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Instituto Brasileiro do Concreto - 44º Congresso Brasileiro

Investigação das causas das fissuras e descolamentos de


revestimento de argamassa de fachada

Gilberto De Ranieri Cavani (1); Mirian Cruxên Barros de Oliveira (2)

(1) Mestre, Divisão de Engenharia Civil /Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado


de São Paulo S.A.
email: grcavani@ipt.br

(2) Doutora, Divisão de Geologia/Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São


Paulo S.A.
email: miriancr@ipt.br

Av. Prof. Almeida Prado, 532 – S.Paulo, SP – CEP 05508-901

Palavras Chaves: revestimento – fissuras – aderência - argamassa - retração

Resumo

O presente trabalho aborda o caso de um revestimento de argamassa de fachada de


conjunto de edifícios residenciais, localizado na cidade de São Paulo, em que o
emprego de areia com excesso de finos aliado a falhas de execução foram os fatores
determinantes do surgimento de fissuras e descolamentos localizados do revestimento,
ainda na fase de execução.
Além de uma investigação minuciosa em campo e em laboratório foram desenvolvidas
soluções para o reparo do revestimento.

1. Descrição dos edifícios e das anomalias do revestimento

1.1.Características dos edifícios


O condomínio em tela é constituído por três torres idênticas (Torres “A”, “B” e “C”) cada
uma com 14 pavimentos com quatro apartamentos por andar. Os edifícios possuem
estrutura convencional de concreto armado. As paredes de vedação externa, da caixa
de escada e entre as unidades são constituídas por alvenaria de blocos de concreto e
as divisórias internas dos apartamentos são em chapas de gesso acartonado -“dry-
wall”.
O sistema de revestimento externo é constituído por:
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• Chapisco convencional de areia e cimento no traço 1:2 em volume,


amolentado com solução de adesivo e água na proporção 1:2.
• Camada de emboço constituído por argamassa mista de cimento e areia
preparada a partir de argamassa básica de areia e cal virgem.
Os traços (cimento : argamassa básica), em volume, utilizados foram 1:5 e
1:6.
• Revestimento sintético tipo “graffiato”.

1.2. Anomalias do revestimento de argamassa das fachadas


Por ocasião da visita à obra praticamente todo revestimento da Torre “A” apresentava
fissuras com configuração de mapa, fissuras tipo “bigode”1, e destacamento da camada
de revestimento (chapisco + emboço) na interface com a alvenaria em alguns vãos da
vedação vertical, principalmente nos peitoris. O revestimento da Torre “B” também
apresentava essas anomalias, mas com intensidade bem menor. Na ocasião o
revestimento da Torre “C” estava sendio iniciado.

2. Investigação das causas das anomalias

2.1. Inspeções
Inicialmente foi dada ênfase à coleta de informações in-loco. Após realização de
inspeções minuciosas constatou-se:
• a argamassa de emboço apresentava boa resistência, mecânica exigindo um
certo esforço para ser cortada com a talhadeira;
• o revestimento, principalmente no entorno das fissuras, apresentava som cavo
quando percutido;
• era notória a deficiência de aderência da camada de chapisco à alvenaria,
podendo-se remover, com certa facilidade, placas do revestimento usando a
talhadeira como cunha posicionada entre a alvenaria e a camada de chapisco;
• a resistência ao risco2 da argamassa de chapisco era bem menor que a da
argamassa de emboço;
Essas constatações indicaram que a camada de chapisco, apesar de ter sido
executada com uma argamassa bastante rica (traço 1:2), não apresentava resistência
mecânica satisfatória. Aparentemente, o cimento da argamassa de chapisco não estava
totalmente hidratado. Para comprovar este fato foram realizados ensaios de resistência
de aderência do chapisco aplicado na Torre “C”, após a realização de cura

1
Fissuras inclinadas partindo dos vértices inferiores das aberturas.
2
Raspagem da superfície da argamassa com um objeto de ferro pontiagudo ou um prego.
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complementar. Este chapisco por ocasião do início da cura complementar já possuía


idade superior a 20 dias. Os resultados obtidos foram constam da Tabela 1.

Tabela 1 - Resumo dos resultados de resistência de aderência do chapisco


Condição de cura complementar Resist. Aderência média (MPa)

Nenhuma 0,13
Molhado 1 vez por dia por 3 dias 0,44
Molhado 2 vez por dia por 3 dias 1,00
Molhado 3 vez por dia por 3 dias 0,81

Os resultados obtidos comprovaram que o cimento da argamassa de chapisco não


estava totalmente hidratado, comprometendo assim o desempenho desta camada.
Houve um ressecamento muito rápido da camada de chapisco logo após sua aplicação.
Esse ressecamento, prejudicial para a hidratação do cimento, acaba ocorrendo com
certa frequência, pois:
• as argamassas de chapisco normalmente não possuem nenhum tipo de
retentor de água;
• essa camada possui pequena espessura e perde água tanto para o substrato
como para a atmosfera;
• substratos constituídos por blocos de concreto normalmente apresentam alta
sução inicial, retirando deste modo mais água da argamassa assim que a
mesma é aplicada, e
• as aplicações feitas durante o outono quando a temperatura do ar ainda é
relativamente elevada e sua umidade relativa é baixa, favorecem a rápida
evaporação da água da argamassa.
Os sintomas existentes denotavam ainda que poderia estar havendo também uma
retração excessiva da argamassa de emboço, intrínseca da própria argamassa, e não
só devido ao fato da camada de chapisco não estar atuando como um elemento
restritivo à retração.

2.2. Ensaios laboratoriais


Com o objetivo de elucidar as causas prováveis do aparecimento de fissuras e
descolamentos do revestimento foram ensaiadas argamassas (amostras R1 a R3)
preparadas a partir da argamassa básica (amostra R) utilizada assim como a
argamassas endurecidas provenientes das fachadas das Torres A (amostra A) e Torre
C (amostra C).
As amostras R1, R2 e R3 foram misturadas com cimento Portland CP II E-32 na
proporção 1 : 5 em volume (cimento : argamassa básica). Para verificar a possível
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influência do teor de água na retração, foram preparadas três argamassas com as


seguintes relações água / materiais secos:
Amostra R1 : 19,1%
Amostra R2 : 20,9%
Amostra R3 : 22,1%
Os ensaios realizados estão indicados por meio de hachuras no Quadro 1.
Amostras
Ensaios
Arg.Básica R1 RA2 R3 A C
Análise química - - -
Análise granulométria (peneiramento e - - -
sedimentação)
Difração de Raios X da fração argila - - -
Petrografia da argamassa endurecida -
Retração por secagem: livre e - - -
restringida
Resistência à compressão e à tração na -
flexão

Quadro 1 – Ensaios realizados

2.2.1. Caraterísticas das amostras R1, R2 e R3 no estado fresco


As caraterísticas da Amostras R1, R2 e R3 no estado fresco acham-se apresentadas
na Tabela 2.
Tabela 2 – Caraterísticas das amostras R1, R2 e R3 no estado fresco
Característica Amostra R1 Amostra R2 Amostra R3
Relação água/materiais secos (%) 19,1 20,9 22,1
Índice de consistência - NBR 13276/95 231 282 317
(mm)
Retenção de água - NBR 13277/95 (%) 93 93 89
Densidade de massa no estado fresco - NBR 2,06 2,02 2,02
13278/95 (g/cm3)
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2.2.2. Retração por secagem


Além do ensaio normal realizado em corpos-de-prova constituídos por barras
prismáticas de argamassa com dimensões de 25mm x 25mm x 280mm (NBR 8490/84),
o ensaio também foi realizado em corpos-de-prova com as mesmas dimensões, mas só
que moldados sobre tiras de placas de argamassa armada. O ensaio assim realizado –
retração restringida – representa mais fielmente a condição a que a argamassa está
submetida em obra, ou seja, sempre está aplicada sobre um substrato que restringe a
sua retração por secagem.
Os resultados obtidos até que houvesse a estabilização estão apresentados na Tabela
3.

Tabela 3 – Retração média até estabilização


Retração média até estabilização (%)
Amostra
Livre Restringida
R1 0,121 0,068
R2 0,120 0,070
R3 0,116 0,059

2.2.3. Resistência à compressão


Os ensaios foram realizados de acordo as diretrizes da norma BS 4551 – 98. Os
corpos-de prova foram curados em ambiente de laboratório.Os resultados obtidos
(média de três corpos-de-prova) estão apresentados na Tabela 4.

Tabela 4 – Resistência à compressão


Resistência à compressão na idade
Amostra de(MPa)
10 dias 28 dias
R1 5,6 7,6
R2 5,1 6,1
R3 4,0 5,4
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2.2.4. Análise química


O resumo dos resultados obtidos é apresentado na Tabela 5.
Tabela 5 – Traços das argamassas
Proporção dos constituintes Relação
Amostra Aglo/Agre
Cimento Cal hidratada Areia
Arg. Básica -R -o- 1 33 1 : 33
A 1 0,2 6,0 1 : 4,8
C 1 0,2 6,9 1 : 5,8

2.2.5. Análises mineralógicas, granulométricas e petrográficas das argamassas

2.2.5.1. Análises mineralógicas por difratometria de Raios X

Foram executadas análises da fração argila, segundo método proposto por FORMOSO
(1984).O equipamento utilizado foi um difratômetro de raios X Rigaku Denki, modelo
Geigerflex, operando com radiação Kα do cobre. Na interpretação dos difratogramas
foi utilizado o fichário do JOINT COMMITTEE ON POWDER DIFRACTION
STANDARDS – JCPDS (1974) e TAYLOR (1964).
A semi-quantificação dos argilominerais foi feita com base nas áreas dos picos mais
intensos de cada um dos minerais presentes na amostra.
Os resultados das análises mineralógicas por difratometria de raios X da fração argila
encontram-se na Tabela 6.
Tabela 6 – Composição mineralógica da fração argila (semi-quantitativa).
Amostra Mineral Teor (%)

Am. R (básica) Argilomineral do grupo da caulinita 85 – 90


Argilomineral do grupo da illita 10 – 15
Am. A Argilomineral do grupo da caulinita 71 – 72
Argilomineral do grupo da illita 28 – 29
Am. C Argilomineral do grupo da caulinita 62 – 63
Argilomineral do grupo da illita 37 – 38

2.2.5.3. Análises Granulométricas por Pipetagem e Peneiramento

As análises granulométricas foram efetuadas após a extração do carbonato, por


pipetagem e peneiramento. Após a pipetagem as amostras foram peneiradas segundo
a escala granulométrica de Wentworth (SUGUIO, 1973).
A extração de carbonatos foi baseada em KATZ; FRIEDMAN (1965).
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A síntese das análises granulométricas encontra-se na Tabela 7


Tabela 7 – Síntese dos resultados das análises granulométricas
Classe Somatório
granulomé % seixos %grânulos %areia % silte % argila silte +
trica argila
amostra
Amostra R 0,38 3,35 87,28 5,05 3,93 8,98
Amostra A 0,00 0,83 75,51 17,50 6,17 23,67
Amostra C 1,74 1,89 80,35 11,08 4,94 16,02

2.2.5.4 Análises Petrográficas e Fotomicrografias

Para a execução da análise petrográfica foi feita uma lâmina delgada, segundo técnicas
petrográficas utilizadas para rochas friáveis/ argamassas e concretos, ou seja, com
impregnação do corpo-de-prova a vácuo com resina e corante. A análise petrográfica
foi executada com o auxílio de uma lupa estereoscópica Wild e de um microscópio
petrográfico Carl Zeiss, dotado de câmara fotográfica. As medidas dos vazios foram
obtidas com o auxílio de objetiva graduada.
A análise petrográfica baseou-se na norma da ASTM C856-95, recomendada para
exame de concretos e argamassas endurecidas e seguiu também as sugestões de
OLIVEIRA et al.(1999).
A despeito da semelhança que as amostras estudadas exibem ao microscópio óptico,
algumas características distintivas puderam ser notadas, especialmente com relação a
teor e tipo de vazios. As Fotomicrografias 1 a 11 ilustram os aspectos microscópicos
observados. Para efeito de comparação, foi efetuada contagem de pontos nas
amostras, segundo o método de JUNG; BROUSSE (1959), utilizado para análise modal
em rochas. Os resultados acham-se na Tabela 8, a seguir.
Tabela 8 - Análise modal das amostras estudadas.
Amostra Agregado Pasta Vazios Torrão de
(%) (%) (%) argila (%)
Am. R1 50 42 7 1
Am. R2 53 40 6 1
Am. R3 49 44 6 1
Am. A 51 46 3 tr
Am. C 51 35 14 tr
Nota 1: tr (traços) <1%.
Nota 2: torrões de argila são constituintes do agregado mas, no entanto, foi considerado
interessante discriminá-los.
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Agregado
Os grãos que compõem o agregado não diferem muito nas amostras estudadas (Fotos
1 a 5). Predominam grãos de areia média, mas também ocorrem grãos de tamanhos
silte.
As 4 amostras estudadas são compostas predominantemente por quartzo, mono e
policristalino (cerca de 90 a 95%), feldspatos -microclínio e plagioclásio- (5 a 10%) e,
em proporções acessórias (<5%): torrões de argila, micas (muscovita), turmalina,
carbonato, zircão e opacos. Os torrões de argila são ligeiramente mais abundantes nas
amostras de argamassa básica. Os feldspatos acham-se fraca a intensamente
alterados, apresentando uma certa porosidade ao longo das clivagens e de
microfissuras. Os grãos são aproximadamente eqüidimensionais ou ligeiramente
alongados, angulosos a subangulosos, com granulumetria variando de silte a grânulo.
Pasta
Em todas as amostras estudadas observam-se cristais micrométricos de portlandita,
dispersos na pasta ou na interface pasta/agregado, o mesmo ocorrendo com grãos de
carbonato reliquiares. As amostras de argamassa básica endurecida (R1, R2, R3)
apresentam aspecto mais poroso que a amostra A, que exibe pasta aparentemente
mais densa. Nas amostras R2 e R3, por vezes se observa vazio, em volta do grão,
decorrente de excesso de água (Fotos2 e 3 ).
Apenas nas amostras A e C observa-se carbonatação em lâmina, restrita a poucos
milímetros, certamente por serem argamassas mais antigas .
Vazios
Foi possível discriminar opticamente 5 tipos de vazios, quais sejam:
• microfissuras intragranulares (especialmente em feldspatos e torrões de argila) –
Fotos 1 e 2; microfissuras na pasta; vazios na interface pasta-agregado -Fotos 2,
3 e 4; ar aprisionado – Fotos 1e 3; vazios com formas irregulares (por vezes
alongados)-Foto 5.
Nas amostras de argamassa básica o tipo de vazio predominante é o ar aprisionado
(Foto 1). São comuns vazios na interface pasta/agregado (Fotos 2 e3), especialmente
nas amostras A2e A3. Na amostra R1 (com menor teor de água) esse aspecto é pouco
evidente (a não ser ao redor de torrões de argila), o que já era esperado. Nessa
amostra também não ocorrem vazios irregulares ≥ 2,5mm. Somente na amostra R3
também foram observadas microfissuras na pasta .
Nas amostras A e C predominam os vazios com formas irregulares. Na amostra C, os
vazios são especialmente importantes; por vezes são alongados, alguns se comunicam
entre si e, muito raramente, podem alcançar até 10mm de comprimento. Os vazios
irregulares poderiam ser grãos arrancados ou, mais provavelmente, serem resultantes
do acúmulo de água durante seu estado plástico.
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Foto 1 – Amostra R1 Polarizadores paralelos. Aumento 45X. Aspecto geral da argamassa,


observando-se grãos do agregado (cor clara), pasta (cor escura) e vazios (cor azul).Qz =
quartzo; P = pasta; AA = ar aprisionado; MI = microfissura intragranular.

Foto 2 – Amostra R2. Polarizadores paralelos. Aumento 45X. Aspecto geral da


argamassa. TA = torrão de argila; MI = microfissuras intragranulares; I = vazio na interface
pasta/agregado; Qz = quartzo; P = pasta; AA = ar aprisionado.
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Foto 3 – Amostra R3 Polarizadores paralelos. Aumento 45X. Aspecto geral da argamassa,


observando-se grão de areia e vazio (azul) no contato do mesmo com a pasta. Qz =
quartzo; P = pasta; AA = ar aprisionado; I = vazio na interface pasta-agregado.

Foto 4 – Amostra A Polarizadores paralelos. Aumento 45X. Aspecto geral da argamassa


TA = torrões de argila; I = vazio na interface pasta/agregado; Qz = quartzo; GS = grãos de
silte.
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Foto 5 – Amostra C Polarizadores paralelos. Aumento 45X. Aspecto geral da argamassa,


observando-se abundância de vazios irregulares (VI).
Qz = quartzo; P = pasta; F = feldspato.

3. Diagnóstico

As análises petrográficas forneceram informações quanto à microestrutura das


argamassas destacando-se, entre outros aspectos, a baixa aderência entre a pasta e
os grãos do agregado, a presença de muitos grãos do agregado na fração silte, a
presença de vazios de naturezas e tamanhos variados, que podem de alguma forma ter
contribuído para o descolamento e retração do revestimento da Torre A (Amostra A).
A análise química (vide Tabela 5) revelou que a argamassa empregada na Torre A
(Amostra A) era ligeiramente mais rica que a empregada na Torre C (Amostra C). O
teor de cal hidratada da argamassa básica ensaiada é bastante baixo (2,9%). Essa
quantidade de cal hidratada não é suficiente para conferir plasticidade adequada a uma
argamassa com areia média e sem qualquer tipo de aditivo plastificante.
De acordo com a análise granulométrica efetuada (vide Tabela 7) o teor de argila + silte
presentes na fração agregado da argamassa básica é igual a 8,98%. Este elevado teor
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de finos age na argamassa fresca como plastificante, fazendo com que a mesma
apresente trabalhabilidade adequada, apesar de possuir um teor de cal hidratada muito
pequeno.
Embora em muitas regiões do país se utilize areias com uma certa quantidade de
materiais argilosos e/ou saibros, sem que ocorram problemas com o revestimento, é
recomendado que o teor de materiais finos não seja superior a 5% em massa, conforme
determinava a NBR 7200/19823 Por materiais finos são entendidos os grãos de
granulometria inferior a 0,09mm, ou seja, o silte e a argila. Esses materias finos atuam
favoravelmente na argamassa fresca, conferindo-lhe melhor plasticidade e
trabalhabilidade, mas podem provocar maior retração por secagem.
FIORITO (1994) e a experiência do Laboratório de Revestimentos do IPT, mostram
que, a retração das argamassas em geral, preparadas com areias com baixo teor de
finos, é da ordem de 0,06%. As três amostras ensaiadas apresentaram retração livre da
ordem de 0,12%. Os valores obtidos para a retração restringida para as Amostras R1,
R2 e R3 foram da ordem de 0,07%. A restrição oferecida pela base deve-se à
aderência entre os dois materiais. Caso os esforços oriundos da retração sejam
superiores à resistência de aderência, ocorre o descolamento do revestimento. Com o
descolamento a retração passa a ser livre, atinge valores mais elevados e o
revestimento fissura.
Observou-se nas amostras ensaiadas, que praticamente não houve variação no valor
da retração livre com o teor de água.
Os teores de materiais finos nas outras duas amostras ensaiadas, Amostras A e C,
foram iguais a 23,7% e 16,0%, respectivamente. Esses teores são extremamente
elevados. No caso da Torre A, onde a resistência de aderência do chapisco era
bastante deficiente, a retração da argamassa provocou o descolamento do
revestimento e o aparecimento de fissuras. No caso da Torre C, devido à restrição
imposta pela base por meio da aderência satisfatória do chapisco ao substrato e da
argamassa de revestimento ao chapisco, a retração potencial da argamassa não se
manifestou. Neste caso, as tensões internas resistentes foram maiores que os esforços
devido à retração impedindo assim a ruptura do revestimento, manifestada por meio de
descolamentos ou aparecimento de fissuras. Deve-se salientar, no entanto, que parte
da resistência interna do revestimento pode ter sido anulada pelos esforços solicitantes,
fazendo com que a “reserva” de resistência seja menor do que aquela que o
revestimento teria, caso a argamassa apresentasse uma retração normal.
Com os dados obtidos confirmou-se que os elevados teores de finos presentes nas
argamassas básicas utilizadas foram o fator determinante da excessiva retração da
argamassa de emboço, que juntamente com a baixa resistência de aderência da
camada de chapisco foram as causas determinantes das fissuras e descolamentos do
revestimento da Torre A .

3
A revisão de 1998 desta norma, em vigor, não apresenta exigência para os materiais constituintes da
argamassa.
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4.Soluções propostas para recuperação

As recomendações para reparo foram concebidas de modo a evitar interferências


vultuosas, como demolições de grandes áreas, que poderiam até abalar as áreas
adjacentes, mas também, procurou-se ter bastante critério a fim de minimizar os riscos
envolvidos. Em função de sua tipologia as fissuras existentes foram classificadas
conforme apresentado na Tabela 9.
Tabela 9 - Tipos de fissuras existentes
Designação Descrição
Fissura de destacamento da camada de emboço no entorno das aberturas -
requadrações, principalmente na parte inferior dos vãos. Em alguns locais o
Tipo 1
revestimento no entorno da região fissurada apresenta som cavo, indicativo
de falta de aderência ao substrato.
Tipo 2 Fissura horizontal ou vertical no encontro da alvenaria com a estrutura.
Fissura inclinada partindo dos vértices inferiores das aberturas – fissura tipo
Tipo 3
bigode.
Tipo 4 Fissura vertical no meio do pano situado abaixo das aberturas.
Tipo 5 Fissuras irregulares, com configuração aproximadamente em mapa.
Tipo 6 Fissuras curvas com concavidade voltada para baixo (assentamento plástico)

Foram definidos quatro tipos de reparos padrões para a recuperação do revestimento.

Reparo A – Colmatação de fissuras


Consiste basicamente na abertura de sulco com largura da ordem de 1cm e
profundidade em torno de 3cm ao longo da fissura e seu preenchimento com
argamassa colante tipo ACI preparada com solução de adesivo e água na proporção
1:2.
Por meio de ensaio de resistência de aderência de um corpo-de-prova constituído pela
colagem de duas placas do revestimento de argamassa, pode-se constatar que a
resistência à tração da zona de colagem era superior a resistência à tração da
argamassa de revestimento.
As principais recomendações foram:
• O corte deveria ser feito a seco, para evitar que a pasta resultante do corte
ficasse aderida às paredes do sulco e prejudicasse a aderência da argamassa
de reparo;
• A consistência da argamassa deveria ser mais para firme, a fim de evitar o
aparecimento de fissura de retração ou o assentamento da argamassa para não
haver cicatrizes na fachada;
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• O sulco, por ocasião da aplicação da argamassa deveria estar úmido, mas sem
água livre e a argamassa deveria ser forçada com espátula de modo a preencher
totalmente o sulco e haver um certo excesso (camada com espessura da ordem
de 1mm) na superfície para posterior acabamento.

Reparo B – Revestimento armado na região da fissura


Consiste na reexecução da faixa do revestimento sobre a fissura, desolidarizando-o
parcialmente do substrato e armando-o. Aplicado às fissuras que normalmente ocorrem
nos encontros entre alvenaria e estrutura e também as do tipo bigode que atingem
inclusive a alvenaria. O procedimento recomendado para este tipo de reparo foi o
seguinte:
• Retirar todo revestimento de uma faixa com largura da ordem de 25 a 30 cm ao
longo da fissura. Delimitar previamente a área a ser removida por meio de corte
com serra diamantada.
• Limpar a área com jato de água.
• Após a secagem da área a ser reparada, colocar ao longo do encontro da
alvenaria com a estrutura uma fita crepe com largura de 5 cm.
• Aplicar chapisco preparado com solução de adesivo e água na proporção 1:2.e
curá-lo por dois dias.
• Fixar uma tira de tela galvanizada tipo pinteiro com a largura da faixa de
revestimento retirado.
• Aplicar a argamassa de emboço evitando que fiquem vazios na região da tela. A
argamassa deve ser comprimida com as costas da colher de pedreiro contra a
parte do revestimento que não foi retirada. A espessura máxima das camadas
deve ser de 2,5 cm, e, a segunda camada deve ser aplicada de preferência no
dia seguinte, ou quando a primeira já estiver suficientemente firme para evitar o
assentamento plástico da argamassa.

Reparo C – Reexecução do revestimento


Solução indicada para os locais onde o revestimento apresentava fissuras muito
próximas umas das outras e som cavo na maior parte da área. O procedimento
recomendado abrangeu não só a maneira de refazer o revestimento, como também os
critérios para delimitar a área a ser refeita.
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Reparo D – Fixação do revestimento


Reparo indicado para os locais onde o revestimento apresentava som cavo só no
entorno das fissuras. A fixação do revestimento foi feita por meio de parafusos de
madeira (cabeça chata) com diâmetro de 3,8 mm e comprimento de 65mm e de 90mm,
arruelas galvanizadas para funileiro com diâmetro de 32 mm e furo de 6 mm, e buchas
de nylon tipo Fischer modelo K54.

Na Tabela 10 são apresentadas as soluções de reparo recomendadas para cada um


dos oito casos (I a VIII) de anomalias detectadas nos revestimentos.
Tabela 10 – Tipos de reparos a serem empregados
Caso Tipo de Fissura Reparo
I Tipo 1com abertura inferior a 1mm, sem som cavo A
Com som cavo A+D
II Tipo 1com abertura superior a 1mm A + D ou C
III Tïpo 2 B
IV Tïpo 3, atingindo inclusive a alvenaria B
V Tïpo 3, só no revestimento ou Tipo 4, sem som cavo A
Com som cavo A+ D
VI Tipo 5 – isoladas e sem som cavo A
Com som cavo A+D
VII Tipo 5 – concentradas C
VIII Tipo 6 A

Uma vez que o sucesso de qualquer recuperação está vinculado à correta identificação
das anomalias existentes em cada local, foi recomendado que a definição do tipo de
reparo a ser empregado fosse feita com bastante cuidado por pessoa devidamente
instruída e com boa capacidade de discernimento, para que o diagnóstico do estado em
que se encontrava o revestimento em cada local fosse feito corretamente. Em casos de
dúvidas quanto ao tipo de reparo que deveria ser empregado recomendou-se dar
preferência aos reparos B e C que são os mais recompõem o revestimento.

5. Referências Bibliográficas
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. 1982. Revestimentos de
paredes e tetos com argamassas – Materiais, Preparo, Aplicação e Manutenção –
Procedimento: NBR 7200.
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FIORITO,A,J 1994 Manual de Argamassas e Revestimentos – Estudos e


Procedimentos de Execução. Pini, SãoPaulo

FORMOSO, M. L. L. 1984. Difratometria de Raios X. In: TÉCNICAS ANALÍTICAS


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