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Resumo
2.1. Inspeções
Inicialmente foi dada ênfase à coleta de informações in-loco. Após realização de
inspeções minuciosas constatou-se:
• a argamassa de emboço apresentava boa resistência, mecânica exigindo um
certo esforço para ser cortada com a talhadeira;
• o revestimento, principalmente no entorno das fissuras, apresentava som cavo
quando percutido;
• era notória a deficiência de aderência da camada de chapisco à alvenaria,
podendo-se remover, com certa facilidade, placas do revestimento usando a
talhadeira como cunha posicionada entre a alvenaria e a camada de chapisco;
• a resistência ao risco2 da argamassa de chapisco era bem menor que a da
argamassa de emboço;
Essas constatações indicaram que a camada de chapisco, apesar de ter sido
executada com uma argamassa bastante rica (traço 1:2), não apresentava resistência
mecânica satisfatória. Aparentemente, o cimento da argamassa de chapisco não estava
totalmente hidratado. Para comprovar este fato foram realizados ensaios de resistência
de aderência do chapisco aplicado na Torre “C”, após a realização de cura
1
Fissuras inclinadas partindo dos vértices inferiores das aberturas.
2
Raspagem da superfície da argamassa com um objeto de ferro pontiagudo ou um prego.
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Nenhuma 0,13
Molhado 1 vez por dia por 3 dias 0,44
Molhado 2 vez por dia por 3 dias 1,00
Molhado 3 vez por dia por 3 dias 0,81
Foram executadas análises da fração argila, segundo método proposto por FORMOSO
(1984).O equipamento utilizado foi um difratômetro de raios X Rigaku Denki, modelo
Geigerflex, operando com radiação Kα do cobre. Na interpretação dos difratogramas
foi utilizado o fichário do JOINT COMMITTEE ON POWDER DIFRACTION
STANDARDS – JCPDS (1974) e TAYLOR (1964).
A semi-quantificação dos argilominerais foi feita com base nas áreas dos picos mais
intensos de cada um dos minerais presentes na amostra.
Os resultados das análises mineralógicas por difratometria de raios X da fração argila
encontram-se na Tabela 6.
Tabela 6 – Composição mineralógica da fração argila (semi-quantitativa).
Amostra Mineral Teor (%)
Para a execução da análise petrográfica foi feita uma lâmina delgada, segundo técnicas
petrográficas utilizadas para rochas friáveis/ argamassas e concretos, ou seja, com
impregnação do corpo-de-prova a vácuo com resina e corante. A análise petrográfica
foi executada com o auxílio de uma lupa estereoscópica Wild e de um microscópio
petrográfico Carl Zeiss, dotado de câmara fotográfica. As medidas dos vazios foram
obtidas com o auxílio de objetiva graduada.
A análise petrográfica baseou-se na norma da ASTM C856-95, recomendada para
exame de concretos e argamassas endurecidas e seguiu também as sugestões de
OLIVEIRA et al.(1999).
A despeito da semelhança que as amostras estudadas exibem ao microscópio óptico,
algumas características distintivas puderam ser notadas, especialmente com relação a
teor e tipo de vazios. As Fotomicrografias 1 a 11 ilustram os aspectos microscópicos
observados. Para efeito de comparação, foi efetuada contagem de pontos nas
amostras, segundo o método de JUNG; BROUSSE (1959), utilizado para análise modal
em rochas. Os resultados acham-se na Tabela 8, a seguir.
Tabela 8 - Análise modal das amostras estudadas.
Amostra Agregado Pasta Vazios Torrão de
(%) (%) (%) argila (%)
Am. R1 50 42 7 1
Am. R2 53 40 6 1
Am. R3 49 44 6 1
Am. A 51 46 3 tr
Am. C 51 35 14 tr
Nota 1: tr (traços) <1%.
Nota 2: torrões de argila são constituintes do agregado mas, no entanto, foi considerado
interessante discriminá-los.
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Agregado
Os grãos que compõem o agregado não diferem muito nas amostras estudadas (Fotos
1 a 5). Predominam grãos de areia média, mas também ocorrem grãos de tamanhos
silte.
As 4 amostras estudadas são compostas predominantemente por quartzo, mono e
policristalino (cerca de 90 a 95%), feldspatos -microclínio e plagioclásio- (5 a 10%) e,
em proporções acessórias (<5%): torrões de argila, micas (muscovita), turmalina,
carbonato, zircão e opacos. Os torrões de argila são ligeiramente mais abundantes nas
amostras de argamassa básica. Os feldspatos acham-se fraca a intensamente
alterados, apresentando uma certa porosidade ao longo das clivagens e de
microfissuras. Os grãos são aproximadamente eqüidimensionais ou ligeiramente
alongados, angulosos a subangulosos, com granulumetria variando de silte a grânulo.
Pasta
Em todas as amostras estudadas observam-se cristais micrométricos de portlandita,
dispersos na pasta ou na interface pasta/agregado, o mesmo ocorrendo com grãos de
carbonato reliquiares. As amostras de argamassa básica endurecida (R1, R2, R3)
apresentam aspecto mais poroso que a amostra A, que exibe pasta aparentemente
mais densa. Nas amostras R2 e R3, por vezes se observa vazio, em volta do grão,
decorrente de excesso de água (Fotos2 e 3 ).
Apenas nas amostras A e C observa-se carbonatação em lâmina, restrita a poucos
milímetros, certamente por serem argamassas mais antigas .
Vazios
Foi possível discriminar opticamente 5 tipos de vazios, quais sejam:
• microfissuras intragranulares (especialmente em feldspatos e torrões de argila) –
Fotos 1 e 2; microfissuras na pasta; vazios na interface pasta-agregado -Fotos 2,
3 e 4; ar aprisionado – Fotos 1e 3; vazios com formas irregulares (por vezes
alongados)-Foto 5.
Nas amostras de argamassa básica o tipo de vazio predominante é o ar aprisionado
(Foto 1). São comuns vazios na interface pasta/agregado (Fotos 2 e3), especialmente
nas amostras A2e A3. Na amostra R1 (com menor teor de água) esse aspecto é pouco
evidente (a não ser ao redor de torrões de argila), o que já era esperado. Nessa
amostra também não ocorrem vazios irregulares ≥ 2,5mm. Somente na amostra R3
também foram observadas microfissuras na pasta .
Nas amostras A e C predominam os vazios com formas irregulares. Na amostra C, os
vazios são especialmente importantes; por vezes são alongados, alguns se comunicam
entre si e, muito raramente, podem alcançar até 10mm de comprimento. Os vazios
irregulares poderiam ser grãos arrancados ou, mais provavelmente, serem resultantes
do acúmulo de água durante seu estado plástico.
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3. Diagnóstico
de finos age na argamassa fresca como plastificante, fazendo com que a mesma
apresente trabalhabilidade adequada, apesar de possuir um teor de cal hidratada muito
pequeno.
Embora em muitas regiões do país se utilize areias com uma certa quantidade de
materiais argilosos e/ou saibros, sem que ocorram problemas com o revestimento, é
recomendado que o teor de materiais finos não seja superior a 5% em massa, conforme
determinava a NBR 7200/19823 Por materiais finos são entendidos os grãos de
granulometria inferior a 0,09mm, ou seja, o silte e a argila. Esses materias finos atuam
favoravelmente na argamassa fresca, conferindo-lhe melhor plasticidade e
trabalhabilidade, mas podem provocar maior retração por secagem.
FIORITO (1994) e a experiência do Laboratório de Revestimentos do IPT, mostram
que, a retração das argamassas em geral, preparadas com areias com baixo teor de
finos, é da ordem de 0,06%. As três amostras ensaiadas apresentaram retração livre da
ordem de 0,12%. Os valores obtidos para a retração restringida para as Amostras R1,
R2 e R3 foram da ordem de 0,07%. A restrição oferecida pela base deve-se à
aderência entre os dois materiais. Caso os esforços oriundos da retração sejam
superiores à resistência de aderência, ocorre o descolamento do revestimento. Com o
descolamento a retração passa a ser livre, atinge valores mais elevados e o
revestimento fissura.
Observou-se nas amostras ensaiadas, que praticamente não houve variação no valor
da retração livre com o teor de água.
Os teores de materiais finos nas outras duas amostras ensaiadas, Amostras A e C,
foram iguais a 23,7% e 16,0%, respectivamente. Esses teores são extremamente
elevados. No caso da Torre A, onde a resistência de aderência do chapisco era
bastante deficiente, a retração da argamassa provocou o descolamento do
revestimento e o aparecimento de fissuras. No caso da Torre C, devido à restrição
imposta pela base por meio da aderência satisfatória do chapisco ao substrato e da
argamassa de revestimento ao chapisco, a retração potencial da argamassa não se
manifestou. Neste caso, as tensões internas resistentes foram maiores que os esforços
devido à retração impedindo assim a ruptura do revestimento, manifestada por meio de
descolamentos ou aparecimento de fissuras. Deve-se salientar, no entanto, que parte
da resistência interna do revestimento pode ter sido anulada pelos esforços solicitantes,
fazendo com que a “reserva” de resistência seja menor do que aquela que o
revestimento teria, caso a argamassa apresentasse uma retração normal.
Com os dados obtidos confirmou-se que os elevados teores de finos presentes nas
argamassas básicas utilizadas foram o fator determinante da excessiva retração da
argamassa de emboço, que juntamente com a baixa resistência de aderência da
camada de chapisco foram as causas determinantes das fissuras e descolamentos do
revestimento da Torre A .
3
A revisão de 1998 desta norma, em vigor, não apresenta exigência para os materiais constituintes da
argamassa.
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• O sulco, por ocasião da aplicação da argamassa deveria estar úmido, mas sem
água livre e a argamassa deveria ser forçada com espátula de modo a preencher
totalmente o sulco e haver um certo excesso (camada com espessura da ordem
de 1mm) na superfície para posterior acabamento.
Uma vez que o sucesso de qualquer recuperação está vinculado à correta identificação
das anomalias existentes em cada local, foi recomendado que a definição do tipo de
reparo a ser empregado fosse feita com bastante cuidado por pessoa devidamente
instruída e com boa capacidade de discernimento, para que o diagnóstico do estado em
que se encontrava o revestimento em cada local fosse feito corretamente. Em casos de
dúvidas quanto ao tipo de reparo que deveria ser empregado recomendou-se dar
preferência aos reparos B e C que são os mais recompõem o revestimento.
5. Referências Bibliográficas
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. 1982. Revestimentos de
paredes e tetos com argamassas – Materiais, Preparo, Aplicação e Manutenção –
Procedimento: NBR 7200.
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JUNG, J.; BROUSSE, R. 1959. Classification modale des roches éruptives. Paris,
Masson. 122p.
KATZ, A.; FRIEDMAN, G.M. 1965. The preparation of stained acetate peels for the
study of carbonate rocks. J. Sed. Petrol., v.35, p.248-249.
OLIVEIRA M. C. B., NASCIMENTO, C. B., CINCOTTO M. A. Microestrutura de
argamassas endurecidas: uma contribuição da petrografia.. In: V CONGRESSO
IBEROAMERICANO DE PATOLOGIA DE LAS CONSTRUCCIONES. 1999. V 3,
p.227-234, Montevideo. Anais... Uruguai.
TAYLOR, H.F.W. 1964. The chemistry of cements. V.2. London, Academic Press.
442p.