: Autoria própria, 2023. Fonte: Autoria própria, 2023.

O gráfico da Figura 19 é uma referência de ruptura do paver com cana-de-


açúcar e nele é possível observar que a ruptura do concreto ocorre de forma
gradual, rompendo lentamente, enquanto na Figura 20, observa-se que no paver
sem adição ocorre uma ruptura instantânea. Esse resultado dá a indicação que a
utilização das fibras de cana-de-açúcar fez com que a ruptura do concreto fosse de
maneira gradual e não linear mostrando um possível comportamento de
viscoelasticidade ao material.

4 CONCLUSÃO

Com base nos resultados obtidos da análise da resistência à tração por


flexão, pode-se afirmar que os pavers sem adição de fibra de cana-de-açúcar (R1 e
R2) apresentaram uma resistência maior em comparação com os pavers que
receberam uma adição de 5% de fibra, tanto das fibras com açúcar, quanto com as
fibras sem açúcar, os quais apresentaram uma resistência menor.
Apoiado nessas conclusões, verifica-se que a adição de fibra de cana de
açúcar nos pavers não resultou em um aumento da resistência. Porém observou-se
que no momento do rompimento, os corpos de prova com as fibras de cana-de-
açúcar se mostraram com uma possível viscoelasticidade resultando em fissuras
graduais no material antes de romper completamente, sugerindo que uma falha

9
repentina possa ser evitada, permitindo um controle maior das fissuras, se
diferenciando das amostras sem adição que se rompiam instantaneamente.

Agradecimentos

Em primeiro lugar, a Deus, que fez com que nossos objetivos fossem
alcançados ultrapassando todos os obstáculos encontrados ao longo da realização
do trabalho.
Aos colegas de equipe, com quem compartilhamos ideias e conhecimentos do
assunto estudado, obtendo inúmeros momentos de descobertas e aprendizados.
À Universidade Tecnológica Federal do Paraná, pela disponibilização dos
laboratórios de materiais e ruptura para a realização dos testes e a pesquisa.
E em especial aos professores Leonado e Adriana por nos orientar e guiar
nosso trabalho para um bom resultado final.

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TECNICAS, NBR 11768-1 Aditivos


químicos para concreto de cimento Portland. Rio de janeiro, 2019.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TECNICAS, NBR 12142 Concreto –


Determinação da resistência à tração na flexão de corpos de prova
prismáticos. Rio de Janeiro, 2010.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TECNICAS. NBR 9781 Peças de


concreto para pavimentação – Especificação e métodos de ensino. Rio de
Janeiro, 2013.

COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO – Conab. Nova estimativa de


cana-de-açúcar traz produção de 572,9 milhões de toneladas. Brasília, 2019.
Disponível em: https://www.conab.gov.br/ultimas-noticias/4725-nova-estimativa-de-
cana-de-acucar-traz-producao-de-572-9-milhoes-toneladas. Acesso em: 20 Jun.
2023.

SAVASTANO, jr., WARDEN, P. G. Special teme issue: Natural fibre reinfirced


cement composites. Cement& Concrete composites, v.25, n.5, p.517-624, ,

32003.

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